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Começar do zero

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É complicado voltar depois de uma longa ausência. Há coisas que não se explicam. Falta de rotina não explicará tudo, com certeza. Mas a dor da recordação é do mais amargo que se pode ter. Sobretudo para quem tem de falar sobre o futebol brasileiro. Como diz o sábio ditado popular: “Hei, amigo, alguém tem de o fazer!”. E aqui estou eu. A começar uma nova etapa.

Quem deveria, igualmente, iniciar do zero era a Seleção Brasileira de futebol. É preciso uma reflexão profunda. Os treinadores brasileiros, outrora os mais atualizados e avançados, estão agora totalmente ultrapassados. O campeonato brasileiro está a entrar num marasmo. Os estádios estão às moscas (salvo raras exceções) e quando se pensava que este ia ser o ano da revolução no escrete, eis que a CBF, numa atitude infantil incrível, veio apostar no erro de voltar a contratar Dunga. Nada contra o antigo capitão e campeão do mundo, mas penso que a prestação de 2010 está bem fresca e patente na memória de todos nós.

Sem querer também entrar no campo já mais do que pisado Europa versus América do Sul, que, diga-se, leva a discussões tão disparatadas, esta seria a altura ideal para, pela primeira vez na história, o Brasil ter nos seus quadros um selecionador estrangeiro. Não viria mal ao mundo por isso. A equipa é jovem e de certeza que novos jogadores irão ser revelados nos próximos quatro anos. O fechamento do Brasil em torno de si próprio, tal como o os portugueses, um dia, também se fecharam no mare clausum, não está a resultar. A humilhante derrota para a Alemanha foi o culminar de uma série de erros crassos durante o Mundial, mas principalmente antes dele. E – aqui para nós – perder dois Mundiais em casa é duro.

Vamos ver o que o futuro reserva para a seleção com mais títulos de Campeã do mundo. O Brasil precisa urgentemente de seguir a marcha do progresso ao nível do treino e ao nível tático… ou então a insígnia de maior campeão do universo desaparecerá rapidamente; inexorável e sem deixar rasto.

A ode de Leverkusen

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Havia, por aquela altura, um intenso cheiro a Benfica. Benfica vivia-se, do Benfica se falava, pelo Benfica se sentia. Leverkusen traz o 15 de Março de 1994 agarrado à memória. Era um Benfica diferente, que se nos entrava pelo espírito e nos enchia a alma. Mais aos doentes, menos aos menos fanáticos, mas sempre numa partilha e comunhão que só agora parecem querer reaparecer. A ode do Ulrich Haberland empurra-nos para as lembranças de como o Benfica se fez grande, enorme, gigantesco no futebol europeu. Depois do 1-1 na Luz, a missão daquela equipa parecia quase impossível. Não nos esqueçamos de que o Bayer Leverkusen era, por esses tempos, uma das mais fortes equipas alemãs. Como ainda é hoje. Sem Mozer e sem Veloso, os benfiquistas agarravam-se ao Toni, aos emigrantes que saltitavam por entre as bancadas e à mística que, sem nunca ninguém saber explicar muito bem como e porquê e quando, se junta aos 11 em campo e os faz parecer 14. Dessa altura restam-nos os VHS gloriosamente guardados na prateleira para nos imbuirmos em benfiquismo sem ordem nem razão, nas palavras e nos sentimentos de quem por Leverkusen andou nessa mítica noite de Março. E nos 3-6 de Alvalade dois meses depois.

João Vieira Pinto e Isaías no histórico 4-4
João Vieira Pinto e Isaías no histórico 4-4

O desenrolar do jogo de loucos é por demais conhecido e não é por ele que aqui estou. Nem sequer pela eliminação aos pés do Parma, na meia-final. Estou, sim, pelo prazer que é poder dizer que, vinte anos depois da epopeia alemã, o Benfica europeu está de volta. O Benfica temido por quem lhe calha nos sorteios. Não o de Vigo, não o de Hamlstads. O de Leverkusen, o de Amesterdão, o de Turim, o de Newcastle, o de White Hart Lane. O que arrepia e nos faz sorrir a milhares de quilómetros de distância para muitos e a poucos metros para poucos. Poucos mas felizes por ali verem o Benfica de Ulrich Haberland. Que finalmente parece querer reerguer-se do nevoeiro em que esteve nestes vinte anos que se atravessaram desde então.

