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Ayrton Senna: a Lenda Imortal

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Há 20 anos viveu-se o fim-de-semana mais trágico de que existe memória na F1. Morreram o austríaco Roland Ratzenberger e o brasileiro Ayrton Senna.

Senna ainda hoje é considerado por muitos o melhor piloto de sempre de F1. Os seus três títulos de campeão mundial assim o ajudam a coroar e, se não tivesse tido aquele fatídico acidente, talvez mais alguns teria.

O piloto brasileiro é relembrado com emoção em todo o mundo mas, por falar a nossa língua e por ter obtido a sua primeira vitória na F1 em Portugal, na temporada de 1985, é um dos pilotos que mais carinho mereciam e merecem no nosso país, sendo mesmo recordado por quem não acompanha a modalidade.

A 1 de maio de 1994, o mundo chorou quando Senna seguiu em frente na curva Tumburello, no circuito de Ímola, em São Marino, e perdeu a vida.

Ayrton Senna é, e sempre será, uma das maiores figuras da F1 e do desporto mundial, e estes 20 anos sobre o seu desaparecimento apenas fazem provar isso.

Anthony Lopes: Baliza francesa com sotaque português

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ligue 1

Pouco se fala, não sendo muitos os que o conhecem, de Anthony Lopes, o guarda-redes português que toma conta das redes do Lyon. Mas a verdade é que o jogador tem dado muitos argumentos para que dele se fale…

Esta tem sido uma época atípica para o Lyon. Habituado aos grandes palcos europeus e a lugares cimeiros da Liga Francesa, o clube francês contou esta época com uma fraca participação na Liga dos Campeões, uma ida até aos quartos-de-final da Liga Europa e, até ver, um quinto lugar no campeonato francês. Os culpados podem ser muitos, mas decerto que não é o seu guarda-redes. Anthony Lopes tem apenas 23 anos e em França não passa despercebido. Está em grande forma e este ano conta com algumas grandes exibições, tendo sido mesmo o salvador do Lyon em muitas ocasiões.

O jovem, de descendência portuguesa e proveniente dos escalões de formação do Lyon, tem vindo a marcar terreno no clube francês desde a saída de Hugo Lloris. Da época 2012/2013 para a presente temporada conseguiu afirmar-se como titular indiscutível no onze de Rémi Garde. E que boa aposta que tem sido!

Fonte: golodeplaca.blogspot.pt
Fonte: golodeplaca.blogspot.pt

Em Portugal, apenas os ouvidos mais atentos já ouviram falar de um jovem português que defende as cores de um grande clube europeu, habituado a jogar contra os melhores. Na minha opinião, a época de afirmação de Anthony Lopes é também um forte argumento para ir ao Brasil. Rui Patrício deve ser certo nas redes de Portugal, mas outras duas vagas ficam por preencher: Eduardo, Ricardo, Beto e Anthony Lopes são as opções. Eduardo já não é o mesmo guarda-redes. Depois da passagem pelo Génova, notou-se uma descida de rendimento do internacional português. Ricardo conta com uma grande época pela Briosa e também poderá ser uma boa aposta para Paulo Bento. Beto defende as redes do Sevilha. A equipa espanhola está a fazer uma boa época, contando com um quinto lugar na Liga Espanhola e com as meias-finais na Liga Europa, e ainda pode vir a conquistar o título da Liga Europa e o quarto lugar na Liga Espanhola. Todos eles oferecem bons argumentos a Paulo Bento. Na minha opinião, acho que está na altura de dar um ar novo às redes nacionais. Anthony Lopes é jovem, mostra que ainda pode crescer mais e seria, sem dúvida, uma das minhas apostas para defender as balizas de Portugal no Mundial deste ano. É pena que talentos nacionais passem tão despercebidos a um país que lá fora conhece Cristiano Ronaldo e pouco mais…

Antevisão: Fase Final II, Divisão Feminina

cab Volei

Nos dias 2, 3 e 4 de Maio terá lugar no pavilhão da Escola Fontes Pereira de Melo, no Porto, a fase final da II Divisão feminina, que irá apurar o campeão nacional e consequentemente o clube que subirá à elite do voleibol nacional.

Neste fim-de-semana que passou tivemos a disputa entre o CV Lisboa (3º classificado da série continental) e o CS Madeira (representante da Região Autónoma Madeira) pelo último lugar disponível nessa fase final, sendo que Boavista FC (1º classificado da série continental), P.E.L (2º classificado da série continental) e Clube K (representante região da autónoma Açores) já tinham lugar assegurado. Foi um Play-Off sem história; o CV Lisboa venceu os dois jogos pela margem máxima (3-0), rodando quase a totalidade do plantel. Era mais forte, tinha mais ritmo competitivo e cumpriu a sua obrigação. Uma palavra para o CS Madeira, que fez o que podia mas que claramente é bem diferente do clube que foi campeão e habitual da I Divisão do voleibol nacional num passado recente. Votos de um rápido regresso à elite do voleibol português.

