«O SL Benfica está demasiadas vezes em tribunal e a ser enxovalhado» – Entrevista BnR com José Soares

    «Foi como um puxar do tapete». É assim que José Soares descreve o resultado do polémico e marcante Campomaiorense-FC Porto, em que fez marcação cerrada e agressiva a Mário Jardel. Ao Bola na Rede, o antigo defesa falou ainda sobre a instabilidade do SL Benfica – o clube do coração – nos tempos de Vale e Azevedo, a aventura pelo Médio Oriente, os vários empregos após pendurar as chuteiras e ainda houve tempo para falar sobre a atualidade encarnada, onde revela que «nem nos piores sonhos» acreditava que as águias não seriam campeãs nacionais esta época.

    – De Elvas para a Luz –

    “As negociações com o FC Porto estavam muito mais avançadas que com o SL Benfica, só que o meu benfiquismo falou mais alto”

    Bola na Rede (BnR): Costuma-se dizer que filho de peixe sabe nadar e esta expressão parece aplicar-se na perfeição ao José Soares. Como foi crescer com um pai futebolista?

    José Soares (JS): Foi muito bom. Nasci a ver o meu pai a jogar futebol e estava sempre à espera que fosse fim-de-semana para ir vê-lo jogar aos sábados ou domingos. Já nasci com esse bichinho por causa do meu pai jogar e de ter uma família de futebolistas. A sensação foi ótima e consegui realizar um sonho de criança – que nem sempre é fácil concretizar – foi fantástico. Parece que foi há dois ou três anos que via o meu pai a jogar nos pelados e no meu caso, do meu irmão e dos meus sobrinhos, aplica-se perfeitamente essa expressão.

    BnR: Ele também era defesa?

    JS: Não, não. O meu pai não tem nada a ver, as características dele são as opostas das minhas. O meu pai era canhoto, jogava nas linhas – a extremo ou médio esquerdo – era muito habilidoso, coisa que eu não era [risos].

    José Soares começou a formação no O Elvas, onde o pai também jogava
    Fonte: Instagram José Soares

    BnR: E é por causa dele que acabas por ir para o O Elvas…

    JS: Sim. Em Elvas existem dois clubes: o O Elvas e Os Elvenses. O meu pai representou os dois clubes e eu, quando era miúdo, comecei a representar o O Elvas.

    BnR: Que condições tinhas?

    JS: O Elvas sempre foi um clube com boas condições. Era pequeno, regional, mas tinha condições e a nós nunca faltou nada. É uma cidade que vive muito o futebol e os empresários na altura ajudavam bastante o clube. Lembro-me perfeitamente do sr. Hernâni Santana, o sr. Manuel Mendão, entre outros ajudavam sempre o clube e quando pararam de ajudar, veio por aí abaixo, mas agora está a tentar levantar-se de novo.

    BnR: Depois de quatro anos no O Elvas, como é que acabas por chegar ao Benfica?

    JS: Aconteceu algo que não era muito natural – talvez agora seja, mas não estou muito dentro do futebol jovem – que foi um senhor chamado Fernando Casaca, antigo jogador profissional do Vitória FC, foi treinar os juniores do O Elvas e iam começar a jogar o campeonato nacional. Ele viu-me jogar nos iniciados, com 12 ou 13 anos, e achou que tinha «arcaboiço» para jogar nos juniores, que se podia fazer mas tinha primeiro de ir fazer um teste a Lisboa, à Cidade Universitária, para ver se tinha estrutura óssea que permitisse jogar cinco anos acima. Levaram-me a Lisboa, fiz os exames médicos necessários e comecei a jogar no campeonato nacional de juniores, mas na altura era miúdo ainda, só com 13 anos. As coisas correram bastante bem e há sempre alguém que vai dizer que há um miúdo, então numa equipa conhecida como era o O Elvas, que joga nos juniores só com 13 anos e foi aí que surgiu o interesse do Benfica e do FC Porto. Curiosamente, as negociações com o FC Porto estavam muito mais avançadas que com o Benfica, só que o meu benfiquismo falou mais alto.

