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Jogadores que Admiro #18 – Ryan Giggs

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Na minha primeira rubrica sobre “Jogadores que Admiro” escrevi sobre um senhor do futebol, Javier Zanetti, e deixei no ar que também tinha uma grande admiração por outro “menino”, o eterno porta-estandarte de Old Trafford: Ryan Giggs.

O que me leva a tremer e a emocionar enquanto escrevo sobre esta lenda do futebol? O meu amor incondicional pelo futebol e pelos jogadores que, acima dos milhões, dão a vida, o corpo e a alma pelo clube que os formou e que aprenderam a sentir. Giggs é um desses jogadores, talvez no topo de todos os restantes (a par de Paul Scholes). Tem mais de mil jogos na carreira como sénior, divididos da seguinte forma: 64 pela selecção do País de Gales (de onde é natural), quatro pela selecção de jogadores da Grã-Bertanha, e os restantes jogos pelo Manchester United, onde não me arrisco a dizer o número de jogos porque ainda fará muitos mais… Só isto já diz muito sobre a carreira de Giggs. Mas não é tudo. O médio galês começou o seu processo de formação no maior rival do United, o Manchester City (1985-1987), até que, aos 14 anos, uma “velha raposa” o viu pessoalmente e decidiu trazê-lo para o United: Sir Alex Ferguson! Fez a sua estreia como sénior corria o ano 1991, dia 2 de Março, frente ao Everton. Não era, portanto, eu nascido!

Com um vasto currículo, Ryan (permite-me que o trate assim?) conta com mais de 35 títulos colectivos ao longo da carreira e é o maior detentor de recordes da Premier League, nos quais se destacam os seguintes: jogador com mais títulos da Premier League, jogador com mais partidas disputadas no principal escalão inglês, jogador com mais assistências, jogador mais velho a marcar um golo na Liga dos Campeões, aos 37 anos e 148 dias, etc.

A juntar a tudo isto, também é detentor de prémios como a “Ordem do Império Britânico” ou o de “cidadão honorário de Manchester”. Só isto já diz muito sobre as suas qualidades, não só futebolistas, como humanas.

Giggs com uma das suas muitas condecorações Fonte:  PacificCoastNews.com
Giggs com uma das suas muitas condecorações
Fonte: PacificCoastNews.com

Ryan tem uma particularidade muito peculiar no seu futebol: soube adaptar o seu corpo ao desgaste e à dureza que uma Liga como a inglesa provoca nos atletas. Começou a carreira como extremo puro, onde a velocidade e técnica lhe permitiam ser o “Cristiano Ronaldo” da altura, chegando a ser apelidado de maior promessa britânica e sendo mesmo comparado com o “monstro” George Best. Com o tempo (muito tempo!), o extremo foi perdendo a velocidade da juventude mas ganhando a experiência que foi acumulando com a idade. Aos poucos foi-se tornando um falso extremo, para centralizar o seu jogo e passar a ser um “vadio” em campo, sem posição definida. Diga-se que a evolução do futebol também ajudou neste processo, pois, com a evolução táctica, a entrada do “trinco” no futebol permitiu a subida dos laterais e, com isso, permitiu ao jogo ter mais profundidade, podendo os extremos entrar no espaço central. Hoje em dia, Ryan tem divido as suas posições consoante os jogos: ora joga a falso extremo em jogos onde a sua facilidade táctica pode ser importante, ora joga a ”nove e meio”, deixando Rooney assumir as despesas mais defensivas, que seriam dele. Quando são jogos onde a velocidade é uma constante, contra equipas com laterais velozes e onde seja importante explorar as costas do adversário, geralmente Giggs começa o jogo no banco, pegando na batuta apenas nos 15 minutos finais.

É difícil falar deste Senhor sem repetir expressões como “fantástico”, “humilde”, “fabuloso”, “líder” ou “emocionante”… Desafio o leitor a deixar apenas uma palavra para descrever Ryan Giggs (e não, não vale “completo”!).

Aos 40 anos, e tendo renovado contrato por mais um ano (fez questão de frisar que é para cumprir e, quem sabe, renovar), o galês é uma força da natureza, e nem aquelas “chatas” lesões que vão maçando o corpo o fazem querer parar. Ele só quer uma bola e divertir-se, fazer aquilo de que gosta, ensinar os mais novos e tirar partido daquilo que é a sua grande paixão: jogar futebol! É graças a pessoas como Ryan que eu sinto ter nascido na melhor geração de sempre do futebol: assisti à transição do futebol da era “primitiva” para o futebol moderno, que pouco mais tem a evoluir. O actual médio foi dos poucos que passaram por todas essas fases e, se me fosse pedido que fizesse uma equipa de sonho de jogadores que pelas mesmas passaram, esta seria:

Peço desculpa a jogadores como Rui Costa, Pirlo, Gattuso, Ambrosini, Redondo, Makélélé, etc. Mas optei por jogadores que realmente passaram pelas mesmas fases do futebol que Ryan Giggs
Peço desculpa a jogadores como Rui Costa, Pirlo, Gattuso, Ambrosini, Redondo, Makélélé, etc. Mas optei por jogadores que realmente passaram pelas mesmas fases do futebol que Ryan Giggs

Uff! Ao fazer este onze, tive o chamado “orgasmo mental futebolístico”; apetecia-me fazer uma rubrica sobre cada um destes jogadores agora mesmo! Mas voltando ao ponto central: Ryan Giggs – e a maioria dos jogadores do quadro – são a prova de que não é preciso ganhar uma Bola de Ouro para se ser uma lenda (ver imagem abaixo):

Ryan Giggs e Zanetti: o exemplo de duas lendas que nunca ganharam uma bola de ouro Fonte: soccersuck.com
Ryan Giggs e Zanetti: o exemplo de duas lendas que nunca ganharam uma Bola de Ouro
Fonte: soccersuck.com

Para finalizar, gostaria de deixar o meu desejo de que Ryan Giggs continue a espalhar magia por muitos, muitos anos! Uma vénia a ti, Ryan (e desculpa tratar-te por “tu” e pelo primeiro nome, mas, depois deste texto e de tudo o que pesquisei sobre ti, sinto que és e serás um eterno jovem…). Obrigado por existires, obrigado por fazeres parte das minhas futuras histórias aos meus netos, onde serás parte importante do “eu tive o prazer de ver jogar jogadores como…”, e, acima de tudo, obrigado por me teres dado tantas alegrias ao longo dos anos, não enquanto adepto do Manchester, mas sim enquanto amante do futebol. A ti, um obrigado do tamanho do mundo!

 

Para o ano há mais…

portosentido

A eliminação da Taça da Liga dita, finalmente, o encerramento de uma época para esquecer. Ontem, em pleno Estádio do Dragão, o Porto foi incapaz de se superiorizar a um Benfica de poupanças. O jogo de ontem pode muito bem representar a época 2013/14 do Porto. Numa palavra: escassez. Escassez de poder ofensivo e defensivo, escassez de soluções práticas e escassez de pulso por parte dos treinadores.

Para a história fica a eliminação do Porto na meia-final da Taça da Liga (que por si só não salvava a época) e mais uma derrota perante o Benfica de Jesus. Este ano, em quatro encontros com o Benfica, apenas uma vitória para o lado do Porto.

Posto isto, enquanto o Benfica, maior rival do Porto, tem o rumo marcado para uma época histórica no futebol português, o Porto ficou para trás na hegemonia do futebol. Não se pode, porém, afirmar que o Porto se encontra num ciclo negativo. O Porto vinha de um tricampeonato ganho por Villas-Boas e Vítor Pereira. Tinha e tem uma equipa desfalcada após a saída de Moutinho e James Rodriguez e, mais tarde, de Lucho. As novas chegadas não foram capazes de consolidar o que tinha sido perdido. Herrera ganhou espaço mas não fez esquecer Moutinho; Quintero, inexplicavelmente, não joga a titular; Reyes apenas surgiu no final da época após a saída de Otamendi. Há ainda as contratações de Licá (que deve estar de saída), Josué, que foi aposta pessoal de Paulo Fonseca, Ricardo e Carlos Eduardo. Estes últimos dois aparentam ser capazes de se manter e lutar pelo seu espaço no próximo ano.

