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Nunca se perderam tantas apostas de café

cab serie a liga italiana

Já aqui confessei a minha paixão pela Juventus. Não é difícil perceber, portanto, que tive uma semana bastante feliz. Desde que o Inter conquistou a Liga dos Campeões, com José Mourinho, que o futebol italiano não tinha um representante sério nas competições europeias. Esse futebol altamente estereotipado está de volta aos grandes palcos, às grandes finais e à grande glória. E com ele, a Juve.

Não vou voltar a escrever sobre o porquê de esta Juventus estar onde está: Allegri construiu um futebol fluido, descomplicado, rápido e assente na organização de Vidal e Pirlo e no talento individual de Pogba e Morata. Vou antes falar sobre o pulmão destes bianconeros. Homem que só conheceu esta paixão, que vibra com as mais banais vitórias como se se tratassem de finais, que defende a Juve (literalmente) até ao último fôlego: Gianluigi Buffon.

Trinta e sete anos. Melhor jogador em campo numa meia-final da Champions. Decisivo. Impenetrável. Doador de confiança. Melhor guarda-redes dos últimos 10 anos. Claro que me delicio com a juventude de Neuer, os rasgos de Casillas e que ainda me lembro do poderio de Oliver Kahn. Mas Buffon sempre foi o meu guarda-redes preferido. E mostrou, mais uma vez, que continua em forma e com ganas de conquistar o título que lhe tem fugido. Foi ele que não conseguiu defender o penálti que deu a Champions ao Milan em 2003, e talvez por isso a responsabilidade lhe pese nos ombros. A Juventus corre nas veias deste homem, e isso ficou bem visível quando festejou o golo decisivo de Morata na passada quarta-feira.

Buffon quer levantar um troféu que nunca conquistou Fonte: Facebook da Juventus
Buffon quer levantar um troféu que nunca conquistou
Fonte: Facebook da Juventus

Voltando à vecchia signora, esta tem vindo a ser alvo de um enorme descrédito desde o início da temporada. As previsões são quase sempre negativas, o favoritismo sempre oferecido ao oponente, e a equipa italiana é permanentemente vista como o “elo mais fraco”. E mesmo depois dos “prognósticos no fim do jogo” (bendito João Pinto), a grande maioria dos comentadores continuava céptica e receosa quanto às futuras partidas. Sorte, erros dos árbitros ou fraqueza do adversário, tudo valia para desvalorizar a campanha europeia da Juventus.

Chegada a final, chegado o Barcelona, voltam a surgir os típicos comentários: “o Barcelona já ganhou”, “a final está decidida”, “não têm hipótese”. Diziam o mesmo aquando do Dortmund, Mónaco e Real Madrid. Curioso. A Juve tem qualidade para se bater com o Barça e, mesmo que não alcance a vitória, tem mais que motivos para celebrar. Com o título italiano garantido, na final da Liga dos Campeões e da Taça de Itália, corre o glorioso risco de ser a melhor equipa do ano. Buffon, Pogba, Pirlo, Morata, Vidal, Tévez e companhia: contamos convosco.

A Juventus está na final da Liga dos Campeões. E as finais jogam-se com duas equipas.

fotode Capa: Facebook da Juventus

1994-?, amor sem data final

Terceiro Anel

Por mais que eu queira (e eu não quero) é complicado não falar disto.

Nasci em 1989, adoro o Benfica desde Dezembro de 1994, já lá vão muitos anos. Cresci numa altura em que o mais fácil seria ser adepto do FC Porto ou mesmo do Sporting. Vi o Benfica levar 7 em Vigo, acompanhei os 11 anos de travessia do deserto sem campeonatos ganhos, lembro-me de perguntar ao meu pai a razão pela qual um estádio gigantesco (como a antiga Luz o era) estava vazio em jogos em tarde de domingo. Vi o Benfica a treinar em vários campos lisboetas, vi um Benfica sem rumo, vi um Benfica que fazia do título de hóquei ou de futsal a festa do ano. Tinha que levar com a chacota dos meus amigos sportinguistas (não estou a criticar isso, era natural), perguntei vezes sem fim ao meu pai como era quando o Benfica era campeão, punha-me a imaginar como seria ter um Benfica dominador no nosso país.

Em boa verdade, e apesar deste clube estratosférico não ter vencido todos os campeonatos de há 6 anos para cá, as coisas começaram a mudar desde 2009. O FC Porto foi perdendo a hegemonia e neste momento há uma clara de divisão (para não lhe chamar outra coisa) entre os dois colossos do futebol nacional.

Este bicampeonato acaba por me trazer à memória tudo aquilo que sempre fui lendo, ouvindo, visualizando dos idos anos 60, 70 e 80. Um Benfica resplandecente, apaixonante, dominador em toda a linha, seja no futebol ou em muitas outras modalidades.
Ver pelo segundo ano consecutivo a Praça do Marquês repleta, iluminada por centenas e centenas de tochas que iluminaram a capital, ver o Aeroporto Sá Carneiro a transbordar de alegria, ver ruas de Maputo e de muitas outras cidades além-fronteiras com benfiquistas em euforia, ver toda uma série de coisas fez-me ver, pela 5892.ª vez, que o Benfica é único.

Abençoada a hora em que decidi ver-te, Sport Lisboa e Benfica, naquele final de tarde de 1 de Dezembro de 1994. Estávamos destinados um ao outro. Agora há que pensar no futuro! RUMO AO TRI!! Rumo ao tricampeonato que já nos foge desde 1977. Nem tudo pode ter mudado, mas muita coisa já não está na mesma. Benfica no topo do futebol português…donde verdadeiramente nunca saiu.

Com vista para o Marquês – parte II

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dosaliadosaodragao

Já nem o Marquês tinha memória. Havia sido há tanto, tanto tempo. Em 1983/1984, mais precisamente. A noite de ontem foi, por isso, de história: o bi-campeonato voltou a cair para o Benfica, para uma equipa comandada, sobretudo, por dois ‘J’, de Jesus e de Jonas. A melhor, segundo a frieza dos números. E, consequentemente, e apesar de tudo, merecedora de créditos e congratulações.

