No jogo em que Portugal bateu a Itália em Genebra, os 90 minutos chegaram para confirmar algo de que já me tinha apercebido há algum tempo: a seleção italiana atravessa uma crise de identidade e não é capaz de apresentar um modelo de jogo e uma base bem definidos. A equipa precisa de referências urgentemente, e o facto de Buffon e Pirlo estarem a “dar as últimas” só torna esta necessidade mais gravosa.
Ainda assim, os mesmos 90 minutos revelaram um oásis de esperança em forma de médio: Andrea Bertolacci. Há três épocas no Génova, fez formação na AS Roma, e conta com três internacionalizações pela squadra azzurra, tendo sido um dos poucos jogadores que, frente à Seleção portuguesa, demonstrou vontade e ideias para acordar a equipa da apatia que a tem caracterizado ultimamente.
“Formiguinha operária” com faro de golo
O estilo não engana. Bertolacci é o típico médio trabalhador, da mesma casta de João Moutinho. Prefere jogar na posição de ‘box-to-box’, como fez frente a Portugal, e tem uma precisão de passe bastante apurada. Longe de ser exuberante, faz da regularidade a sua principal arma, razão para ter terminado a época como um dos jogadores mais utilizados no Génova: 35 jogos.
Também não se coíbe de, quando a oportunidade surge, chegar perto da área adversária. Não é raro vê-lo começar os jogos mais perto dos avançados, graças à capacidade de retenção de bola e boa finalização: esta temporada melhorou o seu registo de golos (seis, no total), contribuindo de forma direta para o interessante 6.º lugar da sua equipa na Liga. Gosta de ter o esférico colado ao pé e protege-o bem, libertando-o apenas quando tem a certeza de fazer um passe acertado ou remate.
Bertolacci foi um dos principais responsáveis pela boa época do Génova Fonte: Página do Facebook de Andrea Bertolacci
Adeus ao Luigi Ferraris?
O AC Milan é um dos interessados na sua contratação e, nos últimos dias, foi noticiada a pretensão da Roma em resgatá-lo. É claramente um médio talhado para voos mais altos, já que alia todos os seus recursos técnicos acima descritos a uma boa visão de jogo e consciência tática acima da média.
Num futebol a caminho da estagnação, surge como um dos produtos mais evoluídos e condizentes com o futebol atual produzidos pela escola italiana. Ainda terá de esperar pela sua vez para assumir o estatuto de indispensável na sua seleção (Pirlo, De Rossi e Marchisio são hierarquicamente superiores), mas não tenho dúvidas de que poderá ser uma das referências no futuro. A partir daqui, é para ser seguido com atenção.
Foto de Capa: Facebook Oficial de Andrea Bertolacci
Palmas para este Chile! A equipa de Jorge Sampaoli até pode ser eliminada nos quartos-de-final (jogará com o terceiro classificado do grupo B ou C, ainda por definir), mas uma coisa é certa: até agora, nenhuma selecção presente nesta edição da Copa América jogou um futebol melhor do que o da Roja. 10 golos marcados em 3 jogos (3 sofridos, todos no empate com o México) é um grande registo, obra de tudo menos do acaso.
É certo que a Bolívia quase não levou perigo à baliza de Claudio Bravo, mas isso não retira nenhum mérito ao brilhantismo chileno. Esta equipa mostra enorme qualidade e velocidade na circulação da bola, um dinamismo ímpar (os jogadores aparecem constantemente em zonas diferentes para construir jogadas) e uma entrega notável, que se faz notar tanto a atacar como a pressionar o adversário para ganhar a bola. Tudo isto eleva ainda mais o nível exibicional das boas valias individuais de que esta selecção dispõe.
As equipas entraram em campo com o apuramento para os quartos-de-final já garantido, mas o Chile não quis facilitar e marcou cedo. Logo aos 3’, Medel lançou Vargas ainda no seu meio-campo, este tentou dominar mas a bola fugiu para trás, onde estava Aránguiz a rematar cruzado à entrada da área. Com o golo madrugador da equipa favorita temia-se um jogo desinteressante e, de facto, até ao 2-0 os dois únicos lances de registo foram dois livres de Alexis Sánchez, que em ambas as ocasiões embateram no poste. Aos 37’, contudo, Alexis marcou finalmente o seu primeiro tento do torneio. O craque do Arsenal pôs a cabeça onde muitos não colocariam o pé e transformou uma bola que parecia perdida no 2-0 para a sua equipa. Excelente gesto técnico do avançado após passe defeituoso de Valdivia, da direita.
Com a Bolívia a mostrar evidentes lacunas não só a construir mas também a defender (o lateral esquerdo Leonel Moralez teve um dia péssimo), o Chile foi em crescendo até ao intervalo. Vargas, o chileno mais infeliz em campo, desperdiçou o 3-0 em zona frontal.
Não basta ter talento à disposição, é preciso domá-lo e exponenciá-lo. Sampaoli tem-no conseguido
Face à inoperância boliviana, Jorge Sampaoli sentia que o jogo estava praticamente ganho e tirou Alexis e Vidal ao intervalo, fazendo entrar Matías Fernández e Ángelo Henríquez. O boliviano Marcelo Moreno teve o único apontamento da sua selecção aos 49’, rematando para boa defesa de Bravo, mas o Chile começava a carburar e adivinhava-se nova mexida no marcador. Esta chegou aos 66’, quando Matías pegou na bola, soltou na direita (sempre por aqui…) e Aránguiz, após cruzamento de Henríquez, bisou à boca da baliza a dois tempos.
O Chile estava à vontade no jogo mas nem por isso baixava o ritmo diabólico e a vontade de voltar a marcar. A 10 minutos do fim, o defesa Medel, numa altura em que a Roja já tinha abandonado o seu 4-4-2 losango e jogava num esquema de três centrais, foi lá acima num lance corrido e finalizou com classe na cara do guarda-redes, numa fantástica jogada de futebol total iniciada por si próprio. Perante uma Bolívia sem argumentos e onde só Moreno parecia destoar pela positiva, o Chile chegou à manita num lance infeliz de Raldes, que tentou interceptar um cruzamento – vindo, uma vez mais, da direita – e fez auto-golo.
