As maiores lições aprendidas em 2022 | Ciclismo

    2. Remco Evenepoel é ciclista para três semanas

    Quando aos 18 anos, Remco Evenepoel chegou ao World Tour muita expetativa em torno do que o jovem belga faria ao serviço da Deceuninck- Quick Step. Depois de um último ano de júnior em que praticamente ganhara todas as corridas em que havia participado, incluindo os campeonatos do Mundo do escalão, tanto de fundo como de contrarrelógio, a opinião geral era de que a equipa de Patrick Lefévere tinha em mãos um diamante em bruto.

    Foi logo em 2019 que os grandes resultados começaram. Evenepoel foi campeão europeu de contrarrelógio, vice-campeão do Mundo na mesma especialidade, venceu a Clássica San Sebastian, tudo isto no primeiro ano como profissional, mostrando-se já em pé de igualdade para com talentos como Rohan Dennis ou Greg Van Avermaet.

    Em 2020, já muitos entregavam o Giro ao belga que venceu pela primeira vez a Volta ao Algarve, assim como todas as corridas por etapas em que participou nesse ano, tanto antes como a seguir à paragem causada pela pandemia. Contudo, viria a sofrer na Volta a Lombardia desse ano o primeiro grande revés da carreira.

    Durante uma descida, o belga que parecia estar a caminho de lutar pela vitória do seu primeiro monumento acabaria por cair abaixo de uma ponte, sendo levado numa ambulância. Foi o fim da época para Remco Evenepoel e muitos pensaram que podia ter terminado a carreira do belga.

    2021 tornou-se desta forma um ano de recobro no que diz respeito à reputação de invencibilidade que Evenepoel tinha vindo a merecer. A primeira corrida foi logo o Giro, onde partilhou a liderança com um jovem que esteve de rosa por 15 dias no ano anterior: João Almeida.

    Houve muita controvérsia em torno desta coliderança, mas a primeira semana até favoreceu o estatuto de Evenepoel, com o belga a estar mesmo vestido de rosa, em contraste com um Almeida que perdeu quase 5 minutos na etapa 8 e que parecia uns furos abaixo do nível apresentado em 2021. Todavia, a segunda semana foi ficando marcada pela imagem de Almeida a “rebocar” um Evenepoel que parecia estar claramente a tentar dar um passo maior do que a perna, ao tentar liderar uma corrida de 3 semanas, logo na primeira corrida após um incidente que lhe ameaçou a carreira.

    A 16ª etapa foi uma prova clara deste erro de cálculo de Evenepoel e de Lefévere. Remco perdeu mais de 24 minutos num dia completamente dominado por Egan Bernal e no qual João Almeida apenas perdeu 1 minuto e 21 segundos para o colombiano, sendo que o ciclista de A-dos-Francos já integrara a fuga do dia.

    Evenepoel não acabou essa Volta a Itália e ficou com uma reputação muito danificada, no que à sua capacidade competitiva concerniu. Mas o belga acabou por responder bem, vencendo a Volta à Bélgica, a Volta à Dinamarca e acabando no pódio dos Europeus, tanto no esforço individual, como na prova de fundo.

    2022 deu o maior sorriso de todos a Remco Evenepoel. O ciclista belga da Quick Step esteve sempre escalonado para fazer apenas uma grande volta: a Vuelta, em agosto. Agora sim, Evenepoel ia ter mais do que tempo para preparar uma nova investida rumo ao sucesso em três semanas. Evenepoel continuou a ganhar corridas de uma semana, como a Volta ao Algarve (pela segunda vez), a Volta à Noruega, foi 2º na Volta à Comunidade Valenciana.

    Mas o maior destaque da primeira metade do ano foi para a vitória do belga na Liége-Bastogne-Liége, o primeiro monumento que ganhou da forma a que habituou todos os adeptos do ciclismo em 2020: chegando isolado, depois de um ataque de longe. Mas no ar permanecia a dúvida se Evenepoel era ciclista para alta montanha e sobretudo capaz de lutar pela vitória em corridas de três semanas.

    Evenepoel chegou à Vuelta, depois de ser campeão belga de contrarrelógio e de vencer pela segunda vez na carreira, a Clássica San Sebastian. O dia da maior resposta positiva para Evenepoel foi a 6ª etapa da Vuelta quando o belga arrasou a concorrência para vencer no alto do Pico Jano. Uma exibição de luxo que viu Evenepoel ganhar mais de um minuto e meio ao favoritíssimo, Primoz Roglic.

    O belga de 22 anos faria uma exibição da mesma espécie quando ganhou quase um minuto ao esloveno nas etapas 8 e 9, capitalizando com uma vitória no contrarrelógio da etapa 10. O mau dia de Remco Evenepoel chegou na etapa 14 quando perdeu quase 1 minuto para adversários diretos, incluindo para o esloveno da Jumbo na chegada ao alto da Sierra de la Pandera.

    Uma etapa que trouxe esperança de que a 4ª Vuelta ainda poderia sorrir ao palmarés de Roglic, mas uma queda na etapa 16 acabaria com estas chances. Evenepoel não só não tornou a mostrar fraquezas como se superiorizou aos restantes adversários nas  etapas decisivas que faltavam.

    Ficou ainda assim no ar a questão se Evenepoel não teria tido de cerrar mais os dentes, caso Roglic permanecesse na prova e sobretudo se a terceira semana tivesse sido mais dura. Mas uma coisa ficou clara: Evenepoel é capaz de disputar a vitória em corridas de três semanas e é capaz de aguentar a alta montanha.

    Campeão do Mundo em setembro, vai fazer o Giro em 2023, novamente frente a Primoz Roglic e nos próximos anos vai responder na estrada a todas as questões em relação aos limites que em tempos, parecia não ter.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.