Há cerca de um ano, neste mesmo espaço, deparei-me com a necessidade de aprender a (com)viver com a festa no Marquês. Apresentei os parabéns ao Benfica e sublinhei a falta de comparência ao Campeonato por parte do FC Porto, que facilitou sobremaneira a tarefa benfiquista. Com a chegada de 2014/2015, imaginei que poderia ser diferente. Um ano volvido, duas notícias, uma boa e outra má: a positiva é que o FC Porto não voltou a cometer os erros que levaram à hecatombe de 2013/2014; a má noticia é que cometeu outros, que lhe custaram tantos pontos quanto o resgate do título. E este, na perspectiva do portista, é o verdadeiro problema.

Os elogios à equipa da Luz serão veiculados e propagandeados, nos próximos dias e semanas, pela imensa nação vermelha. De forma natural e justa. E sendo o momento do festejo e do lançamento eufórico da mais electrizante tocha vermelha, simultaneamente, do lado do Dragão é, urgentemente, tempo de reflexão.

No ano transacto «a verdadeira novidade desta época foi a falta de comparência do FC Porto. Foram os equívocos na construção do plantel, foi o tremendo erro de casting em que se tornou Paulo Fonseca, foi, enfim, a banalidade na qualidade de jogo do Dragão que tornou o campeonato, a partir de um dado momento, num calmo e tranquilo passeio para o Benfica.». Este época não aconteceu nada disso. O FC Porto reforçou-se muito e quase sempre bem – Indi, Marcano, Casemiro, Brahimi, Óliver e Tello (já para não falar em Evandro, Ruben Neves ou Aboubakar) vieram acrescentar qualidade ao plantel. Em teoria, claro. Mas quem foi acompanhando o FC Porto ao longo da época foi percebendo que os deslizes poderiam sempre acontecer. Muito dessa iminência foi resultando de um claro descomprometimento, desconcentração, desconhecimento, falta de identificação em relação ao que é o FC Porto por parte de muitos dos novos elementos – algo potenciado pelo facto de terem sido 15 os reforços, um número tão necessário quanto exagerado e que dificultou a imperiosa adaptação a um clube que já não tem hoje, à porta do balneário, verdadeiros bagageiros da mística portista.

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Óliver Torres. A par de Jackson, o melhor dragão em 2014/2015.
Fonte: Página de Facebook do FC Porto

No final de 2013/2014 pedia que se mostrasse «aos meninos colombianos, brasileiros, mexicanos e de todas as outras nacionalidades possíveis e imaginárias que aterrarão no Sá Carneiro e seguirão para o Dragão que jogar no Porto terá sempre de ser um privilégio. Exibam-lhes o BI deste clube e dêem-lhes a beber o ‘Ser Porto’». Mesmo descontando que hoje já não há, no tal balneário, Fernando Gomes, João Pinto, Jaime Magalhães, André, Jorge Costa, Vítor Báia, ou até Deco e Lucho, a alguém deveria ter incumbido esta missão. E essa, por mais abstracta que até possa parecer e/ou ser, não foi concretizada. A forma como o FC Porto entregou o Campeonato que o Benfica, per si, não estava a conseguir fechar é paradigmática. Paradigmática do tipo de jogadores que, envergando o manto azul-e-branco, parecem, não raras vezes, ter noção nenhuma do que é carregar consigo o nome de uma cidade orgulhosa de si mesmo. Em Belém repetiu-se muito daquilo que já se tinha visto na Choupana, diante do Nacional (empate duas horas depois de o Benfica ter perdido em Vila do Conde), no Estoril (empate logrado por Óliver no último minuto), de novo na Madeira (derrota com o Marítimo, num jogo aberrante dos dragões) ou, finalmente, na Luz, no jogo que poderia decidir o título e em que o FC Porto se apresentou apático, sem rasgo e ainda traumatizado pela derrocada de Munique, na Liga dos Campeões. Sim, a Champions é o desejo supremo e jamais condenarei os jogadores que ambicionam superar-se nessa competição, decretando o seu nome na galeria dos imortais. Mas isso não pode, em tempo algum, fazê-los olvidar do objectivo real, como que desrespeitando e menorizando o campeonato interno. Porque o FC Porto antes de se tornar a maior potência portuguesa lá fora, solidificou-se cá dentro.

Uma equipa que agarra a liderança à 5ª jornada para não mais a deixar tem de ter mérito. E, por isso, o Benfica tem mérito – mesmo que, em determinados momentos, o que hoje se estampa nos cachecóis vermelhos (quase como se fosse o nome do clube), em forma de sacrifício expiatório, tenha amparado. Mas o FC Porto, para seu bem, não se pode agarrar a isso. É incomparavelmente mais importante que a SAD portista olhe para dentro e repense o modelo em que se baseou, agora que se vive o primeiro momento, em muitos anos, de ameaça à hegemonia portista. Ou até já de um certo ascendente vermelho, concedo.

O discurso de contestação às arbitragens fez sentido num certo timing mas não é isso que, agora, vai trazer de volta os dois últimos anos cheios de nada. Urge pensar se a aposta numa pilha de jogadores estrangeiros cheios de qualidade mas completamente desenraizados nesta altura de carência de símbolos portistas é para repetir; exige o tempo que se reflicta se certos empréstimos em determinados moldes são aposta a seguir; é ainda imperativo perceber se Lopetegui, não obstante todo o desgaste (mas coisas boas que também trouxe), é um nome confiável para futuro.

Sobre todos estes tópicos, há perspectivas e palpites diversos. Também os tenho – e a eles voltarei em breve, a começar por Lopetegui (que é bem mais do que o que têm feito dele). De todo o modo, o FC Porto e a estrutura portista sempre se moveram sobre uma cultura de exigência, sendo que hoje, mais do que nunca, tem de ser esse o valor máximo que, como em tempo idos, volte a presidir à política da SAD para o ataque à próxima época. Para que as noites vermelhas no Marquês (ou noutro qualquer ponto) não se repitam. Ou, pelo menos, para que os fracassos como o de ontem em Belém terminem com os corpos azuis-e-brancos estendidos no terreno, sufocados pela dor de não terem sido melhores – e não pela inépcia de não quererem ter sido melhores. Tem feito falta ao Porto ser Porto.

