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Quando o FC Porto ilude os próprios adeptos

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Acabou. Finalmente acabou a época desportiva 2013/14. Está na hora de nos despedirmos de Paulo Fonseca, de Abdoulaye, de Licá e de muitos outros. Adeus, não fazem falta. Perdoem-me a franqueza mas é-me imensamente difícil perceber como e onde é que surgiu a oportunidade de jogadores com tão pouca qualidade integrarem o plantel do Futebol Clube do Porto. Enfim… acabou. Venha a próxima época e não pensemos mais nisso!

Um mar de dúvidas

Julen Lopetegui. O novo treinador do FC Porto já conta com dois títulos internacionais no currículo mas a experiência à frente de uma equipa sénior e do nível do FC Porto é escassa… Mas é uma aposta de Pinto da Costa portanto vamos dar-lhe o benefício da dúvida. A verdade é que há muito para provar.

Brahimi? Durante o campeonato do mundo, o argelino fez “gato-sapato” da equipa alemã que depois veio a conquistar o troféu. As indicações são boas e parece ser a contratação mais sonante do mercado.

Tello? É da escola “blaugrana”, a melhor do mundo. E isso já é um bom cartão de apresentação para um extremo que promete ter uma qualidade demasiado grande para a liga portuguesa.

Casemiro? Um pouco desconhecido mas se vem do Real Madrid só pode ser bom.

Martins Indi? O defesa-central foi outro dos jogadores que deu nas vistas no último campeonato do mundo. Forte, alto, dominador… Parece que temos um novo patrão na defesa!

Óliver Torres, Adrián, Marcano…

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Lopetegui foi a escolha de Pinto da Costa para comandar os dragões
Fonte: Página de Facebook do FC Porto

Estamos no início da época 2014/15 e quando olho para o plantel do FC Porto, quando o comparo com os restantes plantéis da primeira liga só consigo pensar que já ganhámos. A razão diz-me para esperar, que “prognósticos só no fim do jogo”. E eu quero esperar. Mas é impossível conter esta ansiedade, esta sede de vitórias. E depois de um ano desastroso, olho para o presente e consigo finalmente… sonhar!

Faltam duas jornadas para acabar o campeonato. Só uma hecatombe poderia roubar o título ao Benfica e o FC Porto vai passar um ano sem festejar. Um ano sem festejar depois de ter prometido tanto, de tanto ter feito sonhar as hostes portistas.

E continuo a ouvir por aí que o FC Porto é a melhor equipa da Liga Portuguesa. Continuo a ouvir por aí que o FC Porto é melhor que o Benfica mas olho para a classificação e não é isso que vejo. O que é que se passou? Colinho? Foram os árbitros? Há mérito do Benfica? Há demérito dos dragões?

Ter as melhores individualidades é bom. É muito bom, é meio caminho andado para vencer. Se os jogadores são melhores, então isso vai acabar por se refletir nos resultados.

Ter o melhor coletivo também é bom. Como equipa, os onze jogadores sabem o que fazer em todos os momentos do jogo. E isso é meio caminho andado para vencer.

Ter o melhor coletivo mas não ter melhores individualidades já não é tão benéfico. Porque, embora a equipa saiba o que fazer e quando o fazer, a nível individual podem existir falhas que afastem a equipa do sucesso em alturas e momentos cruciais.

Ter as melhores individualidades mas não ter o melhor coletivo é ainda pior. Porque depende mais da inspiração individual do que do trabalho coletivo.

É bom que cada portista deixe de se iludir e se aperceba de que o FC Porto não é a melhor equipa da Liga Portuguesa. O Benfica sabe jogar entrelinhas, o FC Porto não. O Benfica sabe explorar as costas da defensiva contrária, o FC Porto só o consegue fazer quando Tello joga. O Benfica tem qualidade nas alas e tem qualidade no centro do terreno, sabendo explorar as diversas áreas do terreno. O FC Porto? Lateraliza. Bascula. Muda o flanco. O Benfica é claramente superior ao nível da transição defensiva e da transição ofensiva. Em organização, está aberta a discussão.

Não vale a pena ter as melhores individualidades se elas não encaixam no modelo ou na filosofia de jogo. Seria o mesmo que explorar os cruzamentos para a área e colocar o Rui Barros como ponta de lança para cabecear.

A melhor equipa? A melhor equipa é a que está sempre mais perto de vencer. E se há equipa que, neste momento, entre em campo à espera de vencer, essa equipa não é o Futebol Clube do Porto. Infelizmente.

Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

UFC Fight Night: Miocic vs Hunt – Ar fresco para os Pesados

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cabeçalho ufc

Como são incríveis Stipe Miocic e Mark Hunt… O primeiro por mostrar excelência em todos os níveis e fases do combate, o segundo por ter levado uma literal tareia… e nunca ter arredado pé. Convém recordar que a divisão de Peso Pesado está repleta de lutadores com capacidade de colocar o adversário inconsciente com apenas um soco. Posto isto, Miocic acertou 361 strikes em Hunt, um novo recorde dentro do octógono. Hunt não vacilou com nenhum, sendo apenas traído pela clara falta de cardio. Não fosse o árbitro a interromper o combate aos 2 minutos e 47 da 5ª ronda, Hunt teria continuado a resistir e a adiar o inadiável: a vitória de Miocic.

O primeiro combate do evento, que teve lugar em Adelaide, na Austrália, foi encabeçado por Jake Matthews e James Vick, ambos invictos à entrada para o combate. Matthews até entrou melhor e mais agressivo, mas foi Vick quem acabou por se superiorizar: acertou uma joelhada forte que abalou o seu adversário, ganhando assim espaço para fechar uma guilhotina, acabando por levar Matthews para o chão e lá exercer pressão, obrigando-o a bater. Grande vitória para Vick, que foi um dos premiados com o bónus de Performance da Noite.

James Vick (calções vermelhos) executa a guilhotina que lhe daria a vitória Fonte: UFC
James Vick (calções vermelhos) executa a guilhotina que lhe daria a vitória
Fonte: UFC

O combate que se seguiu não lhe ficou atrás, antes pelo contrário: o veterano Anthony Perosh defrontou Sean O’Connell num combate que pode muito bem vir a ser o seu último, pelo menos na UFC. Isto porque O’Connell “desfez-se” de Perosh com relativa facilidade, acertando boas sequências desde início, que acabaram por abalar Perosh e levaram o árbitro a interromper o combate, à falta de resposta do lutador de 42 anos. 56 segundos bastaram para que O’Connell vencesse, mas isso não foi o suficiente para lhe valer um bónus. Isto porque Whittaker subiu a parada no combate seguinte.