Carlos Eduardo e Herrera, duas das contratações do Porto 2013/14, deverão continuar no Dragão  Fonte: Zero Zero
Carlos Eduardo e Herrera, duas das contratações do Porto 2013/14, deverão continuar no Dragão
Fonte: Zero Zero

Resta assim ao Porto a preparação da próxima época. O Porto não fica mais do que dois anos sem ser campeão de desde a época de 2001/02. É preciso, no entanto, uma evolução positiva considerável no plantel do Porto. Ao longo deste ano as fragilidades do plantel do Porto foram evidentes. Pinto da Costa precisa de fazer mudanças. Tem de haver saídas e entradas. É preciso reforçar o plantel até porque para o ano o Sporting vai assumir a corrida ao título e o Benfica, caso mantenha as peças-chave do seu plantel, continua a ser favorito.

O plano é simples, na verdade. O Porto necessita de reconstruir o plantel e precisa de contratar um treinador que consiga ter pulso firme. Já chega de aposta em treinadores jovens, está na altura de escolher uma “velha raposa”. Para além disso, precisa que os seus jogadores joguem ao seu nível. O caso mais sonante é Jackson. Embora o colombiano seja o melhor marcador da Liga, esta época esteve vários furos abaixo daquilo de que é capaz. Jackson vai jogar no Mundial; esperemos que volte para o Porto e que volte do Brasil inspirado, com vontade de retomar o nível do passado.

Jackson Martínez é uma das certezas no plantel da Colômbia  Fonte: eltiempo.com
Jackson Martínez é uma das certezas no plantel da Colômbia
Fonte: eltiempo.com

Contudo, independentemente da péssima época deste ano, 2013/2014 é uma época que vai acabar por dar o seu lugar a uma nova etapa. O campeonato começará do zero, assim como as Taças de Portugal e da Liga, e o terceiro lugar desta época garante o Play-off da Liga dos Campeões. O Porto pode ter tido um desaire este ano mas há mais para o ano. Há sempre mais para o ano….

Numa nota mais pessoal, Fernando Santos, actual seleccionador da Grécia, já anunciou que vai abandonar a selecção helénica após o Mundial do Brasil. O treinador disse, num programa de debate desportivo, que sente a falta da adrenalina e da “chatice” do treino diário com um plantel. Fernando Santos garantiu que procura uma equipa que lhe dê possibilidades de ser campeão e que põe de parte projectos de longo prazo. São demasiadas pistas para um Porto que, por enquanto, tem como treinador Luís Castro, que treinava a equipa B. Seria um enorme treinador para o Porto. A especulação vale o que vale, mas seria óptimo voltar a ver Fernando Santos no banco do Porto.

Força da Tática: Os mundos de virtudes (e defeitos) do Bayern e Real

força da tática

Actualmente, pensar em Bayern Munique e Real Madrid é pensar em dois estilos, ideias e modelos de jogo distintos. Esta eliminatória, das meias-finais da Liga dos Campeões, é um confronto de ideais. Para nosso bem – dos adeptos da modalidade – não só estão frente a frente duas formas de entender o futebol diferentes como também estão alguns dos melhores executantes do mundo. Pelo lado do Bayern, é justo recordar um dos que ajudaram a desenvolver e sustentar o futebol de posse que a equipa bávara adopta como seu: Tito Vilanova. Não foi a principal, mas foi uma das caras que fizeram erguer esta luta pelo querer contínuo da bola. Infelizmente, uma outra luta levou-o e impossibilitou-o de ver a evolução do seu estilo e do futebol mundial. Cabe aos que cá ficam respeitar e recordar a herança que o ex-treinador deixou a todos os amantes do desporto rei.

Na última quarta-feira, o Real Madrid venceu por 1-0 o Bayern Munique, muito embora tenha tido bastante menos posse de bola (72 % – 28% a favor dos alemães). A equipa de Ancelotti optou por um jogo de transições rápidas sustentadas pela velocidade de Ronaldo (depois Bale), Di María e Benzema, aproveitando o alto balanceamento ofensivo do Bayern. O que falhou na estratégia de Guardiola? Será a aposta na organização defensiva e transições ofensivas a mais segura neste nível tão alto? Ou o modelo de posse, levado ao topo pelo mesmo Guardiola mas no Barcelona, continua a ser aquele que mais aproxima as equipas do triunfo? 

Tentarmos responder às questões acima colocadas apenas com base num jogo é por certo demasiado redutor. Tratam-se de duas equipas que, apesar de representarem fielmente dois estilos opostos, não podem servir de argumento único a favor ou contra nenhum dos dois modelos de jogo mencionados. Acredito que o Real Madrid já atingiu um nível mais próximo do pretendido por Ancelotti quando delineou as suas matrizes de jogo comparativamente com o Bayern de Guardiola. O conjunto alemão, apesar dos resultados até agora excelentes e de algumas exibições muito boas, está mais longe de atingir o potencial que Pep Guardiola ambiciona com o seu modelo de jogo. É mais fácil colocar uma equipa com alto rendimento no processo defensivo do que no processo ofensivo, já dizia Jorge Jesus. E o Bayern está bem mais tempo a atacar do que o Real, pelo que a dificuldade em atingir um nível perto da perfeição é maior para o conjunto bávaro.

As setas azuis escuras são o passe completado; as vermelhas são o passe errado e as azuis claras representam os passes que antecederam um remate
Gráfico de passes do Bayern frente ao Real
As setas azuis escuras são o passe completado; as vermelhas são o passe errado e as azuis claras representam os passes que antecederam um remate

O gráfico que em cima disponibilizamos pode, à primeira vista, parecer confuso, mas é revelador num aspecto fulcral que falhou no jogo do Bayern: o último passe. Se verificarmos, apesar da grande quantidade de passes efectuados (711, dos quais 636 foram correctos), na zona frontal do último terço do terreno do Real não entrou practicamente nenhum passe feito com sucesso. O ter a bola é um princípio básico do jogo de Guardiola não só por aspectos ofensivos como também porque, quando com bola, a equipa não está susceptível a sofrer. Mas, apesar disso, se no último terço não existir uma movimentação eficiente e a agressividade necessária do portador da bola, e se a isto juntarmos uma equipa adversária compacta e bem organizada defensivamente, a equipa que mais bola tem passa por dificuldades apesar da alta percentagem de posse. Dito isto, considero que houve dois erros principais na montagem da equipa do Bayern, talvez a esperar um Real mais desinibido e com uma outra vontade para jogar em todo o terreno.

    1. A presença de Mandzukic – Muito embora Guardiola nos tenha habituado a dispensar do seu modelo de jogo o típico e poderoso ponta-de-lança, o certo é que o avançado croata tem sido aposta na presenta época. Mandzukic tem garantido capacidade de pressão alta sem bola, importante nomeadamente no momento em que o adversário tenta sair a jogar, e uma solução a nível de jogo mais largo se o adversário dificultar a primeira fase de construcção. O internacional croata encosta-se regularmente a uma das linhas e disputa muitas bolas junto ao lateral adversário, que por norma sente muitas dificuldades em vencer os duelos individuais (vídeo em baixo). Desta forma, o Bayern ganha uma solução simples e eficiente para a saída de jogo. Mas se o adversário não pressionar alto este efeito perde-se. Depois, Mandzukic torna-se pouco útil ao jogo quando os centrais que o marcam são igualmente poderosos do ponto de vista físico. Se houver pouco espaço, o avançado do Bayern é incapaz de procurar o melhor espaço, proporcionar tabelas ou superioridades numéricas longe do meio onde está mais confortável: a área. Assim sendo, Thomas Müller poderia ter sido uma solução mais interessante para o jogo anterior.

