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Mundial 2014: Últimos apontamentos

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Os guarda-redes alcançam o devido reconhecimento… finalmente!

Começo com um ponto um pouco mais pessoal. Não tive uma grande experiência em termos temporais a jogar futebol, mas a que tive foi como guarda-redes. Talvez por isso seja sensível à ingrata tarefa que estes desempenham: quando sofrem um golo muitas vezes têm de assumir as culpas, mas quando defendem uma bola estão apenas a “fazer o seu trabalho”. O guarda-redes está geralmente condenado a um papel subalterno, mas a sua função é indispensável. É ele a última esperança dos adeptos e do treinador quando o resto da equipa falhou. No Mundial do Brasil ficou provado que ter um guardião seguro pode fazer realmente a diferença e ser a chave para o sucesso de uma equipa.

Concretamente, o alemão Neuer fez exibições de alto nível, sempre com uma elegância e segurança incríveis. Inovou com várias saídas destemidas da sua área, que mostraram não só uma enorme confiança em si próprio como uma excelente capacidade de leitura de jogo. O prémio Luva de Ouro é justíssimo, e mesmo a Bola de Ouro do Mundial talvez lhe assentasse melhor a ele do que a Messi… (não esquecendo, claro, que havia outros jogadores que mereciam ainda mais). Navas, da Costa Rica (sempre muito seguro e elástico), Ochoa, do México (fez algumas das defesas mais incríveis de que me lembro), e Howard, dos EUA (jogo enorme contra a Bélgica), foram outros dos guardiões em destaque. Todos eles realizaram defesas quase impossíveis, mostrando que a solidez de uma equipa começa lá atrás. Num desporto tão famoso pelos golos que se marcam, estes guarda-redes ficam para a História do Mundial 2014 pelos golos que evitaram. Merecido!

É urgente implementar o recurso a repetições

Jogo inaugural do Mundial 2014. 70 minutos de jogo. O Brasil e a Croácia estão empatados a uma bola na Arena de São Paulo e os anfitriões revelam algumas dificuldades para lidar com um adversário que acredita cada vez mais num resultado positivo. Bola cruzada da direita, Fred domina de costas para a baliza e, perante a marcação de Lovren, atira-se para o chão de braços estendidos. O árbitro marca penálti, Neymar concretiza e o Brasil ganha. Os croatas seriam eliminados, mas a história talvez fosse diferente se chegassem ao jogo decisivo em igualdade pontual com o México.

Este é apenas o exemplo mais óbvio de que os erros dos árbitros podem adulterar o destino das equipas. Outro exemplo: no França-Nigéria dos oitavos-de-final, Matuidi arrumou Onazi e devia ter sido expulso, deixando a França a jogar com 10. Era o que teria acontecido caso a FIFA não fosse avessa ao progresso e seguisse o exemplo de modalidades como o basquetebol, o rugby, o ténis ou a natação e adoptasse o recurso às repetições. Como disse Carlos Queiroz após o Argentina-Irão, em que os asiáticos viram ser-lhes negado um penálti claro quando ainda havia 0-0, “não é normal ter 40 milhões de pessoas em casa a verem um penálti, ao contrário de quem está a arbitrar o jogo (…). [Os árbitros] precisam de ajuda para tomar as decisões certas”. Perante os olhos do mundo inteiro, este Mundial mostrou que é imperativo recorrer às imagens no futebol. Quando é que a FIFA dará finalmente o braço a torcer?

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Sempre destemido, Neuer implementou no Mundial as saídas da baliza que já fazia no Bayern, catapultando esta inovação no papel do guarda-redes para um nível planetário
Fonte: Fifa.com

3-5-2: o sistema do futuro?

Argentina, Holanda, Chile, Itália, México e Costa Rica. Umas com maior frequência e outras menos, mas todas estas selecções utilizaram um sistema táctico com três centrais durante o Mundial (o meio-campo e o ataque variaram entre 2 e 3 unidades, conforme as equipas). Se os argentinos não tardaram em mudar em definitivo para um 4-4-2, chilenos, mexicanos, costa-riquenhos e mesmo holandeses (Van Gaal previu dificuldades defensivas se a equipa mantivesse o 4-2-3-1 com que fez a qualificação) provavelmente não teriam conseguido chegar tão longe se não tivessem reforçado o seu eixo defensivo com um homem extra.

Claro que o número de defesas pouco importa se depois não há organização, e todas estas formações tiveram o mérito de estar sempre bem posicionadas. Mas o 3-5-2 – assim como outras tácticas com 3 centrais – é um sistema que, por norma, equilibra bem a equipa, dando menos espaço ao ataque adversário. Os laterais podem desdobrar-se em tarefas mais ofensivas ou tornar-se autênticos defesas, conforme aquilo que o jogo lhes pedir. No caso de existir uma dupla ou um trio atacante bem oleado, os resultados poderão traduzir-se em sucessos impensáveis, como foi o caso da campanha da Costa Rica.

Acredito que, depois deste Mundial, vão existir mais treinadores a adoptar este sistema. Pessoalmente, falando do campeonato português, julgo que as equipas mais pequenas teriam a ganhar com a colocação de três centrais, pelo menos nos jogos mais complicados. É sabido que um Gil Vicente ou um Arouca, por exemplo, alcançam normalmente resultados irregulares. Este sistema táctico, desde que bem montado e trabalhado, poderia contribuir para mitigar essa tendência.

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Disposição táctica da Costa Rica no Mundial: 3 centrais, 2 laterais dinâmicos que tanto sobem mais no terreno como formam uma linha de 5 defesas, 2 médios que atacam e recuam e 3 elementos soltos para o contra-ataque. Haverá futuro para este sistema fora do Mundial?
Fonte: http://mundial2014enlos5continentes.blogspot.pt/

Temperaturas desumanas

No Brasil houve vários jogos disputados às 13h locais, com temperaturas superiores a 30°C. É caso para dizer que a FIFA pensou em tudo menos nos jogadores, porque é pouco sensato exigir a atletas profissionais, ainda para mais já desgastados depois de uma época fatigante, que estejam a correr durante 90 ou 120 minutos debaixo de um sol intenso. E a entidade máxima do futebol mundial ainda quer organizar o Campeonato do Mundo de 2022 no Qatar, onde já se chegaram a registar temperaturas perto dos 50ºC… Definitivamente, quando se coloca o dinheiro acima de tudo abre-se espaço a este tipo de decisões no mínimo caricatas.