Vitória incontestável do super Chile que, após o começo a meio-gás contra o Equador (2-0 e uma exibição pálida), meteu o México no bolso (3-3, resultado muito penalizador para a turma de Sampaoli, a quem foi anulado um golo limpo) e dizimou agora a Bolívia. A jogar em casa, veremos se não é desta que o país de Pablo Neruda e Salvador Allende consegue vencer uma grande competição do desporto-rei. Qualidade individual não falta, espírito colectivo também não, e a verdade é que o Chile está mais perto da glória do que nunca. Ainda assim, aconteça o que acontecer, já foi um prazer ter visto jogar esta equipa.
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A Figura
Colectivo do Chile – Alexis, Aránguiz, Medel, Valdivia, Matías…? As possibilidades são tantas que, mais do que difícil, destacar apenas um atleta torna-se injusto. O Chile tem em Alexis e Vidal as duas figuras que elevam esta selecção a outro estatuto (ver jogar o primeiro foi um regalo, o segundo hoje esteve mais apagado), mas a equipa vale sobretudo pelo conjunto. E é isso que merece o maior destaque. Enorme dinamismo, capacidade de circulação, garra com e sem bola… A Roja é um caso sério, e Sampaoli tem muito mérito.
O Fora-de-Jogo
Colectivo da Bolívia – A mesma justificação, mas em sentido contrário. Tirando Moreno, o marasmo foi total (Chumacero também tentou, mas desde que perdeu uma bola que deu golo desapareceu). A parca qualidade individual nem sequer é compensada com um colectivo forte, o que faz desta Bolívia uma equipa banalíssima. Os Verdes podem ter conseguido a primeira vitória na competição e o primeiro apuramento para a fase a eliminar desde 1997, mas hoje também sofreram a sua maior goleada na Copa América desde 1989 (curiosamente também contra o Chile, e também por 0-5). Mesmo tendo ficado em 2º no grupo, a equipa de Mauricio Soria não deixa de ser a mais fraca das quatro. Dificilmente sobreviverá na próxima ronda.
Os tempos de glória do Farense já passaram há muito. O emblema algarvio, que outrora esteve presente numa final da Taça de Portugal em 1989/90 e na antiga Taça UEFA em 1995/96, mergulhou numa crise profunda, que fez com que os Leões de Faro descessem de divisão três épocas seguidas, acabando por ficar na 3.ª Divisão Nacional. Aquando da sua participação na 3.ª Divisão Nacional, devido a três faltas de comparência, o Farense foi despromovido, o que fez com que o seu Futebol profissional terminasse durante a época de 2005/06.
Recomeçando pelo patamar mais baixo do futebol na época de 2006/07, o Farense inicia o seu “renascimento” conquistando o título de campeão da 2.ª Divisão Distrital. Na época seguinte o emblema de Faro volta a Sagrar-se campeão, mas desta vez da 1.ª Divisão Distrital.
A época de 2008/09 marca o regresso do emblema algarvio aos campeonatos nacionais. Neste ano o “mágico Farense” acabaria por ficar em 3º lugar a escassos pontos da promoção, coisa que aconteceria apenas na época seguinte. No seu primeiro ano na 2.ª Divisão B o Farense acabaria por ser despromovido, mas nas duas épocas seguintes a equipa algarvia conseguiria subir duas vezes seguidas, culminando com o ingresso na 2.ª Divisão Nacional, campeonato que disputou nas duas últimas épocas e que disputará também na época que se avizinha.
Nas suas duas participações na 2.ª Divisão Nacional o Farense conseguiu um 10.º e um 11.º lugar respectivamente. Estes dois anos serviram, acima de tudo, para a equipa se consolidar. Apresentando jogadores com grande experiência no futebol nacional, como por exemplo Neca, que outrora jogou no patamar máximo do futebol nacional, os Leões de Faro aliaram a experiência à juventude.
Com uma massa adepta de fazer inveja a algumas equipas da 1.ª liga portuguesa, e com uma claque (South Side Boys) que está sempre presente nos bons e nos maus momentos da equipa algarvia, o presidente António Barão veio assumir publicamente no final desta temporada o seu desejo de subir o mais rapidamente possível à 1.ª Divisão Nacional.
O Farense é um verdadeiro histórico do Futebol Português Fonte: Facebook ‘Quantos Farenses Somos?’
Para concretizar esse desejo, António Barão já começou a pôr em prática algumas medidas. A primeira medida foi voltar a contratar Jorge Paixão, treinador muito querido pelas gentes de Faro e responsável pela melhor série do Farense na 2.ª Divisão Nacional na época de 2013/ 2014. A segunda foi dispensar dez jogadores da equipa principal. Esta dispensa deveu-se em grande parte à idade elevada que alguns jogadores apresentavam. Com o intuito de rejuvenescer a equipa, o presidente dos Leões de Faro promoveu também a subida de três juniores à equipa principal do Farense.
Assim sendo, podemos esperar um Farense rejuvenescido e com vontade de mostrar resultados. Mas será juventude sinónima de qualidade? Esta medida gerou bastante contestação entre alguns adeptos do Farense, que não viram com bons olhos a saída de alguns jogadores. O maior exemplo disto foi a saída de Hugo Luz, antigo Capitão de equipa. Esta dispensa originou a criação de páginas de apoio a Hugo luz, chegando-se mesmo a pedir a renovação do mesmo.
Resta-nos então saber se estas medidas levarão o SC Farense ao sítio de onde nunca deveria ter saído, devolvendo assim a alegria de ver o clube da sua terra na 1ª Divisão Nacional às gentes de Faro.
A preparação para a nova temporada está aí à porta. Embora seja consensual que ainda é cedo para tomar decisões definitivas, é aconselhável, no mínimo, que os clubes comecem a delinear as ideias relativas à construção dos respetivos plantéis. Tarefa que raramente é fácil, e que assume contornos de “quebra-cabeças” nas equipas grandes. Neste campo, o FC Porto é dos melhores e mais paradigmáticos exemplos que podemos encontrar. É que além dos jogadores que constituem os plantéis da equipa principal e da equipa B, os dragões emprestaram, na última época, 27 (!) atletas aos mais diversos clubes. Um número que daria, por si só, para construir uma esquadra por si só, e excluir ainda três ou quatro.
