21 de setembro de 2014. É por dias como este que adoro desporto; é por dias como este que adoro Fórmula 1. Singapura, iluminação artificial e emoção. Muita emoção. Tanta que levou mesmo a que a corrida fosse ‘fechada’ com o cronómetro ao invés das voltas previstas. No final, Lewis Hamilton subiu ao lugar mais alto do pódio e festejou um regresso à primeira posição do campeonato já dado como impossível por muitos.
“O Lewis vale o dinheiro que nos custou”, afirmou o eterno Niki Lauda após a corrida. E este desabafo repentino e honesto resume o dia. Resume aliás o fim-de-semana e, até agora, a época. Em cento e vinte minutos, Nico Rosberg viu a vida andar para trás enquanto o seu companheiro de equipa lhe ‘roubava’ o estatuto de líder. De confusões entre colegas de equipa a desastres mundamentais, o Mundial de 2014 resume-se a apenas uma equipa mas nem por isso deixa de ser emotivo. Engane-se (e arrependa-se) quem o diga.
Há dias assim — dias de loucos. Aquele foi um deles. Já no dia anterior ficaram lançadas achas para a fogueira com o britânico a terminar com a pole position graças a uma vantagem de, imagine-se… sete centésimos de segundo para Nico Rosberg, o seu colega de equipa! No entanto, o destaque do fim-de-semana vai mesmo para domingo, quando logo no início Rosberg foi forçado a desistir da corrida devido a falhas técnicas no carro.
Lewis Hamilton festeja fim-de-semana ‘de loucos’ e de carácter decisivo
Nada estava ganho. Longe disso. Lewis saíra com a pole, sim, mas tinha ainda pela frente cerca de cinquenta voltas. Cinquenta voltas que se viriam a revelar emocionantes (não só lá na frente) e talvez decisivas. Ainda perdeu a liderança para Vettel numa ida às boxes — que, aliás, permitiu ao alemão, tetracampeão em título, liderar pela primeira vez neste campeonato(!), mas por pouco tempo. Segundos depois, lá estava o Mercedes de Hamilton com uma velocidade de ponta inalcançável a ultrapassá-lo rumo a mais uma vitória.
Elegante, autoritário, histórico. Esta foi a corrida de Lewis Hamilton. Pelo que fez, pelo que aconteceu, pelo impacto que pode ter tido. Numa época em que apenas três pilotos conheceram o sabor da vitória (Daniel Ricciardo por três vezes, Nico Rosberg em quatro corridas e, por fim, Lewis Hamilton em sete fins-de-semana) nem tudo tem sido fácil. A Mercedes lidera desde sempre o mundial de construtores e é praticamente campeã; provável é também que um dos seus pilotos venha a vencer o campeonato (o australiano da Red Bull está a 57 pontos do alemão), mas os problemas na própria equipa alemã estiveram várias vezes presentes.
Hamilton e Rosberg discutiram, foram um contra o outro e viram-se a abandonar as provas por diversas vezes. A rivalidade não passa despercebida a ninguém, os problemas também não e a Mercedes chegou mesmo a recorrer ao Twitter para tentar ultrapassar a situação da melhor forma – ao gosto da maioria. Fruto da exímia condução, Hamilton (campeão em 2008) lidera hoje o Campeonato de Fórmula 1. Era impensável há duas corridas, quando na Bélgica abandonara o Grande Prémio. Mas desta vez o impensável aconteceu. O impensável aconteceu e poderá ter sido decisivo na competição. Para já, mudou e relançou o mundial.
A Premier League é um campeonato altamente imprevisível, mas poucos esperariam que o Newcastle fosse o último classificado após 5 jornadas disputadas. Os magpies, que ainda não venceram qualquer encontro, somam apenas 3 pontos e têm apresentado um nível de jogo bastante aquém do desejável. Tendo em conta que o plantel tem qualidade para ficar tranquilamente na primeira metade da tabela, terão de ser atribuídas responsabilidades a Alan Pardew. O treinador inglês não tem sabido responder à sequência de maus resultados (venceu apenas 1 dos últimos 13 encontros) e, numa fase em que os adeptos já pedem a sua demissão, não deve permanecer por muito mais tempo no comando técnico da equipa (mantê-lo no cargo é apenas adiar o inevitável).
Pardew é treinador do Newcastle desde 2010/11, ano em que o clube regressou à Premier League. Conseguiu manter os magpies na primeira divisão nessa temporada e, na época seguinte, alcançou um brilhante quinto lugar. Como prémio por esse resultado, a direcção do clube decidiu dar-lhe um contrato de 8 anos (até 2020), algo pouco habitual no futebol moderno. O voto de confiança não teve o efeito que os responsáveis do clube inglês esperavam, pois desde então os resultados têm ido de mal a pior. Pardew parece estar acomodado no cargo e já não tem capacidade para motivar os jogadores.