Dito isto, fica o que penso de cada equipa para esta fase final, adiantando que me parece a mais equilibrada dos últimos 5 anos!

cvlisboa
Fonte: www.cvoleibollisboa.pt/

 

CVL – Centro de Voleibol de Lisboa
A equipa de Lisboa chega a esta fase pelo segundo ano consecutivo mas é uma equipa diferente. A direcção apostou num treinador (João Correia) que já ganhou esta divisão várias vezes com clubes diferentes (Técnico, CVO, Lusófona) e reforçou-se com jogadoras que, apesar de jovens, têm imensa qualidade e já foram campeãs nacionais (Sara Serrano, Rita Mira, Mariana Veiga, Maria Palma e Sara Junqueira). Salientar também a prestação, até agora, de Joana Gonzalez – nota-se a evolução que esta equipa técnica trouxe ao seu jogo e está uma jogadora mais confiante. Mantendo a sua explosividade, o seu talento natural diminuiu os erros e tem hoje mais e melhores opções. Quanto às aspirações da equipa, acho que podem ganhar mas não são os principais favoritos, o que pode ajudar. A última vitória, frente ao Boavista, foi também a prova de que num bom dia podem bater qualquer equipa.

PEL
Fonte: Facebook do PEL

PEL – Pedro Eanes Lobato
A equipa da margem Sul vem em crescendo. Começou o ano a perder para o outro candidato de Lisboa (CVL), mas a partir de determinada altura passou a ganhar e nunca mais cedeu qualquer jogo. O facto de nunca ter ganho um set ao Boavista pode pesar psicologicamente na equipa quando enfrentar as panteras. Esta é talvez a equipa mais experiente das quatro (Ana Sofia André, Mª Céu, Mónica Junqueira e Tatiana Santos conferem não só a qualidade mas também a experiência de quem já passou por bastantes fases finais). Juntando a estas jogadoras temos Patrícia Brazinha e Joana Caldas, que representam a melhor vaga da formação da região nestes últimos anos. Em termos de aspirações, tem de ser considerado candidato, principalmente pelos resultados apresentados e pelo conjunto de jogadoras à disposição. O facto de jogar o primeiro jogo (sexta-feira) contra o Clube K (equipa com menos ritmo competitivo) pode ajudar.

boavista
Fonte: boavista.blogspot.pt

Boavista F.C.
Jogando com o factor casa (público sempre muito ligado a este histórico da modalidade) e sendo 1º classificado da série continental (desde cedo garantiu a presença nesta fase final e pode gerir todas as variáveis), um histórico da modalidade e crónico candidato à subida nos últimos anos, tem de ser considerado o maior candidato ao título. Tem falhado precisamente nesta fase e o clube está muito envolvido em chegar de novo à I Divisão. Com uma equipa muito alta, a dupla Machado e Nuno Costa dá garantias de que o Boavista chegará forte. A pressão de ser o maior candidato pode ser um factor desfavorável.

Fonte: clubek-voleibol.blogspot.com

Clube K
Desde que desceu da I Divisão, tem também sido o crónico representante dos Açores. Normalmente apresenta algumas jogadoras brasileiras, o que confere uma qualidade superior, e nunca pode ser posto de parte da luta pelo título. 20 jogos, 20 vitórias, 60 sets ganhos e apenas um sofrido na série Açores são um excelente cartão de visita, mas significam também que a equipa açoriana “passeou” nessa fase e que chegará com um ritmo naturalmente diferente do das suas adversárias continentais.

Resumindo, será certamente uma fase final equilibrada, competitiva e emocionante! Para terminar, aqui fica o cartaz do fim-de-semana.

Cartaz  Fonte: FPV.pt
Cartaz
Fonte: FPV.pt

Chelsea 1-3 Atlético de Madrid: os colchoneros vêm a Lisboa!

Está decidido: a final de Lisboa vai ter duas equipas de Madrid. Depois do nulo registado na primeira mão, o Atlético de Madrid foi esta noite a Stamford Bridge derrotar o Chelsea de Mourinho por 3-1 e volta a uma final da Liga dos Campeões quarenta anos depois.

Perante as ausências de Lampard e Mikel (suspensos) e a impossibilidade de utilizar Matic e Salah nas competições internacionais, Mourinho escalou um onze pouco ortodoxo na tentativa de manter a coesão defensiva exibida na semana passada: Schwarzer na baliza; Ivanovic, Cahill, Terry e Cole na defesa; David Luiz e Ramires num duplo pivot; Azpilicueta (!) como extremo direito, Hazard na banda oposta, Willian a dez e Torres na frente. Do outro lado, Simeone apresentou a defesa habitual – Courtois, Juanfran, Miranda, Godín e Filipe Luís -, formou um duplo pivot com Mário Suárez e o capitão Tiago (no lugar do habitual capitão Gabi, castigado); e lançou Arda Turan sobre a direita, Koke sobre a esquerda e Adrián como “vagabundo” no apoio a Diego Costa.

As duas equipas entraram mais preocupadas em não sofrer golos do que em marcar, cautelosas e disciplinadas, e quando o relógio marcava meia hora de jogo o número de oportunidades reduzia-se a uma para cada lado – Koke, aos 4’, atirou à barra num cruzamento-remate e David Luiz, aos 23’, ameaçou Courtois com um pontapé de bicicleta na sequência de um lançamento longo de Ivanovic.