O australiano Robert Whittaker foi ainda mais rápido do que O’Connell a derrotar o seu adversário, algo que fez em apenas 44 segundos. Brad Tavares, que era, na altura, o número 14 do ranking de Peso Médio, foi atingido com uma esquerda fortíssima de Whittaker, que mal o viu a ceder atacou de forma furiosa, obrigando o árbitro a interromper o combate. Com esta exibição, Whittaker ascendeu ao lugar de Tavares no ranking. É, certamente, alguém que promete.

Apesar da espetacularidade dos combates que o antecederam, foi o último que roubou o espetáculo, por razões já acima referidas. Aliás, pouco mais há a dizer do que aquilo que foi dito no começo deste artigo. Foi um autêntico domínio, palavra que parece ficar aquém no que toca à altura de descrever aquilo que Miocic exerceu sobre Hunt. Durante cinco rondas o número quatro do ranking de Peso Pesado fez do neozelandês aquilo que lhe apetecia. Hunt, que é de ascendência samoana, não se permitiu desistir, o que resultou num espetáculo desolador para quem o apoiava. O combate deveria ter sido parado à entrada para a quarta ronda, mas nem o árbitro, nem o médico, nem a equipa de Hunt considerou que isso fosse necessário.

Eis o reflexo de todo o combate – Hunt (calções pretos) constantemente em posição de defesa, mesmo depois de o combate ter terminado Fonte: UFC
Eis o reflexo de todo o combate – Hunt (calções pretos) constantemente em posição de defesa, mesmo depois de o combate ter terminado
Fonte: UFC

Miocic acabou por vencer na quinta ronda, juntando assim esta exibição a um catálogo que muito provavelmente lhe dará uma oportunidade de combater pelo título de Peso Pesado, que será unificado a 13 de Junho, no UFC 188. Cain Velasquez, actual campeão, que esteve afastado devido a lesão, e Fabricio Werdum, campeão provisório, vão decidir quem é o verdadeiro campeão de uma divisão que se tem mostrado algo vazia. Cain é, de longe, o lutador mais excitante de todos os pesos Pesados, mas está constantemente lesionado, prejudicando não só a sua carreira como toda a categoria de peso. É uma divisão velha (média de idades ronda os 34 anos) e sem grandes perspectivas de futuro. Miocic é, por isso, uma lufada de ar fresco. À falta de concorrentes óbvios ao título, este representa a escolha mais acertada para o próximo combate daquele que sair como campeão em Junho.

Foto de Capa: UFC

Em Madrid e frente ao Rei, quem sorriu foi Murray

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O quarto Masters 1000 da temporada teve um vencedor deveras inesperado: o escocês Andy Murray. Murray já havia ganho nove títulos desta categoria na sua carreira, mas nenhum deles em terra batida, onde nunca havia chegado sequer a uma final. Antes de Munique, na semana passada, Murray nunca havia chegado sequer a uma final de terra batida em qualquer categoria de torneios, e agora já soma dois títulos e mostra credenciais de potencial candidato ao título em Roland Garros.

Após receber um BYE na primeira ronda, Murray venceu Kohlschreiber em 3 sets na segunda ronda, na reedição da final da Munique (vencida pelo Escocês no tie-break da terceira partida); num encontro que começou à 1 da manhã em Madrid, os dois primeiros sets foram equilibrados, mas, como já é seu apanágio, o alemão vacilou numa altura decisiva contra um jogador de topo e Murray venceu o terceiro set por 6-0, cortesia de erro atrás de erro de Kohlschreiber.

Na terceira ronda aguardava-se um duelo contra Gael Monfils, mas o Francês foi derrotado num encontro que durou 3h20m, contra Marcel Granollers, que não tinha reservas de energia suficientes para defrontar Murray no dia seguinte. Mesmo que estivesse fresco, é bastante duvidoso que Granollers tivesse armas necessárias para importunar Murray, mas estando fisicamente de rastos conseguiu apenas ganhar dois jogos, seguindo assim Murray tranquilamente para os quartos-de-final.

De forma categórica, Andy Murray venceu o seu primeiro Masters 1000 no pó de tijolo Fonte: Facebook do Eurosport
De forma categórica, Andy Murray venceu o seu primeiro Masters 1000 no pó de tijolo
Fonte: Eurosport

O adversário que se seguiu foi Milos Raonic, que se encontrava lesionado no pé e que aliás vai ser operado esta semana, falhando Roma e sendo bastante provável que não participe em Roland Garros nem em Wimbledon. Não quer isto dizer que tenha sido um encontro fácil para Murray; porém, com a sua movimentação diminuída, Raonic fez um jogo de alto risco, usando o seu famoso serviço canhão e procurando winners à mínima oportunidade. Foi necessária uma exibição sólida e concentrada de Andy Murray para levar o Canadiano de vencida pelos parciais de 6-4 7-5.

Nas meias-finais, o adversário foi o Japonês Kei Nishikori, que as casas de apostas consideraram favorito para chegar à final; no court, porém, a realidade foi bem diferente, com Murray a saber tirar partido das fragilidades do jogo do japonês -nomeadamente do seu fraco serviço -, que esteve constantemente sob pressão no seu saque. A grande capacidade de resposta de Murray (combinada ao serviço fraco de Nishikori) e a sua capacidade defensiva foram a chave para frustrar o japonês e carimbar o passaporte para a final.

Na final, Murray defrontou um jogador que dispensa apresentações: Rafael Nadal, que havia chegado à final tendo batido Johnson, Bolelli, Dimitrov e Berdych, sem perder um único set e como favorito a vencer em Madrid pelo terceiro ano consecutivo. Mas o Espanhol fez uma exibição surpreendentemente fraca na final, cometendo imensos erros incaracterísticos e respondendo muito mal ao serviço, falhando inclusivamente respostas a segundos serviços relativamente acessíveis apesar de se posicionar muito atrás da linha de fundo para ganhar tempo para preparar a pancada. Murray aproveitou e fez uma exibição muito sólida para ganhar o seu primeiro Masters de terra batida e 10.º no geral, contra todas as previsões.

Outros destaques:

Após ter vencido Nadal em Wimbledon no ano passado, Nick Kyrgios venceu agora Roger Federer, num encontro muito tenso decidido no tie-break do terceiro set com ambos os jogadores a terem de salvar match points.

Kyrgios foi eliminado por Isner, que por sua vez saiu do torneio nos quartos-de-final contra Berdych, apesar de não ter perdido nenhum jogo de serviço durante o torneio, como aliás já tinha acontecido no US Open do ano passado.

Milos Raonic atingiu a posição de ranking mais alta da sua carreira, sendo agora número 4 mundial. Essa colocação no ranking não vai durar, devido a já mencionada operação no pé que o vai obrigar a falhar Roma, no mínimo, e possivelmente Roland Garros e Wimbledon.

Com a sua derrota na final, Nadal está agora fora do top 5 do ranking ATP, pela primeira vez desde 2005. É agora #7 do mundo.

