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Cinco Notas Soltas

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Pronúncia do Norte

1. A vitória sobre o Sporting de Braga. O FC Porto entrou nervoso e periclitante, esbarrando numa defesa subida e organizada, e foi novamente incapaz de ter um fio de jogo ao longo de todo o primeiro tempo. Na segunda parte, tudo mudou. A entrada de Carlos Eduardo ao intervalo e o consequente reposicionamento dos elementos do meio-campo ditaram uma melhoria substancial da produção ofensiva. Quando Paulo Fonseca se decidiu pelo óbvio – reinverter o triângulo e esquecer o duplo pivô -, a equipa soltou-se, cresceu e foi capaz de partir para um triunfo mais do que justo. Os últimos 45 minutos no Dragão parecem ter sido a resposta que o treinador anunciava há demasiadas jornadas. Terá sido o derradeiro “pontapé na crise”?

2. Carlos Eduardo e Kelvin. Os dois brasileiros, apostas frequentes na equipa B, nem sequer estão inscritos na Liga dos Campeões. No entanto, ambos podem aspirar a uma maior utilização na formação principal. Kelvin somou os primeiros minutos no campeonato e, dada a escassez de extremos de qualidade indiscutível no plantel, creio que pode (e deve) entrar mais frequentemente. Carlos Eduardo teve, pela primeira vez, a oportunidade de jogar uma parte inteira. A dinâmica que imprimiu à equipa e os pormenores técnicos que apresentou fizeram-no ganhar pontos importantes na luta por um lugar no meio-campo. Parece pronto para mais.

Carlos Eduardo foi uma das grandes figuras da última partida, frente ao Braga. / Fonte: Record
Carlos Eduardo foi uma das grandes figuras da última partida, frente ao Braga. / Fonte: Record

3. Importante e difícil confronto com o Atlético. O próximo desafio dos azuis e brancos é no Vicente Calderón. Embora não dependa somente de si para passar à fase seguinte, o FC Porto ainda pode chegar aos oitavos-de-final. Tem, nesta última jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, a obrigação de se superar e de demonstrar cabalmente uma ruptura com o passado recente. Apesar de ter pela frente uma das melhores equipas da Europa, exige-se que vá a Madrid discutir os três pontos. Não é possível ganhar sem apresentar o nível da segunda parte da última partida e não é possível manter a estabilidade com mais uma derrota. Logo, é crucial, do ponto de vista anímico, fazer uma boa exibição e chegar a um bom resultado. Este jogo é a prova dos nove.

4. Regresso de Quaresma. Parece que o retorno do Mustang está praticamente consumado. Apesar da falta de ritmo competitivo (já não joga há mais de meio ano), das dúvidas em torno da sua condição física (foi operado nos últimos meses), das incertezas em relação à sua postura (se a sua carreira não foi mais brilhante foi porque a sua cabeça não o permitiu) e de eventuais dificuldades de entrosamento (não fazer a pré-época e entrar na equipa a meio do ano faz diferença), é inquestionável que Quaresma tem um talento fantástico. Embora esteja um pouco céptico em relação a esta transferência, espero que consiga fazer a diferença. Seria excelente para o FC Porto (e até para a selecção nacional) se Quaresma conseguisse reencontrar-se consigo próprio nestes próximos meses.

5. Renovação com Fernando. Está longe de ser oficial, mas já se gerou algum burburinho – na imprensa e nas redes sociais – em redor da renovação do contrato do “Polvo”. Parece que é provável que fique. Não me canso de o dizer: seria a melhor contratação que o FC Porto poderia fazer. Garantir a permanência de um médio com a qualidade de Fernando é fantástico, mas assegurar que há um jogador com o perfil indicado para envergar a braçadeira de capitão quando Lucho e Helton abandonarem o clube é ainda mais valioso.

Luis Suárez, El Pistolero

O meu artigo de hoje vai ser inteiramente dedicado a Luis Suárez, que nas últimas 10 jornadas da Premier League fez nada mais, nada menos do que 14 golos. O uruguaio é, sem dúvida alguma, a grande referência do Liverpool, e merece ser realçado que El Pistolero esteve suspenso durante as cinco primeiras jornadas da Premier League.

Luis Suárez vs West Brom / Fonte: Mirror.co.uk
Luis Suárez vs West Brom / Fonte: Mirror.co.uk

Suárez entrou na equipa na 3ª ronda da Taça da Liga Inglesa, que o Liverpool perdeu por 1–0 contra o Manchester United. Contudo, na jornada seis da Premier League, o uruguaio bisou logo contra o Sunderland, assegurando a vitória dos Reds. Desde então, Suárez assinou mais um bis, um hat-trick e um poker, marcando ainda vários golos que costumam embalar a equipa para a vitória.