David Luiz, num pontapé acrobático, tentou surpreender  Fonte: UEFA
David Luiz, num pontapé acrobático, tentou surpreender
Fonte: UEFA

O Chelsea tinha mais bola mas atacava de forma lenta e dependente da genialidade de Hazard, sempre muito bem vigiado. Na verdade, o ataque dos blues procurava sempre o lado esquerdo porque Azpilicueta denotava dificuldades em adaptar-se ao seu novo habitat. Incumbido de várias missões ao mesmo tempo – ora aparecia aberto sobre na direita, ora se juntava a Torres entre os centrais, ora dobrava as investidas de Ramires -, o habitual lateral esquerdo mal se viu. Por seu turno, o Atlético, sempre com os laterais muito subidos e com gente dinâmica e criativa na frente – Arda Turan (muito marcado), Koke, Diego Costa e Adrián (o mais apagado) – saía sempre a jogar com mais verticalidade e procurava penetrar na defesa contrária com mais velocidade.

Aos 35’, o primeiro golo chegou. E foi do Chelsea. Ivanovic viu Willian a desmarcar-se de uma ponta à outra da área e endossou-lhe o esférico, o brasileiro, pressionado por dois homens, descobriu Azpilicueta a entrar no espaço e o espanhol cruzou para o compatriota Torres, no meio da área, atirar para o fundo das redes. Pouco depois, Adrián “penteou” a bola para as mãos de Schwarzer num livre de Koke – um prenúncio do que estava para vir. É que o mesmo Adrían acabaria por marcar ainda antes do intervalo: Tiago descobriu Juanfran sobre a linha, fez um passe picado sobre a defesa do Chelsea, o lateral cruzou em esforço e Adrián rematou cheio de intenção para o 1-1.

No segundo tempo, o jogo foi mais vivo porque o Atlético subiu as suas linhas, pressionou mais alto, foi mais intenso e circulou a bola com mais paciência. Koke trocou de ala com Turan, ajudou a anular Hazard e o Atlético acabou por chegar ao segundo aos 54’, num penalty ganho e convertido por Diego Costa. O ponta-de-lança brasileiro (e espanhol) sofreu um toque de Eto’o – acabadinho de entrar para o lugar de Cole – e, depois de algum tempo a ajeitar a bola (tanto que levou amarelo pela demora), lá pôs a sua equipa em vantagem no marcador.

Diego Costa, de grande penalidade, voltou a marcar na Liga dos Campeões  Fonte: UEFA
Diego Costa, de grande penalidade, voltou a marcar na Liga dos Campeões
Fonte: UEFA

O Chelsea reagiu, foi para cima dos colchoneros, e parecia com capacidade para reentrar na eliminatória. David Luiz, com um cabeceamento ao poste, deu esperança aos ingleses. Demba Ba entrou para o lugar de Torres, Raul Garcia substituiu Adrián e, na sequência da primeira longa troca de bola dos pupilos de Simeone em alguns minutos, o Atlético acabaria mesmo por “matar o jogo”: Tiago (novamente ele!) descobriu Juanfran com um passe teleguiado a sobrevoar a defesa adversária, o espanhol cruzou para Arda Turan e o turco, após cabecear ao ferro, encostou para a baliza na recarga: 1-3 e vida muito complicada para os londrinos.

O Chelsea sentiu o resultado e não foi capaz de esboçar uma reacção semelhante àquela que tinha tido quando sofreu o golo anterior. Diego Costa, tocado, cedeu o lugar a Sosa; Willian, que havia perdido influência no jogo da equipa com a entrada de Demba Ba (encostado à linha para que Eto’o e Demba Ba actuassem na frente de ataque, deixou de ser o cérebro), saiu para a entrada de Schürrle. Até final, nota para a entrada de Cebolla Rodíguez, que rendeu Arda Turan, e para um lance, já nos descontos, que traduziu o último fôlego dos blues: uma incursão individual de Hazard que acabou com um remate do belga, frente a frente com Courtois, a permitir ao jovem guarda-redes protagonizar uma brilhante defesa com o pé.

Todos os jogadores do Atlético estiveram a um excelente nível, mas há alguns que merecem uma palavra especial: além de Koke, porventura o principal destaque do Atlético hoje, há que realçar as exibições seguríssimas dos dois centrais – Godín e Miranda -, que Simeone transformou em dois gigantes; de Filipe Luís, que é neste momento um dos melhores laterais do mundo e pode muito bem discutir a titularidade com Marcelo na selecção brasileira; e do “nosso” Tiago, que assumiu a braçadeira com grande compromisso, encheu o meio-campo e foi essencial, tanto nos equilíbrios da equipa quanto nos golos.

Godín e Tiago, os símbolos da experiência neste Atlético  Fonte: UEFA
Godín e Tiago, os símbolos da experiência neste Atlético
Fonte: UEFA

O Atlético mostrou toda a sua fibra nesta eliminatória, foi capaz de dar a volta ao texto quando se apanhou em desvantagem e, sempre fiel aos seus princípios e à sua identidade, derrotou o Chelsea com toda a justiça. De facto, Simeone criou uma equipa na verdadeira acepção da palavra, sem grandes estrelas mas com um espírito de solidariedade e de união fantástico. Os colchoneros reveleram uma maturidade e um carácter enormes e o prémio de vir disputar a final ao Estádio da Luz é mais do que merecido. Foi como underdogs que chegaram à final e é com esse estatuto que entrarão em campo frente ao arqui-rival do Real, mas o nível que atingiram permite-lhes sonhar com o ceptro.

A Figura
Koke – está feito um centro-campista de mão cheia. Como disse Luís Freitas Lobo durante a transmissão do jogo na SportTV, é um médio talhado para o futebol moderno, que está em todas as fases do jogo – transição ofensiva e defensiva; organização ofensiva e defensiva. Procura a bola, procura os espaços, trata a redondinha por tu, é intenso, é rápido a pensar e a executar, é forte, é… um futebolista de eleição. O Atlético vale pelo seu colectivo, mas Koke, em particular, brilhou.