Foto de Capa: Eurosport

Z em Lukasz, Z em Zemsta

internacional cabeçalho

No início, o horizonte era largo e as esperanças num futuro risonho eram legítimas. Saído de Varsóvia, onde já era tido como um dos melhores guardiões nacionais, Lukasz Fabianski partiu para Londres com o sonho de deixar de ser confirmação no seu país para se afirmar no panorama internacional, onde apenas era visto como “promessa”. Tinha 22 anos.

Não foi a principal opção para a baliza do Arsenal nos primeiros anos e isso compreende-se com a presença de um guardião mais experimentado (tanto dentro das quatro linhas como fora delas – inclusive dentro da estrutura do Arsenal) como Manuel Almunia, que apenas “cedeu” a titularidade ao então jovem polaco em 12 jogos durante três épocas. Algo que podia ser visto como natural, e poder beber o ensinamento de gente “grande” não deixava de ser enriquecedor. Para além disso, seguia-se uma nova época e Fabianski sabia que podia disputar a titularidade com essa “gente”, estava preparado para enfrentar a concorrência do espanhol… e de um outro miúdo polaco que chegara quase nas mesmas circunstâncias que ele – um tal de Szczesny. Ora, perante o tratamento que lhe fora dado, esse não devia ser o concorrente mais feroz na luta pela titularidade. Ele tinha mais experiência, agora. Tinha 25 anos.

Fabianski tem sido preponderante no Swansea esta temporada. Fonte: Swansea CFC
Fabianski tem sido preponderante no Swansea, esta temporada.
Fonte: Swansea CFC

As coisas, porém, não correram da maneira que Fabianski esperaria. Um final de época 2009/2010 desastrado de Fabianski relegou-o para segunda escolha. Wenger deu-lhe a confiança enquanto tal para a eventualidade de o espanhol se lesionar, e apesar de quase comprometer a equipa num duelo da Taça da Liga contra os rivais do Tottenham, conseguiu corresponder ao francês com uma exibição fantástica diante do Partizan, para a Liga dos Campeões, aproveitando da melhor maneira a ausência de Almunia. Ganhou o moral necessário para fazer outras exibições vistosas, como a que desempenhou contra o City, sendo o melhor em campo na vitória por 3-0, numa performance que levou Wenger a admitir que podia estar ali o futuro número 1 do Arsenal. Voltou a desiludir, com um frango que ditou a derrota caseira contra o Newcastle (0-1), mas reagiu bem no duelo contra o Wolverhampton, “devolvendo” os três pontos – defendeu de forma segura o empate nos últimos minutos do encontro, e, no contra-ataque, o Arsenal marcou o golo da vitória. Voltou a brilhar no jogo seguinte, contra o Everton, e manteve alguma regularidade… mas vieram as lesões, e a partir daí a concorrência começou a apertar com a entrada em cena do seu compatriota Szczesny, que, graças ao facto de ter aproveitado a ausência de Fabianski, relegou-o para o banco em 67 ocasiões nas quatro épocas seguintes. Insatisfeito por não ter passado por promessa, pediu minutos. Queria, finalmente ser protagonista. Tinha 29 anos.

Rumou ao Swansea e tem apresentado uma regularidade impressionante, ajudando a equipa a estabelecer-se no 8º lugar, com 35 presenças em 36 possíveis e somando um total de 12 jogos sem sofrer qualquer golo, sendo nomeado para melhor em campo em várias partidas e apontado como o principal responsável por parte dos 56 pontos já somados pelo clube que representa. A forma como foram conseguidos os últimos três, por exemplo, ilustram-no: a jogar fora, no terreno de um dos candidatos ao título, o adversário teve mais posse de bola e poder ofensivo, rematou 23 vezes, 9 das quais à baliza, e em todas essas ocasiões o polaco opôs-se de forma segura, defendeu tudo. Aos 85 minutos, Gomis faturou e a equipa venceu um dos jogos teoricamente mais complicados da temporada por 1-0. O adversário precisava muito de vencer para se manter em superioridade na luta por um lugar de acesso directo à Champions, mas não conseguiu. Teve pela frente um muro polaco de 30 anos. Wenger e companhia arrependeram-se, nesse momento, de o ter deixado fugir, de não o terem deixado maturar.

O miúdo cresceu. É guarda-redes e homem feito. E comprovou-o com 90 minutos de segurança e frieza, a melhor forma de servir vingança. Ou “Zemsta”.

Foto de Capa: Facebook do Swansea

Olheiro BnR – Nuno Santos

olheiro bnr

Está longe de ser o mais mediático dos jogadores do Benfica B, mas é um dos mais entusiasmantes futebolistas do conjunto orientado por Hélder Cristóvão. Falo do jovem extremo-esquerdo Nuno Santos, um verdadeiro quebra-cabeças para as defesas que enfrenta na Segunda Liga.

Afinal, a viver apenas a sua primeira temporada no futebol sénior, o criativo de 20 anos está a demonstrar potencial mais do que suficiente para vingar entre a elite do futebol luso, merecendo inclusivamente a recente integração na convocatória de Hélio Sousa para representar a “Equipa das Quinas” no próximo Mundial de sub-20, a disputar este Verão na Nova Zelândia.

Muitos anos na formação do FC Porto

Nuno Miguel Gomes dos Santos nasceu a 13 de Fevereiro de 1995 na Trofa, tendo iniciado a sua carreira no clube da sua terra natal, o Trofense. Saltou depois para o FC Porto, onde esteve nos infantis, iniciados e juvenis, isto antes de se mudar para o Rio Ave em 2012/13, precisamente na transição para júnior.

Nos Vila-Condenses, ainda assim, permaneceu apenas uma temporada, uma vez que o seu excelente desempenho lhe valeu um rápido salto para o Benfica, clube que representa desde a temporada transacta, onde foi uma das grandes figuras dos encarnados no campeonato nacional de juniores e na UEFA Youth League.

Nuno Santos é mais um jogador de qualidade da formação encarnada Fonte: Facebook do Benfica
Nuno Santos é mais um jogador de qualidade da formação encarnada
Fonte: Facebook do Benfica

Não sentiu o salto

No Verão passado, Nuno Santos foi integrado no Benfica B, sendo que a sua adaptação a esta nova realidade futebolística foi imediata, com o internacional sub-20 português a realizar, até ao momento, uma excelente temporada na Segunda Liga.

Afinal, o talentoso extremo-esquerdo já soma 36 jogos (29 como titular) e oito golos pelo conjunto secundário encarnado, sendo que, muito para além dos números, há que destacar a sua influência no jogo ofensivo dos comandados de Hélder Cristóvão.

Talento e inteligência

Nuno Santos destaca-se pela sua velocidade, criatividade e técnica individual, ainda que seja igualmente relevante falar da grande inteligência de jogo do jovem de 20 anos, que parece ter sempre o melhor critério nas suas escolhas com e sem bola.

