O Mundial é, provavelmente, a maior montra do mundo do futebol. Transforma estrelas em jogadores de banco e jogadores de banco em estrelas. Este Mundial não está a ser excepção e há nomes de que nunca ninguém ouvira falar que começam a vir à tona. Nesta edição, em particular, os guarda-redes estiveram em destaque – Ochoa, Keylor Navas, Tim Howard ou Krul foram algumas das luvas em primeiro plano.
Hoje quero falar-vos de Ochoa. Um guarda-redes com uma cabeleira de fazer inveja a David Luiz ou Fellaini, que enraíza o típico sul-americano louco e que nunca se afirmou como pilar essencial em nenhuma equipa. Ochoa fez um Mundial fantástico. Sentiu todos os olhares do mundo e actuou como um gigante. Aliás, despertou, inclusive, o interesse de grandes clubes como o Mónaco ou o Arsenal. Mas quem era Ochoa antes do Mundial? Poucos o conheciam. Se perguntassem por ele aos adeptos do Ajaccio, eles reconhecê-lo-iam com toda a certeza, ou não fosse ele um homem de grandes números. Que números? 71. 71 quê? 71 golos sofridos numa época. Esta é a verdade. Ochoa apresentou-se a grande nível ao serviço do México e foi uma muralha que só mesmo um penalty inventado conseguiu derrubar. Mas foi também o guardião mais batido da Ligue 1 na temporada transacta.
Ochoa foi do Inferno ao Céu em poucas semanas Fonte: soccernews.com
Se neste momento eu precisasse de contratar um guarda-redes, ficava indeciso. Optando pelo mexicano, que Ochoa iria eu adquirir? O intransponível Ochoa do Mundial ou o desconcentrado e medíocre Ochoa que actuou na Liga Francesa? Um jogador apenas de grandes palcos, que apenas com toda a pressão joga o seu melhor, ou um jogador fiável e regular? Ochoa já mostrou que pode fazer muito, mas a pergunta impõe-se: conseguirá ele manter a qualidade que demonstrou no Brasil, sem vacilar, numa das grandes ligas do futebol mundial?
Na minha opinião, Ochoa é fogo-de-vista. Uma boa prestação no Mundial não apaga uma carreira com muitas debilidades entre os postes. Por outro lado, Keylor Navas é um jogador que provou no Mundial ser aquilo que tinha mostrado ser na Liga BBVA, onde foi eleito melhor guarda-redes da época 2013/2014. Este está a ser o Mundial dos guarda-redes e Ochoa foi um dos protagonistas da competição. Agora vou esperar pelas notícias para ver que redes vai defender o azteca para o ano. Talvez as suas futuras exibições que me façam engolir estas palavras. Ou talvez não. Se calhar estou certo e os 71 golos sofridos numa época são um argumento sólido o suficiente para levar qualquer director desportivo a pensar duas vezes antes de o contratar.
Joga-se a final da velha Taça de Europa, com o nome reconvertido, em Lisboa. O cenário não podia ser outro; o Estádio da Luz não sabe se desta vez será o Inferno da Luz, mas para a equipa derrotada será mais do que um Inferno. Por isso, hoje só poderei escrever sobre um grande e mítico jogador que marcou época na Taça de Europa: Marco Van Basten. Foi, sem dúvida, um dos melhores avançados-centro de sempre. Era alto, cheio de presença; sabia descair para a direita ou para a esquerda; sabia construir ou lançar jogo desde o círculo central. Sabia tudo e os seus pés não eram exclusivamente os pés de um rematador. Jogou num ressurgido Ajax e num inesquecível Milão. Sem pretender ou sem mostrar obsessão, como manifestam alguns craques dos nossos dias, erigiu-se um jogador laureado com prémios internacionais, superando colegas seus como Gullit, Rijkaard, ou o italiano Maldini.
Filho de futebolista, marcado por esta condição e pelo empenho paterno, começou a beber futebol como quem bebe água desde a mais tenra idade. Teve a feliz ventura de se iniciar numa das escolas de formação de maior êxito como foi e é o Ajax e teve a sorte de ter o jogador-referência no seu clube: Johan Cruijff. Estudou-o profundamente e acabou por entrar na equipa, substituindo-o. E foi com Cruijff como seu treinador que, com um golo seu, voltou a colocar o Ajax no pódio europeu, ao ganhar a Taças das Taças. Evidentemente, o Milão, que andava com fome de grandes façanhas, chamou-o, e aquela máquina de fazer futebol começou a arrasar na Europa. O Real Madrid de Butragueño, Martin Vasquez e Sanchis, vindo de ganhar duas Taças da UEFA, sentiu nas suas carnes o triturar deste Milão.
A caminho da baliza Fonte: Goal
Entre Ajax, Milão e a seleção holandesa jogou quatrocentos e trinta e um jogos e marcou trezentos golos. Foi bicampeão europeu com o Milão de Sachi; entre todas as competições em que participou, foi oito vezes o maior goleador. Somou prémios individuais como quem coleciona isqueiros: melhor jogador do Mundo-FIFA em 1992; dois anos melhor jogador do Mundo-World Soccer; três vezes melhor jogador da UEFA; três vezes melhor jogador da IFFHS; duas vezes Onze d’Or; um Troféu Bravo; melhor jogador do Campeonato de Europa de 1988; uma Bota de Ouro; e se continuamos para bingo e começarmos a falar sobre os seus troféus coletivos entramos em delírio. Entre a Holanda e a Itália venceu seis campeonatos nacionais, duas Taças Intercontinentais, uma Supertaça e mais pedras preciosas que constituem o seu rosário de louros.
