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Recordar é Viver: Benfica vs FC Porto

recordar é viver

Hoje é dia de clássico, o jogo mais explosivo do futebol português, neste caso o jogo do título. Num Estádio da Luz que se prevê completamente lotado, os dois grandes rivais enfrentar-se-ão numa partida que poderá muito bem ser decisiva para as contas deste campeonato. Portanto, temos tudo para assistir a mais um desafio inesquecível entre duas equipas, desafio esse que se juntará à galeria dos muitos e muitos clássicos que ainda hoje permanecem na história do futebol português.

Seleccionei três partidas entre Benfica e FC Porto, sendo que todas elas terminaram com resultados diferentes, tendo como ponto comum o facto de terem contribuído de uma forma decisiva para o desfecho de cada campeonato.

Benfica 2-3 FC Porto: Época 1991/92

Resumo do Jogo

Temporada 1991/92, 28.ª jornada, 90 mil espectadores no antigo Estádio da Luz. Fantástica tarde para a prática do futebol e por isso mesmo ambiente efervescente nas bancadas. Cerca de 30 mil (!) adeptos do FC Porto fizeram questão de comparecer na Luz para dar o decisivo impulso à equipa orientada por Carlos Alberto Silva. Os “dragões” eram líderes isolados da prova e viam ao fundo do túnel a hipótese de reconquistar o campeonato ao Benfica, campeão nacional na altura, e que tinha como técnico um tal de Sven-Goran Eriksson, então na sua última época ao serviço dos “encarnados”. Mas já se notava claramente uma mudança de paradigma no futebol nacional. O FC Porto estava cada vez mais forte e ia aproveitando uma progressiva quebra dos rivais lisboetas, apesar de o Benfica ainda contar na altura com grandes plantéis.

Quanto ao jogo em si, um soberbo espectáculo de futebol. Golos, jogadas de perigo, emoção, casos, futebol total entre duas equipas de grande nível. O desafio era mais importante para um Benfica que se perdesse praticamente diria adeus à luta pelo título. A iniciativa de jogo pertenceu quase sempre às “águias”, mas as investidas do Benfica iam quase sempre esbarrando na seguríssima defesa do FC Porto, que era um dos grandes apanágios de Carlos Alberto Silva. À medida que o tempo passava o Benfica perdia fulgor, expondo-se cada vez mais ao letal contra-ataque do rival. Por isso mesmo, não espantou que os azuis-e-brancos de adiantassem no marcador por intermédio de João Pinto, através de uma grande penalidade, depois de uma falta cometida por Rui Bento que lhe implicou a expulsão.

A partir daí o desafio entrou numa fase louca, com golos para ambas as equipas. William empatou a contenda para o conjunto da casa, para de seguida Kostadinov restabelecer a vantagem azul-e-branca. Mas no minuto seguinte o Benfica voltou a empatar na sequência de um golo de Yuran, até que à beira do apito final (e numa altura em que o FC Porto também estava reduzido a 10 unidades, devido à expulsão de Jaime Magalhães), Timofte estabelecia o resultado final, colocando assim a sua equipa na rota do título. Quanto ao Benfica, a época ficava praticamente perdida e Eriksson já se preparava para regressar ao futebol italiano, onde continuaria a ser muito feliz.

Benfica 0-0 FC Porto: Época 1992/93

Resumo do Jogo

Uma época depois e cenário idêntico. O Benfica recebia um FC Porto que se encontrava na primeira posição e que procurava pontuar na Luz para ficar mais perto do bicampeonato nacional. Na segunda temporada de Carlos Alberto Silva no comando dos “dragões”, o FC Porto mantinha a espinha-dorsal da sua equipa, num misto de juventude (Vítor Baía, Fernando Couto, Jorge Couto, Domingos) com jogadores consagrados e mais experientes (André, Aloísio, Jaime Magalhães, Kostadinov). Pela frente tinha um Benfica dotado de um plantel assombroso (Hélder, Mozer, Veloso, Schwarz, Paulo Sousa, Kulkov, Pacheco, João Pinto, Isaías, Rui Costa, Vítor Paneira Rui Águas) e…Paulo Futre, o melhor jogador português da altura. Mas por mais estranho que possa parecer o Benfica tinha mais um campeonato em risco.

Toni era o treinador da equipa desde a 10.ª jornada, substituindo um Tomislav Ivic que teve uma primeira fase de campeonato paupérrimo. A 1.ª volta foi fraca, mas com a 2.ª metade da prova vieram as boas exibições e o futebol que se exigia a tão bom lote de jogadores começou a aparecer. Assim sendo, era com enorme expectativa que se antevia o “jogo do título” na Luz. Com um ambiente extraordinário nas bancadas, a partida decepcionou imenso. O Benfica raramente conseguiu construir grandes ocasiões de golo, ao passo que o FC Porto conseguiu gerir o jogo quase a seu bel-prazer, pese embora tenha passado por um outro susto. Encarando o jogo de uma forma extremamente pragmática, bem ao estilo de Carlos Alberto Silva, a equipa portuense saía da Luz com o mesmo avanço pontual sobre o Benfica, o que viria a revelar-se precioso para a conquista do bicampeonato.

Por seu turno, os comandados de Toni terminariam o campeonato no 2.º lugar, claramente uma desilusão para quem tanto tinha apostado para aquela temporada. Do mal o menos, o Benfica acabou por conquistar a Taça de Portugal daquele ano, mas já eram evidentes várias convulsões internas no clube e que teriam repercussões muito grave passados poucos anos.

Benfica 2-0 FC Porto: Época 1993/94

Resumo do Jogo

Estávamos no dia 6 de Fevereiro de 1994, 18.ª jornada do campeonato nacional. O Benfica, orientado por Toni, defrontava o FC Porto que estreava no banco, em partidas a contar para o campeonato, Bobby Robson. O treinador croata, Tomislav Ivic, voltava a ser o réu e depois de uma má 1.ª volta saía do clube das Antas sem deixar saudades. O Benfica era o líder da prova com uma vantagem de quatro pontos sobre o rival (a vitória valia dois pontos) e por isso mesmo havia a consciência de que uma vitória benfiquista significaria o adeus ao título por banda do FC Porto.

