«Nos próximos quinze anos vai ser Rúben Dias e mais um na defesa da Seleção» – Entrevista BnR com Tonel

    «Os meus colegas diziam: “já vais  para o Sporting CP e não dizes nada, já assinaste”, e eu, “não sei nada, como é que isto sai assim”»

    Bola na Rede: Lembraste da sensação da subida de divisão pela Académica, como foi?

    Tonel: Lembro-me. Foi ótimo, ainda por cima, quando subi de divisão lembro-me que em junho tinha o Campeonato da Europa de Sub-21, ou seja, só não foi bom porque eu parti um pulso no último ou penúltimo jogo da Académica e fui para o Campeonato da Europa com o pulso partido. Deu para jogar na mesma, mas estava limitado na mão. Mas a sensação de subir um clube como a Académica foi ótima, é o que eu digo, o que se passava à volta da equipa, o que rodeava a equipa, a paixão que se via nos adeptos e toda a forma como a cidade se envolvia com o clube de uma maneira positiva. Portanto, dar essa felicidade a quem nos rodeava, era ótimo. Enquanto profissional também foi subir um patamar, passar de uma segunda liga para uma primeira.

    Bola na Rede: Dizes que estavas bem na Académica. Quando aparece o Marítimo, sentiste que estavas a precisar de um novo desafio? Porquê o Marítimo?

    Tonel: Senti que era mais um degrau. Como te disse, comecei com as dificuldades todas na formação e depois era degrau a degrau: CNS, depois segunda liga, depois lutar por subir, depois subir e depois lutar por não descer na Académica. Quando surgiu o Marítimo, e o Marítimo naquele ano, quando vou para lá, tinha-se pré-qualificado para a Liga Europa, e é no ano em que o Pepe vem para o Porto, e vou eu, o Ferreira e o Evaldo. E eu, pronto, mais uma oportunidade, não passamos à próxima fase por um bocadinho com o Rangers, acho que ganhamos 1-0 na Madeira e perdemos lá 1-0 mesmo no final. Fomos a penaltis, lá em Glasgow, e o Rangers ganhou-nos em penaltis. Mas pronto, quando fui para o Marítimo poder disputar essa possibilidade e ir para um clube que luta pela Liga Europa para mim foi ótimo. Só não gostava muito da Madeira era do avião, quinze em quinze dias para vir jogar ao continente. Há medida que o tempo foi passando fui-me entregando.

    Bola na Rede: Acabas por não voltar ao FC Porto. Teres feito lá a formação e não teres voltado, era algo que gostavas de ter feito, jogar na equipa principal do Porto?

    Tonel: Não, não, não me entristece, sinceramente. A vida é mesmo assim, feita de trajetos e percursos, e eu tenho a noção que quando saí do Porto para o Marítimo, o Pepe era melhor do que eu, e felizmente fez uma carreira em grande. Eu senti que mesmo saindo da Académica ainda não tinha espaço no Porto, tinha que fazer o meu percurso por fora. Depois quando saio para o Sporting, tinha contrato com o Porto mais um ano e rescindi com o Porto, ia assinar com o Marítimo dois anos, e nem cheguei a assinar porque, entretanto, apareceu o Sporting. Por isso, as coisas foram assim muito rápidas, e pronto, aconteceram e não fiquei triste nem ressabiado com ninguém. O trajeto foi o que se proporcionou.

    Bola na Rede: Com 24 anos apanhas treinadores como o João Alves, Manuel Cajuda, Vítor Oliveira, Artur Jorge, Ilídio Vale, qual deste, entre outros, o mais especial até chegares ao Sporting. 

    Tonel: … o João Alves, o João Alves porque eu quando chego à Académica está lá um treinador marroquino e depois os resultados não correram bem e o João Alves pega na equipa. Eu senti que ele me ia dar as oportunidades, eu pedi-as no treino, ninguém dá ninguém, a gente tem que fazer pela vida, mas o João Alves de certa forma é que teve a coragem, essencialmente isso, coragem e força de me lançar na equipa principal e apostar nos jovens. Foi aí que começou esse percurso para um nível diferente. João Alves foi muito importante nisso. Depois tive outros treinadores, aliás, tirando um ou dois que não gostei tanto de trabalhar, tive mais de vinte treinadores e guardo boas recordações de todos. O João Alves foi importante para mim, assim como o Mariano Barreto. O Manuel Cajuda leva-me para o Marítimo, fico-lhe grato como é óbvio, mas depois quando entra o Mariano Barreto, não sei, ensinou-me coisas que outros não me tinham ensinado, talvez por ser ligado à formação, tinha uma sensibilidade diferente. Eu era alguém muito focado, muito dedicado, muito cumpridor, fazia o meu trabalho o melhor possível. Mas o Mariano Barreto de certa forma libertou-me um bocado. Coisas simples, dizia-me: “Tonel não tens que ganhar os duelos todos, quando não conseguires antecipar fica nas costas, não deixes virar”, e eu antigamente era aquele que se o ponta de lança tocasse na bola e conseguisse dominar o treinador ficava chateado comigo. Depois dava-me confiança para sair com bola, ou seja, o Mariano Barreto fez-me crescer nesse aspeto, deu-me mais confiança e fez-me melhorar alguns aspetos do jogo que outros até lá não tinham pegado e não me tinham feito evoluir como ele.

    Bola na Rede: Há um bocado disseste que rescindes com o Porto e a seguir assinas com o Sporting no prazo de duas semanas. Como é que tudo aconteceu?

    Tonel: Resumindo, posso dizer que tive um treino na Madeira, de manhã, e já tinha saído uma notícia a dizer que o Sporting tinha interesse em mim. Os meus colegas até pensavam que eu sabia, pensavam que eu já tinha tudo falado, e eu não tinha falado com ninguém. Quando vi a notícia, fiquei contente, mas pensei: ” isto sai assim, mas ninguém me diz nada, eu não sei de nada”. com 25 anos achei aquilo um bocado esquisito. Os meus colegas diziam: “já vais e não dizes nada, já assinaste”, e eu, “não sei nada, como é que isto sai assim” (risos). Eu treinei de manhã, um treino puxadíssimo, e tínhamos treino de manhã e de tarde, isto em julho. Acabou o treino, tomar banho, almoçar e depois estava em casa a descansar para o treino da tarde, porque de manhã tinha sido “um bom malho”. E pronto, quando me ligou o Carlos Pereira (Presidente do CS Marítimo) a dizer que estava em Lisboa e já tinha acertado tudo com o Sporting, e para eu ir para o aeroporto apanhar um avião. Foi assim tudo de repente que surgiu. E eu aí, quando o Carlos Pereira me ligou, eu é que liguei à pessoa que na altura me estava a ajudar. Não era o meu empresário que eu não tinha nada assinado, mas tinha-me ajudado a sair do Porto para o Marítimo, e eu é que lhe liguei a ver se ele queria ir a Alvalade negociar o contrato. Ou seja, normalmente os empresários é que arranjam os contratos para os jogadores, ali foi ao contrário, eu é que arranjei o contrato, não era o empresário, mas para a pessoa que me ajudou a ir para o Marítimo, não tinha nada a ver com esta ida para o Sporting.

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    João Pedro Gonçalves
    João Pedro Gonçalveshttp://www.bolanarede.pt
    Quem conhece o João sabe que a bola já faz parte dele. A paixão pelo desporto levou-o até à Universidade do Minho para estudar Ciências da Comunicação. Tem o sonho de fazer jornalismo desportivo e viver todos os estádios.