Contra o West Brom, o ponta-de-lança rubricou uma exibição de luxo, marcando aos 12’ e aos 17’ minutos e finalizando a conta pessoal aos 55’ minutos, o que significa que nem de uma hora precisou para assegurar o hat-trick.

Já na passada semana, foi a vez do Norwich City sofrer na pele o que é jogar contra um Luis Suárez em grande forma – marcou quatro dos cinco golos da equipa de Merseyside, e que golos! É o 3º hat-trick que o avançado do Liverpool marca contra o Norwich City, a sua “presa” favorita.

Para se ter uma noção da importância do avançado, nos quatro jogos do Liverpool em que Suárez jogou e não marcou, os Reds perderam três e empataram o outro, deixando bem patente que o Liverpool não vive só do uruguaio, mas quase.

Porém, é de realçar que El Pistolero não resolve sozinho e a servi-lo tem dois grandes senhores, Steven Gerrard e Philippe Coutinho. O primeiro é um histórico do clube, que, com um pé direito de grande potência e precisão, é a grande figura do meio-campo do Liverpool. Já o segundo chegou em Janeiro deste ano e depressa se destacou como o grande criativo da equipa (diria mesmo maestro). Não só mexeu totalmente na estrutura, como rubricou de imediato grandes exibições.

Até ao regresso do uruguaio, o Liverpool viveu de Sturridge e Iago Aspas, com o primeiro destes a merecer destaque pelos golos importantes que foi marcando – contabiliza já, ao todo, nove golos.

Tabela Classificativa à 15ª jornada / Fonte: Premier League
Tabela Classificativa à 15ª jornada / Fonte: Premier League

O Liverpool não é um “oficial” candidato ao título, porém o 2º lugar augura uma boa campanha dos Reds, que têm ainda uma palavra a dizer esta temporada. Atualmente a 5 pontos da dianteira, será que este Liverpool tem o que é preciso para se manter na luta até ao fim?

Desafios adultos de um jovem atleta – Entrevista a Francisco Ferreira “Ferro”

entrevistas bola na rede

Francisco Ferreira é, a par de Florentino, duas das caras novas do plantel principal dos encarnados e conta com dois golos em outras tantas presenças na Primeira Liga. O jovem que fez grande parte da formação no Seixal sempre mostrou o desejo e ambição de representar o SL Benfica e recuperamos hoje uma entrevista antiga de Ferro ao Bola na Rede.

Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

Francisco Reis Ferreira, defesa central que veste a camisola do SL Benfica há três épocas, conta com três internacionalizações ao serviço da equipa das Quinas.

Recentemente, tem sido destacado pelas suas prestações, a mais relevante fruto dos dois golos que marcou no derby de Juvenis A e pela notícia do contrato profissional assinado no passado dia 6.

Com seis anos de ligação ao SL Benfica, tomou o gosto pelo futebol na União Desportiva Oliveirense, clube onde jogava quando recebeu o primeiro convite, em 2009, para vestir a camisola de águia ao peito.

Vamos conhecer dimensões da vida deste jogador que extravasam os relvados. O desafio de viver longe da família, a sua forma de estar e de ser, e as suas expectativas para o futuro.

Imagem retirada do Facebook de Francisco Reis Ferreira
Facebook oficial de Francisco Reis Ferreira

BnR: Como foi o início da tua história no S.L Benfica?

Francisco Ferro [FF]: Quando tinha 12 anos, recebi o primeiro convite para integrar a equipa do SL Benfica e residir no centro de estágio. Porém, estive lá apenas dezoito dias… Não me adaptei porque nunca tinha estado tanto tempo longe dos meus pais. Não estava habituado a ter tanta autonomia e, com esta separação, não me senti preparado para dar este passo. Integrei a equipa da Associação Desportiva de Taboeira mas o Benfica continuou a acompanhar o meu percurso.

Grande desilusão na Grande Maçã

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cab nba

Foi noticiado recentemente que Derrick Rose ficaria lesionado durante o resto da época, acontecimento que retirou o foco de um caso muito mais sério na NBA. O péssimo rendimento das duas equipas do estado de Nova Iorque, Brooklyn Nets e New York Knicks, está a causar um grande espanto na liga.