No Verão de 1993 o Benfica havia sofrido uma razia em termos de saídas. Foi o célebre “Verão Quente” em que Paulo Sousa e Pacheco trocaram a Luz por Alvalade alegando salários em atraso, sendo que João Pinto também esteve a um pequeníssimo passo de seguir o mesmo caminho. Paulo Futre também já não morava na Luz, após ter saído para o Marselha, mas mesmo assim os “encarnados” aguentaram o choque e de uma forma surpreendente foram somando pontos, instalando-se no primeiro posto da tabela. Já o FC Porto mantinha a mesma estrutura da época anterior, mas com o Ivic o futebol praticado nunca convenceu, situação que se traduziu em vários desaires. Com Bobby Robson ao leme dos então campeões nacionais, a qualidade de jogo ira melhorar bastante e iriam ser criadas as bases para um ciclo dourado no clube.

Todavia, e em relação ao clássico na Luz, o Benfica triunfou sem grande discussão. Uma vitória por 2-0 em noite chuvosa alicerçada numa boa exibição das “águias” que jogaram com mais uma unidade em campo a partir dos 40 minutos de jogo, após expulsão de Fernando Couto com vermelho  directo, na sequência de uma agressão a Mozer, num lance que motivou uma célebre declaração de Robson na conferência de imprensa pós-jogo, afirmando que o resultado tinha sido de “Benfica 2-0  Fernando Couto”. Com golos de Ailton e de Rui Costa, o Benfica consolidava o primeiro lugar e praticamente arredava o FC Porto da luta pelo título, mesmo ainda faltando muito campeonato.

E a verdade é que a equipa da Luz sagrar-se-ia mesmo campeão nacional, para depois entrar numa espiral de más temporadas que conduziriam o clube a um período muito delicado da sua história. Por seu turno, o FC Porto venceria a Taça de Portugal dessa temporada, para depois…iniciar o trilho do pentacampeonato.

O novo “príncipe” do Mónaco

cab ligue 1 liga francesa

Bernardo Silva, que no início desta época foi emprestado ao Mónaco pelo Benfica e posteriormente adquirido a título definitivo pelos monegascos, a troco de 15,75M€, tem estado em pleno destaque na equipa de Leonardo Jardim, aumentando a cada dia que passa a sua relevância e estatuto, somando minutos e adquirindo inclusive, na maioria das partidas, um lugar no onze predileto do treinador português. Muitos duvidavam de que conseguisse singrar ao mais alto nível na Europa em tão tenra idade e sem qualquer tipo de experiência em ligas principais, porém Bernardo tem demonstrado precisamente o contrário. Os elogios ecoam na imprensa francesa e internacional e os milhões gastos pelo clube no “novo príncipe do Mónaco” estão a revelar-se bem produtivos para as hostes do principado.

O jovem português, de 20 anos, não começou a temporada como indiscutível nas escolhas de Jardim, com os franceses a verem-no como uma aposta para o futuro e não tanto para o presente. Porém, as suas excelentes exibições, pautadas por momentos de brilhantismo e irreverência, provaram o potencial que lhe era atribuído e fizeram-no conquistar o seu espaço no emblema monegasco, mesmo que não seja na sua posição natural. Isto porque o estilo de jogo de Bernardo Silva é, claramente, o de um “10” puro – com uma tremenda visão de jogo, criação de oportunidades ofensivas, excelente qualidade de passe e uma capacidade técnica que a muitos deixa inveja -, posição que raramente se perfila no futebol dos tempos modernos, o que faz o treinador madeirense apostar em variadas ocasiões no luso a jogar pelo corredor direito, trabalhando como extremo/médio-interior. Este tipo de função leva o esquerdino, que não prima por uma constante ida à linha de fundo para cruzar, a pisar zonas mais interiores do terreno, nas suas características acelerações com bola, a que alia uma finalização, de certo modo, produtiva para um médio, contando, de momento, seis golos na Ligue 1.

O jovem português já leva 6 golos na Ligue 1 Fonte: Facebook de Bernardo Silva
O jovem português já leva 6 golos na Ligue 1
Fonte: Facebook de Bernardo Silva

Certamente, também tem ainda que melhorar determinados aspetos do seu jogo, primordialmente no foco defensivo, no qual revela, talvez fruto da inexperiência, algumas falhas evidentes, que necessita de trabalhar de modo a que possa tornar-se num jogador completo e consiga acompanhar os demais craques do futuro no panorama futebolístico. Para se tornar num jogador de topo mundial, Bernardo tem que conseguir juntar o equilíbrio defensivo à sua capacidade de criação de jogo e de desequilíbrio ofensivo.

Recentemente, frente à Juventus, na segunda mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões, atingiu mais um feito na sua ainda curta carreira, no culminar de uma época que está a revelar-se absolutamente fantástica e surpreendente. Somou o primeiro jogo como titular na liga milionária e coroou-o como uma exibição bem positiva, apesar do empate no jogo (0-0) e da consequente eliminação dos monegascos face ao resultado negativo (0-1) adquirido na primeira mão da eliminatória, em Itália.

A próxima meta para o ex-Benfica passa pela seleção portuguesa, na qual já fez notar a sua presença em tempos recentes, num compromisso amigável com Cabo Verde, tendo sido um dos poucos jogadores lusos a evidenciar sinais positivos no encontro e o que esteve mais em destaque. Todavia, acredito que, com o atual sistema implementado por Fernando Santos na equipa das quinas, Bernardo pode ser incluído na disputa por um lugar no onze inicial, atuando numa posição de médio interior, algo similar ao que Fábio Coentrão fez no jogo contra a Sérvia, baixando, assim, o jogador do Real Madrid para o lugar onde atualmente rende mais, o de lateral-esquerdo. O médio do Mónaco assume-se como um dos pretendentes a este lugar, primordialmente pelo rendimento que tem vindo a demonstrar ao longo da presente temporada e à lacuna de atletas em boa forma e rendimento na nossa seleção.