A diferença entre a Europa e o resto do mundo é cada vez menor

É verdade que, pela primeira vez, uma equipa europeia conquistou o título mundial em solo americano. Contudo, as selecções de outros continentes começam a acordar. Já não há goleadas entre potências futebolísticas e países onde o futebol tem menos tradição (curiosamente, os resultados mais desajustados tiveram como vítimas conjuntos teoricamente fortes). Mesmo a Alemanha, campeã mundial com mérito, teve dificuldades em derrotar a Argélia, e o único jogo que a Mannschaft não venceu foi contra o Gana (2-2). Isto sucede porque os jogadores dos países africanos, americanos e asiáticos já jogam com frequência nas melhores ligas do mundo. Desta forma, estão sujeitos à mesma preparação física, táctica e mental dos europeus, e usufruem também das mesmas condições de treino.

Pela primeira vez houve duas selecções africanas (Nigéria e Argélia) a apurarem-se para os oitavos-de-final de um Mundial. O jornal I alertou, num trabalho recente, que a hegemonia europeia está em queda: das 13 equipas que, em 1938, disputaram os oitavos-de-final (o máximo alcançado, isto num Mundial com 16 integrantes), a Europa passou depois a ter 10 representantes entre 1982 e 2006 nessa fase da competição (excepção feita a 2002, em que foram 9). Nas duas últimas edições, esse número passou para 6. Este ano a América do Sul igualou o velho continente (6 equipas nos oitavos), algo que aconteceu apenas pela terceira vez em 20 Mundiais (as outras tinham sido em 1930 e 1950…). Para além de África, também a América do Norte conseguiu apurar pela primeira vez duas equipas (México e EUA) para a fase a eliminar.

Contas feitas, será que poderemos como campeão do mundo um país “sem história” a nível futebolístico? A médio prazo, tudo indica que sim: depois das idas aos quartos-de-final dos Camarões em 1990, do Senegal em 2002, do Gana em 2010, do 3º lugar da Turquia em 2002, do 4º lugar da Coreia do Sul (2002) e de Portugal (2006) e ainda da chegada aos quartos-de-final da Colômbia, da Bélgica e da Costa Rica nesta última edição, diria que é uma questão de tempo até que uma selecção “menor” consiga ultrapassar os derradeiros obstáculos e sagrar-se campeã do mundo. As diferenças a nível futebolístico, pelo menos no que diz respeito aos melhores jogadores de cada país, são cada vez menores e dão alguma força a esta ideia.

A Argélia de Slimani, Halliche e Ghilas foi, a par da Nigéria, a melhor selecção africana da prova. Pela primeira vez, duas equipas desse continente chegaram aos oitavos
Fonte: Fifa.com

Que futuro para o Brasil?

A maior potência de futebol de selecções está doente. Muitos já tinham torcido o nariz à qualidade da selecção brasileira antes da “Copa”, tanto a nível individual como exibicional, mas ninguém adivinharia tamanha humilhação. Beneficiando de algumas ajudas da arbitragem (jogo com a Croácia) e também de alguma sorte (vitória nos penáltis com o Chile), o escrete foi cumprindo os serviços mínimos e os seus adeptos iam continuando a sonhar com a conquista do título em casa. Porém, no jogo com a Alemanha, a realidade caiu em cima dos brasileiros com uma força brutal. Mas, ainda que ninguém pudesse prever este desastre, já havia vários indícios de que o Brasil dificilmente seria campeão. A meu ver, estes são os principais:

– o mesmo Scolari que, em 2004, levou a “espinha dorsal” do Porto campeão europeu para o Euro e que soube reformular a equipa após a primeira derrota, deixou agora de fora jogadores determinantes e em grande forma do Atlético de Madrid campeão espanhol: Miranda e Felipe Luis. Uma equipa com um futebol pouco vistosopouco rigorosa tacticamente e demasiado dependente de Neymar viu-se perdida em campo quando este se lesionou. Scolari teve azar com a “fuga” de Diego Costa, mas Fred e Jô na frente era manifestamente pouco… e nunca se notou um plano B;

– falei em Miranda porque não entendi a sua ausência do Mundial. Não o incluir no 11 titular já seria estranho, afastá-lo dos 23 convocados roça o escandaloso. David Luiz, pelo contrário, continua a beneficiar de um estado de graça que se prolonga desde que jogava em Portugal e que nem o período menos exuberante no Chelsea conseguiu apagar. O central mais caro de sempre (50M€! Algo está mal no futebol, mas isso seria tema para outro texto…) marcou um golão à Colômbia, mas está em pelo menos 4 dos 7 golos alemães e voltou a falhar contra a Holanda. Um central não pode jogar melhor a atacar do que a defender. O marketing, a simpatia e um visual pouco comum não fazem de ninguém um futebolista de eleição. David Luiz é um bom central, mas nunca um dos melhores do planeta. E personifica, quanto a mim, este novo Brasil: atletas sobrevalorizados, com muito nome mas pouco “sumo”.

– o escrete tem, actualmente, vários outros jogadores que gozam de uma reputação que não corresponde à realidade: Hulk, Bernard, Fred, Paulinho, Fernandinho ou Luiz Gustavo, por exemplo, dificilmente jogariam na selecção brasileira de outros tempos. Marcelo é um bom futebolista, mas continua uma sombra daquilo que já foi. Óscar, por último, ainda pode evoluir, mas a verdade é que foi perdendo gás e não soube ser protagonista quando Neymar se lesionou.

– em jeito de reflexão, deixo este vídeo do alemão Paul Breitner. Entrevistado por uma televisão brasileira em 2013, o ex-médio pôs o dedo na ferida dizendo que o futebol daquele país estava preso ao passado e que os brasileiros teriam de repensar o seu futebol para depois colher os frutos, tal como a Alemanha fizera nos últimos anos. Ainda que não mencione um pormenor essencial, que tem a ver com os recursos materiais à disposição dos alemães para esse efeito (os brasileiros, obviamente, estarão mais limitados), penso que é um vídeo cuja visualização é indispensável por todos os que se interessem por esta temática:

Independentemente de tudo, foi um Mundial emocionante, imprevisível e que deu prazer acompanhar. Um belo mês futebolístico, em que esta modalidade subiu ainda mais lugares nas prioridades diárias de tanta gente. Até 2018!

Rali de Portugal: boa mudança?

cab desportos motorizados

Pois é, caro leitor, o Rali de Portugal vai abandonar, em 2015, o Algarve e baixo Alentejo para se mudar para o norte do país. Esta mudança – que vinha sendo anunciada há já uns tempos mas que foi oficialmente confirmada esta semana – para já apenas se aplica a 2015, servindo para ver como a prova se readapta ao norte e ver o comportamento dos nortenhos.

