«Nos próximos quinze anos vai ser Rúben Dias e mais um na defesa da Seleção» – Entrevista BnR com Tonel

    «Eu senti que as pessoas já não me queriam com a mesma força»

    Bola na Rede: Quando e como é que percebes que a tua caminhada de cinco anos no Sporting chegou ao fim?

    Tonel: Foi como teve que ser. Quando terminou a chamada “Geração Paulo Bento”, no meu quinto ano, foi um ano muito complicado. Portanto, começamos com o Paulo Bento, depois saiu, veio o Carlos Carvalhal, depois era o Sá Pinto Diretor Desportivo, depois veio o Costinha, o treinador do Costinha para a época seguinte não era o Carlos Carvalhal, mas o Carlos Carvalhal ainda estava no Sporting, ou seja, o clube também em termos de resultados não foi um bom ano, houve muita instabilidade no clube nesse ano, foi um ano difícil. O que me disseram na altura, durante as férias, e eu tinha só mais um ano de contrato, foi que se eu arranjasse um clube que fosse melhor para mim, uma vez que tinha 30 anos, que fosse melhor para mim em termos de carreira e financeiro também, estavam disponíveis para me deixar sair. Eu senti que as pessoas já não me queriam com a mesma força. Se eu ficasse, se não conseguisse nada que eu quisesse, que me motivasse para sair, ia ficar mais um ano de Sporting. Agora, ia ficar, mas senti que não ia ficar da mesma forma que tinha estado até então, as pessoas não me queriam na totalidade. Se ficasse possivelmente não ia ser muito opção, e pronto, eu respeitei isso, e surgiu ir para a Croácia, para o Dinamo Zagreb. Em termos de campeonato, senti que era abaixo daquilo que era o campeonato português, mas também era uma hipótese em termos financeiros, era melhor, e era uma hipótese de ir ao estrangeiro, de perceber outra cultura, de sair daqui, de experimentar outra coisa, numa carreira que a gente sabe que é curta. Então ter uma experiência diferente poderia ser um bom aliado ao facto de financeiramente ser melhor, porque no Sporting naquela altura tinha algumas dificuldades, dificuldades para contratar, e também cheguei ao Sporting vindo do Marítimo, ou seja, nunca tive um salário no Sporting, digamos assim, do meio para cima, tive sempre do meio para baixo. Saí também porque nós sabemos que a carreira é curta e sabemos que temos que olhar para a nossa vida. Eu percebi que as pessoas não me queriam com a força que me quiseram antes, eu percebi que me estavam de certa forma a abrir a porta. Convidaram a sair, mas disseram que: “se não arranjares nada, se não quiseres, ficas aqui”, mas isso pronto, no fundo é dizer quase que: “ok a gente quer que saias, mas se não saíres olha tens mais um ano”. Até quando saio, é o Paulo Sérgio o treinador, e ele despediu-se de mim, depois falou de mim numa entrevista que ele deu logo a seguir a dizer que eu treinei durante um mês com a equipa, disse que era um grande profissional, que gostou de trabalhar comigo. Eu lembro-me das palavras dele, que eu era um profissional de mão cheia, e se há coisa que eu me orgulho sempre, é isso, ser profissional, ser sério, dar o meu máximo. Percebi que naquele mês, mesmo as portas estando abertas, se por acaso não quisesse sair, nesse mês que trabalhei com o Paulo Sérgio, se tivesse que ficar ficava, não ia era provavelmente ser primeira opção. Houve possibilidade, eu saí. Saí, fui para outra experiência.

    Bola na Rede: Disseste que o campeonato croata era um nível mais baixo…

    Tonel: Sim, não tinha dúvidas disso, mas percebi que ia continuar a jogar na Liga Europa, no mínimo, e foi o que aconteceu. No primeiro ano que cheguei lá, o clube já se tinha qualificado para a fase de grupos da Liga Europa, fiz inclusive o primeiro jogo em casa com o Villarreal, no inicio de setembro, foi o segundo jogo que eu fiz, ganhamos, na altura era um Villarreal forte, ou seja, tive ali dois anos e meio… “ahh”…depois no segundo ano, na época a seguir, e na outra a seguir, eu fiz a pré-época e o Dinamo entrou na fase de grupos da Liga dos Campeões. Eu joguei duas épocas com o Dinamo na fase de grupos da Liga dos Campeões, foi ótimo para o clube em termos financeiros e para mim também, principalmente o primeiro ano, porque continuei a jogar na Liga dos Campeões mesmo sabendo que a dificuldade do Dinamo na Liga dos Campeões era muita. Apanhamos também equipa difíceis, Real Madrid, Ajax… isso aí é difícil para um clube que joga numa liga que não é tão competitiva e tão boa como a nossa.