Foto de capa: Página de Facebook do Sport Lisboa e Benfica

O Captain! My Captain!

cab premier league liga inglesa

Em Abril de 1865, Abraham Lincoln era abalroado do comando do “barco” EUA. O 16º presidente de uma das actuais potências mundiais fora brutal e covardemente assassinado no Ford’s Theather enquanto assistia à peça “Our American Cousin”, depois de deixar um legado importantíssimo para a ordem social dos EUA ao abolir a escravidão e ao preservar a união depois de bem encaminhado o fim (declarado um mês depois da morte do presidente) da terrível guerra civil americana. Também aumentou a força governamental e modernizou a economia do país.

Lincoln não assistiu à prosperação económica e social dos Estados Unidos da América, não viu o seu país tornar-se na potência mundial que é hoje, mas teve o seu trabalho reconhecido. Como toda a gente, de forma mais evidente na hora da morte do que propriamente antes dela.

Ainda hoje são levadas a cabo “reverências” a Abraham Lincoln e é frequente vermos realçada a importância do legado do 16º presidente americano, porém, há uma homenagem que se destaca das restantes e essa é tão velha quanto a morte de Lincoln, surgindo precisamente na altura em que o presidente foi morto. Foi criada por Walt Whitman, intitula-se de “O Captain! My Captain”, e nela se sentem as lágrimas do mítico escritor pela morte de um presidente que começou por lhe ser indiferente, mas que no fim lhe mereceu a admiração (diria, até, veneração) deixada nas palavras que deixou imortalizadas num dos poemas mais conhecidas da literatura mundial. E não é só por ter sido citado várias vezes durante o filme mítico “Clube dos Poetas Mortos”, mas também pela carga emocional despejada no mesmo, reconhecendo o quão fundamental fora a intervenção do seu presidente para a manutenção da ordem social, tão importante num período de guerra civil – “Our ship is safe and sound” (“o nosso barco está são e salvo”).

Com as filhas ao colo, Gerrard toca pela última vez enquanto capitão do Liverpool na mítica placa dos balneários de Anfield Road” Fonte: Facebook do Liverpool
Com as filhas ao colo, Gerrard toca pela última vez enquanto capitão do Liverpool na mítica placa dos balneários de Anfield Road”
Fonte: Facebook do Liverpool

Podemos traçar um paralelo entre as lágrimas de Whitman e as dos adeptos do Liverpool no passado Sábado. E, se o poeta chorou Lincoln, os “melhores adeptos do mundo” choraram pela partida de Steven Gerrard, o homem que nunca os desapontou e que serviu de inspiração para muitas das suas batalhas quotidianas.

Não se pode afirmar que deixou o Liverpool numa situação mais favorável do que aquela em que o clube se encontrava quando se estreou na equipa principal, mas depois de um período em que a equipa, de forma sucessiva, não conseguiu qualificações europeias e em que a disputa do título era uma miragem, Steven Gerrard foi o motor da equipa que devolveu a esperança aos adeptos dos reds, no ano passado, disputando, taco-a-taco e até ao fim do campeonato, o título com o Manchester City. Toda a gente apontava aquela como a “tal” época em que Steven Gerrard iria, finalmente, erguer o troféu de campeão inglês que tanto desejava, mas o futebol é ingrato. Por vezes cruel. E não há nada mais a fazer do que lutar contra essa adversidade, como ele tão bem sabe.

Sempre que a maré era desfavorável, era o primeiro a remar contra ela e nunca optou pela saída mais fácil quando tal acontecia, revelando qualidades raríssimas nos futebolistas dos dias de hoje – lealdade e honra. Lealdade por nunca ter rumado a qualquer outro clube e honra por ter cumprido as palavras que disse quando se estreou pelos reds, em 1998, afirmando que gostaria de passar o resto da vida no clube. Características bem vincadas de um líder, de um verdadeiro exemplo enquanto capitão.

Foto de Capa: Facebook do Liverpool

O 24.º de Novak Djokovic

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cab ténis

O quinto torneio Masters 1000 da temporada teve um desfecho algo previsível, com o número 1 mundial Novak Djokovic a ganhar o seu 24.º título desta categoria e 4.º em Roma (2008, 2011, 2014 e agora 2015), vencendo na final o número 2 mundial Roger Federer.

No seu primeiro encontro, Djokovic sentiu algumas dificuldades contra Almagro; o 6-1 do primeiro set fazia prever um encontro fácil, mas Almagro jogou (e serviu) perto do seu melhor nível no segundo set e venceu o tie-break para forçar uma terceira partida, em que um mau jogo de serviço de Almagro foi o suficiente para decidir o encontro. Apesar do equilíbrio, em nenhum momento pareceu que Almagro pudesse mesmo ganhar o encontro, devido à sua fraca resposta ao serviço e especialmente à sua já conhecida fraqueza mental nos pontos importantes contra os jogadores de topo. De todas as formas, foi quiçá a melhor exibição do Espanhol desde que regressou da sua lesão.

Nos oitavos de final, Djokovic teve outro encontro difícil contra outro especialista de terra batida conhecido pela sua fragilidade mental em momentos importantes: Bellucci. O esquerdino, cujo estilo tem algumas semelhanças com o de Nadal, ganhou o primeiro set 7-5, servindo muito bem e sendo muito assertivo com a sua direita carregada de topspin. Não conseguiu porém manter o nível no segundo set, e no terceiro claudicou nos momentos decisivos como é seu apanágio. Apesar de duas rondas iniciais difíceis contra adversários perigosos, Djokovic chegou novamente aos quartos de final.

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Djokovic continua a somar títulos na carreira
Fonte: Yann Caradec

Nos quartos enfrentou quiçá o seu maior teste do torneio, numa reedição das meias finais do US Open do ano passado contra Kei Nishikori. Os dois primeiros sets foram muito equilibrados, com o desenlace a parecer depender capacidade do Japonês de controlar os seus ataques e evitar cometer erros não forçados. No terceiro set, porém, Nishikori claudicou física e mentalmente – os dois aspectos que o separam dos jogadores de topo – e Djokovic – ao contrário de Nishikori, conhecido pela sua incrível força física e mental – com a sua habitual consistência do fundo de campo carimbou o seu passaporte para as meias finais.

