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Danilo e o merecido “bi”-Dragão de Ouro

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atodososdesportistas

Numa semana onde o glamour (e a distância para o primeiro lugar…) se aproximou do reino do Dragão, Danilo, a “asa” direita do onze de Lopetegui, ganhou um estatuto nas hostes portistas que até agora poucos possuíam: vencedor de um “Dragão de Ouro”. Rúben Neves, sobre o qual escrevi recentemente, também ganhou um, assim como Jackson Cha Cha Cha Martinez, mas é sobre Danilo de que irei falar.

Depois de mais uma épica disputa no verão 2011/2012 entre FC Porto e SL Benfica pela contratação do então jogador do Santos, o lateral decidiu, e bem, optar pelo clube azul-e-branco (como Falcao, Alex Sandro, Álvaro Pereira, James, Mangala, entre outros que singraram na cidade Invicta) – veio pela “módica” quantia de 13 milhões e ficou blindado por uma cláusula de rescisão de 50 milhões de euros.

Foi chegar, ver e jogar. A adaptação teve de ser rápida, pois Vitor Pereira não contava com Fucile (diz-se que no ano passado, com Paulo Fonseca, o uruguaio agrediu Josué e por isso acabou por ser dispensado) e tinha visto sair aquele que foi o esteio defensivo de André “Saudades” Villas-Boas, Sapunaru. Dado isto, o então jovem e imaturo Danilo teve de se transformar numa referência defensiva e não num “volante”, posição onde tantas vezes jogava no Brasil. Apesar de tudo, é notório que o brasileiro tem “escola” de meio-campo – a tendência para procurar o jogo interior (com e sem bola) é por demais evidente, a sua cultura táctica ofensiva faz dele um monstro do meio campo para a frente e, parecendo uma antítese, é nos momentos defensivos que o lateral (e não defesa) tem de melhorar, aumentando principalmente os índices de concentração.

Danilo chegou ao Dragão com apenas 20 anos e hoje já é titularíssimo e opção para a selecção brasileira  Fonte: zerozero.pt
Danilo chegou ao Dragão com apenas 20 anos; hoje é titularíssimo no FC Porto
Fonte: zerozero.pt

E assim foi. Danilo chegou a Portugal e ainda antes de ter tempo de arrumar as malas já era titular absoluto no FC Porto, coisa rara de se ver em reforços, especialmente em defesas (relembro que Alex Sandro esteve um ano na “sombra” de Álvaro Pereira e Maicon na de Rolando e hoje são titulares absolutos dos dragões). Três épocas volvidas, é, a par de Jackson, um dos líderes do actual plantel (mais até do que os capitães Quaresma e Maicon).

Até a figura máxima do clube, o dirigente mais titulado do mundo do desporto (sim, desporto), Pinto da Costa, disse pela primeira vez que “Danilo merecia não um, mas sim dois Dragões de Ouro”. E isso, por si só, explica como o ainda jovem mas já muito crescido jogador tem importância no seio do plantel azul-e-branco.

Dito tudo isto, enquanto adepto quero deixar uma palavra de agradecimento ao Danilo por tudo o que tem feito pela camisola que, independentemente do design, é e será sempre a mais bonita do mundo, pelo esforço em cada jogo e pela dedicação demonstrada.. Vestindo um fato que realmente quase nunca dispo (o de jovem treinador), peço-lhe que se concentre um pouquinho mais nos momentos defensivos, principalmente no que toca à contenção quando está num “um contra um” – penso que só tinha a ganhar… e o clube também!

Se já tinha um Dragão de Ouro, agora atribuo-lhe eu o segundo. E assim Pinto da Costa tem razão naquilo que diz. Danilo, és “bi-Dragão”, ‘carago!!!

Athletic: Os milhões que não ajudaram

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la liga espanha

O início de época trouxe uma grande notícia para o Athletic de Bilbao: a entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões, onde o clube não estava há 16 anos. Depois de ter terminado a última Liga Espanhola no quarto lugar, o emblema basco superou o Nápoles no play-off e conseguiu, de forma merecida, um apuramento histórico. Contudo, a participação na Champions não está a ser positiva e, pior do que isso, está a afectar sobremaneira a prestação da equipa no campeonato interno. Isto porque, como se esperava, o plantel não tem profundidade suficiente para lutar por objectivos tão exigentes.

Até se iniciar a fase de grupos da Champions, os leões bascos tinham tido resultados perfeitamente normais: derrota em Málaga (num jogo em que o guarda-redes Iraizoz viu um golo que daria o empate ser mal anulado), vitória fácil sobre o Levante e derrota em Camp Nou. A sequência de maus resultados a nível interno começou precisamente após o jogo com o Shakhtar, o que demonstra o impacto que a prova milionária teve na equipa de Valverde. Depois do encontro com os ucranianos, o Athletic esteve seis jornadas sem vencer, e apenas conseguiu regressar aos triunfos no último jogo (0-1 em Almería). Mesmo em casa, onde são tradicionalmente fortes, os bascos têm sentido grandes dificuldades, perdendo pontos com vários adversários acessíveis (0-0 com o Eibar, 0-1 com o Granada e 1-1 com o Celta). Tudo somado, o conjunto orientado por Ernesto Valverde está num medíocre 15.º lugar, 3 pontos à frente do último classificado.

O regresso do Athletic à Liga dos Campeões também não está a ser satisfatório. A equipa basca tem revelado bastantes fragilidades defensivas e parece estar a acusar a falta de experiência a este nível. Após três jornadas disputadas, a turma de Valverde está na última posição do grupo H, já com poucas hipóteses de seguir em frente. O empate em casa com o Shakhtar não foi um resultado dramático, mas o mesmo não se pode dizer da derrota perante o BATE Borisov, que foi goleado pelos ucranianos e pelo Porto. Na visita a Portugal, os bascos voltaram a perder, apesar de terem deixado uma boa imagem na segunda parte, e terão agora como objectivo o apuramento para a Liga Europa.

