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A glória da adversidade

cab reportagem bola na rede

Poucos são os clubes que dão voz aos atletas. No Instituto Superior Técnico, este é um dos princípios fulcrais que tem contribuído para o bom funcionamento e para os grandes resultados da equipa federada de futsal feminino. Fundada por jogadoras para servir jogadoras, bem como para aumentar a qualidade da equipa universitária – sem ligação a um clube, sem dirigentes, sem pressão externa mas com muito compromisso –, apela ao desporto como um escape e um local onde as jogadoras podem fazer o que mais gostam: jogar futsal.

Valores distintos, a mesma responsabilidade

Domingo. 9h da manhã. Os sacos das compras começam a ser abertos. Pão, carne, salsichas, batatas fritas ou chocolates são alguns dos alimentos retirados para preparar o dia. Os sumos guardam-se no frigorífico, enquanto as máquinas de cerveja são testadas. Há ainda quem carregue as grades para delinear a zona do bar ou até os bancos de madeira que servirão para dividir os campos. O dress code é simples e pouco exigente: t’shirt, calções e ténis. Equipas à parte, inicia-se o convívio que durará até ao final da tarde. Está tudo pronto para mais um torneio de futsal no Instituto Superior Técnico. Num dia que, geralmente, é aproveitado para recarregar energias, para ter aquele almoço com a família ou até para fazer as limpezas da casa, as jogadoras de futsal feminino do IST abdicam desses momentos em prol da equipa.

Enquanto as demais equipas federadas possuem diversos apoios fornecidos pelo clube em que se inserem, o IST apresenta-se como uma equipa autossustentável em que a organização de torneios é apenas um dos meios utilizados pelas jogadoras para angariar fundos que consigam colmatar as suas despesas (desde pavilhão a policiamento) e que, desde há cerca de cinco épocas, parecem resultar. Reconhecida como uma grande formação no futsal feminino de Lisboa, a manutenção e sobrevivência desta equipa dependem, em grande parte, das jogadoras que a compõem. “A grande diferença é que esta equipa não faz parte de um clube. Ou seja, a equipa existe para servir quem faz parte desta e quem trabalha para a manter, num dado momento. (…) A nossa equipa não tem o apoio financeiro nem logístico que as outras equipas têm. Contudo, por outro lado, temos a vantagem de não termos de nos reger por objectivos e interesses externos a nós.”, explica Ana Colaço, uma das fundadoras da equipa federada do Técnico. Bruno Fernandes, treinador de futsal feminino do Técnico desde 2008/2009, acompanhou todo o processo de evolução da equipa ao longo dos anos e considera que, apesar da diferença na forma de organização interna comparativamente com outros clubes, o grupo teve um crescimento bastante positivo. “Penso que, ao longo dos anos, [a equipa] tem vindo a evoluir, praticando todos os anos um futsal mais competente que no ano anterior, mais experiente, com melhores tomadas de decisão e consequentemente, com melhores resultados dentro de campo.”

O treinador Bruno Fernandes viu-se obrigado a deixar a carreira de jogador, investindo na sua formação como treinador Fonte: Facebook do futsal feminino do AEISTécnico
O treinador Bruno Fernandes viu-se obrigado a deixar a carreira de jogador, investindo na sua formação como treinador
Fonte: Facebook do futsal feminino do AEISTécnico

O sucesso também traz dificuldades

E contra factos não há argumentos: a inclusão desta vertente federada fez crescer a equipa tanto na sua forma de jogar como nos resultados obtidos. Em 2011/2012, tornaram-se campeãs distritais universitárias e, a nível federado, já conseguiram duas subidas de divisão, alcançando a Divisão de Honra de Lisboa onde se encontram na disputa dos primeiros lugares. “Temos tido resultados melhores. Mesmo nos nacionais (universitários), nota-se alguma evolução e nota-se mais consistência na forma como jogamos. Antes éramos uma equipa que ficava mais atrás e agora somos uma equipa que toma iniciativa. É uma forma diferente de jogar, reflexo da evolução que tivemos no federado e da confiança que ganhámos.”, afirma a capitã de equipa, Irina.

Devido à evolução e à onda de resultados bastante positivos da equipa nas competições em que se insere, a formação azul e branca tornou-se atractiva para várias jogadoras da zona de Lisboa e arredores. A entrada de jogadoras com uma escola diferente daquela que é ensinada no Técnico é uma das preocupações de Ana Colaço, apresentando-se até como a maior dificuldade sentida com a evolução do projecto. “Com a entrada na equipa de várias pessoas que fizeram parte de outras equipas federadas, por vezes fica difícil manter a inocência da equipa (…) Eu diria que a maior dificuldade tem sido manter a equipa impermeável a ambições e/ou crenças pessoais, ou seja, mantermo-nos fiéis ao projecto. O que a equipa tem de bom, acaba por também ser uma fraqueza. Devido ao facto de sermos uma equipa sem núcleo dirigente, pelo menos até este ano, é difícil estabelecer prioridades e transmitir os ideais e princípios da equipa de geração em geração. Sem um núcleo deste tipo, é complicado para pessoas que não estiveram incluídas no processo inicial compreenderem como a equipa funciona, e o porquê desta funcionar assim.”

Com maior ou menor dificuldade, a verdade é que as jogadoras que fazem parte da equipa acabam por conseguir perceber o grande âmbito e todos os valores inerentes à mesma. Com base no espírito universitário, tentam manter a união dentro da equipa e evitam confusões de balneário. Para além disso, uma postura de muito fair-play é também um ingrediente indispensável quando tentam ensinar e transmitir estes ideais às pessoas que entram. Rita Filipe, número 11, não tem dúvidas quanto à unicidade da equipa: “Eu acho que temos uma coisa que eu não sei se haverá em outras equipas. Nós dedicamo-nos mesmo a este projecto. Gostamos mesmo da equipa e há um compromisso com a equipa.”