    2. O tridente do meio-campo: Lahm, Kroos e Schweinsteiger – A inclusão de Rafinha na direita e de Lahm no meio-campo foi talvez a principal surpresa no 11 de Guardiola. O objectivo do técnico catalão (que só perdeu pela primeira vez no Bernabéu no seu 8º jogo!!) pode ter passado por dar à sua equipa uma maior capacidade de pressão alta face à capacidade técnica e criatividade que Modric e Xabi Alonso detêm. Assim, caso o Real pretendesse assumir o jogo e sair a jogar desde trás, a equipa do Bayern estava precavida com três homens no meio-campo capazes de dificultar essa saída. O problema foi que o Real nunca procurou ter mais bola nem jogar mais tempo em organização ofensiva. Tanto Guardiola como alguns dos seus jogadores (Robben, por exemplo) demonstraram-se surpreendidos na conferência de imprensa por terem conseguido controlar e impor o seu jogo com tanta facilidade, o que parece confirmar que esperavam um Real com outras intenções. Desta forma, com muito mais bola e menos espaço no último terço ofensivo, faltou um elemento capaz de jogar entre linhas e desequilibrar o esquema de Ancelotti. Lahm, Kroos e Schweinsteiger são todos belíssimos médios-centro, mas nenhum deles é um verdadeiro perito na condução de bola, no drible ou simplesmente na ocupação de espaços entre a linha média e a linha defensiva do adversário. Só Lahm e Kroos trocaram, entre si, 44 passes! Götze ou, de novo, Müller poderiam ter dado outras soluções à equipa de Guardiola. Foram exactamente eles os donos das duas melhores ocasiões de golo (Müller com um remate ao lado e G]otze a proporcionar a defesa mais complicada de Casillas).

Por outro lado, Ancelotti voltou a usar um desenho táctico alternativo, que já havia colocado em prática (com sucesso) diante do Barcelona na final da Taça do Rei. O Real Madrid apresentou-se, principalmente quando sem bola – na maior parte do jogo -, num 4x4x2, deixando o 4x3x3 que mais sistematicamente usou ao longo da época. Com quatro no meio, o treinador merengue procurou evitar inferioridades numéricas na parte central do campo e estancar os possíveis espaços que o Bayern criasse. Xabi Alonso, Modric, Isco e Di Maria foram irreprensíveis na ocupação dos espaços na zona média-baixa do terreno, apesar de todos eles serem jogadores de características mais ofensivas do que defensivas. Ronaldo e Benzema acabaram por ser os dois mais avançados, tendo sido o lado esquerdo do ataque (de Ronaldo primeiro, e depois de Bale) o mais solicitado. Para isto também contribuiu a presença de Fábio Coentrão, que, das poucas vezes em que se envolveu no ataque o fez com muito critério. Carvajal, por seu lado, quase nunca passou do meio-campo.

Foi esta a disposição inicial dos 11, com o Real Madrid a apresentar um 4x4x2
Foi esta a disposição inicial dos 11, com o Real Madrid a apresentar um 4x4x2

Quanto à estratégia delineada, Ancelotti preferiu fechar bem os espaços no momento defensivo sem nunca abdicar das transições ofensivas rápidas e verticais (no vídeo em baixo) em detrimento de um jogo “cara-a-cara” com um Bayern que se sabe ser dominador quando os adversários tentam jogar em todo o terreno. Entregou a bola ao adversário desde cedo, estancou o jogo de Ribéry e Robben ao garantir que havia sempre superioridade numérica sobre os dois extremos (Di Maria e Isco foram importantes neste aspecto) e fechou os espaços no meio, tendo também beneficiado da pouca dinâmica de Mandzukic e da falta de um médio mais ofensivo como seria Müller ou Götze, conforme mencionado anteriormente. No processo ofensivo, Modric foi o elemento mais importante do meio-campo madridista. Foi quase sempre ele a ligar a zona defensiva à zona ofensiva, ora por temporizações importantes quando não havia soluções para sair em velocidade, ora por passes rápidos para os homens mais avançados. A capacidade técnica muito acima da média em conjunto com uma leitura de jogo e sabedoria no momento da decisão assinaláveis foram essenciais para que o croata se tornasse tão influente na partida.

Tendo o primeiro jogo corrido de feição ao Real, que surpreendeu o Bayern com uma postura pragmática mesmo jogando em casa, o que esperar da segunda mão de amanhã? Na minha visão, e sem querer entrar no campo da futurologia, há dois cenários prováveis:

  1. Que o Bayern altere os elementos do seu meio-campo, colocando no 11 inicial, pelo menos, Thomas Müller. A partir daqui, é provável que a equipa se apresente mais dinâmica, até porque houve algum tempo para tentar corrigir os erros da primeira mão. É mais expectável a saída de Rafinha (e a passagem de Lahm para a direita, até porque Ronaldo já vai estar em melhores condições físicas e Lahm é mais forte defensivamente do que o brasileiro) do que a saída de Schweinsteiger, mas a segunda hipótese também é possível dado o baixo rendimento do internacional alemão no primeiro encontro.
  2. Que o Real não mude a sua táctica, mantendo Bale no banco e começando com os quatro que iniciaram o jogo no Santiago Bernabéu. Ancelotti terá noção de que se marcar estará muito mais perto da final, mas deve privilegiar a segurança defensiva, visto que se espera um Bayern ainda mais ofensivo, com mais soluções e com outra preparação para perfurar a linha defensiva contrária.

O mundo do futebol terá amanhã mais um magnífico embate entre dois estilos opostos e dos quais só pode beneficiar o adepto, privilegiado por poder assistir a duas equipas tão fortes como os actuais Real Madrid e Bayern Munique. Seja qual for, o vencedor desta eliminatória será sempre o favorito a levantar o troféu no Estádio da Luz. Até lá, que toque o hino…

FC Porto 0-0 Benfica (3-4 a.g.p.)

Depois do nulo registado no final dos noventa minutos, o SL Benfica eliminou o FC Porto nos penalties e carimbou o passaporte para a final da Taça da Liga. Num jogo que ficou marcado pela expulsão de Steven Vitória à passagem da meia-hora, o FC Porto, a jogar em casa, dispôs de várias ocasiões para marcar ao longo da primeira parte mas foi incapaz de transpor a bem organizada defesa encarnada no segundo tempo. Na lotaria das grandes penalidades, um falhanço de Fernando terminou com as aspirações azuis e brancas e permitiu ao Benfica manter-se em todas as frentes. Assim, a final da Taça da Liga irá ser disputada por Benfica e Rio Ave, à semelhança do que sucederá na Taça da Portugal. Francisco Manuel Reis (FC Porto) e Francisco Vaz de Miranda (Benfica) analisaram o encontro.

Nas grandes penalidades, o Benfica levou a melhor sobre o Porto  Fonte: Público (APF)
Nas grandes penalidades, o Benfica levou a melhor sobre o Porto
Fonte: Público (APF)

 

Pronúncia do Norte

Longe de ser o “jogo da época”, como algumas vozes sugeriam, o jogo de hoje representava a última hipótese de o FC Porto terminar esta temporada com mais do que uma mísera Supertaça. Se o adversário – um Benfica com uma vantagem de 15 pontos no campeonato e que já havia eliminado os dragões da Taça de Portugal – se apresentou com uma equipa recheada de segundas escolhas, o FC Porto apresentou o melhor onze disponível e Luís Castro voltou a apostar no “meio-campo de combate” em que já havia apostado nos outros embates com os encarnados (Fernando, Defour e Herrera).

A história do jogo pode resumir-se em duas partes relativamente distintas: nos primeiros quarenta e cinco minutos, o FC Porto dominou claramente a partida, conseguiu impor-se ao Benfica, foi capaz de rasgar a defesa adversária e criou inúmeras oportunidades para marcar; na segunda metade, frente a um Benfica em inferioridade numérica mas muito bem organizado e com as linhas muito próximas, o FC Porto continuou por cima, tendo mais bola, mas esteve muito mais distante do golo, não revelando a agressividade, a velocidade e a competência suficientes para penetrar na muralha vermelha instalada à sua frente.

As contas são fáceis de fazer: na primeira parte, Jackson teve três ocasiões soberanas para marcar (aos 9’, de cabeça; aos 20’, numa emenda deficiente a dois metros da baliza; e aos 38’, quando tentou picar por cima de Oblak), Varela também desperdiçou uma oportunidade claríssima (aos 14’, com Jackson isolado ao seu lado) e Defour teve igualmente nos pés a possibilidade de facturar (aos 26’, rodou sobre o defesa à entrada da pequena área e rematou ao lado); na segunda, o banana shot de Herrera aos 79’ foi a situação de maior alarme para os pupilos de Jesus.