O incrível investimento feito pela equipa de Jay-Z durante o Verão está a surpreender de uma forma muito negativa, estando muito aquém das expectativas. Os Nets fizeram diversas trocas de perfil elevado ao trazerem os veteranos Paul Pierce e Kevin Garnett. Verdade seja dita, estes atletas não têm trazido nada de novo ao plantel. Paul Pierce não se tem sentido em casa como acontecia em Boston e Garnett não está com a presença extremamente intensa e intimidadora a que nos habituou. Incrivelmente, Pierce e Garnett marcam em conjunto uma média de 18 pontos por jogo, número que por si só é ridículo, uma vez que falamos de duas estrelas que marcam o desporto. Com o aparecimento de novos jogadores importantes e com o afastamento de atletas com menos qualidade, teoricamente, a qualidade dos Nets devia ser muito superior à apresentada, que tem sido, sem a mínima dúvida, desastrosa. Apesar de contar com um cinco inicial repleto de jogadores que podem ser considerados All-Stars, a equipa envergonha a cidade. Continuarei a falar deste desastre.

A segunda equipa, que tem provado ser uma tremenda desilusão esta época, é aquela que joga regularmente numa das arenas mais míticas da Grande Maçã. Situada dentro de Manhattan, Madison Square Garden já presenciou centenas de concertos, é a residência de Billy Joel e serve semanalmente de casa para duas equipas: os New York Rangers, equipa da NHL, e os New York Knicks. Os últimos têm sido um assunto de destaque devido à fraca qualidade de jogo demonstrada aos fãs.

Duas equipas que foram aos playoffs, fazendo parte das quatro melhores de uma conferência, estão actualmente no ponto oposto. Aliás, encontram-se numa situação muito mais delicada, pois estão classificadas entre as cinco piores equipas da liga de acordo com o seu historial de vitórias e derrotas.

A equipa de Brooklyn investiu bastante esta época, trazendo diversos jogadores e até mudando de treinador, acção que também está a ser um autêntico fiasco. É incrível como um ex-jogador com uma carreira que fala por si, está a manchar todos os seus feitos enquanto atleta, fazendo escolhas horríveis e treinando uma equipa que mais parece um conjunto de crianças a aprender a jogar basquetebol. Esta instituição e a própria carreira de Jason Kidd carecem de um estilo de jogo muito mais bonito, e neste preciso momento, muito mais eficaz. Em vinte jogos, a equipa de Brooklyn ainda só conseguiu celebrar a vitória por seis vezes. No entanto, uma das acções que mais furor causou na liga pertence a Kidd – o treinador dos Nets fez uma magia autêntica ao conseguir fazer parar o tempo. Passo a explicar o que aconteceu. Kidd entornou um copo de água “acidentalmente”, o que levou a um desconto forçado pelos árbitros para poderem secar o chão. Enquanto isso acontecia, a equipa técnica explicava o que os jogadores deviam fazer. O grande problema disto tudo, para além de uma multa de cinquenta mil dólares, é que os Nets não ganharam o jogo, para variar…

Ambos os jogadores têm estado muito aquém das expectativas. http://nextimpulsesports.com
Ambos os jogadores têm estado muito aquém das expectativas.
Fonte: nextimpulsesports.com

Por parte dos Knicks, não se percebe a ausência de resultados positivos. Apresentou apenas duas adições de peso, Andrea Bargnani, que na época passada teve boas exibições, e o mediático Metta World Peace, anteriormente conhecido por Ron Artest. As peças basilares da equipa continuam. Carmelo Anthony, Tyson Chandler, Raymond Felton, J. R. Smith fazem parte do plantel e apenas um está lesionado. Amar’e Stoudemire está a tentar voltar à forma que apaixonou os fãs nos seus tempos de glória, nos Phoenix Suns, e, mesmo assim, com estes jogadores disponíveis, são inexplicáveis os péssimos resultados de ambas as equipas. Há muita especulação à volta desta catástrofe. Pode ser causada por um confronto enorme de egos no balneário e pela incapacidade de os gerir por parte do treinador. Existe um enorme receio por parte dos fãs e da equipa. Receio da decisão de Carmelo Anthony, que acaba o contrato este ano, e de uma possível ida para os Lakers no final do Verão que se avizinha. Se juntarmos esses factores aos temperamentos de Metta World Peace e de J. R. Smith, dois jogadores muito inconstantes, poderemos ter explicações para as performances tão más.