A coesão da equipa é considerada fundamental para o sucesso da mesma Fonte: Facebook do futsal feminino do AEISTécnico
A coesão da equipa é considerada fundamental para o seu sucesso
Fonte: Facebook do futsal feminino do AEISTécnico

Apesar da existência destes valores que se sobrepõem aos resultados, Bruno tem os objectivos bem definidos no que diz respeito à sua equipa. “A curto/médio prazo pretendo consolidar a equipa do AEISTécnico como uma potência a nível nacional, sendo para isso essencial a subida de divisão ao recém-criado campeonato nacional. Em adição, pretendo mostrar a imagem de um exemplo a seguir a nível universitário e de como conciliar os campeonatos universitário e federado, sendo sempre capaz de lutar em todas as frentes pelos títulos em disputa.”

Cartas lançadas, a época já se encontra a meio e a equipa de futsal feminino do Técnico situa-se confortavelmente no quarto lugar da tabela classificativa na vertente federada e em primeiro lugar do campeonato universitário de Lisboa. Distinguindo-se dos clubes devido à sua autonomia, este parece não ser um entrave ao seu sucesso; muito pelo contrário. Com passos pequenos mas consistentes, vão atingindo patamares elevados, conseguindo aumentar a qualidade das jogadoras que fazem parte do plantel. Ainda assim, mais do que resultados, esta equipa tem em conta a sua longevidade, utilizando o federado como muleta para o desenvolvimento universitário.

De estudantes a trabalhadoras, lutam todas pela mesma causa – levar o nome do Instituto Superior Técnico aos vários cantos do país, sem esquecer as suas origens e aquilo que as une.

Expulsar os demónios

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sexto violino

O Sporting está a dez pontos do líder. Não sei se os jogadores se ressentem dos jogos a meio da semana por não estarem habituados, se só jogam quando sabem que a Europa está de olho neles ou se, simplesmente, não são tão bons como se quer fazer crer. Mas não irei falar das incidências da partida com o Moreirense. Farei antes, e perdoem-me os mais impressionáveis ou os mais crentes, uma espécie de “exorcismo” de algo que já me vem apoquentando há algum tempo: o próprio ADN dos Sportinguistas ou, por outras palavras, “a massa de que somos feitos”.

Por norma não gosto de pôr todos os adeptos de um clube no mesmo saco. Há pessoas tão diferentes entre si, tanto em termos de idade como de origem social, de grau de envolvimento com a “causa”, de convicções religiosas, políticas, etc., que se tornaria artificial e até ridículo fazê-lo. Contudo, há certas coisas que me fazem confusão em adeptos do Sporting – não digo que sejam todos porque isso seria entrar numa generalização que não corresponde à verdade, mas é um número considerável e com relevância suficiente para ser mencionado. Falo da forma como lidamos com os nossos sucessos e fracassos e do modo como olhamos para os nossos rivais, sobretudo o Benfica.

Enquanto Sportinguista, no futebol há poucas coisas de que gosto menos do que do Benfica. E, se não nos restringirmos ao desporto, isto continua a ser verdade. É normal, faz parte daquilo que é uma rivalidade, a maior de um país. Esta atitude, claro está, também existe de benfiquistas face a Sportinguistas, por muito que aqueles gostassem que a sua máxima “o maior clube em Portugal é o Benfica e o segundo é o anti-Benfica” fosse verdadeira. Mas há coisas que me ultrapassam. Chego à conclusão de que há adeptos do meu clube que têm um complexo mal resolvido com o rival, complexo esse que, a meu ver, começa na falta de conquistas por que a secção de futebol se tem pautado nas últimas (já largas) décadas.

O Sporting já não é campeão há quase 13 anos. Antes disso, tinha cumprido 18 anos de seca. Se excluirmos os dois últimos títulos nacionais, temos de recuar a 1982 para podermos falar de um Sporting dominador em Portugal. É verdade que o poder no futebol é hegemonizado por dois clubes, Porto e Benfica, que têm muito mais influência de bastidores do que o Sporting, com tudo o que isso implica. Não reconhecer isto é não ser sério. É também verdade que se o Sporting, enquanto único clube grande que não tem o poder do futebol nas suas mãos, não fosse o principal prejudicado desta bipolarização do desporto-rei português, muito provavelmente teria ganho mais campeonatos nos últimos anos – nomeadamente em 03/04 (em que se descobriram escutas com indicações de que o Sporting “era o clube para martelar”, e que acabaram arquivadas), em 04/05 (onde, para além do polémico e tão badalado golo de Luisão, houve também um jogo com o Braga, muito menos comentado e que terminou 0-0, em que a equipa de Alvalade marcou um golo mal anulado) ou em 06/07 (o célebre ano da “mão de Ronny”, um golo cuja validação seria impensável reproduzir no Dragão ou na Luz). Mas o certo é que os anos de seca foram-se estendendo no tempo, bem como o período negro de direcções suicidas. Com eles, agudizou-se o abastardamento de alguns sectores Sportinguistas.

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Bruno de Carvalho (esq.) tem marcado uma era no Sporting, mas terá de adaptar o seu discurso à realidade
Fonte: Facebook do Sporting CP

A realidade do clube merece uma reflexão profunda e isso, a meu ver, terá de começar pelos próprios adeptos. Tal reflexão passará por admitir, com humildade, que o Sporting não é um clube ganhador. Não terá de ser sempre assim, nem esta é de modo nenhum a sentença que o destino nos traçou (embora às vezes pareça). Mas é a nossa realidade. Se é verdade que, no que toca ao universo desportivo, continuamos a ser a maior potência nacional e uma das maiores do planeta, esse facto não pode servir para nos atirar areia para os olhos. O que os Sportinguistas mais querem, mesmo os que, como eu, seguem e vibram com as modalidades, são títulos no futebol. Se estes não aparecem, tanto por razões desportivas como pelos motivos extra-desportivos já indicados, o pior que podemos fazer a nós próprios é fingir que está tudo bem, ao mesmo tempo que damos provas do contrário de cada vez que nos contentamos com ninharias desportivas ou consagramos ao Benfica mais importância do que eles merecem e a rivalidade exige.