Com um pé canhoto fabuloso, o internacional sub-20 português actua preferencialmente como extremo-esquerdo, onde se assume como um futebolista que dá imensa profundidade ao seu flanco, sendo fortíssimo em lances de um contra um e no capítulo do cruzamento.

Ainda assim, pela sua inteligência de jogo e excelente meia-distância, Nuno Santos pode igualmente jogar no flanco oposto, onde terá inclusivamente a vida facilitada para fazer venenosas diagonais que criem desequilíbrios em zonas centrais do terreno.

Foto de Capa: Facebook Oficial de Nuno Santos

Ainda é possível separar o trigo do joio?

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Para o FC Porto, a época passada foi uma verdadeira exceção àquilo que havia sido a regra da história mais recente do clube. Mergulhado numa crise desportiva como há muito não se via, aquilo que se via da equipa era um plantel sem qualidade, um treinador sem nível e um desnorte total numa instituição centenária em que as vitórias eram frequentes. Por tudo isso, no meio de tanto turbilhão, de um número incontável de jogadores com pouquíssima qualidade e de uma mudança técnica a cerca de três meses de terminar a temporada, o final da última época era algo visto como uma urgência para a esmagadora maioria dos adeptos.

Findada a última temporada, era tempo de virar a página. No meio dos adeptos, tentar adivinhar aquilo que chegaria era um completo tiro no escuro. Depois de uma época tão má, onde apenas uma Supertaça ficou como registo, muitas eram as dúvidas que pairavam sobre a direção azul e branca. No topo da pirâmide, muito provavelmente seria consensual que a escolha do treinador era porventura uma das decisões com maior importância para Pinto da Costa nos últimos anos dentro do clube. Por aquilo que havia visto na época anterior, a direção portista não podia cometer o mesmo risco ao escolher um treinador sem perfil para enfrentar um desafio tão grande como o de comandar uma equipa como a do FC Porto.

Foi então que surgiu o nome de Julen Lopetegui: nome desconhecido para a esmagadora maioria dos adeptos portistas, o treinador basco surgia no espectro futebolístico como um verdadeiro nome retirado dos antípodas daquilo que se esperaria ser o futuro a curto prazo no clube. Sem praticamente qualquer experiência a nível de clubes e com dois títulos europeus nas seleções jovens espanholas, Lopetegui apresentava-se em maio de 2014 cheio de ambição e de singrar num clube cuja dimensão possivelmente ele próprio desconheceria. Com um discurso firme, cedo se percebeu a linha que Julen queria seguir: sem medo da história do FC Porto, sempre demonstrou que informação e detalhes eram dois pormenores que nunca descurava. Também por isso, as primeiras conferências de imprensa demonstravam um treinador que, pelo menos fora das quatro linhas, denotava uma confiança inesperada tendo em conta o desafio com que se deparava e a inexperiência que manifestava perante um desafio tão aliciante.

Depois de aparentemente dominar o “jogo falado”, que tantas vezes é importante num clube com a dimensão do FC Porto, chegava a altura de Lopetegui mostrar aquilo que para os adeptos era mais importante: a sua apetência dentro das quatro linhas. E bom, para isso, talvez fosse difícil acreditar, mesmo para o mais sonhador dos adeptos, em plantel melhor para fazer regressar o ceptro de campeão nacional ao museu do clube. Dezasseis jogadores novos, alguns emprestados dos melhores clubes da Europa, e tantas outras figuras cujo nome e qualidade faziam deste um dos melhores plantéis da história azul e branca. Olhar para o plantel da última época e compará-lo com o desta era simplesmente um exercício injusto, tamanha era a diferença de qualidade. Analisar aquilo que Pinto da Costa deu a Lopetegui mostrou desde sempre que esta era uma temporada diferente, porque, de facto, havia acontecido uma revolução cultural dentro do clube. Ao contrário do que havia acontecido em épocas transatas, onde basicamente os treinadores tinham que trabalhar com aquilo que o presidente lhes podia oferecer, desta vez tudo foi diferente. De facto, pensar em contratações como as de Marcano, José Ángel, Campaña, Oliver, Casemiro, Brahimi, Adrián e Tello mostra bem que, mais do que um simples treinador, Lopetegui apresentou-se aos adeptos como um verdadeiro manager.

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Tello foi um dos nomes pedidos por Lopetegui
Fonte: Página de Facebook do FC Porto

Para o bem ou para o mal, a análise do sucesso ou insucesso do FC Porto 2014-2015 teria que passar por uma análise muito centrada em Julen Lopetegui. Afinal de contas, muito do que se veria na temporada era sinal de escolhas suas e de uma linha orientadora que sempre definiu. Ainda assim, e mesmo entre uma inexperiência gritante ao nível de clubes, o nível competitivo do futebol português demonstrava, para a maioria dos analistas, que a qualidade do plantel portista era mais do que suficiente para, com maior ou menor dificuldade, ser campeão.

Os erros de Lopetegui

Se bem se recorda, caro leitor, fui escrevendo ao longo da temporada aqui no Bola na Rede que a tarefa de Lopetegui não seria fácil. Apesar do conhecimento que demonstrava, sobretudo relativamente a aspetos extra-futebolísticos, entrar num campeonato como o português nunca seria uma tarefa fácil. Como fui dizendo, apesar de o nível competitivo da nossa liga ser geralmente baixo, o campeonato passa por vários momentos, o que leva a que, mesmo não podendo jogar sempre bem, as equipas tenham de se adaptar às circunstâncias. Por tudo isso, aquilo que seria de esperar era que, numa fase tão prematura da época – em que o acesso à Liga dos Campeões era tão urgente para o futuro da temporada e que o início do campeonato podia ser determinante na perceção do que seria a consistência da equipa –, Lopetegui pudesse formar um núcleo base com o qual enfrentasse as suas primeiras batalhas no nosso país.

Esse foi o primeiro pecado do treinador espanhol. Ao longo dos primeiros meses da época, tentar adivinhar o onze portista era um verdadeiro exercício em que só com muita sorte à mistura se poderia acertar na resposta. Mesmo depois de ter conseguido o acesso à Liga dos Campeões, a equipa portista nunca caminhou em bases seguras no início da temporada. E isso, bem vistas as coisas, acabou, a meu entender, por ser fulcral para o mais que provável insucesso na época desportiva portista. Aliás, a conferência de imprensa de Lopetegui do último domingo fez-me precisamente pensar em tudo isso: mais do que na segunda volta, o FC Porto deu tiros nos pés no primeiro terço da competição. Analisar alguns dos maus resultados no Campeonato e na Taça de Portugal leva-nos à conclusão de que, para muito do que a equipa passou, Lopetegui teve infelizmente o papel principal. No meio de tantos jogos de início de época, com campeonato, Liga dos Campeões e Taça de Portugal, o treinador basco nunca decidiu aquilo que queria da época e sobretudo nunca decidiu e mostrou aquilo que queria da equipa.