É indubitável que a liga carece de uns Knicks e uns Nets que metam medo a qualquer um. Nova Iorque sente falta de equipas e de um ambiente fervoroso, além de qualidade de basquetebol soberbo. Infelizmente para a cidade e para os fãs, não se tem visto nada disso.

Jogadores que Admiro #6 – Dennis Bergkamp

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A primeira vez que vi Dennis Bergkamp jogar foi numa antiga cassete do meu pai. Era muito novo na altura; antes mesmo de ter computador ou acesso à internet, tinha já dentro de mim o dito “bichinho do futebol”. A cassete era uma daquelas antigas, uma compilação dos melhores momentos, golos e jogadas dos Mundiais e Euros até então (e que saudades desses vídeos, ao invés dos clips de baixa qualidade e músicas de fundo manhosas de hoje em dia). Não me lembro contra quem foi – não consegui encontrar o vídeo no Youtube – mas acredito que tenha sido marcado na altura do Euro de 1992 – Van Basten, Gullit e um “jovem avançado”, jogavam todos na mesma equipa. Desde esse momento que posso afirmar que Dennis Bergkamp foi, provavelmente, o jogador que mais gostei de ver jogar até aos dias de hoje.

Dennis Bergkamp – lenda e símbolo do Arsenal / Fonte: www.telegraph.co.uk
Dennis Bergkamp – lenda e símbolo do Arsenal
Fonte: The Telegraph

Agora é a parte em que argumento o porquê da minha escolha. Não o vou fazer. Qual é o propósito de começar para aqui a apresentar palmarés, estatísticas e a história de Bergkamp? Até porque Dennis Bergkamp nunca foi sinónimo de prémios individuais. Não dos grandes, pelo menos – foi duas vezes nomeado o 3.º melhor do mundo. Mas a magia no jogo de Bergkamp nunca foi a de marcar mais golos, ou a de ter mais nomeações para melhor do mundo, ao contrário de hoje, que parece que é a coisa mais importante no futebol moderno. Não. A magia no jogo de Bergkamp residia no pormenor. Na técnica, na classe, na elegância do toque de bola, na visão de jogo superior, na capacidade de execução certeira. Bergkamp era o mago do minimalismo, aquele que, com quase nada, tudo fazia. E é disso que se deve falar.

The Non-flying Dutchman” (alcunha carinhosamente atribuída pelos adeptos do Arsenal devido à sua fobia de voar em aviões) jogou em três posições ao longo da sua carreira. Jogou a médio-ala no seu início de carreira, no Ajax, no Inter de Milão e na Selecção, e jogou como ponta-de-lança nos seus primeiros anos no Arsenal. Mas foi enquanto segundo avançado que Bergkamp mostrou ao mundo do futebol toda a extensão das suas habilidades. Até hoje, não consigo encontrar ninguém que tenha jogado ao nível em que Bergkamp jogou na posição de segundo avançado. Um terror para qualquer defesa, Dennis Bergkamp era o motor ofensivo da equipa do Arsenal na década em que representou as suas cores. As suas combinações, com avançados como Wright, Anelka e Henry, levaram a uma das melhores épocas da história do clube na Premier League.

Marcar um jogador como este é praticamente impossível. Marcação apertada era mentira – Bergkamp era exímio no primeiro toque e bastava um ou dois movimentos para desembaraçar-se de um defesa e arranjar espaço para distribuir jogo. Marcação à zona era suicídio – dono de um remate colocadíssimo, dar espaço fora da área ao holandês era sinónimo de muitos golos sofridos. Dois homens a marcá-lo? Bergkamp era como um maestro que compreendia como ninguém a movimentação dos seus companheiros de equipa. Era capaz de isolar e desmarcar com um simples toque de primeira. Mas desengane-se o leitor se pensa que estas capacidades se deviam ao seu porte físico. Dennis Bergkamp era um jogador franzino, não era possante nem excessivamente rápido. Aquilo que destacava Bergkamp dos outros era, pura e simplesmente, uma capacidade técnica fora-de-série. Há jogadores que utilizam essa dádiva superior para fintar até ao fim dos seus dias, outros que usam e abusam de um dado movimento técnico só porque o sabem fazer melhor do que os outros. Mas Bergkamp era diferente – sabia usar a sua técnica e aplicava-a com uma classe incomparável. Era capaz de receber um balão que vinha do meio-campo, dominar a bola com um toque, tirar o defesa com outro e finalizar ao terceiro – como de resto fez, no mítico golo marcado à Argentina para o Mundial de 1998, que valeu a passagem às meias finais da competição.