Para mim, este regresso é muito positivo, pois considero que as provas devem estar onde o público está, e no caso português – falando apenas no continente – ele está claramente no norte, havendo assim uma maior aproximação às pessoas. Espero que esta mudança tenha sido bem analisada, porque, se é verdade que é no norte que estão os amantes da modalidade, também foi precisamente devido a estes que se perdeu o rali – ainda que com a ajuda do mau tempo que ocorreu durante a edição de 2001. Foram precisamente estes dois factores de que mais se falou durante a apresentação da prova, tendo a organização da mesma, ACP (Automóvel Club Português), garantido que a segurança vai ser reforçada em relação à prova no sul – aumento no orçamento de 500 mil euros, só para a segurança –  e a mudança de data (de abril para junho), em troca com a prova italiana, numa tentativa de poder assegurar um tempo melhor para a realização da competição e assim evitar os constrangimentos existentes no passado.

Um factor que deve pesar nas contas do rali é o retorno com o público estrangeiro. Se o número de galegos deve aumentar devido à maior aproximação, os restantes adeptos estrangeiros provavelmente vão diminuir, já que o Algarve atrai muito mais facilmente pessoas do que o norte do país.

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Com a mudança para o norte a prova deixa de passar em Lisboa

Avaliando as reações dos pilotos em relação a esta alternativa, manifestadas aquando da realização da edição deste ano, pode considerar-se que a opinião foi unânime. A mudança para o norte poderá ser boa, mas a prova no Algarve também tem muita qualidade, pelo que é uma mudança um pouco indiferente para os pilotos, até porque, como dizem muitos deles, conduzir em troços novos é sempre agradável e desafiante.

Em jeito de conclusão e voltando-me a repetir em relação ao início do texto, é sempre bom ter a prova junto dos adeptos e penso que é uma decisão acertada, apesar de ter coisas a favor e contra, como tudo na vida. Mas ter esta discussão é sempre algo de valor porque mostra que temos capacidades e locais para fazer duas provas de alto nível no continente. Da mesma maneira que já em tempos referi, aqui neste meu espaço semanal, que o rali dos Açores e o rali da Madeira podiam ir trocando entre si a vaga no Europeu, penso que a prova mundial também podia ir trocando entre norte e sul, de forma a potenciar os dois espaços.

Magia de Shikabala no primeiro teste

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Açores e Sporting, duas das minhas paixões, defrontaram-se hoje em Ponta Delgada para a quarta edição do Troféu Pauleta, num jogo em que a equipa de Lisboa venceu por 2-1.

Foi um jogo típico de pré-época, em que o ritmo foi muito baixo, principalmente na primeira parte. Esta primeira parte, de resto, resume-se a duas boas defesas do guarda redes açoriano João Botelho a remates de Montero e Jefferson e a algumas boas indicações do reforço Oriol Rosell.

A segunda parte foi totalmente diferente, até porque todos os 10 jogadores de campo foram trocados ao intervalo: com um ritmo mais vivo e mais interesse para as cerca de cinco mil pessoas que se deslocaram ao Estádio de São Miguel. Logo no início desta parte Shikabala estreou-se a marcar pelo Sporting, numa boa jogada dos verdes e brancos – que este ano ameaçam ser verdes e verdes, tal a forma como são os equipamentos – que terminou com um remate do egípcio que ainda bateu no poste antes de entrar. Mas a vantagem dos leões durou muito pouco, já que dois minutos depois Hélder Arruda igualou o marcador. O reforço japonês do Sporting, Tanaka, pouco depois fez um grande remate de fora da área que bateu na trave no que seria uma concretização muito boa. Foi precisamente o japonês que fez a assistência para o último golo do jogo, quando cruzou para Wilson Eduardo marcar. Até ao final pouco mais se viu, tirando um falhanço inacreditável de Heldon, que, depois de um bom trabalho de Shikabala, não conseguiu marcar.

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Iuri Medeiros, jogador do Sporting B, foi dos mais inconformados na equipa açoriana
Foto: Rodrigo Fernandes

Num jogo sem muito para contar, deu para ver que ainda existe muito trabalho para ser feito por parte de Marco Silva neste Sporting 2014/2015, mas que os reforços podem mesmo a vir a ser reforços, algo sempre bom de se saber – sendo os melhores jogadores do Sporting os reforços Tanaka e Oriol, assim como Wilson e Shikabala, tendo este último sido o melhor em campo.

Nota final ainda para um momento caricato antes do início do jogo, quando o speaker de serviço mostrou que não sabia o hino dos Açores: começou a falar quando ainda nem tinha acabado a parte instrumental e continuou a falar quando começou a parte cantada. Infelizmente, algo muito usual pelas ilhas, em que o hino é pouco usado e conhecido.

Alemanha 1-0 Argentina (a.p.): “E no fim ganham os alemães”

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O RESCALDO

O Maracanã voltou a ser o palco da final de um Campeonato do Mundo, depois do Maracanazo de 1950. Desta vez, encontravam-se no mítico estádio do Rio de Janeiro uma Alemanha quase unanimemente considerada a equipa mais forte da prova, fruto do épico triunfo sobre o anfitrião Brasil por 7-1, e uma Argentina surpreendentemente sólida, incondicionalmente aguerrida e inevitavelmente dependente do génio de Messi para chegar ao título. Desta vez, ou teríamos a consagração de uma fantástica geração alemã (semi-finalista em 2006 e 2010, finalista do Euro 2008) ou teríamos a glorificação do astro Messi. Acabámos por ver pela primeira vez uma selecção europeia a erguer a Copa nas Américas.

Um dia, um senhor disse que “o futebol é um jogo simples: 22 homens perseguem a bola por 90 minutos e no fim ganham os alemães”. Esse senhor é Gary Lineker, que marcou 10 golos nos Mundiais de 1986 (ganho pela Argentina) e de 1990 (ganho pela Alemanha). Hoje foi exactamente isso que aconteceu: foi preciso ir a prolongamento para descobrir o vencedor de um encontro que, embora nem sempre bem jogado, nunca deixou de ser muito equilibrado, muito disputado e muito intenso. No final, sorriu a Mannschaft.

Houve de tudo neste jogo. Houve lesões antes do apito inicial (Khedira obrigou Löw a apostar em Kramer de início). Houve lesões na primeira parte (Kramer, visivelmente afectado por uma perigosa pancada na cabeça, foi substituido). Houve um golo bem anulado a Higuaín por fora-de-jogo. Houve um golo escandalosamente falhado pelo mesmo Higuaín em posição regular. Houve uma bola enviada ao poste por Höwedes. Houve boas oportunidades para Messi, Palacios e Kroos. Houve poucas mas boas defesas de Neuer e Romero. Houve um super-Mascherano num meio-campo e um super-Schweinsteiger no outro. Houve dois extraordinários quartetos defensivos. Houve dois ataques pouco inspirados e com pouco espaço. Houve muita luta, muita entrega e muito crer. Houve prolongamento. No fim, houve um golo saído do banco germânico que decidiu tudo – Schürrle atraiu dois defesas, cruzou para Götze, e o herói da partida, entre os centrais adversários, dominou de peito e fuzilou Romero sem deixar a bola cair no chão.

