Venho por este meio renunciar à minha função de adepto da Seleção Nacional de Futebol.
Sei que não era preciso estar por escrito e que esta é uma formalidade desnecessária. Afinal, Paulo Bento nunca me convocou para nenhum jogo nem tinha intenções de o fazer. Por mais que uma vez mostrou até o seu desprezo pelos adeptos, pelo apoio, pelas pessoas que fazem mexer uma seleção e enchem os cofres de um clube. “Quem quer ver espetáculo, que vá ao cinema”, disse ele. Ainda assim, quis assinalar desta forma a minha decisão, pela mágoa que me dá não vibrar com o Futebol do meu país. Estou fora.
E já que estamos embalados nas decisões de quem ainda mantém a sua dignidade e não quer apoiar um grupo de interesses, que tal vocês, André Martins, Cédric Soares, Adrien Silva e Wilson Eduardo, seguirem o mesmo caminho? Afinal, estamos todos na mesma situação: para estar perto da seleção, só vendo os jogos da bancada.
Nani a festejar frente ao Luxemburgo Fonte: AFP
Têm de perceber: Paulo Bento não gosta de nós. É obrigado a jogar com leões e ex-leões porque se não o fizesse, não teria jogadores. Ainda hoje as duas melhores jogadas, que deram os 2 primeiros golos, foram feitas e finalizadas por jogadores formados no Sporting. Mas em detrimento de vocês quatro, Paulo Bento optou por um Josué que vai perder o seu lugar no Porto, um Rúben Micael que é líder em remates para a bancada, um Licá que, embora em boa forma, está longe de Wilson, um dos melhores assistentes e finalizadores desta época, e um André Almeida que é médio-central adaptado a defesa-direito. No caso deste último, Paulo Bento preferiu ter 2 guarda-redes no banco e mandar Cédric para a bancada. Não é gozo?
Meus caros, o nosso destino é o mesmo. Ou vamos para a bancada, tentando apoiar o que não é nosso e aquilo em que não nos revemos, ou abandonamos a equipa. E o que nos impede? Nada! Não é vergonha nenhuma não apoiar a Seleção Nacional. Sei o nosso hino, pago os meus impostos e até contribuo para as causas sociais que a minha carteira permite. Agora, para apoiar a falta de dignidade e encher bolsos alheios, não contem comigo.
Tal como vocês, um dia voltarei a poder usar a minha camisola das quinas. Aquela que em tempos vesti com orgulho para apoiar de forma fervorosa uma equipa que, em campo, defendia o meu país e lutava por Portugal. Hoje não. E, por isso, eu renuncio.
A Islândia é uma nação com pouca expressão no que diz respeito ao futebol. Sem qualquer participação em grandes competições, o país nórdico está a viver o melhor período da sua história, conseguindo uma inédita qualificação para o playoff de acesso ao Mundial. O empate obtido na Noruega (1-1) chegou para o apuramento, já que a Eslovénia, concorrente directa pela vaga, perdeu na deslocação à Suíça. Para se perceber a dimensão deste feito, convém salientar que a Islândia é um país com apenas 320 mil habitantes, que tem condições climatéricas muito adversas (os campos estão constantemente alagados, e durante os 365 dias de um ano o período nocturno é superior ao diurno) e onde o futebol nem sequer é o desporto rei. Este resultado é, por isso, a melhor maneira de premiar a Federação pelo excepcional trabalho desenvolvido, bem como a “geração de ouro” do futebol islandês, que evoluiu de forma tremenda nos últimos anos.
Não se pense que a Islândia chegou até aqui por acaso. O principal motor deste crescimento foi um projecto nacional lançado pela Federação há mais de 10 anos, com o objectivo de incentivar o gosto pela modalidade e apostar na formação de novos jogadores, de forma a aproveitar ao máximo os escassos recursos existentes. Para ultrapassar as questões climatéricas e permitir que as equipas se mantenham em competição, implementaram-se campos sintéticos indoor e outdoor, o que veio melhorar significativamente as condições de treino e a qualidade dos jogos (embora a liga nacional seja ainda bastante fraca). Todo este processo de desenvolvimento levou a que os jogadores surgissem nas equipas principais cada vez mais cedo, dando depois o salto para campeonatos mais competitivos, como o dinamarquês, o holandês (Sightorsson, Finnbogason e Gudmundsson) e até o inglês (Sigurdsson e Gunnarsson).