Mundial 98 – Bergkamp elimina Argentina com um golo de antologia / Fonte: www.operationsports.com
Mundial 98 – Bergkamp elimina Argentina com um golo de antologia
Fonte: operationsports.com

Dennis Bergkamp foi um jogador como nenhum outro. Foi líder e general de campo em grande parte da sua carreira. Tratava a redondinha como ninguém na sua geração e produziu vários momentos dignos de serem vistos, uma e outra vez, por verdadeiros amantes do futebol. À semelhança de muitos outros, acredito em que o seu génio nunca tenha sido realmente reconhecido e o seu talento suficientemente valorizado. Era um jogador prático e objectivo, senhor do minimalismo, mas que espalhava classe com o mais pequeno toque na bola. Para quê fazer trinta por uma linha para fintar um único defesa, quando um simples domínio e passe curto à esquerda libertam o ala que pode assim finalizar? Quando discuto com amigos e conhecidos sobre quem figuraria num melhor onze de sempre, Bergkamp era titularíssimo na minha equipa. Não só jogava, e muito, como conseguia pôr toda uma equipa a jogar. Se alguma equipa se esquecesse da sua presença durante meros minutos, normalmente acabava a ir buscar a bola ao fundo das redes, sem saber bem o que tinha acontecido. Nesses momentos, lá aparecia o nome de Bergkamp no placard electrónico, o suspeito do costume. Só depois, à terceira repetição, é que lá se via o holandês, com um passe magistral, uma tabelinha mortífera, um chapéu sublime, um remate que passou meio despercebido mas que tinha as coordenadas correctas. Felizmente, existem provas das “maldades” do “Non-flying Dutchman”. Basta ver as gravações dos jogos.

Nunca vi ninguém aproveitar espaços tão pequenos como Bergkamp. Dá impressão de que a jogar dentro de um armário e às escuras saía de lá com a bola controlada. Foi o jogador que provavelmente marcou ou criou os melhores golos que já vi. Uma classe de senhor, dono de um toque de génio e de uma visão a roçar o sobrenatural. Não tenho qualquer dúvida de que Dennis Bergkamp é, para mim, um dos melhores de sempre. E posso estar aqui a noite inteira a falar da pura magia que aqueles pés produziam. Melhor mesmo é ver alguns destes momentos.

Gil Vicente 0-2 Sporting: A (des)ilusão a evitar

A palavra desilusão depende de uma outra como o fumo depende do fogo. E da mesma forma que do fumo não nos conseguiremos livrar se não evitarmos o fogo, a desilusão também só aparecerá depois do surgimento de uma… ilusão. Por essa, sim, seremos todos responsáveis. E digo todos porque os adeptos são cada vez mais preponderantes nas suas equipas, para o bem ou para o mal.

O Sporting arrancou hoje uma vitória importantíssima. No campo do 4º classificado (então ultrapassado pelo Estoril), os leões entraram com a possibilidade de chegar ao topo da tabela de forma isolada. Se era um cenário típico o acusar de pressão aquando das melhores oportunidades, hoje o que se viu foi uma equipa tranquila e consciente das suas reais capacidades. A vitória, no final, foi justíssima perante o que se passou em Barcelos. Talvez o resultado pudesse ter sido diferente, sendo que tanto o Gil como o Sporting poderiam ter marcado mais do que o fizeram.

O contexto em que se jogava era, também ele, revelador da importância desta partida. Com o empate do Benfica, mas principalmente a derrota do Braga, teoricamente o rival directo nos objectivos desta liga, o Sporting ganha uma vantagem considerável para as próximas 18 jornadas. São já 14 os pontos que separam os dois candidatos ao 3º lugar que dá acesso à Liga dos Campeões no próximo ano. E sim, foi a isso que a equipa orientada por Leonardo Jardim se candidatou. Nada mais, nada menos. Independentemente do sucedido, o planeamento de uma época decorre antes do início da mesma. Aí, são definidos objectivos e, depois, tomadas decisões que tornem esses objectivos possíveis. E o objectivo não era ser campeão, pelo que não será a meio da época que isso irá ser alterado. Muito embora haja uma pressão daqueles que mais têm a perder se o Sporting conseguir superar o esperado.

Sporting gastou um sexto de Benfica e Porto para construir o seu plantel / Fonte: Abola
Sporting gastou um sexto de Benfica e Porto para construir o seu plantel / Fonte: Abola

É aí que pode surgir uma ilusão em tudo desnecessária. Não me entendam mal: nada disto tem a ver com falta de ambição. A ambição é sempre a maior possível. Mas não podemos deixar que daí nasça uma responsabilidade pejorativa que, por sua vez, poderá trazer ansiedade e pressão adicionais à equipa, jovem, que se vai construindo de forma exemplar.