Götze entrou para marcar o golo da vitória dos europeus  Fonte: Getty Images
Götze entrou para marcar o golo da vitória dos europeus
Fonte: Getty Images

A Argentina fez uma bonita campanha. Muito longe da máquina ofensiva que todos esperavam que fosse, acabou por ir construindo o seu caminho, pé ante pé, assente no criticado 4-2-4 conservador de Sabella, que nunca abdicou de dois trincos. Messi decidiu na fase de grupos (marcou 4 golos), auxiliado por um endiabrado Di María; no ‘mata-mata’, com um Mascherano em grande estilo, um Garay imperial, um Rojo em grande forma e um Zabaleta intransponível, os argentinos foram compactos e eficientes o suficiente para ultrapassar todos os obstáculos. Até Romero, o guarda-redes de que todos desconfiavam, segurou o barco e assegurou um lugar na final. Hoje usaram a mesma fórmula – com as linhas baixas, raramente se desorganizaram defensivamente e tiveram na profundidade ofensiva a sua maior arma para chegar ao golo -, mas o desacerto na dianteira acabou por impedir a albiceleste de chegar ao terceiro título – Messi, Palacio e Higuaín desperdiçaram demasiadas oportunidades.

A Alemanha foi simplesmente a melhor equipa deste Mundial e conquistou novamente o ceptro com todo o mérito e com toda a justiça. Neuer voltou a provar que é o melhor guarda-redes do mundo; Hummels mostrou novamente que é um central de topo; o capitão Lahm exibiu a classe, a polivalência e a capacidade de liderança que lhe são reconhecidas; Kroos, Khedira e Schweinsteiger constituíram um trio de meio-campo fortíssimo em todos os aspectos; Klose tornou-se o melhor marcador de sempre da história dos Mundiais; Müller deu um passo de gigante para bater esse recorde ao assinar mais 5 golos (aos 24 anos, já leva 10 tentos em 2 edições); Schürrle e Götze revelaram-se suplentes de luxo; Özil, Höwedes, Boateng e Mertesacker cumpriram os seus papéis na perfeição. Mas mesmo com um grupo repleto de jogadores de grande talento e de grande experiência, a estrela da equipa foi sempre… a equipa. Hoje não foram tão exuberantes como quando golearam Portugal (4-0) ou o Brasil (7-1), mas foram tão resilientes como quando eliminaram a Argélia (2-1) e a França (0-1). Os pupilos de Löw mereceram chegar ao Olimpo do desporto-rei pela quarta vez.

Longe do seu melhor, Messi foi considerado o jogador do torneio  Fonte: Getty Images
Longe do seu melhor, Messi foi considerado o jogador do torneio
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A Figura

Götze foi eleito pela FIFA como o melhor jogador em campo por ter marcado o golo decisivo, mas eu prefiro destacar os dois maiores dínamos dos dois conjuntos nesta noite: Mascherano de um lado e Schweinsteiger do outro. Ambos foram fundamentais a segurar os respectivos meios-campos, ambos estiveram tacticamente irrepreensíveis, ambos deixaram tudo em campo e correram quilómetros atrás do sonho de levar as respectivas nações à glória. Protagonizaram duas extraordinárias exibições – os patrões.

O Fora-de-Jogo

Messi. Não teve uma performance negativa – arracou bons passes, teve slaloms de categoria e até teve mais do que uma ocasião para marcar -, mas não correspondeu às elevadíssimas expectativas que se geraram em relação a ele. A sua missão era resolver e esteve longe de conseguir fazê-lo. Como prémio, foi considerado o melhor jogador do Mundial’2014. Ridículo! Será que os senhores que lhe atribuíram a distinção viram os jogos de Robben, Müller ou James?

Brasil 0-3 Holanda: Sem ordem, sem progresso e sem terceiro

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O RESCALDO

Nunca pensaram os brasileiros estar tão longe do Maracanã no fim-de-semana de 12 e 13 de Julho de 2014. Fosse como fosse, depois da hecatombe da última terça-feira, diante da Alemanha, era aos anfitriões que competia receber a selecção holandesa (caída aos pés da Argentina, nas grandes penalidades) para, entre eles, discutir o pequeno consolo do último lugar do pódio do Mundial 2014.
Scolari mudou. Convictamente ou não, alterou seis pedras no onze inicial, mantendo o 4-2-3-1. Do lado holandês, destaque apenas para a alteração forçada produzida por Van Gaal: Sneijder (lesionado no aquecimento) deu o lugar a De Guzmán, com a Holanda no seu (in)característico 5-3-2.

Ainda alguns jogadores brasileiros secavam as últimas lágrimas originadas pela débâcle frente à equipa germânica e já David Luíz saltava com Robben e esquecia-se dele – o holandês pegou na mota, ultrapassou Thiago Silva e foi puxado. A dúvida: dentro ou fora da área? O árbitro Haïmoudi entendeu ter sido já dentro e assinalou penalty (e esqueceu-se de expulsar o capitão brasileiro). Van Persie não perdoou e tratou de adiantar a Holanda. 0-1 aos 3 minutos e os fantasmas a voltarem …

Se Scolari tinha um plano de jogo – talvez esteja a ser optimista –, este ruiu bem cedo. A Holanda ficou, desde logo, confortável no jogo. Sobretudo porque apresentou um meio-campo de grande qualidade, muito dinâmico e disponível: Wijnaldum, Clasie e De Guzman têm qualidade técnica, capacidade de ocupação dos espaços e poder de decisão. A este trio, junta-se Robben que, nesta Holanda, recua e pega na bola desde trás, comendo metros, e dando uma velocidade supersónica ao jogo da equipa. Atrás, com 3 ou com 5, a ‘Laranja’ manteve as marcações e referências individuais, num jogo do gato e do rato que, invariavelmente, levou de vencido; nos poucos momentos em que a marcação foi arrastada e a equipa aparentou desequilíbrio, logo surgiu uma compensação ou dobra.

