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O Passado Também Chuta: Fernando Chalana

o passado tambem chuta

Apareceu pela CUF, mas, os entendidos disseram-lhe: “não.” O Barreirense esfregou as mãos e disse-lhe: “anda…nós gostamos de ti”. O Benfica, antes que o trigo se passasse, sorriu-lhe e abriu-lhe as portas de par em par. Fernando Chalana começou, mal entrou pela porta, a escrever um novo poema que agigantava a poesia que mimava a relva do Estádio da Luz. A sua carreira foi um belo sprint de cem metros. Mostrou como se jogava com os dois pés, como se levantava a cabeça, como com um toque suave se colocava a bola na cabeça ou nos pés do companheiro, como se chutava com êxito parecendo que acariciava o esférico e se exibia sem rubor a arte do driblem. Eu cresci a gritar no Estádio da Luz as fantasias de António Simões e, sendo já adulto, amadureci a ver Fernando Chalana escrever contos imortais sobre os relvados.

Depois da época dourada do Benfica, passaram pelo clube grandes jogadores e jogadores muito talentosos, mas, se há um que pode ser mencionado no pedestal dos grandes, ao lado de Eusébio, Simões, José Augusto ou Germano, esse chama-se Chalana. Como disse, a sua carreira foi um belo sprint; arrancou rápido e chegou rapidíssimo, mas, também acabou, no campo estelar, antes de tempo. As lesões derivadas da impotência dos seus adversários foi, evidentemente, o principal motivo. E foi uma pena; adorando-o, não lamentei a sua ida para Bordéus. O Benfica, aproveitando o seu caché depois de um extraordinário Europeu de seleções, vendeu-o bem e com esse dinheiro obrou no Estádio da Luz. Fernando Chalana era a cobiça da Europa. Unicamente, considerei um erro para a sua carreira não ter desembarcado em Itália. Seria bonito ver Fernando Chalana com a camisola da Juventus ou do Inter de Milão.

Ganhou meia-dúzia de campeonatos nacionais com o Benfica, duas Taças de Portugal, foi finalista da Taça da UEFA de 82/83 e Campeão de França de 84/85. Conquistou uma medalha de Bronze com a seleção no Campeonato de Europa de 1984 e foi considerado o 5º melhor jogador de Europa. Fernando Chalana não foi mais um, nem foi um anónimo – foi um craque.

Ai vai ele… Fonte: Onze
Ai vai ele…
Fonte: Onze

Posteriormente, sentou-se no banco dos treinadores. Desfilou por diferentes categorias e esporadicamente assumiu o comando da primeira equipa da Luz. Devemos-lhe uma. Bastou-lhe um jogo (contra o Sporting) enquanto esperavam pelo treinador espanhol Camacho para alterar a posição do Miguel. Situou-o como defesa-direito. Foi um êxito. Chegou a Internacional e disputou muitos anos a Liga Espanhola ao serviço do Valência.

Fernando Chalana para além de sentir o futebol, sabe de futebol. Considero que os jogadores, principalmente os das categorias de formação, que tiveram a oportunidade de trabalhar com ele são uns afortunados.

Menino de bronze em Portugal, menino de ouro em França

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cabeçalho benfica

O último programa de televisão oficial da Liga Francesa deu especial enfoque ao português Bernardo Silva. O jovem talento foi apelidado de “estrela em ascensão” e considerado uma das maiores promessas do futebol português. E como poderia não o ser?

Ele tem apenas 20 anos e já manda, e encanta, no meio campo do clube monegasco. O que não serviu para colmatar o espaço vazio do meio campo benfiquista foi aproveitado por Leonardo Jardim. E quando muitos achavam estranho o técnico português ter pedido um jogador da segunda divisão para acrescentar qualidade a uma equipa que tem uma temporada de Liga dos Campeões pela frente, Bernardo Silva desenganou-os. E desenganou-os bem. Ele tem mostrado qualidade e dado cartas. Tem preenchido bem o meio campo, tem criado oportunidades e concretizados bons passes e dado boa fluidez ao meio campo do Mónaco. E, como seria de esperar, o mundo ficou de olhos postos nele. O jovem português é um produto da formação benfiquista e apesar de estar a adorar a experiência no Mónaco (algo absolutamente normal de quem passa de uma divisão secundária para o principal palco do futebol mundial: a Liga dos Campeões) não esconde o desejo que regressar à Luz.

O jovem português tem brilhado além-fronteiras. Não teria sido ele uma melhor aposta para reforçar o miolo encarnado do que os médios que chegaram? Fonte: zimbio.com
O jovem português tem brilhado além-fronteiras. Não teria sido ele uma melhor aposta para reforçar o miolo encarnado do que os médios que chegaram?
Fonte: zimbio.com

A minha pergunta é simples e não é novidade. Enzo Pérez foi um tema que fez tremer afición encarnada durante o verão. Quem iria substituir o argentino, caso este saísse? Inúmeros nomes foram lançados pela imprensa para cima da mesa. Para reforçar o meio campo acabaram por chegar três jogadores: Talisca, Cristante e Samaris. Num total foram gastos 20 milhões de euros nestes reforços. Não se poderia ter poupado um bom somatório ao ter apostado em jogadores que já tinham dado provas de qualidade e margem de crescimento? Por exemplo, Bernardo Silva e João Teixeira. O mesmo aconteceu em relação à posição de defesa direito. Porquê Luís Felipe? Porque não apostar na evolução de João Cancelo? Nas vossas cabeças deve ecoar um sentimento de estupidez em relação ao autor deste artigo, uma vez que a resposta é simples e tem apenas duas palavras: Jorge Mendes. É notório o papel do empresário português na movimentação destes jogadores. No entanto, deveria ser maior a influência da SAD benfiquista sobre a vontade do empresário e do próprio treinador. O presidente deveria tomar uma posição, reforçada, com vista a concretizar a tão desejada política de aposta na formação do clube da luz.