O Fora-de-Jogo
José Mourinho – se elogiei a postura do técnico português depois da primeira mão porque o Chelsea defendeu muitíssimo bem e nunca se descompôs, hoje devo dizer que a sua estratégia falhou. Com a equipa mais fresca do que a do adversário, jogando em casa e tendo forçosamente de marcar golos, a ideia colocar Azpilicueta a extremo foi um erro. O Chelsea foi mais permeável do que o adversário e não esteve, em nenhum momento da eliminatória, verdadeiramente por cima do Atlético. Exigia-se-lhe algum rasgo para resolver os problemas tácticos que o Atlético lhe impunha e não o teve.

O Benfica das finais

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Depois de garantida a presença nas finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal, o Benfica joga a cartada decisiva na Liga Europa, frente à Juventus, com vista a mais uma final, a segunda consecutiva na prova. Caso se concretize esse cenário, a equipa comandada por Jorge Jesus tem a possibilidade de, em cerca de 15 dias, jogar três finais. Três títulos! É realmente impressionante, e algo novo no universo encarnado (pelo menos nos últimos 20 anos).

É legítimo afirmar, portanto, que este Benfica é o Benfica das finais. No ano passado, a equipa comandada por Jorge Jesus disputou duas finais (Liga Europa e Taça de Portugal) e, este ano, tem garantidas mais duas (Taça de Portugal e Taça da Liga), podendo ainda disputar uma terceira (Liga Europa). Há relativamente pouco tempo, o treinador benfiquista afirmou que “as finais são para se jogar”, ao contrário que diz o “sábio povo” quando refere que “as finais não se jogam, ganham-se”. Ora, o Benfica do ano passado jogou – e muito bem, diga-se – as duas finais que disputou. Contudo, o “jogar bem” não foi suficiente para que o museu Cosme Damião fosse brindado com duas novas atrações. Ao Benfica deste ano peço, então, que, em vez de jogar, ganhe. Não será nenhum delito garantir que de vitórias morais estamos todos nós fartos. Chegou a hora de vencer.

Nas próximas semanas, o Benfica pode engrandecer o seu museu com a conquista de três troféus  Fonte: planetaslbenfica.blogspot.com
Luis Filipe Vieira e o Museu Cosme Damião podem receber mais troféus esta temporada
Fonte: planetaslbenfica.blogspot.com

Com o Campeonato Nacional no bolso, a pressão baixou consideravelmente no seio encarnado. Aliás, não duvidem, a conquista do 33º título pode ser a chave para desbloquear os restantes troféus. Entre um grupo de jogadores que respira confiança e mostra motivação para fazer história vive uma massa adepta eufórica e expectante em relação ao futuro a curto prazo. Depois de anos a fio em constante depressão, o Benfica renasce como um grande clube – com tudo aquilo a que o título obriga. As provas estão à vista de todos e o sentimento é quase palpável.

Independentemente do resultado do jogo frente à Juventus, o Benfica já disfruta de uma época de sucesso. Todavia, seria de enorme hipocrisia e falta de bom senso desvalorizar a conquista de um troféu europeu, que há tanto tempo procurámos. Honestamente, sinto-me confiante. Não importa o adversário ou o local onde jogamos: este Benfica transmite uma segurança que eu jamais senti.  Mais do que nunca, acredito no grupo, acredito no treinador, acredito na direção e acredito na mentalidade do clube. Acredito, de igual modo, que voltaremos a Turim, que voltaremos à final. E desta vez para ganhar!

P.S.: Por falar em finais, deixo aqui os meus parabéns ao Real Madrid, que carimbou, frente ao Bayern de Munique, uma merecida passagem à final da Liga dos Campeões desta temporada. É justo que o melhor jogador do mundo esteja presente no melhor estádio do planeta.

Escolhas do Brasileirão

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Um amigo pediu-me para eleger o melhor “onze” do Brasileirão. Penso que dá para fazer uma bela seleção com este leque. Uma equipa capaz, quiçá, de lutar por um Campeonato do Mundo. Como esta Liga se iniciou só agora, penso que será justo apenas nos reportarmos à temporada passada. Comecemos, então. Na baliza temos várias opções (tal como no resto do campo): Fábio, campeão pelo Cruzeiro; Victor, do rival Atlético Mineiro; Jéfferson, do Botafogo; Felipe, do Flamengo (ex-Braga) e ainda o sénior Rogério Ceni.

À esquerda, terei de escolher o gremista Alex Tello. Entretanto vendido aos turcos do Galatasaray, fez uma bela temporada. Alex veio para a Europa; mas tal como todos os outros artistas de Terras de Vera Cruz, já era bom na terra natal. Como lateral-direito temos Marcos Rocha, do Galo Mineiro. É internacional e esteve na Copa das Confederações. Jogador regularíssimo. Centrais há vários: Lúcio, campeão do Mundo em 2002, atualmente no Palmeiras. A única desvantagem do “xerife” para com os colegas é a idade… 35 anos podem pesar e bem! Depois temos Réver, também do Atlético Mineiro. Deverá ser opção para a Copa. Manoel Carvalho, ex-Atlético Paranaense e atualmente sem clube por um processo disciplinar, também é uma referência. Destaco ainda Dedé, ex-Vasco da Gama e campeão pelo Cruzeiro.