Festa islandesa na Noruega / Fonte: pt.uefa.com
Juntando todos estes factores, já é possível perceber como a Islândia se tornou numa equipa tão competitiva. Num conjunto que tem por base a geração que marcou presença no Europeu de Sub-21 em 2011, Eidur Gudjohnsen, avançado com passagens por Barcelona e Chelsea, é ainda hoje a grande referência. Já com 35 anos, certamente terminará a carreira em breve, dando lugar a elementos mais jovens. Gylfi Sigurdsson, médio ofensivo do Tottenham, tem feito excelentes exibições (marcou 4 golos na qualificação) e deverá assumir o estatuto de estrela da equipa. O jogador de 24 anos tem sido bastante utilizado por André Villas-Boas nos Spurs, destacando-se pela sua capacidade de aparecer em zonas de finalização. A finalização é mesmo o menor dos problemas da Islândia, que conta com dois excelentes avançados: Kolbeinn Sightorsson (também marcou 4 golos), titular do Ajax, e Alfred Finnbogasson, que joga no Heerenveen e é actualmente o melhor marcador da liga holandesa. Gunnarsson, médio do Cardiff City, e Gudmundsson, extremo do AZ Alkmaar, são outros elementos importantes na equipa, que tem claramente na defesa o sector mais débil. Por último, mas não menos importante, o timoneiro que conduziu o país a um feito histórico: Lars Lagerback, experiente seleccionador sueco com cinco presenças consecutivas em grandes competições. Mais uma aposta acertada da Federação Islandesa.
Para o playoff, não tendo o estatuto de cabeça de série, a Islândia poderá ter pela frente a Grécia, Croácia, Ucrânia ou… Portugal (não se esqueçam, nada acontece por acaso). Quem chegou até aqui tem todo o direito de sonhar, mas, mesmo que não se apure para o Mundial, disputar o playoff já supera todas as expectativas. E, sabendo que no Euro 2016 vão marcar presença 24 equipas, é bem provável que a Islândia seja uma delas. Por enquanto, é aproveitar o momento. Nunca se sabe quando se repete.
Nestas últimas semanas tenho andado nostálgico. De alguma forma a (falta de) idade está a levar consigo a sanidade que sempre pautou a minha vida e as minhas escolhas. Todos passamos por isso, mais cedo ou mais tarde. Até o Benfica. E hoje é dia de pensar nisso mesmo: em escolhas.
Para os que já soltaram o primeiro suspiro, com medo e certeza de que estão prestes a ler mais um queixume anti-Jesus, aproveito para esclarecer imediatamente que não é o caso. Hoje é, isso sim, dia de partilhar memórias. É dia de voltar ao passado. Meus caros e minhas caras: hoje é dia de vos apresentar o onze que marcou a minha vida de Benfiquista.
O Onze Perfeito
Para que não haja confusões ou debates contraproducentes quero que fique bem explícito que tenho 22 anos e que, por isso mesmo, só aqui estarão jogadores que passaram pelo Benfica desde a época de 1992/1993 até à época actual. Sem mais demoras, comecemos pelo treinador de eleição: Giovanni Trapattoni. Esta é controversa. Mas quantos bons treinadores – tirando um Mourinho à experimentação – é que aqueceram o banco da Luz nestes 22 anos? Pois. Dessa forma, este título ou ia para Jesus ou para o italiano. ‘Trap’ acabou por levá-lo no bolso porque adoro futebol italiano e porque no espaço de um ano este senhor trouxe o Campeonato para casa e só não arrumou com a Taça de Portugal porque o Setúbal resolveu bater o pé – e bem. Sabendo que ainda não havia Taça da Liga na altura…o percurso não é semelhante ao de Jesus? Tire-se a valorização de jogadores, os percursos europeus e as excelentes contratações e a resposta é “sim”.
Guarda-redes? O melhor dos melhores: Michel Preud’homme. Fosse ele alemão e o Kahn nem nunca teria gastado o couro às luvas na selecção.
Defesa esquerdo? Stefan Schwarz. Não é a escolha de que mais me recorde, mas ou era ele ou era Léo. Léo deixou trabalho por fazer, muito em parte por causa de Quique Flores. Já Schwarz, em quatro anos de Benfica, ganhou dois Campeonatos e uma Taça de Portugal. Sai para o Arsenal em 1994, mas antes disso ainda ajudou no 6-3 ao Sporting.
Para a direita é António Veloso. Enorme. E pouco mais há a dizer. Faço apenas um mea culpa porque justifico a escolha com números que Veloso conseguiu principalmente antes do meu nascimento, a 11 de Julho de 1991: sete Campeonatos, seis Taças de Portugal e três Supertaças.
Dupla de centrais: Luisão e David Luiz. Jogaram juntos e, ainda que algumas coisas pudessem ter corrido melhor aqui ou ali – haveria 5-0 contra o Porto se David Luiz tivesse jogado ao lado do ‘Gigante’? –, não me lembro de ver melhor dupla. E isso justifica as duas escolhas. Depois, Luisão é um dos maiores elementos da história recente do Benfica, e David Luiz um dos melhores jogadores de sempre que passou por Lisboa.
Bola para o meio-campo que o texto já vai longo. Na esquerda o jogador que ‘aquece’ o coração de qualquer adepto do outro lado da 2ª Circular: Simão Sabrosa. Hoje no Espanyol, não há benfiquista que o esqueça ou que alguma vez lhe tenha perdoado a saída. Era, aliás, bastante comum ir ao estádio nos cinco anos seguintes à partida para o Atlético de Madrid e ouvir o famigerado “estivesse aqui o ‘pequenino’ que tratava-lhe logo dos rins e fazia golo!”.