O Benfica só foi mais forte nos primeiros cinco minutos. A partir daí o FC Porto tomou conta das incidências e lançou-se em busca da vantagem, não consentindo uma única ocasião de golo ao longo dos noventa minutos. Enfrentando uma equipa aguerrida e sólida, como se esperava, os melhores momentos dos dragões até foram contra onze (Steven Vitória foi uma passadeira e acabou expulso), quando havia mais espaço entre as linhas do Benfica. Depois, os lisboetas recuaram e o FC Porto, embora instalado no meio-campo adversário, teve sempre muita dificuldade em fazer chegar o esférico à área.

Embora a sorte tenha sorrido ao Benfica nas grandes penalidades, premiando a coesão defensiva e a capacidade de sofrimento dos seus atletas, o FC Porto merecia um desfecho diferente porque dominou toda a partida. O fôlego foi-se dissipando à medida que o cronómetro corria, mas mesmo assim teria sido mais justo ver o FC Porto na final da Taça da Liga. No final, acabou por ser mais um capítulo do filme de terror que tem sido a época 2013/14 no Dragão.

O FC Porto desperdiçou demasiadas oportunidades e acabou por pagar a factura  Fonte: ZeroZero
O FC Porto desperdiçou várias ocasiões e acabou por pagar a factura
Fonte: ZeroZero

Fabiano (6) – teve uma noite muito tranquila e quase só foi chamado a intervir nos penalties. Aí, fez o que pôde…

Alex Sandro (6) – sem grande trabalho defensivo, teve algumas dificuldades em incorporar-se no ataque – fruto da boa cobertura dos extremos adversários – e acabou por não assumir a preponderância que se lhe pedia no momento ofensivo.

Danilo (6) – também não teve muito para fazer na hora de defender, mas acabou por ser mais assertivo do que o seu compatriota da faixa oposta no ataque, procurando desequilibrar através dos seus movimentos interiores.

Mangala (6) – sem erros graves, esteve particularmente mal durante a primeira meia hora, quando o Benfica pressionava alto e obrigava o Porto a optar pelo jogo directo, ao falhar uma série de passes de forma disparatada.

Maicon (8) – o melhor da defesa do Porto; apesar de o Benfica ter atacado pouco, ficam na retina dois ou três desarmes de enorme classe do capitão do Porto.

Fernando (8) – foi o tampão de sempre sem bola e foi fundamental com ela no pé: bem no capítulo do passe (curto e longo), bem a gerir os ritmos e os tempos da partida; bem a iniciar a construção do jogo do Porto. Fez o que lhe competia.

Defour (6) – ofereceu à equipa aquilo que pode e sabe – equilíbrios e boas decisões -, mas acabou por sair de campo para dar lugar a um elemento incomparavelmente mais criativo como é Quintero. Foi “certinho” como quase sempre é.

Varela (7) – se teve problemas físicos durante a semana, esses não se notaram durante quase toda a partida (em especial durante a primeira parte): muito dinâmico, mais explosivo que o habitual, mostrou-se galvanizado e fez um bom jogo. Pena aquela perdida em que rematou sem nexo com Jackson ao lado.

Jackson Martínez (7) – teve várias oportunidades para fazer o gosto ao pé (e à cabeça!), mas acabou por ser demasiado perdulário. Ainda assim, por tudo o que trabalhou para a equipa, merece uma boa nota. Só faltou o golo para ter feito uma grande exibição.

Quintero (7) – entrou para encontrar espaços onde ninguém os encontra, para fazer passes que ninguém faz e para descobrir colegas onde ninguém os descobre. Em certa medida, conseguiu-o, mas não desequilibrou tanto como se esperava.

Ghilas (5) – entrou para o lugar de um desinspirado Quaresma, mas acabou por fazer muito pouco. Remetido ao espaço nas costas do Cha Cha Cha, nunca apareceu no jogo e contribuiu muito pouco para a equipa.

Ricardo (-) – esteve pouco tempo em campo e não mudou nada.

 

A Figura
Herrera (8) – o mexicano teve uma performance muito positiva e provou que, com confiança, é um elemento muito válido. Foi o responsável pela profundidade do jogo portista na primeira parte, demonstrou mais uma vez muita força física e velocidade e hoje revelou serenidade na tomada de decisão e no momento do passe. Perdeu preponderância com o recuo motivado pela entrada de Quintero, mas terá sido o elemento em maior destaque no lado dos anfitriões.

O Fora-de-Jogo
Quaresma (6) – não foi o abre-latas que poderia ter sido. Agarrou-se demasiado à bola, foi lento a decidir, insistiu em marcar (mal!) as bolas paradas e hoje não teve grandes golpes de inspiração. Não fez um jogo terrível, mas esteve abaixo das expectativas. Foi o único a ficar surpreendido com a sua própria saída.

 

Francisco Manuel Reis

benficaabenfica

Com Jorge Jesus a pensar no jogo em Turim da próxima quinta-feira, foi um Benfica de cara lavada a apresentar-se no Dragão para o jogo que dava o acesso à final da Taça da Liga. Importa aqui dizer que esta competição é, de longe, a menos importante nas ambições encarnadas e, por isso, a rotação feita no onze inicial justificava-se plenamente. Com o regresso de Oblak à baliza e André Almeida e Siqueira nas laterais, a grande surpresa esteve no centro da defesa. Jardel e Steven Vitória permitiram o (merecido) descanso de Luisão e Garay, Ruben Amorim ocupou o lugar de Enzo e a Ivan Cavaleiro coube a difícil tarefa de ultrapassar Alex Sandro. Com o sérvio Sulejmani do lado esquerdo, Cardozo e Lima apareceram como referências no ataque. Poupança quase total a pensar na Juventus, visto que apenas três destes jogadores costumam ser escolha habitual por parte de Jorge Jesus: Oblak, Siqueira e Lima.

Com a diferença de rotação e dinâmica existente entre as duas equipas, não seria difícil de prever que o domínio do jogo pertenceria ao F.C. Porto, que deu muito mais importância a esta meia-final do que o Benfica. Se a surpresa de Jorge Jesus esteve reservada para a dupla de centrais que lançou em campo, menos surpreendente foi a falta de entrosamento por esta demonstrada. Steven Vitória, que passou a temporada entre o banco e a bancada, cometeu erros atrás de erros e acabou expulso à meia-hora de jogo, numa decisão duvidosa do árbitro Marco Ferreira, após um carrinho fora de tempo sobre Jackson Martínez. Repetia-se o filme da Taça de Portugal, com o Benfica a ficar reduzido a dez logo no primeiro terço do encontro. Desta vez, e sendo coerente com as suas ideias, Jorge Jesus retirou Lima para lançar Garay, deixando Cardozo perdido entre a defesa contrária. Num primeiro tempo de sentido único, só por inércia dos atacantes do F.C. Porto o nulo se manteve ao intervalo. Varela e Jackson desperdiçaram oportunidades claras de golo, que quase sempre surgiam pelo lado de Steven Vitória, totalmente fora do ritmo de jogo e incapaz de pôr cobro às investidas portistas. No meio-campo, Ruben Amorim e André Gomes revelavam-se insuficientes perante a maior rotatividade do mexicano Herrera.

No segundo tempo, esperava-se um F.C. Porto a continuar a carregar na procura do golo que lhes permitisse alcançar a única final da temporada. Algo que não se verificou. O Benfica melhorou substancialmente o seu momento defensivo com a entrada do soberbo Garay, a quem a responsabilidade do momento nunca parece afectar. O Benfica espreitava timidamente o ataque através de Ivan Cavaleiro e Markovic (entrou para o lugar de Cardozo) mas esbarrava sempre em Mangala, central do F.C. Porto a quem parece ser difícil arrancar uma falta ou um cartão amarelo. Mais do que a qualidade defensiva apresentada pelo Benfica, esta segunda parte deixou as evidências de uma época desastrosa para os dragões. Em menos de duas semanas, por duas vezes estiveram com mais um homem em campo durante 60 minutos e pouco ou nenhum proveito conseguiram tirar disso.

Com o empate sem golos no fim dos noventa minutos, a decisão estaria nas grandes penalidades. E que monstro foi Oblak, que classe teve Enzo, que épica foi esta vitória. O Benfica apresenta uma confiança inabalável e nem o facto de se apresentar no sempre complicado Estádio do Dragão com uma equipa de segundas linhas lhe retirou o discernimento e o saber estar em cada momento do jogo. Depois de virar a eliminatória da Taça de Portugal de forma épica, o Benfica foi ao Dragão selar a presença na final de 7 de Maio, frente ao Rio Ave. Só um grupo de jogadores com um enorme espírito de união consegue superar por duas vezes o Porto nas condições em que isso aconteceu. Mas, verdade seja dita: o campeão nacional já merecia um ano assim.