Do outro lado, uma equipa que não o é. Um conjunto atabalhoado, que sobrevive à espera de um rasgo individual (antes com Neymar, hoje com Óscar) que possa estender a equipa e aproximá-la do golo. Sem conseguir ligar jogo – Scolari nunca resolveu o problema ao longo da competição e hoje ocuparam as posições no duplo pivot Paulinho, Luiz Gustavo, Hernanes, Fernandinho e também Ramires por lá passou –, a única diferença que a equipa demonstrou foi outra mobilidade ofensiva, fruto da troca de Fred por Jô. Curto, demasiado curto para todo e qualquer sonho.

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Van Persie assinou o seu quarto golo no Mundial’2014
Fonte: FIFA

Nestas bases, quando o golo de Blind surgiu, aos 16 minutos, esteve longe de ser uma surpresa. Aliás, foi mesmo uma dupla confirmação: a de que o Brasil estava, novamente, perdido em campo (emocional e tacticamente); e a de que David Luiz está muito longe de ser um central fiável e consistente. Blind, esse, não se fez rogado, e perante a oferta do ‘4’ da Canarinha, em pleno coração da área, voltou a bater Júlio César.

A partir de então, e com um 2-0 a seu favor, a Holanda resguardou-se mais e deu a iniciativa ao Brasil, sabendo que, fruto de todo o contexto, os espaços poderiam surgir e Robben ou Van Persie estariam prontos a não desperdiçar. Do outro lado, sentindo o aroma de déjà vu, Óscar pegou na batuta da equipa brasileira e tentou levá-la para a frente: com arrancadas, com dribles, com combinações curtas, com um remate perigoso (21’) e com um livre que quase deu golo (38’). De todo em todo, materializado em zero, quando o apito para o intervalo soou.

Com o reatamento do jogo, Scolari voltou a empreender modificação no meio-campo: saiu Luiz Gustavo e entrou Fernandinho. A equipa melhorou, de facto: subiu um pouco as linhas e tornou-se, sobretudo, mais proactiva, mais pressionante e buscando a bola de forma mais agressiva. Mesmo que depois, quando a tem, não saiba ao certo o que lhe fazer. Aliás, só isso pode explicar a contínua (e disparatada) insistência no passe longo e jogo directo à procura de explorar as costas da defesa holandesa – David Luiz foi o principal promotor desse modo de jogar que redundou em nada mais nada menos do que zero.

Ficando a Holanda mais na expectativa, o Brasil tinha supremacia na posse de bola mas poucas ideias, não conseguindo penetrar ou criar perigo, perante uma defesa que, dentro do seu estilo, apresentou-se sempre bastante coesa e solidária – neste aspecto, Vlaar voltou a ser um verdadeiro esteio na equipa de Van Gaal. A única excepção foi um remate de Ramires, à passagem do minuto 60, que quase deu golo.

Com o jogo a entrar no minuto 70, surgiram as substituições (Janmaat na vez de Blind; Hulk por troca com Ramires, já depois de Hernanes ter entrado para o lugar de Paulinho) e alguns lances mais delicados. Em qualquer uma das áreas, pareceu ter ficado um penalty por assinalar: primeiro por falta de Blind sobre Óscar, depois por carga de Fernandinho sobre Robben. Porém, numa altura em que o jogo se arrastava para o fim – e a agonia atingia limites extremos em Brasília –, já depois de muito Óscar ter tentado e de um remate perigoso de Hulk, haveria de ser a Holanda a dar a machadada final, através de uma jogada conduzida por Robben (esteve nos três golos), com assinatura de Janmaat e com emenda e conclusão de Wijnaldum. 0-3 aos 90+1.

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Para a História: Holanda é 3ª classificada no Mundial’2014.
Fonte: FIFA

Sem grande lamento de qualquer dos intervenientes, o apito final surgiria de seguida, momentos depois de Van Gaal ter dado a oportunidade ao 3º guarda-redes, Vorm, de pisar o palco da Copa (e de ter feito sair Clasie, por troca com Veltman). O resultado pode até ser exagerado mas o desequilíbrio do placard apenas confirma que a melhor (e mais organizada) equipa ficou no 3º posto. Um justo prémio para Van Gaal: um treinador perspicaz, calculista e previdente, que alimentou o sonho de uma Selecção que é hoje limitada em recursos e em quem ninguém se atreveria a apostar para 3ª classificada do Mundial do Brasil. Do Brasil de Scolari que viveu na ilusão e no desejo sem fundamento e cujos últimos dias foram apenas o mais duro choque com a realidade.

A Figura: 

Georginio Wijnaldum – Poderia surgir como impulso, dado ter sido da sua autoria o último golo do jogo. Longe disso! A bola que colocou na baliza de Júlio César foi apenas a recompensa por uma super exibição no meio campo da Holanda: quase sempre discreto mas sempre presente. Com qualidade de posicionamento, com capacidade de passe, com discernimento para a tomada da melhor decisão e com pulmão para a chegada à frente, foi um porto seguro. E só tem 23 anos.

O Fora-de-Jogo:

David Luiz – Depois do terrível jogo diante da Alemanha, a sua exibição de hoje foi, de novo, marcada por inúmeros erros. No 1º golo, Robben salta consigo no início da jogada mas depois dispara sem qualquer reacção ou sentido de posição do brasileiro; no 2º golo, literalmente faz uma assistência para Blind, num lance digno de central dos iniciados. Além destes, viveu períodos do jogo em que pareceu completamente desnorteado, fazendo passes de forma continuada sem qualquer nexo, e assinando aquelas suas incursões ofensivas que mais não são do que um convite à equipa adversária para atacar. Talvez a sua condição emocional, no momento, aconselhasse a não ter jogado.

O Passado Também Chuta: Mario Kempes

o passado tambem chuta

Argentina é tango e mais craques que estrelas no céu. Uma vez, a Argentina organizou um Campeonato do Mundo. O país vivia o trágico pesadelo da ditadura militar de Videla. Algum “cambalache” aconteceu para que Argentina conseguisse permanecer na prova, mas a Argentina também tinha um senhor craque chamado Mario Alberto Kempes. Apareceu para o futebol ao mesmo tempo que um centrocampista primoroso chamado Ardiles. Todo o mundo fala de Maradona e do Campeonato Mundial que alcançou, mas, como dizia Bocage: “antes do mundo ser mundo / e antes de haver adões / tinha o Luisinho preguinhos no fundo / com que rompia os calções”. E antes de Maradona existiu Mário Kempes “El Matador”.