Bernardo Silva podia ter poupado milhões ao Benfica no passado defeso. Em vez disso, investiu-se em três outros médios. Até agora, apenas um deles tem sido uma mais-valia. O jovem médio ofensivo teria sido uma aposta melhor. Teria enraizado o amor à camisola e os princípios tácticos de Jorge Jesus. Como benfiquista espero que o próximo verão seja marcado pelo regresso de jogadores como João Cancelo e Bernardo Silva e na aposta de jogadores da formação B como Rui Fonte, Gonçalo Guedes, Bruno Varela e João Teixeira. Que Bernardo continue a brilhar no Mónaco e a mostrar a qualidade das escolas do Benfica.

Arouca 0-5 FC Porto: Vitória “sem pressão”

a minha eternidade

O Futebol Clube do Porto ganhou muito justamente o jogo frente ao Arouca por 5-0. As constantes trocas posicionais entre Quintero e Brahimi foram uma nuance táctica muito bem conseguida por parte de Lopetegui neste jogo. Os dois jogadores apresentam características técnicas que pedem uma zona de acção preferencialmente interior, e as inúmeras alterações zonais entre estes dois “génios na definição” (último passe/remate) possibilitaram aos portistas uma verticalidade em zonas adiantadas forte e um jogo interior imensamente ameaçador para a equipa contrária, algo raro nesta época.

Pedro Emanuel, treinador da equipa visitada, estudou correctamente a formação portista e montou acertadamente a estratégia de jogo. O Arouca pressionou alto a primeira zona de construção dos portistas, que, quando ameaçada, tem perdido bolas em zonas comprometedoras e sem retorno de recuperação. Os arouquenses entraram num 4x3x3 em cima dos defesas portistas e criaram alguns calafrios na defesa contrária. Até podiam ter alcançado o primeiro golo da partida, numa perda de bola do central do Porto Marcano, que originou um remate perigosíssimo, tendo Fabiano efectuado a melhor defesa de todo o encontro nesse lance. A primeira zona de pressão dos da casa foi incómoda mas não muito eficaz. Quando os primeiros quatro homens eram batidos, o duplo pivot  David Simão/Bruno Amaro não conseguia segurar o miolo do Porto, ocupado com Herrera, Quintero, Brahimi e Jackson, que recuou muitas vezes para vir jogar em apoios e permitir diagonais nas suas costas. Esta superioridade de dois jogadores do Arouca para quatro do Porto permitiu um domínio total azul e branco nessa zona nevrálgica do campo.

O Futebol Clube do Porto efectuou três alterações. Quaresma entrou para o lugar de um não muito inspirado Tello, apesar da excelente assistência para o quarto golo. O espanhol foi o mais apagado do tridente ofensivo, sendo justificada a inserção de Quaresma no jogo, que fez uma assistência para Aboubakar (que substituiu Jackson) finalizar com frieza. Adrián López (para o lugar de Quintero) entrou já na recta final da partida e com o jogo resolvido, nada acrescentou. Não contestando abertamente as substituições, gostava de ter visto Aboubakar coabitar com Jackson na frente de ataque. Apesar das boas diagonais de Brahimi por troca com o colombiano, Aboubakar é o único jogador que em trocas posicionais com Jackson ocuparia exactamente os mesmos espaços de finalização. Esta é uma dinâmica que convém explorar.

Apesar da vitória numericamente esmagadora dos visitantes, importa reiterar que Fabiano foi decisivo nessa primeira grande defesa e em outras duas na segunda parte que evitaram pelo menos um golo do Arouca, que até seria justo, não fosse a ineficácia. Esta vitória “sem pressão” acontece porque o quarteto construtivo foi pressionado mas não muito incomodado. A excessiva circulação de bola em zonas recuadas é para manter, Lopetegui já o afirmou. Este Arouca não conseguiu aproveitar essa concepção estilística errada. O problema está em equipas de maior dimensão. No ano passado, Paulo Fonseca “morreu” agarrado ao seu modelo de dois médios defensivos. O treinador espanhol mantém a mesma postura obstinada que o seu antecessor. Apesar desta excelente vitória, a manutenção deste modelo de saída de bola não traz indícios positivos para uma cimentação autoritária e consistente, necessária a uma equipa deste calibre, dominadora e devedora de títulos.

Jackson bisou nesta partida e é o novo melhor marcador do campeonato com 7 golos Fonte: Zerozero
Jackson bisou nesta partida e é o novo melhor marcador do campeonato com 7 golos
Fonte: Zerozero

A Figura

Considero Jackson Martinez a figura do jogo, principalmente pelos golos que marcou. Excelente a jogar em apoios; as recepções “dóceis” habituais, movimentações inteligentes a abrir espaços nas suas costas, numa exibição de encher o olho onde até roubou bolas a meio-campo. Também tenho de falar em Quintero, que, não sendo a personalidade da partida, terá sido o jogador mais influente; não a “figura”, mas o melhor em campo. Recuou para camuflar as limitações na primeira zona de construção, fazendo todo o meio-campo até finalizar em remates de fora da área, embora tenha tido alguma sorte no golo. Organizou o jogo em posse, pautando-o; simplificou jogando rápido ao primeiro toque e definiu jogadas, a sua função preferencial. Exibição completíssima.

O Fora-de-Jogo

Considero Marcano, principalmente pelo péssimo passe que permitiu a primeira situação de golo da partida, que só Fabiano evitou. Também fez uma recepção falhada que colocou a bola no adversário, e perdeu alguns duelos individuais. Felizmente para si e para o grupo, os seus erros não originaram golos. Poderia ter libertado uma fantasmagoria colectiva com frémitos assustadores repetindo: erros defensivos, erros defensivos!