No entanto, entre os problemas físicos e a dureza dos rivais passou um calvário de lesões. Se com as lesões alcançou o reconhecimento e os louros que alcançou, imaginemos o que alcançaria se a saúde desportiva o tivesse respeitado mais e melhor. Possivelmente, deixaria marcas escandalosas. Começou a jogar em 1981 e despediu-se em 1995. Com ele quase desapareceu um tipo de avançado-centro; hoje, unicamente Zlatan Ibrahimovic se lhe assemelha.
Classe. Do Futebol Clube do Porto não se espera outra coisa e assim foi a noite deste sábado. Se em Salvador Louis van Gaal era aplaudido pela sua substituição de ouro e Tim Krul erguido por milhares de almas laranjas, na rua Cândido dos Reis eram apresentados os novos equipamentos azuis e brancos. Warrior em inglês, “guerreiro” em português.
Ontem, o Futebol Clube do Porto brilhou mas, acima de tudo, inovou. #SemprePreparados para a #Invasão – afinal, as redes sociais serviram de maior suporte de divulgação do evento – os Dragões desfilaram num espectáculo inovador e bem conseguido que serviu não só para apresentar os conjuntos da marca norte-americana, assim como os ténis New Balance, mas também para fortalecer ainda mais a ligação jogadores-adeptos.
O prometido é devido e, como tal, Quaresma, Danilo, Alex Sandro, Helton, Fabiano e o recém-chegado Ricardo juntaram-se aos modelos Ruben Rua, Luís Marinho, Ricardo Guedes e a Maria Cerqueira Gomes e Débora Montenegro para um espectáculo de aproximadamente 25 minutos. Nem a chuva os parou e muito menos aos milhares de adeptos portistas, que não arrecadaram pé do Centro da Cidade.
Pinto da Costa, Julen Lopetegui e Reinaldo Teles estiveram na primeira fila Fonte: FC Porto
Ao som de um DJ convidado e de Marta Ren, e sob o olhar atento de Jorge Nuno Pinto da Costa e Julen Lopetegui, desenhou-se então uma bonita noite com elementos alusivos ao espírito guerreiro do clube e às ambições azuis e brancas. A Warrior, claro, marcou presença e prometeu ainda mais e melhor nos próximos anos, incluindo representantes portugueses.
Para já, e numa parceria que ganhou vida há algumas semanas, os norte-americanos podem contentar-se com o enorme crescimento de que têm sido vítimas felizes: apesar de já contarem com acordos com o Liverpool e o Sevilha, é com o Futebol Clube do Porto que têm atingido as suas publicações de maior sucesso nas redes sociais e ganho mais seguidores no Facebook e no Twitter.
Pela primeira vez na história, Holanda e Costa Rica defrontavam-se num jogo oficial. Não havia portanto melhor palco que o Arena Fonte Nova, em Salvador da Bahia, para assistir a um encontro histórico que valia o último passaporte para as meias-finais do Campeonato do Mundo. De um lado, uma das equipas mais dominadoras da competição: depois da goleada aplicada naquele mesmo estádio frente à campeã do mundo Espanha, a Holanda chegava a esta partida decisiva vinda de um suado apuramento conquistado nos últimos minutos frente ao México. Do outro, tínhamos aquela que é considerada a grande revelação da prova: a Costa Rica. Treinada por Jorge Luís Pinto e comandada dentro de campo pelo gigante Keylor Navas e pela temível dupla Joel Campbell-Bryan Ruiz, os costa-riquenhos entravam em campo com o sonho de continuar a construir o castelo de sonho que começou a ser projetado no chamado “grupo da morte”, um grupo com três ex-campeões mundiais, em que a Costa Rica levou a melhor.
Holanda e Costa Rica começaram esta partida de forma desfalcada: na equipa de Louis Van Gaal, destaque para as ausências do lesionado De Jong e de Paul Verhaegh, que foram rendidos por Bruno Martins Indi e Memphis Depay. Com estas alterações, Van Gaal continuou com a opção de colocar o “camaleão tático” Kuyt na lateral direita, deixando Blind como defesa-esquerdo e optando por uma defesa com 3 centrais. No meio-campo, Wijnaldum atuou como médio mais recuado, dando apoio ao médio criativo Wesley Sneijder, que tinha como principal função alimentar os três avançados da equipa: Depay na ala esquerda, Arjen Robben no flanco direito e Robin Van Persie no centro do ataque. Em contrapartida, a Costa Rica apenas fez uma alteração no onze, com Jorge Luís Pinto a lançar Johnny Acosta para o lugar do castigado Óscar Duarte. Ao olhar para o esquema tático das equipas percebia-se que, apesar da diferença natural entre os protagonistas da partida, Van Gaal e Pinto tinham projetado o mesmo sistema tático, com 3 jogadores no eixo da defesa, 2 médios-centro, 2 alas com projeção ofensiva e 3 jogadores libertos na frente de ataque.
Como seria de esperar, os primeiros minutos da partida mostraram uma equipa holandesa a querer tomar conta da partida. Com um ritmo de jogo pouco intenso, muito em virtude das dificuldades que foi encontrando na primeira fase de construção, a seleção de Van Gaal nunca conseguiu imprimir muito dinamismo ao seu jogo ofensivo e apenas a criatividade de Sneijder ao serviço do jogo pelas faixas de Depay e Robben ia criando perigo à baliza de Navas. Do lado costa-riquenho, José Luís Pinto optou por não se esconder da partida e não teve receio do ponto forte da “laranja mecânica”: o jogo pelas alas. Por isso, não raras vezes os laterais Gamboa e Diaz incorporaram-se no jogo ofensivo da Costa Rica, que deixou na primeira parte Bryan Ruiz como homem mais avançado da equipa, com Tejeda e Bolaños como apoios no meio-campo e Joel Campbell a surgir como falso extremo direito para aproveitar o contra-ataque. Ainda assim, não se pode dizer que qualquer das estratégias tenha tido resultados práticos na primeira parte, pois a Costa Rica apenas aos 34 minutos, na sequência de um livre direto, assustou Cillessen; enquanto a Holanda, apesar de ter criado três boas ocasiões de golo (Van Persie aos 21 minutos, Memphis Depay aos 28 e Sneijder aos 36 minutos) nunca conseguiu justificar uma possível vantagem no marcador. Com efeito, o nulo nos primeiros quarenta e cinco minutos aceitava-se, não obstante as três belas intervenções feitas no primeiro tempo por Keylor Navas.