Por tudo isto, decidiu alterar meia equipa entre a goleada por 6-0 ao BATE Borisov e o jogo com o Boavista. Por tudo isto, decidiu mudar meia equipa para o jogo da Taça de Portugal com o Sporting simplesmente porque quatro dias depois ia ter um jogo com o Atlético de Bilbau. Por tudo isto, optou por alterar o sistema tático na Amoreira, frente ao Estoril, num jogo tradicionalmente difícil para a equipa. Bem vistas as coisas, e apenas com pouco mais de três meses de época, por culpa própria, Lopetegui já estava com três ou quatro pontos de desvantagem no Campeonato e sem a Taça de Portugal por disputar. E tudo porque a sua inexperiência veio ao de cima, e entre os episódios com Quaresma ou a rotação do plantel, a sua notoriedade junto do público já denotava que havia sido um tremendo falhanço a aposta em si.

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FC Porto: 2014/2015 pode ser o segundo ano consecutivo sem títulos
Página de Facebook do FC Porto

Para além dos erros táticos que foi evidenciando, outro dos erros que fui apontando a Lopetegui foi o da excessiva obsessão que este teve com a Liga dos Campeões. Os casos acima demonstrados (jogos com BATE Borisov e Boavista e Sporting e Atlético de Bilbau) são apenas os exemplos mais claros daquilo que fui percebendo ao longo dos jogos. Essa é porém uma realidade não só intrínseca ao treinador mas aos próprios jogadores. Ao longo da época, não raras vezes vimos um FC Porto de duas caras em campo, sobretudo no que dizia respeito aos jogos do Campeonato e aos jogos da Liga dos Campeões. Na Liga Portuguesa, a bipolaridade entre jogos era uma evidência e também por isso nunca se sabia o que esperar do FC Porto – se uma goleada ou se uma exibição completamente sofrível. Na Champions, essas dúvidas existenciais nunca existiram: ao longo da prova mais importante de clubes a nível europeu, Lopetegui e os seus jogadores nunca se amedrontaram e nunca se fecharam num buraco tático. Mesmo não apanhando, com exceção ao Bayern de Munique, equipas de grande montra do futebol europeu, a imagem que o FC Porto deixou na Europa foi a de uma equipa altiva, com estofo e classe suficientes para mostrar ao mundo que a verdadeira mística havia regressado.

Esta bipolaridade foi algo que critiquei por achar tão normal, tendo em conta o tipo de jogadores que Lopetegui e a estrutura portista haviam escolhido para esta temporada. Ao olhar para jogadores como Casemiro (emprestado pelo Real Madrid), Oliver (emprestado pelo Atlético de Madrid), Brahimi (jogador que havia feito um Mundial a top) e Tello (emprestado pelo Barcelona), era fácil perceber que, mesmo de forma inconsciente, a Liga dos Campeões haveria sempre de ser um dos objetivos primordiais para a equipa. Era inevitável que acontecesse, dado o nível de muitos jogadores, com qualidade mais do que suficiente para pisar outros palcos e outros campeonatos muito mais atrativos que o Campeonato português.

Esse foi o segundo erro de Lopetegui: a falta de noção e de realidade, que nunca teve, que possivelmente nunca lho mostraram e que nunca foi transmitida aos jogadores. Ao longo da época, Lopetegui cometeu erros primários e que, na minha modesta opinião, são a principal causa pelos pontos de desvantagem que tem no campeonato. Depois de ter desperdiçado quatro pontos de forma ridícula com Boavista e Estoril, o FC Porto chegou ao jogo contra o Benfica, no Estádio do Dragão, com três pontos de desvantagem e com a noção de que uma derrota no clássico podia ser um verdadeiro momento chave no campeonato. Para os mais otimistas, esse foi um jogo onde tudo correu mal ao FC Porto e onde tudo correu bem ao Benfica. Em certa medida é verdade, tendo em conta que o adversário teve 100 % de eficácia e que os portistas não conseguiram concretizar nem uma das quatro ou cinco oportunidades flagrantes que tiveram nessa noite. Ainda assim, acho que esse jogo, que para muitos é o jogo chave deste campeonato, demonstrou mais uma vez a falta de estofo que ainda marcava este FC Porto. Nesse jogo, a equipa não soube controlar os ritmos e, depois de um início fulgurante de partida, deixou-se envolver no ritmo que mais interessava ao Benfica. Levou com um golo de lançamento lateral e outro com um erro de Fabiano. Tão simples quanto isso. E seis pontos de desvantagem.

Feitas as contas, e mesmo com uma segunda volta toda por disputar, a diferença pontual para o rival, por altura natalícia, devia-se mais a erros de perceção do treinador e dos jogadores do que a outra coisa. É certo e é por demais evidente que o adversário foi beneficiado em alguns jogos: tenha sido contra o Boavista, Estoril, Rio Ave, Nacional ou Gil Vicente, é certo que o Benfica tinha pontos a mais no final da primeira volta. Não vou falar em “colinho” porque esse não é o meu estilo, mas parece-me óbvio e acredito que o seja para os verdadeiros adeptos (e não para os fanáticos) que isso aconteceu e que possivelmente, em termos justos, a diferença de seis pontos ao final da primeira volta era demasiada para aquilo que havia acontecido.

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Jackson, capitão portista, é a maior figura do plantel de Lopetegui
Fonte: Página de Facebook do FC Porto

Segunda volta e o mistério da Ilha

Lopetegui disse-o, e neste texto também eu já o reiterei: a segunda volta portista tem roçado a perfeição. Aliás, bem-feitas as contas, são já 15 os jogos disputados e apenas sete os pontos perdidos, com empates na Choupana e na Luz e derrota nos Barreiros, frente ao Marítimo. E por falar na pérola do Atlântico, foi aí que residiu o terceiro erro de Lopetegui. A meu ver, e já o disse a vários amigos, este é um Campeonato que tem três jogos chave e onde, em todos eles, o desfecho foi favorável ao Benfica. O primeiro, como não podia deixar de ser, foi o FC Porto-Benfica, da primeira volta. Mesmo com um resultado muito feliz, o que é facto é que os encarnados saíram do Dragão com seis pontos de avanço e uma vantagem que, à luz daquilo que é a Liga portuguesa e o seu nível competitivo, era bastante confortável. O segundo jogo decisivo, na minha opinião, foi o Sporting-Benfica da 20ª jornada. Se bem se recordam, apenas duas semanas antes, Benfica e FC Porto haviam fraquejado nos Barreiros e na Mata Real, respetivamente. Por essa mesma altura, os comandados de Marco Silva seguiam firmes na perseguição aos dois da frente e aquele duplo desaire dos adversários diretos havia acendido a chama do título para os lados de Alvalade. Como havia acontecido no Dragão, Jesus montou a sua equipa em Alvalade para, mais do que ir ao encontro do jogo, esperar por ele e pelo erro do adversário. Depois de ter conseguido o mais difícil, que era chegar à vantagem, o Sporting não a conseguiu manter e, no último lance da partida, Jardel deu o empate aos encarnados, permitindo-lhes manter a vantagem de sete pontos para os leões e vendo diminuir para quatro a vantagem para o FC Porto. Por último, o terceiro jogo decisivo e que é aquele, a par do jogo da Taça de Portugal com o Sporting, que me está mais atravessado na garganta: o empate na Choupana frente ao Nacional da Madeira, logo após o Benfica ter perdido em Vila do Conde.