Nas meias-finais, Djokovic teve o encontro mais fácil do torneio, ao defrontar Ferrer – jogador com estilo idêntico ao do sérvio mas inferior em todos os aspectos do jogo. O Espanhol beneficiou da desistência de Andy Murray – cansado após ganhar em Munique e Madrid em semanas consecutivas – para chegar sequer às meias-finais, onde nunca ofereceu qualquer réplica a Djokovic.

Na final, Djokovic defrontou Federer pela 39ª vez na sua carreira, com os dois jogadores à procura do seu 24º título Masters 1000. O Suíço surpreendeu muitos ao bater com grande facilidade Berdych e Wawrinka para chegar à final, quando se pensava que os seus dias de candidato a grandes títulos em terra batida poderiam estar contados. Na final, porém, apesar dum início forte, não conseguiu parar Djokovic, que assim ganhou o seu quarto Masters 1000 da temporado em 4 jogados (não jogou Madrid), com o período de 20 minutos em que o Sérvio quebrou Federer para ganhar o primeiro set e quebrou-o de entrada no segundo set a revelar-se decisivo.

Destaques:

-Pela primeira vez na sua carreira, Nadal chega a Roland Garros sem ter conquistado qualquer título Masters 1000 em terra batida. Desta vez foi Wawrinka, que nunca lhe havia tirado um set em terra batida, a vencer Nadal por 7-6 6-2, isto apesar de o Espanhol ter tido 4 set points no primeiro set;

-Federer atingiu a final de um grande torneio de terra batida (Masters ou Roland Garros) pelo 14º ano consecutivo, um recorde;

-Apesar da sua derrota nos quartos de final, Berdych atingiu o ranking mais alto da sua carreira (#4) e será o quarto cabeça-de-série em Roland Garros.

Foto de Capa: Christian Mesiano

Belenenses 1-1 FC Porto: Entregando o ouro ao campeão!

cabeçalho fc porto

O RESCALDO

Belém. Estádio do Restelo. Quente e ilusória tarde de Maio. Mais uma vez, o Bola na Rede presente num momento decisivo: para o Belenenses e para o FC Porto. Imperiosa a vitória para ambos – para os primeiros, para continuar a sonhar com a Europa; para os segundos, para continuarem a alimentar o sonho do resgate do título.

Depois da habitual homenagem do FC Porto a Pepe (antigo prodígio belenense que morreu com apenas 23 anos), os momentos iniciais da partida mostraram um FC Porto a tomar conta do jogo. Sem Casemiro e com Ruben Neves no onze, os portistas assumiram a posse e foram tentando empurrar os azuis do Restelo para trás – em muitos momentos, concentraram-se 21 jogadores no meio campo belenense. A equipa de Jorge Simão, a pender para um 4-2-3-1 sem bola – com Pele e Ricardo Dias lado a lado no meio-campo, com Carlos Martins mais à frente e com os extremos Fábio Nunes e Sturgeon a fecharem os corredores –, procuraram tapar todos os espaços e o certo é que foram conseguindo bloquear um FC Porto que, apesar de ter muita bola, não raras vezes foi pouco objectivo, ainda mais lento e com carências ao nível da profundidade do seu jogo. Nada de novo, portanto.

Por outro lado, o Belenenses procurou não limitar-se ao processo ofensivo. Assim, nos primeiros vintes minutos, e aproveitando alguns momentos de apatia e desleixo no processo defensivo dos portistas, soube carrilar o jogo pelo seu lado esquerdo (principalmente), criando frísson junto da baliza de Helton em vários momentos – Camara e Sturgeon foram os protagonistas, sendo que o segundo dispôs mesmo de uma oportunidade de ouro, já depois de ter ultrapassado o keeper dos dragões.

Talvez um pouco assustado, o Dragão tentou reagir. Importante a acção de Óliver nesta fase da partida, metendo-se mais em jogo e, com isso, dando oportunidade para Brahimi e Alex Sandro serem, também eles, mais participativos. O médio espanhol inventou um golo que Herrera, na cara de Ventura, desperdiçou, e foi também dos pés do médio espanhol que saiu o lance que, passando pelos protagonistas anteriores, terminou com a finalização bem-sucedida de Jackson (44’). O FC Porto lograva, assim, o golo que, melhor ou pior, com maior ou menor velocidade, procurou desde o início – mesmo nos momentos em que abdica de uma transição ofensiva rápida potencialmente perigosa em favor de um ataque construído e pensado de forma aparentemente tão científica que chega a ser contraproducente.

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Posicionamento defensivo do Belenenses

A 2ª parte arrancou com o jogo nos mesmos moldes, ainda que o Belenenses tenha tentado uma pressão mais efectiva junto dos centrais portistas. Carlos Martins tentou sempre acompanhar de perto Camara nesta missão e mesmo a linha defensiva belenense chegou a posicionar-se bem perto da divisória do terreno, por forma a condicionar o máximo possível o início de construção portista. O problema? Alguns espaços criados entre a defesa e os médios, que, ainda assim, o FC Porto raramente soube aproveitar. Até ao começo da dança das substituições – com a troca de Sturgeon por Dálcio, aos 57’ –, os portistas podiam ter chegado ao segundo golo quer por Oliver quer numa bola a que Jackson não chegou por muito pouco.

Apesar de o jogo estar aparentemente controlado, os portistas nunca o fecharam em definitivo e o ritmo da partida foi baixando na mesma medida em que o Belenenses foi sentindo que o empate era possível. Possível mas não provável, ainda assim. Lopetegui retirou Brahimi e depois Quaresma, lançando Evandro e Hernâni, respectivamente, e derivando Oliver para o flanco esquerdo; por sua vez, Jorge Simão fez entrar dois Tiago: primeiro Caieiro e depois Silva (retirando Ricardo Dias e Carlos Martins), ensaiando uma espécie de 4-4-2, com Camara junto de Tiago Caeiro. O certo é que o jogo, mantendo-se entretido, não revelava grandes oportunidades de golo – a primeira excepção foi um lance criado e inventado por Alex Sandro, que acabou por sair junto ao poste de Ventura; a segunda foi o golo do empate belenense. Uma boa jogada de Dalcio, que, depois de ultrapassar Alex Sandro, procurou o espaço central da grande área, onde surgiu a tal dupla avançada: Camara não chegou à bola mas Tiago Caeiro foi oportuno e, perante Helton, fez o 1-1. A réstia de esperança portista parecia desfazer-se ao minuto 85.