A questão que se coloca é: o que fazer com tanto excedentário? Este texto, como o leitor já deve ter percebido, tem o propósito de expor a minha opinião sobre o assunto. Como tal, sinto-me compelido a explicar a metodologia que utilizei para esquematizar a distribuição destes 27 nomes que, de modo contratual ou não, ainda se encontram ligados ao reino do Dragão. Começo por aqueles que viram as suas ligações ao FC Porto expirar no fim da época que findou: Rolando e Izmaylov. O central e o médio têm licença para procurar nova entidade patronal e, se o internacional português coleciona interessados, a vida do russo não se adivinha tão simples; os 32 anos e o vasto historial de lesões não são fatores propriamente atraentes para qualquer clube. Depois, há os que continuam emprestados: Walter, ao Atlético Paranaense, Kelvin ao Palmeiras e Tozé ao Estoril. Quanto ao último, o FC Porto pode chamá-lo de volta, mediante compensação aos “canarinhos”, mas é um cenário que se afigura pouco provável; Josué deve ser adquirido em definitivo pelo Bursaspor, garantindo um encaixe financeiro interessante. E há os que ficam no plantel (ou que, pelo menos, fazem a pré-época): Carlos Eduardo e Kléber. Pinto da Costa confirmou a integração do médio em 2015/16, e o regresso do ponta-de-lança foi avançado pelo jornal O JOGO.
Carlos Eduardo está garantido na pré-época depois de uma temporada no Nice Fonte: Página de Facebook do OGC Nice
Portanto, sobram… 19 jogadores. Para simplificar o meu trabalho e a sua compreensão, dividi os “restantes” em quatro grupos: os que podem/deviam fazer a pré-época; os que não contam; os que devem rodar na I Liga ou no estrangeiro; os que voltam à equipa B ou rodam na II Liga. Mesmo assim, não foi fácil e o texto tornou-se extenso e com alguns requintes de malvadez. Preparado, caro leitor? Então, vamos lá.
Os que podem/deviam fazer a pré-época: Opare e Kayembe;
Danilo saiu e o FC Porto precisa de um lateral. A hipótese mais forte é a de ir contratar alguém (agora fala-se de Maxi principalmente mas também de Bruno Peres, antes foram Marcos Rocha e Mayke), mas, se tal não suceder rapidamente, é bem provável que Opare integre os trabalhos de pré-temporada. O empréstimo ao Besiktas não correu mal, e o ganês pode finalmente ter a oportunidade para se impor que lhe faltou na época transacta. Kayembe, pelos bons préstimos ao serviço do Arouca e pela polivalência à esquerda, pode ser uma opção válida para Lopetegui. A qualidade está lá, e ficar no plantel não seria descabido.
Os que não contam: Varela, Abdoulaye, Licá, Djalma, Bolat, Sami, Pedro Moreira e Quiñones;
Varela está em fim de ciclo: tem 30 anos, os flancos estão recheados de boas opções e o contrato termina em 2016 – a venda do extremo já neste defeso é o cenário mais sensato. Abdoulaye e Licá vêm de um empréstimo ao Rayo Vallecano e têm outra coisa em comum: ambos já tiveram a sua oportunidade na Invicta. O FC Porto precisa de atletas de maior quilate. O mesmo se aplica a Djalma e a Sami. Bolat, Pedro Moreira e Quiñones nunca usufruíram de uma verdadeira chance para singrar no plantel principal e, convenhamos, não é provável que tal aconteça agora. Para todos estes jogadores, a venda, ou mais um empréstimo, deve ser o caminho a seguir.
Varela termina contrato em junho de 2016 e esta é a altura certa para o vender Fonte: Página de Facebook do FC Parma
Os que devem rodar na I Liga ou no estrangeiro: Tiago Rodrigues, Otávio, Ivo Rodrigues, Mauro Caballero e Ghilas;
Neste “lote”, começo por Ghilas. Julgo que o avançado argelino tem uma boa margem de progressão e pode vir a ser útil ao FC Porto num futuro próximo. Por isso, não o incluí no grupo anterior. Depois da campanha no Córdoba, fá-lo-ia regressar à Liga espanhola, através de um clube do meio da tabela, como o Espanyol ou o Rayo. O caso de Nabil é, a meu ver, muito particular, e estou curioso para ver o seu potencial totalmente exposto. Quanto aos outros, todos jovens, já passaram pela equipa B e não será surpreendente que lá retornem, mas preferia vê-los sujeitos a um nível competitivo mais elevado: rodar na I Liga seria o ideal, para poderem experimentar desafios mais exigentes do que aqueles que podem encontrar na II Liga, algo que permitir-lhes-ia crescer técnica e taticamente. Destaque para Mauro Caballero, que cumpriu uma época muito positiva ao serviço do Desportivo das Aves, sendo que, na próxima época, irá rodar fora de portas – foi emprestado ao FC Vaduz –, e para Ivo Rodrigues, uma das figuras portuguesas no Mundial Sub-20 que decorre ainda na Nova Zelândia.
Os que voltam à equipa B: Júnior Pius, Célestin Djim, Braima Candé e Rúben Alves;
Vou ser totalmente franco: conheço muito pouco destes quatro jogadores. No entanto, julgo que é consensual que o mais benéfico para eles seria integrar o plantel da equipa B, onde deverão ter oportunidade de jogar, dada a sobrecarga de jogos na II Liga. Seria preferível a rodar noutra equipa da mesma divisão. Assim, começavam a ambientar-se ao peso da camisola e aos valores do clube. É o mínimo que se pode exigir, se um dia querem singrar no FC Porto.