Que sentido faz celebrarmos, em 2014, os 7-1 de 1986/87, como se de um título se tratasse? Saberão os Sportinguistas que nessa época ficámos em 4º lugar, mais próximos do Chaves e do Varzim do que do campeão Benfica? Oiço os benfiquistas falar menos dos 3-6 de 1994 em Alvalade, um jogo que por sinal praticamente lhes deu o título. Que sentido faz empatar com o Moreirense e ainda ter coragem para gozar com o facto de o Benfica estar fora da Europa, como vi acontecer? Que sentido faz testemunhar que o cântico com melhor adesão nas bancadas de Alvalade tem na letra “graças a deus não nasci lampião” – na última semana foi entoado no Chelsea-Sporting! – e que se responda invariavelmente a quem critique a música que está a ser obcecado porque esta só fala deles “de passagem”? Terão os Sportinguistas presente que um adepto nascido em 1966 (terá hoje, portanto, 48 anos) só viu o clube ser campeão 6 vezes, menos do que qualquer adolescente portista? E que, apesar de obviamente ser sempre um motivo de orgulho, a famosa formação já deu mais a ganhar aos rivais directos do que a nós próprios?

Urge mudar tudo isto, para bem do próprio Sporting. É certo que o clube passa hoje por uma situação de lenta regeneração, mas o varrer as contrariedades para debaixo do tapete e as invejazinhas bacocas de um rival que, de resto, também já viu melhores dias, não ajudam nada. Assim como não ajuda a postura de Bruno de Carvalho, cuja vitória nas eleições continuo a achar ter sido das melhores coisas que aconteceram ao clube mas que não é imune à crítica, quando diz coisas como [há clubes] que acham que são grandes, uns que gostariam de ser grandes, e depois há um que é grande, que é o Sporting Clube de Portugal”. O perigo de tudo isto é cair-se no ridículo e, pior, perder-se de vista os principais problemas do Sporting.

Como é óbvio, o Sportinguismo não deve crescer nem diminuir ao sabor das conquistas ou da falta delas. Da minha parte, amarei de igual forma o meu clube tanto na Liga dos Campeões como na Distrital (e na Distrital talvez a obsessão e a irracionalidade até crescessem…). Mas tenho, e temos todos, o dever de não perder a realidade de vista. E ela, quer queiramos quer não, diz-nos que perdemos o comboio, e que demorará bastante tempo até que chegue o próximo. É por isso que digo com todas as letras: no futebol, somos actualmente o terceiro clube português, e talvez o continuemos a ser nos próximos anos largos.

Sei que é duro ler isto, tal como para mim também o é escrever. Mas assumi-lo é, parece-me, não só fazer as pazes com a verdade, como também preparar caminho para o possível sucesso futuro. É a expulsão dos nossos demónios interiores (leia-se irracionalidade, “clubite aguda”, etc.), que muitas vezes nos impedem de aceitar a realidade e, portanto, de procurar soluções que a alterem. É por isso que glorificar goleadas antigas, esquecer insucessos recentes ou dedicar músicas ao maior rival em jogos que não sejam contra eles são caminhos a evitar. Que continuem os tradicionais “picanços” com os rivais, mas sempre tendo presente a nossa posição delicada nos dias que correm  – e que, se olharmos para as últimas décadas, já não é propriamente um dado novo. Se já somos os terceiros no palmarés futebolístico, não o queiramos ser também na mentalidade.

 

As fotos foram retiradas do Facebook Oficial do Sporting CP

Mais banhada do que banho

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tinta azul em fundo brando pedro nuno silva

O Porto perdeu o clássico do Dragão e dificultou muito a tarefa de chegar ao título. Foi um jogo de sentido único, mas a equipa de Jorge Jesus levou a melhor sobre a de Lopetegui. As equipas iniciais não trouxeram novidades, e da parte do Porto não houve nenhuma surpresa na estratégia de jogo, mas talvez o estratagema benfiquista tenha surpreendido alguns. Falar sobre o clássico dava matéria para duas ou três crónicas, principalmente da parte portista, que foi surpreendida com este resultado em sua casa. Porém, decidi focar-me mais na forma de jogar de ambas as equipas (e nas conclusões que se tiraram) do que noutros pontos também importantes, como a fraca prestação da claque portista ou a falta de raça dos azuis e brancos, por exemplo.

Jorge Jesus tem um enorme respeito pelo Porto, principalmente no Dragão. Não me lembro de ver esta estratégia defensiva benfiquista, apresentada ano após ano no Dragão, contra outras equipas – uma equipa defensiva que tenta jogar no erro do adversário (até aqui nada de muito transcendente) mas que desta vez surpreendeu pela inactividade no ataque.

E o que fez o Porto? Pois, aí está o problema – pouco. O Porto não marcou porque, para além de estar num dia de azar, pouco fez para inverter o curso do jogo e apresentou uma estratégia muito denunciada. Prometemos muito no início, com ataques acutilantes, duas jogadas que podiam ter dado golo e a sensação de que a qualquer momento podíamos inaugurar o marcador. Mas Jesus percebeu que estava a arriscar, fez recuar a equipa e a partir daí começaram as dificuldades. As peças do Benfica dispuseram-se melhor em campo, não houve mais oportunidade para Tello criar perigo, porque deixou de ter espaço para correr – e logo ele que prometia uma noite de pesadelo a André Almeida –, e a saída para o ataque foi sempre difícil.