Os últimos momentos da partida foram vividos entre a decisão, por parte de Lopetegui, de retirar Oliver (!) para lançar Adrián Lopez e o falhanço de cabeça por parte de Jackson Martínez, que mais não significou do que o canto do cisne numa partida que o FC Porto tinha obrigatoriamente de vencer mas em que, acabando por repetir erros já vistos e nesta Liga, nunca foi capaz de ser suficiente impositivo e afoito para o materializar. E daí que o seu sonho se tenha esfumado, entregando o título na bandeja que o seu rival não estava a conseguir atingir em Guimarães.

Para o Belenenses, a chegada à Liga Europa continua a ser uma possibilidade. Mesmo não dependendo de si próprio, os azuis do Restelo vão entrar em Barcelos (e tão longa é já a história entre estes dois emblemas…), na próxima jornada, com a mente num objectivo pouco realista no início da época mas que é hoje encarado como um passo decisivo para a consumação de um Belenenses “de nível europeu”, tal como afirmou Jorge Simão no pós-jogo. E isso é algo assinalável – estamos, afinal, a falar da equipa que, no binómio investimento-rendimento, é, possivelmente, o melhor dos exemplos a seguir.

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O Bola na Rede esteve presente no Restelo

OS DESTAQUES

Filipe Ferreira/Fábio Nunes – A asa esquerda do Belenenses funcionou sempre muitíssimo bem. Pese embora Quaresma tenha conseguido ganhar alguns confrontos com Filipe Ferreira durante o primeiro tempo, o lateral lisboeta apresentou-se sempre em bom plano no momento defensivo do jogo e foi uma ajuda preciosa para o companheiro Fábio Nunes, extremo que deu várias dores de cabeça a Danilo. Foi, de resto, pelo lado esquerdo do ataque o Belenenses chegou a maior parte das vezes à área do FC Porto.

Ricardo Dias/Pelé – Ricardo Dias, o elemento mais recuado do meio-campo belenense, juntou ao acerto posicional uma atitude positivamente agressiva durante o jogo e conseguiu com isso ganhar muitos duelos no miolo. Ora sozinho, ora (normalmente) em parelha com Pelé, o aveirense que até passou pela formação do FC Porto foi sempre seguro e compenetrado. Apesar de tudo, o grande destaque vai para Pelé. Ter nome de craque não chega, de todo, para ser craque. Mas, aos 23 anos, o luso-guineense tem tudo o que é preciso para vingar ao mais alto nível: técnica apurada, , inteligência táctica, força física, inteligência táctica e capacidade de liderança dentro de campo. Hoje voltou a dar mostras disso mesmo.

Fábio Sturgeon/Dálcio – Sturgeon foi sempre dos mais inconformados da equipa da casa e fez a vida negra a Alex Sandro durante o primeiro tempo. Irrequieto, rápido e bom de bola, como sempre. Para o seu lugar entrou, no início da seguda parte, Dálcio. O técnico do Belenenses, Jorge Simão, justificou a substituição com a acumulação de fadiga de Fábio Sturgeon. A verdade é que Dálcio, jovem de 18 anos que muito tem dado que falar, aproveitou a oportunidade e tirou o cruzamento açucarado (mais do que um pastel de Belém!) que deu o golo ao recém-entrado Tiago Caeiro.

 

Jackson/Óliver – Do lado azul e branco (hoje, cor de rosa e preto), ó nos é possível salientar pela positiva o desempenho de dois jogadores: Jackson e Óliver. Foram os dois melhores jogadores ao longo de toda a temporada e foram os dois melhores jogadores na partida de hoje. São e serão sempre talento, magia, simplicidade, entrega e eficácia. Se o colombiano marcou o golo e tentou sempre oferecer soluções ofensivas aos colegas, o espanhol voltou a pegar na batuta para orquestrar o ataque portista, mesmo quando Lopetegui o “empurrou” para a faixa esquerda.

Filipe Coelho e Francisco Reis

34.º, o bicampeonato que Jesus fez

cabeçalho benfica
Disse Jorge Jesus que este título de campeão que hoje traz alegria ao país é o mais importante do seu legado no banco do Sport Lisboa e Benfica. Não gostando eu de atribuir etiquetas de importância X ou Y aos troféus que Cosme Damião recebe (podem vir a ser 6 dos últimos 8 disputados a nível nacional…), vejo-me, hoje, obrigado a render-me ao que Jesus disse. A celebração de um bicampeonato 31 (!) anos depois é um cabal passo para que o Benfica recupere aquilo que lhe é intrínseco: a hegemonia do futebol português.

Após a autêntica razia no plantel e quando víamos Eliseu e Derley chegarem para um lado e Brahimi, Tello, ou Óliver para outro, quantos diriam que o Marquês se inundaria de vermelho como se verá daqui a momentos? Se o soberbo triplete da passada temporada muito se deveu a Luís Filipe Vieira por ter sido o único a acreditar em Jesus depois de o mundo benfiquista ter ruído em 15 dias em Maio de 2013, o bicampeonato que hoje celebramos devemo-lo, em primeira instância, ao treinador. Sim, o Benfica ficou fora das competições europeias em Dezembro. Sim, o Benfica foi eliminado precocemente da Taça de Portugal. No entanto, apesar destas saídas de estrada, Jorge Jesus conseguiu com que o plantel mantivesse o foco naquilo que era o mais importante. Face ao plantel de que o Benfica dispõe actualmente, cedo se percebeu que seria impossível geri-lo de forma a garantir sucesso em todas as provas.

Segredando-o ao círculo próximo de amigos e confidentes benfiquistas, tive, em Dezembro, praticamente a certeza de que o bicampeonato nos chegaria às mãos. A vitória sem espinhas no Dragão foi a clara demonstração da superioridade do Benfica como equipa mais consistente e regular e um enorme rombo no Porto, que realizou um dos maiores investimentos da história do futebol nacional. Sabendo-se da evolução que as equipas de Jesus têm na segunda volta do campeonato, a vantagem de 6 pontos que aí fora conquistada revelar-se-ia fulcral, assim o Benfica mantivesse a vantagem no confronto directo com o rival. Como aconteceu.