Serve isto, também, para não deixar de realçar a importância de o Benfica se mostrar e andar pela Liga dos Campeões. Sendo certo que o trabalho de Jorge Jesus é notável em ter chegado a duas finais da Liga Europa, o Benfica nasceu, cresceu e morrerá na Liga dos Campeões. É lá que temos de estar, é lá que temos de ser temidos. Sendo certo que o plantel não apresenta opções de qualidade e quantidade como na passada temporada, que não sirva isso para desculpar mais um possível fracasso na liga milionária. Jesus sabe-o, com certeza, apesar de o discurso focado no bicampeonato ser, até, compreensível. Mas também sabe da exigência europeia que as duas finais, embora perdidas, trouxeram. Que comece já hoje a corresponder à exigência. Queremos mais Ulrichs Haberlands, por favor.

Ivan Rakitic: a confirmação do estatuto de craque

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la liga espanha

Apesar de ter sido indiscutivelmente um dos melhores médios do futebol europeu na última temporada, havia dúvidas em relação à capacidade de Rakitic de manter o mesmo nível de jogo num clube com maiores ambições. Transferido de Sevilha para Barcelona por valores próximos dos 20 milhões de euros, o croata não demorou muito a provar que a última temporada (de longe a melhor da sua carreira) não foi um acidente de percurso e que é, de facto, um jogador fora de série. Camp Nou tem um novo maestro.

Foi chegar, ver e vencer. Rakitic, que parece que joga em Camp Nou há vários anos, adaptou-se com uma facilidade tremenda à nova realidade e está a fazer um início de época absolutamente brilhante. O croata, que já é um elemento indispensável no conjunto blaugrana, pegou de estaca na equipa de Luis Enrique, e o elevado nível exibicional que apresentou foi premiado com a inclusão no 11 ideal da liga espanhola durante o mês de Setembro. Para já, está a justificar totalmente o valor investido na sua contratação.

Rakitic tem-se assumido como o novo maestro do Barça  Fonte: news.zing.vn
Rakitic tem-se assumido como o novo maestro do Barça
Fonte: news.zing.vn

A evolução que Rakitic tem tido ao longo da carreira é notável. O croata, que quando esteve no Schalke jogava maioritariamente nos flancos, foi recuando no terreno e tornou-se num dos médios mais completos do futebol europeu. É um daqueles jogadores a que a expressão “coloca a bola onde coloca o olhar” se aplica; mas, para além de uma qualidade de passe muito acima da média, sobretudo a longa distância, Rakitic junta uma intensidade tremenda na pressão, recuperação e ocupação de espaços, tendo também grande capacidade de desequilibrar na marcação de bolas paradas.

Rakitic recusa quaisquer comparações com Xavi, mas a verdade é que, com o maior rosto do tiki-taka já na fase descendente da carreira, o croata terá a missão de fazer esquecer (se é que isso é possível) o espanhol. O médio ex-Sevilha está no pleno das suas capacidades e, apesar de ter explodido algo tardiamente, já merecia actuar num dos melhores clubes do mundo. A transferência para o Camp Nou é, por isso, um justo reconhecimento do que fez na última temporada, mas, acima de tudo, uma prova de fogo que o colocará (ou não) na elite do futebol mundial.

 

Neste vídeo de André Costa, feito em parceria com o Bola na Rede, dá para ter uma ideia da época fabulosa que Ivan Rakitic protagonizou no ano passado, ao serviço do Sevilha.

Andrea Pirlo, o Arquitecto

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Andrea Pirlo jogou no Internazionale, no AC Milan e na Juventus e para qualquer fã de futebol que se preze dispensa apresentações. Pirlo é um exemplo da beleza de uma liga que não ousa questionar a mais-valia dos mais experientes. No fim das contas ganhamos todos nós – confesso acreditar que apesar de ele ter 34 anos era capaz de o ver a jogar por mais dez anos e ficar deliciado cada vez que entrasse em campo. Quem observa Pirlo a jogar vê que se trata de um jogador que aparece uma vez de 50 em 50 anos. Abre uma linha de passe, recebe de cabeça sempre erguida, dá segurança ao seu meio-campo defensivo e é capaz de destruir a mais perfeita construção ofensiva – como que com régua e esquadro e a uma velocidade estonteante o Arquitecto descobre a falha e faz todo o edifício sucumbir perante o poder da sua mente.

Se há espaço para o debate sobre quem, entre Xavi e Pirlo, é o construtor de jogo mais eficaz, não há espaço, ou pelo menos não devia haver, para o debate sobre qual dos dois é o mais deslubrante. A capacidade de Pirlo em fazer passes de cortar a respiração torna-o demasiado bom para não encantar qualquer adepto e assombrar qualquer defesa. Se no capitulo do passe Pirlo é brilhante, não o é menos no capitulo das bolas paradas e dos remates de longa distância.