    BnR: Foi difícil trocar o Alentejo pela capital?

    JS: Sim, sim, foi muito complicado. Eu era miúdo, sempre vivi em Elvas, perto dos meus pais, os meus irmãos, os meus amigos e estava completamente identificado com a minha cidade. De repente, de um momento para o outro, estou a viver numa cidade com esta dimensão, longe dos meus pais, e foi muito complicado ao início. Mas depois o meu amor pelo clube, estar com os meus colegas e os treinadores tratarem-me bem, acabou por ser um processo normal, apesar da idade que tinha.

    BnR: Então acabou por não te afetar dentro de campo…

    JS: Não, isso nunca. Eu consigo separar uma coisa da outra. O Benfica tinha umas condições excelentes no centro de estágio, estavam lá 24 colegas e foi muito bom. Sempre com muitas saudades da família, mas já se sabia que é mesmo assim e apoiávamo-nos uns aos outros, com o Benfica a dar todo o apoio possível também e foi assim que tudo começou.

    José Soares, ao centro, com a Seleção Nacional sub-21 num jogo frente à Ucrânia
    Fonte: Instagram José Soares

    BnR: De quem eras mais próximo lá?

    JS: Eu sempre tive muitos amigos. No futebol jovem tinha o pessoal que vivia comigo no centro de estágio e outros colegas como o João Peixe, o Bruno Caires, o Filipe Correia, o Gil que, na altura, já era júnior mas ajudáva-nos bastante. Tinha o Edgar Pacheco que também vivia connosco e o meu irmão que, curiosamente, foi no mesmo ano que eu para o Benfica. Havia muito colega, boas pessoas que ainda hoje somos amigos, que na altura já eram muito próximos de mim e continuámos com esta amizade para a vida toda.

    BnR: O que se destaca no teu percurso pelas camadas jovens foram as idas à seleção nacional no Euro sub-18 e no Mundial sub-20. De que te lembras destas competições?

    JS: Lembro-me bastante bem, porque seleção é inesquecível, vai para o resto da vida. O que nós fizemos na seleção, essa geração, é muito mais positivo que negativo. Ganhámos o Europeu de sub-18, que é muito complicado, com grandes que havia na altura, e no ano a seguir podíamos ter ganho o Mundial porque, não só tínhamos muita qualidade individual, como um coletivo muito forte. O nosso lema era sempre dar tudo pela equipa, independentemente do jogo ser bonito ou não. Tínhamos material humano para jogar em várias vertentes, podíamos jogar com muita qualidade, mas o espírito de sacrifício e entreajuda estava sempre presente. Depois, nem sempre dá para jogar sempre bem, apesar de termos grandes individualidades: Dani, Nuno Gomes, Bruno Caires, Ramires, jogadores de grande qualidade, mas acima de tudo tínhamos grande espírito de equipa, neste caso de seleção, em que todos remávamos para o mesmo lado. Por isso tivemos esse sucesso todo, mas infelizmente não fomos campeões do Mundo por detalhes.

    BnR: Que tipo de detalhes?

    JS: Lembro-me que no jogo com o Brasil merecíamos ganhar. Tínhamos o Dani doente, o jogo não nos correu bem e podíamos perfeitamente ter ganho. Nesse ano o campeão do Mundo foi a Argentina mas, na fase de grupos, fomos muito melhores no jogo contra eles. Estou convencido que, com um pouco mais de sorte e mais uma ou outra coisa, tínhamos sido campeões do Mundo nesse ano.

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    João Reis Alves
    João Reis Alveshttp://www.bolanarede.pt
    Flaviense de gema e apaixonado pelo Desportivo de Chaves - porque tem de se apoiar o clube da terra - o João é licenciado em Comunicação e Jornalismo na Universidade Lusófona e procura entrar na imprensa desportiva nacional para fazer o que todos deviam fazer: jornalismo sério, sem rodeios nem complôs, para os adeptos do futebol desfrutarem do melhor do desporto-rei.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.