Mais à frente no terreno, naquele que é o setor nuclear de uma equipa, escolhas não faltam. Nílton, cruzeirense, a trinco; o próprio Elias, que afinal de contas foi vendido ao Corinthians. Mas há vários outros criativos. Ronaldinho Gaúcho – quem mais? – ainda estaria capaz de fazer uma perninha. E que perninha. Temos também Paulo Henrique Ganso. E não nos podemos esquecer de um grande jogador, considerado o melhor de 2013: Éverton Ribeiro.

Ronaldinho Gaúcho ainda pode(ria) ser útei à canarinha  Fonte:
Ronaldinho Gaúcho ainda pode(ria) ser útei à canarinha
Fonte:

Como avançados, há também muitos pontas-de-lança de qualidade. Jô, do Atlético Mineiro; Diego Tardelli, também do Galo; Éderson, do Atlético Paranaense; até mesmo Walter (apesar de umas gordurinhas a mais). Outro atleta que considero um craque, mas que foi várias vezes criticado no Botafogo, é Rafael Marques. É um jogador muito útil e que figuraria nesta seleção do Brasil brasileiro. Rumou para Oriente, para a China. Não podemos olvidar também Leandro Damião, agora no Santos. Uma bomba. Temos infindáveis recursos para homens-golo. Hernâni, o “brocador”, do Flamengo também é bom. Fred, do Fluminense, que deverá estar no Mundial. Luís Fabiano também, embora tenha de mudar o temperamento. Uma palavra para Alan Kardec. Excelente época. Ele queria ficar no Palmeiras; negócios levaram-no para não muito longe dali. Na verdade, para a mesma cidade, para o rival São Paulo.

Como podemos verificar, o Brasil não precisa dos outros “europeus” para criar uma grande seleção. Esta escolha seria suficiente para lutar pelo título mais importante do planeta. Quais seriam as vossas escolhas? Acham que assim está bom? Agora é só juntar mais uns quantos do Velho Continente e fica uma super-equipa.

Bayern 0-4 Real Madrid: Furacão blanco rumo a La Decima

Está encontrado o primeiro finalista da presente edição da Liga dos Campeões. O Real Madrid, num Allianz Arena absolutamente cheio, deu um “banho de bola” ao Bayern, venceu por 0-4 e carimbou o passaporte para Lisboa. Sergio Ramos e Cristiano Ronaldo bisaram na partida e foram dois dos protagonistas de uma noite histórica para o futebol europeu.

Ambos os conjuntos apresentaram onzes muito idênticos aos da semana passada – apenas uma alteração em cada lado. No Real Madrid, Ancelotti fez entrar Bale para o lugar de Isco, mas os merengues mantiveram o 4-4-2, com Di María na esquerda, Bale na direita, Modric e Xabi Alonso no centro e Ronaldo no apoio a Benzema. No Bayern, Guardiola optou por um meio-campo mais ofensivo, deixando Rafinha no banco, encostando o capitão Lahm à direita e concedendo a titularidade a Thomas Müller, que jogou nas costas de Mandzukic. Desta forma, cabia a Kroos (como pivot) e Schweinsteiger (como box-to-box) a ligação entre a defesa e o ataque.

O Bayern começou por tentar impor-se através do seu jogo de posse, mas cedo se percebeu que o cenário da primeira mão se ia repetir: o Real Madrid, com uma defesa extraordinariamente agressiva e bem organizada, saía quase sempre com grande clarividência e velocidade para o contra-ataque. Bale teve nos pés a primeira grande ocasião de perigo da partida – aproveitando uma saída disparatada de Neuer, que deixou a baliza aberta, o galês, de muito longe, rematou por cima. Aos 16’ e aos 20’, a eliminatória ficou praticamente decidida: primeiro, num canto cobrado por Modric, Sergio Ramos ganhou nas alturas e fuzilou de cabeça para o 0-1; depois, num livre de Di María, o mesmo Sergio Ramos voltou a facturar, mergulhando para o 0-2.

Dois golpes de cabeça de Sergio Ramos, dois golos  Fonte: UEFA
Dois golpes de cabeça de Sergio Ramos, dois golos
Fonte: UEFA

A partir daí, o Real Madrid elevou ainda mais os seus índices de confiança e, sempre em contra-golpe, fez o que quis da defesa do Bayern. Pouco depois da meia hora, numa transição supersónica, Benzema soltou para Bale, o britânico ultrapassou Boateng em velocidade e assistiu Ronaldo, que, isolado, fez o terceiro do Real com toda a tranquilidade. Game-over para o Bayern – Die Roten passavam a necessitar de marcar cinco (!) golos para se apurarem para a final.

Depois de Ronaldo falhar o alvo em mais um remate com a baliza escancarada – Neuer apareceu várias vezes como verdadeiro líbero -, ainda houve tempo para Xabi Alonso ver um amarelo que o deixa de fora da final de Lisboa, para Ribéry esbofetear Carvajal dentro da área sem que ninguém tivesse dado por nada e para uma série de escaramuças entre os jogadores das duas equipas antes do intervalo. De resto, o luso Pedro Proença teve muito trabalho, mas controlou muito bem todos os conflitos e fez uma excelente arbitragem. O Real terminou claramente por cima e o Bayern revelou-se incapaz de ameaçar a baliza de Casillas.