Este é, porventura, um dos jogos em que Lopetegui cometeu mais erros: mesmo enfrentando um adversário debilitado, sem Marco Matias e Tiago Rodrigues (o FC Porto não tinha Jackson), a equipa, mesmo sabendo que se podia colocar a apenas um ponto do primeiro lugar, nunca deu sinais de que queria verdadeiramente vencer. Por isso, a toada desse encontro foi lenta, demasiado lenta e previsível para uma equipa que sabia que só podia vencer e que, muito provavelmente, aquela seria a única verdadeira hipótese para encostar ao Benfica e pressionar os comandados de Jorge Jesus. Nesse jogo, nada disso aconteceu: aquilo que se viu foi um FC Porto amorfo, sem chama, sem intensidade e que, mesmo depois de se ter apanhado em vantagem, nunca soube controlar o jogo. Como se isso não bastasse, a substituição de Casemiro por Rúben Neves numa fase em que a equipa dava sinais de descontrolo emocional e tático foi apenas a cereja em cima de um bolo muito mal feito por Lopetegui e que deu num empate confrangedor e desolador. Aliás, se bem se recorda, eu próprio disse que, apesar de estar mais próximo em termos pontuais, o FC Porto estava, depois daquela jornada, mais longe do título. E isso porque, tal como em tantos outros momentos da época, a equipa e o treinador haviam demonstrado que não sabiam o que era o clube.

O Bayern, o duelo com Jesus e o “manto protetor”

Ao contrário do que possa parecer, não escrevi este texto apenas para carregar em cima de Lopetegui e dos jogadores. Aliás, uma das coisas que posso elogiar é que, de facto, esta época trouxe de regresso as boas exibições e o bom futebol ao Estádio do Dragão. A qualidade dos jogadores levou a que, não raras vezes esta época, a equipa tenha assinado um excelente futebol. Os jogos contra o Shakthar Donetsk em Lviv, contra o Atlético Bilbau no San Mamés, contra o Basileia, Bayern e Sporting no Dragão são apenas exemplos de partidas em que o perfume do futebol portista foi evidente. Em 2015, com a segunda volta e os oitavos e quartos-de-final à mistura, o FC Porto foi subindo de rendimento e parecia chegar à fase determinante da temporada em verdadeiro ponto de rebuçado. O problema é que, depois de ter desperdiçado uma oportunidade de ouro para se colocar a apenas um ponto do Benfica, a diferença de três pontos na classificação, com uma deslocação ainda ao Estádio da Luz, parecia uma montanha demasiado grande para a equipa ultrapassar, até tendo em conta que o principal adversário no campeonato ia igualmente subindo de rendimento, defensiva e ofensivamente.

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Em alguns momentos da época, Lopetegui excedeu-se nas criticas
Fonte: Página de Facebook do FC Porto

E, por entre um campeonato por decidir e uns quartos de final muito bem encaminhados, é após os confrontos em Munique e na Luz que tudo se altera. E também aqui creio que o essencial é fazer uma análise ponderada: objetivamente, ficar eliminado pelo Bayern de Munique (mesmo depois de um 3-1 na primeira mão) é perfeitamente natural. E tanto mais é natural tendo em conta a importância das ausências de Danilo e Alex Sandro na equipa portista. Já no que diz respeito ao jogo da Luz, foi aqui que residiu mais um dos erros de Julen Lopetegui. Tal como escrevi no rescaldo ao clássico, a falta de ambição do treinador espanhol foi uma evidência tão natural como inadmissível tendo em conta aquilo que é o FC Porto. Ao colocar uma equipa com dois médios defensivos (Casemiro e Rúben Neves), com Evandro no meio e transportando Oliver para uma ala, deixando Herrera e Quaresma no banco, Lopetegui deu um sinal de medo que não pode nem deve ser apanágio de um clube tão habituado a jogar para vencer. Aí, como em tantas outras ocasiões, Lopetegui deu um tiro no seu próprio pé e mesmo tendo tentado emendar a mão na segunda parte, aquilo que fez no Estádio da Luz foi mais um dos seus erros táticos.

E é depois desse jogo que aconteceu o capítulo final da época portista assinalada, como em tantas outras ocasiões, por Julen Lopetegui. Depois de ouvir o treinador adversário se enganar tantas vezes no seu nome, decidiu montar a tenda em pleno relvado da Luz, quase chegando a vias de facto com Jorge Jesus. Mais do que se falar do jogo propriamente dito – que verdade seja dita foi muito fraco em termos táticos – os adeptos do futebol apenas falaram da discussão entre Lopetegui e Jesus. Depois de dizer e repetir variadas vezes os erros que beneficiaram o Benfica, o erro de Jesus em dizer o seu nome foi o segundo argumento usado por Lopetegui. Bem vistas as coisas, e olhando até para a incongruência de Jesus, que disse que “só se engana nos nomes quando queria”, devo dizer que, quer nos erros de arbitragem quer neste assunto com Jorge Jesus, o treinador espanhol tem, em tese, razão. E esse é, porventura, e por incrível que pareça, mais um dos erros de Lopetegui: ao longo dos meses, fui dizendo que ele perdeu muitos dos pontos e até competições por erros primários de apreciação. Cometeu-os várias vezes, acredito eu, porque não percebeu coisas simples no futebol português. Não percebeu que simplesmente não se pode alterar consecutivamente a equipa de uma semana para a outra; não percebeu que, nos dois jogos com o Marítimo nos Barreiros, a equipa tinha que dar 200% para derrotar um adversário que contra o FC Porto joga de forma especial; não percebeu, nos clássicos contra o Benfica, que a inteligência tática tinha de se sobrepor a qualquer outra coisa.

