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Jogo Interior #10 – O líder faz-se ou o líder nasce?

jogo interior

A partir da compreensão de que só é possível extrair e disponibilizar o potencial de um atleta havendo um relacionamento primeiramente humano e social, antes de profissional, táctico ou estratégico, o líder vive de todos os compromissos emocionais que assume com ele próprio e com os seus liderados. A base da sua liderança configura-se, na minha opinião, através do seu empenho e eficiência em facilitar o desenvolvimento dos seus atletas, de forma que eles sintam que o seu desempenho e evolução é efectivo.

“Quando o líder efectivo dá o seu trabalho por terminado, as pessoas dizem que tudo aconteceu naturalmente.” Lao Tsé

Tal como refere Jorge Araújo, “o acto de liderar, na actualidade, implica que a autoridade de quem dirige, mais do que imposta, seja reconhecida. Mais do que um conceito abstracto, pressupõe determinadas atitudes e comportamentos ao serviço de um trabalho de equipa.” Ao líder são exigidas flexibilidade e criatividade que induzam nos seus colaboradores a capacidade de gerirem o inesperado, sempre presente na realidade complexa e turbulenta que nos rodeia.

A Liderança em si é transversal. Existe no nosso dia-a-dia. No nosso quotidiano, no nosso trabalho, na nossa família. Num contexto colectivo desportivo tem umas características especiais. Uma das características é a competição. Embora a competição também seja transversal em diversas dimensões da nossa vida, a competição desportiva encerra um conjunto de vectores que lhe transfere uma certa especialidade. A competição mexe com emoções, com valores éticos, com moral, com o Ego. Não consigo conceber um líder que não lidere com alma. Um líder que não entregue a sua capacidade de servir e não se coloque plenamente disponível para os seus liderados. Um líder que vai à frente a desbastar as silvas, a desbravar o caminho, é um líder que, através do seu exemplo, desenvolverá novos líderes no seu grupo. A partilha, a dedicação e o altruísmo são algumas características demonstradoras da sua excelência.

O líder com alma Pensa, Age e Comunica a partir do centro do seu Ser. Comunica de dentro para fora. Percebe, sabe e transmite primeiro o “Porquê” da sua mensagem, seguido do “Como” e por final de “O Quê”, como forma de demonstrar significado e propósito. Esta forma de Pensar, Agir e Comunicar incute compromisso (“engagement”), força (“empowerment”) e motivação (“drive”). “Um líder está orientado para a acção. Só através da acção é que é possível materializar uma visão. Mas a visão e a acção devem ser compatíveis; para que isso aconteça, é necessário competência. Essa competência adquire-se à medida que se vai avançando, estimulando aqueles que nos rodeiam e recrutando-os para a nossa missão.” Este recrutamento tem a sua origem nos tais “engagement”, “empowerment” e “drive”. Esta acção compatível com a visão vem da alma do líder. E a alma do líder floresce do seu próprio autoconhecimento. Um líder que lidera com alma é um especialista do seu próprio Ser.

A alma do líder é uma força poderosa e uma incontornável mais-valia, principalmente para os liderados. A possibilidade de usar a alma como centro de decisões é inata. Somente o aumentado autoconhecimento do líder lhe permite explorar uma “ferramenta” natural esquecida por muitos, no sentido de auxiliar a satisfação das necessidades dos liderados, nomeadamente os que trabalham em equipa. A presença de espírito do líder permite aos liderados ir aonde poucos foram e alcançar o que poucos alcançaram. Se partilhar desta forma de pensar, agir e comunicar estará muito à frente da maioria dos líderes porque percebeu o poder oculto das ligações emocionais e do valor da consciência expandida.

O desafio neste momento é tornar as suas acções o mais eficazes possível. Cada vez que nos dirigimos a uma equipa comprovamos o que Italo Magni, um orador premiado, disse em tempos: «Se falarmos com a cabeça, estaremos a falar-lhes à cabeça. Se falarmos com o coração, estaremos a falar-lhes ao coração. Se falarmos com a vida, iremos tocar as vidas deles».

Diego Simeone Fonte: Facebook de Diego Simeone
Diego Simeone
Fonte: Facebook de Diego Simeone

Do ponto de vista do líder e da sua forma de pensar, agir e comunicar, ele tem uma clara percepção de que liderar com alma é o melhor caminho, e de que é preciso ter liderados que façam parte da organização, grupo ou equipa, não porque querem isso, ou precisem ou gostem disso, mas porque acreditam no que o líder acredita. Obviamente acreditar no mesmo implica gostar disso e ter um sentimento de pertença em relação a isso. Um líder que lidera com alma é decisivo no grupo do qual faz parte porque lhe molda a cultura, lhe confere a visão, solidifica as relações emocionais entre os membros, produz o ambiente desafiador – a ambição que faz membros funcionar nos limites ou até ultrapassá-los.

É o promotor constante de uma visão galvanizadora, de um projecto que escreve a história de cada um dos elementos do grupo. A vontade de mudar a história, o rumo dos acontecimentos, de forma brutal – de se tornar imortal – é o combustível para a vida de um líder com alma. Esta narrativa parece um pouco romântica e até utópica mas mesmo quando Galileu disse ao mundo que a Terra é que girava à volta do Sol a maioria condenou-o pela radicalidade da sua afirmação pois a resistência à mudança é uma força negativa para a evolução e para o crescimento.

Neste momento alguns leitores podem pensar: “Mas eu sou apenas um treinador vulgar de uma equipa de miúdos de 12 anos…”. E daí? Qual é o problema? Na minha perspectiva não existe problema nenhum e só nos traz ganhos este tipo de aprendizagem. Porque não aprender com os melhores, perceber o que eles fazem, adaptar a nós e experimentar em nós, parar, observar e reflectir acerca dessas práticas? Ser um líder não é ser Deus. Não é algo inatingível. Algumas características são inatas e alguns já nascem com elas, outros têm de trabalhar e esforçar-se um pouco mais. Outras características são desenvolvidas, a partir do autoconhecimento. Mourinho sabe disso. Guardiola, idem. Phil Jackson sabia disso. Ferguson também.