Jonas trouxe o toque de classe que empurrou o Benfica para o 34.º Fonte: Facebook do Sport LIsboa e Benfica
Jonas trouxe o toque de classe que empurrou o Benfica para o 34.º
Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

Sem que a qualidade de jogo tenha atingido os níveis de épocas passadas, Jorge Jesus começou a construir este Benfica de trás para a frente. Fazendo da Luz uma autêntica fortaleza e da segurança defensiva (veja-se, por exemplo, a evolução de Jardel e a altíssima qualidade da época do brasileiro) o esteio de uma equipa que depois se podia soltar e entregar aos génios de Jonas – o melhor jogador do Campeonato -, Gaitán e Salvio e ao suor de Lima a magia lá na frente. Tudo isto sem esquecer a confiança que Júlio César trouxe às redes, a melhor época de Maxi de vermelho ao peito – RENOVAR PARA ONTEM!  -, um Luisão como já nos habituou, um Samaris que parecia um corpo estranho e agora é dono e senhor do meio-campo e um Pizzi que, sem ser Enzo, muito fez para tentar fazer esquecer o argentino.

Resta agora festejar, esperar que Jesus renove e começar a sonhar com o tri. O Povo está feliz.

Dmitri Alenichev: O Criador de Sonhos da Cidade de Tula

internacional cabeçalho

Mais de uma década após passagem de Dmitri Alenichev pelo Futebol Clube do Porto, vale a pena perceber aquilo que mudou na vida do talentoso armador de jogo depois de ter pendurado as botas em 2006.

Alenichev foi um jogador excepcional e, ao contrário de muitos outros executantes russos de elevada qualidade que pouco ou nada ganharam durante as suas carreiras, Dmitri conta com um palmarés pessoal invejável, sendo ainda hoje o único futebolista russo a ter conquistado a Liga dos Campeões, um feito que fez crescer, e muito, a popularidade do jogador no seu país de origem.

Após ter deixado o futebol português, Alenichev voltou ao seu clube de coração, o Spartak Moscovo, mas este regresso esteve longe de ser aquilo que havia idealizado. O Spartak de 2004 era muito diferente daquele que deixara em 1998, no qual o lendário treinador russo, Oleg Romantsev, ditava todos os aspectos do jogo e organizava a equipa como ninguém. Problemas de toda ordem com o então treinador do histórico emblema russo (Aleksandrs Starkovs) transformaram o regresso ao imponente Estádio Luzhniki num verdadeiro pesadelo para o talentoso médio e foram o principal motivo do seu precoce fim de carreira.

Apesar de provavelmente não ter recebido o reconhecimento devido durante a sua carreira como futebolista, Alenichev tinha reservado para si algo digno do romantismo que, por vezes, ainda acompanha os profissionais de futebol: dar a mão a uma equipa amadora e fazê-la subir até à elite máxima do futebol russo. Dmitri assumiu o comando do modesto Arsenal Tula em 2011 e com a ajuda de alguns dos seus antigos companheiros do Spartak Moscovo (Yegor Titov, Dmitri Khlestov e Aleksandr Filimonov) fez com que os Pushkari subissem das catacumbas das ligas regionais e amadoras até à Primeira Divisão do futebol russo (Чемпионат России по футболу – SOGAZ Russian Football Championship) em apenas quatro anos.

Depois de uma passagem (não muito bem sucedida) como treinador pelos escalões jovens da seleção russa, Alenichev começou a colocar em prática muito daquilo que aprendeu com um dos seus mentores e amigo de longa data, Oleg Romantsev, e tudo aquilo que absorveu nos dias que passou com José Mourinho em Londres e conseguiu, a pouco e pouco, transformar o Arsenal Tula, um emblema sem pergaminhos no futebol russo, numa equipa de futebol de ataque altamente sincronizado, com passes curtos e posse de bola efectiva, muito à semelhança do seu amado Spartak da década de 1990. Alenichev afirmou mesmo numa entrevista dada há algum tempo atrás que a sua intenção passava por colocar o Arsenal a jogar à imagem daquele memorável Spartak que, entre outros, esmagou o Real Madrid 3-1, em pleno Santiago Bernabéu em 1991.

Alenichev e o adjunto Dmitri Ananko: os homens responsáveis pelo crescimento do Arsenal Tula Fonte: Página do VK do Arsenal  Tula
Alenichev e o adjunto Dmitri Ananko: os responsáveis pelo crescimento do Arsenal Tula
Fonte: Página do VK do Arsenal Tula

O antigo médio do FC Porto acredita que motivar os jogadores para terem gosto e para apreciarem aquilo que estão a fazer em campo é meio caminho andado para o sucesso global e que, ainda que surjam percalços durante o percurso, esse é o caminho certo para uma equipa ser bem sucedida. Esta receita futebolista resultou em pleno nas divisões inferiores do futebol russo, mas não tem dado os mesmos frutos agora que o Arsenal se encontra em convívio com os grandes, ou seja, equipas que têm um orçamento quarenta ou cinquenta vezes superior.

Alenichev tem demonstrado ser, ao longo dos anos, um treinador com uma excelente percepção dos aspectos táticos do jogo, tendo já testado diversas vezes esta época diferentes estilos de jogo, por vezes assentes em táticas pouco comuns como o 3-4-2-1 que ele tentou implementar no início da temporada. Uma defesa a três provou ser um erro crasso numa equipa que queria sair a jogar a partir de trás, já que um simples passe falhado deixava a equipa demasiado exposta e colocava os centrais, todos eles bastante “presos de rins”, em clara desvantagem face a jogadores mais rápidos. Alenichev percebeu isso e moldou a equipa num versátil esquema de 4-4-2, que rapidamente se transforma em 4-1-4-1, muito mais equilibrado e com as linhas muito mais juntas, procurando assim eliminar os espaços entre linhas que o outro modelo de jogo permitia.