A capacidade dos dois maestros em números  Fonte: squawka.com
A capacidade dos dois maestros em números
Fonte: squawka.com

O italiano, que se deu a conhecer ao mundo no Brescia, é capaz de meter a bola onde quer e onde ninguém vai conseguir chegar, levantando estádios inteiros e levando à loucura dezenas de guarda-redes. No entanto, a magia de Andrea não se esgota por aí. O campeão mundial em 2006 é dotado de uma técnica ímpar, que, apesar de não usar tão frequentemente como os grandes dribladores do jogo, não o faz menos virtuoso na arte da finta. Uma vertente muitas vezes esquecida no jogo de Pirlo é a sua mestria em defender.Contudo as suas estatisticas da época passada são esclarecedoras: 32 intercepções e 39 desarmes. Num registo ainda mais esclarecedor: Pirlo fez 32 intercepções enquanto Bastian Schweinsteiger fez 14 e apenas completou menos 6 desarmes do que o alemão. Por fim três, citações de três grandes nomes no futebol acerca de Andrea Pirlo.

Paul Scholes: “Pirlo é o melhor construtor de jogo do mundo”.

Gerard Piqué: “Pirlo é pura classe.”

Michel Platini: “Pirlo é um farol, que ilumina tudo. Para mim é jogador de Ballon d’Or!”

Uma “slap” de mão cheia

futebol de formação cabeçalho

A academia do Sporting CP, em Alcochete, foi palco de um jogo com um resultado algo surpreendente para a formação de sub 19 dos leões. Um início de jogo marcado pela inexperiência e algum nervosismo de alguns dos jovens jogadores da casa sentenciou a favor dos forasteiros, Chelsea, numa partida que se previa mais equilibrada. Logo aos três minutos de jogo parecia traçado o destino da equipa leonina. O guarda-redes, Pedro Silva, com uma deficiente recepção com os pés seguida de uma má decisão, originou uma grande penalidade que Colkett não desperdiçou. A superioridade dos blues era evidente, e os leões, fragilizados pela entrada infeliz no jogo, não conseguiram inverter o sentido do resultado. A equipa inglesa dominava um campo que não era seu. Quatro minutos depois, Musonda carimbou o 2-0, através de um remate de longe.
Possante e veloz, a formação londrina jogava no erro do adversário e aproveitava as constantes perdas de bola na zona intermédia do campo dos verde e brancos. Ao minuto 26 surgiu o 3-0, depois de um excelente lance de Solanke e consequente passe para Abraham, que finalizou. Os leões nem tempo tiveram para suspirar: o quarto golo surgiu um minuto depois, com um remate de Solanke no coração da área. Ao intervalo, o ouro estava entregue aos ingleses. Estavamos perante duas equipas incomparáveis, com níveis de competição muito diferentes. De um lado, estava um Sporting com pouca intensidade, que pagava pela inexperiência de alguns dos seus jogadores. Do outro lado, estava um Chelsea de jogadores de grande capacidade e envergadura física, que competem num campeonato de sub 21, o que lhes confere um ritmo de jogo muito elevado, com rápidas decisões e execuções técnicas apuradas, tendo alguns deles, inclusive, integrado o plantel de José Mourinho na pré-época. Deve relembrar-se que este Chelsea, na edição anterior da prova, foi a única equipa a terminar a fase de grupos só com vitórias, tendo marcado 18 golos e sofrido apenas um!

Este jogo foi uma lição para a jovem equipa leonina Foto: Maria Serrano
Este jogo foi uma lição para a jovem equipa leonina
Foto: Maria Serrano

Certamente que o intervalo serviu para técnicos e jogadores do Sporting reflectirem sobre o que se passou no primeiro tempo. No entanto, no minuto inicial da segunda parte, o orgulho e brio com que os jogadores da casa queriam dignificar as cores do clube foram esmagados pelo quinto e último golo da partida. Abraham, um dos melhores jogadores da equipa inglesa, selou o triunfo após ter recebido a bola isolado no lado esquerdo do seu ataque e, com tempo para tudo, colocou-a no canto superior esquerdo da baliza, fazendo o melhor golo da partida.
Os leões perceberam agora a necessidade de aumentar a intensidade e o ritmo de jogo, a única forma de poderem disputar jogos deste nível de exigência competitiva.
O sonho mantém-se… O Sporting é claramente superior ao Maribor, por isso, resta-lhe disputar nas próximas duas jornadas da competição com o Schalke 04 um lugar na próxima fase (a equipa alemã perdeu por 4-1 frente ao Chelsea em Londres, na primeira jornada, e venceu em casa por 5-0 o Maribor, na segunda jornada). Já dizia Rui Patrício, em declarações ao Record, que “A Champions é para os melhores”, desafio que os jovens de verde e branco deverão assumir como equipa com tradição e pergaminhos a nível mundial.

Sporting 0–1 Chelsea: Neste duelo de leões, venceu a experiência

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A Liga dos Campeões voltou a Alvalade num jogo em que, apesar de muito esforço e vontade, a vitória não fugiu ao Chelsea de Mourinho. Patrício fez das melhores exibições da carreira, a dupla de centrais voltou a falhar e o ataque não chegou para assustar a sério Courtois.