Festejo à Rui Fonte: desportugal.blogspot.com
Ao meio o lendário e único Rui Costa. Fosse o casamento homossexual legal em 2008 e muitas teriam sido as propostas aquando do jogo de despedida contra o Setúbal. De forma mais comedida, não houve no estádio quem não chorasse depois desse 3-0. Fui um deles e lembro-me que nunca mais senti o futebol da mesma forma depois disso. Há coisas que não se explicam. Uma delas foi o golo contra a Naval, a passe de Luís Filipe e depois de rodar sobre si mesmo. Taborda só não chorou porque ficava mal na fotografia. Junte-se ao Rui o ‘espartano grego’: Giorgos Karagounis. Um dos únicos jogadores que nunca ganhou nada no Benfica e que, só com três golos marcados em duas épocas, foi um dos médios mais fulminantes, exigentes e capazes a actuar em Portugal. Só desculpei a tragédia em 2004 porque ele estava no banco e Katsouranis estava em campo.
A fechar o círculo de estrelas, na direita, Karel Poborský. O checo jogava tanto que até metia pena olhar para os marcadores directos. Não houve finta que não fosse ridiculamente bem executada e cruzamento que não desse (quase) golo. Fazia de tudo na direita, mas curiosamente o melhor golo que me lembro de o ver marcar acontece pela esquerda, num jogo contra o Braga em 1998. Começou na área encarnada e só parou na baliza bracarense. Maldades…
Para acabar, porque o jantar já está na mesa, o ataque: Miccoli e Nuno Gomes. O português não chegou aos 400 jogos pelo Benfica – ficou a faltar um -, mas conseguiu a proeza de registar 166 golos de águia ao peito. Não é para todos. Infelizmente nunca levou o prémio de melhor marcador da Liga para casa, ainda que o tenha merecido em tantas épocas, ou não fosse ele o 9º melhor marcador da história do Benfica. Quanto ao ‘Rato Miccoli’: Liverpool, Anfield Road e pontapé de triciclo…dizem alguma coisa? Nesse ano só o Barcelona haveria de parar o Glorioso, fazendo ressuscitar o fantasma de Bella Guttman e sua promessa. Em Portugal não passámos do 3º lugar, mas não por culpa do italiano que, em somente duas épocas – ambas marcadas por algumas lesões -, ainda conseguiu fazer 19 golos.
Agora relaxem, terminem a vossa mini e pensem se este até nem é, apesar de tudo, o melhor ciclo do Benfica nos últimos 22 anos. Se continuarem a achar que não, então recomendo um passeio. Longo. Foi num assim que, graças a genialidade alheia, decidi vos presentear hoje com estas memórias.
Enquanto escrevo estas linhas para vós, a Associação Desportiva Ovarense acaba de conquistar a sexta edição do Troféu António Pratas, vencendo o Sampaense pelo placard finalde 65 – 62. O conjunto de S. Paio de Gramaços já havia derrotado o Benfica na véspera. É um torneio recente (daí ter chegado apenas à meia dúzia de edições), mas nem por isso deixa de ser um marco importante – e por várias razões. Primeiro, porque é oficial. E mal de alguma equipe que entra em competição, seja de que cariz for, se não apenas com o intuito de a vencer. Em segundo lugar, quebrou a hegemonia do Benfica (é tetra nesta taça), atual campeão em título e aparente gigante solitário para lutar pelo mesmo. Depois porque foi a sua primeira conquista; e a primeira vez nunca se esquece. E ainda porque, este ano, a Federação Portuguesa de Basquetebol entregou a responsabilidade da organização da contenda ao dito Sport Lisboa e Benfica, ou seja, venceu na casa do adversário, o que, apesar de passar a campo neutro, é sempre simbólico.
Estes são, julgo, os ingredientes principais para fazermos tal aferição. É claro que, como se costuma dizer na gíria popular, “isto não é como começa, mas como acaba”. Porém, o que este torneio António Pratas veio demonstrar foi a capacidade de a Ovarense se superiorizar e fazer face às suas limitações. Sem grandes nomes e sem um tipo de jogo sonante, os aveirenses foram eficientes e levaram de vencida os preconceitos.
Ovarenses festejam depois da conquista exuberante Fonte: Record
Já ouviram falar no mito do acordar de um gigante? E como isso pode ser perigoso; se pode! O clube já conta com cinco Campeonatos Nacionais, três Taças de Portugal, outras tantas Taças da Liga e oito Supertaças. Possui também vários títulos nas camadas jovens da sua formação. É um palmarés que impõe respeito.
É cedo para fazer conjeturas; parece só haver um único favorito para ganhar a prova maior, mas quando o grande matulão acorda é perigoso. Um grandalhão que já está longe das decisões há muito tempo. E este artigo termina como começou: com uma pergunta. Será que apenas um se sente capaz de caçar o grande tesouro? Até quando?
• Um olhar sobre os ‘’não-grandes’’ que ficaram na metade superior da tabela classificativa na época transata.