No regresso dos balneários, o Bayern entrou com Javi Martinez no lugar de Mandukic, à procura de um golo que pudesse limpar a péssima imagem deixada durante o primeiro tempo. O Real, ligeiramente menos agressivo no momento defensivo, embora sempre muito concentrado, consentiu algumas oportunidades de golo ao adversário, mas os bávaros acabaram mesmo por não conseguir marcar. Robben e Ribéry, aparecendo pelo meio, tentaram a sua sorte com remates muito perigosos, e Kroos, de meia e longa distância, também assustou. Já sem Müller e Ribéry em campo e com Pizarro e Götze nos seus lugares, foi o ex-Dortmund a desperdiçar a última grande ocasião de perigo para os alemães.

Ronaldo fez jus ao título de melhor do mundo e foi decisivo  Fonte: UEFA
Ronaldo fez jus ao título de melhor do mundo, marcou dois e bateu records 
Fonte: UEFA

Os blancos, utilizando menos o contra-ataque e privilegiando, sempre que possível, transições pausadas e em apoio, iam procurando evitar que o ritmo de jogo aumentasse e nunca perderam o controlo da partida. A um quarto de hora do fim, Ancelotti começou a queimar substituições: Varane substituiu um super-Sergio Ramos em risco de suspensão, Benzema cedeu o lugar a Isco e Casemiro permitiu a saída de Di María, que hoje teve mais um desempenho assombroso.

O jogo não podia terminar sem a cereja no topo do bolo: em cima dos noventa minutos, Ronaldo ganhou uma falta à entrada da área, assumiu a cobrança do livre e, quando todos esperavam um tiro, o internacional português atirou rasteiro, por baixo da barreira, fazendo o 0-4 final. Foi a estocada final num Bayern completamente impotente face à excelência e à mestria do Real  – uma exibição de sonho para os merengues, um autêntico pesadelo para o germânicos.

Sem me querer alongar muito mais, não posso deixar de fazer referência às exibições estratosféricas de alguns (na verdade, quase todos!) jogadores do Real Madrid: Carvajal e Coentrão foram intransponíveis e fizeram um jogo a rondar a perfeição; Pepe e Ramos dominaram no jogo aéreo e foram dois monstros no eixo defensivo; Xabi Alonso fez mais um grande jogo – tem uma classe e uma experiência enormes e vai fazer falta na final; Modric está num momento de forma assustador – faz tudo bem, joga com uma intensidade incrível, é estupidamente inteligente, mete a bola onde quer e defende e ataca como muito poucos; Di María é um talento, muito rápido e com pormenores técnicos soberbos, mas é igualmente um mouro de trabalho que nunca pára de correr – hoje foi fundamental para o sucesso da sua equipa; Bale foi um perigo à solta e também trabalhou muito em prol do colectivo; Ronaldo… é Ronaldo.

Coentrão esteve irrepreensível mais uma vez - fantástica performance  Fonte: UEFA
Coentrão esteve irrepreensível mais uma vez – fantástica performance
Fonte: UEFA

O Real Madrid destruiu por completo o actual campeão europeu, como muito poucos acreditavam ser possível. Defenderam com tudo e atacaram com tudo, estiveram bem em todos os momentos do jogo, foram mais inteligentes e mais determinados. Há que fazer a devida vénia a Carlo Ancelotti, que preparou muito bem o duelo e ganhou em toda a linha. O técnico italiano está, assim, a uma vitória de conquistar a sua quinta Liga dos Campeões (terceira como treinador). Independentemente do finalista apurado amanhã, o Real Madrid será sempre o favorito na Luz. Resta agora saber se vai ter pela frente o rival madrileño do Atlético ou um Chelsea comandado pelo seu anterior treinador, José Mourinho.

A Figura
Cristiano Ronaldo – tem 16 golos em 10 jogos. Repito: 16 golos. Hoje apontou dois e fez história, batendo o record de número de golos alcançados numa só edição da Liga dos Campeões/Taça dos Campeões Europeus. É, sem dúvida, dos melhores futebolistas de sempre e hoje esteve ao seu melhor nível.

O Fora-de-Jogo
Pep Guardiola – sou um profundo admirador do catalão, mas tem de ser ele a assumir o rotundo fracasso da equipa. Ao cabo de 180 minutos de tiki-taka, o Bayern sofreu cinco golos e não foi capaz de marcar. Os campeões alemães acabaram humilhados no Allianz Arena e isso deve ser motivo de reflexão interna.

(Tristes) manobras de bastidores

benficaabenfica

Diz-se por aí que a Juventus apresentou queixa junto da UEFA para retirar o Enzo do jogo de quinta-feira. Num clube tipicamente matreiro, como é o italiano, que até desceu à Serie B italiana por corrupção comprovada, estes gestos mesquinhos em nada surpreendem. Para além disso, e se nos recordarmos de quem é o líder da UEFA, ainda menos surpresos com este baixo nível ficamos. UEFA essa que, em jeito de colo de pai para filho, escreveu ontem no seu site oficial: “Juventus a um golo da final em casa”. Passem dias, meses ou anos, o futebol está sujo com estes clubes que nunca conseguirão fugir da sua génese. Mas mais do que a pequenez da Juventus, este caso mostra-nos, isso sim, a incomparável força e grandeza do Benfica. A tal ponto que a vecchia signora, que tem um dos melhores plantéis do mundo, vê necessidade em recorrer a estratagemas de bastidores para de alguma forma facilitar essa penosa tarefa que é “matar” a época europeia do clube da Luz. Em igualdade de circunstâncias, ficou visto, na primeira mão, que o Benfica tem a final da Liga Europa a um sonho de distância.

Enzo Pérez é um dos jogadores mais importantes do Benfica? Sim, sem dúvida. Mas, talvez contagiado pela loucura e alegria que nos enchem a alma nas últimas semanas, não temo a sua ausência. Os níveis de confiança do plantel estão em ponto estratosférico. O Benfica já chegou à fase em que vale pelo seu todo e não pelas suas partes. Qualquer jogador que entre sente-se plenamente integrado na equipa e esta não se ressente da ausência de um, dois ou três jogadores fundamentais…tal como vimos na primeira mão frente a este clube corrupto: sem Fejsa, Salvio e Gaitán. Depois da arbitragem mais do que tendenciosa no primeiro jogo, o Benfica tem de esperar igual tratamento em Itália. Que isso não sirva para retrair os jogadores, mas sim torná-los mais fortes e destemidos.

O polémico gesto de Enzo contra o Arouca serve hoje para "saudar" a posição da UEFA
O polémico gesto de Enzo contra o Arouca serve hoje para “saudar” a posição da UEFA

Ao Benfica peço bravura, heroicidade, sangue e suor. Joguemos à Benfica, sejamos Benfica. Podemos perder, sim, mas não será pela ausência de Enzo ou de qualquer outro. Acreditemos que esta tentativa de os italianos nos enfraquecerem apenas nos tornará mais fortes. Contra a Juventus, contra Platini e contra a UEFA, que antecipa conselhos disciplinares para deliberar sobre um caso tão desenquadrado como este. Mova-se o Céu e a Terra, peça-se uma força extra ao Eusébio e ao Coluna, alinhem-se os astros, mordam-se cachecóis, abracem-se à Benfica e o sonho será bem possível.

El Loco está de volta

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O regresso de Marcelo Bielsa é uma grande notícia para o futebol. O treinador argentino é um dos melhores do mundo – não é por não ter uma carreira repleta de títulos que deixa de o ser – e é sempre preferível que os melhores estejam no activo. Depois do magnífico trabalho realizado no Athletic Bilbao, El Loco, que esteve um ano parado, tem um novo desafio pela frente: tentar recolocar o Marselha na elite do futebol francês. Ainda é cedo para prever se será ou não bem-sucedido nessa tarefa (até porque apenas existe um princípio de acordo), mas não há dúvidas de que, com Bielsa, o emblema do sul de França estará sempre mais perto de conseguir voltar ao topo.

Na época em que o Athletic Bilbao chegou às finais da Liga Europa e da Taça do Rei, Guardiola confessou que Marcelo Bielsa era o seu mentor e que todos os dias aprendia com ele. Numa comparação entre ambos, não é difícil perceber que têm muitas características semelhantes. Tanto o argentino como o espanhol são treinadores inovadores e muito metódicos, com uma postura tranquila e politicamente correcta. Têm uma mentalidade muito ofensiva e os respectivos modelos de jogo privilegiam a posse de bola com trocas posicionais constantes. A capacidade de pressão – muito agressiva e em zonas adiantadas – das suas equipas é uma das qualidades mais facilmente identificáveis. Guardiola e Bielsa são treinadores diferentes dos demais. Nunca abdicam das suas ideias de jogo e é por isso que, apesar de o espanhol ter um currículo muito mais recheado do que o argentino, ambos estão entre os melhores do mundo.

Bielsa espera reencontrar Guardiola na Liga dos Campeões num futuro próximo  Fonte: blog.oddslife.com
Bielsa e Guardiola têm várias semelhanças; podem reencontrar-se na Champions num futuro próximo
Fonte: blog.oddslife.com

O maior título da carreira de Bielsa foi o triunfo no Torneio Olímpico com a Argentina, em 2004. Mais tarde, fez um trabalho fantástico ao serviço do Chile, selecção que praticava um futebol vistoso e que se apurou para um Mundial (o de 2010) depois de 12 anos de ausência. A nível de clubes, o Marselha será o terceiro projecto europeu de El Loco, depois de Espanhol e Athletic Bilbao. É mais um desafio aliciante para o técnico argentino. O histórico clube gaulês está a precisar urgentemente de um “abanão” e seria difícil encontrar alguém melhor do que Bielsa para o dar.

O Marselha está a realizar uma época miserável (ocupa apenas o 6º lugar) e corre o risco de ficar fora das competições europeias (o Lyon, que é o próximo adversário, está a 5 pontos). Ainda assim, nem tudo é negativo. Florian Thauvin, médio ofensivo de 21 anos que está a demonstrar uma margem de progressão incrível, tem sido o grande destaque da temporada. Actuando preferencialmente do lado direito do ataque – de forma a explorar as diagonais -, é forte no drible e tem uma enorme facilidade de remate com o pé esquerdo. Há outros jovens com potencial, como o central N’Koulou e o lateral Mendy, os médios Lemina e Imbula e os irmãos Ayew (Jordan está emprestado ao Sochaux), mas Bielsa não consegue fazer milagres. Em termos gerais falta qualidade ao plantel, principalmente se o compararmos com os elencos de PSG e Mónaco.