Ernesto Valverde tem tido várias dores de cabeça esta época  Fonte: Getty Images
Ernesto Valverde tem tido várias dores de cabeça esta época
Fonte: Getty Images

O que está a acontecer ao Athletic não é propriamente caso único. Na época passada, a Real Sociedad enfrentou as mesmas dificuldades, acabando por realizar uma temporada muito abaixo das expectativas, tanto no campeonato como na Champions. É uma consequência inevitável para clubes com plantéis sem a profundidade necessária para lutar por objectivos em várias frentes (e no caso dos bascos a situação ainda é mais complicada, tendo em conta a política destes emblemas). Contudo, ainda há margem para os leões de San Mamés atenuarem este cenário negativo. Repetir o quarto lugar da última época não parece possível, mas não há dúvidas de que o plantel às ordens de Valverde, técnico que também já provou o seu valor, tem qualidade para mais.

Em relação à última época, a grande diferença é a ausência de Ander Herrera, que rumou ao Man United por 36 milhões de euros (valor da cláusula). Apesar da saída de uma das estrelas do clube, o Athletic consegue manter um onze base bastante homogéneo, embora a defesa seja claramente o sector mais fraco. Iraizoz, guarda-redes muito experiente, é uma das referências e ainda dá segurança na baliza; De Marcos, outrora um médio ofensivo de grande potencial, foi adaptado a lateral direito mas apresenta algumas dificuldades a defender, e do outro lado Balenziaga está longe de ser um jogador fiável; a dupla de centrais habitual é formada pelo promissor Laporte, que tem tudo para ser um dos melhores na sua posição, e por San José, bem mais fraco do que o parceiro.

Aymeric Laporte é uma das "jóias da coroa" do Athletic  Fonte: talksport.com
Aymeric Laporte é uma das “jóias da coroa” do Athletic
Fonte: talksport.com

No meio-campo, o duplo pivot tem sido composto por Iturraspe, que esteve em grande na última temporada (foi inclusive chamado à selecção espanhola), e por Rico, jogador algo limitado tecnicamente mas que deixa tudo em campo. À sua frente actua Beñat, que é claramente um dos elementos mais interessantes deste conjunto, destacando-se pela capacidade de passe e pela qualidade na marcação de bolas paradas. Nos flancos, duas das principais figuras da equipa: Markel Susaeta, jogador que dá bastante verticalidade pelo lado direito, e Iker Muniain, o menino que já pede o salto para um emblema com outras ambições. O único avançado, especialmente forte no jogo aéreo, é Aduriz, que, aos 33 anos, mantém intacta a veia goleadora.

Se no onze há bastante qualidade, o mesmo não se pode dizer das alternativas aos titulares, que deixam um pouco a desejar. Há Unai López, médio de apenas 18 anos que tem tudo para ser o “novo Ander Herrera”, Ibai Gómez, extremo rápido e com facilidade de remate, e Guillermo Fernández, jovem avançado que vai aparecendo na equipa, mas em termos gerais é notório que faltam opções para Valverde. O problema é que a filosofia do Athletic de só ter jogadores bascos ou descendentes de bascos complica bastante o ataque ao mercado, sendo bastante provável que o técnico espanhol tenha de enfrentar o resto da temporada com este elenco. Atendendo ao facto de o emblema de Bilbao ter perfeita saúde financeira, quase apetece dizer que os milhões da Champions eram dispensáveis, pois vieram dificultar seriamente a temporada da equipa. Mas, se pensarmos apenas no que a participação na prova milionária representa para o clube e para a região, de certeza que jogadores e adeptos não a trocariam por nada.

O papel social do Futebol

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cab reportagens bola na rede

“Como é que podes gostar de futebol sabendo o dinheiro que os clubes gastam?”. Já me fizeram esta pergunta, de forma mais ou menos directa, mais do que uma vez. E há aqui uma verdade indesmentível: de facto, os valores com que o futebol lida são absurdos. É quase esquizofrénico – e, no entanto, muito comum – ouvir em conversas entre adeptos coisas como “sim, o Real só pagou 20 milhões por ele” ou “10 milhões? Então foi barato, ele valia no mínimo 15!”. Deveria ser inconcebível imaginar um mundo em que é aceitável gastar 30 milhões de euros num ser humano, qual mercadoria transaccionada no mercado, mas consagrar uma pequena parcela desse valor à saúde, educação ou cultura já é visto como inaceitável. Mas a verdade é que esse mundo existe.

No entanto, é aqui que os críticos do futebol falham. E falham porque se enganam redondamente no alvo. P. Duarte, autor deste texto, pinta a realidade de forma exemplar: Pelo menos desde a Grécia Antiga que é um lugar-comum para qualquer intelectual construir a sua reputação (de ‘intelectual’) por oposição aos vícios mais triviais da vida – com o futebol, nas últimas décadas, à cabeça de todos eles. Quem nunca ouviu o intelectual cagão do café, do trabalho ou da universidade afirmar que não consegue perceber como é que tanta gente se entrega tão visceralmente aos prazeres da bola (e a outros prazeres que a razão não sabe explicar)?”.

futebol massas
Futebol, desde cedo um desporto de massas e um complexo fenómeno social
Fonte: thefa.com

Se se louva a preocupação de uma certa camada intelectual pelas questões económico-sociais que envolvem o futebol, já se percebe menos o desprezo por este desporto ou os ataques ad hominem aos que gostam dele e o seguem. Quem faz do futebol um meio artificial, ganancioso, mercantilista e completamente desfasado do mundo real não são os adeptos – estes vibram com grandes golos, grandes jogadas e grandes defesas desde o séc. XIX. O futebol tem todos esses vícios por causa do sistema económico em que se insere, e do qual não pode fugir – o capitalismo, sistema que, de resto, deixa a sua marca em muitas outras áreas: para não ir mais longe basta lembrar a indústria farmacêutica, que subordina as pesquisas para determinados medicamentos e curas à possibilidade ou não de lucro.