Ufa, missão cumprida. Acredito piamente que grande parte destas “propostas” vai acabar por se traduzir na realidade. No entanto, também tenho consciência que outra parte não se vai confirmar. Com alguma pena minha, porque tive em conta o objetivo de, além de procurar a melhor solução para todos os jogadores, também escolher a opção mais viável para o clube, principalmente no que toca à folha salarial. É que, parecendo que não, 27 jogadores são um encargo assinalável, e sabe Deus (a entidade religiosa, não o treinador da equipa B do Sporting) as despesas indispensáveis que o clube já tem/poderá ter. Fica a sugestão de mais um portista. Mister, caro Antero e Presidente, sintam-se à vontade para dar uma vista de olhos…
Melhor maneira de começar uma competição. Portugal venceu a Inglaterra e mostrou que tem argumentos individuais e colectivos para se afirmar como candidato. Num jogo que nem foi quente nem frio, a selecção portuguesa acabou por sair vencedora num lance algo fortuito.
A equipa portuguesa entrou num 4x4x2 losango e foi sempre arguta na procura das costas dos centrais ingleses. O jogo nunca pendeu realmente para um lado, mas a primeira oportunidade acabou por acontecer numa atrapalhação de Moore, proporcionando uma defesa fantástica a Jack Butland. Os pupilos de Rui Jorge andaram sempre mais perto da baliza e criaram várias ocasiões através das recorrentes tentativas de aproveitar a velocidade de Ivan Cavaleiro e Ricardo Pereira. A Inglaterra teve desde o início um objectivo bem definido: servir Harry Kane. A equipa inglesa privilegiou as combinações entre laterais e extremos – Jenkinson e Redmond foram os que estiveram mais activos. Harry Kane também disse presente e por duas vezes, aos 33m e 34m, quis mostrar o porquê de ser uma das estrelas da competição. Depois de um início que pendeu mais para Portugal, os jogadores ingleses acabaram por sair por cima e acabaram a primeira parte com um tiraço de Lingard a tirar tinta ao poste de José Sá.
O ataque inglês nunca conseguiu superar o muro que foi a equipa portuguesa Fonte: Página de Facebook da England Football Team
A entrada no segundo tempo não trouxe novidades e os onzes não foram alvo de alterações. As equipas mantiveram-se no mesmo registo e a primeira grande oportunidade nasceu de um remate cruzado de Raphael Guerreiro. Os jogadores comandados por Gareth Southgate tentaram sempre os desequilíbrios pelas alas e Redmond foi invariavelmente o mais objectivo, tentando visar a baliza defendida por José Sá sempre que possível. Aos 57 minutos surgiu o único golo da partida através de João Mário – depois de uma confusão na área inglesa, a bola chegou a Bernardo Silva que acertou no poste, ressaltando finalmente para para João Mário que, de baliza aberta, não desperdiçou. O jogo decorreu sem grandes incidências até ao fim, sendo de notar o final mais pressionante de Inglaterra – José Sá mostrou-se impenetrável – e a maneira como Iuri Medeiros e Bernardo Silva combinaram um com o outro.
A vitória no primeiro jogo é um bom prenúncio, mas existem outros que também são importantes assinalar. William Carvalho justificou o porquê de ser o jogador com mais valor na competição, a dupla Ilori-Oliveira mostrou-se irrepreensível – Kane não é um jogador qualquer – e Bernardo Silva demonstrou que pode desequilibrar – durante o jogo não foi raro ter dois ou três jogadores ingleses em cima do principezinho do Mónaco.
A Figura William Carvalho – Imperial em todos os momentos do jogo. A sua tranquilidade, a qualidade de passe e leitura de jogo fazem do trinco do Sporting um jogador bastante acima da média.
O Fora-de-Jogo Harry Kane – Apesar de a espaços tentar fazer sentir a sua presença, desperdiçou uma ou duas oportunidades flagrantes e acabou por sair em branco do jogo.
Foto de capa: Página de Facebook das Seleções de Portugal
O Sporting expõe por estes dias os seus argumentos no caso contra empresa Doyen, uma das muitas de fundos de investimentos. Como é sabido por todos, o conflito entre o clube e a referida empresa remonta à venda de Rojo ao Manchester United, envolvendo simultaneamente os direitos económicos sobre Labyad, que ainda se mantém como nosso jogador.
A estratégia poderia ter sido outra?
O caminho seguido pela administração neste caso, à semelhança de outros, foi de elevado risco. Vencendo, recolherá os louros de uma vitória muito importante para a sua estratégia. Sendo derrotada, terá de arcar com as consequências que se estenderão para lá das importantes repercussões económicas. Porque, como não é difícil de adivinhar, a derrota terá um significado importante na já de si sempre atribulada vida interna do clube. Veremos se o risco assumido compensa. Mas afigura-se-me muito difícil de prevalecer o argumento de apenas devolver o dinheiro investido por um parceiro, ficando o clube com a totalidade dos lucros, argumento já repetido naquilo que parece ser o futuro caso Carrillo.
No meu entender, tendo em conta as consequências que uma decisão negativa pode representar para a recuperação económica da SAD, seria mais avisado deixar extinguir a validade e acção dos contratos deste género e, uma vez que a SAD os entende como perniciosos, deixar de recorrer a eles, o que me parece que tem sido seguido. Mas também é verdade que me falta o conhecimento total dos contratos e dos argumentos das partes e, mais importante que tudo o mais, competência jurídica para os apreciar. Estimo que a decisão se tenha estribado em sólidos argumentos dessa natureza e que tenha sido tomada após cuidada reflexão interna.
A árvore e a floresta
Foi a partir deste conflito de interesses que o Sporting, através do seu presidente, encetou uma luta não apenas contra a Doyen mas contra toda a forma de partilha de direitos dos jogadores por entidades externas aos clubes, conhecida hoje pelo acrónimo TPO’s (third party ownership).
É muito provável que as razões de desconfiança relativamente à Doyen sejam mais que justificadas. E que, por exemplo, o valor inflacionado que nos foi pedido pelo Aboubakar, superior ao que o FCP acabou por pagar pelo jogador, seja apenas uma das pontas de um enorme iceberg, cuja parte que fica abaixo da linha de água conhecemos muito pouco.