A equipa do Benfica manteve-se sempre unida e acabou por chegar à final da Taça da Liga  Fonte: ZeroZero
A equipa do Benfica manteve-se sempre unida e acabou por chegar à final da Taça da Liga
Fonte: ZeroZero

André Almeida (7) – com Quaresma pela frente, avizinhava-se tarefa difícil para o jovem português. Mentira, disse ele. Tão apagado esteve Quaresma que nem quis acreditar quando foi substituído.

Steven Vitória (3) – jogo para esquecer do 4.º central benfiquista. Desastroso no posicionamento, lento a reagir, foi pelo seu raio de acção que nasceu o principal perigo adversário. Expulsão duvidosa.

Jardel (7) – sempre que é chamado, Jardel cumpre. Excelente exibição do brasileiro, culminada com uma grande penalidade muito bem cobrada.

Garay (8) – a classe do central argentino sai-lhe por todos os poros. Segurou a equipa no momento mais difícil do jogo.

Siqueira (6) – o lateral-esquerdo brasileiro apresenta-se numa condição física invejável. Contudo, continua a complicar em demasia alguns lances em que se pede maior objectividade.

Ruben Amorim (7) – está feito um belíssimo jogador. Melhorou a olhos vistos a qualidade do seu posicionamento táctico e isso permite-lhe estar sempre um passo à frente dos restantes.

André Gomes (6) – sem o brilhantismo que apresentou no encontro da Taça de Portugal, melhorou o seu nível no segundo tempo, após algumas falhas de concentração no primeiro.

Ivan Cavaleiro (6) – jogo de sacrifício, destacou-se mais por ter conseguido travar umas das principais fontes do jogo ofensivo portista: Alex Sandro.

Sulejmani (6) – serve o comentário feito a Ivan Cavaleiro para o jogador sérvio. Acusou algum desgaste natural, depois de ter jogado quinta-feira frente à Juventus.

Lima (6) – apenas meia-hora em campo e o primeiro remate do jogo para registo.

Markovic (7) – quando o Benfica se encolhia no meio-campo defensivo, o talento do sérvio veio dar alguma criatividade e capacidade de segurar a bola ao ataque encarnado.

Enzo Pérez (6) – pouco tempo em jogo, fica mais uma demonstração da categoria do médio argentino na marcação da grande penalidade.

 

A Figura
Oblak (9) – mais uma demonstração de enorme qualidade por parte do jovem esloveno. Seguro dentro dos postes, autoritário fora deles, mãos de ferro nas grandes penalidades.

O Fora-de-Jogo
Cardozo (4) – com a poupança de Rodrigo, Cardozo assumiu a titularidade e, uma vez mais, passou ao lado do jogo. Nem o jogo esteve para ele, nem Cardozo esteve para o jogo. Fase final de época para esquecer do paraguaio.

 

Francisco Vaz de Miranda

Liverpool 0-2 Chelsea: O triunfo da (in)justiça

O futebol está longe de ser uma ciência exata ou de premiar quem melhor joga. Hoje, em Anfield, ganhou quem foi mais inteligente. Ganhou quem foi mais experiente. Ganhou quem foi mais matreiro. José Mourinho é o melhor treinador do mundo a ler os jogos. Hoje, mesmo tendo recorrido a uma equipa de segundas linhas, conseguiu vencer e deixar em sofrimento uma equipa histórica que não vence o campeonato há 24 anos e que pode muito bem ter complicado as suas contas na luta pelo título. Se antes do encontro o Liverpool estava a um pequeno passo de ser campeão, agora, à entrada para as últimas duas jornadas da Premier League, tudo se tornou muito mais difícil.

Na abordagem ao encontro, como já tinha sido referido, o Chelsea entrou em campo com uma verdadeira revolução no seu onze. José Mourinho mudou 7 jogadores do onze que empatou frente ao Atlético de Madrid e apostou em Schwarzer na baliza,  Azpilicueta e Ashley Cole nas laterais, Ivanovic e o jovem estreante Kalas no centro, num meio-campo com Mikel, Matic e Lampard e Salah e em Schürrle no apoio ao ponta-de-lança Demba Ba. De notar ausências como David Luiz, Oscar, Hazard ou Eto’o. Já o Liverpool apresentou-se praticamente na máxima força, destacando-se apenas a titularidade de Lucas em detrimento de Sturridge, que ainda apresentava alguns problemas físicos. Assim sendo, o Liverpool alinhou com Mignolet na baliza; um quarteto defensivo composto por Glen Johnson, Skrtel, Sakho e Flanagan; Gerrard, Joe Allen e Lucas no meio e os criativos Coutinho, Sterling e Suárez na frente.

Nos primeiros minutos do encontro a equipa do Chelsea até entrou surpreendentemente a pressionar a campo inteiro, com Lampard muito encostado a Demba Ba nas zonas de pressão ofensiva. No entanto, a equipa de Brendan Rodgers rapidamente assentou o seu jogo e a partir dos 20 minutos acabou por tomar conta da partida e tentou ir em busca do primeiro golo. À meia hora de jogo, o Liverpool tinha 75% de posse de bola e era sempre a equipa que procurava adiantar-se no marcador. Apesar de hoje não ter estado tão forte a nível das transições ofensivas, os reds até criaram duas boas ocasiões para marcar, primeiro por Coutinho e depois por Sakho, após uma bola parada.

A chegar ao intervalo, quando já todos pensávamos que o marcador da partida não iria sofrer alterações, eis que o impensável acontece: Steven Gerrard, o filho pródigo e menino bonito de Anfield, comete um erro colossal e perde uma bola a meio-campo, quando era o último homem, permitindo que Demba Ba galgasse terreno até à baliza de Mignolet e batesse o guardião belga, fazendo assim o primeiro golo da partida. O capitão do Liverpool, que tinha apenas 10 anos de idade quando o Liverpool foi campeão pela última vez, era quem menos merecia um lance destes. Já o Chelsea, sem atacar e com os seus jogadores a perderem constantemente tempo em campo, adiantava-se no marcador, contra a corrente de jogo.

Até Mourinho perdeu tempo de jogo em Anfield Fonte: Getty Images
Até Mourinho perdeu tempo de jogo em Anfield
Fonte: Getty Images

Ao intervalo, já se percebia que a tarefa do Liverpool iria ser muito complicada. Goste-se ou não, Mourinho é um génio e os seus jogadores sabem exatamente aquilo que têm de fazer em campo. A nível defensivo, a equipa do Chelsea estava a ser absolutamente irrepreensível e era difícil que tal situação se alterasse até ao final do jogo. Assim sendo, e pela cabeça de Rodgers, só havia uma soluação em vista: colocar Sturridge rapidamente em campo e tirar o apagadíssimo Lucas Leiva – quem o viu no passado e quem o vê agora; um jogador banalíssimo, com pouquíssima qualidade e com uma fraca intensidade de jogo. O Liverpool acabou por entrar com o mesmo onze para o intervalo e Rodgers só decidiu ouvir-me aos 57´, colocando, lá está, Sturridge e retirando Lucas. Coutinho deslocou-se para o meio e o ataque do Liverpool estava então entregue aos seus 4 magníficos: Sterling, Coutinho, Sturridge e Suárez, que têm 72 golos nesta temporada (mais do que a equipa inteira do Chelsea).

Esta alteração acabou por não ter efeitos práticos porque o jogo não se alterava. O Chelsea defendia, defendia e defendia. O Liverpool atacava, atacava e atacava. No entanto, os blues faziam-no com critério e os reds não. Havia muito coração e pouca cabeça. E Gerrard, que depois do erro muito lutou e atacou, era o rosto da inconsequência e nervosismo. Com o aproximar do final do encontro, Mourinho ia reforçando (ainda mais!) a sua defesa, tendo acabado com Gary Cahill junto a Ivanovic e Kalas no centro da defesa.

Já no final do jogo, quando a equipa do Liverpool estava toda balanceada para o ataque, o recém-entrado Willian recuperou nova bola a meio-campo e acabou por seguir isolado para a baliza, com a companhia de Fernando Torres, assinando o segundo golo do encontro e acabando, definitivamente, com as dúvidas em relação ao vencedor da partida.