Não adianta estarmos com meias palavras, tanto porque as designações existem para serem usadas, como porque a História não chegou ao fim. Citando o mesmo texto, o futebol está, “em grande parte, colonizado pelo capitalismo”. Noutro artigo igualmente interessante, o autor Bruno Carvalho faz um relato fiel à realidade quando diz que o mundo do futebol moderno destrói aquilo que devem ser os princípios desportivos e não vê mais do que o negócio. Os principais clubes são enormes pólos de lavagem de dinheiro e vivem nos tentáculos do poder económico e político. A corrupção transborda por todas as partes. Grande parte dos árbitros profissionais manipulam a realidade a troco de dinheiro e boa parte dos jogadores vive para os patrocínios. É um mundo que serve muitas vezes como ferramenta de alienação”.

Penso que todos nós, quer sejamos ou não adeptos de futebol, temos um pouco esta percepção. No entanto, o autor das linhas que citei não cai no erro de dizer que essa alienação é inerente ao futebol. Que ela existe e é estimulada, é um facto. Mas isso não acontece só com o futebol: com Hollywood, com a moda ou com a indústria musical, por exemplo, passa-se o mesmo. É a tal colonização das várias áreas da vida, subordinando-as ao lucro e a uma lógica mercantilista.

bukaneros reivindicacion politica nov 2012
Protesto dos Bukaneros, claque do Rayo Vallecano, contra os despejos em Espanha
Fonte: cuestionatelotodo.blogspot.com

O futebol está repleto de exemplos que contrariam a tese de que o seu único destino é reforçar a alienação. Darei apenas alguns: em 1942, uma equipa de prisioneiros políticos ucranianos, ex-jogadores de futebol, derrotou uma elite da Wehrmacht nazi mesmo conhecendo as possíveis consequências de uma eventual vitória – e que se vieram a verificar – naquela que ficou conhecida como “a partida da morte”; Matthias Sindelar, considerado o melhor jogador austríaco de sempre, marcou um golo e festejou à frente dos oficiais nazis no jogo que celebrava a anexação do seu país ao Reich, tendo também recusado participar no mundial de 1938 pela Alemanha nazi (morreria misteriosamente no ano seguinte); nomes de jogadores-activistas como Cristiano Lucarelli, Javier Zanetti, Paolo Sollier, Oleguer, Lilian Thuram ou o génio brasileiro Sócrates são familiares para quem segue o futebol para lá das quatro linhas; por último, clubes como o Livorno, o St. Pauli, o Celtic, o Marselha, o Athletic Bilbao ou o Rayo Vallecano são conhecidos por a maioria dos seus adeptos partilhar convicções anti-fascistas e anti-racistas. E, se a existência de casos de ódio no futebol acaba também por ser o reflexo da realidade, os (bons) exemplos contrários são mais do que excepções à regra e não devem ser ignorados.

Posto isto, por que razão o futebol usufrui de um estatuto tão especial e privilegiado junto das massas? João Garcia, colunista do Expresso, ajuda a responder a isto num artigo de 24 de Maio: “também sou daqueles que não entendiam por que é que se criticam os banqueiros e gestores que ganham milhões e se veneram os Ronaldos e os Mourinhos, que são igualmente actores, brilhantes, mas de um negócio diferente. Afinal é simples, as estrelas do futebol trazem felicidade às pessoas. Acrescento apenas que, para além da felicidade, este desporto é dos únicos elementos que confere emoção e imprevisibilidade à rotina de milhares de vidas monótonas, onde não há espaço para a criatividade. No futebol, ao contrário do que acontece na vida, não se sabe à partida quem vai ganhar o jogo. É difícil um Moreirense vencer um Sporting ou um Benfica. Mas, em todo o caso, é mais frequente isso acontecer do que uma pessoa nascer pobre e tornar-se milionária, ou mesmo conseguir penetrar na classe média.

De novo P. Duarte: “enquanto recurso mobilizável pelo capitalismo, o espectáculo futebolístico serve também para a recuperação da ‘força de trabalho’ dos assalariados-espectadores (…). No interior do estádio ou diante da televisão, o fã sabe que poderá subitamente fazer tudo aquilo que a gestão capitalista erradicou de grande parte do seu quotidiano – pintar-se, gritar, chorar, emocionar-se, zangar-se, vociferar, abraçar, saltar, cantar…”. Está assim explicado, parece-me, o papel social do futebol: por um lado, colonizado, explorado e subvertido pelo capitalismo em nome do lucro; por outro, “porto de abrigo” de uma classe trabalhadora refém da monotonia e das contrariedades do quotidiano. A segunda parte desta caracterização está bem patente neste vídeo:

[ot-video type=”youtube” url=”https://www.youtube.com/watch?v=M5i655HD8Wk”]

É ponto assente que o futebol desempenha uma função alienadora. Só isso explica que haja tribos urbanas que se confrontem e que cheguem literalmente a matar por questões ligadas a este desporto. Mas também aqui o futebol é reflexo da sociedade: durante 99,9% do tempo, as pessoas estão ocupadas por assuntos mundanos, e apenas nos restantes 0,1%, tomam consciência real da sua força.

A Turquia é conhecida por ter dos adeptos mais fanáticos e problemáticos do mundo. No entanto, aquando dos tumultos na Praça Taksim, foram muitos os casos de solidariedade entre adeptos rivais. Serve este exemplo apenas para mostrar que, reunidas as condições objectivas para o despertar da consciencialização politico-social seja em que contexto for, não é o futebol que vai impedir que isso se processe. E, sendo este o desporto mais seguido a nível mundial, não é difícil adivinhar que há muitos adeptos desta modalidade entre aqueles que, em Portugal ou noutro sítio, saem à rua para defender os seus direitos. Caso se justifique e a realidade o exija, o futebol será até posto de lado. A História mostra-nos que sempre foi assim.