Herrera e Casemiro nunca transportaram nem distribuíram bem a bola, mas o mexicano esteve especialmente mal: é muito irregular e pouco pujante para jogos deste calibre. Contudo, o maior defeito do jogo dos Dragões foi a contante e exaustante insistência em passar a bola a Brahimi. Que previsível! Com o meio-campo benfiquista sempre povoado e a bola encostada na esquerda portista, havia uma multidão de jogadores prontos a atrapalhar o extremo portista. E não houve plano B; foi assim o jogo todo e as poucas boas iniciativas esbarraram no poste (há dias em que mais vale não sair de casa)! Admito que gosto de Lopetegui, mas não gostei da ausência de uma estratégia alternativa.

Mesmo trapalhão, o Porto esteve sempre em cima do Benfica e a verdade é que os golos encarnados surgiram de dois lances que deviam ter sido facilmente aniquilados pela defesa e pelo guarda-redes, respectivamente. De resto, o Benfica fez, nos 90 minutos, sempre a mesma coisa: defender. Confesso que me dá uma certa irritação quando ouço falar em banho táctico. Não sou treinador, mas será isto um banho táctico? Terá o futebol, “tacticamente” falando, atingido este ponto em que defender e praticamente não contra-atacar (e, quando se o faz, sem perigo algum) é um “banho táctico”? Acho que esta expressão surge de benfiquistas que não querem reconhecer que a estratégia benfiquista esteve mais próxima da do Boavista do que da de um grande campeão em título. Dois golos sem grande estratégia, muitas faltas, contra-ataques sem perigo e muita defesa – não entendo esse banho. Para defender bem é preciso muita organização, mas não é suposto haver uma estratégia de contra-ataque? Não se pode defender sem estar encostado às cordas como o Benfica esteve (mesmo com 0-0) em grande parte do jogo? Um bom jogo defensivo lembro-me eu de o Chelsea ter feito este ano contra o Manchester City; não se pareceu nada com o que vi no Dragão. Aliás, o Porto-Boavista foi o mais próximo deste encontro…

Gabarolices à parte, mais um jogo grande que perdemos em casa; é preocupante e é praticamente humilhante. O problema não é só táctico, estratégico, colectivo, individual… o problema é também não saberem o que é jogar no Porto e o que representa um Clássico para os nossos adeptos, que levaram uma grande banhada. Mas isso fica para outro dia. Resta fazer um campeonato incólume porque a vida dos azuis e brancos complicou-se bastante. Ainda assim, nada de atirar a toalha ao chão!

Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

Lições de um Clássico dominado e… aquilo que mais ninguém joga

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amarazul

Dominar um Clássico não chega. É preciso vencê-lo e para isso marcar golos. Um, dois, enfim, mais do que os dos adversários. Quando isso não acontece, algo correu mal e… há que saber retirar pontos positivos e outros que nos permitam melhorar. Enquanto o faço, analiso também o próximo adversário do Futebol Clube do Porto na liga milionária que, em Portugal, mais ninguém joga.

Em dias como o de ontem há tudo menos certezas. De pouco importa quem tem vindo a jogar o melhor futebol, o mais bonito – aquele que ‘encanta’. E tudo isso foi provado pelo conjunto visitante ao longo dos noventa minutos; apesar do domínio de que foi alvo, conseguiu fazer o que Julen e os seus comandados tão perto estiveram de, por uma vez, celebrar: golo(s).

De ontem devemos aprender que não basta jogar futebol bonito; não basta atacar, fazer fintas e passes de um flanco ao outro vezes e vezes sem conta; jogar mais e melhor é bom, sim – é isso que queremos e é isso que nos leva ao estádio – mas são precisos golos; golos que não têm faltado em grande parte dos jogos mas que, frente a Boavista (o domínio foi ainda mais impressionante), Sporting e Benfica não chegaram; de ontem devemos aprender que Brahimi pode estar a precisar de um par de jogos a descansar, não só para recuperar energias mas também para voltar a ser o Brahimi que já foi.

Há tanto para aprender… Mas as notícias boas também existem: temos uma equipa a jogar um muito, muito bom futebol; temos uma equipa coesa, equilibrada, elegante. E mais! Defrontamos o Basileia nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões.

Aqui, no entanto, chegamos ao momento de levantar o pé do acelerador e encarar as hipóteses que temos pela frente. A primeira saída à direita desviou o autocarro que transportava conjuntos como o Real Madrid, o Chelsea ou o Bayern de Munique, enfim, todos aqueles que de nenhuma forma (e ainda bem!, dizemos) nos poderiam calhar. As próximas saídas não eram, no entanto, mais animadoras e poderia ao Porto ter calhado em sorte, imagine-se, o Arsenal, Machester City, Juventus ou PSG, entre outros.

O Basileia era claramente a melhor opção, afirmam vocês, leitores, sem hesitar. E eu subscrevo de igual forma e convicção mas, e, no entanto, alertando para que também ao Basileia saiu, ‘hiperbolizando’, a sorte grande. É que ao conjunto de Paulo Sousa poderia ter calhado qualquer um dos elementos daquele autocarro que saiu na primeira saída… E assim, de um momento para o outro, teremos frente a frente duas equipas plenamente satisfeitas com o seu sorteio e ainda mais motivadas para lutar por um dos oito lugares ainda vagos nos quartos-de-final.

O que fazer? Bem, continuar a jogar o futebol bonito que Julen tem implementado e estudar bem a táctica. É que, do outro lado, estará um conjunto bem conhecido pelos seus últimos esforços europeus. Não estão recordados? Nos últimos quatro anos, a equipa suíça somou triunfos sobre a Roma, o Manchester United (a que se soma ainda um entusiasmante empate em Old Trafford) e o Chelsea, de José Mourinho, por duas vezes na última temporada.

Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

Não se iludam

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cab premier league liga inglesaOs sorrisos voltaram definitivamente a Old Trafford. O Teatro dos Sonhos voltou a tê-los. A ambição dos adeptos voltou a estar-lhes espelhada nas expressões e na forma como vivem o jogo. Voltou a garra dos adeptos dos red devils, o entusiasmo e a preocupação com cada lance albarruou a apatia e o encolher de ombros que ameaçava tornar-se característica das bancadas do estádio do Manchester United depois da desilusão da época passada (zero títulos e um vergonhoso 8.º lugar na Liga) e do mau início de época que se seguiu.