Robben foi sempre o elemento mais perigoso da selecção laranja Fonte: Getty Images
No segundo tempo, pouco se alterou. Do lado holandês, continuavam as dificuldades na construção do jogo ofensivo, com Van Persie preso à marcação dos três centrais da Costa Rica e Memphis Depay muito longe do nível a que já habituou os adeptos holandeses na competição. Por isso, durante os primeiros 20-25 minutos da segunda parte, apenas as arrancadas pela direita de Arjen Robben e a inteligência técnico-tática de Wesley Sneijder iam colocando em perigo o jogo da seleção da Costa Rica, que apesar de continuar a não criar perigo junto à defensiva holandesa ia nos primeiros minutos do segundo tempo controlando os vários momentos do jogo. A apatia tática da Holanda levou Louis Van Gaal a mexer (e bem) na equipa: retirou o apagado Depay das quatro linhas para colocar no seu lugar Jeremain Lens. Com esta alteração, para além do sangue novo que trouxe à seleção holandesa, Van Gaal deu à equipa um ritmo mais intenso e dinâmico, que permitiu à “laranja mecânica” encostar a seleção da Costa Rica às cordas pela primeira vez na partida no último quarto de hora da partida. A mudança no xadrez laranja teve resultados imediatos e nos últimos quinze minutos os holandeses poderiam mesmo ter alcançado uma vantagem decisiva para o apuramento para meias-finais. Sneijder, com um remate ao poste aos 82 minutos, e Van Persie em três ocasiões (83, 88 e bola ao poste aos 92 minutos) estiveram bem perto do golo da vitória. Por mérito de Navas e com a “bênção” dos postes da sua baliza, os costa-riquenhos conseguiram superar o momento mais complicado que tiveram durante o período regulamentar e, contrariando aquilo que se poderia esperar, acabaram por conseguir levar o jogo até ao prolongamento.
A forte investida da seleção de Louis Van Gaal acabou por ter continuidade no tempo-extra. Na primeira parte do prolongamento continuou o domínio holandês: fruto do desgaste físico da seleção da Costa Rica, a Holanda foi conseguindo aproximar-se da baliza adversária com maior perigo à medida que os minutos iam passando. Com Robben cada vez mais presente na dinâmica ofensiva da equipa e Robin Van Persie a conseguir progressivamente libertar-se da pressão defensiva adversária, os holandeses foram ameaçando o golo. Nesse período, destaque para um cabeceamento de Vlaar aos 93 minutos que apenas não deu em festejos holandeses devido a nova enorme defesa da muralha em forma de guarda-redes Keylor Navas. Ao fazer entrar Jan Huntelaar para o lugar de Bruno Martins Indi no início da segunda parte do prolongamento, Van Gaal procurou dar mais poder de fogo ofensivo aos holandeses. Ainda assim, a Costa Rica soltou-se das amarras táticas a que esteve agarrada durante 105 minutos e aos 116 podia mesmo ter chegado ao golo, permitindo uma bela defesa a Cillessen após remate de Ureña, que havia entrado no decorrer do segundo tempo para o lugar do apagado Joel Campbell. Logo na resposta, nova bola ao ferro para a equipa holandesa, num remate fortíssimo de Sneijder aos 118 minutos que Keylor Navas apenas conseguiu desviar com o olhar para a barra da baliza da Costa Rica. A garra tática e emocional da Costa Rica acabou por dar os seus frutos e, tal como havia acontecido frente à Grécia, a equipa de Jorge Luís Pinto conseguiu, mesmo contra todas as probabilidades, levar a decisão para as grandes penalidades. Para a luta decisiva na marca dos 11 metros, Louis Van Gaal decidiu arriscar e gastar a terceira e última substituição colocando o guarda-redes Tim Krul no lugar de Cillessen.
Navas, um dos melhores guarda-redes do Mundial’2014, voltou a ser decisivo Fonte: Getty Images
Na lotaria dos penáltis, a Holanda acabou por ser mais forte: em quatro remates, a seleção laranja não falhou uma única oportunidade; ao invés, a Costa Rica permitiu duas defesas ao herói Tim Krul, com os falhanços de Bryan Ruiz e Umaña. A Holanda atinge assim novamente as meias-finais de um Campeonato do Mundo e, depois do segundo lugar alcançado em 2010, a seleção de Van Gaal começa a ameaçar nova presença no jogo decisivo. Quanto à Costa Rica, restam apenas elogios para uma seleção desconhecida à partida e engrandecida na saída da competição, com Keylor Navas como figura central. Agora é esperar por quarta-feira, pelo Argentina–Holanda, mais um clássico do futebol mundial. A sabedoria de Van Gaal revelou-se fundamental para este apuramento. Num golpe de génio, o futuro técnico do Manchester United foi buscar uma carta escondida ao banco que se revelou decisiva nos penáltis: Tim Krul, pois claro. O único capaz de derrubar o sonho da Costa Rica.