A recente promoção feita pela empresa em Madrid foi aquilo que se pode chamar verdadeiro tiro pela culatra para os interesses da própria. A falta de abrangência dos convidados, o atabalhoamento e a falta de argumentos capazes de contestar os que são geralmente apontados como os principais defeitos chegoaram a raiar o confrangedor. Parece-me, contudo, que se confundiu aqui apenas uma das árvores com toda a floresta.
Rojo está no centro da polémica entre Sporting e Doyen Fonte: taringa.net
A enxurrada proibitiva é apenas destrutiva, não regula.
Ora, a Doyen é apenas uma das muitas operadoras no mercado. O Sporting lidou com algumas delas e o recente resgate de parte dos passes de alguns jogadores em condições favoráveis e sem conflito é a prova de que o relacionamento é possível e pode ser interessante para todas as partes.
Mas quando se fala de TPO’s esquece-se de que não existe apenas a possibilidade do uso de entidades financeiras e fundos de investimento como parceiros de negócio. Há uma diversidade de outras possibilidades, algumas das quais são usadas por clubes cujas circunstâncias e contextos se assemelham em muito aos do nosso clube.
Um bom exemplo disso são os clubes holandeses: embora o país produza mais riqueza que o nosso (o PIB deve situar-se num valor perto do quádruplo do nosso), as limitações impostas pela demografia (menos de 17 milhões) reduzem-lhes o mercado alvo, impedindo-os de competir com os mais ricos (alemães, espanhóis, ingleses e italianos).
Detendo uma forte imagem de grande capacidade de formação, os clubes holandeses, para contrariar a saída precoce dos seus talentos, têm usado uma ferramenta que julgo que o Sporting não deveria ter desdenhado. Por exemplo, o Ajax, cujas possibilidades económico-financeiras impede o clube de oferecer salários superiores a um milhão de euros anuais, tem oferecido aos seus jogadores, nos momentos de negociação de novos contratos, um valor percentual dos seus passes.
Ora isto não só permite, no momento de uma futura venda dos passes, uma compensação justa para os jogadores, como os co-responsabiliza pelo seu sucesso. Por isso não é de estranhar que um dos responsáveis do Ajax se tenha referido recentemente à extinção generalizada dos TPO’s, numa entrevista à Bloomberg, como devastadora para os interesses particulares do seu clube e generalizado aos clubes que vivem em circunstâncias semelhantes.
O exemplo acima é apenas um dos muitos que poderiam ser dados. E um dos vários de que o Sporting poderia socorrer-se como forte argumento negocial, particularmente com os jovens que querem tanto ganhar dinheiro – aspiração tão diabolizada como justa – como gostariam de poder continuar a evoluir tranquilamente no clube que escolheram para se formar.
O que UEFA e a FIFA tomaram foi uma não-decisão baseada no ruído de fundo
Sem grande convicção e enfermando da mesma escassez de conhecimento da realidade e de argumentos, ambas as organizações muniram-se de um machado legislativo para cortar o mal pela raíz, invocando quase sempre o mesmo argumento: a falta de transparência. Ora estas entidades estão longe de poder ser consideradas um modelo de virtudes neste âmbito e muitos outros. Por norma, abstêm-se do uso do seu poder regulador, sendo pouco pro-activos e mais reactivos e permeáveis à força da opinião pública.
Por isso, estou em crer, se viraram para os TPO’s – muito por causa do ruído de fundo construído à volta do caso Rojo, quando já de trás se ouviam muitos zunzuns. Como não há barulho sobreos tão confidenciais mas duvidosos verdadeiros seguros de derrota, alguns clubes já deitam mão para se prevenirem das perdas por ausência da Liga dos Campeões e ambas as organizações assobiam para o lado.
O medo como argumento
Muito desta campanha foi fabricado sobre a irracionalidade que o medo e a ignorância provocam. No Sporting, particular e algo justificadamente, depois de duas experiências que, tendo começado com o inefável e infeliz exemplo de Pongolle, se saldaram emresultados desastrosos. Exemplos não faltam, até ao nosso lado, de que era possível ter feito outro caminho. Ora, este resultado não se deveu tanto ao uso dos fundos em si, mas ao total falhanço por parte da administração desportiva propriamente dita. Se bem que considere que a discussão sobre a quantidade e extensão do seu uso seja não só plausível como obrigatória.
Olhando para os jogadores adquiridos não deixo de me perguntar o que seria se o Sporting tivesse conseguido juntar-lhes estabilidade e algum dos três últimos treinadores. Ou melhor, o que seria na próxima época o Sporting se JJ tivesse ao seu dispor os recursos que Domingos teve na sua primeira época. Nunca saberemos.
Foto de capa: Página de Facebook de Bruno de Carvalho
A selecção portuguesa inicia a participação no europeu de sub-21, na República Checa, esta semana. Portugal está inserido no grupo B, em que jogará frente à Inglaterra no dia 18, Itália no dia 21, e Suécia, no dia 24. Não é um grupo fácil, mas penso que temos legítimas esperanças de sonhar com o título, ou, pelo menos, garantir a qualificação para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Para este segundo objetivo, basta atingir as meias finais.
Passando então à lista, um dos destaques é a ausência de Bruma. O extremo, que abandonou o Sporting para rumar ao Galatasaray no início da época passada, perdeu algum fulgor em relação ao que já prometeu e, perante a forte concorrência que existe neste momento entre os jovens nacionais, foi preterido pelo técnico. Quanto a mim, esta é uma decisão aceitável, dado que Carlos Mané, Ivan Cavaleiro, Ricardo Horta, Ricardo Pereira, Iuri Medeiros ou mesmo Rafa e Bernardo Silva são atletas que fizeram boas épocas e podem perfeitamente fazer a posição desempenhada por Bruma. O lateral esquerdo Rafa e o médio Rony Lopes já eram ausências esperadas, dadas as suas presenças no Mundial sub 20, na Nova Zelândia.