Muito se criticou Jorge Jesus e Luís Filipe Vieira por deixarem fugir do emblema “encarnado” esta jovem promessa do futebol português, mas já não é tempo para isso. Agora, há que desfrutar do seu talento nato com bola e vê-lo em ação ao mais alto nível. Com 20 anos, Bernardo Silva promete não parar por aqui e, se trabalhar bem o potencial que ainda tem por explorar, será um dos craques do futuro, não só de Portugal, como também em termos internacionais. E quem sabe, se continuar a exibir-se a este nível, daqui a pouco tempo até o poderemos ver a dar outro passo na sua carreira, rumo a um emblema com maiores aspirações que o Mónaco.

Foto de Capa: Facebook de Bernardo Silva 

Académica 1-2 Gil Vicente: A sorte merece-se

futebol nacional cabeçalho

Na conferência de imprensa de antevisão a este encontro, José Mota afirmou que a sua equipa ainda não tinha beneficiado de erros de arbitragem. Na antevisão do próximo encontro, contra o Benfica, poderá voltar a queixar-se do mesmo, porém, não terá tanta legitimidade para tal, pois os dois golos marcados pelo Gil Vicente foram conseguidos através de duas grandes penalidades, a última bastante duvidosa.

Sorte? Talvez (José Mota admitiu-a na conferência de imprensa). Mas esta, diz a sabedoria popular, protege os audazes e o Gil Vicente procurou a sorte que teve e os três pontos que traz de Coimbra não têm ponta de injustiça. A formação de Barcelos foi sempre a mais inconformada, aquela que mais quis vencer a partida e que mais bola teve no meio campo contrário (os números apontam para 58-42 a favor da Académica, mas a maior parte desta posse foi tida no seu meio-campo). Entrou pujante, com o lado esquerdo do ataque em particular destaque, beneficiando da envolvência da Ruben Ribeiro com o mesmo, ajudando Yazalde a ser o principal desequilibrador do ataque gilista.

O golo da Académica surgiu, portanto, contra a corrente do encontro, através de uma grande penalidade (duvidosa) cometida por Berger (de regresso a Coimbra para disputar um jogo com “significado especial”, segundo o mesmo em declarações na conferência de imprensa) sobre Rafael Lopes e convertida por Rui Pedro.

Estar em desvantagem no marcador não diminuiu a vontade do Gil Vicente. Nem isso, nem o facto de jogar fora de portas, nem a posição que ocupa ou o facto de o terreno sobre o qual jogava estar muito molhado. A equipa gilista continuou a carregar sobre a Académica e viu-se recompensada. Evaldo viu-se em posição privilegiada, “patrocinada” pela passividade da defensiva da Académica e isolou-se perante Cristiano, que, ao ver o brasileiro fugir para o golo, não teve outra opção senão cometer grande penalidade (o guardião da Briosa viu, no nosso entender erradamente – deveria ter sido expulso -, o cartão amarelo, falhando o próximo compromisso). Ruben Ribeiro, da marca dos onze metros, não falhou.

O jogo acabou para a Académica quando Ivanildo foi expulso Fonte: Facebook da Académica de Coimbra
O jogo acabou para a Académica quando Ivanildo foi expulso
Fonte: Facebook da Académica de Coimbra

A Académica mostrou um esboço de reacção depois do golo do Gil Vicente, mas só durou até ao intervalo. Na segunda parte, a prioridade passou a ser a contenção, e isso foi conseguido durante algum tempo, pois não houve grandes situações de perigo dos de Barcelos e menos bola no meio-campo dos estudantes, porém, à medida que a segunda parte ia passando, ia aumentando a vontade do Gil de sair de Coimbra com os três pontos e Yazalde voltou a ser determinante neste capítulo, trazendo consigo a equipa, aproveitando um lado direito estranhamente descompensado.

Não havia resultados do esforço gilista, no que a oportunidades de perigo diz respeito, mas a recompensa surgiu com uma grande penalidade (muito duvidosa) cometida por Oualembo sobre Avto. Cadu não falhou.

Ivanildo tentou inverter a tendência, mas, apesar de Rafael Lopes e Rui Pedro estarem entrosados com o guineense, este parecia sozinho na batalha de garantir, já, a presença na próxima edição da Liga Nos e, claro, foi insuficiente. Frustrado, e, depois de criar um lance perigoso na área do Gil Vicente, reclamou grande penalidade. Artur Soares Dias assim não entendeu e expulsou-o, aparentemente, por protestos. Acabava aí (minuto 80) o jogo para a Académica.

A Figura

Ruben Ribeiro: Não vacilou da marca dos onze metros, e ajudou muito a sua equipa a garantir uma vitória importantíssima. Foi fundamental na construção ofensiva, enconstando-se ao lado esquerdo do ataque, ocupado por Yazalde, o mais produtivo. Também teve um papel importante a defender e a garantir supermacia a meio-campo.

O Fora de jogo

Artur Soares Dias: Três grandes penalidades assinaladas (Viterbo e José Mota estiveram de acordo sobre a legitimidade das mesmas – “foram bem marcadas”). Duas delas foram muito duvidosas (a primeira e a última), na outra cometeu o grave erro de não expulsar o guarda-redes da Académica.

Erros com influência no resultado – foi volumoso para as oportunidades que exisitiram.