A Figura
Keylor Navas – Seriam poucos, ou mesmo nenhuns,aqueles que apostariamna presença da Costa Rica nas meias-finais do Campeonato do Mundo. Na batalha contra os holandeses, a Costa Rica raramente criou perigo e teve no momento defensivo o seu ponto mais forte. Por isso, ao longo dos 120 minutos Keylor Navas foi o homem mais em jogo do lado dos costa-riquenhos: sempre seguro entre os postes, não raras vezes evitou o golo anunciado dos holandeses.
O Fora-de-Jogo
Joel Campbell – Completamente fora do jogo, o avançado da Costa Rica nunca conseguiu ser perigoso enquanto esteve em campo. Sai do Mundial sem brilho e sem conseguir levar a sua seleção mais longe na competição.
28 anos depois de Maradona ser Maradona, quis o destino que Argentina e Bélgica voltassem a cruzar caminhos na Copa. Desta feita, não numa meia-final mas no acesso a esta. Do lado alviceleste, os sonhos argentinos liderados por Messi e Di María, que suportam a verdadeira anarquia táctica em que Alejandro Sabella envolveu esta equipa. Na Bélgica, um conjunto mais coeso, racional e seguro a servir o génio de Hazard. Na verdade, este era o primeiro grande teste para qualquer uma das equipas, que até agora apenas tinham defrontado selecções de menor nomeada. Para sorte desta Argentina desequilibrada defensivamente, este seria o primeiro duelo em que defrontavam uma equipa que não se preocuparia apenas com o momento defensivo do jogo. A Bélgica vinha em crescendo de forma desde o início da competição, situação proporcionada pela muito pouca experiência dos jogadores nestas andanças. Assim, não seria de todo errado pensar numa certa vantagem argentina, dada a maior maturidade da selecção das pampas. E ter Messi é suficiente para que nem seja preciso pensar em mais razões para esse favoritismo.
Com a já habitual insistência de Sabella nos jogadores em quem confia e não nos mais indicados para o jogo argentino, Demichelis (mais experiente) entrou para o lugar de Fernández, Basanta para o do castigado Rojo e… Biglia fez as vezes de Gago. Enzo Pérez, o melhor médio-centro desta selecção, que continue à espera enquanto este duplo-pivot desprovido de qualquer lógica continua a impedir o melhor futebol da equipa. Do lado belga, surpreendeu a inclusão de Mirallas no ataque, em detrimento de Mertens, um dos agitadores do ataque de Wilmots.
‘La Pipita’ Higuaín atirou a Argentina para a meia-final Fonte: Eurosport
Ainda o relógio não tinha batido nos dez minutos de jogo e já a Argentina se colocava em vantagem no marcador. Aproveitando a displicência defensiva que a Bélgica apresentou durante toda a primeira parte, Messi desembaraçou-se da preguiça de Fellaini e, após ressalto num passe de Di María, Higuaín disparou sem hipóteses para Courtois. Melhor início de jogo para o lado alviceleste era impossível e cabia à Bélgica a resposta. Resposta essa que não chegou. Sem capacidade de pressão no centro do terreno e com evidentes dificuldades na ligação defesa-ataque, a equipa do Velho Continente foi uma mera amostra daquilo de que é capaz. Serviu a saída por lesão de Di María para percebermos até onde pode ir a casmurrice de Sabella, que ainda vê em Enzo o extremo-direito do Estudiantes de 2011. A Argentina perdia um dos motores da sua manobra ofensiva mas ganhava mais músculo e capacidade de segurar a bola. O resultado ao intervalo materializava a ligeira superioridade sul-americana frente a uma Bélgica apática, para quem estes “mata-mata” ainda são um corpo estranho.
Com a Argentina confortavelmente instalada sobre a vantagem no resultado, no segundo tempo esperava-se uma Bélgica diferente em tudo, algo que voltou a não acontecer. Apenas um cabeceamento de Fellaini para registo futuro numa Bélgica completamente desinspirada, que teve em Fellaini e Witsel uma dupla com mais cabelo do que intensidade e em Hazard um génio fora do jogo. Total apatia do conjunto europeu, que com quatro centrais de raiz de início e um duo de meio-campo tão vazio de ideias se entregou à experiência do adversário. Ficou a imagem de uma equipa que consegue mas não quis, quando nesta Copa já tivemos verdadeiros exemplos de quem tanto quis mas não conseguiu: Argélia, E.U.A ou Grécia são exemplos para a Bélgica levar em conta no futuro. A geração de ouro terá muito que crescer e, sobretudo, correr, porque da teoria à prática ainda vai muito no futebol. Para a Argentina, é o regresso a uma meia-final de um Mundial 24 anos depois. Mais forte colectivamente e no momento defensivo, o sonho é possível.
A Figura Higuaín – A exibição argentina também esteve longe de encher o olho, mas Gonzalo Higuaín esteve em excelente plano. Marcou o único golo da partida, teve mais oportunidades para isso e deu dinâmica ao ataque argentino.
O Fora-de-Jogo Bélgica – Deplorável a exibição belga nesta partida. A geração de ouro ainda tem pés de barro e pouco andamento para jogos de barba rija.
Diogo Gago é provavelmente um nome que não diz nada à maioria dos portugueses e que pouco diz aos que gostam de ralis mas que não acompanham de forma “fiel” a modalidade em Portugal.