Para completar o setor atacante, existe ainda o único ponta de lança de raiz do grupo: Gonçalo Paciência. O avançado do FC Porto ainda recupera de lesão mas deve recuperar a tempo, o que é uma ótima notícia dada a sua enorme qualidade.
Olhando para a baliza, penso que o titular será José Sá. O guardião do Marítimo B (embora não lhe ficasse nada mal a titularidade na equipa principal, no lugar de Salin) tem sido normalmente a primeira escolha de Rui Jorge e assim deverá continuar. Bruno Varela também dá algumas garantias. Já Daniel Fernandes não deixou boas indicações no jogo amigável em que participou e penso que não passará de terceira escolha. Ainda assim, creio que este é o setor menos forte da nossa equipa.
Rui Jorge tem uma das melhores gerações portuguesas de sempre ao seu comando Fonte: fpf.pt/Diogo Pinto
Na defesa, opções de qualidade não faltam. Temos como laterais Ricardo Esgaio, João Cancelo e Raphael Guerreiro, todos eles com um enorme potencial e com experiência de primeira divisão, seja em Portugal, seja nos campeonatos espanhol e francês. Já no eixo da defesa, penso que também não temos motivos de preocupação. Ruben Vezo foi o principal preterido, perante Frederico Venâncio, Tiago Ilori, Tobias Figueiredo e Paulo Oliveira. Ilori e Oliveira devem ser os titulares; formam uma dupla coesa, forte no jogo aéreo, e experiente. Ilori jogou esta temporada no Bordéus e Paulo Oliveira já leva três anos de Primeira Liga. Inclusivamente, este ano foi o patrão da defesa do Sporting, o que só por si já indicia a qualidade que tem. Na minha opinião, até repetirá na próxima época a presença em Europeus, quando a seleção nacional participar no Euro 2016 em França. Mas isto apenas será confirmado para o ano…
No meio campo, está a novidade que me deixou ainda mais confiante relativamente a esta competição: as presenças de Wlliam Carvalho e João Mário. Dois jogadores que já jogaram na Seleção A, titularíssimos do Sporting, só vêm enriquecer a nossa equipa. Quem não gostaria de ter um dos melhores médios defensivos do mundo numa seleção sub 21?
Até acho que o maior elogio que podemos fazer a este meio campo é dizer que jogadores com a qualidade de Ruben Neves, Tozé ou Sérgio Oliveira poderão não ser titulares. Não nos podemos esquecer de que também vamos ter Bernardo Silva, outro jogador claramente de Seleção A, que pode fazer a diferença neste Europeu e que tem de ser titular desta equipa. O desgaste de alguns jogadores poderá ser o principal entrave, mas espero que Rui Jorge e a sua equipa técnica consigam gerir da melhor maneira os recursos disponíveis para que possamos fazer uma boa campanha. De referir ainda que Bernardo Silva e William Carvalho integraram primeiramente os trabalhos da Seleção A. Só depois é que ficaram livres para a Seleção de Esperanças.
Em relação aos dois nomes que ficarão de fora da convocatória final, as escolhas de Rui Jorge recaíram em Ruben Pinto e Bruno Fernandes. Os dois médios começaram os treinos de preparação com a equipa mas acabaram por ver o seu sonho esfumado nos últimos dias.
Se havia esperança em nomes como Gelson Martins, André Silva, Nuno Santos ou Rony Lopes para chegar longe no Mundial sub 20, então que dizer de uma seleção sub 21 que pode contar com Paulo Oliveira, Raphael Guerreiro, William Carvalho, João Mário, Gonçalo Paciência, Iuri Medeiros, Ivan Cavaleiro, Carlos Mané ou o pequeno grande artista que é Bernardo Silva? Temos de ter a ambição de chegar à República Checa, “partir” aquilo tudo com grandes exibições e regressar a Portugal com a taça!
Fantástico! Soberbo! Esplêndido do início ao fim! Expectável. Estas são as palavras que caracterizam as Finais da NBA – mais à frente logo falaremos sobre isto.
Foi um trajecto quase incólume por parte dos Cavaliers a nível de resultados, bastante azarado a nível de lesões. Começaram por ganhar 4-0 aos Celtics – sem nenhuma estrela assumida -, mas perderam Kevin Love; venceram por 4-2 aos Chicago Bulls – uma equipa debilitada, com Pau Gasol muitos furos abaixo do expectável e Derrick Rose a jogar bastante bem, embora não o suficiente para carregar a equipa – e, mais uma vez, varreram os Atlanta Hawks, perdendo Kyrie Irving pelo caminho (ele acabaria por voltar a jogar contra os Warriors).
Por sua vez, os Golden State Warriors também começaram num ritmo bastante acelerado, vencendo os New Orleans Pelicans, de Anthony Davis, em quatro jogos; vencendo em seis os Memphis Grizzlies de Marc Gasol e Zac Randolph; e, em cinco jogos, os Houston Rockets de James Harden e Dwight Howard.
Agora, as Finais. Um começo surpreendente para a série. Em dois jogos, dois prolongamentos – algo inédito até hoje. No primeiro jogo, Golden State ganharam em casa; no segundo, a trupe de Cleveland roubou um jogo em Oakland – naquela que é, e verificou-se ser, uma das arenas mais barulhentas na liga. O ambiente que se vivia parecia ser para lá de surpreendente.
Por esta altura aparentava ser uma série bastante equilibrada, com LeBron James a mostrar todo o seu portefólio de habilidades. Tristan Thompson e Matthew Dellavedova mostravam estar a ser jogadores-chave numa equipa que já estava extremamente debilitada. Thompson como uma máquina de ressaltos e Dellavedova, no máximo das suas capacidades e no máximo possível, a conseguir anular o MVP da fase regular, Stephen Curry.
Dellavedova foi um dos jogadores que mais se preocuparam em defender Curry Fonte: news.com.au
Tanto David Blatt como Steve Kerr andavam a tentar descobrir como usar os recursos humanos à sua disposição – Kerr tinha aquilo que acabaria por vir a ser o maior trunfo, a equipa mais completa; Blatt continuava a querer fazer omeletes com aquilo que fosse mais próximo de ovos. Pelo meio, mais um azar para os Cleveland – apesar de ter “recuperado” a sua lesão, Irving acabou por fraturar a rótula e ficar, oficialmente, de fora para o resto das Finais no prolongamento do primeiro jogo.