Um triunfo justo? Custa-me dizer que sim. Sempre fui um fã incondicional de José Mourinho,  mas este estilo de jogo deixa qualquer adepto de futebol devastado. Ver ganhar uma equipa que se limitou a defender o jogo inteiro, a perder tempo desde o início e a esperar que a sorte lhe desse uma ocasião para marcar (como, de facto, lhe deu) é frustrante. Nem o próprio técnico português saberá explicar bem como é que conseguiu vencer por 2 golos em Anfield com uma tática exclusivamente virada para a componente defensiva. Fiou-se na sorte e na expectativa de que os deuses do futebol voltassem a castigar uma azarada equipa do Liverpool. E, de facto, foi isso que aconteceu. Hoje, para Mourinho, tudo correu bem: conseguiu poupar jogadores para a Champions, venceu o jogo e ainda se manteve na corrida pelo título inglês com o City e o Liverpool.

Play-offs: hora do tudo ou nada!

cab futsal

A Fase Regular do Campeonato Nacional de Futsal terminou, e a equipa do Benfica sagrou-se, de forma justa, campeã.

Na última jornada da competição, a equipa encarnada venceu de forma muito expressiva a Académica de Coimbra por 12-0. Esta vitória era, sem dúvida, expectável, visto que a equipa de Coimbra está num péssimo momento, e o Benfica precisava dos três pontos para assegurar a conquista da Fase Regular.

Ao intervalo a equipa da casa vencia por 8-0, demonstrando toda a sua superioridade. Para a segunda metade adivinhavam-se mais golos, tendo a equipa liderada por João Freitas Pinto marcado mais quatro e fechado a contagem em 12-0. De realçar o hat-trick do grande goleador Joel Queiroz e os dois golos que Serginho e Alan Brandi marcaram cada um.

Joel Queiroz foi uma das figuras deste encontro, ao apontar três golos. Fonte:slbenfica.pt
Joel Queiroz foi uma das figuras deste encontro, ao apontar três golos.
Fonte: Site do Sport Lisboa e Benfica

A equipa leonina sabia que era muito complicado vencer a Fase Regular (necessitava de uma derrota do seu rival e de vencer o seu jogo), mas mesmo assim fez o que lhe competia, ao vencer o Modicus em casa por 7-4.

O Sporting encontrou algumas dificuldades neste encontro, tendo ido para intervalo a vencer por uns escassos 2-1. A segunda parte foi bastante diferente, e aos 12 minutos a equipa leonina vencia por 6-2. Nos restantes minutos, a equipa da casa sofreu dois golos e marcou um, dilatando o marcador em 7-4 a favor da equipa da casa. A equipa do Norte sabia que para se qualificar para os Play-offs teria de vencer o Sporting e esperar que o Belenenses perdesse. A equipa do Restelo perdeu com o Fundão em casa; todavia, devido à derrota do Modicus, a equipa azul qualificou-se para os Play-offs, onde irá defrontar o primeiro lugar da classificação, o Benfica.

Com esta merecida vitória, o Sporting encerra as 26 jornadas da Fase Regular na segunda posição, com os mesmos pontos que o seu rival, Benfica. No Play-off irá defrontar a equipa axadrezada do Boavista.

A Fase Regular terminou e, como tal, vou falar sobre os jogos dos Play-offs.

O Benfica irá defrontar o Belenenses, o Sporting batalhará com o Boavista, o Rio Ave jogará diante do Braga, e os Leões de Porto Salvo vão jogar frente ao Fundão.

playoff
Fonte: A Bola

Para estes jogos, a classificação na Fase Regular é pouco importante, visto estas serem as oito melhores equipas de Portugal. Todos os encontros serão de altíssimo nível, e podem mesmo acontecer algumas surpresas. Serão jogos muito intensos e bem disputados. Estou ansioso para que chegue o fim de semana de dias 10 e 11 de maio (dias dos jogos dos Play-offs).

Para mim, os jogos com mais espetáculo serão os jogos Rio Ave-Braga e o jogo entre o Fundão e os Leões de Porto Salvo, devido ao facto de serem equipas muito semelhantes em termos de qualidade. Os resultados dos dois grandes são mais expectáveis, contudo, no Futsal, às vezes acontecem algumas surpresas.

Decorreu hoje a Final da UEFA Futsal Cup, no Azerbaijão, onde a equipa do Barcelona se sagrou campeã.

Imagem do Troféu  Fonte: uefa.com
Imagem do Troféu
Fonte: UEFA.com

O Barcelona foi para intervalo em desvantagem, contudo, deu a volta na segunda metade, tendo mesmo passado para a frente do marcador. Todavia, o jogador do Dínamo Tatù empatou e levou o jogo para prolongamento.

No prolongamento, a superioridade do Barcelona veio ao de cima e marcou três golos, que lhe deram a expressiva vitória por 5-2 num grande jogo de Futsal.

Neste encontro queria realçar a arbitragem do português Eduardo Coelho, que esteve bastante bem e que se tem vindo a destacar na arbitragem internacional. Em declarações ao site da Federação Portuguesa de Futebol, o árbitro afirmou, antes da competição: «É um privilégio representar a arbitragem portuguesa neste patamar. Ser chamado pela segunda vez consecutiva para a UEFA Futsal Cup é um dos maiores orgulhos que um árbitro pode ter, espero que corra tudo bem».

Festejos da equipa catalã depois de vencer a Uefa Futsal Cup. Fonte: uefa.com
Festejos da equipa catalã depois de vencer a Uefa Futsal Cup.
Fonte: UEFA.com

Na atribuição do terceiro e quarto lugares, o Araz Naxçivan (equipa da casa) venceu, num jogo de grande intensidade, a equipa do Kairat Almaty por 6-4. Recordo que a equipa da casa esteve a perder por dois golos de desvantagem, tendo acabado por vencer e assim conquistar o terceiro lugar.

Esta competição tem-nos habituado a grandes jogos, visto ser a mais prestigiada de Futsal a nível de equipas, e este ano não foi exceção, com grandes e muito disputados jogos ao longo dos dias 24 e 26 de Abril, no Azerbaijão.

Super Mario: solução para este Milan?

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Balotelli é sem sombra de dúvida a estrela maior da equipa do Milan. Kaká já não joga metade do que jogava, El Shaarawy tem bastante potencial mas tem tido a sua curta carreira assombrada por várias lesões e Montolivo, apesar da sua enorme qualidade, não consegue influenciar tanto o jogo da sua equipa como Balotelli.

Quando Balotelli joga mal o Milan consequentemente joga mal e quase não consegue criar perigo durante um jogo inteiro. Basta relembrar o clássico de sexta-feira contra a Roma, em que Balotelli esteve em dia não e a sua equipa foi completamente dominada, não conseguindo fabricar jogadas perigosas. Com um Pazzini envelhecido, um El Shaarawy lesionado e um Robinho que já deu o que tinha a dar na Europa, o ataque do Milan depende demasiado de um jogador tão inconstante e temperamental como Balotelli. Mas quando Balotelli está inspirado faz maravilhas – como a obra de arte que assinou contra o Bolonha esta época – e resolve jogos com momentos mágicos. O problema é que este Balotelli só tem aparecido de vez em quando, o que ajuda também a explicar a péssima classificação do Milan na Serie A deste ano.

A questão que coloco é se vale a pena uma grande equipa como o Milan entregar “as chaves” da sua equipa a um jogador como Balotelli, se vale a pena depositar as suas esperanças num jogador tão volúvel como Balotelli, se vale a pena fazer dele a pedra central do seu processo de reconstrução. O talento é inegável: aos 23 anos, Balotelli já passou por clubes como o Inter e Manchester City e está agora no Milan, é o avançado titular da squadra azzurra e no seu palmarés possui já três Series A, uma Premier League e uma Liga dos Campeões, entre outros troféus menores. Foi votado para a equipa do ano da Serie A de 2012/2013, para a equipa do Euro 2012 e ganhou o Golden Boy Award em 2010.