Gago é um dos pilotos em que os portugueses podem depositar mais esperanças para o futuro, visto ter cada vez mais um ritmo consolidado e estar a fazer uma aposta séria na sua carreira. O piloto algarvio está a correr em Portugal, Espanha e França neste momento, o que lhe traz um ritmo e experiência muito superiores à grande maioria dos pilotos portugueses. Mas se a participação nestes três campeonatos é importante, para mim, existe uma falha grave na sua participação: o piloto corre em cada campeonato com um carro diferente. Em Portugal corre com um Citröen C2 R2, em Espanha corre no troféu da Suzuki com um Suzuki Swift Sport, e em França corre com um Peugeot 208 R2. Se as diferenças de carros podem ser boas por não permitirem uma habituação excessiva a um só carro, ter de conhecer três também me parece excessivo. Para melhorar este aspeto e reduzir de três para dois carros, considero que o piloto devia começar a usar em Portugal o carro da marca do leão, que usa em França.
Diogo Gago em ação em França. Fonte: Facebook de Diogo Gago
A nível de resultados, estes têm sido sempre equilibrados, e penso que posso afirmar que são melhores no estrangeiro do que em Portugal; no passado fim de semana, na primeira participação em França deste ano, o piloto do Algarve ficou em terceiro, não ficando no primeiro lugar apenas devido a uma penalização dada ainda antes do início da prova.
O algarvio é sem dúvida um talento com muito futuro, e podemos esperar voos mais altos para o mesmo. Ainda estamos a meio da temporada de 2014, mas para a época de 2015 o piloto deveria continuar a apostar em carros ‘R2’ e de preferência num carro melhor do que o C2 com que corre no nosso país; mas em vez de correr em três campeonatos nacionais devia, na minha opinião, correr ou no europeu ou no mundial, e se pudesse ir testando e até fazer uma ou outra prova de R5 ou carro do género. Em 2016 deveria então mudar de classe para um muito mais competitivo R5, de forma a sustentar todo o seu desenvolvimento e mostrar todas as suas qualidades.
O segundo jogo dos quartos-de-final do Mundial era um dos mais aguardados de toda a competição. De um lado estavam os anfitriões, desejosos de fazer esquecer uma prestação pobre diante do Chile e com o sonho de celebrar o hexacampeonato em casa sempre em mente. Do outro lado, a Colômbia, uma das selecções- sensação deste Mundial, liderada pelo inconfundível James Rodriguéz – melhor marcador da prova (5 golos) e indiscutivelmente uma das figuras do Mundial até então. O embate sul-americano prometia e bastaram 6 minutos para a primeira explosão de alegria no Arena Castelão em Fortaleza. Neymar bate o canto e Thiago Silva aparece sozinho ao segundo poste para inaugurar o marcador, num lance em que a defesa Colombiana fica muito mal na fotografia. Zapata e Yepes falham a intercepção e Sanchéz parece esquecer-se do central brasileiro, que só precisou de encostar.
Havia ainda muito jogo pela frente e a Colômbia mostrou-se empenhada em dar a volta. Cuadrado, aos 10 minutos, deixou o aviso à nação brasileira que ainda festejava o golo madrugador, com um remate potente a sair muito perto da baliza de Júlio César. No entanto, a selecção brasileira queria mais, e continuou a carregar no acelerador. Fora algumas saídas velozes em contra-ataque e uma ou outra jogada de insistência colombiana, a primeira parte foi do total domínio canarinho, com Hulk e Neymar a serem os responsáveis pelas maiores ocasiões de perigo. A Colômbia aguentava como podia aquele que era sem qualquer dúvida o melhor Brasil da prova até ao momento – forte, organizado, entrosado e perigosíssimo. Num jogo aberto, aguerrido e intensamente disputado (25 faltas só na primeira parte), as oportunidades seguiram-se a um ritmo alucinante, mas o 1 – 0 manteve-se até ao intervalo.
No segundo tempo, mais do mesmo. Brasil por cima e jogo muito emotivo, com o árbitro espanhol Velasco Carballo a ter de interromper a partida por inúmeras vezes tal era a agressividade de parte a parte. Aos 65 minutos marca a Colômbia depois de grande confusão na área… mas o lance é anulado por fora-de-jogo. E como dita a gíria futebolística, quem não marca, sofre. Desta vez, a proeza coube ao outro central canarinho, David Luiz, que aos 69 minutos faz um verdadeiro golaço de livre directo após uma falta cometida por James sobre Hulk. 2 a 0, num “tiro do meio da rua” que é um verdadeiro hino ao futebol.
Esta tem selo. David Luiz, num golo para ver e rever. Fonte: FIFA
Inconformada, a selecção colombiana continuou incessantemente à procura do golo que faltava para a relançar na partida, e aos 78 minutos a sua insistência foi finalmente recompensada. Júlio César comete penálti sobre Bacca e na conversão James não perdoa e faz o 1-2, naquele que foi o sexto tento do avançado na presente edição do Mundial. Com 10 minutos de tempo regulamentar por jogar, a Colômbia foi para cima do Brasil com tudo o que tinha, mas a redondinha teimou em não entrar por uma segunda vez.
O Brasil está nas meias-finais do Mundial depois de um jogo durinho em que se fez valer da veia goleadora dos seus defesas-centrais. A agressividade acabou por ser o antídoto ideal para o jogo fluído dos colombianos, que saem do Mundial de cabeça erguida. Quanto ao Brasil, o sonho de festejar o hexa em casa pode estar cada vez mais perto, mas adivinham-se muitas dificuldades para a equipa de Scolari – Neymar saiu de maca nos minutos finais do encontro depois de uma dura entrada de Zuniga e tudo indica que irá falhar os restantes jogos do Mundial. Segue-se a poderosa Alemanha nas meias-finais veremos até onde vai o escrete sem a sua maior estrela. A Figura
David Luiz – Exibição quase irrepreensível do central brasileiro, carimbada com um golo de antologia. Melhor era difícil. O Fora-de-Jogo Agressividade em excesso – Se do lado do Brasil pareceu estratégia, a Colômbia soube responder à letra. Foram 54 (!) as faltas assinaladas pelo árbitro da partida na totalidade do encontro, que mostrou apenas 4 amarelos, dois para cada lado. É certo que há jogos assim, mas houve muitos cartões que ficaram por mostrar.