Para animar as hostes, portanto, não era preciso muito, e depois de conseguidas seis vitórias consecutivas há agora motivos para os supporters voltarem a acreditar no seu United. Vale a pena gritar para os jogadores, porque agora eles parecem ouvir. Correm até à linha de fundo mesmo perante uma bola perdida, reagem de forma aguerrida quando perdem a posse, compactam-se de forma eficiente quando têm de defender…

Resumidamente, esta equipa do United tem um coração enorme e uma solidariedade notável. Louis Van Gaal parece ter conseguido unir o balneário rumo ao propósito de lutar pelo título (que ele, de forma irresponsável, tanto gosta de afastar quando vem a público falar)… enquanto não tem uma equipa.

É certo que o United, agora, é terceiro classificado da Premier League, apresenta uma série de resultados impressionante, tendo conseguido estabelecer resultados importantes diante de adversários dificílimos, como as vitórias nos terrenos do Arsenal e do Southampton e a goleada por 3-0 ao Liverpool…

… mas está ainda muito longe de ter definidos os processos de jogo e, consequentemente, a identidade da equipa.

Analisando cada uma das seis vitórias seguidas obtidas pelo United, não encontramos propriamente um padrão. A começar nos esquemas tácticos utilizados: 4x1x4x1 contra o Palace, 3x4x1x2 ante o Arsenal, 4x3x3 na recepção ao Hull, 4x4x2 losango diante do Stoke, 3x1x4x2 na deslocação ao terreno do Southampton e o regresso ao 3x4x1x2 no jogo com o Liverpool em Old Trafford. Seis jogos, cinco modelos diferentes. Jogadores que repetiram a titularidade em todos os encontros? Cinco. David de Gea, Antonio Valencia, Michael Carrick, Marouane Fellaini e Robin Van Persie.

É, portanto, normal, que as exibições do Manchester United não deslumbrem e cheguem mesmo a desiludir ao olho do adepto de futebol. A equipa parece muitas vezes “engasgada” no seu processo de construção ofensiva, pela falta de rotinas. Partindo desde trás, a equipa está dependente das arrancadas de Valencia ou Ashley Young e, embora Van Gaal esteja sempre a mudar o esquema táctico, perante um adversário mais avisado isto pode tornar o United numa equipa demasiado previsível. Valem, por enquanto, a inspiração de De Gea – num momento de forma extraordinário -, a omnipresença de Michael Carrick no meio-campo e o faro de golo de Van Persie. Sem qualquer um destes três elementos, muito dificilmente o United teria sido feliz em qualquer dos seis triunfos consecutivos logrados…

De Gea tem sido a "estrelinha" de Van Gaal Fonte: Facebook do United
De Gea tem sido a “estrelinha” de Van Gaal
Fonte: Facebook do United

… sobretudo no último, diante do Liverpool. O 3-0 obtido é um resultado extremamente enganador. São números que não mostram os três golos certos que De Gea negou aos reds na segunda parte e muito menos a cadência ofensiva do Liverpool. A equipa beneficiou, para além da inspiração do guardião espanhol, do desequilíbrio emocional do seu adversário (que não se deveu ao sufoco do United, pois é algo comum a outros encontros disputados anteriormente fora de portas – as deslocações dos reds aos terrenos de Crystal Palace e West Ham são exemplos ilustrativos) após o primeiro golo consentido.

O United acabou por ser um justo vencedor, é certo, mas há muitas questões por resolver dentro da equipa. Muitos nomes para definir no onze-base (que fará menos de 30 jogos até ao final da época, ao contrário dos adversários envolvidos em competições europeias) de Louis Van Gaal, uma identidade para ser criada. Para já, o holandês vai mostrando toda a sua habilidade táctica e agilidade mental na abordagem a cada encontro. Mas é preciso ter em conta que tem ao dispôr um plantel de classe mundial (200 milhões de euros investidos) e que, passados quatro meses da única competição em que está inserido (exclui-se a FA Cup da equação, pois ainda não entrou em cena), ainda não conseguiu criar uma equipa.

É certo que o técnico parece ter do seu lado uma espécie de estrelinha que o ajuda a superar os obstáculos que ele próprio cria no início das temporadas, com vitórias tangenciais ou pontos obtidos com uma dose generosa de sorte (como já aconteceu este ano, por exemplo, contra o Chelsea e o Arsenal) na fase de criação de identidade das suas equipas (foi assim ao serviço do Bayern, tendo começado a época com muita gente a pedir a sua demissão e terminando-a com a Bundesliga conquistada e uma final da Champions. e também do Barcelona, na época 1997/1998)… mas a sorte é um factor aleatório.

E se o United quer (como deve!) lutar pelo título (mesmo que Van Gaal fuja com o “rabo à seringa” quando se aborda o tema), não pode depender de nenhum tipo de estrelinha, porque todas as épocas são únicas e todos os campeonatos têm as suas particularidades. A euforia de Old Trafford é uma coisa bonita de se contemplar, mas ainda não tem uma base consistente. A ilusão de lutar pelo título não passa disso mesmo.

Foto de Capa: Facebook do United

Sorteio: Liga dos Campeões e Liga Europa

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FC Porto 0-2 Benfica: A capa nem sempre faz um bom livro

eternamocidade

O título pode parecer-lhe estranho à partida mas depois de ver o clássico desta noite, no Dragão, apetece-me dizer que as previsões que se faziam para o jogo saíram todas furadas. Também por isso, depois do jogo de hoje, é cada vez mais nítido que, apesar de todos esses indícios que parecem tão claros antes de tudo acontecer, podem ser meras mentiras quando o jogo começa e finalmente as equipas mostram de que fibra são. Estas primeiras linhas, como já deve ter percebido, vão inteirinhas para FC Porto e Benfica, cujo potencial parecia tão distante, mesmo que a classificação dissesse o contrário. Por isso, aquilo que ouvimos ao longo da semana fazia parecer que hoje no Dragão seriam favas contadas porque, afinal de contas, o que pareceu é que os portistas já entravam a ganhar para o clássico com os encarnados.