Caso do jogo

Segundo Penálti marcado a favor do Gil Vicente (65 minutos): Avto domina a bola, flete para um dos lados e cai perante um eventual contacto de Oualmebo. A existir, terá sido muito leve e provavelmente insuficiente para fazer cair o avançado gilista. Deu origem ao 2-1 que sentenciou o encontro.

Foto de capa: Facebook da Académica de Coimbra

Onde estava o Sporting no 25 de Abril?

cab reportagem bola na rede

Lisboa, 10 de Abril de 1974. O Sporting está nas meias-finais da Taça das Taças e recebe o Magdeburgo, da República Democrática Alemã (RDA), vulgo Alemanha Oriental. Três dias antes os leões tinham batido o V. Setúbal em Alvalade por 4-2 e carimbado o acesso aos oitavos-de-final da Taça, mas entretanto o goleador Héctor Yazalde, que já ia com 41 golos apontados só no campeonato (acabaria com 46, recorde absoluto em Portugal), lesionou-se e falhou o jogo europeu. Sem o seu artilheiro, o Sporting sofreu um golo e mostrou algumas dificuldades em concretizar. Só o cabeceamento certeiro de Manaca, a 15 minutos do fim, impediu que o clube de Alvalade fosse à RDA em desvantagem. De qualquer forma, o empate 1-1 já não augurava nada de bom.

No entanto, apesar deste resultado, a época desportiva do Sporting ia de vento em popa: 1º lugar no campeonato (que nem a derrota por 3-5 em Alvalade com o Benfica modificou), boa campanha na Taça e presença numas meias-finais europeias, ainda com a perspectiva de chegar à final. A situação política do país, contudo, era mais turbulenta. No dia 16 de Março, alguns militares promoveram uma tentativa falhada de golpe de Estado, que ficou conhecida como Intentona das Caldas. O regime de Marcello Caetano estava em alerta constante mas, ao mesmo tempo, confiante de que os militares revoltosos tão cedo não tentariam outra operação do género devido ao fracasso recente.

Foi neste ambiente tenso e indefinido, aliás, que se viveu o Sporting-Benfica a que já aludimos, disputado a 31 de Março. Depois do golpe frustrado, Marcello Caetano achou necessário “medir o pulso” ao povo que governava. Nada melhor do que o futebol e, concretamente, o maior derby de Portugal, para testar a sua popularidade junto das massas e mostrar aos revoltosos que o povo estava com ele. E qual foi a reacção dos adeptos quando viram que o Presidente do Conselho, a menos de um mês de deixar de o ser, assomou à tribuna acompanhado de João Rocha e Borges Coutinho, presidentes dos dois maiores clubes de Lisboa? Viraram-se na direcção da bancada presidencial, bateram palmas e aclamaram o sucessor de Salazar. Pode por isso dizer-se que foi no Estádio José Alvalade que teve lugar a última grande vitória do antigo regime.

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Magdeburgo-Sporting: os leões perderam 2-1 na RDA a 24 de Abril de 1974. A viagem de regresso foi atribulada
Fonte: sporting.footballhome.net

Nas palavras de Otelo Saraiva de Carvalho, um dos oficiais que comandaram a Revolução de Abril: “Pensei com os meus botões, «caraças pá! Então estamos nós aqui a trabalhar convencidos de que vamos ter um intenso apoio popular que vai derrubar o governo, e o Marcello tem uma ovação destas». Ficámos preocupados (…). Mais tarde chegámos à conclusão de que aquilo foi só fogo de vista. A malta que lhe bateu palmas naquele dia era capaz de lhe cuspir em cima no dia seguinte”. E a Intentona das Caldas, que tinha ocorrido semanas antes e por sinal coincidiu com o dia do jogo entre leões e dragões? Palavra de João Rocha: “na manhã do jogo vinham os tipos das Caldas, e disse aos responsáveis do Exército que não se fazia uma revolução num dia de Sporting-Porto.

Voltando ao percurso leonino na Taça das Taças de 1973/74, importa dizer que Yazalde continuava lesionado e não seguiu viagem para a RDA, onde a 24 de Abril se jogaria o acesso à final. Os leões, treinados por Mário Lino, entraram mal e aos 10 minutos já perdiam por 2-0. A 12 minutos do fim, Marinho reduziu e devolveu a esperança ao Sporting, mas Tomé falhou à boca da baliza o golo tão ansiado. Desta forma, o Sporting terminava a sua caminhada europeia às portas da final, onde os alemães venceriam o Milan por 2-0. Mas o último apito do árbitro foi apenas o início de uma verdadeira odisseia, uma vez que, em Portugal, faltavam poucas horas para a queda do regime de Marcello Caetano – o mesmo que tinha sido ovacionado semanas antes num Sporting-Benfica.

Com viagem marcada para o dia 25, a comitiva leonina acordou às 4h30 da manhã, pouco mais de quatro horas depois de Grândola, Vila Morena, de José Afonso, ter passado na Rádio Renascença, anunciando dessa forma aos militares que a Revolução estava em marcha. A equipa do Sporting soube do golpe de Estado ainda na RDA, quando chegou ao posto fronteiriço para entrar em Berlim Ocidental (enclave situado em plena RDA mas pertencente à República Federal Alemã, RFA). “Houve uma revolução em Lisboa e está a alastrar por todo o país”, era o que diziam os funcionários do posto. De Berlim voaram para Frankfurt, onde constataram que todos os voos para a capital portuguesa tinham sido cancelados. Foi, portanto, necessário recorrer a um plano B para levar a comitiva de volta a casa.