A Liga Zon Sagres não se resume apenas aos três ‘’grandes’’. Porto, Sporting e Benfica são, sem dúvida (até ao momento), as equipas mais fortes do campeonato; certo é que todos os anos existem surpresas, pela negativa e pela positiva. Este meu primeiro texto vai dividir-se em duas partes; esta primeira que vos apresento agora focará os clubes que ficaram na metade superior da tabela na época 2012/2013, à exceção dos três ‘’grandes’’ já referidos. A segunda parte sairá na próxima semana e referenciará os clubes que ficaram na metade inferior da tabela e os que foram promovidos da ex Segunda Liga e agora Liga Cabovisão.
Paços de Ferreira: A melhor época de sempre dos castores parece ter deixado marcas na transição para a época 2013/2014. Com a importante saída do ‘’obreiro’’ Paulo Fonseca, aliada às saídas de pedras basilares da equipa como são os casos de Cássio, Vítor Silva, Josué, Luiz Carlos e Cícero, a equipa do Paços ainda não se conseguiu encontrar esta época.
Costinha, que já foi convidado a sair, parece não ter sido a melhor escolha para a cadeira pacense. Herança pesada? Talvez. Certo é que o Paços é último do campeonato, com apenas 4 pontos, e ainda não venceu nas competições europeias, que também parecem ter sido um tiro no pé para a equipa nortenha. O objetivo da equipa para esta época pode e deve passar pela manutenção, tentando angariar alguns euros na Liga Europa para estabilizar o clube financeiramente e poder, daqui a uns anos, quem sabe, fazer outro brilharete.
Costinha, treinador do Paços de Ferreira. Fonte: www.tvi.iol.pt
Sporting de Braga: De há uns anos para cá é considerado um ‘’grande’’, mas certo é que nunca o conseguiu provar objectivamente; apesar de conseguir ficar à frente dos ditos três grandes em algumas ocasiões, o Braga apenas conquistou uma Taça da Liga, e esta época mostra que o seu poderio tem vindo a decrescer.
A acrescentar a isto, a não presença na Liga dos Campeões implica um corte no orçamento, que se traduz em menos capacidade de pagar elevados salários e consequentemente perder jogadores importantes e não conseguir contratar outros que poderiam vir a ser importantes.
Ao perder com o Sporting e com o Nacional, o Braga perdeu posições na tabela classificativa e aparenta ter perdido também o apelido de ‘’grande’’ do futebol português.
Jesualdo Ferreira tem uma vida difícil e é muito pressionado por um presidente e adeptos exigentes. É outro caso de um treinador que pode ter uma herança pesada; ironia ou não, certo é que também a ajudou a construir.
Estoril Praia: Depois da impressionante subida à 1ª divisão e da excelente época conseguida que lhe valeu um lugar na Liga Europa, o Estoril apresenta-se para esta nova época com objetivos bem traçados eum lugar confortável na tabela, nunca desprezando a possibilidade de ascender a lugares que deem acesso a competições europeias.
Com Marco Silva no leme, o Estoril segue em 6º lugar, com 11 pontos, a oito do líder Porto, mas já jogou com quatro dos cinco primeiros classificados, Porto (empate), Braga (derrota), Benfica (derrota) e Nacional (vitória).
Marco Silva, treinador do Estoril Praia. Fonte: www.record.xl.pt
Rio Ave: Uma das principais surpresas da época passada, ficou a apenas três pontos de conquistar um lugar no play-off da Liga Europa e parte para a época 2013/2014 com o mesmo objetivo de sempre: a manutenção. Com orçamento reduzido, como a maioria dos clubes da 1ª divisão, o Rio Ave apresentou bons reforços. Salin, Roderick e Júlio Alves foram os nomes mais sonantes que chegaram a Vila do Conde.
Até ao momento, o Rio Ave apresenta bons resultados, com dez pontos em sete jogos. Nuno Espirito Santo é um treinador certamente satisfeito com o desempenho dos seus atletas.
Nacional da Madeira: A equipa madeirense é uma crónica candidata à presença nas competições europeias, nomeadamente a Liga Europa. O ano passado falhou redondamente esse objetivo.
Manuel Machado é o treinador da equipa madeirense e com 57 anos mostra que a ‘’velha guarda’’ dos treinadores portugueses sabe o que faz, a prova está à vista. Com sete jogos disputados no campeonato, o Nacional é 4º classificado, com 13 pontos, e a apenas seis do líder.
O objetivo da equipa mantém-se intacto de há algumas épocas para cá: conquistar um lugar na Liga Europa – e, com este bom começo, existe uma boa probabilidade de isso acontecer.
Manuel Machado, treinador do Nacional da Madeira. Fonte: irredutivelmaritimo1910.blogspot.com
Para a semana serão tratados os seguintes e restantes clubes: Vitória de Guimarães, Marítimo, Académica, Vitória de Setúbal, Gil Vicente, Olhanense, Belenenses e Arouca.
Terminei o meu texto da semana passada dizendo que o Sporting trava actualmente uma batalha interna de corte com o passado e de reestruturação do clube. E foi justamente este tema que resolvi aprofundar esta semana. Estes quase dois meses de campeonato mostraram-nos claramente que o Sporting está melhor do que no ano passado – pior também era difícil – e deram esperança aos adeptos leoninos de que o passado já tenha sido definitivamente atirado para trás das costas. Mas até onde poderá chegar este Sporting? Esta é a chamada pergunta para um milhão de euros que tem dominado as discussões não só de sportinguistas, mas também dos rivais e dos apreciadores de futebol em geral.