Bem feitas as contas, nesta guerra pela liderança, o Benfica foi melhor porque foi mais experiente, mais inteligente, mais audaz e sobretudo mais eficaz. Não teve “nota artística” e nem sequer obrigou Fabiano a uma defesa de registo, mas no fim da noite levou os três pontos para casa, numa exibição vestida de “fato de macaco” como nunca se pensou ver. Para o clássico desta noite, Lopetegui e Jesus optaram por uma alteração em relação aos onzes iniciais que foram previstos durante toda a semana: do lado portista, Marcano atuou no lugar de Maicon, enquanto na equipa encarnada Lima foi o homem mais avançado, deixando Talisca nas suas costas e relegando o brasileiro Jonas para o banco de suplentes.

Brahimi voltou a demonstrar uma inquietante desinspiração  Fonte: fcporto.pt
Brahimi voltou a demonstrar uma inquietante desinspiração
Fonte: fcporto.pt

Depois de uma coreografia carregada de azul e branco, num Estádio do Dragão vestido de gala para a ocasião, cedo se percebeu com que linhas se iria coser o clássico. Do lado portista, Casemiro, Herrera e Óliver tiveram lugar de destaque nos primeiros minutos: o primeiro por ter destruído grande parte do jogo ofensivo que o Benfica quis construir; o mexicano e o espanhol pela dinâmica e intensidade que deram ao FC Porto nos instantes iniciais. Recuado e remetido a um bloco médio-baixo, o Benfica foi sendo consecutivamente surpreendido nos primeiros minutos, através das bolas nas costas que os médios portistas iam lançando para os espaços na defensiva encarnada.

Durante 20 a 25 minutos, praticamente só se via azul e branco no relvado do Dragão e por isso a vantagem seria algo normal para um domínio tão intenso e que teve nas oportunidades de Herrera e Jackson (brilhante defesa de Júlio César) os seus dois momentos altos. Aquilo que se esperaria era que, com tanto domínio, fosse o FC Porto a chegar ao golo. No entanto, essa imagem que parecia tão clara para os quase 50.000 no estádio não passou de uma miragem quando, na sequência de um lançamento de linha lateral, Maxi Pereira deu de bandeira um golo a Lima, que até ali tinha estado completamente desligado do jogo mas que voltava assim a fazer estragos no Dragão.

Sem que nada o fizesse prever, o Benfica, que ainda não tinha rematado à baliza de Fabiano, ia para o intervalo a vencer o jogo. Por entre a falta de eficácia de uns e a eficácia perfeita de outros, aquela imagem de domínio portista era apenas “para inglês ver”, pois afinal de contas o Benfica ia para a pausa com os louros de ter sido mais inteligente e pragmático.

No segundo tempo, o Benfica entrou com outra cara: ao contrário do que tinha acontecido no primeiro tempo, a equipa de Jorge Jesus conseguiu diminuir o ritmo da partida, adormecer o adversário e, por consequência, levar o jogo para onde mais queria. Do lado portista, não se viu mais do que uns meros livres e ameaços que pouco perigo criavam para Júlio César. O jogo estava, portanto, “em banho maria”, tal e qual como o Benfica desejava, mas sempre com o olho posto em novo erro portista para assim fazer xeque-mate no clássico. E assim aconteceu: à passagem do minuto 56, numa jogada entre Gaitán e Talisca, o jovem brasileiro rematou para Fabiano, que, sem nada que o fizesse prever, largou a bola direitinha para o pé direito de Lima, que, sem dificuldade, bisou na partida e sentenciou o clássico. No segundo remate à baliza, o Benfica fazia o segundo golo.

A eficácia era total mas desengane-se quem acha que o resultado era meramente fruto da felicidade encarnada. Nada disso: com inteligência e pragmatismo, o Benfica mostrava no Dragão que também sabe jogar sem “nota artística” e que sabe ferir os adversários mesmo não espetando muitas facas. O FC Porto, perdido por entre ataques inconsequentes e um jogo ofensivo sofrível, parecia completamente atordoado com o que lhe estava a acontecer, pois, depois de uma primeira meia hora tão dominadora, perceber que estava a perder 0-2 aos 60 minutos parecia um pesadelo.

Hoje, a barra travou duas vezes o melhor marcador do campeonato  Fonte: Facebook do FC Porto
Hoje, a barra travou duas vezes o melhor marcador do campeonato
Fonte: Página de Facebook do FC Porto

Até ao final do encontro, ainda houve dois remates à trave da baliza de Júlio César, um golo bem anulado a Jackson, uns quantos bons pormenores de Quaresma e uma inacreditável desinspiração de Brahimi e companhia. Sem derrubar a barreira encarnada, mesmo com tantas oportunidades, o FC Porto não conseguiu entrar no jogo e acabou o clássico engolido por um realismo encarnado como há muito não se via. Quem olhava para a antevisão do clássico, apostava numa vitória portista: pelo fator casa, por ter melhores jogadores ou simplesmente por estar num melhor momento. Concordei na altura com todas essas premissas, mas, no meio dessas profecias, parece que o reino do Dragão se esqueceu de que não é só com brilho e magia que se ganha – há jogos em que o fato de macaco fica melhor do que um uniforme de gala. Depois do jogo de hoje, já são 6 os pontos de vantagem para o Benfica. E que melhor maneira de o conseguir senão com uma exibição feliz mas personalizada como a de hoje. O Benfica deu um passo muito importante para o título, mesmo quando as apostas estavam todas contra si. Talvez depois de hoje alguém no FC Porto comece a perceber que nem sempre boas capas fazem bons livros.

 

A Figura

Marcano – É certo que foi algo lento no lance do segundo golo encarnado, mas a exibição do espanhol acabou por surpreender pela positiva.