Se há coisa que nos tem chegado a nós, europeus, durante este Mundial, é um futebol diferente. Mais destemido, dizem os defensores do meio copo cheio. Mais desorganizado, dirão os que preferem ver que o meio copo também está metade vazio. O resultado tem sido quase sempre futebol mais apelativo, imprevisível e com os conjuntos a equilibrarem-se entre si. Estamos todos felizes, ou quase todos… Todos menos os treinadores. Por isso, Low e Deschamps preparam-nos duas equipas pragmáticas, equilibradas e competitivas para o primeiro embate destes quartos de final. Cá está o nosso bem conhecido futebol europeu!
O jogo iniciou-se inclusive com algumas semelhanças na estrutura das equipas: 4x3x3 clássico de parte a parte, procura pela saída de jogo a partir de trás, trio forte no meio e muita dinâmica na linha mais adiantada. A diferença acabou por recair na estratégia sem bola visto que a Alemanha optou por uma entrada mais agressiva a evitar que os franceses conseguissem iniciar o jogo sem dificuldades. Por outro lado, a equipa de Benzema e companhia mostrou-se muito passiva e demasiado preocupada com as coberturas defensivas sempre que a posse estava do lado alemão e isso acabou por levar quase a um esquecimento da bola que deveria ser sempre uma referência a nível defensivo. O golo acabou por chegar no minuto 13 através de uma bola parada irrepreensivelmente executada por Kroos à qual Hummels respondeu muito bem batendo Varane nas alturas.
Hummels superiorizou-se a Varane e fez o primeiro e único golo da partida Fonte: FIFA
O jogo não mudou muito com o golo e manteve-se bastante equilibrado. A Alemanha e sobretudo Low souberam aprender com as dificuldades vividas com a Algéria e melhoraram nalguns aspectos em que tinham apresentado carências. A profundidade dos laterais foi melhorada com a passagem de Lahm para o corredor direito (saindo Mertesacker da equipa e passando Boateng para o meio) e o meio-campo também saiu reforçado com a entrada de Khedira que proporcionou a Kroos maior liberdade ofensiva que o craque alemão aproveitou da melhor forma. Já Didier Deschamps só conseguiu corrigir a apatia no momento sem bola da sua equipa ao intervalo, de onde os gauleses regressaram com uma outra atitude que proporcionou à Alemanha mais dificuldades. Matuidi soltou-se no meio e esse foi um pormenor importante no desenrolar do jogo. Valbuena, Griezmann e Benzema foram incomodando os defesas alemães mas, contra a corrente do jogo, até acabou por ser Schurlle (que entrou para o lugar de Klose) a ter a melhor oportunidade da segunda parte, mas desperdiçou-a com um remate frouxo. Do outro lado, ora Hummels – o melhor em campo, ora Neuer a negar o golo que forçaria o prolongamento.
No geral, uma vitória justa mas que também poderia ter sido perfeitamente um empate, face à reacção francesa no segundo tempo. A França sai da prova sem se poder queixar muito da sua prestação que acabou frente a uma das mais fortes candidatas ao título e a Alemanha segue para as meias mas sem deslumbrar. Brasil ou Colômbia estarão no seu caminho e, seja qual for, será um adversário bastante distinto do que foi a França.
A Figura
Hummels – Autor do golo alemão mas nem precisaria disso para ser apontado como o melhor em campo: autoritário desde o início ao fim, foi um autêntico pesadelo para Benzema nas várias vezes em que o francês parecia já ter conseguido desequilibrar. Até ao momento, candidato a melhor central do Mundial.
O Fora-de-Jogo
Pouco espectáculo – Não é justo exigir aos treinadores que sejam autores de um jogo desorganizado que favoreça os ataques em detrimento das defesas e, ainda mais, que satisfaça adeptos e não os próprios interesses. Mas não faltam na Europa exemplos de que é possível conjugar bom futebol com eficácia e, hoje, o encontro foi marcado por duas equipas com pragmatismo a mais… pelo menos para o que tem sido esta competição fantástica.
Escrevo com o coração, com a razão, com a incerteza. Mas, acima de tudo, com a revolta de ter de o fazer. E são muitas as perguntas. Porquê, Luis? Porquê tu e agora? Porquê pela terceira vez na carreira, em pleno Campeonato do Mundo, depois de uma época fantástica e a caminho de uma outra que tudo tinha para o ser novamente? E agora, o que se segue?
Visto que o espaço onde este texto possa vir a ser publicado é, em parte, destinado à opinião, seguirei esses contornos. E começo: do meu ponto de vista – assíduo seguidor do Liverpool Football Club e admirador confesso de Luis Suárez – é simples. Ficaria banido para sempre de praticar desporto profissional. Tal como teria ficado Pepe após o tão triste incidente frente ao Barcelona e muitos outros.
Se o Mundial de Futebol é já o assunto mais falado de sempre no Facebook – para que se perceba ainda melhor a dimensão da competição, o encontro dos USA frente a Portugal foi visto por mais norte-americanos do que, por vezes, determinados jogos da final da NBA –, o incidente que envolveu o uruguaio frente à Itália, mais particularmente com Giorgio Chiellini, não fica atrás.
Luís Suárez ganha, entenda-se, 200.000£ por semana. Duzentas mil libras por semana. Feitas as contas, são 10.400.000£ por ano, ou seja, ‘encaixa’ cerca de treze milhões de euros anuais. Com treze milhões de euros anuais (fora contratos publicitários) e todo o mediatismo de que é alvo, não pode, em momento algum, tentar morder um adversário. Mas fê-lo. Pela terceira vez na sua carreira e, agora, como jogador que mais golos marcou em todo o mundo numa temporada e… perante os olhos de todo o globo terreste.