Começo por dizer que a direcção escolheu o caminho que me parece mais lógico e realista, que é afastar responsabilidades de luta pelo título e adoptar o discurso de que o Sporting é “candidato à conquista dos próximos 3 pontos”. Nem podia, aliás, ser de outra forma. É verdade que o Sporting, enquanto grande clube, é, ou deveria ser sempre, candidato ao título, mas não é menos verdade que o clube acabou de sair de um período negro de quase duas décadas e que as feridas daí resultantes precisam de mais do que um par de meses para sarar. Não convém, portanto, que queiramos dar um passo maior do que a perna e que percamos de vista que ainda estamos a uma distância considerável do Porto e do Benfica, quer em termos financeiros quer ao nível da qualidade do plantel. Foi, aliás, o nosso excesso de confiança fruto de um bom arranque de campeonato há dois anos que, em boa parte, contribuiu para um entusiasmo excessivo e consequente desastre. O Sporting não estava, em 2011/2012, pronto para competir com Porto e Benfica, como a meu ver também não está agora – e digo isto numa altura em que até estamos à frente de um deles e podemos ultrapassar o outro na próxima jornada.
Na nossa condição de clube renascido das cinzas, e com o plantel que temos, o objectivo tem de passar por alcançar o terceiro lugar e respectiva qualificação para a Champions. Em condições normais, será isso que vai acontecer em Maio. Mas, da mesma forma que não acho que se possa exigir o campeonato ao Sporting, também não escondo que tudo o que for aquém do pódio será para mim uma enorme frustração. A partir do momento em que uma equipa como o Paços de Ferreira consegue alcançar o terceiro lugar (e digo isto com todo o respeito que o conjunto da Capital do Móvel merece, apesar daquele célebre golo com a mão que nos custou um campeonato…), então será quase inadmissível que o Sporting não o consiga. Porto e Benfica têm mais condições materiais, experiência e estabilidade, o que lhes permite estar alguns passos à frente do Sporting, mas o mesmo se pode dizer do nosso clube relativamente a todas as outras equipas. É por isso que o terceiro lugar é, para mim, simultaneamente o mínimo e o máximo exigível esta época.
Bruno de Carvalho é a face do novo leão / Fonte: SuperSporting
E por que não sonhar com metas mais ambiciosas? É verdade que a diferença do futebol praticado pela equipa relativamente aos anos anteriores é gritante: a defesa está mais estável e dinâmica (destaco aqui as exibições de Jéfferson, um autêntico dínamo no apoio ao ataque), a afirmação de William Carvalho equilibra a equipa, os extremos chegam mais vezes a zonas de finalização, há uma gestão satisfatória da posse de bola em progressão, a equipa surge mais pressionante e com uma nova atitude e, claro, há ainda Fredy Montero. Mas, por outro lado, é preciso não esquecer que a mesma equipa que nos fez voltar a sentir orgulho no nosso clube tem as suas limitações, e a meu ver precisaria de um ou dois jogadores de nível internacional para poder ombrear com Benfica e Porto – sendo que, para isso, é preciso dinheiro… O Sporting tem um bom conjunto de jovens promissores, que estão agora a despontar para o futebol e que finalmente puderam conquistar o seu espaço. Mas duvido que seja o suficiente para manter a forma inicial ao longo de uma época que ainda vai no início e que trará algumas deslocações complicadas. Com efeito, e apesar das vitórias, nestes últimos jogos já se notou uma certa quebra, visível sobretudo na incapacidade do meio-campo se impor e abrir espaços contra equipas mais defensivas e com aquele sector bem povoado.
Antes de terminar, peço apenas que não se confunda este meu texto com uma vontade encapotada de ver o Sporting falhar, porque nada me faria mais feliz do que ver o meu clube novamente no topo. Mas, uma vez mais, é importante que mantenhamos os pés assentes na terra. Esquecer a realidade e assumir a candidatura ao título é algo sem dúvida tentador, sobretudo quando quase todos os dias alguns sectores da imprensa impelem os responsáveis do Sporting a declararem-se candidatos (a mesma imprensa que depois nos atacaria caso falhássemos o título). O clube pouco ou nada tem a ganhar em seguir por esse caminho. A esta “nova moda” de querer colocar a todo o custo o Sporting a lutar pelo campeonato, porém, contraponho uma outra, advogada pelo treinador Leonardo Jardim: o objectivo para este ano é, com humildade e realismo, “fazer o Sporting crescer”.