Real Madrid 3-1 FC Barcelona: Estilos antagónicos, vitória real

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la liga espanha

E à jornada 9 o Santiago Bernabéu engalanou-se para receber o Barcelona – de um lado, o monstro ofensivo Real Madrid (liderado por Cristiano Ronaldo), com incríveis 30 golos em 8 jogos; do outro, a muralha Barcelona, sem ter sofrido ainda qualquer golo e com o registo de apenas um empate na Liga Espanhola!

Ainda muitos e bons se acomodavam nas poltronas, e com as pipocas a esquentar para a assistir ao maior espectáculo do mundo (futebolístico) e já Neymar adiantava os culés no reduto do maior rival. Estavam decorridos somente 3 minutos, na verdade. A história? Simples: Messi a recuar no terreno, deambulando em pleno espaço central, entrega a bola a Suarez, na direita, que trata de variar completamente o jogo para a esquerda e para o génio do ex-Santos que, perante a passividade de Carvajal e Pepe, tratou de inaugurar o marcador. Sim, Suarez foi titular e veio tornar o ataque do Barça ainda mais feroz (mas sem morder); tudo o resto, foi a equipa-base do Barcelona, apenas com o destaque para a inclusão de Mathieu no lado esquerdo da defesa (Jordi Alba ficou no banco).

Do outro lado, sem Bale, o Real dispôs-se quase sempre num 4-4-2 clássico, com a linha intermediária composta por Isco e James nas alas, Modric e Kroos no espaço central e com Ronaldo e Benzema no último terço do campo, sempre activos, sempre dinâmicos.

real - barça
Disposição táctica de Real Madrid e Barcelona
Fonte: soccerway.com

Sem acusar o golo da equipa catalã, o Real reagiu muito bem, privilegiando as incorporações de Marcelo no processo ofensivo (Daniel Alves passou um mau bocado esta tarde), com Cristiano Ronaldo, James e Benzema ligados à corrente – o francês, aliás, esteve perto de empatar num lance em que enviou, por duas vezes, a bola à trave. A cada oportunidade que tinha de colocar velocidade no jogo, o Real não o regateava, e era desta forma que colocava em sobressalto um Barça que, assentando o seu futebol na posse de bola, o ritmo que ia impondo tinha como propósito imediato mais adormecer o jogo do que propriamente dilatar a vantagem. Na verdade, o outrora tiki-taka que fazia do Barcelona uma máquina de jogar futebol, levando os adversários a cair no seu engodo para, no momento certo, virar o jogo de forma rápida e apoiada, por forma a atacar o último reduto dos seus oponentes, há muito que sofreu um downgrade – de qualquer forma, perante um Real com apenas dois elementos no espaço intermediário central, Busquets, Xavi, Iniesta e Messi foram controlando as operações, com o astro argentino a ser, simultaneamente, o 4º médio e o 3º avançado. Foi, aliás, o ‘10’ culé quem desperdiçou uma soberana oportunidade (23’), antes de mais uma jogada do ‘extremo’ Marcelo que redundou num penalty cometido por Piqué e concretizado por Ronaldo (34’). Chegava assim o 1-1 e, pouco depois, o intervalo.

Se se presumia que a 2ª parte iria oferecer um jogo de desfecho imprevisível, os primeiros 15 minutos da mesma trataram de desmentir tal cenário – o golo de Pepe, na sequência de um canto, aos 50’, adiantou o Real Madrid no marcador e, 10 minutos volvidos, haveria de ser Benzema a dar a estocada final no Clássico. Se há enorme sabedoria futebolística na forma como Isco, Ronaldo e James interpretam e conduzem a jogada até à conclusão do ‘9’ do Real, a verdade é que a génese do lance é um disparate monumental de Iniesta logo após um canto a favor … do Barcelona.

O Real entrou forte no 2º tempo, é certo; porém, foi bafejado pela sorte, na medida em que, numa altura em que o jogo estava equilibrado, conseguiu capitalizar um lance de bola parada e um erro do seu adversário. Perante o descalabro, Luís Enrique tentou reagir, lançando, num espaço de 12 minutos, Rakitic, Pedro e Sergi Roberto nos lugares de Xavi, Suarez e Iniesta, respectivamente. De todo em todo, os resultados práticos foram escassos – o que se via era um Barça a manter a superioridade ao nível da posse da bola, quase sempre em organização ofensiva, mas, com poucos índices de criatividade, a desperdiçar e a errar passes de forma gratuita, acusando em demasia o terceiro golo do Real e demonstrando muita insegurança e pouca concentração no que estava e no que tinha de fazer. Pior: a equipa perdia com frequência a bola e, ao contrário de tempos idos, não tinha capacidade para pressionar e estancar, desde logo, a saída rápida do Real – o maior dos trunfos do conjunto de Ancelotti.

Do outro lado, com Isco e James muito afoitos no processo defensivo (mais o primeiro do que o segundo, ainda assim), o Real teve inúmeras oportunidades para, em transição, chegar a um resultado mais volumoso, algo que não aconteceu ora por más decisões de vários protagonistas (Ronaldo, por exemplo, teve um par de situações em que poderia e deveria ter feito melhor), ora por cortes in extremis de Piqué e Mascherano – na 1ª parte, o número de situações deste tipo foi muito menor porque o Barça se expunha muito menos defensivamente e porque Busquets esteve sempre no lugar certo à hora exacta.

neymar
Neymar marcou mas esteve apagado
Fonte: marca.com

Nesta toada de iminência do quarto golo do Real – que acabou por nunca chegar –, o jogo arrastou-se até ao final, com Carlo Ancelotti a gerir muito bem os últimos 10 minutos da partida, altura em que o Barça pressionou de forma mais efectiva, aproveitando algum do desgaste que o Real acusou (o conjunto madrileno havia jogado Quarta-Feira no sempre difícil Anfield Road). O técnico italiano lançou Illarramendi, Khedira e Arbeloa, que substituíram, respectivamente, Isco, Benzema e Modric, fazendo com que o Real acabasse o jogo num 4-1-4-1, com Ronaldo sozinho na frente de ataque.