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A viagem de regresso não se chegou a realizar como previsto – o 25 de Abril mudou tudo
Fonte: caisdoolhar.blogspot.pt

Para a equipa do Sporting era uma incógnita o que se passava no país, e chegou a haver momentos de tensão quando surgiu o rumor de que havia milhares de mortos e feridos. A preocupação, no entanto, esbateu-se por momentos quando um dos acompanhantes da comitiva, ao ouvir esses relatos, teve a presença de espírito e o sentido de humor suficientes para atirar um “porra… e eu que deixei o carro na Baixa”. João Rocha conseguiu contornar o problema marcando à última hora um voo para Madrid, de onde todos partiriam depois de autocarro até Badajoz. Mas como, devido à situação política, as fronteiras portuguesas estavam fechadas, a comitiva teve de esperar cerca de 40 horas em território espanhol. A esta contrariedade acresceu o facto de os hotéis de Badajoz estarem sobrelotados, pelo que alguns jogadores tiveram de dormir no autocarro. A situação só se resolveu quando João Rocha conseguiu contactar com oficiais do Movimento das Forças Armadas – alguns relatos mencionam mesmo o próprio general Spínola – que permitiram à equipa do Sporting rumar finalmente a Lisboa, já na manhã do dia 26. Era o fim da odisseia. Nas palavras do luso-brasileiro Joaquim Rocha, à época jogador leonino, “uma viagem destas não vem na Bíblia!”.

Portugal entrava, assim, num período revolucionário que foi conhecendo momentos de maior ou menor fulgor, mas que só teve fim a 25 de Novembro de 1975, mais de um ano e meio depois. O Sporting, por seu turno, acabou a época em grande, vencendo os três jogos que faltavam até ao fim do campeonato e conquistando ainda a Taça de Portugal, frente ao Benfica. Os leões fizeram a dobradinha e tornaram-se no primeiro clube português a vencer uma competição em liberdade – ou, neste caso, duas – provando que não se deixaram afectar nem pela eliminação europeia nem pela odisseia germano-espanhola. A época de 1973/74 foi, portanto, recheada de acontecimentos para o emblema verde-e-branco, incluindo esse dia de fins de Abril em que, sem o saberem, jogadores e dirigentes deixaram eternamente para trás um Portugal ditatorial, regressando depois a um país em mudança e onde tudo parecia possível.

 

Foto de capa: sporting.footballhome.net

Fontes consultadas:

– Almanaque do Sporting

– Estórias de Alvalade

– 50 Anos a Rugir na Europa

– depoimento gentilmente cedido pelo ex-jogador do Sporting Fernando Tomé, que viveu os factos aqui relatados, e a quem agradeço

Um fim de semana à Sporting

porta

A génese do Sporting é o seu Ecletismo, e sempre será assim. Ao longo dos últimos anos, tem havido um certo afastamento de grande parte dos Sportinguistas das modalidades praticadas fora do Estádio José Alvalade.

Este afastamento deve-se à inexistência dum pavilhão no projecto arquitectado por Tomás Taveira; escolhido por uma direcção que pouco conhecimento deveria ter sobre o ADN do Sporting Clube de Portugal, que é sem qualquer dúvida a maior potência desportiva nacional. Alguns desportos históricos do clube, como por exemplo o hóquei em patins, viveram um longo desterro longe da “casa-mãe”, algo que finalmente está prestes a terminar, e ainda bem.

Este fim de semana, o Sporting discute duas finais europeias, uma em hóquei em patins  e outra em futsal, onde jogamos em “casa”. 20 anos depois, o hóquei volta à ribalta europeia, onde os leões irão discutir a conquista da Taça CERS. Algo que demonstra o excelente trabalho realizado por todo o departamento da modalidade, uma vez que há apenas dois anos o Sporting estava a disputar as divisões secundárias nacionais. Assim, esta qualificação para a final-four – à qual se junta a qualificação para a final-four da Taça de Portugal – já é uma pequena vitória e a afirmação que o Sporting está de novo num lugar de destaque nacional nesta modalidade.

Este pode ser um fim de semana histórico para os leões Fonte: Sporting Clube de Portugal
Este pode ser um fim de semana histórico para os leões
Fonte: Sporting Clube de Portugal

No que ao futsal diz respeito, as esperanças estão – e têm que estar – mais elevadas; o terceiro lugar na final regular do campeonato soube manifestamente a pouco. A uma equipa que é bicampeã em título exigia-se mais em algumas partidas realizadas nos últimos tempos. A meu ver, esta baixa de forma tem que ver com o apostar forte nesta UEFA Futsal Cup, e após duas derrotas em 2011 e 2012, este ano o Sporting quer mesmo vencer o troféu.

A ausência de Paulinho poderá ser um contratempo para a estratégia de Nuno Dias; o internacional português é um jogador explosivo, bastante desequilibrador nas alas e importante nas bolas paradas. Contudo, o Sporting tem este ano uma vantagem que não possuiu nas últimas duas edições, o factor casa. Com os bilhetes já virtualmente esgotados, os leões irão ter mais de dez mil Sportinguistas a torcer por eles nas bancadas do MEO Arena, um tónico que certamente irá trazer motivação adicional aos jogadores.

O sorteio não foi o desejado, com a equipa verde e branca a disputar a meia final frente aos grandes favoritos, o FC Barcelona. Mas para ser o melhor temos que ganhar aos melhores, e este ano é o do agora ou nunca. Creio que vencendo o jogo de hoje garante ao Sporting a possibilidade de sonhar bem alto com a conquista do troféu, e que vontade tenho eu de ver João Benedito com as mãos bem alto a mostrar a Taça!

Este fim de semana, respiro Sportinguismo.

Foto de Capa: Sporting Clube de Portugal

Jogadores que Admiro #36 – Alan Shearer

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Lá em casa, além de ao habitual futebol português, assistia-se assiduamente à Premier League. E na altura em que também o meu Sporting dava cartas, com José Peseiro no leme, havia uma equipa inglesa que me enchia as medidas. Uma daquelas equipas que nunca ganharam nada, nem sequer lá chegaram perto, mas cujo plantel me fazia acreditar que talvez esse dia chegasse. O Newcastle.