Saudações leoninas
P.S.: Pouco me interessa a selecção. Mas o erro de Rui Patrício no último jogo fez com que muitos esfregassem as mãos com a oportunidade de poderem “desancar” simultaneamente nele e no clube que o formou. Lembro apenas que, se Portugal não tivesse empatado jogos que não devia, não estaríamos agora de calculadora na mão. Se Paulo Bento (por quem sempre tive alguma estima mas cuja seriedade começo a pôr em causa) não desse cega primazia aos atletas de um certo traficante, aliás, empresário de futebol, talvez não estivéssemos nesta situação. Se o Nélson Oliveira tivesse dado a bola ao Ronaldo em vez de se pôr a inventar, provavelmente Portugal tinha ganho o jogo. E se o Sporting não fosse o abono de família desta selecção há várias décadas, provavelmente aqueles que apontam o dedo a Patrício e criticam Ronaldo nunca teriam tido a oportunidade de ver o seu país disputar um Europeu ou Mundial, e teriam uma selecção ao nível de uma Albânia ou Macedónia.
Ainda antes do início do jogo, comecei a pensar no que poderia escrever neste artigo. Sem Cristiano Ronaldo e Pepe, Varela e Neto assumiram os lugares, Josué estreou-se a titular no lugar de Ruben Micael e Fábio Coentrão regressou ao lugar que lhe pertence. Não seria difícil acertar naquilo que foi o desenrolar dos primeiros 30 minutos de jogo, até à expulsão de Joachim, jogador luxemburguês. Oportunidades de golo desperdiçadas com a trave à mistura, passes falhados e sem nexo e um futebol desgarrado, como vem sendo habitual nos últimos jogos da Selecção. A expulsão fragilizou ainda mais o Luxemburgo, a quem a bola parece sempre ser um objecto estranho que por ali anda. Varela disfarçou mais uma exibição fraca (como, Paulo Bento, como?) e inaugurou o marcador após um bom passe de João Moutinho. Poucos minutos depois, em nova combinação com João Moutinho, Nani fez o segundo e deu alguma cor a um jogo sem ideias. Boa resposta do jogador do Mónaco após o mau jogo frente a Israel: sim, o João Moutinho fez um mau jogo.
A segunda parte nada trouxe de novo. Mais 45 minutos de um longo bocejo aqui e ali interrompidos pelo atrevido Luxemburgo, que com dez elementos conseguia chegar à baliza de Rui Patrício a seu bel-prazer. Hélder Postiga acabou por fixar o resultado final após um ressalto na grande área, aos 80 minutos. Resultado final porque Hugo Almeida decidiu rechear ainda mais a sua conta de golos-inexplicavelmente-falhados-à-frente-da-baliza-deserta.
Nani fez o melhor golo do jogo após passe genial de Moutinho / Fonte: Renascença
Os níveis de concentração e de atitude de Portugal deixaram, uma vez mais, muito a desejar. Parece que nos consideramos bons demais para enfrentar selecções amadoras. Para quem nunca ganhou qualquer título em toda a história, revela-se, jogo após jogo, uma atitude arrogante e sem razão de ser.
Esta Selecção portuguesa parece aqueles autocarros apinhados de gente: há sempre lugar para mais um e devagar, devagarinho lá chegam ao seu destino. Há sempre espaço para Paulo Bento nos surpreender nas convocatórias, com a chamada de jogadores completamente desfasados da realidade da Selecção ou sem qualidade para sequer a integrar. Só para José Fonte, Manuel Fernandes ou Vaz Tê é que o autocarro está mesmo cheio. Mas continua tudo Sereno, ninguém levanta ondas e a coisa vai Rolando. Até há espaço para dois guarda-redes no banco deixarem Cédric e Nélson Oliveira na bancada.
Estamos no play-off e nada de novo aqui, visto que se trata de um cenário recorrente desde Scolari. Vamos lá agora quebrar tradições tão portuguesas, deixar tudo para a última é o nosso nome do meio! Portugal colheu aquilo que semeou em toda a fase de apuramento, quando não teve vontade de correr um pouco mais e mostrar que merecia (já) estar no Brasil. Quem empata com a Irlanda do Norte em casa (em rugby seria um feito) e repete a proeza duas vezes(!) com Israel, tem de se dar por contente com esta segunda “vida”.
Esta é uma história com pontos de convergência e de afastamento. Uma espécie de sensação sombria, uma comichão na nuca em reflexo de desapontamento. Há coisas que não se explicam, desaparecimentos de futuros, aparentemente glórias do presente em que actuaram, craques da bola – pensemos em nomes como Quaresma, Sahin, Drenthe, Freddy Adu, Keirrison, Giovani dos Santos, Downing, já para não falar daqueles clássicos do futebol português – são fenómenos recorrentes. E desde já quero afirmar que não é por esse caminho pelo qual me vou debruçar. Mas antes pela estranheza de dois casos bem actuais no Benfica. Um custou quase 10 milhões, outro custou cerca de 6. Falo de Ola John e de Rodrigo.