Balotelli é o símbolo da irreverência e um dos principais jogadores da squardra azurra  Fonte: Getty Images
Balotelli é o símbolo da irreverência da squardra azurra e um dos seus principais jogadores
Fonte: Getty Images

Com a saída de José Mourinho do Inter para o Real Madrid, Benítez acabou por se “livrar” do problema Balotelli vendendo-o por 21,8 milhões de euros ao Manchester City treinado por um ex-técnico de Balotelli, Roberto Mancini. Apesar do campeonato conquistado em 2011/2012, época em que apontou 13 golos na Premier League, um máximo pessoal para Balotelli que foi apenas superado este ano (já leva 14 golos na Serie A), o tempo de Balotelli em Inglaterra ficou marcado por quezílias com o treinador e com os companheiros que o levaram a jogar cada vez menos tempo até que o clube decidiu “lavar as mãos” do problema e recambiá-lo para Itália. O Milan despendeu 20 milhões pelo passe do avançado italiano – Balotelli, dois anos e meio depois de se transferir para o City e sendo ainda um jovem cheio de potencial, conseguiu ser vendido por menos dois milhões do que tinha custado, o por si explica logo muito.

Cumpre dizer que o momento mais alto da passagem de Balotelli por terras de Sua Majestade ocorreu no último jogo da época em que se sagrou campeão, ao assistir Sergio Agüero para o golo do título, aos 94 minutos, contra o QPR.

Balotelli e AC Milan: nenhum deles cumpriu as expectativas este ano  Fonte: sport.panorama.it/
Balotelli e AC Milan: nenhum deles cumpriu as expectativas este ano
Fonte: sport.panorama.it

No regresso ao seu país-natal, Balotelli marcou uns fantásticos 12 golos em treze jogos na Liga, ainda sob o comando de Massimiliano Allegri. Foram excelentes números para metade de uma época. Aliás, foi talvez o jogador mais importante do Milan nessa altura, ajudando a equipa a alcançar o terceiro lugar e o apuramento para a Liga dos Campeões.

Este ano, na sua primeira época completa ao serviço do clube, leva para já 27 jogos na Liga e 14 golos apontados. Não é mau, mas mais uma vez a época fica marcada não só pelo futebol que Balotelli pratica mas também pelas suas atitudes dentro e fora de campo, o que contribuiu activamente para o péssimo sétimo lugar em que o Milan se encontra, podendo esta jornada descer ainda para décimo lugar caso o Torino, a Lazio e o Verona ganhem os seus respectivos jogos.

Estando o Milan a atravessar uma das piores épocas da sua história, a equipa tem de decidir se vale a pena manter o grande talento que é Balotelli e se vale a pena tentar construir uma equipa à volta dele. Terão de avaliar os prós e os contras. Será que Balotelli algum dia “crescerá”, passando apenas a concentrar-se no jogo, ignorando o que o rodeia e fazendo uso do seu imenso talento? Está dificil, mas se decidirem ir noutra direcção interesse no jogador não falta, incluindo o do Chelsea de José Mourinho. Na minha modesta opinião, é disso mesmo que Balotelli precisa: de um treinador que tenha mão nele e que o ajude a tornar-se no jogador que ele tem potencial para ser. Não me parece que isso possa acontecer no Milan e muito menos sob o comando de Seedorf.

A Revolução da Inteligência

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eternamocidade

Este domingo joga-se mais um clássico do futebol português: FC Porto e SL Benfica defrontam-se na meia-final da Taça da Liga, num jogo meramente formal para as duas equipas. Vamos por partes: o Benfica chega ao Dragão depois da conquista do título, dos festejos no Marquês e sobretudo depois de uma magra mas importante vitória na última quinta-feira frente à Juventus para a Liga Europa; quanto aos dragões, esta meia-final da Taça da Liga nem uma “salvação” de uma época terrível parece ser. Os portistas vêem nesta competição apenas uma oportunidade para juntar um troféu (irrelevante, digo eu) ao seu palmarés. Quando as duas equipas pisarem o relvado do Dragão, a cabeça do plantel benfiquista estará com certeza no jogo de Turim e o pensamento dos jogadores portistas na época 2014/15.

Bem sei que depois de uma época de tantos desaires, a última coisa que os adeptos portistas querem é mais um fracasso. Ainda assim, fazer desta meia-final da Taça da Liga o jogo mais importante da época parece-me um exagero e sobretudo um insulto para aquilo que tem sido a história recente portista. Não deixa por isso de ser curioso como no espaço de 12 meses a história ter mudado tanto: o Benfica já aparece campeão nacional, quando no ano passado todos se lembram do célebre gesto de Jesus a ajoelhar-se no Dragão; o Benfica aparece a caminho da final da Liga Europa, enquanto o FC Porto foi vergado de forma humilhante em Sevilha. E, sim, já nem falo da diferença de qualidade das duas equipas durante esta época porque sobre isso já dissertei dezenas de vezes este ano. Ainda assim, é importante recordar o que foi dito e escrito depois do final da época passada para colocar na cabeça, tal como escrevi na semana passada, que uma época como esta só aconteceu por puro demérito portista.

Contudo, e apesar das críticas que podem ser feitas à equipa (e que eu próprio fiz), ao treinador e à estrutura, sinceramente não entendo a falta de memória de muitos “adeptos”. Depois de tantos anos onde campeonatos se acumularam e onde títulos europeus foram deixando o clube e a cidade orgulhosos, não entra na minha cabeça que uma época perdida seja argumento suficiente para colocar tudo em causa. Ao longo das últimas semanas, tenho assistido a ataques nas redes sociais, a ameaças feitas a jogadores e a ataques brutais feitos a dirigentes. Depois de tantos anos de conquista, será justo? Será justo que depois de um tri-campeonato os adeptos coloquem tudo em causa apenas e só em virtude de algumas escolhas de um presidente que entrará para sempre na história do futebol mundial?

Não quero que me interpretem mal e que achem que estou a tentar desculpar: não, bem pelo contrário. Como tenho escrito no Bola na Rede, esta época do FC Porto deve ser um alerta para todos aqueles que vivem este clube, desde jogadores a adeptos. Contudo, a pior coisa que acredito que se pode fazer é ter memória curta e esquecer o calcanhar de Madjer em 1987, a correria de Derlei em 2003, a magia de Deco em 2004 ou o voo de Falcao em 2011. Bem sei que o futebol é um jogo de emoções e que muitas das vezes a memória é demasiado curta para os adeptos se poderem lembrar de momentos como os que citei agora. No entanto, depois de todas estas derrotas, não me parece que este argumento justifique a tão proclamada “revolução” que os tais “adeptos” portistas tanto apregoam.

pinto da costa e antero
A estrutura que este ano errou é a mesma que somou títulos atrás de títulos
Fonte: A Bola

Fui escrevendo ao longo da época neste espaço que o plantel portista foi mal construído, que a aposta no treinador foi errada e que alguns erros básicos de comunicação foram cometidos sem que razão aparente houvesse. Ainda assim, não compreendo como neste momento, com tão pouco para jogar e para ganhar, se declare que é preciso mudar tudo, mudar os protagonistas todos e fazer uma autêntica revolução como se um clube fosse gerido de fora para dentro.

Um dia depois da celebração dos 40 anos da Revolução dos Cravos, pareceu-me interessante colocar em discussão a tão proclamada revolução que tantos desejam para o FC Porto. Um plantel mal construído e um erro na nomeação de um treinador não devem bastar para colocar tudo em causa e achar que tudo deve mudar. Olhando para o exemplo inglês, é inteligente pensar que só porque um clube como o Manchester United está a fazer uma das piores épocas da sua história deve mandar jogadores como Rooney, Van Persie, Javier Hernandéz ou Nani embora? Pois…

No FC Porto é assim também que acredito que se deve escrever a próxima história, o próximo capítulo de um clube destinado a vencer. Apesar de todos os erros cometidos, não acredito que o Mangala não consiga ser um central de classe europeia, que Danilo e Alex Sandro se tenham esquecido da qualidade que têm, que Jackson já não saiba marcar um golo ou, pior, que Pinto da Costa já não saiba liderar um clube.

40 anos depois da Revolução dos Cravos, não acredito que seja preciso soltar os tanques e trazer o povo para a rua para reivindicar o que seja. Afinal de contas, são mais as vitórias do que os desaires na nossa memória: sim, essa memória que não deve ser curta e que não deve ser selectiva para todos aqueles que já nos deram tantas alegrias e conquistas. Porque, sim, os outros também jogam. Não se esqueçam disso.