A primeira parte começou com Diego Costa isolado frente ao guardião leonino, que com a perna esquerda evitou o golo madrugador dos blues. À passagem dos vinte minutos, primeira oportunidade de golo para o Sporting: Slimani no meio dos centrais, após cruzamento na esquerda, cabeceia fraco para defesa do número 13 do Chelsea.

Nesta fase do encontro, os leões acusavam claramente a pressão, falhando passes fáceis, batendo bolas longas na frente e não conseguindo acertar a marcação a Diego Costa, Schürrle e Hazard. Na frente, Nani tentava mostrar serviço, mas nem sempre decidiu da melhor forma, moendo muito o jogo e não libertando a bola no melhor momento.

Aos 34 minutos, e após um livre duvidoso do lado direito da defesa do Sporting, Matic surgiu ao segundo poste para fazer  o único golo da partida. O médio fugiu à marcação de Jonathan Silva e cabeceou com a bola a passar por cima do guarda-redes da selecção nacional. Até ao final do primeiro tempo, o Chelsea recuou um pouco as linhas mas o Sporting não criou mais nenhuma oportunidade perigosa para a baliza londrina, chegando assim o intervalo com vantagem merecida para os comandados de Mourinho.

A segunda parte trouxe um Sporting mais solto, com Nani mais interventivo mas com os mesmos calafrios defensivos. Foi o próprio Nani que, aos 52 minutos, foi travado em falta mesmo em cima da linha da área; o árbitro disse que não houve nada, perdoando uma falta perigosa e o cartão a Filipe Luís. No minuto seguinte, foi Óscar quem desperdiçou na cara de Patrício; o jogador brasileiro correu sozinho desde o meio-campo, com a defensiva leonina parada à espera do fora-de-jogo, mas o número 1 do Sporting evitou o segundo golo e manteve os leões na discussão do resultado.

O Sporting vivia a melhor fase no encontro. João Mário encontrou Nani solto na esquerda, que, à saída de Courtois atirou às malhas laterais, e logo a seguir foi Carrillo que foi apenas parado em falta por Ivanovic, numa altura em que seguia com muito perigo para a baliza inglesa.

A criatividade de João Mário e a velocidade de Carrillo e Nani criavam dificuldades nas laterais, mas a bola raramente chegava redonda a Slimani que, nesta altura, pouco mais era do que um espectador da partida. Ainda assim, o argelino combinou algumas vezes com os médios do Sporting, mas nunca conseguindo rematar à baliza com perigo.

À passagem da hora de jogo Maurício lesionou-se num choque com Diego Costa e acabou por dar lugar a Paulo Oliveira, que veio dar uma maior tranquilidade do que aquela que Maurício vinha a conseguir mostrar. O  jogou tornou-se um pouco mais quezilento, com muitas faltas e quatro amarelos, dois para cada lado, não havendo nesta altura grandes oportunidades de golo.

Foi já perto do fim da partida, mais concretamente aos oitenta minutos, que Marco Silva decidiu arriscar um pouco mais, trocando Carrillo por Capel e colocando Montero no lugar de Adrien, jogando com o colombiano mais perto de Slimani. Os londrinos voltam a criar perigo numa jogada em que Costa se isolou mas Patrício, de novo ele, saiu-se aos pés do jogador hispano-brasileiro do Chelsea e cortou a bola para fora.

O Sporting não acusou o golpe e Nani passou por dois defesas contrários e rematou em arco, com a bola a passar a centímetros da baliza blue. Pouco depois foi Montero que cabeceou com muito perigo às malhas laterais. Até ao final do jogo apenas o Chelsea voltou a criar perigo, com Salah a rematar na cara de Patrício, mas o guardião português evitou com mais uma grande defesa o golo do egípcio.

A Figura:

Rui Patrício – Já tinha sido um dos elementos em evidência no jogo de sexta-feira frente ao Porto, mas hoje o guardião de Marrazes teve uma das suas melhores noites. Grandes defesas, saídas corajosas e muita segurança.

O Fora de Jogo:

Os centrais do Sporting – Não existe equipa que consiga lutar por uma qualificação para os oitavos-de-final da Champions com uma fragilidade tão gritante. Não há comunicação, há falhas de marcações gritantes e uma lentidão imensa. Foram incontáveis as vezes que os atacantes do Chelsea apareceram isolados, ficando Maurício e Sarr a pedir o (inexistente) fora-de-jogo.