É simplesmente impossível alguém se tornar um bom líder sem ser um bom comunicador. E isto não significa ser um bom conversador – é uma grande diferença. A chave para se tornar um comunicador hábil raramente é encontrada naquilo que é ensinado na formação, na escola e mesmo na educação obtida pelos nossos pais. Desde os nossos primeiros dias na sala de aula somos treinados para nos concentrarmos na pronunciação, no vocabulário, na presença, no léxico, na gramática, na sintaxe e afins. Por outras palavras, somos ensinados a concentrarmo-nos em nós mesmos. Sem querer menosprezar todas estas coisas, que são bastante importantes para a nossa aprendizagem, são os elementos mais subtis da comunicação que raramente são ensinados em sala de aula (os elementos que interferem noutros) que os líderes procuram aprender.

Então em que é que ficamos?

O verdadeiro líder é aquele que aponta o caminho. Aquele que traz consigo uma confiança brutal que ilumina com um foco potente. É aquele que inspira uma visão partilhada, entendida no seu grupo e comprometida com ele, e que desafia o que está estabelecido constantemente. Ele permite que quem está ao seu redor aja e demonstre as suas ideias, discutindo assertivamente, alinhando-as com os valores e princípios do grupo. O líder desenvolve e incentiva a coragem nos seus liderados.

Todas estas capacidades são inatas, ou seja, nascem connosco, ou são passíveis de ser aprendidas e desenvolvidas? Acho que são as duas coisas, embora todas as pessoas sejam diferentes e não possam funcionar através de “receitas”. O que é para um pode não ser para outro, e cada um de nós tem o dever de fazer desenvolver a sua liderança para crescer por dentro e fazer crescer os outros à sua volta. Ao líder são requeridas flexibilidade e criatividade que inspirem nos seus colaboradores a habilidade de gerirem o imprevisível, constantemente presente na realidade complexa e buliçosa que nos circunda. E tudo é possível adquirir de uma forma ou de outra, tendo nada à nascença ou tendo muito…

“O desafio da liderança é ser forte mas não rude; ser bondoso mas não fraco; ser ousado mas não agressivo; ser atencioso mas não preguiçoso; ser humilde mas não tímido; ser orgulhoso mas não arrogante; ter humor mas sem loucura.”, Jim Rohn

Bibliografia

“Liderança: Reflexões sobre uma experiência profissional” – Jorge Araújo

“Como Ser Um Treinador de Excelência” – Alcino Rodrigues

“A Alma do Líder” – Deepak Chopra

 

Foto de capa: John Tlumacki

Parabéns, Coli… Benfica!

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atodososdesportistas

O campeonato ainda não acabou e, num passado recente, fomos habituados pelo grande Vítor Pereira a tirar o “pão da boca” ao Benfica precisamente a partir desta ponta final. Mas Vítor Pereira ganhava os clássicos (nunca perdeu um para o campeonato), coisa que parece ser o “tendão de Aquiles” de Lopetegui – só dizimou o Sporting no Dragão.

Posto isto, como reconhecedor do mérito que é ganhar uma “maratona” como é um campeonato, venho por este meio parabenizar o Benfica por este quase “mito” que é ganhar um bi-campeonato para os lados de Lisboa, coisa que no Porto tem sido tão normal como comer uma francesinha ao domingo. Mas este campeonato é ganho devido a dois grandes “pilares”: JJ e #colinho. Depois de, na época passada, a determinada altura, eu ter escrito na página da Comunidade deste mesmo site que o Benfica era a melhor equipa a jogar futebol no Mundo, este ano tenho que dizer que o que vão ganhar é fruto da magia de um dos melhores treinadores de futebol do Mundo e de umas ajudas que fazem deste um dos campeonatos mais adulterados da história do futebol português.

Um Benfica que perdeu o “11” base da época passada, em condições normais, seria como o Porto “pós Mourinho” – quase impossível de se sagrar campeão. Mas aí entrou a mestria e astúcia de JJ, e com “peaners” construiu uma equipa… sem equipa. Fez de Jardel um senhor (em quem vejo muito mais qualidade do que em Luisão, desde há algum tempo!), de Pizzi um novo “8”, conseguiu extrair de Jonas o instinto goleador e ainda ter toda a magia dos magos Gaítan e principalmente Sálvio. Mas essa astúcia, em condições normais, valia-lhe um 2.º lugar a léguas daquela que é a melhor equipa em Portugal de momento: Porto.

O FC Porto foi a melhor equipa deste campeonato Fonte: FC Porto
O FC Porto foi a melhor equipa deste campeonato
Fonte: FC Porto

Mas aí entrou o segundo “pilar” deste benfica: o #colinho. Não sou de me queixar ou desculpar com arbitragens (vejam o meu texto do título da época passada, onde critiquei veementemente a gestão do Porto e prestei imensos elogios ao Benfica) mas este ano foi por demais. Antes do campeonato começar, já se sabia no seio da FPF que se queria um Benfica campeão. Não foi um erro, dois, três… Todos, repito, TODOS os jogos em que o Benfica ganhou com dificuldade ou empatou (que não foram muitos, mas os suficientes) tiveram ajudas altamente vincadas dos trios de arbitragem (para não falar de jogos em que golearam mas que começaram com certos escândalos, como o dos 5 ao Setúbal, a título de exemplo).

A isto juntam-se a mais de metade de campeonato que os vermelhos acabaram a jogar com mais jogadores que o adversário, as entradas “catedrais” a que já nos habituamos e que deixam os jogadores que vestem Benfica em campo (lembre-se Gaítan e Fesja no último clássico, ou Maxi em quase todos os jogos…) e os foras-de-jogo “de 3 pontos” que já valeram preciosos pontos… Só por alto, este campeonato está “forjado” com pelo menos 10 pontos a mais para a equipa de JJ.