Pragmatismo para a glória

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Topo Sul

Numa altura em que se vive um clima de euforia e entusiasmo no universo benfiquista, disputam-se a cada três dias duelos decisivos e de extrema importância para o clube encarnado. Depois da conquista do campeonato nacional, o Benfica ainda pode juntar mais três títulos ao seu recheado palmarés e culminar uma época perfeita.

Para quem duvidava do poder da equipa do Benfica, os resultados alcançados na semana passada apenas serviram para provar a indubitável capacidade do plantel encarnado, que se mostra mais do que preparado para atingir o total sucesso esta temporada. Assim, com o título nacional no bolso, o lugar marcado no Jamor e em boa posição para a alcançar a final da Liga Europa, as águias discutem amanhã a presença em mais uma final de uma competição, a Taça da Liga.

Olhando, de forma pragmática, para o panorama actual do clube, é indiscutível que a Taça da Liga é a prova menos prestigiada das três que a equipa ainda pode vencer e, por isso, é expectável que Jorge Jesus opte por fazer descansar alguns jogadores mais preponderantes no plantel para o jogo de quinta-feira, com a Juventus. Essa partida em Turim é, neste momento, a mais importante da época encarnada, na qual os atletas devem estar na plenitude das suas capacidades para derrotar um adversário temível, mas não superior, como é a Vecchia Signora.

Porém, antes do jogo da época, há um clássico para disputar amanhã no Estádio do Dragão. O adversário é um dos maiores rivais do Benfica, o tal que se transcende sempre que defronta o maior de Portugal. O F.C. Porto está a fazer uma das piores épocas da sua história, mas isso não é um indicador claro de maiores facilidades para os encarnados na partida de amanhã. Por ser o único titulo que os dragões ainda podem conquistar, a meia-final de amanhã será encarada como uma final para uma equipa que tenta minimamente salvar uma desastrosa temporada.

Com estas referências à vitalidade do jogo de amanhã para o F.C. Porto (quem diria!?), quero ressalvar que, apesar de se tratar de uma prova menor, o jogo de amanhã é um clássico do futebol português, onde se disputa um lugar numa final. Estes dois factores terão forçosamente de pesar nos jogadores encarnados que entrarem amanhã no relvado. Esses tais não serão, com certeza, os mesmos craques que brilharam no domingo com o Olhanense ou na quinta-feira com a Juventus, mas irão envergar o manto sagrado e a qualidade do onze escolhido por Jesus para o jogo de amanhã não ficará a dever nada ao do F.C. Porto, seja ele qual for. Talvez esteja a ser excessivamente entusiasta, mas estou certo de que jogadores como Sulejmani, Djuricic, Cavaleiro ou Cardozo são capazes de criar perigo em vários momentos do jogo.

 Sulejmani e Djuricic deverão ser titulares no clássico de amanhã frente ao F.C. Porto Fonte: ZeroZero
Sulejmani e Djuricic deverão ser titulares no clássico de amanhã frente ao F.C. Porto
Fonte: ZeroZero

Olhando para a gestão que tem vindo a ser feita pelo treinador do Benfica, parece-me que o ataque à final da Taça da Liga será processado numa óptica calculista, baseada numa gestão centrada no jogo de quinta-feira, mas sem descurar totalmente a possibilidade de derrotar, mais uma vez, o F.C. Porto. Deste modo, para além das alterações expectáveis na baliza e na frente de ataque, não espero uma revolução na defesa e meio-campo defensivo. Se Jardel e Steven Vitória podem ocupar os lugares no eixo na defesa, também não afasto a ideia – para mim a mais acertada- de Garay jogar ao lado do central brasileiro, colocando André Almeida e Maxi nas laterais. André Gomes, que não poderá jogar em Turim, será certamente aposta para o meio-campo e pode muito bem ter a companhia de Ruben Amorim no centro do terreno. A frente de ataque, como já referi anteriormente neste texto, deverá ser (bem) entregue a Sulejmani, Cavaleiro, Djuricic e Cardozo.

Este poderá ser o onze escalonado por Jorge Jesus para o clássico de amanhã e, mesmo sem ser um dado oficial, estou convicto de que estes homens estão em perfeitas condições para carimbarem mais uma noite gloriosa para as águias. Estas segundas linhas são de luxo e a confiança que paira nas hostes encarnadas poderá ser imperial no desenrolar da partida.

Os dados para o penúltimo clássico da época, entre águias e dragões, estão lançados, e resta saber qual o desfecho de mais um duelo que reunirá os melhores clubes portugueses dos últimos anos, em posições muito distintas. No entanto, em hora de clássico pouco contam as estatísticas e os momentos das equipas; é preciso encarar este jogo com a máxima seriedade e com a ambição de alcançar mais uma final e continuar o percurso imaculado desta temporada.

O Passado Também Chuta: Giacinto Facchetti

o passado tambem chuta

Helénio Herrera, como treinador, não sabia só criar uma equipa praticamente do nada; era capaz de ver um jogador e transformá-lo. O caso que mais relevância alcançou chama-se Giacinto Facchetti. HH deitou-lhe o olho, ainda que fosse um atacante. Pegou nele e colocou-o como lateral-esquerdo. Os primeiros jogos foram dubitativos. No entanto, Facchetti teve a sorte de ter um treinador que sabia o que estava a fazer e que disse: “Facchetti será importantíssimo no meu Inter”… O tempo não se fez esperar. Ganhou consistência defensiva e não se esqueceu de como correr toda a linha lateral com velocidade e qualidade de toque de bola. Facchetti transformara-se no primeiro lateral italiano que percorria a linha e num dos melhores laterais do Mundo.

Tornou-se um jogador que cruzou a época gloriosa do Inter de Milão. Não quis outro clube e retirou-se como capitão da equipa. Quando o grande Eusébio ganhou a Bola de Ouro, a Bola de Prata foi parar às mãos de Giacinto Facchetti. Entre escolhas e nomeações ficou situado entre os vinte melhores jogadores do século XX superando, inclusivamente, outro ícone do futebol italiano e mundial, também lateral-esquerdo, Paolo Maldini. Sendo defesa, foi um jogador cheio de recursos e rematador. Rondou os cem golos durante a sua carreira e alcançou, no futebol italiano do fervor do catenaccio, a nada desprezível quantidade de dez golos numa época-campeonato.

Foi vice-campeão mundial com a sua seleção. Atingiu o avultado – e mais para a época – número de noventa e quatro internacionalizações. Ganhou com a seleção italiana o Campeonato Europeu de 1968. Rubricou todos os títulos como peça importante da década de 60 do Inter de Milão; arrecadou quatro Campeonatos de Itália; uma Taça de Itália; duas Taças Intercontinentais e duas Taças dos Campeões Europeus. Jogou dezoito anos no seu Inter, desde 1960 até 1978. A sua corpulência, a sua técnica e o seu savoir faire permitiram-lhe retirar-se como líbero, tal como o seu herdeiro no futebol italiano e mundial Paolo Maldini. Posteriormente, Facchetti continuou no caminho da surpresa e da inovação.

Com Sandro Mazzola   Fonte: imageshack.us
Com Sandro Mazzola
Fonte: imageshack.us

Enveredou pelo dirigismo. Sem sair do clube da sua vida, foi ocupando e desempenhando com êxito posições importantes na instituição. Finalmente, em 2004, ocuparia a presidência do Inter de Milão. Foi, como é evidente, o primeiro jogador a ocupar este cargo no clube. Tristemente, passados dois anos faleceu atacado por um tremendo cancro do pâncreas. Foi-se uma lenda da época mais gloriosa do Inter. Desapareceu do mundo dos vivos alguém que durante a sua vida foi batendo marcas com elegância. Durante a sua dilatada carreira de futebolista apenas uma vez sentiu a sensação de ser expulso dos relvados. Sendo defesa, este dado diz quase tudo da sua qualidade e capacidade. Não esfolava pernas; jogava e era um mestre na arte do corte. O futebol é um jogo onde também os defesas alcançavam reconhecimento e prémios de prestígio internacional; a sua Bola de Prata, competindo apertadamente com o mito Eusébio, é o exemplo vivo. O futebol não é composto, exclusivamente, por Ronaldos, Messis ou Ribérys…