Era uma bala a caminho da baliza contrária. Avançava com a bola nos pés e rematava de média e curta distância como os grandes. Era inteligente; sabia colocar-se; jogava sem bola. Veio para Espanha; vestiu a camisola do Valência e fez-se respeitar no campeonato espanhol como poucos o conseguiram até aos nossos dias. Não é preciso muito; hoje, este mundo da internet pode levar-nos à mais variada documentação da época e se procuramos veremos como Mario Kempes era considerado e temido pelos campos de Espanha. Por Espanha e Europa passaram craques argentinos da mais variada dimensão: desde o falecido Di Stéfano até ao atual Messi, passando por Omar Sivori, Kempes ou Maradona. A Argentina tem fornecido ao mundo futebolístico craques em todas as posições e para realçar uma delas que não é muito habitual mencionarei o guarda-redes Loco Gatti. A Argentina, hoje, encontra-se no cimo, novamente, a nível de seleções. Messi terá muito. No entanto, fintar como Messi fintava o português Simões e o futebol não foi inventado há meia-dúzia de anos.

Mario Kempes é uma das maiores figuras da história do Valência  Fonte: insidespanishfootball.com
Mario Kempes é uma das maiores figuras da história do Valência
Fonte: insidespanishfootball.com

Mario Kempes, além de campeão mundial em 1978 com a sua seleção, levou o Valência a ganhar uma Taça das Taças e uma Taça de Espanha e com o River Plate ganhou um campeonato argentino. É pouca coisa, mas a realidade económica dos clubes situa-os perante as oportunidades de alcançar ou não alcançar campeonatos sonoros e o clube onde mais durou Kempes, o Valência, nunca passou de um segunda fila com prestígio. O Real Madrid e o Barcelona, acompanhados a larga distância pelo Atlético de Madrid, foram no passado e são no presente os clubes que gozam do poder e da oportunidade de formar equipas que são autênticos caprichos.

Por todas estas circunstâncias, Mario Kempes, ainda que esquecido pela comunicação social, é ainda maior. Levar um Valencia a ganhar uma Taça das Taças não o faz qualquer um e conseguir o primeiro Campeonato do Mundo para Argentina é bastante mais difícil que atingir hoje o louro da imortalidade. Muitas vezes somos ingratos, mas a História sempre marca o caminho percorrido com pedras e mais tarde ou mais cedo tropeçamos com a complexidade do passado e com a sua verdadeira dimensão.

Temos um Tour ligado às máquinas!

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Cabec¦ºalho ciclismoNão me lembro de ver um Tour com uns primeiros 5 dias tão destruidores. E, ao contrário do que se esperava, o pavet não teve culpa nenhuma. Ainda nenhum ciclista tinha colocado a sua roda frontal sobre as pedras de Roubaix e já as desgraças tinham acontecido. Motivo? O pior possível! Aquilo que todos os amantes da modalidade (sejam praticantes, sejam observadores) mais temem e odeiam ver. Quedas, quedas e mais quedas.

Até começou muito bem. Um dos tópicos de discussão mais comum sobre o Tour é se faz sentido haver etapas em que não há um único quilómetro percorrido em França. Durante a primeira etapa, o público britânico mostrou que sim. O mundo estava maravilhado com a quantidade de adeptos que se encontravam na rua a aproveitar a pouco usual passagem de um pelotão desta qualidade. Fazer passar o pelotão em locais onde não existem usualmente grande provas é sem dúvida uma mais-valia para a prova, pois a emoção do público justifica e demonstra o que é a paixão pelo ciclismo. E estava tudo maravilhado com este cenário, até à recta da meta.

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O público britânico a demonstrar todo o seu amor pela modalidade
Fonte: resources2.news.com.au

Havia dois duelos que, à partida, excitavam todas as perspectivas: Cavendish vs Kittel e Froome vs Contador. No entanto, ainda não tinha acabado a primeira etapa e já um tinha sido destruído. Cavendish teve uma queda grave na luta pelo sprint e levou com ele a maioria do interesse e da emoção das etapas planas deste Tour. Lá se foi a demanda do record de mais etapas ganhas no Tour por parte do britânico e lá se foi igualmente a dúvida até ao último metro em todos os sprints finais. É verdade que tem de se dar mérito a Kittel e ao seu hat-trick, mas também é verdade que não há ninguém que não pense “se estivesse aqui o Mark Cavendish, não seria assim tão fácil”. Ainda estávamos a recuperar do drama desta perda quando chegámos à etapa número 5. A tão esperada etapa do pavet.

Para resumir este dia seria mais fácil escrever a lista dos ciclistas que não caíram, mas houve uma queda em particular que nos chocou a todos. Chris Froome, que já tinha caído na etapa anterior, voltou a cair mais duas vezes e, num momento genial da realização francesa, todo o mundo teve a possibilidade de ver em directo o vencedor do Tour de 2013 a cambalear e a desistir da prova. Momento absolutamente histórico. Primeiro porque nunca um abandono tinha sido registado em directo desta forma, com mais de dois minutos de plano fixo a mostrar as dores, as dúvidas, a equipa a trazer uma bicicleta nova e, finalmente, a decisão pela desistência. Em segundo lugar porque desde 1980, quando Bernard Hinault desistiu da prova, que um vencedor em título não abandonava o Tour de France. Com isso, ficou destruído o tão antecipado duelo Froome vs Contador. É verdade que, no meio disto tudo, houve um Marcel Kittel a demonstrar uma força impressionante nas chegadas em sprint, um Peter Sagan que vai à conquista da terceira camisola verde seguida papando todos os pontos possíveis e um Vicenzo Nibali que já leva a amarela com uma vantagem confortável para os maiores rivais. Mas, por mais que não se queira, e peço muita desculpa a Kittel, a Sagan e a Nibali, o grande protagonista deste início de prova tem sido indubitavelmente as quedas.

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O abandono de Chris Froome em directo para o mundo
Fonte: images.express.co.uk

Felizmente o Tour tem um pelotão com uma qualidade tão grande que ainda não está tudo perdido, muito pelo contrário. Continua a haver ciclistas brilhantes e ainda nem sequer entrámos nas montanhas, onde normalmente são as etapas mais memoráveis. Aliás, com a ausência de Froome e a maior fraqueza da equipa Sky até se antecipa um maior espectáculo, já que não haverá uma equipa de elite tão defensiva que tenta sempre colocar um ritmo tão elevado em todas as subidas e que é quase impossível atacar. O que mais se prevê agora é que a vantagem de Nibali seja atacada por todos e isso pode-nos oferecer etapas memoráveis; no entanto é preciso que acabem por aqui as quedas, especialmente nesta quantidade assustadora. É que a prova ainda não está morta, mas temos um Tour ligado às máquinas!

