As maiores lições aprendidas em 2022 | Ciclismo

    3. Primoz Roglic já não é o principal líder da Jumbo-Visma

    Primoz Roglic começou a dar cartas no ciclismo internacional, quando venceu um contrarrelógio no Giro 2016. O antigo atleta de saltos de esqui foi apresentando melhorias na alta montanha e deixando claro que era um ciclista bastante completo, vencendo mesmo etapas de alta montanha nas edições de 2017 e 2018 do Tour.

    Foi uma evolução gradual com a vitória na edição de 2017 a surgir a partir da fuga e a do ano seguinte em confronto direto com os candidatos à vitória final no Tour. Primoz Roglic ficaria no quarto lugar da geral nesta última edição, falhando o pódio devido a uma má prestação no contrarrelógio final.

    Em 2019, a Jumbo-Visma apostou em Roglic para vencer a Volta a Itália. O esloveno teve um início de sonho na época, com a vitória final em todas as provas por etapas nas quais participou antes do Giro. Também começou bem na luta pela camisola rosa, que envergou durante as primeiras cinco etapas.

    A luta pela geral parecia destinada a ser um duelo entre Roglic e Vincenzo Nibali, mas Richard Carapaz foi capaz de aproveitar a marcação entre o italiano e o esloveno para chegar à rosa que não voltou a largar. Roglic acabaria em terceiro, atrás de Nibali e de Carapaz, numa “Corsa Rosa” em que o bloco fraco que a Jumbo levou para apoiar Roglic foi muito colocado em causa e apontado como a principal causa para o falhanço do esloveno em alcançar naquele mês de maio a primeira vitórias em corridas de três semanas.

    Essa ficou reservada para o mês de setembro, quando Primoz Roglic surgiu acompanhada de uma Jumbo-Visma apetrechada de nomes como Sepp Kuss, Robert Gesink e até de Jonas Vingegaard. Durante as três semanas, Roglic foi capaz de acompanhar e derrotar Alejandro Valverde nas chegadas mais explosivas, tipicamente favoráveis ao ciclista murciano.

    Roglic caracterizou-se por um estilo muito passivo, de seguir a roda certa para ganhar tempo aos diferentes adversários na geral. Destaque para uma aliança regular que fez com o compatriota, Tadej Pogacar, para afastar Miguel Angel López e Alejandro Valverde da luta pela vitória. Esta gestão de energia, em conjunto com o bloco forte da Jumbo, permitiram a Roglic levar a primeira de três edições da Vuelta que acabaria por ganhar.

    Nos dois anos seguintes, a carreira de Roglic ficou muito pautada por um cinismo na forma de correr que fazia o esloveno seguir na roda da equipa até ao quilómetro final das chegadas em alto, para depois fazer uso da sua ponta final fantástica e assim, ganhar.

    O Tour insistiu em escapar a Primoz Roglic, com destaque para o ano de 2020 em que tudo correu bem ao líder da Jumbo que parecia superior a todos, incluindo a Tadej Pogacar. Todavia, bastou um dia mau para perder a camisola amarela e a tão almejada vitória que projetara durante anos.

    Respondeu em grande com uma nova vitória na Vuelta, motivada mais uma vez por aquela forma de correr cínica e por um bloco coeso em seu redor. Em 2021, o azar não largou Roglic que apesar de derrotar Pogacar na Volta ao País Basco, foi perseguido por quedas e lesões, nomeadamente no Paris Nice e no famoso incidente do cartaz “Opi; Omi” da primeira etapa dessa edição do Tour. Roglic calibrara o seu pico de forma com vista a uma queda de performance de Pogacar ao longo das três semanas do Tour (que até se acabou por verificar), mas não teve a hipótese de concretizar o resultado final.

    Ao invés, o seu colega, Jonas Vingegaard, ciclista dinamarquês de 24 anos seria capaz de deixar Tadej Pogacar para trás no Mont Ventoux e de acabar no segundo lugar da geral, mostrando a capacidade de discutir corridas de três semanas. Em 2022, a sorte parecia estar a mudar para Roglic, mas a forma já não era tão boa. Venceu o Paris Nice e o Criterium du Dauphiné, mas parecia mais um domínio coletivo do que apenas do esloveno. Aliás, no Dauphiné muito se colocou a questão acerca de uma eventual superioridade física de Vingegaard que arrasou o pelotão na última etapa da corrida, aparentando deixar o próprio Roglic em dificuldades.

    O azar iria regressar sob a forma de novas quedas para Primoz Roglic, levando a fraturas nas vértebras para o ciclista esloveno que perderia, desta forma, mais de 2 minutos para os adversários diretos na etapa do pavê na última edição do Tour, incluindo para Vingegaard. A liderança do esloveno na corrida ficava completamente em causa e o esloveno de 33 anos, assumiu mesmo o papel de número 2 da equipa a partir da famosa etapa 11, em que Vingegaard conseguiu quebrar Pogacar.

    Roglic acabou por tornar a abandonar a Volta a França que Jonas Vingegaard ganhou, mas fez uma recuperação milagrosa para tentar discutir a Vuelta. Roglic era o adversário mais forte de Evenepoel mas um toque infortuno na roda traseira de Fred Wright na chegada da etapa 17, deitou tudo a perder para o esloveno. Em 2023, Primoz Roglic, está escalonado para voltar a tentar vencer o Giro, com Vingegaard apontar de novo ao Tour. Desta forma, Roglic deverá chegar aos 34 anos sem o Tour no seu palmarés e perante uma fornada de talentos promissores a surgir no pelotão internacional, parece difícil para a Jumbo  voltar a meter todas as cartas no esloveno para vencer a “Grand Boucle” e falta, acima de tudo, saber até quando será Primoz Roglic capaz de discutir corridas de três semanas. Talvez se para a próxima, for a sorte a sorrir.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.