Falta de qualidade individual não é, de todo, a explicação para o facto de o Newcastle ainda não ter conseguido vencer na Premier League. O plantel, que já tinha nomes como Krul, Sissoko ou Papiss Cissé, recebeu um lote de reforços de imensa categoria: Daryl Janmaat, Jack Colback, Rémy Cabella, Siem de Jong, Emmanuel Rivière e Ayoze Pérez, avançado que brilhou na segunda liga espanhola. O lateral direito holandês, que já merecia experimentar outro campeonato, chegou para colmatar a saída de Debuchy para o Arsenal; o médio ex-Sunderland, já com bastante estatuto no futebol inglês, está a desempenhar o mesmo papel que pertencia a Cabaye; Cabella, claramente a grande contratação dos magpies para esta temporada, é um craque (criativo e com muita qualidade técnica) e tem tudo para ser uma das figuras da equipa; de Jong, a eterna promessa do Ajax, não atingiu o nível que se esperava mas é um jogador com bastante qualidade; e Emmanuel Rivière, que veio ocupar a vaga deixada em aberto por Rémy, foi a referência ofensiva do Mónaco (destacou-se mais do que Falcao) na primeira metade da última temporada. Em suma, a abordagem ao mercado foi excelente e permitiu colmatar da melhor forma a saída de alguns jogadores preponderantes, mas para já os resultados não estão a ser positivos.
Papiss Cissé deverá voltar a assumir-se como a referência do ataque Fonte: BBC
Quem poderá ser fundamental para que o Newcastle consiga sair desta situação complicada é Papiss Cissé. O senegalês, que não jogava desde Abril, bisou no empate frente ao Hull e, apesar de ter feito apenas 15 jogos na última temporada, continua a ser a principal referência ofensiva dos magpies. O goleador deve ganhar a titularidade na frente de ataque, relegando Rivière, que vem sendo opção inicial, para o banco de suplentes. Ayoze Pérez, que chegou a ser associado ao Porto, apenas deverá ter oportunidades nas Taças.
Ainda falta muito campeonato e, pelo menos por enquanto, é impensável que o Newcastle volte a descer de divisão. A equipa ainda tem margem para entrar nos eixos, mas não é crível que Alan Pardew seja o homem certo para fazer com que os magpies voltem ao lugar que merecem. O resultado final desta época dependerá da rapidez da decisão dos dirigentes do clube inglês. Se resolverem evitar ao máximo o despedimento do actual técnico, não deverão aspirar a mais do que a luta pela manutenção; caso substituam o treinador no imediato (ou, pelo menos, num futuro próximo), terão condições para conseguir, no mínimo, um lugar na primeira metade da tabela.
Foi por esta altura que há um ano João Sousa venceu o título do ATP 250 de Kuala Lumpur, primeiro título ATP conquistado por um português. Há poucas horas, foi eliminado na 1.ª ronda do mesmo torneio. Terá sido um ano positivo para o tenista vimaranense? Será que consegue alcançar top 20 mundial?
Depois de uma época de sonho impunha-se ao português que desse continuidade aos excelentes resultados. A verdade é que o ano não começou da melhor maneira e o primeiro resultado digno de registo só apareceu no ATP 500 do Rio de Janeiro, onde apenas perdeu para Rafael Nadal nos quartos-de-final. Depois disso teve boas prestações nos torneios de Acapulco, Indian Wells e Miami. Contudo, a pior fase da temporada chegou e João Sousa somou oito derrotas consecutivas.
A passagem da terra batida para a mini-temporada de relva fez bem ao português, que alcançou a segunda ronda em Halle e ainda “roubou” um set a Roger Federer. Na semana seguinte, confirmou a boa forma apresentada no torneio alemão e chegou às meias-finais no Topshelf Open. Em Wimbledon perdeu apenas para o suíço Stanislas Wawrinka.
O torneio de Bastad marcou o regresso de João Sousa a finais de torneios ATP: perdeu para um super Pablo Cuevas. No verão norte-americano, o português não apresenta quaisquer resultados dignos de registo, exceção feita aos torneios de Cincinnati e ao US Open, onde atingiu a segunda ronda. Por último, a final atingida em Metz representa um enorme alívio para ele, uma vez que tem bastantes pontos a defender até ao final da temporada.
Só David Goffin conseguiu parar João Sousa em Metz Fonte: atpworldtour.com
Na minha opinião, foi um ano muito positivo para João Sousa. Os resultados obtidos representam a afirmação do tenista luso no mundo do ténis. Mesmo que desça uns lugares no ranking por causa da derrota de hoje, isso não mancha a excelente temporada que tem vindo a realizar. Penso que podemos esperar coisas muito positivas no futuro e que o top 30 é um objetivo realista para João Sousa e Frederico Marques. Traçar objetivos como o top 20 ou mesmo o top 10 é demasiado prematuro.