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Na Praça Taksim, adeptos rivais posicionaram-se lado a lado: quando se acende o rastilho da consciência social, acabam-se as “guerras” artificiais entre clubes
Fonte: 101greatgoals.com/

Todos têm o direito de gostar ou não gostar do que quer que seja, e o futebol não é excepção. Mas algumas críticas – as que deram azo a este texto – parecem-me precipitadas porque abordam a realidade de uma forma simplista. Sobre esta temática, não resta muito mais a dizer a não ser voltar de novo a um texto já aqui citado: “Eu não deixo de ler só porque o mercado livreiro está dominado por editoras que privilegiam certo de tipo de literatura. Eu não deixo de ouvir música só porque a música de que gosto não passa na rádio. Há milhões de adeptos de futebol que lutam pelo fim do desporto enquanto negócio e arma de alienação. E um dia, no mundo melhor por que lutam também os que gostam de futebol, haverá espaço para desfrutar enquanto praticantes e enquanto adeptos. Sem mochilas a fazer de baliza e com o acesso ao desporto como direito conquistado e acessível a toda a população”.

É precisamente isto que, enquanto adepto de futebol, pretendo ver consumado: que um dia a justa organização do trabalho permita libertar tempo para a criação cultural e para a prática desportiva, possibilitando a qualquer cidadão expressar-se através do seu corpo e do seu intelecto e, dessa forma, não só atingir a sua realização pessoal como contribuir para o progresso da humanidade.

Parecendo que não, tudo aquilo que as pessoas mais gostam no futebol, desde o amor à camisola até ao desenvolvimento do futebol-arte por gosto e não pelo dinheiro, passando pelos bilhetes a preços racionais por forma a encher os estádios, está em vias de desaparecer devido à lógica capitalista. A especulação, as lavagens de dinheiro, a transacção de seres humanos como se fossem mercadoria, a promiscuidade com o poder político e económico, tudo isso são tentáculos lançados pelo sistema económico em que vivemos. E é vital que nos desembaracemos deles, para cada um de nós possa desfrutar – não só enquanto adepto, mas também enquanto praticante –  de um desporto-rei verdadeiramente enriquecedor e democrático.

O céu a quem o merece

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tinta azul em fundo brando pedro nuno silva

Decorreu, no dia 27 de Outubro, no Dragão Caixa, a gala de entrega dos Dragões de Ouro – os galardões que premeiam quem se destaca pelo seu trabalho no FC Porto. Confesso que por questões de agenda vi pouco da gala mas do que vi não deixei de notar, com visivel satisfação, que o Presidente Jorge Nuno Pinto da Costa continua a discursar sem precisar de cábulas e continua a ter o mais completo sentido no que diz. Mais do que falar à toa e disparar em todas as direcções, é preciso apontar a mira a quem é de apontar e elogiar quem tem de ser elogiado.

O reconhecimento público dos atletas, dirigentes e treinadores é necessário. É preciso enaltecer quem faz algo pelo clube e quem luta para que este não pare de crescer. Se há algo que noto com orgulho é a saudade e o carinho com que certos ex-profissionais do clube falam dele; podem até não ser portistas de criação mas no Dragão encontraram a sua casa, nos portistas os seus aliados e nos funcionários o seu amparo.

No futebol actual, super globalizado, clubes como o Porto têm que fazer a diferença pelo máximo de vias possível – desportiva, financeira, pessoal, enfim, tudo o que ofereça aos seus atletas conforto, ambição e bem-estar para que prefiram continuar connosco quando os euros dos mais ricos os assediarem. O Porto tem que ser o clube que lhes ofereça conforto, a eles e às suas famílias, por forma a que algo pese de forma mais importante na hora da decisão de um jogador em abandonar os Dragões. Se a ambição de um atleta é acima de tudo a glória desportiva, deixar a marca nos adeptos, ser recordado e admirado, então o Porto é também o sítio certo para se estar. Deco encheu um estádio no seu jogo de despedida, Benni McCarthy ainda hoje ouve a sua canção, Madjer é recordado pelo seu calcanhar, Moutinho recebeu um prémio já depois de sair, e podia escrever as próximas páginas de jogadores que deixaram a sua marca, de jogadores que sabem que o Porto os valorizou (e valoriza) e que sabem que este clube recompensa quem lhe faz bem.

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Todos os galardoados na noite dos Dragões de Ouro
Fonte: fcporto.pt

Se olharmos para os nomes mais sonantes dos galardoados, percebemos que para Danilo, Jackson e Ruben Neves talvez o Porto represente hoje algo mais, talvez sintam que os euros do estrangeiro são bons mas que este clube os valoriza. Talvez algum jogador novo se tenha apercebido de que o Porto não é um clube qualquer mas antes um clube de fortes impressões, de pegadas profundas e, portanto, percebam também que apesar de poderem ter vontade de ir embora, enquanto cá estiverem têm de dar tudo e que aqui na Invicta se luta até ao fim. Podem ir buscar riqueza (como se já não a tivessem aqui!) noutro lado mas em termos de glória, reconhecimento, bravura e sentimento dificilmente encontrarão igual noutras paragens. Sejam jogadores à Porto e este será sempre o vosso lar.