Shakthar Donetsk 2-2 FC Porto: Complicar o descomplicado

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Na segunda jornada da Liga dos Campeões, o FC Porto deslocou-se a Lviv para defrontar o Shakthar Donetsk com a única certeza desta época: não há dois onzes iguais. Depois da exibição fraquíssima em Alvalade, foi com naturalidade que Quaresma ficou de fora da convocatória para o jogo na Ucrânia. Mas essa não foi a única novidade da equipa portista.

A entrada na equipa titular de Maicon (após expulsão frente ao Boavista), Óliver e Tello e a mudança de funções de Marcano para médio defensivo faziam antever um FC Porto com uma abordagem diferente em relação ao último jogo.

Após 5 minutos inicias de equilíbrio, o Shakthar instalou-se no meio-campo do Porto, impedindo a transição em posse de bola por parte da equipa portista, mais uma vez confirmando-se a tendência para a dificuldade de circulação de bola na zona do meio-campo. Marcano deu musculo e segurança defensiva mas a ligação entre os laterais e os médios, e destes com os extremos, foi muitas vezes deficiente. Óliver jogou mais adiantado no terreno e a bola passou quase sempre por Herrera – e aqui começaram os problemas do Porto. O mexicano é bem dotado tecnicamente mas teima em acumular erros durante os jogos – tanto faz um drible fantástico e um passe a rasgar como no minuto a seguir perde a bola de forma infantil ou faz um passe disparatado. Esta inconstância, a juntar ao facto de não ser suficientemente possante para se assumir como o box-to-box que a equipa precisa, faz com que os dragões mastiguem muito o jogo na sua zona defensiva. Outro pecado portista é o espaço que há entre os médios e os extremos – a bola chega poucas vezes aos alas e só quando isso acontece é que há alguma velocidade e fantasia no jogo. Lopetegui tenta minimizar este espaço obrigando os médios a fazer par com os extremos (quando há mudança de lado por parte dos extremos tambem os médios mudam de lado) mas parece não ser suficiente, até porque Brahimi e Tello nem sempre recuam o suficiente no terreno para tarefas defensivas.

Mesmo com estes (grandes) pormenores o Porto é uma equipa superior ao Shakthar Donetsk e foi com naturalidade que acabou a primeira parte com ligeiro ascendente sobre os ucranianos. Bastou que para isso os adversários abrandassem o ímpeto.

A exibição de Óliver ficou marcada por um erro infantil  Fonte: UEFA
A exibição de Óliver ficou marcada por um erro infantil
Fonte: UEFA

Na segunda metade do jogo, os dragões demonstraram vontade de comandar o jogo mas mais uma vez houve uma irresponsabilidade que caiu como um balde de água fria nas intensões portistas. Desde a entrada imprudente de Maicon frente ao Boavista até ao passe irresponsável de Ruben Neves frente aos Leões, desta vez a fava saiu a Óliver, que não aguentou a pressão do adversário após um drible infantil em zona proíbida. A época ainda agora começou mas os erros portistas acumulam-se, são constantes e tremendamente parecidos jogo após jogo. Como equipa jovem e fantasista que é, há muitas vezes a tendência de complicar e de facilitar na altura de recepção de bola ou de fazer passes transversais em zonas sensíveis.

Restava então correr atrás do resultado e foi isso que o Porto fez. Instalou-se no meio-campo ucraniano e, com mais coração do que cabeça, foi empurrando o Shakthar, que só através do contra-ataque tentava incomodar os portistas. O miolo do meio-campo portista não resolvia bem, Tello e Brahimi insistiam em jogadas individuas inócuas, Aboubakar queria mostrar serviço mas a falta de entrosamento com os companheiros era demaisado visivel para que conseguisse criar perigo e Lopetegui viu-se obrigado a mexer na equipa. Saiu Aboubakar e Brahimi, entraram Quintero e Jackson. A diferença fez-se sentir – Quintero é um número 10 puro, de toque curto e rápido, rasga a defesa adversária e é atrevido; já Jackson conseguiu guardar a bola e fazer de pivô, distribuindo o jogo e dando seguimento às jogadas que se iam construindo.

A jogar no meio-campo, Marcano rubricou uma exibição consistente  Fonte: UEFA
A jogar no meio-campo, Marcano rubricou uma exibição consistente
Fonte: UEFA

Mas mais uma vez, quando parecia que o F. C. Porto estava perto do empate, num contra-ataque e após uma má recepção de Maicon, o Shakthar marcou o segundo golo, ditando o que parecia ser a sentença do jogo. E só não ficou sentenciado porque o Porto de Lopetegui não desiste e, mesmo atabalhoadamente, vai sempre tentando o golo. Num lance pela extrema esquerda surgiu uma mão na bola (mais uma, já tinha havido um lance deste género na primeira parte) e desta vez Jackson converteu o golo, fazendo o 2-1 aos 88’. Com 4 minutos de compensação ainda havia tempo para mais um e eis que surgiu Tello, que tantas vezes decide mal apesar do seu talento, em mais uma jogada pela esquerda concluída com uma boa antecipação de Jackson. Estava feita alguma justiça no jogo. O empate aceita-se mas fica a sensação de que o Porto podia ter vindo de Lviv com os 3 pontos. Este Porto é a melhor equipa do grupo mas é ainda muito irresponsável para fazer frente aos tubarões europeus. Ver-se-á como a equipa irá crescer nos próximos meses.