Steve Kerr tornou o cinco inicial o mais híbrido possível, colocando Draymond Green (um extremo-poste baixo) a jogar a poste. Trabalho soberbo de um treinador que recebeu bastantes críticas antes de assinar e que poderia ter ido para os Knicks Fonte: USA Today
Pegando agora no título, o jogador que mais tarde viria ser coroado como Finals MVP, Andre Igoudala, foi o “Fator X” da equipa. Começando no banco nos três primeiros jogos, acabou por fazer parte do cinco inicial nos últimos. Mais uma vez, em Cleveland, os jogos foram divididos, se bem que o jogo 4 tenha aparentado ser o cantar de algo que parecia, principalmente a partir daí, inequívoco: nesse jogo, os Cleveland não só abrandaram o seu próprio jogo ofensivo, como o trabalho defensivo de Dellavedova começou a ceder e a exaustão mostrava estar a causar algum dano no base dos Cleveland.
Igoudala, a cada minuto que passava, logo desde o primeiro jogo, estava a ficar mais focado ofensivamente e, incrivelmente, a sua defesa feita a LeBron James estava a ser mais sufocante. E, atenção, as estatísticas apresentadas pelo número 23 enganam bastante em relação àquele que foi o trabalho de “Iggy”. No quarto jogo, Igoudala bateu o seu recorde de máximo número de pontos em play-offs, 22 – a maior parte deles cruciais.
Nos últimos dois jogos, incrivelmente sempre no quarto período, havia invariavelmente um festival de triplos que acabava por abalroar os Cavaliers. Andre Igoudala, historicamente pouco eficaz como lançador de triplos, marcou e foi dos jogadores mais utilizados e mais em foco dos Warriors.
Steph Curry (esquerda) e Andre Igoudala (direita) foram dois foram os principais “obreiros” do título dos Warriors Fonte: bayareasportsguy.com
Também Stephen Curry foi fantástico durante toda a série – o mago dos triplos demonstrou que todo o seu leque de movimentos é muito mais do que “apenas” um dos melhores lançamentos já visto na história da NBA.
Apesar de este texto estar a ser algo repetitivo em termos de nomes, há que destacar que o gigante Timofey Mozgoz mostrou ser um bastante habilidoso poste; Klay Thompson é muito mais do que “apenas um lançador de triplos” e, quando o jogo assim o pede, consegue defender e sufocar o seu opositor; J. R. Smith mostrou, mais uma vez, que é um jogador no qual não se pode confiar – é bastante errático e não tem cabeça nenhuma; Harrison Barnes irá dar, sem qualquer sombra de dúvidas, enormes dores de cabeça, tanto a Steve Kerr como aos dirigentes da equipa, pois explodiu e mostrou que também não é um jogador unidimensional e consegue, não só defender em tempos LeBron James e outros atletas, como ser um jogador que pode fazer parte das jogadas ofensivas e ser eficiente; Shaun Livingston foi uma agradável surpresa.
Após a inesperada derrota da selecção da Colômbia frente à Venezuela na primeira jornada, eram os cafeteros que partiam em desvantagem para a partida de hoje. Para além do mau resultado ficou a imagem do pobre e desgarrado futebol que a equipa colocou em campo, muito longe de ter criado grandes problemas à selecção venezuelana. Por seu lado, o Brasil, carregado por Neymar, vencera mas não convencera no duelo frente ao Peru, em que chegou à vitória apenas no cair do pano.
Curiosa a opção de Dunga por Firmino no lugar de Tardelli, procurando uma maior mobilidade que pudesse incomodar a já de si frágil defesa colombiana mas as constantes trocas entre o jogador do Hoffenheim, Neymar e Willian não eram suficientes para criar perigo. Acabou por ser a Colômbia a ficar dona e senhora do jogo na primeira parte, aproveitando a passividade defensiva da canarinha – um problema que se arrasta há muito tempo e que parece não ter solução. A facilidade com que a Colômbia disparava para o ataque colocou a equipa de Dunga em vários embaraços, que só tinham resposta pelas tímidas tentativas de Neymar ou Willian levarem a equipa para a frente.
Não é algo que surpreende e vai ao encontro daquilo que o João Pedro Oca escrevera no rescaldo do jogo frente ao Peru: esta selecção brasileira está completamente dependente da inspiração de Neymar e não apresenta um fio de jogo minimamente condizente com a categoria dos seus jogadores. A vantagem da Colômbia ao intervalo, carimbada por Jason Murillo após uma bola parada mal resolvida pelos brasileiros – o habitual -, espelhava bem o que se passava no Estádio Monumental.
A desinspiração de Neymar reflectiu-se imenso no jogo do Brasil Fonte: ca2015.com
No início do segundo tempo a toada de jogo manteve-se a mesma, com um ritmo alto e tão típico de jogos entre equipas sul-americanas, com a bola sempre perto das duas balizas e um jogo pouco pensado e a arrastar-se a meio campo. Face à desvantagem no marcador, o Brasil viu-se obrigado a assumir a sua responsabilidade de favorito e tentar chegar à igualdade. Recuou a Colômbia e o Brasil, sempre com Neymar a criar praticamente todo o jogo ofensivo, criou algumas oportunidades do Brasil para chegar ao golo. Fica na memória uma perdida inacreditável de Firmino com a baliza de Ospina completamente deserta. A Colômbia fez por justificar a vitória na primeira parte, dada a superioridade que a equipa de Pékerman revelou sobre o adversário nesse período. Neymar e companhia apareceram num nível superior nos segundos 45 minutos e talvez o empate se apresentasse como o resultado mais justo. Mas, é claro, os jogos não têm 45 minutos e só Neymar não chega… Ter treinador também dá jeito. Neymar, expulso, não entra nas contas para decisiva partida frente à Venezuela. Veremos o que (não) faz esta equipa sem o craque do Barcelona.