Sim, eu sei. O Newcastle? Mas, no ano de 2004, os geordies contavam com uma estrela, um senhor, um capitão, que ainda hoje é um dos jogadores dos quais guardo as memórias mais bonitas. Alan Shearer, inglês, avançado. Shearer nunca alcançou a glória; preferiu ficar no clube de sempre, o clube da cidade onde nasceu, do que voar para Itália ou Espanha. Mas nesse norte de Inglaterra que o viu crescer ele é a lenda viva que ainda perdura.

Shearer tinha um estilo peculiar, incomodativo. Saltava com os cotovelos certeiros (aquilo a que chamamos hoje “saltar à Bruno Alves”), usava o corpo para ganhar posição, via como objectivo último a bola no fundo das redes e utilizava a força para o alcançar. Mas tinha também uma excelente visão de jogo; formava uma dupla de fazer inveja com Bellamy, e sabia jogar no vazio para dar tempo e espaço ao galês.

Alan Shearer é uma verdadeira lenda da Liga inglesa Fonte: Newcastle United
Alan Shearer é uma verdadeira lenda da Liga inglesa
Fonte: Newcastle United

É verdade que nunca ganhou nada com a camisola preta e branca. Mas levou o Newcastle a outros voos, marcou golos que deram fama a Nicky Butt, Dyer, Ameobi e muitos mais. Shearer era o matador que eu, ao vê-lo brilhar nessas tardes de domingo passadas em frente à televisão, tentava imitar logo de seguida a correr desenfreadamente no corredor lá de casa: imitava as jogadas do Newcastle, fazia tabelinha com a parede, com Bellamy, e finalizava! Ganhava a Premier League todas as semanas.

Tenho pena quando Shearer não é recordado como um dos melhores da sua geração. Porque o foi. E quando vejo aquele filme que nos fez a todos acreditar que íamos ser os melhores do mundo, o Golo, a história toca-me mais porque é o Newcastle. É o Shearer. Revejam o Golo e entendam o que estou a dizer: o Newcastle daquela altura, St. James Park, Alan Shearer e companhia, não deixam ninguém indiferente.

Obrigada, capitão.

Foto de Capa: Newcastle United

Masters 1000 de Monte Carlo: Djokovic imparável

A longa época de terra batida teve, na semana passada, o seu começo com o Masters 1000 de Monte Carlo. O torneio, que se realiza no principado do Mónaco, tem só por si algumas características especiais como, por exemplo, o facto de ser o único torneio desta categoria em que não é obrigatória a presença dos jogadores do top 10. No entanto, esta edição, em concreto, tinha mais alguns pontos de interesse: Será que Djokovic iria ser capaz de dar seguimento à excelente temporada que está a realizar? Iria Rafael Nadal, que tinha vindo a apresentar um nível bastante medíocre, seria capaz de voltar às vitórias no principado?

O torneio, que não contou com Andy Murray nem Kei Nishikhori, teve um começo bastante tranquilo. Os favoritos avançaram sem grandes sobressaltos. No entanto, nos oitavos-de-final da prova surgiram as primeiras surpresas: Roger Federer, que habitualmente não jogava este torneio, caiu aos pés de um excelente Gael Monfils, que acabaria por atingir as meias-finais da prova, caindo apenas aos pés de Tomas Berdych; Rafael Nadal, que estreou neste torneio uma nova raquete, foi obrigado a um terceiro set frente a John Isner; o então detentor do titulo, Stan Wawrinka, viu Grigor Dimitrov aplicar-lhe um corretivo (6-1 e 6-2). Estavam, assim, encontrados os 8 jogadores que iriam jogar os quartos-de-final.

Num dos encontros que mais espetáculo prometia, o que, de facto, veio a acontecer, Rafael Nadal derrotou em 3 partidas um sempre difícil David Ferrer. Nadal, que até poderia ter fechado o encontro em 2 sets, dispôs de serviço a 5-4 para selar o encontro, e realizou, provavelmente, uma das melhores exibições da temporada e marcava, mais uma vez, o duelo que todos esperavam frente a Novak Djokovic, que havia derrotado Marin Cilic sem grandes dificuldades. No que aos restantes jogos diz respeito, Milos Raonic, que havia vencido o português João Sousa, na segunda ronda, viu-se forçado a desistir perante o checo Tomas Berdych. Por sua vez, Monfils bateu Grigor Dimitrov por 6-1 e 6-3.

Tem sido uma temporada fantástica para Djokovic
Tem sido uma temporada fantástica para Djokovic
Fonte: Facebook Oficial do Torneio de Monte Carlo

Quase um ano depois, o útimo duelo entre ambos aconteceu na final de Rolland Garros de 2014, aí, com vitória para Nadal, Novak Djokovic e Rafael Nadal voltavam a defrontar-se. Num jogo em que os parciais não demonstram o equilibrio que esteve patente durante todo o jogo, o sérvio bateu o espanhol por duplo 6-3. Contudo, Rafael Nadal pode estar contente com o ténis que apresentou durante toda a semana. O espanhol, na minha opinião, está num progressivo crescimento que terá, possivelmente, o seu pico em Rolland Garros. Na outra meia-final, e respeitando a lógica, Berdych deu continuidade ao bom momento que está a atravessar e bateu Monfils por expressivos 6-1 e 6-4. Estavam, desta forma, encontrado os dois finalistas da edição de 2015 do Masters 1000 de Monte Carlo.

Naquele que, a meu ver, foi o melhor encontro de todo o torneio, Djokovic triunfou sobre Tomas Berdych numa equilibrada partida, que só ficou resolvida ao fim de 163 minutos de jogo. O checo foi o único jogador a conseguir roubar um set a Djokovic. Contudo, e para quem assistiu à final, pareceu sempre que o sérvio acabaria por triunfar, aliás, head2head assim o dita (17-2).