Não escrevo isto com azia ou com a pretensão de tirar o mérito a JJ (o único a quem pode ser atribuído mérito este ano); escrevo apenas porque os “arautos da verdade”, liderados pelos papagaio João Gabriel e Rui Gomes da Silva, gostam de mencionar coisas do passado já julgadas em tribunal e até algumas não comprovadas. Com este campeonato perderam a pouca moral (embora pensem que tenham muita) que já tinham para falar de arbitragens num futuro a médio prazo. Ah, e pelo meio, se possível, ganhem coisas a nível internacional, para comprovarem, como o Porto fez, que é mesmo o melhor a nível nacional.

Não posso apontar o dedo ao meu clube. Sem fazer uma época de sonho como no ano de Villas-Boas e com um dos melhores planteis da sua história mas com jogadores que vieram de realidades diferentes, a verdade é que o conjunto de Lopetegui fez uma época “normal” e mais do que suficiente para se sagrar campeão nacional. Os motivos acima expostos explicam o que impediu (ou vai impedir) tal coisa.

Com um Jorge Jesus mais maduro, este ano tenho 99,9% de certeza de que o Benfica não irá facilitar nestas últimas rondas (veja-se o grande jogo que os vermelhos fizeram na casa do Gil Vicente – onde, pelo sim pelo não, estava o curioso Capela para “segurar” a coisa, caso fosse preciso) e o bi-campeonato (que já tanto vi vir para as Antas ou Dragão) irá para a Luz. Sem vergonha ou azia, mas com um sentimento de uma grande impureza e injustiça, ainda assim… PARABÉNS, BENFICA.

PS: Escusa o leitor de vir com a lengalenga do “vai ao youtube”; “um portista falar de arbitragens”, etc., que o meu texto refere-se a este ano e somente isso. Falar sobre coisas que, não provadas, já julgadas e com pena cumprida ou apenas “mitos”, é coisa que não me assiste e com a qual não me dou ao trabalho de perder tempo.

Foto de Capa: FC Porto

Olheiro BnR – Bernard Mensah

olheiro bnr

Apesar de ter perdido algum gás na segunda metade do campeonato, é inegável a boa campanha deste Vitória de Guimarães; a equipa está muito perto de assegurar o regresso às competições europeias em 2015/16, isto depois de ter estado ausente na presente temporada.

Habituado a apostar em jovens jogadores e a fazê-los evoluir, o técnico vimaranense Rui Vitória voltou a não desiludir nesse capítulo, sendo que a principal e mais agradável surpresa foi mesmo o médio-ofensivo Bernard Mensah. O jovem Ganês já começa mesmo a merecer a generalizada atenção de alguns dos principais “tubarões” do Velho Continente.

Sempre a crescer no Minho

Bernard Mensah nasceu a 17 de Outubro de 1994, em Acra, Gana, tendo representado o Feyenoord Acra, do seu país natal, antes de rumar a Portugal e ao Vitória de Guimarães em 2012. Nos vimaranenses, começou por representar os juniores, saltando posteriormente para o futebol sénior, pela porta da equipa B, em 2013/14.

Essa, aliás, foi uma excelente temporada para Bernard Mensah, que somou 26 jogos e nove golos no Campeonato Nacional de Seniores, contribuindo de forma decisiva para a subida do Vitória de Guimarães B à Segunda Liga e para a sua própria promoção à equipa principal dos vimaranenses.

Mensah pegou de estaca Fonte: Facebook do Vitória Sport Clube
Mensah pegou de estaca nos vimaranenses
Fonte: Facebook do Vitória Sport Clube

Não sentiu o salto

Perante um acentuado salto, do Campeonato Nacional de Seniores para Primeira Liga, esperava-se que esta temporada de 2014/15 fosse de adaptação para Bernard Mensah; mas a verdade é que o jovem médio-ofensivo assumiu-se, isso sim, como uma das figuras mais cintilantes do Vitória de Guimarães.

Afinal, o Ganês já soma 32 jogos e quatro golos pelos comandados de Rui Vitória, assumindo-se mesmo como o principal foco de criatividade vimaranense no último terço e gerando, pelo seu confirmado talento e gigantesca margem de progressão, uma crescente onda de pretendentes, que prometem rechear os cofres do Vitória de Guimarães para o levarem.

Uma pérola negra que ainda precisa de consistência

Bernard Mensah é um médio-ofensivo central (vulgo “dez”) que se destaca pela sua velocidade, visão de jogo e qualidade técnica e de passe, características que o transformam, automaticamente, num verdadeiro desbloqueador e desequilibrador no último terço.

Apesar dessa tracção ofensiva, o jovem africano também mostra generosidade dentro do terreno de jogo, jamais se furtando de ajudar nas missões defensivas, sendo usual vermos o criativo a pressionar e a somar desarmes ao longo das partidas.

Certo, de qualquer maneira, é que, aos 20 anos, Bernard Mensah ainda terá algumas arestas para limar, sendo necessário, acima de tudo, que atinja uma maior consistência nas suas exibições, uma vez que ainda tem alguma indesejável tendência para alternar grandes exibições com duelos em que passa totalmente ao lado do jogo.

 Foto de capa: Facebook do Vitória Sport Clube

Um tridente de sonho

cab la liga espanha

O Barcelona está a realizar uma excelente época e pode este ano voltar à ribalta do futebol europeu, com a conquista da La Liga, da Taça do Rei e da Liga dos Campeões, competições que vai atacar como a equipa favorita à vitória, tendo em conta o nível exibicional que a turma de Luis Enrique tem vindo a desenvolver em termos recentes. Um dos fatores que mais tem abonado a favor dos blaugrana é o entrosamento entre o seu tridente ofensivo: Lionel Messi, Luis Suárez e Neymar (ou, mais precisamente, MSN, como são conhecidos hoje em dia pelo mundo do desporto-rei).