Termino com um muito obrigado aos Dragões de Ouro 2013/2014:

Atleta do Ano: Jackson Martínez
Futebolista do Ano: Danilo
Jovem Atleta do Ano: Maria Francisca Cabral (Natação)
Treinador do Ano: Ljubomir Obradovic (Andebol)
Atleta de Alta Competição do Ano: Alfredo Quintana (Andebol)
Atleta Amador do Ano: Pedro da Clara e Carla Oliveira (Desporto Adaptado)
Atleta Revelação do Ano: Rúben Neves
Dirigente do Ano: Eng.º Luís Fernandes
Funcionário do Ano: Bruno Pinto
Sócio/Adepto do Ano: Eduardo Vítor Rodrigues (presidente da Câmara de V. N. Gaia)
Projecto do Ano: Museu FC Porto by BMG
Parceiro: Unicer
Casa do FC Porto Nacional: São Miguel e Santa Maria (Açores)
Casa do FC Porto Internacional: Jersey (Grã-Bretanha)
Carreira: Eduardo Braga
Recordação: Prof. Hernâni Gonçalves
Dedicação: José Luís
Honra: Fernando Sardoeira Pinto

Por que tem o Brasil as melhores torcidas?

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brasileirao

Torcer (latim torqueo) – torcer, vergar, enrolar, arrastar, tornar, torturar, atormentar, brandir, sondar, investigar). Consulta no dicionário online Priberam.

Sim. É isto que quer dizer torcer. Fazer muita força. Um esforço demasiado, até. Por uma causa. E com este raciocínio podemos chegar à segunda definição desta palavra: dar apoio a ou esperar resultado positivo de alguém. Neste caso, de um clube.

No Brasil, é um fenómeno mais ou menos antigo. Surgiu ainda na primeira metade do século passado, pelas mãos, imagine-se, de um padre. O clube? O São Paulo e o nome do católico que fez prosperar o Grêmio São-Paulino – nome da claque – era Manoel Raymundo Paes de Almeida. Decorria o ano de 1939. Pouco a pouco, outros movimentos do género foram proliferando, integrando nos grupos elementos populares do samba, do carnaval e alguns motivos religiosos. Ah, e claro, também existe sempre uma mascote ligada à torcida e, consequentemente, à equipa.

É claro que há sempre muita polémica em relação às claques. Quem as financia? Serão legais? Porque têm bilhetes mais baratos, se há sócios que não fazem parte delas? Isso deveria caber às autoridades investigar. Até porque pode haver sempre negócios obscuros incluídos no pacote. A violência também faz parte do quotidiano. Ainda há pouco tempo, jovens da torcida do Santos esventraram até à morte um congénere do Palmeiras, depois de mais um duelo para o Brasileirão. Desde 1990, são já 200 mortes registadas por violência no futebol. Muitas delas, infelizmente, ligadas aos movimentos de torcidas. Uma coisa que deveria ser de festa é muitas vezes transformada para fins malévolos. Verifiquemos, por exemplo, a invenção da dinamite, por Alfred Nobel. Aconteceu o mesmo: deturpou-se a ideia original.

Claro que durante uma partida é normal que se digam palavrões e que se cantem palavras menos bonitas em relação ao rival. Mas xingar e brincar dentro do jogo é algo que faz parte. O problema é quando isso extravasa…

botafogo
Torcida uniformizada do Botafogo
Fonte: bandeirasbotafoguenses.blogspot.com

Voltemos ao ponto inicial, falando de coisas mais bonitas, agora que a parte pedagógica já foi referida. É conhecido o poderio das torcidas brasileiras. Enfim, os “gaviões da fiel”, do Corinthians; a “torcida jovem fla”, do Flamengo, fundada ainda na década de 1960; a “galoucura”, do Atlético Mineiro e muitas outras. Peço desculpa pelas muitas que não referi, mas era para dar um exemplo pequeno. Eu já estive em várias e posso garantir: é espetáculo pela certa. Baterias e blocos de samba não param um segundo. As coreografias são animadas. Há confettis e papéis pelo ar e até papel higiénico, embora este último já não seja tão usual no Brasil, mas sim na Argentina, o que dá um efeito festivo brilhante. O Estádio da Luz, nomeadamente nos anos 70 e 80 também aparecia muito com esta configuração de papel, por exemplo. Um facto que me chamou a atenção foi que nas torcidas, e no público em geral, se reclama pouco com a arbitragem. Há assobios, claro, e gritos do tipo “juiz, ladrão!” e outros epitáfios que agora não posso aqui reproduzir. Mas o jogo segue e a alegria volta. Nem sequer se sabe quem é o árbitro e de onde vem. Acho que esse continua a ser um fenómenos exclusivo português.

Os Gaviões da Fiel no Morumbi  Fonte: Wikipedia
Os Gaviões da Fiel no Morumbi
Fonte: Wikipedia

Para dar um exemplo de números, gostaria de vos contar que a torcida “urubuzada”, do Flamengo, cujo nome foi dado em honra à mascote do clube – o Urubu -, contava nas suas fileiras, no princípio dos anos 1990, com cerca de 50 mil adeptos presentes em todos os jogos. Numa altura em que o Maracanã albergava, sem problemas, cerca de 160 mil pessoas. Era, portanto, cerca de um terço do recinto. Lembro-me de o meu pai me contar que na época em que lá viveu – e estamos a falar dos anos 1980 – assistiu a um Fla-Flu no Maracanã, com 85 mil pessoas. Disse-me que o Estádio parecia estar vazio. Imaginem se não estivesse…

Quatro anos de Bola na Rede

Se há 4 anos me perguntassem se achava que o Bola na Rede iria ter esta dimensão, eu não acreditava. Não o digo por falsa modéstia, simplesmente não entenderia que seria possível. Com 19 anos, criei um programa de rádio com amigos, motivado pelo simples gosto de falar sobre desporto. Sem expectativas e apenas por diversão. Nunca, em momento algum, imaginava um dia entrevistar ídolos de infância e figuras míticas do desporto nacional como João Benedito, Madjer, Jorge Andrade, Daúto Faquirá, Carlos Lisboa, Aurélio Pereira, Ricardo, Bruno de Carvalho, Carlos Daniel, Toni, Luís Franco-Bastos, Fernando Santos ou Luís Freitas Lobo. Mas aconteceu. Com persistência e muito ajudado por todos aqueles que fazem ou fizeram parte deste enorme projeto.