Holanda 0-0 Argentina (2-4 g.p.): A lotaria saiu aos sul-americanos

logo mundial bnr

Depois do vendaval alemão na meia-final do dia anterior, Argentina e Holanda quiseram jogar pelo seguro e nunca arriscaram muito. A consequência disso foi um jogo pouco interessante e quase sem oportunidades de golo. Mantendo-se fiel ao seu esquema de três centrais, a Holanda praticamente não incomodou a baliza de Romero – não só devido ao acerto defensivo da Argentina e da boa exibição de Mascherano no centro do terreno (perante alguma passividade do meio-campo foi ele que assumiu um papel de organizador que normalmente não é seu), mas também por causa do desaparecimento de Robben e de Van Persie. A selecção das pampas, por seu lado, esteve ligeiramente por cima na primeira parte, mostrando-se mais pressionante. Contudo, a equipa ressentiu-se da ausência de Di María e do facto de Messi ter estado pouco em jogo. Como nem Enzo Pérez (jogo interessante, mas a espaços) nem Biglia pareciam contrariar os já habituais problemas na construção argentina, o craque do Barcelona foi obrigado a recuar muito, ainda que sempre bem guardado por De Jong. Em todo o primeiro tempo, só um livre de Messi bem defendido por Cillessen e um cabeceamento de Garay (exibição atenta e segura) após um canto quebraram a monotonia reinante.

Depois do intervalo a Holanda passou a ter mais bola, mas nem por isso o jogo ganhou interesse. O futebol apoiado da equipa de Van Gaal não esticava o suficiente para chegar à baliza adversária, e a Argentina também não parecia muito mais capaz de criar perigo e quebrar o empate. Das vezes que se aproximaram da área holandesa, os homens de Sabella esbarraram num trio de centrais muito bem organizado, com o imponente Vlaar no comando das operações. De resto, pouco mais há a assinalar. Para se ter uma ideia do que foi o jogo, uma das melhores oportunidades da partida (falhanço de Higuaín após boa jogada e grande cruzamento de Enzo Pérez da direita) tinha sido, afinal, anulada por fora-de-jogo do avançado. A Holanda, por seu turno, teve uma possibilidade clara de ganhar aos 91 minutos, mas a primeira aparição de Robben foi contrariada de forma fantástica por Mascherano no último instante.

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Com uma intervenção espantosa, Romero defende o remate colocado de Sneijder e abre as portas da final à Argentina
Fonte: Fifa.com

Ao longo dos 90 minutos, os restantes motivos de interesse acabaram mesmo por ser pormenores como a enorme cultura táctica de Kuyt, que permite a um atleta que joga normalmente a extremo-direito cumprir com distinção ora a lateral direito (na primeira parte) ora a lateral esquerdo (na segunda). Sneijder, embora sem o fulgor de há 4 anos, confere uma classe e uma clarividência diferentes ao meio-campo holandês; já do lado argentino, para além das exibições agradáveis dos dois atletas do Benfica, também o Sportinguista Marcos Rojo assinalou uma exibição competente, tendo sido dele um dos raros remates da partida. No outro flanco, Zabaleta não lhe ficou atrás e foi sempre dos mais lutadores. Quanto a Messi, apesar de ter estado apagado (e, tal como ele, também Higuaín, Lavezzi, Agüero e Palacio – houve mérito da organização defensiva montada por Van Gaal), protagonizou dois ou três pormenores interessantes das raras vezes em que teve uma nesga de terreno. As preocupações holandesas eram completamente justificadas, mas a equipa soube cumprir na perfeição.

No prolongamento a Holanda esteve como nunca tinha estado: instalada no meio-campo argentino e, pela primeira vez em todo o jogo, à procura do golo de forma declarada. No entanto, foi Palacio, que tinha rendido Enzo Pérez, a dispor da melhor oportunidade do tempo extra. O avançado, contudo, tentou fazer um chapéu de cabeça e a bola acabou por sair fácil para o guarda-redes. Nos penáltis, a sorte sorriu à Argentina: Vlaar, logo a abrir, e Sneijder, permitiram excelentes intervenções a Romero (Robben e Kuyt marcaram), ao passo que Cillessen não conseguiu parar os remates de Messi, Garay, Agüero e Maxi Rodríguez.

Vinte e quatro anos depois, a Argentina marca novamente presença numa final de um Mundial, desta vez em casa do eterno rival Brasil. Ao contrário do que aconteceu em 1990, agora já não há Diego Maradona, mas há Lionel Messi. Porém, apesar de contar com um jogador fora-de-série, a Argentina não tem mostrado um futebol cativante nem convincente. Pelo que se viu hoje e já se tinha visto antes neste Mundial, a lógica quase obriga a afirmar que a Alemanha tem via aberta para conquistar o título. Mas as finais são jogos à parte. E no futebol tudo pode acontecer, como ainda ontem se viu…

 

A Figura:

Ron Vlaar – É certo que Romero defendeu dois penáltis, mas nos 120 minutos foi o central holandês quem mais brilhou. Se a Argentina fez poucas jogadas perigosas, muito se deve ao atleta do Aston Villa: protagonizou cortes importantíssimos contra Messi, Lavezzi e quem quer que lhe aparecesse à frente, dominou tudo tanto pelo chão como pelo ar, em velocidade ou em antecipação. O futebol holandês tem a fama de ser algo permeável na defesa, mas hoje Vlaar contrariou essa teoria e deu a serenidade necessária aos seus jovens colegas de sector. Não merecia ter falhado o penálti. 

O Fora-de-jogo:

Qualidade do futebol praticado – Percebe-se que ninguém quisesse cometer erros que pudessem custar caro, mais ainda depois da Alemanha ter arrasado o Brasil. No entanto, duas ou três oportunidades de golo em 120 minutos de futebol é muito pouco. Foi o típico jogo decisivo onde a vontade de alcançar um bom resultado se sobrepôs à qualidade exibicional. No entanto, se é verdade que para o espectáculo foi mau, não é menos verdade que ninguém pode criticar as equipas por isso…

Brasil 1-7 Alemanha: Humilhação Histórica

cabeçalho mundial'2014

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O RESCALDO

O futebol é impressionante! Entusiasmem-se os aficionados pelo futebol espetáculo e imprevisibilidade total. Hoje, nem o mais louco dos adeptos poderia esperar um desfecho assim. Uma vitória implacável, sem dó nem piedade dos alemães, perante um Brasil que buscava o sonho de ser campeão mundial no seu próprio estádio. Uma vitória inexplicável, que valeu “olés” dos próprios brasileiros, e que contou um cheirinho de tiki-taka do novo “alemão” Pep Guardiola. Sete tiros certeiros e um Brasil moribundo, que não perdia por uma diferença de 6 golos há 94 anos!