Tudo somado, o resultado assenta de forma natural ao Real Madrid, se bem que o Barcelona tenha disposto de oportunidades para chegar ao 2º golo em algumas etapas do jogo. A equipa madrilena, à excepção do período inicial, revelou segurança defensiva (Pepe e Ramos acabaram o jogo em alta) e acabou por aproveitar os erros do adversário, ficando a dever a si mesma um diferencial no marcador mais elevado. Por outro lado, o outrora Barça impositivo e fiável com bola e asfixiante sem ela raramente foi visto esta tarde no Santiago Bernabeu, cometendo demasiados lapsos, principalmente nos segundos 45 minutos de jogo.

A Figura

Karim Benzema – Foi decisivo na vitória. Para além da finalização imaculada no 3º golo, enviou duas bolas à trave e foi sempre o mais inteligente dos jogadores madrilenos. Sabe estar em campo, atacar a profundidade ou dar apoios centrais, fazendo tudo isto e muito mais em função daquilo que o jogo lhe pede. Está no melhor momento da carreira.

O Fora-de-Jogo

Luis Suárez – Depois do (pesado e injusto) castigo de que foi alvo, regressou hoje à competição. Só isso, para quem gosta de futebol, seria uma boa noticia. Porém, talvez até de forma natural, Suárez passou ao lado do jogo, apresentando-se sempre muito longe deste e desenquadrado da equipa. Treinar nao é o mesmo que jogar e Luís Enrique erro ao lançar o uruguaio em pleno Santiago Bernabéu.

Sorriso de líder

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coraçãoencarnado

Boa-noite, benfiquistas. Estou de volta. Já passaram três dias desde a cinzenta quarta-feira e por isso já vejo o Sol. E sinto-me líder outra vez, ficando com aquele sorriso largo que só nós percebemos.

Em tom de breve comentário, tenho de revelar que dormi mal na quarta-feira passada. Dava voltas na cama, pensava em Lisboa e no quanto queria voltar para perto de vocês. Apetecia-me voltar para perto da minha família benfiquista, gritar com eles até não poder mais. Pois é, durante quase todo o jogo acreditei que traríamos os três pontos na bagagem. Até a jogar com dez eu acreditei…Ingénuo. Faltou mais. Nem o Nico vos embalou, rapazes… Está difícil, sim. Mas ainda acredito. Temos é de entrar com outra atitude, até porque parece que não leram aquilo que eu escrevi aqui há umas semanas: nós é que somos os gigantes. Entrem em campo com seis milhões às costas e corram três vezes mais. E já agora, dediquem-me um golo e a passagem à fase seguinte da Liga dos Campeões.

AS Monaco – SL Benfica: Noite magra e cinzenta Fonte: Benfica
AS Monaco – SL Benfica: Noite magra e cinzenta
Fonte: Benfica

Sábado. Dia de “Coração Encarnado”. Mas não só. Dia de Clássico aqui pelos meus lados e ainda mais importante do que isso, dia antecedente à entrada dos onze guerreiros na Pedreira. Amanhã não há desculpas. O génio Jonas está de volta, jogamos a competição onde somos os melhores. Somos exigentes, mas sorriam de vez em quando. Prometo que durante segundos me esqueço do jogo com o Mónaco se amanhã me derem aquele número mágico que representa a vitória. Já sabemos que este Braga tem vindo a melhorar, depois de uma boa exibição no Dragão e da já esperada passagem na Taça de Portugal. O Municipal de Braga é tradicionalmente um estádio complicado. E depois? Outra vez, quem são os gigantes aqui?! O estádio vai estar vestido a rigor: de encarnado. Carregado de benfiquistas (parece que o meu texto de há duas semanas chegou aí a Lisboa). Façam-me chorar aqui em Espanha, gritem mais alto do que o benfiquista à direita e obriguem-no a cantar mais e mais… Eles precisam de nós, e eu preciso de vocês.

Amanhã quero voltar a dormir descansado. Adormecer com aquele sorriso no rosto que junta aquelas cinco letras que eu estou farto de repetir e vocês fartos de a ler. Líder. Mas é tão bom, o corpo agradece. E a Alma enche-se de tudo, aquela sensação que só quem tem o coração encarnado conhece.

Vamos ter um jogo difícil amanhã; vai haver cansaço e uma equipa adversária bem montada. Do nosso lado, espero que haja um Jonas a mostrar-me outra vez por que é que eu amo este desporto! E mais dez de águia ao peito que só vão parar de correr quando o público se calar. Mas vocês não se calam, pois não?

Que este regresso à Primeira Liga seja o regresso às vitórias e que pelo menos dentro das nossas fronteiras continuemos a entrar como Maiores que somos. E fico à espera do dia em que a Champions seja só mais uma competição para sorrir. Até lá, vou sorrindo aos fins-de-semana! Boa sorte rapazes.

Vemo-nos no próximo sábado, com a esperança de o meu sorriso se manter. Não deixem que esses corações encarnados arrefeçam…

Vit.Setúbal 0-1 Vit.Guimarães: João Afonso dá Vitória aos minhotos

futebol nacional cabeçalho

Em duelo de Vitórias no Bonfim, a primeira parte foi marcada por muito equilíbrio e apenas uma oportunidade clara de golo, para os vimaranenses. Num contra-ataque – uma das principais armas da equipa orientada por Rui Vitória –  Hernâni conduziu a bola até ao meio-campo sadino e deu para Bernard. O ganês devolveu a Hernâni que rematou cruzado para uma defesa apertada de Ricardo Batista. De resto, muita luta a meio-campo e um ascendente territorial da equipa nortenha, que tinha em Alex e Hernâni as suas principais unidades. Os extremos tentavam dinamizar o ataque, mas faltava melhor discernimento na hora de finalizar as jogadas. Mesmo nas bolas paradas, não foram criadas grandes ocasiões.