Ontem, o Bola na Rede era apenas rádio. Primeiro entre amigos, depois mais a sério e com convidados. Foram 3 anos de programas, entrevistas e, acima de tudo, muito gosto por aquilo que se fazia.

Hoje, a marca “Bola na Rede” é mais do que um programa de rádio. Há pouco mais de um ano, tornámo-nos num site de opinião desportiva, rodeado de escritores com imensa qualidade, que teriam lugar em qualquer redação jornalística do nosso país. Formámos um gabinete de revisão extremamente competente, uma secção de design cada vez mais entrosada e um gabinete de comunicação que começa agora a dar os primeiros passos de uma caminhada de sucesso. Todos juntos primam pela qualidade, esforço e dedicação de querer fazer crescer ainda mais este projeto.

Não quero apresentar falsas modéstias. Eu considero que este projeto tem imensa qualidade e tenho o maior orgulho em perceber que ele só pode crescer mais.

Passaram 4 anos. Que venham muitos mais. Em nome do Bola na Rede, o meu muito obrigado a todos. Aos que nos visitam diariamente, aos que acompanham o programa de rádio de forma religiosa, aos coordenadores do projeto, aos redatores, aos revisores, aos designers, ao gabinete de comunicação, a todos aqueles que já fizeram parte do projeto (tanto em rádio, como no site), a Nuno de Sousa Moreira, criador da ESCS FM, por ter aberto um lugar na grelha para o nosso programa, a Nuno Portugal, incansável trabalhador e amigo que sempre se disponibilizou para ajudar na manutenção do estúdio e a Francisco Sena Santos, que soube motivar todos os seus alunos a gostar de algo tão belo como é a rádio.

O meu sincero obrigado a todos.

Acabou o medo?

amarazul

“Fora de portas”. Só esta expressão começava a ser temível para qualquer adepto portista, o que, até há pouco mais de um ano, seria impensável. Este fim-de-semana pode, no entanto, ter sido dado um verdadeiro pontapé no sentido contrário – de volta a um estado estável.

Em época em que não se ganha, já se sabe, há contestação. Sempre. É inevitável. Mas a época de Paulo Fonseca não foi normal, dentro daquelas (poucas) em que o Futebol Clube do Porto não ganha. Houve mudança de treinador e, mais do que isso, muitas derrotas. Sobretudo fora de casa.

Por todos estes motivos, com Lopetegui algo teria de mudar. O Porto foi a Guimarães, a Alvalade e à Ucrânia empatar depois de um bom arranque fora de portas, com vitórias sobre o Paços de Ferreira e o Lille, e havia assim uma qualquer sensação de receio no ar. Os erros não podiam voltar, não aqueles e não numa altura tão crítica. Por tudo isto, era preciso uma resposta sólida e… assim foi.

Uma mão cheia de golos. Autoritária, sem resposta e, acima de tudo, sem qualquer lugar para dúvidas.  Em Arouca jogava-se pela confiança, pelo regressar da tranquilidade e, é certo, pelos três pontos. A chave? Bom… Talvez aí tenham sido bastante influentes Quintero, Brahimi, Tello e Jackson no onze inicial. Com eles, tudo é diferente. A dinâmica é outra, a quantidade e a qualidade das oportunidades criadas é incomparável.

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Com os mágicos em campo, a ‘conversa’ é outra.
Fonte: desporto.sapo.pt

De um lado ao outro de um passe só, para trás com o intuito de recomeçar a construção e para a frente com um objectivo: a baliza. O golo, sempre o golo. Se a rotação de Lopetegui se prova cada vez mais estratégica, o ataque é o sector que tem de se tornar cada vez mais estável para que a fórmula resulte sem espaço para hesitações. E aí tudo depende do entendimento dos intervenientes.

O segredo está, como com qualquer plantel, na falta de medo. Não de respeito, porque esse tem de existir sempre, mas de medo. E o Futebol Clube do Porto jogava a medo nalgumas das suas últimas deslocações.

Não estou com isto a dizer que ficou escrito o contrário. Não, não, não. Não pensem que sou ingénuo ao ponto de me deixar convencer totalmente por uma vitória (ainda que expressiva) no terreno do Arouca. Não, claro que não! Considero sim, e todos o deveríamos fazer, um bom ponto de partida. Repleto de confiança e bons pormenores. Porque é assim que se perde o medo e se recupera a confiança.

Jogadores Que Admiro #25 – Steven Gerrard

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Uma lenda viva do futebol. Uma das últimas histórias de amor do futebol moderno. Steven Gerrard nasceu a 30 de maio de 1980 em Whiston, Merseyside. A cidade fica localizada a 8 quilómetros a este de Liverpool, e foi onde o pequeno Gerrard deu os primeiros pontapés numa bola.

Jogador dos reds desde 1992 (juniores), Gerrard estreou-se com a camisola principal do Liverpool a 29 de novembro de 1998, frente ao Blackburn Rovers. Desde aí foram 678 jogos e 176 golos com a camisola 8 vestida. Stevie, como é carinhosamente apelidado pelos adeptos do Liverpool, atingiu o estrelato ao conquistar a Liga dos Campeões em 2004/2005, na mítica final frente ao AC Milan – foi nomeado MVP da partida. Indiscutivelmente um dos melhores médios de sempre do futebol, carrega aos ombros o fato de nunca ter conquistado o titulo de campeão da Premier League. É profundamente triste imaginar que um talento como Gerrard, que dedicou toda a sua vida futebolística ao clube do coração, vá abandonar o futebol sem  uma Liga Inglesa no currículo.