Concluindo, podemos e devemos estar orgulhosos de João Sousa. Mas o português ainda pode melhorar: com um maior controlo mental nos encontros surgirá uma maior regularidade nos resultados ao longo da temporada, o pode levar o vimaranense a voos mais altos.
O ténis português vive os seus dias áureos. Esperemos que assim continue.
Ser portista faz-me ter orgulho em várias (muitas, vá lá) coisas. O relvado do (lindo) Estádio do Dragão é uma delas e afirmo-o poucas horas depois de termos testemunhado histórica (e admirável) recuperação. Os parêntesis são propositados, sim – perdoem-me mas falar de Porto nestes aspectos torna-se impossível se não elogiar tudo o que temos de bom.
Sol de manhã, chuva e trovoada à noite. Perdão, tempestade à noite. E que tempestade! O que os céus preservaram para uma noite de jogo no Dragão é difícil de explicar e ainda mais de compreender – sobretudo se não se tiver testemunhado.
Não há relvado mais bonito em Portugal; não há relvado mais bonito na Península Ibérica e, se houver outro tão bonito quanto o nosso em toda a Europa… Não passa disso mesmo. ‘Tão bonito quanto’. E aqui é importante destacar que o relvado do Estádio do Dragão não é apenas bonito. Brilha, sim, e é bem ‘verdinho’. Mas mais do que isso, aguenta. Aguenta de tudo: equipas indesejadas e, sobretudo e como hoje aqui vos falo, temporais.
Todo o tipo de temporais e como mais nenhum. Segue a resistência implacável da estrutura do estádio. Está comprometido com os adeptos e não os quer desiludir. Suporta todas as gotas de chuva, todas as quedas de granizo, todos os jogos que lá são disputados em noites menos desejadas.
O relvado do Estádio do Dragão enche-me de orgulho. Fá-lo sempre que ligo a televisão e o vejo, verde e a brilhar; fá-lo quando vejo um outro jogo e lamento – com tristeza mais do que tudo, acreditem – que não sejam todos assim; fá-lo sempre que olho para um outro qualquer relvado. O relvado do Dragão faz-me dizer com orgulho que sou portista.
Depois de algum azar e muita tremideira na defesa, o Sporting está de regresso às vitórias. Mas, se a goleada (0-4) contra o Gil Vicente pode ter servido para afastar fantasmas e para ganhar confiança em vésperas de clássico, desenganem-se aqueles que pensam que os problemas já pertencem ao passado. Primeiro, porque é preciso ganhar ao FC Porto para continuarmos a aproximação aos primeiros lugares do campeonato. Segundo, porque o Gil tem mostrado ser uma das equipas mais fracas da liga. Se o Sporting teve, em Barcelos, o mérito de rematar sem medos à baliza contrária (marcando dois golos de rajada que praticamente resolveram o jogo), a verdade é que a má organização gilista também não ofereceu grande luta. Ainda assim, num ou noutro lance tanto Maurício como Sarr voltaram a mostrar que dificilmente poderão fazer dupla na defesa durante a totalidade de uma temporada que se adivinha exigente. O próximo jogo, contra o FC Porto, será um teste muito mais exigente do que o de Barcelos, e ambos os centrais já esgotaram os créditos de erros de principiante. Paulo Oliveira tem qualidade e está à espreita, resta saber se terá a maturidade suficiente para se afirmar na equipa do Sporting…
2) Sporting- FC Porto: duas lutas num jogo só
Jogar contra o FC Porto não é apenas disputar mais um clássico do nosso futebol. É, para além da vontade habitual de conquistar os três pontos, ter a ânsia de derrotar um clube que já tanto prejudicou quer o Sporting quer o próprio futebol português. E como, para utilizar um jargão bem conhecido do desporto-rei a nível nacional, “vocês sabem do que eu estou a falar”, não me alongo mais nos pormenores – o espaço é curto e os episódios são mais do que muitos. Mas deixo aqui uma notícia do Record, escrita em 2007 e relativa à época 2003/2004, que dá conta dos jogos “em que o Sporting era o clube para «martelar»”. O artigo refere que “o Relatório Final da Polícia Judiciária entendeu que os jogos Sporting-Moreirense e Gil Vicente-Sporting tinham indícios de manipulação de resultados praticada pelo FC Porto, mas de tal não resultou qualquer acusação”. Alguns verão estas linhas como uma inútil revisitação do passado; eu vejo-as como algo necessário para compreender o presente e prevenir o futuro. Só a memória impede que tudo o que de mau se passou no nosso futebol seja esquecido, e que o grande protagonista desta e de muitas outras páginas negras lave por completo a sua imagem.
Em jeito de lançamento do SCP-FCP: O jornalista Neves de Sousa escreveu um dia sobre a razão pela qual Pedroto nunca treinou o Sporting, como chegou a estar próximo de acontecer: “Está tudo certo, tanto em relação aos meus prémios, como aos meus vencimentos (…), mas o senhor presidente esqueceu-se de que eu lhe tinha dito logo no primeiro encontro: só vou para um clube que dê garantia de contar com os árbitros”
Sobre o jogo em si, não estou confiante: não só o Sporting tem uma defesa fraca (a antítese do que aconteceu na época passada), sem Rojo e Dier, com um Sarr que caiu de pára-quedas, um Maurício cujo rendimento depende muito do colega de sector, um Jéfferson que tem estado uma sombra do que foi (vamos ver como se porta Jonathan Silva) e um Cédric que procura a melhor forma depois da lesão, como o FC Porto tem estado a jogar muito bem. O empate contra o Boavista foi fortuito e pode até servir de tónico aos dragões. Lopetegui tem rodado bastante a equipa, mas a tremenda forma de Brahimi e o perigo constante que é Jackson Martínez deverão ser suficientes para pôr a cabeça dos defesas leoninos em água. Pede-se, por isso, um ambiente infernal como só os Sportinguistas sabem dar – por muito que alguns meios de comunicação digam que os aplausos de adeptos benfiquistas no Estádio da Luz após uma derrota foram algo inédito em Portugal.
3) Finalmente, um seleccionador…!
Este último ponto não tem directamente a ver com o Sporting, mas é com agrado que o escrevo. Quando se pensava que o melhor jogador português de sempre e um dos melhores de todos os tempos iria passar os seus melhores anos na selecção sem ser treinado por um técnico à sua altura, eis que Paulo Bento é despedido e se abre um vazio na liderança da equipa nacional. Fernando Santos não é um génio, mas é sem dúvida a opção mais acertada de todas as que se falaram. O seu currículo não está recheado de títulos, é verdade. Ainda assim, foi campeão no FC Porto, levou a equipa aos quartos-de-final da Liga dos Campeões em 99/00 (eliminado nos descontos pelo poderoso Bayern), ganhou uma Taça da Grécia com o PAOK e, mais importante do que isso, fez escola nesse país, como provam os 4 prémios de treinador do ano que por lá ganhou.
Em 2002 só não foi campeão com o AEK por infelicidade (terminou com os mesmos pontos do Olympiakos). Em 2004 era ele o treinador da equipa do Sporting que foi comprovadamente prejudicada pelo FC Porto e impedida de chegar ao título, como diz a notícia a que aludi no ponto 2). Enquanto seleccionador helénico, Fernando Santos foi responsável pela chegada da equipa aos quartos-de-final do Euro 2012, dando dois anos depois aos gregos a primeira vitória de sempre em Mundiais, à qual juntou ainda a presença inédita nos oitavos. As suas equipas são por norma adultas, competentes e organizadas tacticamente – a mesma organização que Portugal nunca esteve sequer perto de apresentar no Mundial do Brasil.
Tudo isto para dizer que a selecção portuguesa mudou para melhor. Fernando Santos é um treinador capaz e parece ser um homem sério. Partindo do princípio de que não cai nas garras do obscuro Jorge Mendes (a propósito, o artigo que o The Guardian escreveu sobre esta figura que tanto mal tem feito ao futebol não pode deixar de ser lido), haverá uma série de jogadores da melhor escola de formação do país e uma das melhores do Mundo – a do Sporting, pois claro – que terão, a curto prazo, oportunidade de mostrar serviço na selecção. Uma oportunidade que jogadores como Adrien e Cédric já merecem há bastante tempo e que João Mário, Carlos Mané e André Martins poderão conquistar a curto/médio prazo. Duvido que Fernando Santos proceda a um corte radical com o legado de Paulo Bento, mas acredito que, na hora de chamar jogadores à selecção, olhe menos a empresários e mais à qualidade, à forma dos atletas e aos minutos por eles disputados. Se isso acontecer, mesmo tendo perdido com a Albânia em casa, o Europeu de França nunca esteve tão perto.
Caso Fernando Santos não ceda à tentação de entrar na órbita de Jorge Mendes, Cédric e Adrien Silva passarão a ser, a partir de agora, presenças regulares na selecção nacional. Mas há mais produtos da formação do Sporting à espreita… Fonte: cedric-soares.blogspot.com
A adversidade é uma das melhores oportunidades que existem na vida para se aprender a vencer. É ela que nos dessensibiliza para certas crueldades e injustiças e nos ajudando a criar o carácter e a personalidade quem serve de escudo para as enfrentar.
Ter lidado com momentos menos bons pode, por isso, ser uma das melhores vantagens que qualquer pessoa pode ter sobre outra, sobretudo nos tempos de comodismo em que vamos vivendo. É como se se tivesse adquirido uma espécie de imunidade especial à dor e ao desconforto que lhe permite progredir de forma mais esclarecida e menos complexada rumo à melhor forma de um ser humano.
Não precisamos de andar muito para trás no tempo de forma a encontrarmos um exemplo relacionado com o que é referido nestes dois primeiros parágrafos: Aston Villa vs Arsenal do passado sábado.
O Arsenal teve um dos mais testes mais difíceis deste início de temporada no passado sábado, no Villa Park, e não foi só por causa do adversário. Esse (Aston Villa), é certo, tem assinado um início de campeonato irrepreensível, somando 10 pontos em 15 possíveis, incluindo 3 “roubados” no campo do vice-campeão nacional inglês (Anfield Road, Liverpool)… mas esse estava longe de ser o único problema dos gunners.
A equipa encontrava-se com uma série de problemas à partida para este jogo. Começando logo na (gritante) falta de uma identidade de jogo que permita incorporar a electricidade de Sanchez, o génio de Özil e o músculo de Welbeck e terminando, claro está, nos resultados menos positivos que a equipa vinha obtendo até então: somava apenas uma vitória no campeonato (em quatro jornadas), três triunfos em jogos oficiais (em sete possíveis) e encontrava-se numa série de três jogos sem vencer, consentindo empates a Leicester e Manchester City (este, nos últimos minutos, num encontro disputado no seu reduto) e perdendo, em Dortmund, diante do Borussia, para a Liga dos Campeões.
Özil com mais um passe rumo à reacção do Arsenal Fonte: Getty Images
Como se não bastasse, do ponto de vista teórico, não teria vida fácil pois iria encontrar uma das sensações do campeonato inglês, o Aston Villa, e logo no seu reduto, uma equipa que só sabia estar nos encontros desta competição de duas formas – empatada ou a vencer -, fazendo de uma defesa experiente e consistente (liderada pelos “guerreiros” Vlaar e Senderos e auxiliada por dois laterais com boa cultura defensiva – Cissokho e Hutton) a pedra basilar das boas performances que vinha a assinalar até então.
Vlaar lesionou-se, mas a equipa até soube reagir à perda do capitão, com Baker, o seu substituto directo, a ser mesmo considerado o homem do jogo no encontro de Anfield Road… mas aí, começaram a vencer cedo (9 minutos), e os processos que tiveram de resolver durante o encontro tinham como pano de fundo uma situação (vitória ou empate) com a qual a equipa já sabia lidar.
No último sábado, pela primeira vez, a equipa do Villa viu-se em desvantagem. Aconteceu aos 32 minutos, numa jogada de saída rápida do Arsenal em que se notou a identidade de jogo que Wenger costuma impôr às suas equipas, com passe curto e objectivo (e toda uma dinâmica posicional em seu redor), até se chegar aos últimos 30 metros contrários e finalizar mal haja hipótese.
Cinco minutos depois o resultado estava 3-0, e durante o resto do jogo o Aston Villa foi uma equipa completamente diferente daquela que deliciara os seus adeptos nas primeiras quatros jornadas. Desapareceu toda uma segurança e firmeza do seu futebol para se dar lugar ao desespero e ao medo de falhar. O Arsenal soube esperar pela vitória que lhe andava fugida, o Aston Villa, por não ter aprendido a lidar com o fracasso, desnorteou-se.
No Villa Park, no passado sábado, o futebol pôs-se a imitar a vida. A servir de amostra, e, por isso, de ensinamento. Como tantas vezes faz.
Quem apostasse num resultado que não a vitória do FC Porto esta noite, no dérbi frente ao Boavista, era considerado quase louco ou então muito crente num milagre axadrezado no relvado do Dragão. Bom, o que é facto é que o milagre aconteceu, e o Boavista conseguiu um precioso ponto no recinto portista, provocando a segunda perda de pontos consecutiva à equipa de Lopetegui no campeonato.
Num jogo que começou com 45 minutos de atraso devido ao dilúvio que se abateu sobre a cidade do Porto, Lopetegui continuou a sua gestão e alterou seis peças relativamente ao onze que havia goleado, na última quarta feira, o BATE Borisov: saíram Fabiano, Alex Sandro, Martins Indi, Casemiro, Ádrian e Ricardo Quaresma para as entradas de A. Fernández, Marcano, J. Ángel, R. Neves, Evandro e Tello. Do outro lado estava um Boavista sem ponta-de-lança fixo e com um sistema de três centrais e dois médios defensivos, o que fazia antever uma equipa de tração atrás no dérbi. Num jogo de sentido único, Brahimi e Tello procuravam ser os dinamizadores do ataque portista, mas o que é facto é que a equipa boavisteira raramente deu espaços para Herrera e Evandro construírem jogo ofensivo.
Por isso, e apesar do primeiro ameaço à baliza de Mika por parte de Tello, o Boavista continuava fechado na sua “casa tática”. Como é hábito neste tipo de jogos, parecia adivinhar-se que, mais tarde ou mais cedo, a muralha preta e branca iria desabar, mas tudo se alterou quando, a meio do primeiro tempo, o defesa central Maicon decidiu borrar completamente a pintura. Numa entrada completamente desnecessária e violenta sobre Correia, o defesa viu o cartão vermelho, levando ao desespero uma equipa portista que, a partir daquele momento, sabia que a tarefa de derrubar o Boavista iria ser muito mais complicada.
A expulsão de Maicon marcou inevitavelmente a partida Fonte: zerozero.pt
Com mais um homem em campo, Petit retirou o central Carlos Santos para colocar o extremo Brito, mas nem por isso os axadrezados criaram perigo à baliza portista. Aliás, durante toda a partida, destaque apenas para uma oportunidade aos 44 minutos por Correia. Do lado portista, Jackson e Rúben Neves foram protagonistas de oportunidades desperdiçadas, numa primeira parte em que os azuis e brancos tiveram quase 80% de posse de bola.
Na segunda parte, nada de novo: Boavista completamente remetido à sua defesa e um FC Porto inconsequente na hora de finalizar. Com Tello completamente apagado e Brahimi desinspirado, a retirada de Evandro para a entrada de Casemiro deu mais equilíbrio aos portistas. Ainda assim, contínuos lances de perigo junto da baliza de Mika durante o segundo tempo não foram suficientes para o FC Porto vencer o dérbi portuense. Do lado do Boavista, este foi um empate que soube a vitória e que premeia a solidariedade dos comandados de Petit. Quanto aos portistas, já vai em dois pontos de desvantagem para o Benfica, e na próxima jornada vem o jogo em Alvalade. O futuro não é risonho, e hoje tudo se complicou ainda mais devido a um homem: Maicon. Agradeçam-lhe o empate.
A Figura
Mika – O guarda redes internacional sub-21 português fez uma excelente exibição no Dragão e acabou por segurar a igualdade durante os 90 minutos.
O Fora-de-Jogo
Maicon – A expulsão tem tanto de desnecessária como de ridícula. Os adeptos bem podem agradecer ao central brasileiro a perda de dois pontos esta noite.
Quem olhar para o resultado final desta partida nem sonha como foi difícil para o Benfica levar de vencida um Moreirense extremamente competente e muito bem orientado pelo técnico Miguel Leal. Resultado justo, sem margem para dúvidas, mas que não apaga algumas debilidades evidenciadas pelos comandados de Jorge Jesus, principalmente na primeira parte.
O Benfica entrou em campo com a equipa habitual, exceptuando a alteração na baliza, como de resto já se adivinhava. Júlio César, guarda-redes consagrado, roubou a titularidade a um Artur Moraes que se vinha perdendo em exibições angustiantes. Mas quando se esperava que os encarnados entrassem com tudo, tentando resolver desde cedo a partida, passou-se exactamente o contrário. Com um futebol lento, previsível, sem imaginação, o Benfica viu-se completamente manietado por uma equipa minhota que demostrou ter ido à Luz com a lição bem estudada. Com marcações rígidas, em que se destacou um autêntico bloqueio aos médios Samaris e Enzo Pérez, o Moreirense anulava quase a bel-prazer as investidas do campeão nacional, que também não pôde contar com a costumeira inspiração de Salvio e Nico Gaitán, muito mais apagados do que é habitual. Situação que piorou ainda mais quando João Pedro, aos 17 minutos de jogo, inaugurou o marcador para a formação de Moreira de Cónegos, após uma grave desatenção de Eliseu, que permitiu que o adversário fugisse nas suas costas. Claro está, Jorge Jesus estava insatisfeito com a sua equipa e com o rumo que o jogo estava a tomar, tendo por consequência disso efectuado logo uma substituição aos 35 minutos (caso raro em JJ, diga-se), com a troca de Samaris (muito discreto) por Derley. O avançado ex-Marítimo entrou para acompanhar Lima no ataque, ao passo que Talisca recuou para o meio-campo, fazendo parelha com Enzo Pérez. Mesmo assim, as coisas não se alteraram muito e só nos últimos instantes do primeiro tempo é que o Benfica deu um ar da sua graça.
Lima de regresso aos golos, para seu próprio alívio Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica
Na etapa complementar, atitude completamente diferente do Benfica. Muito mais ritmo, pressão muito maior, jogo de maior risco, Os 37 mil espectadores presentes na Luz entusiasmaram-se, o campeão nacional agigantou-se, o Moreirense sentiu o perigo. Porém, foi aos 57 minutos que seu o momento-chave da partida. Marcelo Oliveira, defesa do Moreirense, foi expulso por acumulação de amarelos e aí mesmo o jogo passou a ser de sentido único. O massacre começou, o golo do Benfica parecia uma questão de tempo até surgir. E foi à lei da bomba que ele apareceu, através de um soberbo remate de Eliseu, que assim também se redimiu um pouco do enorme falhanço posicional dos primeiros 45 minutos, que deu origem ao golo do Moreirense. Com o público em êxtase, o Benfica prosseguiu o sufoco para a turma minhota, que sentia que estava condenada a sair derrotada do Estádio da Luz. Maxi Pereira carimbou o 2-1, fazendo respirar de alívio toda a nação benfiquista. A partir daí, mais algumas oportunidades de golo para o Benfica, até que Lima matou o seu jejum de golos, que já o vinha atormentando (como ele fez questão de demonstrar através dos festejos), na marcação de uma grande penalidade, que não existiu.
Contas finais, tudo normal. Benfica a vencer como se lhe exigia, a isolar-se provisoriamente no primeiro lugar do campeonato e a continuar de mão dadas com a massa adepta (simplesmente fantástica a atmosfera na Luz, no segundo tempo). Contudo, as palavras finais devem ser dirigidas para este Moreirense. Jogando assim, com esta cultura táctica e também com algum atrevimento, dificilmente esta equipa descerá de divisão. Muito mérito para Miguel Leal, que, com parcos recursos, parece ter todas a competência para levar este conjunto a bom porto.
A Figura Golo de Eliseu – Simplesmente extraordinário o remate do lateral-esquerdo encarnado, dando origem a um tento de bandeira. E importa não esquecer: já é o segundo golo de Eliseu neste campeonato através de remates de meia-distância. Claramente um trunfo para Jorge Jesus explorar. Golaço!
O Fora-de-Jogo Samaris – É claramente um grande jogador, que ainda vai dar muito ao Benfica. Mas é notório que o médio internacional grego não se sente totalmente integrado na dinâmica de jogo do campeão nacional (o que acaba por natural). Hoje esteve muito preso à marcação, falhando inúmeros passes, daí a sua precoce substituição.
No momento em que as orquestras começaram a ganhar notoriedade na sociedade ainda não existia a figura do regente. O maestro, leia-se! Fosse pelo tamanho reduzido dos grupos orquestrais (normalmente não mais que 20 ou 30 músicos) ou pela menor complexidade rítmica, normalmente não era necessária a regência. Estima-se que tenha sido apenas no século XVII que houve um primeiro homem responsável por decisões de interpretação como andamento, carácter, marcação do tempo e das entradas mais importantes durante a execução em palco. E já viram como há tantas semelhanças entre a música clássica e o futebol?
Marco Silva mudou pouco – menos do que o necessário, na minha opinião – mas mudou na parte do campo mais importante. Colocou João Mário por André Martins e toda a equipa ganhou uma dimensão diferente. O regresso das boas exibições de Adrien também ajudou, mas foi mesmo o nº 17 dos leões a possibilitar o controlo do jogo ao Sporting. No fim, vitória por quatro mas até poderia ter sido por mais. O demérito do Gil Vicente não pode, ainda assim, ser excluído da análise.
O jogo começou de feição para o conjunto de Marco Silva, que, após uma (das raras) boas intervenções de Slimani na manobra ofensiva, viu Adrien fazer um grande golo de fora da área. A confiança subiu e o Gil estremeceu. Pouco tempo depois, novamente Adrien a combinar bem com Nani, que fez mais um excelente golo, outra vez de longe. Apesar de cedo no jogo, o Sporting justificava a vantagem. Jonathan Silva, a outra alteração no 11, dava bastante profundidade pela esquerda; Adrien, João Mário e Nani iam fazendo do jogo o que queriam e se ao intervalo a vantagem não era bem maior, Marco Silva só se podia queixar do pouco jeitinho de Slimani e da cabeça sempre baixa de Capel.
Não é difícil melhorar a qualidade deste Sporting Fonte: zerozero
E a defesa?, pergunta quem tanto contestou a análise que fiz no último fim-de-semana. A defesa pouco teve de defender, dirá a maioria. Graças a Deus, respondo eu. Mas ainda assim é inaceitável que, num jogo tão tranquilo, Maurício seja capaz de falhar (pelo menos) dez passes – que contei. Parecendo que não, este dado significa que o Sporting atacou menos dez vezes. E dez são muitas vezes! Sarr esteve mais tranquilo, também arriscando menos, como fariam os mais experientes (?!) em situação de pressão.
No início da segunda parte o jogo mudou um pouco. É natural, ora. Poucos maestros dominam a totalidade do espectáculo na sua estreia. A equipa da casa tentou subir linhas, explorou mais os seus melhores jogadores (Diogo Viana e César Peixoto) e foi pelo menos tentando mais do que nos primeiros 45 minutos. Ainda assim, sem nenhuma real ocasião de golo. Saiu William por Rosell – gosto bastante deste rapaz! – e o Sporting, aos poucos, foi aproveitando o espaço de que dispunha. É isso que acontece quando há jogadores que procuram, sem bola, o espaço para explorar, recebem, protegem, procuram a melhor linha de passe e entregam jogável. E melhor do que juntar João Mário a Nani só juntar João Mário a Nani e Montero. Fico à espera, Marco! Não te deixes enganar pelo golo do Slimani, que até o mais limitado dos músicos acerta algumas notas quando orientado pelo melhor maestro. E já disse que há semelhanças entre a música clássica e o futebol, não já?
Depois entrou Carrillo por Capel e Montero por Slimani – eu aplaudi em casa! – e a equipa acabou por fazer o quarto. Podia acabar aqui, mas deixava passar o pormenor que separa os bons dos melhores. A capacidade de decidir bem no contexto específico que só é possível a quem sabe ver o que o rodeia. Em casa, quando o João Mário recebeu isolado na grande área, gritámos todos “remata!”. Mas o maestro disse olá. Neste caso, a Carrillo. Foi assim hoje; mas há que dar ao maestro os melhores músicos ou a orquestra há-de desafinar.
A Figura
João Mário – Não preciso de falar mais dele, pois não? Luís Freitas Lobo bem disse que ele hoje comprou gamebox para a época inteira. Mas não é para a bancada.
O Fora-de-jogo
Gil Vicente – A equipa de José Mota vai precisar de melhorar muito se ambiciona manter-se entre os melhores no próximo ano. Há jovens com muita qualidade por aí perdidos, digo eu a quem acho que não tem mundos e fundos para gastar em reforços.
O início da temporada fazia adivinhar um AC Milan mais forte, capaz de olhar a tricampeã de Itália nos olhos. E assim foi. A Juventus sem Pirlo e sobretudo sem Vidal não conseguia dominar o meio-campo, e a verdade é que nos primeiros 20 minutos o jogo foi dos rossoneri, que tiveram mais posse e causaram mais perigo. O holandês De Jong e principalmente o ganês Muntari emprestaram muita força física e raça aos duelos no meio-campo, o que causou dificuldades na construção de jogo a Marchisio e Pereyra, reforço de verão proveniente da Udinese. No entanto, após um lance de perigo através de Llorente (32º minuto), a Juventus amedrontou os homens de Inzaghi e isso fez com que os milaneses baixassem as linhas de pressão. A partir daí, e até ao intervalo, a Juventus teve um grande ímpeto atacante e por várias vezes poderia ter chegado ao golo, não fosse o experiente Abiatti. No início da segunda parte o jogo voltou a equilibrar-se, assumiu um ritmo mais lento e voltou maioritariamente a disputar-se no meio-campo.
O AC Milan ressentia-se da ausência de uma referência clara na frente de ataque e da falta de inspiração de jogadores como El Shaarawy ou Keisuke Honda. A Juventus começou a dominar o meio-campo, sobretudo porque Pogba começava a assumir-se progressivamente como o senhor desse território, e aos 71 minutos assistiu Tévez, que com classe desviou para o fundo das redes e fez o único golo da noite no San Siro.
Tévez fez o único golo da partida Fonte: Juventus
Após o golo, a equipa transalpina recuou as linhas e apostou essencialmente no contra-ataque, causando perigo com alguma frequência. Filippo Inzaghi tentava reagir e colocou em jogo Fernando Torres e Pazzini para os lugares de Poli e Honda, respetivamente. Massimo Allegri, de regresso ao estádio que foi a sua casa no ano passado, fez também entrar Vidal, que regressou aos relvados após lesão, e pouco depois Rômulo, médio brasileiro emprestado pelo Verona. Contudo, o Milan manteve-se incapaz de alterar o resultado, mesmo depois da entrada de Bonaventura, um jogador a acompanhar neste novo AC Milan. O resultado acabou por ser justo, visto que a Juventus teve mais oportunidades de golo e esteve sempre mais perto da vitória, apesar de não ter havido um domínio sobejo por parte de nenhuma equipa.
A Figura
Paul Pogba – o francês fez a assistência para o golo de Tévez, desequilibrou quando pegou na bola, fez bons passes e foi o jogador que mais qualidade demonstrou em campo.
O Fora-de-Jogo
Stephan El Shaarawy – o “faraó de Milão” não mostrou a irreverência, a técnica e a imprevisibilidade que tanto o caracterizam e fazem emocionar os adeptos rossoneri. A sua equipa ressentiu-se muito disso, e por isso merece este destaque negativo.