As maiores lições aprendidas em 2022 | Ciclismo

    1. Tadej Pogacar não é imbatível

    Desde a mítica etapa 20 do Tour de France de 2020, Pogacar ganhou uma aura de superestrela e de símbolo daquela que é uma das melhores gerações de sempre a chegar ao ciclismo. As capacidades de Pogacar na montanha já eram conhecidas, bastava ver as duas etapas que o esloveno venceu na Vuelta de 2019, mas foi nesse contrarrelógio pela Planche de Belle Filles acima que ficou evidente o talento astronómico que o esloveno da UAE Team Emirates tinha nas pernas.

    Em 2021, deu continuidade a esse domínio com vitórias categóricas em dois monumentos (Liége- Bastogne- Liége e Volta a Lombardia) e uma nova vitória estrondosa no Tour, desta vez com uma exibição de luxo na etapa 8 em que meteu mais de 3 minutos a toda a concorrência, na qual se incluía Richard Carapaz, vencedor do Giro em 2019. Nesse dia, Pogacar atacou com mais de 60 quilómetros da etapa por percorrer, o maior exemplo do estilo de corrida volátil do esloveno, que marcava assim uma rutura com a monotonia do “Sky Train” que havia imperado durante os anos de glória de Christopher Froome.

    Pogacar chegava assim a 2022 como o homem que era capaz de fazer tudo, de ganhar tempo em praticamente todos os terrenos. Um ciclista explosivo, com uma ponta final impressionante (sobretudo em subida), um excelente trepador e um contrarrelogista que, sendo consistente, podia ser verdadeiramente letal para as ambições de qualquer adversário em qualquer corrida.

    Em 2022, Tadej Pogacar tornou a ter um grande ano. Contou com vitórias na Strade Bianche, no Tirreno Adriatico e até um top 5 na Milan-San Remo, clássica tradicionalmente talhada para sprinters. Contudo, o estatuto monstruoso de Pogacar ficou ainda maior quando na Volta à Flandres, conseguiu deixar praticamente toda a concorrência para trás no pavê. A única exceção foi Mathieu Van der Poel que venceu a corrida, com Pogacar a terminar em quarto, depois de dois ciclistas recolarem nos dois da frente.

    Previa-se uma grande preponderância do paralelo na Volta a França e a imagem demonstrada pelo principal rival de anos anteriores, Primoz Roglic, era de maior fraqueza, pelo que o esloveno da Emirates parecia ter à sua espera, uma terceira vitória consecutiva no Tour.

    A primeira semana mostrou mesmo isso. Com alguns azares de adversários, como quedas de Roglic e de Jonas Vingegaard na etapa 5, marcada pelos vários setores de pavê, parecia evidente que Pogacar pedalava mesmo para a terceira vitória em três participações na Grand Boucle. Contudo, logo nessa etapa com chegada a , ficou a ideia de que Pogacar cometera um erro. Afastou Roglic da luta pela geral mas ganhou apenas 12 segundos a um grupo com Vingegaard e a maior parte dos adversários do esloveno na geral. Para além de ter chegado a estar com mais de 1 minuto de vantagem para o dinamarquês, questionou-se a necessidade de um ataque de Pogacar, apenas para ganhar tão pouco tempo.

    A etapa mais marcante da edição de 2022 da Volta a França seria, sem dúvida, a etapa 11, em que a Jumbo Visma seria capaz de isolar Pogacar frente a Roglic e Vingegaard, pelo que a formação neerlandesa usaria os dois ciclistas e a proximidade que tinham em relação a Pogacar na geral, para atacar o bicampeão do Tour em alternância.

    Pogacar respondia a tudo e parecia imune a qualquer jogada dos rivais. Até que a 3 km do fim da etapa e já num momento em que Pogacar estava acompanhado por colegas de equipa, Jonas Vingegaard atacou e o esloveno não só foi incapaz de responder, como “estourou” completamente e acabou por perder quase 3 minutos para Vingegaard, deixando o ciclista da Jumbo em excelente posição para ganhar o Tour.

    Na semana e meia que se seguiu, Tadej Pogacar tentou de todas as formas e feitios, com ataques em todo o tipo de terreno, recuperar os mais de 2 minutos de atraso que tinha na geral. Mas a Jumbo e sobretudo o próprio Jonas Vingegaard não fraquejaram e aplicaram a machadada final nas ambições de revalidação do tiutlo de Pogacar quando na etapa 18, Vingegaard aproveitou um trabalho fantástico de Sepp Kuss e Wout Van Aert para ganhar no Col du Aubisque. No contrarrelógio final, Vingegaard também foi capaz de ganhar tempo a Tadej Pogacar, demonstrando uma superioridade em relação ao esloveno que até então ninguém conseguira demonstrar. A luta entre os dois deixou os fãs com “água na boca” para o duelo que se avizinha no Tour de 2023, mas acima de tudo mostrou que é possível derrotar o ciclista quase perfeito que é Tadej Pogacar, com apenas 24 anos.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.