Estes três astros do futebol mundial contabilizam mais de 100 golos esta época em todas as competições, especificamente 108 até ao momento, e já superaram o anterior melhor trio atacante da história do Barcelona no que a fazer balançar as redes da baliza adversária diz respeito (Henry, Eto’o e Messi em 2008/09, com 100 tentos). As contas são fáceis: 51 golos de Messi, 33 de Neymar e 24 de Suárez, sendo que ainda faltam algumas partidas para a temporada terminar, o que torna bem previsível o aumento destes números astronómicos.

As características do futebol destas três estrelas assemelham-se de forma exímia e a mudança no estilo de jogo do Barça de Luis Enrique, primando agora por um futebol mais ofensivo e prático do que o tão bem conhecido tiki-taka, implementado por Pep Guardiola no seio dos catalães, beneficia o potencial individual destes três jogadores. O jogo blaugrana já não é tão mastigado e paciente a meio-campo, mas sim mais atrativo e com maior rapidez a chegar à área contrária. Os jogadores com pendor atacante gozam hoje de uma maior liberdade do que no poderoso Barcelona do tempo de Guardiola, onde era bem improvável de acontecer o uso do contra-ataque, apostando na velocidade dos jogadores culés mais dianteiros.

Esta tripla tem evidenciado uma tremenda melhoria de rendimento e entrosamento com o decorrer da época, estando agora a um nível absolutamente fantástico e com um rendimento bastante elevado, o que não sucedeu desde o início da mesma.

Sempre a somar: Messi, Suárez e Neymar levam 108 golos na presente época Fonte: Facebook do Barcelona
Sempre a somar: Messi, Suárez e Neymar levam 108 golos na presente época
Fonte: Facebook do Barcelona

Lionel Messi é hoje um jogador diferente do que era até há pouco tempo. O argentino privilegia agora o coletivo ao individual, tendo percebido que dessa forma tanto a sua equipa como ele próprio saem beneficiados. Não só marca golos de toda e qualquer forma e feitio, como também assiste de maneira exímia – conta 29 passes para golo na presente temporada. Além disso, mantém-se a estrela máxima da equipa, aliando uma total liberdade em campo e uma qualidade de último passe temível e um instinto goleador como poucos revelam, às suas habituais incursões do corredor direito para o centro em drible, as quais já nos permitiram assistir a alguns dos melhores golos do camisola 10.

Por seu turno, Neymar atribui ao futebol catalão a fantasia e o brilhantismo brasileiro, e o seu entendimento com Messi tem vindo a desenvolver-se de forma imaculada, com o resultado à vista de todos. Os seus dribles, fintas e qualidade técnica a roçar a perfeição são um regalo para os amantes do futebol. Não obstante, o “canarinho” tem demonstrado uma total evolução desde a sua chegada a Espanha no que concerne à inteligência tática e ao processo defensivo, aspetos de primordial importância no futebol moderno.

Luis Suárez, ou “Luisito”, foi a nova aquisição para o ataque blaugrana desta temporada. Habituado a marcar golos de forma contínua e natural, os primeiros tempos por Espanha não foram, de todo, fáceis para o uruguaio. Devido à suspensão em jogos oficiais que trazia do Mundial 2014, onde teve ações impróprias (mordidela a Chiellini), apenas fez a primeira partida a contar pelos catalães no mês de outubro. Assim sendo, na primeira metade da época não conseguiu encontrar o seu melhor futebol e aparentava que o investimento logrado pelo Barcelona (81 milhões de euros) nos seus serviços poderia ter sido em vão.

Até que, com a passagem para o ano de 2015, tudo mudou. O melhor de Suárez surgiu e os golos começaram a aparecer. E que golos importantes tem marcado – ao Real Madrid na vitória para o campeonato espanhol ou ao Manchester City e PSG para a Liga dos Campeões, para enumerar alguns exemplos. A movimentação inteligente pelo terreno de jogo, procurando zonas não povoadas pelos seus colegas, levando os defesas adversários a abrirem espaço para as diagonais de Messi e Neymar, a constante luta e “raça” que oferece dentro de campo pela procura da bola, bem ao estilo sul-americano, e o aprimorado faro pelo golo do uruguaio, que também faz do último passe  uma das suas armas (20 assistências na temporada), elevaram de forma absoluta a qualidade de jogo culé. Suárez conseguiu o que outros avançados não alcançaram – exemplo mais claro é o de Zlatan Ibrahimovic, que não teve longa duração na Catalunha – ao lograr entrosar-se com os seus companheiros de ataque e criar o tridente ofensivo mais temido do futebol atual.

A combinação destes três completíssimos futebolistas resulta numa capacidade concretizadora ao nível do que poucas equipas obtêm e certamente que o Barcelona conta com a inspiração desta tripla para as batalhas vindouras (meia-final da Champions com o Bayern de Munique, três derradeiras jornadas de La Liga e final da Taça do Rei ante o Athletic Bilbao) e também para futuros anos, tendo em conta que o clube da Catalunha pretende voltar a elevar-se perante os demais do futebol europeu. Lionel Messi, Luis Suárez, Neymar Jr.: o ataque perfeito. Será este o melhor tridente ofensivo de todo o sempre? No ano civil de 2015 está a ser, mas o final da presente época poderá ditar se estamos mesmo perante um caso sério de sucesso que veio para ficar.

Foto de Capa: Facebook do Barcelona

Belenenses 1–3 Rio Ave: Está (re)animada a luta pela Europa

futebol nacional cabeçalho

O Belenenses que se viu hoje, no Restelo, não foi, certamente, aquele que se tem visto ao longo da época. A exibição fraquíssima perante um Rio Ave bastante sólido, quer no processo defensivo como nos movimentos ofensivos, ficou bastante longe daquelas que colocaram a equipa lisboeta numa posição capaz de lutar por um lugar na Europa.