Primeiro que tudo: parece-me evidente que qualquer pessoa admite que são dois exemplos de muita qualidade, quer técnico-táctica, quer de potencial futuro. Não falamos de coxos, claramente não. O holandês impressionou qualquer um naquela eliminatória de apuramento para a Champions, com a sua explosão na finta e cruzamentos teleguiados. Mesmo para quem já tivesse visto jogos anteriores do Twente, ou dos sub-21 da Holanda, percebia-se a olho nu que se tratava de um miúdo com fome de bola e que, decerto, daria o salto para outro campeonato. Um agitador portanto. E foi assim que chegou à Luz. Com vontade de ouvir os adeptos gritarem por si, com rasgos de génio e, quase sempre, exibições constantes. Com o acumular de jogos, percebeu-se que Ola é um jogador que nem sempre entra bem, que precisa de tempo em campo para que a sua movimentação saia mais fluída, mas nem assim deixou de jogar relativamente bem, já não era o puto convicto e aguerrido, mas acrescentava qualidade, a bola na cabeça do ponta-de-lança, ora a linha ora o meio como habitats naturais. Veja-se hoje o jogador que existe. Não corre absolutamente nada, chega à linha e devolve a bola para o lateral, não tem atitude, chega a ter menos que o soneca Geovanni. É um claro exemplo, não só de insolência, pense-se no que ganha e nas oportunidades que tem tido em relação a outros jogadores do plantel A e B, até dos juniores, e, isto é que é mais estranho, medo. Não tem a coragem que nos habituou de agarrar a bola e partir para cima da defesa, não tem a velocidade com a bola no pé, não tem quase nenhum factor, actualmente, que o façam jogar constantemente pelo Benfica.
Já (te) vimos melhor, Rodrigo? Fonte: spiny-norman.blogspot.com
Rodrigo é detentor de um pé-esquerdo fantástico, de uma finta curta invejável e de um enorme toque de bola. Joga em qualquer posição do ataque, talvez menos a 10, e por norma, executava-o com muita qualidade, ou pelo menos esforço. E nisso não sou injusto, Rodrigo, apesar de nunca mais ter sido o jogador que era desde aquela lesão do atrasado mental Bruno Alves, não deixa de ter atitude, de querer mostrar ao Jesus que lhe deve dar mais uma oportunidade. E diga-se, se corre e se mata em jogos, deve fazê-lo também nos treinos. Mas quem se recorda do brilhantismo com que, depois daquela época de empréstimo no Bolton, se afirmou na Luz com golos e assistências, toques deliciosos e alegria no jogo. Hoje, o avançado espanhol não passa de mais um exemplo de jogador esforçado, aparentemente pouco dotado, e que oferece muito pouco ao jogo do glorioso. E aquele empate em Old Trafford a 2 bolas? Não me vou esquecer de como se matou a incomodar gigantes como Ferdinand, Vidic e Evra. A questão é que, no caso dele, a atitude não pode chegar nem justificar consecutivas oportunidades para tão pouco aproveitamento. Nélson Oliveira teve muito poucas e parece que vai continuar a ter, Rodrigo Mora idem, Nolito foi de vela e é senhor do Celta. E isso parece-me injusto.
São, pois claro, dois casos diferentes. Mas com uma conclusão mais ou menos idêntica: não duvido que se devem tornar dois jogadores de muita classe – se assim o quiserem e não tiverem muitas lesões – mas, tal como o seu treinador, são casos de insucesso actual no nosso Benfica. Quando não dá, não dá. Há mais quem queira, há mais quem faça. E o Benfica bem precisa.
Em Hamlet, escrito por William Shakespeare, é o próprio Hamlet que segurando uma caveira pronuncia a célebre frase “To be or not to be, that is the question”, Em português, Ser ou não ser, eis a questão. No Porto, Jackson Martinez faz o papel de Hamlet e a caveira transformou-se num contrato com o F.C.Porto.
Tanto Jackson Martinez como o seu empresário, Luís Manso afirmam que o desejo é renovar com os azuis e brancos. Manso disse ainda que Jackson está focado no Porto e que não há intenção do avançado colombiano mudar o emblema que representa. Os factos são claros. O contrato de Cha Cha Cha Martinez liga o jogador ao Porto até 2016 com uma cláusula de rescisão fixada em 40 Milhões de Euros. Tanto o avançado e o agente como os dirigentes do Porto confirmam que é um objectivo comum manter Jackson no Porto. Jackson Martinez é, actualmente, dos activos mais, senão o mais, valiosos do plantel portista. Em caso de renovação, o contrato de Jackson, de que o Porto detém todos os direitos, vai passar a ter uma cláusula de rescisão de 60 Milhões de Euros. Mais 20 Milhões do que actualmente estão estipulados.
No mundo do futebol nada se pode dar por certo até estar certo. Caso mais recente foi a contratação de William, que rumou a Stanford Bridge em vez de White Hart Lane. Isto é, embora haja o compromisso, falado, de que há interesse de ambas as partes numa renovação, são muitos os rumores que apontam Jackson a outro grande emblema europeu. O mais recente é o colosso Real Madrid. Por terras espanholas Jackson faz capas de jornais e é apontado como o “novo número 9” da equipa de Madrid. Desde a saída de Gonzalo Higuain para o Nápoles que o Real Madrid se encontra no mercado à procura de um novo ponta-de-lança para fazer concorrência a Benzema. Falou-se em Falcao (AS Mónaco) que se dizia “insatisfeito” com o projecto do Mónaco, Luis Suárez (Liverpool), jogador mal-amado e contestado em Inglaterra, Robert Lewandowski (Borussia Dortmund), jogador que tem, consistentemente, aumentado de valor devido à sua qualidade e boas exibições. A estes colossos da grande área junta-se… Jackson Martinez.