O Arsenal de Alenichev assenta muito do seu jogo no talento de três dos seus homens da linha intermédia: o experiente médio defensivo montenegrino Miroslav Kascelan, o jovem produto das escolas do Spartak Moscovo Aleksandr Zotov (um jogador dotado de uma capacidade notável para armar o jogo da sua equipa) e de um número 10 à moda antiga russa, de seu nome Sergey Kuznetsov (um organizador de jogo que passou ao lado de uma grande carreira  após ter prometido muito há quase uma década atrás).

O Arsenal Tula está actualmente em maus lençóis na liga russa e o empate do passado Sábado frente ao sempre complicado Terek Grozny, apesar de ser um resultado positivo, não foi suficiente para tirar a equipa da zona de despromoção.

Este Arsenal, altamente mecanizado mas sem a experiência necessária para conseguir manter uma regularidade tangível na elite do futebol russo, conseguiu ainda assim feitos notáveis esta temporada, uma vez que conseguiu vencer o Zenit de André Villas-Boas para a taça da Rússia e, por exemplo, o Lokomotiv e o Spartak Moscovo para a liga.

Alenichev, que é visto por muitos (adeptos incluídos) como o homem certo para assumir o comando do Spartak na próxima temporada, tem demonstrado ser um treinador de excelente qualidade e foi capaz de, através de processos de jogo bastante simples, construir uma equipa que nos faz acreditar na magia do futebol, onde tudo é possível, mesmo que isso implique que o pequeno e bravo David vença vezes sem conta o gigante endinheirado Golias, que teima em castrar a essência do desporto rei.

Foto de Capa: Página do VK Arsenal Tula

Quem vai à guerra dá e leva…

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Os cerca de 25 meses de Bruno de Carvalho à frente da direcção do Sporting têm sido pautados por um enorme trabalho para reerguer um clube que estava perto da falência, pelo regresso às vitórias em históricas modalidades do clube, dentro e fora de portas, e por duas épocas razoáveis no que ao futebol diz respeito.

O clube sofreu uma reestruturação financeira que já mereceu rasgados elogios, passando de um passivo de 35 milhões de euros – e um inacreditável sétimo lugar – para dois anos de saldo positivo e garantindo lugar na Liga dos Campeões. Nenhum destes pontos positivos pode ser apenas imputável ao presidente leonino, mas foi o próprio juntamente com uma equipa competente e que conseguiu tirar o Sporting de uma situação potencialmente perigosa.

Quando capaz, finja ser incapaz; quando pronto, finja estar despreparado; quando próximo, finja estar longe; quando longe, façam acreditar que está próximo. – Sun Tzu

Na minha opinião, o problema de Bruno de Carvalho é um conflito entre o seu amor ao clube e a paixão de um adepto comum com décadas a viver o clube como um “mero” Sportinguista e as exigências que um dirigente máximo de um clube desta dimensão necessita ter. A personalidade quezilenta mas com rigorosos valores morais tem vindo a criar episódios menos condignos e frissons que poderiam, de quando em vez, ser evitáveis. Mas nem todos esses episódios prejudicaram o clube, como poderei explicar a seguir.

A primeira batalha do actual presidente foi frente aos seus dois rivais. Algo necessário, uma vez que o Sporting foi posto, fruto de anos de má gestão e de apatia presidencial, para um plano secundário do panaroma futebolístico. Bruno de Carvalho veio trazer o nome do clube de Alvalade a ser falado diariamente na imprensa e veio exigir o respeito que o Sporting merece ter.

Soares Franco, Bettencourt, “Nobre” Guedes, Pereira Cristóvão, Carlos Freitas, Ribeiro Telles, Godinho Lopes são apenas alguns dos nomes mais visíveis de uma corja que esteve durante décadas a destruir o que levou um século a criar. Bruno de Carvalho veio rasgar com esse passado infame e merece todo o respeito por isso. A maior vitória dos Sportinguistas foi a saída dos dirigentes que entendiam que o Sporting era gerido com charutos e copos de Malte. E é um dos meus desejos que todos os erros e destruição do património do clube por parte destes “senhores” tenham o respectivo castigo, algo que o actual dirigente máximo irá cumprir.

Triunfam aqueles que sabem quando lutar e quando esperar. – Sun Tzu

No Verão do ano passado, a transferência de Marcos Rojo para Manchester fez correr muita tinta, uma vez que o Sporting negou à Doyen Sports um valor de aproximadamente 15 milhões de euros que supostamente lhes era devido, optando por apenas ressarcir o investimento desse fundo no jogador, pagando uma verba de 3 milhões. A acção dos dirigentes leoninos pode ter várias interpretações e não consigo prever se no futuro o Sporting não poderá ter problemas devido a estas mesmas atitudes, mas nada pode ser apontado nesta luta que o clube tem vindo a travar frente a estas empresas que têm vindo a explorar clubes e a criar redes que nas sombras gerem muito do dinheiro envolvido no futebol nacional. Esta luta de Bruno de Carvalho deverá ser a luta de todos os Sportinguistas e de todos aqueles que gostam de um futebol puro e sem influências externas.

Estes três desafios supracitados mostram a tenacidade da direcção leonina, a luta por um ideal em que todos partem em igualdade e com as mesmas armas, e são alguns dos motivos pelos quais eu gosto de Bruno de Carvalho e me revejo na grande maioria das suas atitudes.

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A renovação com as promessas leoninas tem sido um dos grandes objectivos da direcção leonina
Fonte: Página de Facebook do Sporting

O verdadeiro objetivo da guerra é a paz. – Sun Tzu

Mas como não há bela sem senão, há questões em que não consigo perceber o ponto de vista do jovem presidente do meu clube. Creio que algumas situações poderiam ter sido evitadas, com um maior controlo de discurso e menor exposição pública. A situação gerada em Dezembro sobre a permanência de Marco Silva poderia e deveria ter sido gerida de uma forma mais comedida, evitando cisões dentro da estrutura e tirando alguma tranquilidade ao balneário. É certo que não sabemos toda a extensão do caso e da inocência do técnico português em todo o processo, mas o término do contrato com Marco Silva faria com que o clube partisse para mais uma época com um treinador novo, com novas ideias e jogo, algo que não será positivo, com o factor agravante de o Sporting ter que disputar uma eliminatória da Liga dos Campeões em meados de Agosto.