Na abordagem ao encontro, Scolari apostou em Dante e Bernard para colmatar as ausências de Thiago Silva e do azarado Neymar. Joachim Löw escolheu Toni Kroos, Khedira e Schweinsteiger para limpar o meio-campo brasileiro composto por Luís Gustavo e Fernandinho.

O primeiro murro no estômago dos brasileiros foi logo aos 11 minutos, com Thomas Muller, após a marcação de um canto, a aparecer sozinho ao segundo poste e a finalizar com um remate (!) rasteiro e sem hipóteses de defesa para Júlio César.

Com um estilo de jogo muito direto, sem ninguém para pegar na equipa e com dois extremos (Hulk e Bernard) que raramente auxiliavam os dois laterais nas tarefas defensivas, não houve como combater o domínio germânico. Uma Alemanha muito pressionante, que não dava espaços aos brasileiros e que rapidamente criava perigo no último terço do terreno. David Luiz e Dante estiveram desastrosos e Luís Gustavo e Fernandinho não conseguiram suster a pressão do meio-campo opositor. A equipa brasileira não se encontrava em campo e os alemães rapidamente abateram as esperanças de um povo que sonhava com uma presença na final – 1… 2… 3… 4 golos em 7 minutos e o Brasil estava de rastos. Aos 28 minutos, o impensável acontecia no Mineirão: os pupilos de Luís Felipe Scolari perdiam por 5-0!

Toni Kroos, com 2 golos, foi um dos responsáveis pelo massacre alemão Fonte: FIFA
Toni Kroos, com 2 golos, foi um dos responsáveis pelo massacre alemão
Fonte: FIFA

Até ao intervalo, o sofrimento brasileiro prolongou-se e ninguém conseguia acreditar no que estava a acontecer. Sem muito para refletir, Scolari, durante o descanso, só podia tentar minimizar alguns estragos e evitar o que já muitos anteviam: o pior resultado de sempre de uma equipa nas meias-finais de um Mundial de futebol. Assim, saíram de campo Fernandinho e Hulk e entraram Ramires e Paulinho. As melhorias foram ligeiras, mas serviram para atenuar o domínio alemão após o intervalo. Até que aos 58’, Low retirou de campo o consagrado Klose – que se tornou no melhor marcador de sempre em fases finais, superando Ronaldo (outra desilusão para os brasileiros) – e colocou o avançando móvel Schurrle. Diante uma dupla de centrais completamente apática e sem reacção, não surpreendeu que as transições alemãs se tornassem ainda mais mortíferas. Completamente letal, o avançado do Chelsea foi a tempo de marcar mais 2 golos (69’ e 78’) e aumentar ainda mais a tristeza e estupefação dos jogadores e adeptos brasileiros. Até final, o máximo que os moribundos jogadores brasileiros conseguiram fazer foi marcar um golo pelo apagadíssimo Oscar.

Fim de contas, a Alemanha, mais do que ter vencido, humilhou o anfitrião Brasil por 7-1 e seguiu para a final do Mundial’2014. Como previa desde o início, os germânicos são os maiores favoritos à conquista da final e faço já a minha aposta em como nem a Holanda, nem a Argentina terão grandes argumentos para superar esta fortíssima equipa alemã. O Brasil, por sua vez, sai devastado e com muitas lacunas por corrigir. Desde logo, Scolari. A motivação não é tudo e hoje a imagem de Scolari fica demasiado frágil e ligada a uma das maiores humilhações do futebol mundial.

A Figura:

Impossível escolher um jogador alemão. A catástrofe brasileira contrastou com a fantástica exibição coletiva dos alemães. Um verdadeiro banho de bola, com cheirinho a tiki-taka de Guardiola.

O Fora-de-Jogo:

Luís Felipe Scolari é, obviamente, o principal responsável pelo descalabro. Opções duvidosas, incapacidade para colmatar as ausências de Neymar e Thiago Silva e descredibilização total do futebol brasileiro. O fim de uma era.

Tour em Londres

cab reportagens bola na rede

Nunca tinha ido para a estrada assistir a uma prova de ciclismo fora de Portugal. Hoje foi o dia. Quando me apercebi de que a minha estadia em Londres ia coincidir com a passagem do Tour pela capital inglesa, não hesitei em fazer planos para ver ao vivo os melhores ciclistas do mundo. Desde criança de que passo tardes infindáveis na companhia de Luís Piçarra, Paulo Martins e Olivier Bonamici a acompanhar Tour após Tour na Eurosport. Ir ver a maior competição velocipédica com os meus próprios olhos foi, por isso, um sonho concretizado.

Estava a chover quando saí da estação de metro de Green Park, um dos parques que circundam o famigerado Buckingham Palace e que hoje servia de Fan Park do Tour. Todo o jardim estava vestido de amarelo e branco às bolinhas vermelhas – as cores predominantes na festa do Tour. Gente a pé e de bicicleta, velha e nova, de todas as etnias e nacionalidades, foi-se acercando de The Mall para acompanhar os derradeiros momentos da 3ª etapa desta Volta a França.

Green Park, um dos três Fan Parks de Londres
Green Park, um dos três Fan Parks de Londres

A 350 metros da meta e a pouco menos de 3h da hora prevista de chegada, fiquei a guardar lugar junto às barreiras de protecção de bandeira portuguesa na mão. Entre um casal de velhinhos a aguardar religiosamente o momento, um grupo de amigos britânicos vestidos com camisolas de ciclismo e empenhando cerveja engarrafada, um solitário quarentão de capacete e um pai e um filho visivelmente entusiasmados por estar ali.

Depois da passagem da caravana dos patrocinadores (que envergonharia muito Carnaval em Portugal), de mais uma valente chuvada (que molhou o piso e enfeitou a avenida de guarda-chuvas) e de várias horas a acompanhar a corrida através dos relatos dos speakers (ora no inglês local, ora no francês habitual), lá chegou o pelotão. Nem consegui perceber logo quem tinha ganho. Vi o comboio da Team Giant-Shimano na dianteira e Sagan bem posicionado e ainda quis acreditar que o eslovaco ia levar a melhor, mas acabou mesmo por ser Kittel – novamente ele – a superiorizar-se no sprint. Tive a certeza disso quando vi um colega de equipa do alemão a estender os braços para o ar em sinal de festejo.

Ontem, a BBC anunciava que cerca de 2,5 milhões de pessoas tinham assistido à 2ª etapa do Tour, entre York e Sheffield. Hoje não sei quantas pessoas estiveram na estrada, mas pude confirmar a paixão que os ingleses sentem por este desporto fantástico. Agora vou continuar a ver o Tour na televisão…

Um representante português no Tour
Um representante português no Tour