No topo da carreira, em 2005, após vencer a Liga dos Campeões.  Fonte: ipicturee.com
No topo da carreira, em 2005, após vencer a Liga dos Campeões.
Fonte: ipicturee.com

No que toca ao trajeto internacional, o percurso na seleção inglesa é pautado por muitas presenças mas pouca glória. Ao todo foram 114 jogos e 21 golos, mas nenhum título. Com uma capacidade de passe incomum, uma leitura de jogo soberba e uma disciplina tática inigualável, Gerrard é o médio de sonho de qualquer treinador. A forte estampa física que sempre evidenciou permitiu-lhe, desde muito cedo, impor-se perante qualquer adversário. Para além disso, uma das marcas mais ilustres de Steven Gerrard é a espetacularidade dos seus golos. Qualquer pesquisa rápida no Youtube permite perceber que o médio do Liverpool sabe fazer golos de levantar o estádio.

Facilmente identificável como um líder, assumiu a braçadeira de capitão em 2003 e é, desde há muito tempo, a principal figura do balneário dos Reds. Foram muitos os craques que, ao longo de várias temporadas, partilharam a companhia de Gerrard em Anfield Road e, no final de contas, todos elogiaram o seu companheirismo, humildade, dedicação e profissionalismo. Como se não bastasse, Gerrard é, talvez, o último dos românticos no futebol. Por diversas vezes o médio inglês confessou ter rejeitado propostas de vários clubes europeus de topo, com o Real Madrid à cabeça. A verdade é que Stevie “nunca deixou o Liverpool caminhar sozinho”, e hoje tem um lugar de honra no coração dos adeptos do Liverpool e na galeria de Anfield.

Por estas razões, e por muitas outras, Steven Gerrard é indubitavelmente um dos jogadores que mais admiro.

SC Braga 2-1 Benfica: meia parte não chega

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Depois de mais uma pálida exibição na Liga dos Campeões, o jogo de hoje em Braga era um importante teste à capacidade do Benfica. E ainda nem todos os espectadores estavam sentados na bancada quando Eliseu, lançado por Gaitán, ultrapassou André Pinto e entregou a bola para Talisca fazer o 0-1 e retomar a liderança na lista de melhores marcadores. Era o início de jogo perfeito para um Benfica que se queria forte e autoritário num terreno tradicionalmente complicado. Como se viria a confirmar adiante na partida. No entanto, ainda nos primeiros 25 minutos do jogo, o Benfica dominou o encontro com uma defesa muito subida e junta ao meio-campo, que não dava espaço às tímidas tentativas do Braga de criar perigo. Lima e Salvio tiveram boas oportunidades para fazerem o 0-2 e deixarem o resultado bem encaminhado. Tal não sucedeu e, lá vem o velho ditado, “quem não marca, sofre”. Num lance quase caricato de possível perigo de Lima na área do Braga, nasceu o golo… do Braga. Aproveitando o balanceamento dos campeões nacionais para o ataque, Pardo assistiu Éder, que não teve dificuldade em empurrar para a baliza (quase) deserta de Artur e empatar a contenda.

Jorge Jesus falhou Fonte: Facebook Benfica
Jorge Jesus falhou
Fonte: Facebook Benfica

Foi a partir dos 25/30 minutos, altura do empate, que o Benfica quase se desligou do jogo. A superioridade até aí tida no meio-campo evaporou-se e o Braga foi crescendo e criando sucessivos sustos a Artur, tendência que se confirmou e ganhou maiores proporções no segundo tempo. Aos 62 minutos, o momento do jogo. Não, não foi o golo do Braga. Uma paragem cerebral de Jorge Jesus fá-lo tirar Samaris de campo (esteve longe de realizar uma má exibição) e lança… Jonas. Até sou capaz de compreender a mensagem que o treinador queria passar para o relvado, numa tentativa de forçar a vitória. O problema é a incapacidade de Talisca de jogar no miolo, ainda para mais com Enzo Pérez ao lado. O argentino é grande mas não chega para tudo. Foi, pois, a partir da hora de jogo que o Braga assumiu quase por completo o domínio do jogo. Ganhando facilmente o meio-campo com três homens (Danilo, Ruben Micael e Tiba) perante os desamparados Talisca e Enzo, a equipa bracarense não sentia qualquer dificuldade em lançar Pardo e Rafa (Agra mais tarde), que fizeram a cabeça em água aos laterais encarnados. Não surpreendeu, por isso, o 2-1 para a equipa da casa, apontado por Salvador Agra num belo remate após ultrapassar Maxi Pereira.

O Benfica acusou, e muito, o desgaste da partida de quarta-feira no Mónaco e nunca conseguiu, fora os primeiros 25 minutos, assumir o controlo do encontro. Nem as duas grandes defesas de Matheus à cabeçada de Gaitán e à recarga de Maxi Pereira, quase no cair do pano, conseguem disfarçar uma exibição fraca da equipa de Jorge Jesus. A terceira derrota em 2014/15 deve servir para o treinador reflectir sobre algumas opções que tem tomado. Bem sei que o plantel não apresenta o luxo da época passada, mas tão pouco futebol é incompreensível. O Porto está a um ponto e o Sporting a três e exige-se muito mais a este Benfica.

 

A Figura:

Sporting de Braga – Aproveitando a quebra de rendimento do Benfica no segundo tempo, a equipa da casa superiorizou-se ez por merecer a vitória no encontro.

O Fora de jogo:

Jorge Jesus – À tendência de falhar constantemente nos jogos difíceis, o treinador do Benfica juntou a substituição de Samaris por Jonas. Tudo junto, só podia dar mau resultado.

Sporting 4-2 Marítimo: Uma vitória da história

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Na celebração de mais um aniversário da camisola Stromp, assim baptizada em homenagem a uma das maiores figuras do passado leonino, o Bola na Rede esteve pela primeira vez a acompanhar um jogo do Sporting a partir da zona de imprensa do Estádio José Alvalade.