A entrada do Rio Ave no encontro foi absolutamente implacável. Aos quatro minutos de jogo, e sem pedir licença, Diego Lopes foi percorrendo a área até achar um espaço por onde rematar. Quando o fez, o remate saiu em arco e só parou quando achou o fundo das redes.

O Belenenses, no entanto, foi conseguindo manter posse da bola. No entanto, esta não se traduziu em perigo evidente para a baliza de Ederson, que, com excepção de um cabeceamento por parte de João Afonso, foi quase sempre espectador.  O Rio Ave tinha a sua estratégia bem traçada: não pressionar, esperar que o Belenenses caísse em erro e, quando assim fosse, sair em transição rápida. Acabou por aproveitar bem a ausência de João Meira no onze e a colocação de Sturgeon a ala direito, uma escolha de Jorge Simão que se mostrou bastante infeliz: Tiago Pinto passou por meio mundo e colocou a bola por baixo das pernas de Ventura e dentro da baliza. Demasiado fácil para os Vila-Condenses.

Diego Lopes marcou um grande golo no Estádio do Restelo Fonte: Rio Ave FC
Diego Lopes marcou um grande golo no Estádio do Restelo
Fonte: Rio Ave FC

À entrada para a segunda parte, e com duas alterações feitas – Dálcio e Pelé saíram para dar lugar a Fábio Nunes e a Tiago Caeiro – o Belenenses entrou melhor, desta feita com Sturgeon a jogar a extremo direito ao invés de ala. A diferença notou-se: Rui Fonte criou perigo a Ederson com um remate de primeira após cruzamento do luso-britânico.
Apesar do crescimento do Belenenses no jogo, o Rio Ave não acusou a pressão, e, aos 52 minutos de jogo, fez o golo através dos pés de Del Valle, que, após cruzamento de Ukra, teve tempo para receber, driblar dois jogadores, e finalizar. O jogo estava por esta altura arrumado.

Nos momentos que se seguiram pouco mais se passou no encontro que mereça destaque, para além da bola à trave da baliza do Rio Ave, que teve mais de demérito dos Vila-Condenses do que de mérito dos Azuis do Restelo. Um central fez uma autêntica “rosca” e levou a que a bola acabasse a saltitar na barra, só para ser agarrada por Ederson. Posteriormente, é de fazer destaque ainda para a lesão do capitão Vila-Condense, Vilas Boas, que deu lugar a Nélson Monte.

Foi aos 87 minutos que o Belenenses fez o seu único golo da partida. O Rio Ave estava claramente com o jogo ganho e, por isso, em gestão do jogo. Após lançamento lateral, Tiago Caeiro desviou de cabeça para o segundo poste, onde estava Rui Fonte pronto a finalizar de cabeça. Um 3-1 sem quaisquer esperanças de empate.

Com esta vitória o Rio Ave termina uma série de seis jogos sem vencer e ganha novo fôlego na corrida aos lugares europeus. Recorde-se que, ou com o Sporting a conseguir um lugar na Liga dos Campeões e uma vitória na final da Taça de Portugal, ou com o Braga a vencer a Taça e a manter o 4.º lugar na Liga, existe ainda lugar para o 6.º classificado ter a possibilidade de marcar presença na Liga Europa.

A lutar por esse lugar estão Paços de Ferreira, que conseguiu empatar com o Braga, e os adversários de hoje, Belenenses e Rio Ave. Na próxima jornada os Azuis vão mesmo à Mata-Real, naquele que promete ser um jogo decisivo nesta luta pela Europa. Se o topo da Liga não parece susceptível a surpresas, as lutas de meio da tabela podem certamente dar-nos algumas.

Vitória FC 0-2 FC Porto: Num jogo destes, os serviços mínimos chegaram

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Ao longo deste campeonato, fui dando a opinião sobre aquilo que é o campeonato português e as suas exigências, tendo em conta o nível médio das equipas. Mesmo considerando que há algumas formações de qualidade, como Belenenses, Paços Ferreira, Rio Ave ou Nacional, parece-me óbvio que esta é uma prova demasiado bipolar relativamente ao grau qualitativo das equipas. Por isso, olhar para este Vitória de Setúbal torna-se quase confrangedor, dada a fraca qualidade de muitos dos seus jogadores e sobretudo a falta de uma ideia clara de jogo. Bem sei que sem ovos não se podem fazer omeletes, mas mesmo não tendo o melhor plantel deste campeonato, creio que os vitorianos poderiam fazer mais do que aquilo que o seu estilo de jogo demonstra. Por tudo isto, creio que a exibição do FC Porto esta noite, no Estádio do Bonfim, foi meramente o suficiente para chegar a uma vitória perfeitamente natural.

Nos onzes iniciais, Bruno Ribeiro e Lopetegui optaram por ir ao encontro das expetativas: do lado sadino, destaque para a inclusão de Advíncula no lado esquerdo do ataque, procurando com isso suster o caudal ofensivo portista e aproveitar a rapidez do peruano para a exploração das transições rápidas; do lado portista, Ricardo foi o substituto natural do castigado Danilo, enquanto Herrera e Quaresma voltaram à titularidade depois de terem sido suplentes no clássico da última semana, frente ao SL Benfica. Os primeiros minutos de jogo demonstraram um FC Porto mandão, a procurar – mesmo que sem um ritmo muito alto – chegar rapidamente a uma vantagem que lhe pudesse facilitar o rumo da partida. Para isso, a equipa de Lopetegui decidiu, quase sempre no primeiro tempo, deixar as faixas para os laterais, remetendo os alas Quaresma e Brahimi a uma zona mais interior, procurando criar uma fase de pressão mais alta junto do meio campo sadino. Os comandados de Bruno Ribeiro sentiram enormes dificuldades pelas subidas dos laterais portistas, sobretudo no caso de Alex Sandro, que não raras vezes ultrapassou Zequinha e aproveitou as costas da defensiva vitoriana para criar perigo.