Ao intervalo, Yann entrou para o lugar de João Schmidt e mudou um pouco a face da equipa sadina, que ainda assim foi assobiada em alguns momentos pela sua massa associativa. O jovem brasileiro, que já tinha sido decisivo no encontro da Taça frente ao Arouca, entrou para jogar à frente do duplo pivot do meio-campo e deu mais esclarecimento e capacidade técnica ao jogo ofensivo da equipa de Domingos Paciência. Aos 54 minutos, Yann rematou de muito longe e chegou a assustar Assis, guarda-redes que substituiu hoje o habitual titular Douglas. O Vitória de Guimarães perdeu o ascendente que teve na primeira parte mas acabou por chegar ao golo, um pouco contra a corrente do jogo, aos 61 minutos. Hernâni, um dos melhores em campo, bateu de forma exemplar um pontapé de canto para o segundo poste. João Afonso impôs-se perante Frederico Venâncio e bateu Ricardo Batista, com um cabeceamento a levar a bola a entrar perto da trave sadina.

Depois do golo, os setubalenses tentaram ir à procura do empate, mas sempre de forma muito atabalhoada. Já sem o inoperante Lupeta em campo, Manu e Zequinha nunca souberam dar o melhor seguimento às poucas jogadas criadas pela equipa. Foram ainda dos minhotos as melhores ocasiões para voltar a marcar. Tomané, que entrou na segunda parte, Alex e Hernâni tiveram boas chances para marcar, mas a pontaria não foi a melhor. À entrada para o último quarto de hora, chegou o momento mais espetacular do jogo. Bernard passa com muita facilidade por Pedro Queirós na direita e é travado à entrada da área por Venâncio. Na transformação do livre direto, o mesmo Bernard rematou em arco para o poste mais próximo, obrigando Ricardo Batista a esforçar-se para conseguir evitar o golo, fazendo a melhor defesa do jogo. Grande momento do jovem ganês, primeiro na jogada que dá o livre, depois na cobrança do mesmo. Não menos mérito teve o guarda-redes, que fez uma excelente defesa antes de chocar com o poste da baliza.

João Afonso marcou de cabeça o seu primeiro golo na Primeira Liga Fonte: zerozero.pt
João Afonso marcou de cabeça o seu primeiro golo na Primeira Liga
Fonte: zerozero.pt

Até ao fim, o rumo do encontro não mudou. Giovani e Advíncula nada acrescentaram quando entraram nos sadinos, que nunca souberam como chegar à baliza de Assis com algum perigo. Na última jogada do encontro, Yann rematou de muito longe com a bola a desviar num adversário e quase a trair Assis, que chegou a tempo de a agarrar.

Com este resultado, os de Guimarães sobem provisoriamente ao segundo lugar, ultrapassando o FC Porto e ficando a dois pontos do líder Benfica. A equipa de Rui Vitória continua a mostrar bons argumentos para lutar por um lugar europeu. Bruno Gaspar, lateral emprestado pelo Benfica, fez mais um excelente jogo e mostra ser um dos bons laterais que estão a aparecer na liga. João Afonso, hoje com a companhia de Josué no centro da defesa, continua a evoluir nesta sua primeira temporada ao mais alto nível. Na frente, Bernard e Hernâni continuam a espalhar o terror nas defesas contrárias, sempre seguros pelo capitão André André no centro do campo. O jogo do próximo fim-de-semana frente ao Sporting, no D. Afonso Henriques, promete ser um dos jogos mais interessantes do campeonato até ao momento.

Já em relação ao Vitória sadino, parece que Domingos Paciência ainda tem muito que fazer para colocar a equipa a jogar um bom futebol. Neste jogo, apenas Yann, François e Ricardo Batista estiveram a um bom nível. A equipa apresenta principalmente pouco poder de fogo no ataque, em que Lupeta, primeiro, e Giovani, depois, nunca criaram perigo. Manu e Zequinha também mostraram muito pouco discernimento na hora de largar a bola. O Setúbal está atualmente no décimo lugar, mas pode ser ultrapassado por várias equipas nesta ronda. No próximo domingo, o Vitória de Setúbal visita o Paços de Ferreira e adivinham-se dificuldades, face à boa qualidade apresentada pela equipa de Paulo Fonseca até agora. Se não começar a acertar o passo, a equipa de Domingos Paciência pode passar por momentos de aflição mais à frente neste campeonato.

A Figura:

Flanco direito do Vitória de Guimarães – Bruno Gaspar e Hernâni foram duas das melhores unidades neste encontro. O lateral nunca deu espaço a Zequinha para criar perigo e até teve algumas boas incursões no ataque. Já o extremo foi o jogador que mais desequilibrou no ataque vimaranense, fazendo uso da sua velocidade e capacidade técnica. Fez ainda a assistência para o golo.

O Fora-de-Jogo:

Ataque do Vitória de Setúbal – Lupeta foi um peso morto no jogo de hoje, Manu e Zequinha nunca criaram perigo e foram bastante inconsequentes ao longo do jogo e Giovani também não fez nada no tempo em que esteve em campo. Não fosse a entrada de Yann ao intervalo, talvez a equipa da casa não tivesse uma única ocasião de golo ao longo do encontro.

Futebol e Xadrez

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serefalaraporto

Uma ideia de jogo no futebol pode ser vista como uma analogia com uma abertura num jogo de xadrez; quer isto dizer que é preciso saber colocar as peças em campo, praticar várias dinâmicas e possibilidades e, sobretudo, saber criar uma estrutura sólida que permita calmamente chegar ao objetivo final: vencer antes de o tempo acabar. Outro aspeto importante é saber admitir que, por vezes, talvez estejamos errados e, nesse caso, é preciso aprender a pensar em outra forma de jogar, abrir e desenvolver o jogo.