Jogar futebol profissional exige a um atleta um determinado comportamento em campo. Jogar futebol profissional na liga mais mediática do mundo e numa selecção que participa no Campeonato Mundial de Futebol exige um comportamento ainda mais exemplar. Durante aqueles 90 minutos, nações juntam-se com os olhos postos em vinte e duas dessas pessoas. E durante os 90 minutos essas mesmas nações seguem, muitas vezes, o seu exemplo. Talvez não o devessem fazer, mas seguem. E Luís Suárez passou, pela terceira vez na sua carreira, a mensagem de que, quando os pés não são suficientes para se levar a melhor numa jogada, a boca (e os dentes) são apropriados para mostrar toda a insatisfação.
O valor está lá. É tão claro quanto a água e de discutível nada tem. Mas apenas o futebolístico. Quanto ao monetário, desceu de forma dramática após o incidente; o uruguaio perdeu mesmo o patrocínio da 888 Poker e a Adidas retirou todas as campanhas que tem com a imagem de Suárez. A mordidela não parece, no entanto, tirar o sono ao Barcelona, que se mostra interessado em adicionar o seu passe à mesma gaveta onde estão os de Messi e Neymar. E agora, o que se segue?
O ‘Maracanazo’ esteve a uma trave de ter um remake agora em Belo Horizonte. Enquanto o Brasil encravava e soluçava perante a estratégia arquitectada na careca de Sampaoli, a fortuna fez as vezes de Neymar e foi resolvendo os problemas ao ‘escrete’ – com um autogolo, esbarrando a bomba de Pinilla no último suspiro do prolongamento e salvando os corações brasileiros no penalty de Mena. A ‘Canarinha’ continua a mostrar mais qualidade individual do que colectiva e muitos mais passos de samba desarranjado do que futebol de candidato. Com outra clarividência (e Arturo Vidal) mas sempre nas asas de Alexis, o Chile poderia ter sido tão feliz quanto o seu futebol, pensado pelo discípulo de Bielsa, é rápido e louco – e fez por merecê-lo. A Nossa Senhora do Caravaggio escreveu mais uma página na íntima relação que mantém com Scolari mas, com este Brasil, a estrelinha dificilmente estará sempre do seu lado – e aí, ou surge futebol ou a sexta estrela no uniforme mais titulado do Mundo não passará de uma miragem em 2014.
Colômbia 2-0 Uruguai
Só pode ter sido capricho! Haveria o palco brasileiro de cruzar as duas formas mais bonitas de futebol da América do Sul dos últimos anos. E de servir de testemunho. Aquele ‘Uru’ que surpreendeu em 2010 e que apaixonou em 2011, na Copa América, vencendo-a, levado pela mão do gentleman Tabaréz e exponenciado pela magia de Forlán, pela feroz capacidade goleadora de Suarez, pelo improviso de Cavani e por uns quantos ‘pitbull’ atrás deste trio, caiu, rendido à nova coqueluche cafetera. Esta Colômbia é o projecto de futebol mais apaixonante da Copa e tem em James a estrela suprema, anjo com pés de veludo, impondo a si mesmo a herança de Falcão e o papel de guia de sonhos de uma nação inteira. No banco, o avô Mondragón beija Pekerman a cada momento de maior magia, a cada etapa de um percurso que tem laivos de um romance improvável – a Colômbia pode mesmo sonhar ser campeã do Mundo, mas já se habilitou a ser a campeã do mais importante título: a da nossa memória. Enquanto isso, foi um poema de golo e alegria, foi James em mais um dia.
Cavani e Forlán foram impotentes perante a força colombiana Fonte: Getty images
Holanda 2-1 México
A coerência poderá ser uma questão de contexto. Van Gaal passou toda uma carreira a pregar uma ideia de futebol, ensinando e enriquecendo os seus aprendizes, e agora, chegado ao maior palco, alterou tudo aquilo em que acreditava. A página inicial do bloco de notas que religiosamente o acompanha estará, por certo, a esta hora, ainda confusa por perceber que de si consta uma Laranja que dá hoje ao jogo um sumo com paladar bem diferente – (provavelmente) por não ter Strootman para a ‘Copa’, Louis, com grande astúcia, montou uma equipa em 5-3-2 que vive para dar bola aos dois motores da frente, Robben e Van Persie. Diante do México, porém, Van Gaal foi ao baú buscar as raízes do seu 4-3-3 e foi isso que lhe permitiu seguir em frente. Porque, mais do que coerência, é bom ter memória. Do outro lado, o verdadeiramente espectacular Miguel Herrera vai deixar saudades – liderado pelo seu guia espiritual, Rafa Marquez, este México deixou litros e litros de perfume de qualidade de jogo, mas, no momento decisivo, nem as dúzias de mãos que Ochoa tem lhe valeu. Porque a Herrera ainda falta, pelo menos, uma coisa: saber ser Van Gaal.
Costa Rica 1-1 Grécia
(5-3 após grandes penalidades)
A ironia do futebol nascerá sempre dos resultados. No encontro entre as duas maiores surpresas presentes nos Oitavos, nunca tal premissa esteve tão marcadamente presente. O Mundial até pode ser dos guarda-redes, mas há um nome que figurará a letras grandes e gordas: Keylor Navas. Mesmo que esta Costa Rica – e, sobretudo, Bryan Ruiz e Joel Campbell – nos faça sorrir, é o seu super keeper que nos deixa com um brilho nos olhos. A destreza, agilidade e qualidade de posicionamento faz todas as suas defesas parecerem irrisoriamente fáceis. Mesmo que argumentemos, interiormente, que não pode ser assim tão difícil – afinal, do outro lado está só a Grécia. Continuamos a olhar para estes gregos com o desdém que talvez eles mereçam e o desfecho do jogo, per si, amenizou os espíritos de quem se sentiu minimamente vingado – por uma vez, e na frieza da ironia, a Grécia perdeu da mesma forma como sempre ganhou.