Portanto, não foi de estranhar que tenha sido pelas zonas laterais que o golo portista tenha chegado, após um excelente trabalho de Jackson a arrastar a marcação de três defesas do Vitória. Depois, Ricardo acabou por fazer um cruzamento com conta, peso e medida a que Brahimi respondeu afirmativamente para o primeiro golo portista no Bonfim. A vantagem era natural, tamanho era o domínio portista e a incapacidade gritante para o Setúbal chegar sequer ao último terço dos dragões. Também por isso, o FC Porto continuou a carregar no acelerador, mesmo que de forma não muito intensa. Ainda assim, até ao intervalo o segundo golo poderia ter chegado, numa bela trivela de Quaresma que só Raeder parou.

Como não podia deixar de ser, a segunda parte vitoriana foi completamente diferente. Ao contrário do que havia acontecido no primeiro tempo – em que o meio campo composto por Dani, Paulo Tavares e João Schimdt raramente havia sido intenso o suficiente para provocar erros na fase de construção portista – a segunda parte trouxe-nos um Vitória mais afoito, num bloco mais alto e sobretudo com as linhas mais próximas, procurando explorar a profundidade com o avançado Suk e a velocidade com Zequinha e Advíncula. Mais unida e solidária taticamente, a equipa do Setúbal começou a ganhar confiança num jogo que, à medida que os minutos foram passando, foi perdendo velocidade e intensidade.

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Brahimi marcou o primeiro golo do FC Porto, no Bonfim
Fonte: Página de Facebook do FC Porto

O FC Porto já não controlava o jogo como no primeiro tempo, e o resultado magro não garantia o triunfo final. Por isso, aos ameaços do Vitória – com particular destaque para um cabeceamento de Suk para defesa de Helton – Lopetegui respondeu com dupla mudança: entradas de Evandro e Hernâni para as saídas de Quaresma e Brahimi. A equipa portista ficou mais rápida e sobretudo mais desperta, não cometendo o erro que já tantas vezes lhe foi fatal, que é o de adormecer demasiado o jogo e depois não conseguir responder ao ímpeto adversário. Os minutos finais tinham entusiasmo nas bancadas e crença na equipa da casa, mas o que é facto é que o V. Setúbal, mesmo com muito boa vontade dos seus jogadores, raramente deu a ideia de que podia tirar qualquer coisa do duelo com os dragões.

Por essa razão, os portistas, mesmo sem fazerem uma exibição de encher o olho, acabaram por matar a partida através de Jackson Martinez, que, após excelente assistência de Herrera, desfeiteou Raeder e fez o 18.º golo no campeonato, recuperando a liderança isolada na tabela dos melhores marcadores. Sem ter feito um grande jogo, até porque o adversário não o obrigou a tal, o FC Porto voltou a vencer num dos redutos em que possui maior percentagem de vitórias. Mesmo que sem grandes objetivos para esta reta final do campeonato, fica o registo de mais um triunfo portista. Sem brilho nem sequer grande velocidade e intensidade, os portistas voltam a colocar em três pontos a distância para o líder.

A Figura
Alex Sandro –
O lateral brasileiro fez um jogo a roçar a perfeição no Bonfim. Raramente perdeu um duelo individual e foi, durante toda a partida, um verdadeiro quebra cabeças para Pedro Queirós. Exibição a relembrar os velhos tempos do brasileiro.

O Fora de jogo
Primeira parte do V. Setúbal
– A qualidade do plantel está longe de ser grande mas mesmo isso não justifica um primeiro tempo tão cinzento da equipa de Bruno Ribeiro. Sem atitude nem capacidade de pressão, a equipa sadina pareceu um fantasma tático nos primeiros 45 minutos do jogo desta noite, no Bonfim.

Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

Balotelli, who?

Naquele dia em que Balotelli marcou dois golos à Alemanha, no Euro 2012, todos achámos que estávamos perante uma nova estrela. A imagem do festejo em tronco nu correu mundo, fez capas de jornais, e aqueles dois golos conduziram Itália à final do Europeu. Mario Balotelli saiu do Euro da Polónia e da Ucrânia com o rótulo de craque emergente.

Mas, então, o que é que aconteceu? Depois do verão de 2012, o Super Mario acabou por se transferir para o Milan. De regresso à Serie A, e apesar de uns primeiros três jogos impressionantes, não conseguiu afirmar-se. Os episódios caricatos foram-se sucedendo, uns mais graves que outros, e o seu nome ia aparecendo na comunicação social por motivos bem diferentes dos que já havíamos visto. Acabou por voltar à Premier League esta época para representar o Liverpool.

Roberto Mancini – tal como o próprio o disse – foi um pai para Balotelli. Apoiou-o nos primeiros anos da sua carreira, no Inter, e voltou a reencontrá-lo no Manchester City. Foi ele que decidiu que o jovem jogador estaria bem melhor de volta a casa, de volta à Serie A, quando este saiu para o Milan. Mancini foi o único treinador que conseguiu impor limites a Balotelli mas ao mesmo tempo acarinhá-lo, de maneira a extrair dele os melhores resultados. Este tipo de jogadores precisa deste exacto tipo de treinadores: exigentes, fortes, competitivos, mas com tempo para ouvir, treinar e melhorar.

Balotelli não se conseguiu impor em Liverpool Fonte: Facebook Liverpool FC
Balotelli não se conseguiu impor em Liverpool
Fonte: Facebook Liverpool FC

Esta época, em Liverpool, também não foi de boa memória para Mario Balotelli. Com apenas um golo marcado, o internacional italiano foi quase sempre segunda opção e voltou a não conseguir afirmar-se. Com o futuro em aberto, penso que seria melhor para Balotelli voltar às origens – talvez mesmo ao Inter de Milão -, ao futebol que bem conhece e às linhas de passe que o isolam na cara do guarda-redes.