O Fora-de-Jogo

Brahimi – O extremo argelino tem mostrado nos últimos jogos uma baixa de forma anormal e que teve prolongamento no clássico de hoje. Sempre muito individualista, raramente conseguiu ultrapassar a defensiva encarnada.

Foto de capa: fcporto.pt

FC Porto 0-2 Benfica: Ao coração ganha sempre a razão

benficaabenfica

Se o coração pode trazer a felicidade no futebol em alguns momentos soltos, a razão será sempre a chave para o sucesso. Como aconteceu hoje. Importantíssimo e saboroso triunfo no Dragão, o primeiro de Jesus em jogos a contar para o campeonato. Enorme passo para o bicampeonato foi hoje dado e caber-nos-á saber gerir esta almofada pontual da melhor forma. No regresso de Lima à titularidade, foi um Benfica diferente do habitual a jogar no terreno do rival. Um Benfica calculista, racional, frio e ciente de que é inferior em termos de qualidade individual mas muitíssimo superior a nível colectivo.

O início de jogo trouxe um Porto forte e com vontade de se colocar cedo em vantagem. Se estas entradas fortes dos azuis-e-brancos não surpreendem ninguém, o mesmo não se pode dizer da forma como o Benfica a tentou segurar. Muito subido no terreno e tentando limitar a saída de bola em posse desde trás da equipa de Lopetegui, a equipa encarnada aguentou a primeira meia-hora inicial de bom nível dos portistas. Jackson teve o golo nos pés mas Júlio César mostrou o porquê de – finalmente! – ser o dono e senhor da baliza do Benfica. Um Porto veloz e a criar enormes dificuldades ao espaço morto entre a defesa e o meio-campo encarnados, com Brahimi e Óliver em bom plano, não foi capaz de reagir ao primeiro golo do encontro. De um lançamento lateral se começou a construir a vitória encarnada, com Lima a aproveitar a passividade defensiva (uma das grandes pechas deste Porto) do Porto. Se o Benfica pouco arriscava no momento ofensivo com o nulo no marcador, ainda menos o fez depois de se ver em vantagem. Eficácia quase total da equipa de Jorge Jesus, pois antes do golo houve apenas um fraco remate de Talisca para contar.

Depois de César Brito e Nuno Gomes, foi a vez de Lima bisar no Dragão Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica
Depois de César Brito e Nuno Gomes, foi a vez de Lima bisar no Dragão
Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

Apesar de ter dado mostras de querer repor a igualdade o mais rapidamente possível, o 0-2 que Fabiano ofereceu a Lima (soberba a jogada de Gaitán que antecede o bis do brasileiro) acabou por ser quase o xeque-mate dos dragões. A partir daí, a equipa de Lopetegui entrou num desnorte total, apesar de se poder queixar de algum azar na finalização, já que Jackson encontrou por duas vezes a trave da baliza de Júlio César. Naquele que, provavelmente, foi o melhor jogo do Benfica de Jesus no Dragão (perfeita a forma como bloqueou o jogo lateral do Porto e obrigou os defesas e médios a jogarem em lançamentos longos), a eficácia encarnada foi vital para o resultado. Nas poucas oportunidades que criou (fruto da estratégia adoptada para a partida), o Benfica acabou por conseguir segurar uma vantagem no Dragão, coisa rara nos tempos mais recentes. Para a história fica a pouca qualidade futebolística que marcou o clássico, apenas pintado, aqui e ali, com os rasgos de Brahimi e Gaitán. O fantasma portista parece estar a querer desaparecer e deu lugar a um Benfica pragmático e racional, que irá passar o Natal na liderança isolada. Para o devaneio do Porto no mercado de verão, estar a 6 pontos do primeiro lugar e fora da Taça de Portugal dará muito que pensar. Restará, pois, a boa campanha europeia para ir enganando os papalvos. Lopetegui disse que, depois do jogo de hoje, tem mais certezas de que o Porto será campeão. Pois bem, eu digo que o caminho para o bicampeonato encarnado começa a dar sinais de vida.

A Figura:
Nico Gaitán – O craque argentino voltou a a provar a sua classe no jogo de hoje. Teve pouca bola, é certo, mas sabe sempre o que lhe fazer quando em posse.

O Fora de Jogo:
Salvio – Inconsequente. É assim que se pode definir a época do extremo argentino. Ao contrário do compatriota de sector, perde-se em constantes iniciativas individuais sem princípio, meio e fim.

Sporting 1-1 Moreirense: A incapacidade de ultrapassar o impossível

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Hoje, não me achem jornalista nem analista de coisa nenhuma: agora sou só mais um como vós, sportinguistas, para quem o futebol não faz sentido. Que não quer saber do Porto vs Benfica para nada. Um leão ferido pela desilusão que é não conseguir ultrapassar o impossível. Nós somos esse adepto: aquele que cresceu a aprender que ver o seu clube no topo é o conto que o mérito não proporciona. Nós sabemos que, para ganhar, vamos sempre ter de esperar mais do que os outros, vamos sempre ter de percorrer um caminho maior do que os outros. Escolhemos difícil. Não gostamos mais de ganhar do que do nosso clube. O fácil continua a ser de todos.

Nós, sportinguistas, sempre nos definimos pela capacidade de ultrapassar o impossível. E contamos esses momentos. Esses momentos onde ousámos chegar mais alto, onde quebrámos barreiras, onde procurámos as estrelas para fazer do desconhecido, conhecido. Contamos esses momentos como as nossas maiores conquistas. Mas perdemos tudo isso. Ou talvez nos tenhamos esquecido…

As palavras do parágrafo anterior, que aqui optei por associar ao Sportinguismo, não são minhas. São retiradas e traduzidas de uma fala de Interstellar, filme de Christopher Nolan. Sem saber, o cineasta anglo-americano também falava do Sporting. Falava dos 7-1 ao nosso maior rival, logrados exactamente há vinte e oito anos. Das vitórias ao City ou ao Alkmaar no último segundo, do fazer mais com menos que tem sido a senda do clube, pelo menos desde que me lembro de o acompanhar. Falava, no fundo, da “capacidade de ultrapassar o impossível”. Querer superar quem nos supera em dinheiro, qualidade individual no plantel e até influência nos bastidores é exactamente isso: ambicionar ultrapassar o impossível. 