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O FC Porto tem de esperar por um duplo tropeção do Benfica para chegar ao título
Fonte: Página de Facebook do FC Porto

Lopetegui não percebeu nenhum desses momentos. E se dentro de campo não os percebeu, muito menos foi percebendo os momentos fora de campo. Lopetegui – e a estrutura portista devia tê-lo percebido – não devia ter entrado neste “duelo” com Jorge Jesus. Jornalisticamente falando, Jorge Jesus é daqueles treinadores com boa imprensa. Não há volta a dar: diga o que disser, o técnico benfiquista tem muitas das vezes o crivo jornalístico do seu lado. É inegável a sua qualidade enquanto treinador mas também é indiscutível que a proteção que recebe dos vários lados desta equação é e tem sido evidente ao longo dos últimos seis anos. Lopetegui não percebeu isso e quis entrar num duelo pessoal que nunca podia ganhar. E não podia ganhar porque também se foi queimando ao longo dos tempos, falando vezes de mais de erros de arbitragens e gastando vezes de mais um argumento que era tão mais válido quanto menos vezes fosse trazido à colação. Lopetegui nunca percebeu isso e deixou envolver-se em conferências de imprensa múltiplas onde as perguntas sobre Jesus, Benfica e arbitragens preenchiam quase todos os minutos. A essas perguntas, o treinador espanhol deveria ter ultrapassado com mestria. Nunca o fez porque nunca percebeu os momentos em que deveria falar e os outros em que deveria ter estado calado. E, verdade seja dita, eu próprio seria o primeiro a dar-lhe razão em relação ao “manto protetor” e à falta de categoria do rival se, durante a época, ele tivesse dado menos tiros nos pés e tivesse cometido menos erros.

É que, bem vistas as coisas, por muita razão que Lopetegui tenha, nada me tira da cabeça que o FC Porto só não será campeão por culpa própria. E isto porque continuo a achar que é a melhor equipa portuguesa. Lopetegui demorou muito tempo a perceber isso e é por isso que, mesmo tendo alguma razão, vai ficar mal no final desta fotografia. É que, no meio de tantas falhas, torna-se difícil separar o trigo do joio. Espero é que ele aprenda isso. Seja ou não no FC Porto.

Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

Markevych e os Bravos Guerreiros de Dnipro

internacional cabeçalho

Após o empate no mítico Stadio San Paolo na passada quinta-feira, o nome “Dnipro Dnipropetrovsk” fez a manchete dos jornais desportivos por essa Europa fora, criando também algum rebuliço um pouco por todas as redes sociais e nos websites da especialidade. Pela primeira vez, não foi à conta de Yehven Konoplyanka que o Dnipro se tornou notícia de capa, mas antes pela extraordinária campanha que estão a levar a cabo na Liga Europa.

O Dnipro, que, sob o nome Dnepr, foi dos poucos clubes capazes de fazer frente ao poderoso Dynamo Kiev durante a década de 80 do século passado no futebol soviético, conseguindo na altura conquistar duas Super Ligas Soviéticas (1983 e 1989), foi a primeira equipa a tornar-se inteiramente profissional na ex-URSS. Com uma notável academia de formação, o Dnipro teve sempre ao dispor (especialmente durante as décadas de 70 e 80) jogadores de elevada qualidade, como os casos do antigo goleador soviético Oleg Protasov e do talentoso médio Gennady Lytovchenko (também ele internacional pela URSS), mas acabava sempre por perdê-los para o clube do regime, o Dynamo Kiev.

O novo Dnipro nada tem a ver com o velho Dnepr de Volodymyr Yemets do início dos anos 80, mas o espírito combativo e o estilo de jogo altamente meticuloso estão de volta pela mão daquele que é por muitos considerado o melhor treinador ucraniano da actualidade: o incomparável Myron Markevych. O treinador, natural de Lviv, que antes do jogo contra o Nápoles afirmou não ter medo da equipa italiana, conseguiu mudar por completo a forma de jogar do Dnipro desde que tomou o leme do clube em Maio de 2014. Com apenas três derrotas em 22 jogos na liga ucraniana esta época, este Dnipro é um osso duro de roer para qualquer adversário. Markevych tem vindo, aos poucos, a implementar na equipa um sistema de jogo baseado num 4-2-3-1 altamente moldável que se transforma num 4-3-3 mais ofensivo sempre que a situação o exige.

Myron Markevych – O homem por detrás da cortina Fonte: Dnipro
Myron Markevych – O homem por detrás da cortina
Fonte: FC Dnipro

Com um meio-campo de combate, onde se destacam jogadores como o georgiano Jaba Kankava e os internacionais ucranianos Valeriy Fedorchuk e Ruslan Rotan (capitão de equipa), o Dnipro baseia muito o seu jogo no talento do inconfundível Yehven Konoplyanka e na técnica apurada de Roman Bezus, que jogam muitas vezes pelas alas ou um pouco mais por dentro, servindo como suporte ao ponta de lança da equipa. É precisamente para essa posição que o Dnipro conta com jogadores de elevadíssima qualidade, como o caso de Yehven Seleznyov, Roman Zozulya (actualmente lesionado) e o internacional croata Nikola Kalinic. Outro dos segredos do sucesso da equipa ucraniana a nível internacional esta época assenta na qualidade do seu guarda-redes, Denys Boyko, um produto das escolas do Dynamo Kiev, que foi possivelmente o homem do jogo na passada quinta-feira no San Paolo.

Markevych sacudiu, após a sua chegada, uma certa apatia que tinha tomado conta do estilo de jogo da equipa durante os últimos anos do reinado de Juande Ramos, apesar de este ter conseguido levar a equipa ao segundo lugar da liga ucraniana na época passada. A dependência dos momentos de inspiração do seu número 10, Yehven Konoplyanka, diminuiu significativamente à medida que a equipa começou a crescer como conjunto e passou a construir o seu jogo de forma mais calma e confiante desde trás.

Yehven Konoplyanka – O menino de ouro do Dnipro Fonte: Página do VK (rede social) de Yehven Konoplyanka
Yehven Konoplyanka – O menino de ouro do Dnipro
Fonte: Página do VK (rede social) de Yehven Konoplyanka

Markevych é um pensador do futebol e o seu trabalho de quase uma década no Metallist Kharkiv não pode deixar ninguém indiferente. Na sua primeira temporada à frente do Dnipro, o treinador de 64 anos conseguiu, para já, levar a equipa às meias-finais da Liga Europa e mantém em aberto a possibilidade de alcançar o Shakhtar na 2ª posição da liga ucraniana e até mesmo chegar ao título, uma vez que está a apenas seis pontos de distância do actual líder, Dynamo Kiev.

Os lendários Andriy Biba e Valeriy Lobanovskyi colocaram o Dnipro no mapa do futebol soviético no final da década de 1960, ao passo que Markevych poderá ficar na história como o homem que reapresentou o histórico emblema ucraniano ao mundo, devolvendo o Dnipro aos grandes palcos europeus, algo que já não sucedia há um quarto de século.

Foto de Capa: FC Dnipro

Carta aberta ao Sr. Lopetegui – A culpa é do treinador

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Caro Mister Lopetegui,

Tão certo como a morte ou os impostos, em cada temporada desportiva existem vencedores e perdedores. Mais especificamente existe apenas um vencedor e então depois tudo o resto. E para as equipas que não ganham, toda a gente (fãs, staff, directores, jogadores, treinadores, etc…) tem uma opinião sobre porque a “sua” equipa não foi bem-sucedida nessa época.