Sinto falta da velocidade irresponsável, dos remates que não pediam licença a ninguém, da rebeldia benigna que atraía verdadeiros lances de mágico. Balotelli precisa de assentar, de um técnico que o respeite e acalme, e precisa, essencialmente, de fazer com que esqueçamos as nódoas negras no seu currículo. Tem talento para isso e muito mais.

24 anos é muito pouco, e este Super Mario tem muito por onde crescer. Fico à espera de que volte ao seu melhor nível e ao seu melhor futebol, para que no próximo Europeu possamos outra vez falar de uma estrela em ascensão. Mas, desta vez, acertadamente.

Foto de capa: Facebook Oficial de Mario Balotelli

Pequenos passos rumo à grandeza

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O fim de semana passado foi, com algum eufemismo à mistura, bastante agridoce. Confesso que apesar de ter crescido numa casa em que António Livramento ou Ramalhete eram pronunciados com a mesma vivacidade de Damas ou Yazalde, nunca fui um grande adepto do hóquei em patins. Ainda assim, domingo passado vivi o desempate por grandes penalidades como o meu pai vivia há cerca de vinte anos, e no final, aquando dos festejos de todos aqueles bravos leões, senti aquele Sportinguismo indescrítivel e que passa de pai para filho, de geração para geração e que torna este grande clube em algo único.

Por outro lado, apesar de por escolhas pessoais não ter estado presente no MEO Arena, fiquei desiludido com a derrota frente ao Barcelona. Não por achar que seríamos à partida favoritos, ou porque fosse a obrigação vencer o jogo; apenas porque sinto que era a nossa vez, a nossa oportunidade, e deixámos de novo escapar por entre os dedos. Faz parte perder, e às vezes perder torna os grupos mais fortes. Espero que seja esse o caso e que o Sporting se reerga e que pelo segundo ano consecutivo volte a festejar e a sentir orgulho no Ecletismo que é o Sporting.

As centenas de pessoas que inundaram o Aeroporto da Portela são o exemplo perfeito do que é o Sporting Clube de Portugal Fonte: Facebook  Sporting
As centenas de pessoas que inundaram o Aeroporto da Portela são o exemplo perfeito do que é o Sporting Clube de Portugal
Fonte: Facebook Sporting

As vitórias das modalidades históricas do clube, como a do fim de semana passado no Hoquei em Patins, vêm dar razão aos anos passados a pedir um pavilhão, vêm dar valor a dezenas – ou centenas – de atletas, treinadores e dirigentes que andaram com a “casa às costas” durante mais duma década para que o Sporting não perdesse uma grande parte do que realmente é. São esses os heroís escondidos, não é somente o Bruno, os Nunos ou o Vicente. É toda a gente que dispensava horas do seu dia, sem por vezes receber um cêntimo, para dar ao clube o que ele precisava, a “dose diária de Sportinguismo”.

Graças a eles, a todos eles, daqui a uns meses ou anos levarei os meus filhos ao Pavilhão João Rocha, onde lhes mostrarei o nome do pai num mural com milhares de outros verdadeiros leões, e poderei transmitir tudo aquilo que felizmente o meu pai me ensinou.

O Sporting, o verdadeiro Sporting, não se preocupa com outras cores, com as derrotas dos outros, porque nada disso lhe confere grandeza. O verdadeiro Sporting ultrapassa infinitamente as quatro linhas do relvado do Estádio José de Alvalade.  O Sporting vive numa mesa de ténis com o Diogo Chen, num terreno de corta-mato com o Rui Silva, na ponta do stick do Girão ou na mão cheia de resina do João Pinto.

E é esse o rumo que aos poucos volta a ser criado, e o orgulho que tenho nele é enorme.

Foto de Capa:  Facebook Oficial do Sporting Clube de Portugal.

Millennium Estoril Open: à terceira foi de vez!

cab ténis

Richard Gasquet conseguiu finalmente, e após as finais perdidas em 2007 para Novak Djokovic e em 2012 para Juan Martin Del Potro, conquistar o título em solo português. O francês bateu Nick Kyrgios por 6-3 e 6-2 e conquistou o segundo troféu na atual temporada.

Numa final que até prometia ser bastante equilibrada, sobretudo se tivermos em conta o último duelo entre ambos, em que Nick Kyrgios bateu Richard Gasquet após salvar nove match points, o francês apresentou-se muito mais consistente e justificou por completo a vitória.

Richard Gasquet, contrariamente ao que se tinha passado no encontro de ontem frente a Guillermo Garcia-Lopez, entrou bastante forte e ao sexto jogo fez o break. Nick Kyrios, que pareceu acusar bastante a pressão de estar a jogar a sua primeira final da carreira, não mais foi capaz de assustar Gasquet e perdeu o primeiro set por 6-3.

No segundo set, e mesmo contando com o apoio do público português, Kyrgios voltou a não entrar bem, sofrendo o break logo de entrada. O francês, por sua vez, nunca baixou os níveis de concentração e continuou a exibir um ténis de altíssimo nível. Gasquet conquistou, assim, um título sob o pó de tijolo que lhe fugia desde 2010.

Richard Gasquet a levantar o troféu de vencedor Fonte: Facebook oficial do Millennium Estoril Open
Richard Gasquet a levantar o troféu de vencedor
Fonte: Facebook oficial do Millennium Estoril Open

A velha máxima imperou: à terceira é de vez! A maior experiência de Richard Gasquet prevaleceu sobre a irreverência de Nick Kyrgios. O francês, que estava a regressar de uma lesão, surpreendeu tudo e todos e conquistou o título com toda a autoridade. Relativamente ao australiano Nick Kyrgios, e como anteriormente já foi referido, pareceu acusar bastante a pressão de estar a jogar a primeira final da carreira e nunca foi capaz de praticar o ténis que vinha exibindo ao longo da semana.

Termina, assim, a primeira edição do Millennium Estoril Open. Foi uma semana carregada de emoções e com encontros de alto nível. O Bola na Rede teve o maior prazer em acompanhar o maior evento de ténis realizado em Portugal.