Novak Djokovic continua, assim, imparável. Depois da conquista dos Masters 1000 de Shanghai e Paris, e ainda do Masters de final de temporada, realizado em Londres, todos estes torneios dizem ainda respeito à temporada transata. No entanto, o sérvio não desarmou e começou a temporada de forma autoritária: Australian Open, Indian Wells, Miami e, agora, Monte Carlo foram os torneios conquistados por Djokovic. Ora não será difícil concluir que o sérvio conquistou todos os eventos de maior importância no circuito.

Embora não seja um grande fã de Djokovic, a verdade é que o sérvio está imparável. Será que é desta que consegue ganhar Rolland Garros? Esperar para ver.

Foto de capa: Facebook Oficial do Torneio de Monte Carlo

Dois castelos em ruínas

cab bundesliga liga alema

O último lugar da Bundesliga pertence ao Hamburgo. O penúltimo lugar é ocupado pelo Estugarda. Duas equipas emblemáticas e com história no campeonato alemão, que se encontram moribundas no fundo da tabela.

O Hamburgo era um exemplo a seguir. Dono de um currículo invejável – tem 3 vitórias no campeonato pós-Segunda Guerra Mundial – e cliente habitual das competições europeias – ganharam a Taça dos Campeões Europeus em 1982/83 -, o clube veio-se perdendo e está afastado dos grandes palcos desde 2009/10, altura em que foi eliminado nas meias-finais da Liga Europa.

Sem rei, nem roque. As mudanças no banco têm sido certamente um dos motivos de inconstância. O primeiro foi Mirko Slomka, que começou a temporada depois ter salvado o clube da despromoção, e a seguir vieram Joe Zinnbauer e Peter Knäbel, director desportivo que assumiu interinamente o lugar. Nada mudou e Bruno Labbadia é, até ver, a última escolha para a cadeira quente. Depois de ter passado pelo Hamburgo em 2009/10, o treinador alemão volta ao activo após as quatro temporadas ao serviço do Estugarda.

Uma das causas da época desastrosa é o facto de os reforços não estarem ao nível que fez o Hamburgo avançar para as suas contratações, que visavam dar outra capacidade ao plantel. Marcelo Diaz, médio box-to-box recrutado ao Basileia, Lewis Holtby, Valon Behrami e Ivica Olic são os mais sonantes e, apesar da experiência e talento, não acrescentaram o que seria expectável. Quem não é reforço mas é outra das desilusões é Pierre-Michel Lasogga, que foi um dos destaques da época passada e tem sido uma autêntica sombra desse jogador – 2 golos em 21 jogos.

A temporada tem sido um desastre em Estugarda Fonte: Facebook do Estugarda
A temporada tem sido um desastre em Estugarda
Fonte: Facebook do Estugarda

Apenas um lugar acima, está colocado o Estugarda. O clube foi campeão em 2007, com uma equipa que contava com nomes como Sami Khedira, Mario Gómez ou o internacional português Fernando Meira. Os dias são outros e o emblema alemão já não tem capacidade de lutar pelo título, mas tinha obrigação de, pelo menos, fazer temporadas sem estar com a corda ao pescoço.

A equipa que joga no Mercedes-Benz Arena tem estado muitos níveis abaixo do esperado, mas ainda assim tem alguns jogadores interessantes a despontar. Filip Kostic tem sido um dos melhores da equipa de Huub Stevens, fazendo a diferença com a sua capacidade técnica e velocidade. Antonio Rüdiger, central possante e com elevada margem de progressão, está de volta depois de uma grave lesão e é um “reforço” importante na luta pela manutenção. É, a par de Timo Werner, um avançado que costuma partir das alas, a principal promessa do clube. Nem um nem outro tiveram temporadas muito felizes. Serey Dié, contratado ao Basileia em Janeiro, tem sido o motor do meio campo, destacando-se pela capacidade física. Daniel Ginczek, que tem marcado nos últimos jogos, afirmou-se como a referência ofensiva que tanta falta fez durante a temporada, já que Ibisevic esteve longe do seu melhor.

Chegamos ao sprint final e nem tudo está perdido. A manutenção encontra-se a poucos pontos e ainda existe hipótese de salvação. Teremos os dois históricos na segunda liga alemã?

Olheiro BnR: Gonçalo Paciência

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Se tiver de apostar nos pontas-de-lança pelos quais passará o futuro da Selecção A Portuguesa, certamente que colocaria as minhas fichas em dois atacantes do FC Porto, mais concretamente em André Silva (19 anos) – que tem tudo para ser uma das principais figuras da Selecção Nacional de sub-20 no próximo Campeonato do Mundo da categoria – e Gonçalo Paciência (20 anos), internacional sub-21 português, que já começa a dar os primeiros passos na equipa comandada por Julen Lopetegui.

Filho de um dos mais emblemáticos pontas-de-lança da história azul-e-branca, Domingos Paciência, o jovem atacante já teve de superar algumas lesões complicadas e, inclusive, suspeitas de um problema no coração que se temeram que o fizessem retirar precocemente dos relvados. Ainda assim, Gonçalo Paciência sobreviveu a todas as adversidades e continua a sua ascensão no seio do FC Porto e nas selecções jovens Portuguesas, tendo todas as condições para provar que, por terras lusas, também se fabricam “noves” de muita qualidade.

Um verdadeiro filho do dragão

Gonçalo Mendes Paciência nasceu a 1 de Agosto de 1994, em Matosinhos, e apenas conheceu um clube em toda a sua carreira: o FC Porto. Isto, obviamente, se excluirmos a temporada que disputou, em 2009/10, pelo satélite azul-e-branco Padroense.

Quanto à sua estreia nos seniores do FC Porto, essa deu-se em 2013/14, temporada em que o ponta-de-lança foi utilizado em 19 partidas da Segunda Liga, marcando cinco golos pela equipa comandada por Luís Castro e José Guilherme.