A Figura James Rodríguez – Sem ter deslumbrado como sabe fazer, o craque do Real Madrid exibiu-se a um belo nível essencialmente na primeira parte. Com ele, a bola tem olhos. E tão bom seria a bola olhar para Jackson Martínez e não para este Falcao, a anos-luz do que já foi.
O Fora-de-Jogo Dunga – Este Brasil de Dunga é uma equipa incrivelmente previsível e quão estranho é isso tendo Neymar, Douglas Costa, Willian, Firmino, Coutinho, … Do meio-campo para a frente, todos os jogadores têm praticamente as mesmas características e parecem não encaixar num jogo colectivo.
A Seleção Nacional terminou a época com duas vitórias nos dois jogos finais da estação desportiva. No jogo “a sério”, alcançou uma vitória suada na Arménia, por 3-2, numa partida que ficou marcada pela paupérrima exibição dos comandados de Fernando Santos, disfarçada pelo fator CR7. Na partida “a brincar”, foi a Itália que cedeu face à equipa das quinas, pela margem mínima. Uma Itália que não é mais do que uma sombra daquela que vimos no Mundial do Brasil. Se bem nos recordamos, essa squadra azzurra, apesar de ter apresentado um futebol agradável, não foi capaz de passar aos oitavos de final da prova, o que por si só já diz muito.
Mas não é só a equipa italiana que está desencontrada. Em boa verdade, desde que Fernando Santos assumiu o comando técnico da Seleção, ainda não foi capaz de definir uma tipologia de jogo que sirva como base para o estilo que o “Engenheiro” procura implementar ou, quem sabe, introduzir. Apesar destas condicionantes, os resultados têm aparecido. E esse é, talvez, o maior problema que se criou em redor da “equipa de todos nós”. É bem sabido que o adepto português valoriza muito mais o resultado do que a qualidade exibicional. Para o propósito atual, as vitórias têm servido, mas julgo que todos sentem o mesmo: num nível competitivo mais exigente, como o da fase final de um Europeu, a sorte e o cinismo podem não chegar.
Vejamos: quando substituiu Paulo Bento, Fernando Santos tentou fazer do tradicional 4-3-3 um 4-4-2 losango, onde Tiago e Moutinho desempenharam o papel de médios-interiores, com Danny a jogar nas costas de Ronaldo e Nani, os elementos mais adiantados. Na ausência de um avançado fixo, a equipa portuguesa perdeu a sua referência atacante e passou a depender dos raides dos dois jogadores mais virtuosos. Se a pressão exercida sobre a saída de bola do adversário aumentou (como se viu no jogo na Dinamarca), o jogo português perdeu profundidade nas alas. Por muito bons executantes que Ronaldo e Nani sejam, não podem estar em dois sítios ao mesmo tempo.
Gorada a hipótese acima descrita, passou-se para um 4-2-3-1 mutante, que surgiu frente à Sérvia e, mais recentemente, na Arménia. Aqui reside a grande fonte de confusão tática da Seleção. Fábio Coentrão é extremo no momento ofensivo e, aquando da transição defensiva, “fecha” com os médios mais recuados, Tiago e Moutinho. Isto acaba por gerar alguma anarquia no miolo, porque quando Portugal encontra adversários rápidos a contra-atacar, muitas vezes deixa o “duplo-pivot” em inferioridade numérica, algo que aconteceu na Arménia, com Mkhitaryan a destroçar por completo o meio-campo luso. Ronaldo é vagabundo na frente de ataque, mas, quando vem buscar jogo atrás ou às alas, deixa (novamente) o ataque órfão de referências.
Danilo esteve bem e pode ser opção para futuros encontros Fonte: Facebook das Seleções de Portugal
O facto mais curioso acaba por ser o seguinte: os melhores momentos da ‘era Fernando Santos’ surgiram quando a equipa assumiu o clássico 4-3-3. Frente à Argentina, nos instantes finais do jogo e, como se viu nos 90 minutos, frente à Itália. Com um alvo na área (Éder, em ambos os casos), a equipa portuguesa recupera o seu ADN. Um médio mais posicional, o tradicional trinco, que pode ser William ou Danilo (excelentes indicações) e dois interiores mais adiantados, Moutinho e Tiago. Ronaldo pode ser deslocado para o eixo do ataque, transformando Éder na segunda alternativa, como é natural; ainda assim, e para que não fique tão limitado nas suas ações, o capitão pode trocar de posição com os extremos, para que se crie a noção de rotatividade constante, que poderá confundir marcações e oferecer mais soluções aos restantes companheiros.
Que fique bem claro: o 4-3-3 não resolve os problemas. Pode ser o ponto de partida, que esteve sempre lá, mas há inúmeros retoque a fazer na “obra” tática da Seleção. Há que tentar tirar o máximo de cada jogador e indicar-lhe qual é o seu papel exato no sistema e modelo de jogo. Para que tal aconteça, a prioridade é criar um onze base. Isso já depende de Fernando Santos, e convém que o selecionador não ignore as evidências. José Fonte é o central português em melhor forma, Coentrão tem que jogar a lateral e Vieirinha é, de momento, a solução mais viável para a direita defensiva. William Carvalho e Danilo Pereira são indispensáveis ao equilíbrio (pelo menos um deles), e Moutinho é o pêndulo. Tiago empresta mais solidez ao setor intermediário, mas não é um “criativo”. Bernardo Silva pode ser a chave para este lugar, em alturas que a espontaneidade de um “número 10” seja necessária. E, na frente, Nani, Ronaldo e Danny têm de ser as opções mais recorrentes, pela qualidade e experiência que acarretam.
O jogo com a Itália tinha tudo para correr mal, pelas ausências e pelo cariz amigável, desprovido de pressão. Talvez por isso se tenha transformado numa agradável surpresa. Éder marcou o primeiro golo de quinas ao peito, matou-se mais um “borrego” e fiquei convencido de que pode existir solução para o problema qualitativo do processo de jogo português. Há um longo caminho pela frente, mas a ideia já surgiu. Só é preciso que alguém pegue nela.