Mourinho disse há uns dias que não inventou o futebol e a verdade é que, salvo dinâmicas dentro da equipa, posicionamentos diferentes das peças do xadrez no futebol, pouco ou nada falta descobrir. Treinadores novos podem trazer novas ideias, podem inventar lances de bola parada que resultam uma, duas, mas já não resultam a terceira vez, dado que serão estudados por outros treinadores. A rotatividade tão badalada é discutida desde sempre e, de facto, quando um treinador tem um grande leque de jogadores de qualidade superior, teoricamente pode jogar com “quem lhe apetecer para aquele jogo”. Na prática isso não é possível!

Focando-me no caso do FC Porto, o sistema é novo para os jogadores e não existe um fator importante: o conhecimento entre os mesmos. Para haver rotatividade é necessário haver conhecimento de todas as partes e assim como os jogadores estão a conhecer-se e a adaptar-se a um sistema e treinador novos, estão, para além disso, também a conhecer os elementos do seu plantel. Tem sido muito dito também que Mourinho ganhou tudo no Porto nunca repetindo o mesmo 11; todavia, mudava um dos jogadores ou, no máximo, dois por jogo, por contraste do que tem sido feito atualmente – meia equipa por partida! Lopetegui parece ter um desconhecimento da realidade portuguesa e da Liga Portuguesa (e certamente não foi por falta de tempo para se preparar) e aparenta menosprezar a grandeza deste clube.

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Lopetegui a pensar o que fazer para vencer o jogo
Fonte: fcpnacaoportista.wordpress.com

Será questionável que do mesmo modo que muitos dos jogadores do plantel pensam no Porto como “uma rampa de lançamento” se passe o mesmo com o treinador? Será que enquanto treinador da Liga Espanhola, num encontro importante como foi Porto-Sporting (para além das picardias entre Pinto da Costa e Bruno de Carvalho), Lopetegui teria deixado teoricamente os melhores jogadores da equipa de fora? Certo é que neste momento a rotatividade parece ser um dogma! Mais do que isso, e tentando de algum modo compreender esta opção, a rotatividade pode para Lopetegui não ser de facto uma rotatividade! Poderá Lopetegui “resumir-se” a preparar de forma tão exaustiva os jogos e estudar os adversários, que a rotatividade não passe de jogarem os melhores de acordo com o jogo em questão e pensando inclusive nos necessários para o jogo seguinte? Essa opção de Lopetegui, num clube em que a massa adepta é pouco benevolente com as falhas, poderá originar um “xeque-mate.”

Um outro aspeto que marca este Porto é outro dogma do seu treinador. O início da transição e construção ofensiva é sempre feita pelos centrais! Maicon é um enorme defesa e isso não é posto em causa; porém, os seus pés podem comparar-se a “tijolos” (talvez a sua melhor característica seja o saber “bater na bola”). Marcano, que tem alternado entre trinco e central, tem pés que, se não forem “tijolos”, são “pedregulhos”. Martins Indi, de todos os centrais que têm jogado, talvez seja o único com algumas capacidades para ser o central que Lopetegui pretende nessa fase do jogo.

Para jogar no estilo de posse bola pretendida pelo treinador, a equipa tem forçosamente de jogar com as linhas juntas (defesa perto do meio campo e meio campo perto do ataque); o que vemos neste Porto é tudo menos isso! A equipa não joga como um todo, não é coesa e deixa sempre muitos buracos entre as linhas. Quando o central recebe a bola não vemos os médios a recuarem para buscar jogo! Será qualidade ofensiva (e falta de defensiva) a mais? Ou será falta de treino? Pontuar contra este Porto (para não dizer ganhar) é de fatco uma tarefa relativamente fácil! As equipas têm criado muitas dificuldades ao Porto, uma vez que fazendo uma pressão muito alta – pressionando os centrais e o médio mais defensivo – têm sido capazes de aumentar o marcador.

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Palestra de Lopetegui (possivelmente) a tentar explicar como quer colocar as peças em campo
Fonte: record.xl.pt

No último jogo da Taça de Portugal, houve alguns momentos em que se podiam ver quatro jogadores do Sporting a pressionar a primeira fase de construção do Porto; quando os médios interiores recuavam no terreno, os quatro do Sporting voltavam para trás (obviamente, porque iriam jogar ao meiinho…) será que isso quer dizer alguma coisa? Cabe a Lopetegui perceber o que está a falhar e corrigir rapidamente! Na Liga dos Campeões a qualificação está bem encaminhada (num grupo em que não é obrigação o apuramento, era proibitivo o não apuramento)! Todavia, internamente, as coisas não estão fáceis!

O Futebol não difere muito de um jogo de xadrez; só não é igual porque existe uma diferença crucial. No fim de um jogo de xadrez as peças voltam a ser arrumadas e os peões ficam ao lado do rei. No futebol um xeque-mate pode indicar a necessidade de um novo rei.

Há Dias assim

cab futsal

Os mais desatentos poderão  não saber, mas amanhã é dia de derby. O bi-campeão nacional joga contra o seu eterno rival em Odivelas e, tal como sempre, é um jogo para vencer. O Sporting tem, no jogo de amanhã, a possibilidade de mostrar inequivocamente que é, como sempre foi, a maior potência do futsal português e a que domina claramente a modalidade.

O campeonato começou com seis vitórias em outros tantos jogos, a equipa está rotinada e a base contínua sólida como sempre. Benedito, Caio, Cary e Alex são a garantia de estabilidade e de uma cultura vencedora que se renova a cada fim-de-semana. Obviamente que as saídas de Divanei e Deo tiveram algum impacto na equipa, mas há um factor que para mim desequilibra mais a balança do que qualquer outro jogador. Esse factor é, na minha opinião, Nuno Dias.