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Pela primeira vez, o Bola na Rede esteve na Zona de Imprensa do Estádio José Alvalade

Mesmo largos minutos antes do início da partida, as bancadas já se encontravam repletas, com 37.569 adeptos leoninos munidos de camisolas Stromp, gargantas afinadas e muitos cachecóis desfraldados. Um bom prenúncio para o excelente jogo que esta noite Sporting e Marítimo realizaram em Alvalade.

Marco Silva escolheu o mesmo onze que defrontou o Schalke 04 na passada terça-feira em Gelsenkirchen, e o Sporting comandou o jogo desde o apito inicial. João Mário e Adrien tentaram impor o seu jogo apoiado e de classe, e cedo chegaram ao primeiro golo. Aos oito minutos, João Mário desmarca na direita Carrillo, que cruza para a área onde Bauer, infeliz, comete autogolo.

O Sporting não baixou a intensidade de jogo nem tão pouco as suas linhas, e foi com alguma naturalidade que aos 15 minutos João Mário marcou o segundo golo da partida, o primeiro com a camisola principal do clube.

A equipa de Alvalade vinha para este encontro determinada a provar que as boas exibições e os bons resultados eram para continuar; Nani colocava a cabeça em água a João Diogo, enquanto Danilo Pereira e Fransérgio tinham muitas dificuldades em segurar o meio campo leonino.

Ainda assim, o Sporting abrandou o ritmo após o segundo golo, permitindo algum equilíbrio da partida. Mas foi somente aos 26 minutos que o Marítimo causou pela primeira vez perigo junto da área leonina; após uma jogada algo confusa no lado esquerdo do ataque insular, a bola parecia destinada a ir para o fundo das redes da baliza, mas Jonathan, corajoso, conseguiu tirar a bola ao avançado verde-rubro. Na resposta, Montero conseguiu fugir à marcação mas a sua tentativa de chapéu saiu muito alta.

O Marítimo ganhou confiança e começou a subir no terreno, aproveitando alguma insegurança de Cédric na lateral direita, mas esta superioridade foi de curta duração. Ainda antes do final da primeira parte, e na sequência de um canto de Nani, Paulo Oliveira cabeceia sem oposição para o terceiro golo leonino.

O Sporting foi então para o descanso com uma vantagem expressiva de três golos, perante um Marítimo que, com a excepção de cinco minutos em que foi realmente perigoso, se mostrou tremendamente apático e incapaz de contrariar a velocidade do tridente ofensivo leonino, perdendo constantemente a batalha a meio campo.

A segunda parte iniciou-se com o golo do Marítimo: cruzamento largo do lado esquerdo e Maazou, sozinho, só teve que cabecear para fora do alcance de Patrício. Os madeirenses voltavam assim à discussão da partida, ainda com quarenta minutos pela frente. Volvidos três minutos, Mohamed cria novamente perigo eminente junto à baliza leonina, mas Patrício consegue evitar o segundo golo do Marítimo.

O Sporting estava adormecido, sem reação e o conjunto insular aproveitou para marcar de novo. Maazou surgiu na esquerda novamente sem oposição e rematou forte para a baliza dos leões. Após uma primeira parte de grande nível, o início da segunda parecia um pesadelo, com os comandados de Marco Silva a passarem por enormes dificuldades para construir jogo.

Quinze minutos passaram sem qualquer situação de perigo, até que o Sporting o voltou a criar junto da baliza de Salin, mas uma situação de cinco avançados contra apenas três defensores deveria ter sido melhor aproveitada por Carrillo, que rematou fraco, permitindo a defesa do guardião francês.

Montero assinou o momento do jogo com um fantástico remate à meia volta Fonte: Zerozero
Montero (dir.) assinou o momento do jogo com um fantástico remate à meia volta
Fonte: Zerozero

Aos 66 minutos surgiu o golo da tranquilidade. Montero domina uma bola difícil com o peito após passe de Adrien e, num remate acrobático, descansa o público leonino, após um complicado início de segunda parte. Com este golo do Sporting o jogo voltou a acalmar, e apenas a dez minutos do final do encontro o Marítimo voltou a criar perigo. Maazou, sempre ele, passou em velocidade por dois defesas e rematou para boa defesa de Patrício.

Com o jogo resolvido, Marco Silva fez entrar Miguel Lopes e Tanaka na partida, permitindo que o internacional português cumprisse os primeiros minutos na temporada. Um regresso bem saudado pelos adeptos leoninos.

O jogo terminou com o Sporting perto de dilatar o marcador, com Capel ainda a rematar para o fundo da baliza do Marítimo – mas o golo foi anulado por fora de jogo.

Foi um jogo com duas metades e com duas histórias. No primeiro tempo o Sporting foi dono e senhor da partida, criando várias dificuldades ao conjunto de Leonel Pontes. Três golos, várias oportunidades e um futebol vistoso e simples. Na segunda parte tudo mudou. Os leões entraram adormecidos pela vantagem e num ápice o Marítimo voltou ao jogo, marcando dois golos e ameaçando o terceiro. A meio da etapa final, Montero pôs um ponto final na partida, marcando o melhor golo da noite. Uma vitória justa num bom espectáculo de futebol.

A Figura

Nani – o extremo formado em Alcochete continua a encantar Alvalade e é neste momento o melhor jogador da Liga Portuguesa. Dribles, capacidade de passe e mais duas assistências nesta partida. Um verdadeiro quebra-cabeças para qualquer defesa.

O Fora-de-Jogo

Cédric Soares – o número 41 do Sporting continua a realizar partidas com várias oscilações de rendimento. Nesta partida foi quase sempre pelo seu lado que o Marítimo criou perigo, falhando marcações e permitindo cruzamentos para a área leonina. Ofensivamente também esteve fraco, falhando alguns cruzamentos e combinações com os seus companheiros.