Entre a equipa B e A

Depois dessa temporada de introdução no futebol sénior, a actual está a servir para a transição de Gonçalo Paciência de promessa para uma certeza azul-e-branca, sendo que o jovem, além de somar 15 jogos (14 como titular) e nove golos pela equipa B, também já começa a ser chamado por Julen Lopetegui para vários desafios da equipa principal.

Afinal, são já quatro os jogos em que o internacional sub-21 Português foi utilizado pelo técnico Basco, sendo que Gonçalo Paciência foi mesmo titular na partida diante do Sp. Braga (1-1), para a Taça da Liga, e marcou mesmo um golo à Académica (4-1), em duelo a contar para a mesma competição.

Gonçalo Paciência é um dos valores de futuro do FC Porto Fonte: Facebook de Gonçalo Paciência
Gonçalo Paciência é um dos valores de futuro do FC Porto
Fonte: Facebook de Gonçalo Paciência

Diferente de Domingos

Há quem diga que Gonçalo Paciência será ainda melhor do que Domingos Paciência e se é verdade que ainda é cedo para esse tipo de vaticínio, é igualmente inegável que o jovem ponta-de-lança reúne, de facto, qualidades e características que o seu pai não apresentava.

Antes de mais, com 1,84 metros e 80 quilos, Gonçalo Paciência é muito mais forte fisicamente do que era Domingos Paciência, características que lhe permitem ser mais efectivo no choque contra as defesas contrárias e no desgaste das mesmas. Atributos que o deixam muito mais à vontade como “nove” puro do que sucedia com o seu pai, que preferia a escapar a esses confrontos, usando a sua mobilidade e capacidade de jogar na linha do fora-de-jogo.

Tecnicamente evoluído e bom finalizador

Ainda assim, e porque a genética deixa sempre rasto, é inquestionável que Gonçalo Paciência também herdou inúmeras qualidades que o pai apresentava, nomeadamente a evoluída técnica e criatividade com a bola nos pés, assim como a inteligência posicional e a qualidade de passe.

Relativamente veloz, Gonçalo Paciência revela ainda uma boa capacidade finalizadora, ainda que, naturalmente, exista ainda grande margem para melhorar o seu nível de killer instinct, algo que a, suceder, poderá ser fulcral para o concretizar o vaticínio de que pode, de facto, vir a superar a qualidade do seu pai.

Foto de Capa: FC Porto

Carta Aberta aos: Sportinguistas

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Pois é, sportinguista, o fim de semana de que estamos à espera desde final de novembro está mesmo aqui à porta, e todos nós sonhamos com o único título que nos falta no futsal masculino.

Como estou a estudar na Turquia não vou conseguir ir à MEO Arena, mas por outro lado, estando aqui em Istambul, tenho a oportunidade de estar num país que realmente ama o desporto, seja ele futebol ou um qualquer de pavilhão.

Nas últimas semanas tive oportunidade de ver dois jogos da Euroliga, o primeiro entre Fenerbahçe e Anadolu e o segundo entre o mesmo Anadolu e o Real Madrid. O ambiente em qualquer um dos pavilhões fez com que a equipa da casa ganhasse; em qualquer um dos casos, os jogos foram disputados em pavilhões com a mesma lotação de onde vai ser a final do futsal. A receita é simples: assobiar a equipa adversária sempre que possível, por exemplo, quando são apresentados ou quando têm a bola, e apoiar o Sporting desde o primeiro segundo em que apareçam na quadra.

No primeiro jogo que fui ver, os árbitros tomaram duas decisões seguidas erradas contra o Fenerbahçe, que meteram o Anadolu na frente do marcador a uns cinco minutos do fim. A partir deste segundo erro, o pavilhão transformou-se num verdadeiro inferno para os jogadores do Anadolu, que mal conseguiam jogar tal o barulho que os adeptos faziam, e quando o Fener estava no ataque todo o pavilhão cantava. Penso que é inegável neste jogo que quem o ganhou foram os adeptos.

No jogo do Efes contra o Real Madrid nem foi preciso erros de árbitros. O Anadolu ou ganhava ou era eliminado da Euroliga, o que na prática vai acontecer ao nosso Sporting. Mas onde se pode ver mesmo a importância dos adeptos não é quando o Anadolu esteve por cima do jogo – aí é fácil apoiar. Depois de estar a ganhar por mais de 10 à entrada do último quarto, ver o Real Madrid cada vez mais perto no marcador, e o sonho de chegar à Final Four começar a transformar-se mesmo só num sonho, tornou os adeptos ainda mais fortes e em parte os responsáveis pela vitória, visto terem passado a mensagem de que acreditavam na equipa.

Nós sportinguistas dizemos que somos os melhores adeptos do mundo. Deixem-me discordar desta opinião; os gregos ou os turcos são muito melhores do que nós, isto para não sair da Europa. Mas também penso que é fácil ver que somos os melhores em Portugal e principalmente os mais fiéis. Agora é preciso passar das redes sociais este nosso apoio e mostrar nas bancadas que somos realmente os melhores adeptos que uma equipa pode ter. O primeiro passo foi dado cedo, quando conseguimos esgotar os mais de 10 mil lugares do pavilhão com mais de um mês de antecedência e assim termos mais um recorde.

Na sexta jogamos em casa contra o “bicho papão” Barcelona, mas convém não esquecer que este ano já vencemos o Inter, equipa que terminou em primeiro em Espanha e que derrotou o Barcelona nos dois jogos. Para isso basta os jogadores serem Sporting, e apoiarmos a nossa equipa durante o jogo todo, como eu irei fazer aqui na Turquia. No domingo, eu quero poder dizer que pertenço a um dos únicos dois clubes (o outro é precisamente o Barcelona) que já foram campeões europeus em cinco modalidades diferentes.

Sportinguistas, façam do Meo Arena um ambiente tão bom para os nossos e tão hostil para os adversarios, como vi nestes dois jogos. Acreditem! Nós temos o poder de decidir um jogo. Força, Sporting!