O campeonato francês pode recuperar o prestígio que tem vindo a perder nos últimos anos. Se se confirmar a ida de Bielsa para Marselha, não faltam motivos de interesse para acompanhar a próxima temporada. Com a contratação do treinador argentino, o emblema do sul de França garante desde logo que todos os adeptos de futebol ofensivo seguirão atentamente o percurso da equipa. Mas estará El Loco mesmo de volta? Para o bem do futebol, esperemos que sim.

Jesus e a arte de jejuar

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camisolasberrantes

Estas futuras linhas, numa sufocante onda de entusiasmo como esta que vamos juntos navegando, tanto se deixam banhar de necessária humildade como de merecido pavoneamento. Porque é assim o Benfica de Jesus: um para sempre incomparável percurso pautado por falhanços estrondosos, mas cheios de bom futebol. Bom futebol esse que, mais tarde ou mais cedo, e graças a toda a sua magistralidade, acabaria por sair por cima.

Saiu. Chegou. Viu. E venceu. Por entre tortuosos caminhos foi driblando durante cinco (demasiado longos) anos. Um Campeonato e três Taças da Liga. Uma Supertaça Cândido de Oliveira dada ao Porto. Uma Taça de Portugal mal perdida contra um corajoso Guimarães. E ainda uma Liga Europa por conquistar em Amesterdão, tudo fruto da cabeçada de Ivanovic ao cair do pano. Se nos lembrarmos ainda do tropeção no Dragão…bom, Jesus conseguiu paradoxalmente igualar as suas grandes vitórias às suas ainda maiores derrotas. Ainda para mais sabendo que do outro lado, no campeonato, nos últimos dois anos, esteve Vítor Pereira – técnico, na minha opinião, bem menos capaz do que este Paulo Fonseca, que nem pela porta pequena saiu, mas sim pela janela…de um qualquer décimo andar.

É este o resumo, por alto e sem grandes aprumos futebolísticos, do percurso do treinador amadorense no Benfica. Óbvio que se gostarmos realmente do desporto-rei e quisermos fazer justiça ao tipo que “até” deu alma e identidade ao Benfica – o único desde Sven-Göran Eriksson, e eu ainda nem era nascido ou via futebol na altura – será necessário relembrar que o ano passado foi, apesar de todas as lágrimas derramadas no final, o ano mais brilhante que o Glorioso viveu na sua história recente. Muito provavelmente, nos seus últimos 20 anos. Ou mais. Só vi o Benfica a praticar melhor futebol quando se sagrou campeão em 2009/2010 e, mesmo aí, nem cheirámos a Taça de Portugal (derrotados pelo Guimarães, por uma bola a zero, ainda na 4ª Eliminatória) e começámos a época a perder a tal Supertaça para o rival do norte.

Bem diferente desse de 2009, este foi um jogo que acabou com Jesus a beijar um herói Oblak Fonte: ASF (Eduardo Oliveira)
Bem diferente desse de 2009, este foi um jogo que acabou com Jesus a beijar um herói Oblak
Fonte: ASF (Eduardo Oliveira)

Em verdade, se o ano que passou foi brilhante, este ano já o suplantou em (quase) tudo: Campeonato conquistado a 15 pontos do Porto e com duas jornadas por disputar, final da Taça de Portugal, final da Taça da Liga e a quase-confirmação para Turim. O que Jorge Jesus conseguiu nestas duas épocas é de bradar aos céus. É de génio. É único. Nunca o Benfica na sua história conseguiu vencer mais do que dois títulos numa só época e Jesus pode quebrar esse registo…a dobrar! Juntando à conquista da Taça de Portugal a conquista da Taça da Liga e da Liga Europa, o que lhe permitiria tornar-se no primeiro treinador a conseguir vencer as três competições nacionais de uma assentada. É de loucos. E pensar que a última vez que o Benfica conseguiu, na mesma época, vencer o Campeonato e um troféu europeu foi em 1961…

E talvez os loucos mereçam mesmo um voto de confiança. Não sei que vos diga. Sou dos que nunca deixou de apoiar o trabalho deste técnico e isso sempre me valeu calorosas discussões – se quiserem procurem por entre as minhas muitas participações no Bola na Rede versão podcast e perceberão do que falo. Não quero, nem preciso, de vir para aqui dizer que se confirma agora que na altura até tinha um bocado de razão. Até porque, na verdade, também fui dos muitos que acreditei num fim de ciclo no princípio desta época. Nunca me senti tão feliz por estar errado. Luís Filipe Vieira chegou-se à frente e, entalado até mais não, fez a única coisa que podia (e sabe) fazer: geriu mal o Benfica e lá conseguiu obter bons resultados. Não foi a primeira, nem há-de ser a última vez.

Mas falemos de coisas felizes. Do fim do jejum deste Benfica. E do princípio do jejum do Porto. Já lá iam mais de 31 anos desde que o clube encarnado conseguiu enterrar o seu rival em todas as competições que disputaram juntos. 31 anos. É uma vida adulta. E assim assistimos, de forma meio poética, ao culminar da vida adulta do Benfica. Enfrentámos e vencemos a puberdade. Renascemos. Começamos agora um novo período. Uma nova hegemonia pintada de vermelho e branco. Uma nova hegemonia onde não há espaço para os anseios e devaneios do norte. Chegou a nossa hora. Chegou a hora de bater o pé e de deixar na fome e na miséria futebolísticas aquele que foi, sem olhar a meios, o dono e senhor do futebol português.

Que o jejum vos faça bem. Até porque só agora começou.