Apoiado numa estrutura criada por Miguel Albuquerque, Nuno Dias tem uma paixão pelo futsal pouco comum. Estudioso, metódico e extremamente competente, o treinador de Cantanhede consegue somar vitórias tácticas com a sua capacidade de ler o jogo e planeá-lo antecipadamente, contribuindo de forma clara para a afirmação do clube de Alvalade como o mais forte do panorama nacional. Nota-se que existe um estudo tremendo do adversário, independentemente de quem seja, assim como um enorme trabalho de preparação de cada fase do jogo ou de jogadas ensaiadas que já tantas alegrias deram aos Sportinguistas.

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Nuno Dias tem dado inúmeros motivos de festejo aos Sportinguistas
Fonte: Zerozero.pt

A forma como ganhou dois campeonatos nacionais, perdendo apenas três jogos em duas épocas, dois deles frente ao rival Benfica – que no mesmo período de tempo perdeu 12 jogos, cinco deles frente ao Sporting – serviu para colocar o ainda jovem treinador verde e branco uns furos acima de qualquer treinador nacional. Ainda assim, falta a Nuno Dias e ao “seu” Sporting atingir este mesmo patamar a nível internacional, algo que poderá ter a possibilidade de conseguir esta época.

Apesar de o sorteio da UEFA Futsal Cup não ter sido perfeito, colocando no caminho leonino o actual campeão espanhol, o Inter Movistar de Ricardinho – entretanto lesionado – e Cardinal, o Sporting tem capacidade e algum dever de passar esta fase de elite rumo à Final-Four. Nuno Dias poderá ter aqui a sua grande prova de fogo, e caso a consiga ultrapassar ganhará certamente um lugar ao lado de Orlando Duarte como um dos melhores treinadores portugueses.

Obrigado, Nuno, por tudo o que tens dado ao meu Clube; espero que as tuas vitórias sejam as minhas durante muitos anos.

Amanhã é dia de derby, amanhã é dia de Sporting.

Entre as teorias da conspiração, os poderes ocultos e o futebol

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a norte de alvalade

Teorias da conspiração

A maior companhia de gás do mundo, que por sinal é russa, e Schalke 04 (tido como tendo das maiores massas adeptas do país), um dos maiores clubes da Alemanha, que por sinal é a maior economia europeia e a quarta maior do mundo: foi o que o Sporting Clube de Portugal teve de defrontar na terça-feira. Isso é o que todos nós conseguimos saber, e são esses dados objectivos sobre os quais devem ser feitas as comparações das forças em confronto. Se a presença de uma equipa de arbitragem também russa e que, nos mais de 90 minutos, teve o azar (?) de se “enganar” apenas e sempre contra o Sporting é mais do que uma mera coincidência fica para a interpretação de cada um. Eu tenho a minha que, mais do que fundada em certezas, é produto de uma amálgama de sentimentos, que vão de uma profunda revolta até à estupefacção.

O que me parece importante reter no escândalo de que fomos vítima em Gelsenkirchen é que quem governa o futebol (e se governa) está pouco preocupado com as normas mais básicas da transparência. A nomeação descuidada – versão benévola – de uma equipa de arbitragem da mesma nacionalidade do patrocinador do clube da casa pode ser entendida como um erro (?) circunstancial, no contexto de uma atitude reiterada de negação perante a evidência da necessidade de introdução de meios que permitam repor a verdade e eliminar os efeitos do erro humano.

Adeptos como eu, mesmo querendo ser optimistas, esbarram sempre na dúvida sobre se esta negação é a evidência da vontade de não deixar que os resultados dos jogos sejam aquilo que deveriam ser sempre: o somatório das forças em confronto, associadas à imponderabilidade que torna o futebol tão atractivo para os adeptos. Juntando a isto o facto de o patrocinador do Schalke ser também patrocinador da competição, temos campo aberto para dar livre curso à imaginação. O pior é que dinheiro e poder muitas vezes conseguem superar, nas suas acções, as imaginações mais produtivas e fantasiosas.

Só mais uma pequena nota neste tema da arbitragem. São arbitragens como as de ontem que, por cá, engrossam o saco de desculpas, já de si bem pesado, para nada mudar o que há de substancial a mudar na arbitragem. Quando houver razões para protestar contra os erros que parecem ser um pouco mais do que isso, lá nos virão outra vez lembrar de que “lá fora ainda é pior”. O que não é verdade. Às vezes, como na terça, até foi, mas normalmente cá é pior.

E o futebol, onde fica?

São este tipo de jogos que me levam a interrogar acerca do tempo e dinheiro que perco à volta de um jogo que é também uma das minhas maiores paixões. É nestes momentos que sou forçado a interrogar-me sobre se estive a ver um jogo ou um filme com um guião com fim pré-determinado. É que filmes e peças de teatro prefiro-os nas salas respectivas, porque mesmo os mais perturbadores raras vezes vêem os seus efeitos prolongarem-se muito para lá de o pano ter descido ou de o fim surgir no ecrã. Como para a grande maioria dos adeptos, o que sucede ao Sporting adquire sempre um carácter pessoal, sendo, consoante o evento, fomento de alegria ou tristeza.

Para o bem ou para o mal a ligação ao Sporting acaba sempre por superar os dissabores, as desilusões e as amarguras. Hoje especialmente porque o que a equipa fez merece que não se fechem as portas à esperança. Tal constituiria uma espécie de traição ao esforço e abnegação perante as contrariedades de todos os que intervieram, directa ou indirectamente, no jogo. Mas a esperança não se esgota apenas no esforço, na garra e no inconformismo revelados, mas por estar de mãos dadas com a qualidade do futebol praticado. Duas condições que ditaram o controlo de um adversário várias vezes mais abastado e nutrido de grandes jogadores, como Draxler ou Huntelar, seguidos de perto por Boateng. Duas condições que, a manterem-se, serão ingredientes para produzir os bons resultados que todos desejamos.