Pior ainda é saber que todos os nomes veiculados na comunicação social são manifestamente inferiores ao do actual técnico do Sporting, e que a direcção arrisca assim que a próxima época seja mais uma em que o crescimento se fará aprendendo com os erros cometidos.

A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar. – Sun Tzu

Bruno de Carvalho está no seu lugar de sonho, algo que desejava desde a sua infância e onde tem potencial para ser um dos futuros ícones da história verde e branca, para tal precisa apenas de crescer com os problemas que enfrenta, e tentar minimizar os riscos que a sua própria personalidade cria.

Foto de capa: Página de Facebook  do Sporting Clube de Portugal

LeBron James manda mais do que o treinador

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cab nbaA eliminatória entre os Cleveland Cavaliers e os Chicago Bulls, meia-final da Eastern Conference da NBA, está decidida: num confronto equilibrado, a exemplo do que se passa em todos os outros confrontos nas duas Conferências, os Cleveland superiorizaram-se a Chicago no jogo 6 e LeBron James garantiu presença na quinta final de conferência consecutiva.

Mas é do jogo 4 que vos venho falar: decidido nos últimos segundos, teve um acumular de erros dos jogadores e treinador decisivos no desfecho da partida. Protagonistas, Lebron James e David Blatt – com as suas opções, relançaram os Cleveland na prova. A 9,4 segundos do final, Derrick Rose (Bulls) empatou o jogo a 84 pontos e imediatamente o Coach Blatt entrou pelo campo a fazer o sinal de desconto de tempo. Valeu-lhe a intervenção do seu adjunto, Tyronn Lue, que o empurrou para fora do campo, impedindo assim que os árbitros vissem o gesto. Os Cleveland já não podiam pedir mais descontos de tempo, os árbitros sabiam que nenhuma das equipas tinha mais descontos de tempo e estavam focados no campo. Se estivessem mais atentos, os Cavs seriam punidos com uma falta técnica de que resultaria um lance livre, a posse de bola para os Bulls e uma mais que provável derrota.

“Obviamente todos sabíamos que já não tínhamos mais descontos de tempo e que se o fizéssemos seríamos penalizados. Mas somos uma equipa, os jogadores cometem erros e os treinadores também, por isso temos de nos ajudar uns aos outros. O Lue fez bem em esconder o nosso treinador. Eu faço o mesmo no campo”, disse LeBron James.

Na jogada final, reposição da bola na linha final ofensiva, os Cavs realizaram com sucesso uma jogada muito simples: o base Matthew Dellavedov repôs a bola, James fintou, ganhou espaço, recebeu e lançou com sucesso no canto.

Blatt, quando questionado sobre a última jogada, disse: “Sim, nós queríamos que James recebesse no canto. Foi uma grande jogada“.

Opinião diferente tinha LeBron James: “Para ser honesto eu risquei a jogada que o treinador desenhou e disse para me passarem a bola. É simples, ou ganhamos ou vamos a prolongamento. Eu não reponho a bola, a menos que possa lançar fora do campo. Coloquem alguém a repor, passem-me a bola e saiam da frente.”

A opção de Blatt de colocar o melhor lançador a repor a bola para posteriormente lançar não é nova, tem lógica e tem resultado muitas vezes. “Ele é grande e é o melhor passador da equipa“, explicou o técnico, que tem sido muito criticado mas não se considera incompetente e encontra explicações para as divergências: “errei, mas um treinador tem de tomar entre 150 a 200 decisões críticas no jogo. Felizmente acabou tudo bem.”

A decisão de LeBron foi a melhor. Ele sabia como estava a ser defendido e para onde queria a bola. Depois de receber marcou um grande cesto. Algumas vezes temos de seguir com os jogadores porque acreditamos neles.

Quem manda na equipa; a estrela ou o jogador? Fonte: Tony Dejak/AP
Quem manda na equipa; a estrela ou o jogador?
Fonte: Tony Dejak/AP

“Só se me pagarem mais um dólar”

Para quem tem seguido a época dos Cavs, estas atitudes não surpreendem. Ao longo do campeonato LeBron tem estado constantemente em oposição ao treinador, marcando claramente a sua posição de líder da equipa de forma independente e contrariando sistematicamente as opções do treinador.

Os exemplos dos desencontros são mais que muitos:

• LeBron e Blatt só se reuniram seis semanas após assinarem contrato;

• A equipa abandonou o ataque “Princeton”, que Blatt queria instalar no início da época. Agora LeBron chama as jogadas e o treinador avisa o resto da equipa.

• Com dois meses decorridos, LeBron decidiu que iria jogar a base (“point guard”). Quando lhe perguntaram se Blat sabia da alteração, disse “Não, eu é que decido.”

• No primeiro treino da época, LeBron parou o mesmo e promoveu uma reunião de 30 minutos, onde disse o que esperava de todos os companheiros…

• Depois de terem perdido com os Knicks, Blatt criticou a equipa pela forma como tinham jogado. Uns dias depois, LeBron disse: “eu acho que a conversa é estimulante mas é exagerada.”

• No terceiro jogo da época, LeBron, a dada altura, desistiu de jogar e desinteressou-se do jogo contra os Portland Trail Blazers. Depois dele, os comentadores disseram que ele tinha feito de propósito para dar uma lição aos colegas.

• Em Janeiro, o treinador adjunto Tyronn Lue pediu descontos de tempo nas costas de Blatt, e os jogadores só olhavam para ele…

 

LeBron não tem boa opinião de Blatt, que considera um treinador rookie, o que desagrada bastante o técnico que durante muitos anos foi figura destacada na Europa.

”A minha equipa respeita-me e entende as minhas decisões. A minha relação com o treinador tem altos e baixos, estamos a aprender a viver em conjunto”.

Será Blatt o treinador ideal para James? A dúvida só será desfeita no final. Uma coisa é certa: a vida de treinador na NBA não é fácil e razão tinha o mítico treinador Boby Knight, que quando era convidado para a NBA respondia sempre: “só treino se me pagarem mais um dólar do que o ordenado do jogador mais bem pago da equipa”…

Foto de Capa: sportal.com.au/nba