Hoje, em Alvalade, a equipa de Marco Silva voltou a não estar à altura dos sonhos de tantos adeptos. Porque Maurício não é jogador para o Sporting. Porque Adrien teima em ser o jogador que não é, ou que os outros querem que seja. Porque Mané decidiu não subir ao relvado. Não interessa. O Moreirense, organizado e competente, dificultou a vida aos leões, aproveitou as desvantagens do 4x4x2 e refreou a já de si fria noite de Dezembro. Montero empatou mas não foi suficiente e pelo meio houve um sem número de pormenores acessórios mas perfeitamente irrelevantes para o que é o objectivo deste espaço de desabafo de (mais) um Sportinguista cujo sonho é superar o céu.

A nós, resta permanecer no vento e na chuva de forma a estar presente na hora da bonança. Aproveitar o caminho junto dos outros que, como nós, demonstram uma personalidade maior do que a de qualquer terceiro porque a personalidade se molda pela dificuldade. E nós sabemos o que são dificuldades, não sabemos?

A Figura

Carrillo – Sempre o mais irreverente, o mais inconformado, o que mais assumiu as despesas da noite negativa. Nem sempre tão clarividente como se precisava, nem sempre tão eficaz ou inspirado mas sempre com uma postura que há tanto lhe era pedida.

O Fora de Jogo

Adrien – A passividade sem bola, a incapacidade de fazer uma cobertura, um sem número de erros discretos que, no conjunto, ainda não lhe retiraram a titularidade – talvez por estatuto, talvez por outra qualquer razão -, mas que prejudicam e de que forma a fluídez e capacidade ofensiva e defensiva do Sporting.

Foto de capa: FPF

Pedro Emanuel: “Olhar” o Mundo de cima para baixo

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a minha eternidade

No dia 12 de Dezembro de 2014 cumpriu-se uma década sobre a vitória do Futebol Clube do Porto na Taça Intercontinental. Este artigo pretende reavivar esse grandioso dia, que outorgou o clube nortenho como o melhor do Mundo, pela segunda vez na sua história. Nessa final de então, os portuenses voltaram a ser felizes em terras japonesas, imitando o que os seus antecessores de 1987 haviam feito, sob um nevão inenarrável. Essas duas vitórias foram justíssimas, com o Porto a ser amplamente superior em ambos os jogos. Na primeira final, Madjer decidiu com um chapéu brilhante no prolongamento; na partida mais recente, foi necessário recorrer-se aos pontapés da marca de grande penalidade para decidir quem arrecadava o troféu.

Aquela época de 2004/2005 estava a ser (e confirmou-se) extremamente difícil para os Dragões. Na ressaca da extraordinária temporada onde venceram a Liga dos Campeões, os portistas não conseguiram aproximar-se das prestações atingidas no ano transacto, estando a fazer um campeonato nacional muito irregular, com um número de pontos perdidos que suplantou em larga escala o seu habitual pecúlio médio. José Mourinho, o treinador campeão europeu, saíra para o Chelsea e levara com ele jogadores nevrálgicos da vitória em Gelsenkirchen. As saídas de Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Nuno Valente, Deco e, claro, do timoneiro José Mourinho, deixaram traumatismos excruciantes na estrutura de futebol do clube.

Apesar de uma época periclitante, os comandados de Victor Fernández tiveram uma prestação muito personalizada na final de Yokohama. O espanhol estudou muitíssimo bem os comportamentos híper defensivos da equipa colombiana (Once Caldas) e conseguiu dominar o jogo sem contestação vigorosa, sendo que o 0-0 no final dos 90 minutos (e posteriormente dos 120) não reflectiu o ascendente portista no jogo, com inúmeras oportunidades e três bolas nos ferros. O FC Porto teve de ultrapassar dois obstáculos hercúleos – o extravagante guarda-redes Henao (considerado como o sucessor do aclamado Higuita) e a equipa de arbitragem, que anulou erroneamente dois golos a Benni McCarthy por alegado fora-de jogo.

Nessa nona final internacional da sua história, os dragões venceram por 8-7 em penáltis, já com Vítor Baía fora da baliza, substituído por Nuno devido a uma taquicardia e quebra de tensão. Nesse jogo, actuaram de azul e branco Vítor Baía, Seitaridis, Jorge Costa, Pedro Emanuel, Ricardo Costa, Costinha, Maniche, Diego, Derlei, McCarthy e Luís Fabiano. Entraram no decorrer do encontro Nuno, Carlos Alberto e Quaresma, ficando no banco de suplentes Pepe, Bosingwa, César Peixoto e Hélder Postiga.

Mas o que marcou e marca essa final não é um golo, nem uma grande defesa, uma grande jogada ou um grande jogador. O que carimba indelevelmente aquela partida em território nipónico é o olhar penetrante, foco sedutor e intento matador do defesa central Pedro Emanuel. Aquele instante é lembrado e revivido como um marco simbólico de extrema importância na história do clube. Um segundo antes de concretizar em golo o penálti derradeiro, este jogador olha flamejante para o guarda-redes contrário e engana-o, dando a vitória justa ao Porto. Naquela suspensão do tempo, ele foi o carrasco da mentira e o repositor da verdade. Aquele instante, aquela postura, aquele fixar foram o prenúncio de uma vitória em concreto, bem como a certeza de mais sucessos vindouros. O mais sublime foi que aquele olhar condensou a substância imaterial mais proeminente neste clube – o desejo ávido e insaciável de superação, o desígnio inalienável de vitória.

Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto