Correndo o risco de ofender os fãs de El Pibe, foi mesmo com Diego Armando Maradona que José Mourinho (e depois vários adeptos) compararam Eidur Gudjohnsen. Não tendo chegado perto do nível do craque argentino, o avançado nórdico deixou a sua marca em mais do que um grande europeu e também na sua seleção, sendo quase unanimemente considerado o melhor futebolista islandês da história.
Eidur Smari Gudjohnsen nasceu a 15 de setembro de 1978 em Reiquiavique, cidade onde fez a sua formação e estreia no plantel sénior ao serviço do Valur. O seu talento foi rapidamente descoberto e seguiu-se uma mudança para o PSV, onde partilhou balneário com Ronaldo “Fenómeno”. No entanto, uma lesão no tornozelo acabou por levar o islandês de volta a casa para alinhar por outro clube da capital, o KR, por empréstimo do emblema de Eindhoven.
Mais uma vez, o Ice Man não tardou a despertar as atenções e foi contratado pelo Bolton Wanderers, na fase inicial da época 1998/1999. Na época seguinte registou 21 golos e, depois do clube falhar a subida à Premier League (pela segunda época consecutiva), Gudjohnsen foi vendido ao Chelsea a preço de saldos.
Nos azuis de Londres, foi apresentado ao mesmo tempo que o seu maior aliado na frente de ataque, durante quatro temporadas: Jimmy Floyd Hasselbaink. Com estilos distintos, mas complementares, os dois avançados pareciam comunicar por telepatia. Hasselbaink destacava-se pela potência e agressividade enquanto Gudjohnsen demonstrava uma maior técnica e agilidade. Desta parceria resultaram 52 golos na época 2001/02.
Gudjohnsen conquistou dois troféus da Premier League ao serviço do clube londrino (2004/05 e 2005/06) e foi uma das peças fulcrais para o sucesso da primeira passagem de José Mourinho. O treinador português reconhecia o toque de bola e visão de jogo do avançado islandês e utilizou-o numa posição ligeiramente mais recuada, o que veio demonstrar a sua grande versatilidade.
263 jogos e 78 golos mais tarde, depois de perder algum espaço no plantel do Chelsea, abandonou Inglaterra para rumar à Catalunha. Em Barcelona, alinhou junto a estrelas como Ronaldinho Gaúcho e Lionel Messi.
Dada a qualidade do plantel, a presença no 11 titular não foi tão frequente como a sua qualidade justificava. Conquistou o triplete em 2008/09 com as vitórias na Liga dos Campeões, Taça do Rei e La Liga num papel de menos destaque, mas ainda assim importante, já que a sua polivalência lhe permitia colmatar lacunas em várias zonas do terreno.
Uma fase final de carreira com um quê de “nómada” levou o islandês a alinhar por vários clubes, incluindo Mónaco, AEK, Cercle Brugge e Club Brugge. Terminou a carreira no Molde da Noruega, em 2016.
Pela seleção islandesa, Gudjohnsen realizou 88 jogos e apontou 26 golos. Foi um dos jogadores fundamentais no crescimento do futebol do seu país e viu o seu mérito ser recompensado com a presença na sua primeira grande competição internacional, o Euro 2016, já com 37 anos.
Participou como suplente em apenas duas partidas, sendo uma delas o jogo dos quartos de final frente aos anfitriões, naquele que viria a ser o seu adeus ao futebol internacional.
Foi eleito o jogador islandês do ano por sete ocasiões e tornou-se uma lenda de um país que continua a não ter a maior tradição no desporto rei, mas que tem vindo a crescer na última década. Os três filhos de Eidur jogam profissionalmente e tentam seguir as pisadas do pai e do avô, duas das maiores estrelas no panorama desportivo de um dos países menos populosos da Europa.