Hoje, André Martins foi o melhor em campo. Móvel, confiante e a assumir as despesas do jogo ofensivo do Sporting, foi sempre capaz de, umas vezes, fazer entrar a bola em espaços abertos e, noutras, de ser ele próprio a ocupar as zonas do terreno mais despovoadas. Jogou, como se pede, entre linhas mas nem por isso se escondeu da bola. Cobrido por um Adrien que confere cada vez mais segurança e intensidade ao meio-campo leonino, e acompanhado pelo elevado nível de William Carvalho, dispôs talvez de mais condições para fazer o jogo para que já tinha mostrado potencial. Depois, na frente, Fredy Montero foi o homem golo necessário para desbloquear o marcador. Continuo, contudo, com a opinião de que ele é bem mais do que isso e por essa razão não depende dos golos para realizar boas exibições: baixa no campo, cria superioridade numérica e segura muito bem a bola, dando tempo para a equipa subir e respirar em momentos de maiores dificuldades. Um avançado é muito isso, e Fredy é muito avançado.

Seguem-se, agora, dois jogos em casa e uma deslocação ao recinto da 4ª melhor equipa do campeonato, o Estoril. Para já, o exigido são os mesmos índices de concentração que até agora têm vindo a ser apresentados. Belenenses, primeiro, e Nacional, a seguir, são adversários que podem colocar dificuldades se o Sporting não estiver no seu melhor. Depois, a ida ao Estoril em jornada de Benfica-Porto. Sobre essa, teremos tempo para pensar. Até lá a ilusão é apenas uma: vencer os dois jogos da 13ª e 14ª jornadas.

Paz aos seus golos

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benficaabenfica

Nunca foi tão difícil começar um texto. Não por falta de ideias, mas por excesso delas. Entre os três em Tel-Aviv, quatro em Anfield, os cinco no Dragão, o murro do Kelvin com direito a joelhos e choro, agressões a jogadores e polícias e trocas de Aimar pelo Djaló, a oferta jesuíta é muita. Seria preciso não um texto, mas uma tese para mostrar todas as humilhações oferecidas por Jorge Jesus. Os mesmos erros ontem, hoje e amanhã. Dói vê-lo dizer que a prioridade é o campeonato e depois lançar um dispensado a jogo para poupar o André Almeida para a Champions. Só um visionário consegue ver em Cortez um jogador de futebol e em Gaitán um lateral-esquerdo. Errar uma vez, todos erram. Errar duas, desculpa-se. Errar três é burrice e quatro é demência. Até a demência o Jesus já conseguiu passar. Lamento, porque este narcisista podia ser bom treinador, mas a sua arrogância cega-o e cinge-o às suas ideias e preconceitos. E o resultado disto é o que já todos conhecemos.

Procura-se este clube
Procura-se este clube

Foi-se a exigência e com ela levou o Sport Lisboa e Benfica. Paz à alma deste clube, paz aos seus golos e eterno descanso para o suor das papoilas saltitantes. O clube já não tem alma, os golos já não entram e muito menos as papoilas saltam. Os adeptos soltam um sorrateiro “é uma vergonha” e reiteram assertivamente que “isto tem de mudar”, enquanto o Cortez anda por ali a fazer-nos corar de vergonha e implorar pelo Melgarejo. Bem vistas as coisas, o Cortez não é mais do que o espelho de quem nos lidera para o abismo: burro e não sabe mais. Este clube está a deixar-se arrastar numa morte lenta e agoniante. Outrora o mais democrático em Portugal, hoje está sujo por imberbes que nem saberão quem foi Cosme Damião. Imberbes que reprimem a voz contestatária (au-to-ri-ta-ris-mo) e ofendem os próprios sócios que os elegeram.
Há uns dias vimos os adeptos do Porto a contestar a equipa que tinha voltado a perder um jogo no campeonato, ao fim de quase dois anos. Agressividade excessiva? Talvez. Mas estavam lá, há exigência e cultura de vitória. Tudo corpos estranhos ao Benfica, que prefere emaranhar-se em escutas, arbitragens e má sorte. O benfiquista acomodou-se, fica contente por estar nas decisões sem as ganhar, porque antes nem lá estávamos. Afinal, o nosso estimado Presidente dizia há uns meses que estávamos “perto de ter a hegemonia do futebol português”. Todo o mérito a ele, já que o primeiro lugar no campeonato da vergonha ninguém nos tira. Só vão mesmo acordar quando o Sporting acabar à nossa frente.