Ter esperança não invalida abdicar do mais elementar realismo. Continuamos a cometer demasiados erros para sermos totalmente bem sucedidos. Até à expulsão do Maurício foi dos jogos onde me pareceu que a equipa denotou maior evolução no aspecto defensivo. A expulsão e até mesmo a primeira falta que originaram o cartão amarelo inicial parecem-me demasiado rigorosos, o que, na comparação do que foi permitido aos alemães, tem ainda pior aspecto. Ignorar a tendência do homem do apito é uma falta de sensibilidade e inteligência que se paga caro, como se viria no salto tão imprevidente como desnecessário – que necessidade tem um defesa central de ir a correr atrás do avançado quase até aos balneários – que ditaria a expulsão do defesa brasileiro. Continua a ser aqui o nosso ponto mais débil e fonte de tantos dissabores no presente ano, e, sem a sua resolução breve, arriscamo-nos a jogar bem mas, aqui e ali, não conseguir muito mais do que essa triste consolação.

Relembrar SuperSic

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O grande prémio deste fim de semana é por terras malaias. Um circuito com um passado recente trágico. É impossível falar desta pista sem nos lembrarmos de Marco Simoncelli. Essa força da natureza com um estilo de pilotagem único, agressivo e cheio de paixão, mas que muitas vezes era criticado pelos próprios colegas.

Marco, o super Sic, tinha um sorriso contagiante fora da pista. Acabava a corrida sempre a sorrir, quer terminasse em primeiro ou em sexto. Era um piloto que animava os paddocks de cada grande prémio. Era alguém agressivo dentro de pista e muito amável e brincalhão fora dela. Talvez fosse esta sua maneira de ser “duas pessoas” totalmente diferentes que cativava multidões.

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Toda a gente gostava do seu cabelo conjugado com o seu enorme sorriso
Fonte: hooniverse.com

Quem não se lembra do seu inglês tão carregado de um sotaque italiano, bem ao estilo de Valentino Rossi? Aliás, os dois italianos eram os melhores amigos. E juntos não deixavam ninguém sem uma gargalhada. Ou então, quem não se lembra do seu cabelo? Aquela pequena juba que não cabia no capacete e que era uma das suas maiores características. Dois detalhes de Marco que se tornaram na sua imagem de marca.

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Ou então, do seu cabelo? Aquela pequena juba que não cabia no capacete e que era uma das suas maiores características
Fonte: asphaltandrubber.com

O Super Sic estava no seu primeiro ano da classe rainha e já nos brindava com corridas de cortar a respiração. Os aficionados das duas rodas lembrar-se-ão, tal como eu, daquele seu último ano na antiga classe de 250cc onde lutava com Álvaro Bautista pelo campeonato, da maneira como o italiano pilotava a sua moto.

As ultrapassagens eram feitas no limite dos limites. Claro que nem sempre corria bem e era criticado por todos. Eu, inclusive. Mas a verdade é que aquele era o seu estilo. Único e tão cheio de adrenalina. E era isso que fazia vibrar os milhares de pessoas que estavam nas bancadas de cada grande prémio e daquelas que viam as corridas através de uma televisão.

Todos os pilotos ambicionam chegar à elite do Mundial de Motociclismo e o italiano não era excepção. Conseguiu esse feito após a vitória no mundial de 250cc. A equipa que o acolheu era, também, italiana. Estava em “casa” o Super Sic.

Na sua época de estreia, Marco lutou com os gigantes como se tivesse corrido com eles toda a vida. Dava tudo de si em cada corrida e era feliz a pilotar assim. Agressivo, apaixonado pela adrenalina. Para ele, cada curva era como se fosse o último segundo da sua vida. E chegou uma hora, cedo demais, em que essa curva foi, de facto, o último segundo da sua vida.

O circuito malaio foi o último a ser brindado com a pilotagem do mágico italiano. Na corrida do dia 23 de Outubro de 2011, Marco Simoncelli perdeu a vida. Logo ali, no asfalto. À segunda volta, numa luta com o seu melhor amigo e também com Colin Edwards.

O mundo das duas rodas parou. Durante horas, tudo parou. Todos estavam cabisbaixos. Todos sabiam o que se passava. Todos sentiam que ele tinha perdido a sua vida, ali, a fazer aquele que sempre o apaixonou e da maneira que sempre viveu: à mais alta velocidade.

E como a vida é feita de ironias, SuperSic deixou a vida no circuito que três anos antes lhe tinha dado o primeiro título na categoria de 250cc.

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Para ele, cada curva era como se fosse o último segundo da sua vida. E chegou uma hora, cedo demais, em que essa curva foi, de facto, o último segundo da sua vida.
Fonte: mirror.co.uk

Por isso, falar do grande prémio da Malásia é falar de Marco Simoncelli. Ainda que eu defenda de que um piloto como ele deva ser lembrado em cada curva, em todos os circuitos. A paixão que ele incutia na sua pilotagem, o seu sorriso e a sua alegria no paddock, nas conferências de imprensa com o seu inglês tão cómico… Tudo isso faz com que Motogp seja sinónimo de Marco Simoncelli. E cada um de nós, os apaixonados pelas duas rodas, jamais poderá esquecer este dia.

Se a minha mãe viu Aryton Senna morrer em Monza e ainda hoje me consegue contar os detalhes deste trágico acidente da F1, eu assisti à morte de um piloto sem igual no mundo do motociclismo. Era um campeão. E deve ser lembrado assim. Com um sorriso no rosto, como ele sempre nos habituou.