 

A Figura

Jackson Martinez – marcou 2 golos e deu cabimento aos lances de ataque. Pode não ser um matador mas é sem dúvida um avançado de grandes valias técnicas.

O Fora-de-jogo

Óliver Torres – depois do erro infantil que cometeu, comprometeu a equipa e podia ter deitado tudo a perder. Tem um talento enorme mas, claro, tem erros que são frutos da idade e irreverência.

Casava-me já com o teu pé esquerdo…

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Terceiro Anel

Daqui te fala João Miguel Henriques Rodrigues, rapaz gaeirense de 25 anos, doente pelo Sport Lisboa e Benfica. Mas acima de tudo, e neste início de Outono, tenho notado que estou apaixonado por ti, pé esquerdo do Nico Gaitán. E isso porque tu és inigualável, perfeito, o pé mais eficaz deste país à beira-mar plantado. Não vivo sem ti, todos os fins-de-semana fico embasbacado a contemplar-te, em cada fim-de-semana dás-me alegrias. Qual é mesmo o teu segredo?

Chegaste até nós no Verão de 2010, vindo de Buenos Aires, e já vinhas rotulado de craque. Porém, e apesar das tuas inegáveis potencialidades, não te afirmaste de imediato. Aliás, durante muito tempo até pairou a ideia de que tu, pé esquerdo de sonho, apenas funcionavas da forma devida nas provas europeias, quiçá porque querias emigrar, ir para mais altos voos, ser visto por mais gente. Contudo, a páginas tantas, penso que o teu “dono” começou a perceber a dimensão do Benfica, o seu nível estratosférico, a forma como o clube arrasta multidões até num beco de Kinshasa. É muita responsabilidade, não é? Sim, é muita responsabilidade! Mas tu, pé esquerdo que tem de ser protegido a todo o custo, não tens desiludido. Bem pelo contrário! É remates, é passes, é fintas…ufa! Como é que consegues? Assume, vá! Tens olhos? Tens mais do que cinco dedos? Tens poderes especiais?

Minha Nossa Senhora, pé dos deuses!  Fonte: bleacherreport.com
Minha Nossa Senhora, pé dos deuses!
Fonte: bleacherreport.com

Ainda no passado sábado eu me deleitei completamente ao ver-te em acção, meu pé esquerdo adorado. Fazes sorrir milhões, fazes chorar os adeptos adversários, levas-me à loucura. Tu és uma colher, uma máquina de teletransporte, tu tens algum comando aí introduzido, eu sei lá. Desde o Pablo Aimar que eu não me sentia assim! E isso não tem preço, meu pé esquerdo arrasador. Peço-te, quase que te exijo: apenas tens ordens para passar pelo Aeroporto da Portela aquando de jogos do Benfica fora do país. Não vais para outros clubes! Ainda bem que não foste para o Mónaco neste último defeso! Diz-me, o que ias para lá fazer? Era para o teu “dono” ganhar mais ao fim do mês? Lá terias uma massa adepta mínima para te elogiar, lá não há emoção, lá tudo soa a artificial. Aqui não! Aqui tens os olhos todos em cima de ti, és um pé famoso a toda a escala, tens aqui um rapaz demente a dedicar-te um artigo.

Por isso, e como o casamento é para a vida (pronto, eu sei que cada vez há mais divórcios), peço-te: queres casar comigo, pé esquerdo do Nico? Ficas cá comigo, continuas a deixar-me pasmado em frente ao televisor, terás sempre o meu amor incondicional. Porque tu és do melhor que há no meu clube, e quem faz bem ao meu clube…faz-me bem a mim.

Sem compromisso, espero por uma resposta tua. Sem qualquer tipo de pressão. Mas para terminar, um último pedido: arrasa em Leverkusen, aterroriza o conjunto alemão. Enquanto isso, eu vou comprando as alianças…

Bayer Leverkusen: Atacar é a palavra de ordem!

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O Bayer encontra-se no terceiro lugar da tabela classificativa e os resultados têm sido um tanto ou quanto irregulares. A equipa ainda se está a encontrar e o futebol dos farmacêuticos vai sendo dividido entre massacres ofensivos e golos sofridos em catadupa. As estatísticas não enganam e demonstram que existem processos a necessitar de um maior entrosamento e rotinas.