A segunda parte das evidências

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eternamocidade

No futebol, como em muitas outras áreas da vida, a solução mais fácil está mesmo à frente dos nossos olhos, mesmo que não a consigamos ver. Este FC Porto de Paulo Fonseca é talvez um dos exemplos maiores desta teoria. Não é preciso ser um grande entendido em termos táticos para perceber que o Porto mudou o seu sistema de jogo, de um 4-3-3 para um 4-2-3-1. Bom, é certo que a mudança até parece não ser muito significativa, mas na verdade a dinâmica altera-se por completo.

Com o trio de meio campo apenas com Fernando como médio defensivo, e depois Moutinho e Lucho como dois médios interiores, o FC Porto sempre se pautou por uma equipa de tração à frente, de pressão forte, e de uma intensidade que ia correndo de acordo com as exigências do próprio jogo. Saiu Moutinho, o pêndulo do meio campo, mas o que é facto é que não foi só o atual jogador do Mónaco que abandonou o miolo portista: a dinâmica e a agressividade também. Colocando Herrera ou Defour junto a Fernando, o “polvo” perde autonomia; Lucho atua como número 10 que se encosta demasiado a Jackson e que deixa um autêntico buraco nas suas costas. Para uma equipa que saiba jogar em espaço curto e entrelinhas, não há melhor solução para desmontar este Porto. Apesar das falhas individuais que tiraram nas últimas jornadas pontos aos dragões, era no “coração” da equipa que residiam os maiores problemas.

Carlos Eduardo foi o impulsionador da equipa na segunda parte. / Fonte: controlinveste.pt
Carlos Eduardo foi o impulsionador da equipa na segunda parte. / Fonte: controlinveste.pt

Este sábado, frente ao Sp. Braga, não houve Fernando e Paulo Fonseca juntou Herrera e Defour no duplo pivô defensivo, deixando Lucho entregue à sua própria sorte nas costas de Jackson e dando o meio campo no primeiro tempo à equipa de Jesualdo. Com uma primeira parte desgarrada e triste (como em tantas outras ocasiões), a lesão de Lucho foi a “melhor” coisa que podia ter acontecido ao FC Porto e a Paulo Fonseca. Com Quintero no banco, talvez se pensasse que podia ser a opção para ser lançado logo no início do segundo tempo. No entanto, P. Fonseca deixou-se levar pelas evidências, colocando um verdadeiro “box-to-box” em campo, chamado Carlos Eduardo, e, principalmente, decidindo finalmente inverter o trio do meio campo, voltando à fórmula de anos anteriores, apenas com Defour como médio defensivo.

Herrera subiu no terreno na segunda parte, funcionando como um "box to box". / Fonte: zerozero.pt
Herrera subiu no terreno na segunda parte, funcionando como um “box to box”. / Fonte: zerozero.pt

Quem viu a segunda parte do FC Porto deverá ter duvidado como eu se era a equipa de Paulo Fonseca que estava a jogar no relvado do Dragão. Com arte, inteligência e momentos de verdadeiro bom futebol, os dois golos de Jackson foram só o resultado dos melhores 45 minutos até agora do tricampeão nacional. A solução estava no banco e sobretudo na fórmula mais fácil, que estava à vista de todos, menos de Fonseca.

Jornada de Sonho

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cab andebol

Depois dos últimos resultados do andebol português, é justo que se fale sobre a modalidade. O último fim-de-semana foi histórico para as equipas portuguesas nas provas europeias.
Na Champions, o Porto fez um grande jogo no Dragão Caixa, onde derrotou o Kolding por 27-24. É um resultado surpreendente, pois falamos de uma equipa que está em segundo no seu grupo e que tem aspirações à final four. O Porto entrou muito concentrado, muito preocupado com o seu trabalho defensivo, tentando anular os ataques dos dinamarqueses. Fruto desse trabalho, o Porto conseguiu chegar à frente no marcador e ir mesmo para intervalo a vencer por 15-11.

Pedro Spínola
Pedro Spínola foi um dos destaques do jogo. / Fonte: record.pt

Na segunda parte, graças a Pedro Spínola e a João Ferraz, o Porto chegou a estar a vencer por 20-13, mas uma forte reacção do Kolding fez com que o resultado ficasse em 21-18. Mas a noite era do Porto, que, graças a Hugo Laurentino, conseguiu aumentar a vantagem no marcador. No final, a segunda vitória do Porto na Champions é justa pela garra, organização e determinação que o Porto apresentou. Os campeões nacionais continuam a alimentar o sonho de se apurarem para a próxima ronda. Para tal, é preciso ganhar frente ao Kielce para conseguir o 4º lugar.

O Sporting também entrou para a história como a primeira equipa portuguesa a apurar-se para a Taça EHF. Depois do empate em casa dos croatas do RK Porec a 24 golos, o Sporting foi superior e venceu por 30-25. O resultado mostra a superioridade dos leões, que estiveram sempre no controlo do jogo. O destaque vai para Fábio Magalhães, com oito golos, e Pedro Portela, com sete golos.

A mesma sorte não teve o Benfica, que foi eliminado da mesma prova ao perder na Hungria, por 31-25, frente ao Pick Szeged, depois de ter perdido na Luz por 24-25. Mas no Dragão Caixa a sorte foi diferente. Num sempre intenso clássico, as duas equipas equilibraram-se, com um Benfica a aproveitar as constantes inferioridades numéricas do Porto para anular a vantagem azul e branca. Ainda assim, era o campeão nacional que ia para o intervalo a vencer por 12-10.

Cláudio Pedroso ajudou o Benfica a quebrar o enguiço. / Fonte: SL Benfica
Cláudio Pedroso ajudou o Benfica a quebrar o enguiço. / Fonte: SL Benfica

Na segunda parte, o Porto entrou adormecido, permitindo ao Benfica dar a volta ao resultado e controlá-lo. Os dragões ainda conseguiram o empate a 20 golos, mas o Benfica foi mais forte e conseguiu voltar a estar na frente do marcador. O Benfica venceu por 25-23 e alcançou uma vitória histórica. Há 23 anos que os encarnados não venciam em casa do Porto. O Benfica volta à liderança do campeonato.

Carta ao Pai Natal

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cab futsal

Ora, aposto que já tinham algumas saudades; parecendo que não, já lá vai um tempinho desde que escrevi a última vez para o Bolanarede. Sem grandes demoras, deixo-vos a minha carta para o Pai Natal.

Boas! Já há uns anos que não te escrevia, pelo que ouvi dizer engordaste uns quilinhos; lembro-me de ti magrinho, a correr a maratona de 76… Desleixaste-te, pá.
Eu não sei se tens acompanhado o futsal português – pela classificação actual dos leões de Porto Salvo, aposto que tens. Quantas cartas é que recebeste do plantel? Pois… Bem me parecia, só o Ré deve ter-te escrito umas três para se certificar de que mantinha o primeiro lugar no pódio de melhores marcadores. Por acaso era uma coisa engraçada de se saber, oh papi (importas-te que te chame papi? Acho que depois daquele filme com a mãe natal e com o Leonardo Jardim tenho o direito de te chamar o que quiser): a quantidade de cartas que recebeste dos jogadores e staff das equipas do campeonato. Quem é que se portou bem e quem é que se portou mal este ano? Quem é que merece o título no final do filme de 2013/2014?

Vá, larga lá as cartas, não vais estar a ler uma a uma à procura de quem é que tem mais razões para ser feliz, lê só esta e deixa as outras para o próximo ano, também não é por aí.
Então é o seguinte: se tu deixares o Benfica em primeiro agora pela altura do Natal, eu prometo que te deixo leite e bolachas no dia 24, prometo que sim, eu sei que é sempre a mesma desculpa e que quando chegas não há bolachas nem leite, mas o problema é teu. Eu esforço-me e não vejo nem carinho nem dedicação da tua parte; o Benfica até pode ficar em primeiro no Natal, mas depois na hora da verdade não deixas, o que é que nós te fizemos? Estás a ser má onda, espero que tenhas noção. Tu até te vestes de vermelho e branco, não sei qual é a tua, o nariz do Rudolfo é de que cor? Pois… Acho que está na altura de nos deixares ser felizes; está bem que tu tens o teu poderio todo agora no Natal, mas faz um esforço e guarda uns pózinhos mágicos para o final da época, o que é que me dizes?

Então o que é que já temos na lista? O Benfica a ser campeão, check. Saúde, check. Agora até dou uma de miss-mundo e peço paz mundial, já que estou a sonhar pode ser… e um pónei, vá, era porreiro ter um pónei como meio de transporte.