    Bola na Rede: Apesar de não ser uma liga tão competitiva, internacionalmente é um país que lança muitos bons jogadores. Jogaste com o Kovacic, por exemplo…

    Tonel:  Sim, joguei. O Kovacic estava a subir dos juniores para os seniores, era um miúdo muito humilde, muito simples, acanhado, metia-se no cantinho dele, não falava para ninguém, muito tímido, mas bom miúdo. Via-se que era alguém educado, prestável. Os croatas no geral demoram um bocadinho a ganhares a confiança deles, mas depois são pessoas muito dedicadas e dadas, eu gostei muito de estar lá. Foram anos, em termos pessoais e familiares, um bocadinho mais complicados. Fui para a Croácia e passado uma semana vim cá e a minha mulher teve o terceiro filho. Eu tive com o meu filho oito horas, e no outro dia às seis da manhã, ou seja, a minha mulher foi-me buscar ao aeroporto às seis da tarde, teve o meu filho, imagina às oito da noite, e eu dormi às seis da manhã no dia seguinte. Fui para a Croácia e tive um mês sem ver o meu filho e a minha mulher. Sem ver, isto é, via pela net, mas não é a mesma coisa. Só passado um mês é que os meus filhos e a minha mulher foram lá ter comigo. Custou-me um bocadinho e os meus outros dois filhos também nunca se adaptaram muito bem, ir para uma nova escola, ir para uma escola americana, tiveram dificuldades de adaptação, de saírem do mundo deles, mas fez parte do crescimento, foi uma experiência para eles, mas não posso dizer que eles adoravam estar lá.

    Bola na Rede: É verdade que uma empregada doméstica dá uma ajudinha na tua transferência para o Dinamo? Queres contar? 

    Tonel: Sim, isso vim a saber depois. O treinador era o Halilhodzic e foi ele que me foi buscar. Ele tinha uma empregada doméstica que era portuguesa, e então, como ela estava mais atenta ao futebol português, quando surgiu o nome, ela disse que sim, que gostava muito de mim, e que acho que ela até era sportinguista (risos). De certa forma ajudou, entre aspas, a que ele decidisse por mim.

    Bola na Rede: A dificuldade de adaptação da tua família, a própria distância para Portugal, acelerou a tua saída do Dinamo?

    Tonel: Não, não, eu tinha dois anos e meio de contrato e cumpri até ao fim. Até três meses até final do contrato as coisas foram espetaculares, fomos duas vezes campeões nacionais, a terceira também embora não acabasse, mas joguei alguns jogos até dezembro, mas depois o problema aconteceu no final de setembro, em que o Dinamo me chama para renovar e eu não quis. A partir daí passou uma relação de amor/ódio porque eles gostavam e sentia que o presidente, as pessoas do clube, os meus colegas… sentia-me acarinhado por todos, e criei boa relação com todos. A partir do momento que digo que não quero ficar, acho que pronto, principalmente o presidente e o treinador não aceitaram muito bem. Depois houve um desaguisado entre mim e o treinador. O treinador disse que eu já não estava focado, mas só disse isso depois de eu dizer que não queria renovar, pronto. Esteve ali mal em termos públicos, dizer que não estava focado, não treinava igual, não estava ali com a cabeça, e pronto, não me disse nada a mim pessoalmente, esteve a dizer coisas na comunicação social que não corresponderam à verdade. Depois eu não devia ter feito isso, mas na altura achei que devia fazer também publicamente. Fui dizer que não teve carácter e que devia ter dito na cara. Foram coisas que não deviam ter acontecido, acho que o treinador teve mal, eu também tive mal, se fosse hoje não fazia, mas que fizeram parte. Ainda hoje falo com pessoas do clube, e com jornalistas também, com pessoas que estão dentro do clube, e dou-me bem com toda a gente. Acabei por terminar o contrato. Estive dois meses mais ou menos sem jogar e a treinar com os juniores, e vim para cá.

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    João Pedro Gonçalves
    João Pedro Gonçalveshttp://www.bolanarede.pt
    Quem conhece o João sabe que a bola já faz parte dele. A paixão pelo desporto levou-o até à Universidade do Minho para estudar Ciências da Comunicação. Tem o sonho de fazer jornalismo desportivo e viver todos os estádios.