A equipa é o reflexo do seu treinador. Roger Schmidt é o comandante do navio e um nome que ficou na memória de todos, devido à grande época à frente do Red Bull Salzburg. Os austríacos mostraram um futebol de processos simples e rápidos mas a principal característica era a pressão supersónica que exerciam em toda a largura do terreno.

Os alemães jogam, por norma, num 4x2x3x1 e, na Luz, o onze não deverá fugir àquele que tem sido apresentado no campeonato interno. Leno, jovem de vinte e dois anos com enorme potencial, será o guarda-redes. Na direita teremos uma das surpresas da equipa, Jedvaj – o jogador checo de dezoito anos emprestado pela Roma, que preferencialmente actua no centro da defesa, vai-se destacando na lateral e já marcou dois golos. No centro teremos Spahic, experiente central bósnio, que certamente será acompanhado por Ömer Toprak. À esquerda é o assertivo Boesnich que terá a responsabilidade de marcar Salvio.

À frente da defesa deverá estar o capitão Lars Bender, o homem mais defensivo do meio-campo e o principal recuperador de bolas. A seu lado, perfazendo um duplo pivot, Reinartz ou Castro deverão assumir a titularidade. Continuamos a subir no campo e encontramos os fantasistas da equipa. Son e Bellarabi jogam a extremos e são os principais municiadores do ataque. O coreano é um virtuoso e junta uma capacidade técnica assinalável ao faro pelo golo; o alemão, que regressou de empréstimo, parece ter refinado as suas melhores qualidades e é neste momento o atleta com mais assistências e golos.

Lars Bender é o esteio do meio-campo do Leverkusen  Fonte: bundesliga.com
Lars Bender é o esteio do meio-campo do Leverkusen
Fonte: bundesliga.com

Hakan Çalhanoğlu joga nas costas do avançado e é o jogador a ter mais em conta desta equipa. O jovem turco, que se destacou na última época ao serviço do Hamburgo, é um exímio marcador de bolas paradas e destaca-se também ao nível do passe e remate. Isolado na frente joga o goleador de serviço Stefan Kiessling. O ponta-de-lança será uma dor de cabeça para Luisão e Jardel, pois é um jogador que desgasta bastante a defesa adversária com as suas investidas.

A juventude impõe-se neste conjunto e Schmidt conseguiu implementar uma mentalidade vencedora, à imagem do que tinha feito na Áustria. Os encarnados terão de aproveitar as debilidades defensivas do Leverkusen. A equipa ainda não está devidamente familiarizada com o estilo de jogo e a pressão de que falei acima deixa-a demasiado exposta a transições rápidas, algo que o Benfica deve tentar aproveitar da melhor forma.

Jorge Jesus sabe da importância deste jogo e terá tomado todas as cautelas. O primeiro encontro europeu não correu como era suposto e este jogo assume preponderância na continuidade dos encarnados na mais importante competição do Velho Continente. Schmidt também não pode falhar pois vacilou frente ao Mónaco. O duelo promete e o futebol ofensivo das duas equipas proporcionará certamente um fantástico espectáculo.

Sensacional Southampton II – O Gestor de Crises

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O conceito de “gestão de crise” tem surgido muito nos meios de comunicação social desde que “estoirou” a grande crise financeira de 2008. Segundo os livros, é algo que visa a redução de prejuízos ou situações que prejudiquem o normal processo de tomada de decisões de uma determinada organização provocado por uma circunstância anormal e inesperada no seu meio (interno ou externo). Para que a gestão de crise seja bem sucedida, dizem os mesmos livros, deve seguir-se um plano assente em cinco pontos: cálculo do risco; diagnóstico de ameaças; reinvenção dos processos; a forma de implementação dos mesmos; manutenção.

Todo este conjunto de medidas levar-nos-à, supostamente, a conseguir, no curto prazo, devolver a normalidade à vida da organização… ou da nossa. Sim, porque o conceito de gestão de crise não precisa de ser estudado por um chefe de família ou por um estudante sem dinheiro para ser posto em prática. Cada um de nós pode gerir as suas crises seguindo aquele ou outro método, e ser bem sucedido. E há exemplos em todo o mundo, desde desempregados que reinventam a sua vida com investimentos que lhe dão um futuro sustentável, passando por marcas que caem na penumbra e se levantam… a treinadores que se vêem, de repente, sem as referências com que contavam para a época e não vêem entrar substitutos à altura das perdas. Como Ronald Koeman. Mas já lá vamos.