Jackson Martínez / Fonte: http://cdn.controlinveste.pt/
O Porto de Paulo Fonseca é mais forte com com Jackson. O avançado colombiano é uma peça fundamental da forma de jogar do Porto. Com a sua grande mobilidade, que lhe permite surgir em qualquer parte da área para fazer o golo, e a grande capacidade de finalização (tanto de cabeça como com os pés), Jackson é um jogador que faz a diferença e que não pode ser deixado de parte. Mas Jackson Martinez nasceu para estar só. O colombiano é um jogador que joga sozinho na área, sem companheiro. As tentativas de Paulo Fonseca em colocar um homem ao lado de Jackson foram ,sempre, mal executadas.
No entanto, negócios com valores, tanto de 40 como 60 milhões, é algo que o clube azul e branco não pode deixar passar. Pinto da Costa é conhecido por fazer grandes negócios com grandes retornos financeiros para o Porto. Pois, como portista que sou, que o nosso presidente se despache a renovar. O comboio Cha Cha Cha está na estação do Porto mas aproxima-se a partida para uma outra estação. Há apenas uma hipótese: Jackson renova, fica até ao final do ano e, só então, sai pela cláusula de rescisão estipulada no contrato. É audaz, sim. Mas o Porto também sabe fazer negócios audazes.
Se vamos falar da Bundesliga, podemos até nem começar pelo Bayern de Munique de Pep Guardiola. Os 3,31 golos marcados por jogo permitem considerar o campeonato alemão o melhor do Mundo. A Taxa de Ocupação assusta o adepto português e os índices de competitividade não se reflectem apenas nos 17 cartões vermelhos já exibidos. Calma! Não precisam de ir para o Münster Arkaden agredir árbitros.
Para além dos estádios a rebentar pelas costuras, dos resultados imprevisíveis e dos autênticos 90 minutos de jogo jogado, existe uma orgânica em torno de um espectáculo que mantém o equílibrio já há vários anos.
O factor económico é, indubitavelmente, o motor da Bundesliga: as grandes assistências são motivadas por preços razoavelmente acessíveis, ao cidadão alemão. Ainda assim, a influência demográfica terá naturalmente algum peso nas bancadas, não apenas por haver alemães à brava: na Alemanha existem várias cidades com mais habitantes do que Lisboa e – todas elas equipadas com as melhores infra-estruturas – são terreno fértil para germinar o espírito bairrista. Sim, um bairrismo sofisticado! Não se pode ignorar a história germânica nem o impacto que teve (e que continuará a ter) no desenvolvimento natural das cidades, dos grupos sociais e de outros conceitos de Max Weber, dos quais agora não me recordo. As razões históricas sustentam a paixão pelo nosso bairro, pela cidade em que se vive e esse sentimento é fortalecido pelas longas distâncias entre cidades, uma vez que um cidadão de Dortmund está a 600 km de Munique; distância perpetuada na injecção de pertença que se dá aos recéns-nascidos de Stuttgart e o mesmo acontece em Nürnberg. Por isso, o teu nome é Schweinsteiger, nasceste na Baviera e agora defende o teu bairro.
E se este modelo de reprodução social não chega, surge uma indústria televisiva alienada às receitas de bilheteira, a venda de merchandising abraçada ao patrocínio de Multinacionais. A Bundesliga é fortemente caracterizada pela publicidade enquanto fonte de rendimento para os clubes. Deutsche Telekom, Gazprom, Volkwagen, Emirates, Mercedes são algumas das marcas que escalam montanhas de dinheiro para colocar o nome ou numa camisola ou num estádio, exceptuando casos de compra directa, como a Allianz, ou até de fundação, como a Bayer.
Relativamente ao produto propriamente dito, isto é, a qualidade futebolística, esta tem evoluído ao longo dos tempos. Muito embora elogíe a macro-ciência do campeonato, consigo inclusive identificar erros vitais na gestão desportiva de alguns clubes alemães, que cegam ao olhar de frente para um Bayern: muitas contratações falhadas, jogadores desperdiçados e salários milionários que contradizem o culto pela racionalidade germânica. Porém, este handicap tem sido trabalhado através da aposta constante nos talentos nacionais que, antes dos 20 anos, já estão a ser projectados nas equipas principais, tendo a oportunidade de ser – uma vez mais – lançados na equipa nacional, que funciona paralelamente à performance dos clubes. Aliás, a selecção alemã só beneficia os clubes, valorizando potenciais jogadores e, portanto, atraindo colossos europeus.
Algumas equipas são ainda alimentadas com muitos jogadores estrangeiros no plantel, mas verifica-se a tendência descontínua para contratar no mercado externo ou – pelo menos – jogadores já ultrapassados e que auferem salários astronómicos. É claro que a equipa de Guardiola é um caso à parte e é um assunto que costuma gerar conversa entre mim e o meu avô, mas ficará para a próxima.