Foto de capa: Facebook oficial do Millennium Estoril Open

A Espanha como referência

A procura de modelos de excelência como forma de encontrar o melhor rumo é comum a todas as áreas, e o basquetebol não foge à regra. Ainda me lembro bem que após o 25 de Abril tivemos acesso ao basquetebol que se fazia na Bulgária e ao desporto da Roménia. Mais tarde, com a introdução da NBA na TV, passámos a sonhar com o basquetebol norte-americano, e as equipas de clube e treinadores passaram a viajar para os Estados Unidos. Recentemente descobrimos que aqui mesmo ao lado mora a melhor Liga profissional (ACB), uma das melhores escolas de formação de treinadores e as melhores selecções jovens do Continente.

Saber quais as características ou competências que tornam os basquetebolistas espanhóis em praticantes de excelência é uma das questões que interessam a muitos dos treinadores nacionais. Como desenvolvem eles essas competências? Como aprendem? De que forma competem? Com que idade se iniciam no basquetebol?

O denominado “Método FEB” colocou Espanha na liderança dos Rankings das selecções jovens da FIBA e é o mais estudado no mundo do basquetebol.

O segredo é simples: métodos de trabalho comuns entre clubes, associações e Federação (Gabinete Técnico), o que permite a detenção e acompanhamento dos talentos.

Claro está que a escolha dos treinadores é determinante e aí escolhem quem quer estar ao serviço dos jogadores numa permanente ajuda para a sua formação.

As sete chaves do método FE são:

1 – O JOGADOR – Procuram os mais competitivos e não os mais altos ou os mais fortes.

2 – ENSINO – Fomentam a habilidade do jogador sem esquecer a correção dos seus defeitos.

3 – TREINADORES – Trabalham com líderes e dinamizadores de grupo.

4 – JOGO – Querem que os jogadores entendam o jogo.

5 – REALIDADE – Trabalham para criar situações similares aos jogos nos treinos.

6 – TALENTO – O jogo é adaptado ao talento dos jogadores e não o contrário.

7 – HUMILDADE – A base do Método FEB é voltar ao início em cada época.

O basquetebol espanhol tem o valor que tem porque, entre muitos outros factores que se completam, os jogadores treinam e competem de forma intensa, seguindo a regra dos 10 anos, que continua em vigor: para atingir a excelência necessita um praticante de 10 anos de preparação cuidada.

A selecção espanhola é das melhores do mundo Fonte: Facebook de Pau Gasol
A selecção espanhola é das melhores do mundo
Fonte: Facebook de Pau Gasol

O desemprego toca a todos

Em Espanha, o basquetebol, como qualquer outro desporto profissional, é um negócio que movimenta muito dinheiro. O orçamento da FEB é de cerca de 45 milhões de euros mas, ao contrário do que acontece em Portugal, cerca de 90% dessa verba é proveniente do sector privado, o que lhes permite aumentar as actividades desportivas e os programas de promoção de carácter social.

Sabemos também que a Escola de Treinadores espanhola é por todos reconhecida por formar muitos e bons técnicos. Contudo, a crise também se faz sentir em Espanha e nesta área, pelo que não se estranha a estratégia da FEB, que procura mover todas as influências para colocar noutras paragens muitos dos treinadores que estão agora no desemprego.

Uma recente informação da FEB dava conta de 52 técnicos a trabalharem fora de Espanha, distribuídos por 32 países diferentes.

A galinha da vizinha é sempre melhor que a minha…

Sempre defendi que podemos aprender muito com o nosso vizinho do lado na matéria do basquetebol, tentando adaptar o que fazem à nossa realidade.

O mesmo pensa João Freitas, ex-treinador do CAB, que numa atitude corajosa estagia no Real Madrid e tem sido bem recebido. Uma conclusão já tirou: a componente física é determinante. Quem não tem físico não pode jogar ao nível mais elevado. Assim, treinam o mesmo número de horas a parte física e a parte técnico-táctica, desde os Infantis. Muito do conhecimento agora adquirido pelo técnico madeirense tem de ser útil ao basquetebol nacional.

Não tenho também dúvidas de que a presença em Portugal do galego Moncho Lopez, actual treinador do FCPorto e ex seleccionador nacional, tem sido benéfica ao nosso basquetebol e à Associação do Porto em particular.

Tive alguma influência na presença em Clínics de Treinadores de Moncho Monsalve, Jenaro Diaz e Toni Carrillo e não me arrependo, dada a qualidade dos mesmos.

Contudo, corremos o risco de ser colonizados basquetebolisticamente falando se levarmos ao exagero essa ajuda. Assim não faz muito sentido promover Clínics só com espanhóis, relegando os treinadores portugueses para a bancada. É muito discutível também a contratação avulsa de técnicos espanhóis para a nossa prova principal, LPB. A ANTB (Associação de treinadores) já mostrou preocupação à FPB relativamente a esta matéria e não é muito difícil de evitar os erros actuais: basta adaptar o Protocolo da antiga LCB. A taxa de inscrição dos treinadores estrangeiros não pode ser simbólica e tem de ter valores em tudo semelhantes aos praticados nos países de origem. Da mesma forma faz sentido que quem quer treinar a este nível tenha de ter currículo de relevo e não pode ser permitida a mudança de Clube a meio da época, como de forma caricata já foi autorizada esta época.

Tal como recentemente afirmou o futebolista Cristiano Ronaldo, “devemos aprender, tal como fazem os espanhóis, a valorizar mais «o produto da casa» e não tanto os estrangeiros. Espanha tem uma cultura de que gosto, são um povo extrovertido e valorizam o que é deles, algo que devemos aprender em Portugal: não valorizar tanto os estrangeiros, mas sim ‘o produto da casa’”.

Foto de capa: Facebook da ACB- Asociacion de Clubes de Baloncesto