O Southampton do ano passado foi uma das surpresas da Premier League, jogando um futebol competitivo, pressionante na primeira zona de construção contrária, exercida por avançados extremamente “chatos” (Jay Rodríguez e Lallanna eram importantes neste processo, mas Rickie Lambert era o que mais se destacava) que eram uma autêntica barreira anti-jogadas de perigo [conforme, aliás, mencionara anteriormente] e que esteve na génese da boa campanha de uma equipa que, para além dos seus avançados, contava com jogadores competentes nas suas zonas mais recuadas, como Schneiderlin e Jack Corck no meio campo e José Fonte, Lovren, Shaw e Clyne na defesa. Um conjunto liderado por um treinador idolatrado pelos adeptos, o argentino Mauricio Pochettino .

Do onze mencionado, apenas três jogadores ainda militam na equipa principal. De resto, saiu tudo por preços, claro, avolumados. Os tubarões do mercado atacaram ferozmente os Saints, que ainda viram “fugir” o seu líder, Maurício Pochettino.

A manuenteção de Morgan Schneiderlin foi fundamental para o fantástico início de época do Southampton  Fonte: BBC / Getty Images
A manuenteção de Schneiderlin foi fundamental para o fantástico início de época do Southampton
Fonte: BBC / Getty Images

Entrou Ronald Koeman, e perante a indefinição do plantel que acompanhou o defeso (e que até levou a manifestações de desagrado por parte do holandês), soube reinventar Wanyama, dando-lhe um papel de maior destaque do que aquele que tinha no ano passado, reforçou os poderes do capitão José Fonte enquanto líder do balneário e ainda convenceu Clyne e Schneiderlin a ficar no clube perante tanto assédio.

Os reforços foram chegando a conta-gotas, mas chegaram. Alderweireld e Bertrand (por empréstimo) reforçaram a defesa, e o ataque foi reinventado por Mané, Tadic e o goleador Graziano Pellè.

Seria de esperar que as ideias do holandês fossem sendo lentamente apreendidas pelos seus novos pupilos e que os resultados apresentados fossem mais “normais” que os da época anterior. Afinal, renovava-se uma zona (ataque) que havia sido fundamental para todo o processo de jogo do Southampton… mas Koeman acabou por ser paciente e avançou com as suas ideias (reinvenção de processos), mesmo tendo a noção de que seria arriscado trabalhá-las com poucos jogadores (cálculo do risco) e que teria de enfrentar a impaciência e pessimismo dos adeptos enquanto não surgissem novos jogadores e lidar com o cepticismo de uma equipa que via partir muitas das suas referências (diagnóstico de ameaças), mas foi avante com o plano inicialmente traçado, criando união entre os “resistentes”, como José Fonte ou o próprio Schneiderlin, de forma a que quem quer que entrasse tivesse a noção da importância da celeridade de assimilação de processos de jogo (forma de implementação de processos), para que fosse possível criar uma identidade (manutenção).

Koeman foi um autêntico gestor de crise. Colocou a equipa a pressionar mais atrás (até porque Pellè, por exemplo, é um jogador de referência na àrea, e não tanto um avançado móvel), “encolhendo” o 4x3x3 em 4x5x1 quando não está em posse, para que Tadic e Mané sejam um auxílio a um trio incansável composto por Steven Davis, Schneiderlin e Wanyama. Os dois, principalmente, saem a jogar com critério e qualidade sem comprometer o equilíbrio da equipa, defendendo com a mesma eficácia, o que torna mais fácil a tarefa das linhas recuada e avançada. Paradoxalmente, o recuo de linhas que Koeman trouxe ao jogo do Southampton dá menos problemas para a defesa solucionar e mais bola ao ataque.

A “reinvenção” de Victor Wanyama foi outro dos trunfos jogados por Koeman  Fonte: Daily Mail
A “reinvenção” de Victor Wanyama foi outro dos trunfos jogados por Koeman
Fonte: Daily Mail

O sucesso desta “fórmula” já tinha começado a aparecer contra o Liverpool, no primeiro jogo oficial [também mencionado anteriormente], mas ficaram ainda mais evidentes com o desenrolar do início do campeonato, e, após uma série de 5 jogos sem perder, com quatro vitórias consecutivas (entre elas um 4-0 ao Newcastle), a equipa está agora no 2.º lugar da Premier League com 13 pontos somados (em 18 possíveis), apenas atrás do todo-poderoso Chelsea e à frente de equipas como Manchester City, Manchester United, Arsenal ou Liverpool, que ou não sofreram revoluções tão violentas no aspecto desportivo… ou tiveram dinheiro para as suportar.

Caso Schneiderlin e Wanyama aguentem um campeonato inteiro com esta intensidade (algo que não seria de descurar, pois o plantel pediu para se treinar em dia de folga… e quem corre por gosto, não cansa) ou seja encontrada uma solução para um possível desgaste de ambos ou de um dos dois, temos, muito provavelmente, um candidato à Europa em perspectiva e a continuação de um filme que parecia não ter sequela (após a época fantástica da equipa).