Keylor Navas. Uma das figuras do Mundial’2014 Fonte: fansided.com
França 2-0 Nigéria
Desconheço as odds que apontavam para a vitória da França na Copa quando a selecção montada por Deschamps desembarcou no Brasil. Ao contrário de outros tempos, faltava a figura de proa (Ribery) e o malabarista (Nasri). Mas, na ignorância, haveríamos de encontrar nos ‘Bleus’ doses desmesuradas de fiabilidade na defesa, de intensidade no meio-campo e de versatilidade no último terço – e, com e por isso, uma das mais poderosas equipas. Diante da Nigéria, tiveram ainda a inteligência de especular com o jogo e de alimentar o que sempre atraiçoa as equipas africanas: as expectativas. Enyama foi o maior paradigma dos conjuntos que chegam da África (subsariana, sobretudo): brilham, encantam, conquistam-nos com a ingenuidade e velocidade do seu jogo e, quando já estamos enleados pelo seu futebol, atraiçoam-nos, desatando, qual jogador de ténis sub-100 em Roland Garros, a cometer erros não forçados. E, por isso, invariavelmente, perdem.
Alemanha 2-1 Argélia
(após prolongamento)
Por mais farta e aprazível que seja uma refeição, nunca é sensato dispensar uma sobremesa, ainda para mais quando ela tem todo o aspecto de prometer um conteúdo muito mais extraordinário do que a forma. O Alemanha-Argélia foi isto mesmo: o 0-0 no final dos 90 minutos não reflectia o jogo tão bem jogado e disputado quanto emocionante que foi e, por isso, o prolongamento era um guloso desejo de quem desejava um golo que fosse para ficar saciado por completo. A sobremesa era, no entanto, muito melhor do que aquilo que fora apresentado: Mbolhi voltou a ser humano e sofreu dois golos; a Argélia, no último assomo da crença com que o seu jogo sempre foi pautado ao longo do Mundial, marcou e transformou cãibras em esperança durante 30 segundos. Por certo que nem Low esperava sofrer tanto, nem Halilhodzic almejava fazer do conjunto argelino uma equipa no sentido mais puro e verdadeiro da palavra. Sem IVA e com poesia, o amante guloso agradece(u).
Diante da Alemanha, Mbolhi defendeu (quase) tudo Fonte: noticias.bol.uol.com.br
Argentina 1-0 Suíça
(após prolongamento)
Falar desta Argentina é debruçarmo-nos sobre a melhor matéria-prima nas mãos do pior artista. A albiceleste continua a ser uma equipa-montanha cujo ponto mais alto é o meio-campo, onde tudo se divide e separa: de um lado da colina os que só defendem; do outro lado, os que só atacam, vendo em Messi uma outra forma de ser Maradona. E em Dí Maria, Sísifo. No desenlace da gloriosa carreira de Hitzfeld, a esperança suíça vivia na ponta da chuteira de Shakiri e no espírito guerreiro de Rodriguez (talvez o melhor defesa esquerdo da Copa), atraiçoada, sobretudo, quando, embriagada pelos ‘olés’ que conseguiu despertar no público, se esqueceu da baliza de Romero. A Suíça teve oportunidade de ser feliz – não o foi, primeiro por incompetência, depois porque Scolari deixou que Sabella adoptasse Caravaggio por uma fracção de segundo. Como uma verdadeira pintura, o grande plano televisivo de Lavezzi a benzer-se resume tudo: era preciso Deus. E esse continua a jogar com o ‘10’ da Argentina, ao lado do feliz, por uma vez, Sísifo – e só estes dois alimentam o direito de esta ‘equipa’ se achar candidata.
Bélgica 2-1 EUA
(após prolongamento)
Honrando os seus maiores antepassados, os belgas entraram no jogo como uns verdadeiros Diabos Vermelhos. E foram batendo… Origi, Hazard, Mertens, De Bruyne, até Vertonghen, todos eles, fazendo muitos, pareciam sempre poucos para o que se estava a construir. Para os EUA, a baliza-alvo estava ainda muito longe: bem por detrás dos três metros de estilo capilar de Witsel ou Fellaini. Enquanto a Bélgica ia batendo, os novos heróis de Obama, pelo cérebro Bradley e pelas locomotivas Beasley e Yetlin, começavam a desbravar caminho (e cabelo) e a ver Cortouis, ainda que lá longe. A certa altura, com tanto ataque e contra-ataque, afigurou-se-nos como sendo um jogo da Copa de Futsal. E a Bélgica ia batendo e ia batendo e ia batendo. E Howard estava sempre lá! Desafiando o recorde de defesas num único jogo e, mais do que isso, a impossibilidade da omnipresença; só um monstro para o derrubar. Lukaku aceitou o repto e tratou de humanizar o colega do Everton e keeper americano. De repente, voltaram a saborear o sucesso dos anos 80 e a euforia descontraída tomou conta de cada uma das chuteiras dos comandados de Wilmots – a inesgotável alma dos EUA, porém, ainda acreditava e revigorou-se com o pequeno Green. Foi ele quem materializou o enorme espírito norte-americano em golo, dando (mais) justiça e justeza ao resultado. O resultado de um show – na verdade, de um (s)Howard.