A realidade é que ganhar um campeonato nunca é fácil. Hoje mais do que nunca, mesmo antes de entrar para a recta final, as épocas são definidas por um jogo ou alguns jogos, a meio caminho para o final. Para alcançar este derradeiro sucesso, o treinador deve ter tido a capacidade de montar um puzzle enigmático, tipo quebra-cabeças, que contém mil ou mais peças, e montado esse quebra-cabeças não apenas uma vez mas semana a semana, pelo campeonato fora. Saber quais são as peças que ele tem à sua frente é um desafio; outro é saber em que ordem colocá-las e, claro, saber por onde começar e quando mudar.

Ganhar um campeonato requer que o treinador tenha sido um verdadeiro líder. Um verdadeiro mentor. Alguém que conhece os meandros de tudo em que está envolvido. As especificidades e as generalidades. Requer que o treinador principal tenha respondido positivamente às adversidades, tenha sido um líder dotado de grande resiliência, entre outras inúmeras coisas que poderá ler nos meus artigos. Como portista que sou não posso admitir que o líder da equipa pela qual eu torço e me emociono, que me alegra quando ganha e me entristece quando perde, desça a um nível tão baixo e demonstre competências parcas para aquilo que representa e para aquilo que aufere.

Julen Lopetegui chegou ao FC Porto no início desta temporada Fonte: FC Porto
Julen Lopetegui chegou ao FC Porto no início desta temporada
Fonte: FC Porto

Mister Lopetegui, eu reconheço-lhe competências técnicas por momentos demonstrados pela equipa. Reconheço também que lhe falta muita coisa para ser o melhor treinador para o meu Futebol Clube do Porto, e posso enumerar-lhe uma lista delas se aceitar a ajuda e permanecer no clube na próxima época. Caso queira ter sucesso no FCP eis o que convém saber:

  1. Durante o defeso desportivo, leia, estude e aprenda muita coisa da cultura e mentalidade portuguesa (várias experiências anteriores em Portugal de treinadores espanhóis nunca deram grandes resultados por falta de identificação e adaptação às realidades nacionais, à excepção do grande Paco Fortes, que fez um trabalho fabuloso à frente do S. C. Farense – vários não tiveram grande sucesso, nomeadamente Camacho, Quique Flores, Víctor Fernandez, Castro Santos, Alberto Pazos, entre outros mais antigos).
  2. Aprenda e compreenda a mística e a maneira de estar com antigos “místicos” do clube: Vítor Baía, Jorge Costa, João Pinto, Rui Barros, Jaime Magalhães, Deco, António Oliveira, Frasco, Costa, André, Gomes, Paulinho Santos, Fernando Couto, etc. Para já não falar do Presidente Pinto da Costa, que deve andar distraído com outras coisas para ainda não ter feito nada (ou se fez ainda não surtiu nenhum efeito visível).
  3. Aprenda a liderar segundo os valores e identidade do clube, pois se não for assim o que transparece cá para fora é que só cá está para ganhar umas coroas… A malta não gosta disso, acredite!
  4. Siga o exemplo de comunicação de alguns novos e inteligentes treinadores que são inteiramente assertivos e coerentes perante a comunicação social e não entram em confusões quando “picados” por agentes da concorrência (por exemplo Marco Silva e Leonardo Jardim). É notório que precisa de ajuda a este nível.
  5. Mantenha um nível alto. Seja portador de standards elevados. Não reaja a provocações de nível mais baixo pois só irá desperdiçar energia. Deixe essa energia nos treinos e nos jogos.
  6. Procure entender que modelos usados no passado podem não funcionar no presente. Não falo de modelos de jogo pois isso é consigo. Qualquer um serve desde que ganhe jogos…
  7. Mentalize-se de que o FCP é o clube que lhe pode proporcionar o momento mais alto da sua carreira que até agora foi pautada por voos relativamente baixos. Reflicta seriamente sobre isso. Pode ser que lhe dê alguma motivação intrínseca.
  8. Seja mais humilde e tenha um orgulho mais positivo. Seja você mesmo aquilo que quer ver nos que o rodeiam.
  9. Deixe de ser um Treinador Cebola (se quiser saber o que significa compre e leia o meu livro “Como Ser Um Treinador de Excelência”). Deixe de arranjar desculpas focando-se na arbitragem, no adversário, no relvado, nos apanha bolas, nas convocatórias, nas lesões dos jogadores, etc. A responsabilidade da sua equipa, dos jogadores convocados, do onze inicial, da maneira como joga, da garra que ela transpira (ou não), dos resultados não é só sua mas em grande percentagem é…
  10. Leia a obra “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, e aprenda a ser o estratega que me parece que não é.

Por mais razão que possa ter quando fala, perde-a no momento em que olhamos para trás e vemos o percurso e o comportamento da sua equipa. Quando vemos o seu comportamento e o que comunica. O que transparece ou é excesso de confiança ou falta de confiança. Cometer erros todos cometem, mas recusar-se a não aprender com eles é estupidez.

Se ficar na próxima época tenha consciência e assuma para si mesmo que falhou rotundamente em várias ocasiões. O fracasso pode ser um grande aliado mas há que ter a humildade de percebê-lo como um instrumento de realização, que já foi usado por muitas pessoas de grande sucesso que souberam aproveitá-lo. Não espere obter resultados diferentes se fizer sempre a mesma coisa, que eu também não…

Um grande abraço!

Foto de Capa: FC Porto

GP de Espanha: a ambição de Hamilton e a consistência de Rosberg

cab desportos motorizados

Este fim-de-semana, a F1 esteve de regresso à Europa. Com o sol e o calor de Barcelona a emoldurar o espectáculo, Rosberg surpreendeu ao conquistar a pole – a primeira da temporada. Como já vem sendo hábito, os Mercedes dominaram a qualificação, rejeitando a implícita ameaça do Ferrari de Vettel, que saiu da segunda linha. Mas a grande surpresa desta qualificação foi o quinto lugar de Carlos Sainz (Toro Rosso), seguido bem de perto pelo colega de equipa, Max Verstappen. Os Toro Rosso estão a ser a equipa sensação deste Mundial 2015, principalmente o jovem Verstappen. Sainz conseguiu o feito de bater o Ferrari de Raikkonen e o Red Bull de Kvyat.

Com uma qualificação bem animada, a corrida em si foi, ao contrário do esperado, aborrecida. No arranque, Vettel ultrapassou Hamilton e conquistou a segunda posição, com Rosberg a fugir, consolidando a liderança. E se na qualificação não se havia imposto, aqui Raikkonen fez questão de mostrar o que vale: com um arranque fora de série, ultrapassou os dois Toro Rosso logo na primeira volta, conseguindo a quinta posição. Kimi Raikkonen é dos poucos pilotos do meu imaginário de criança que ainda se mantêm em prova, e, assim sendo, rejubilo com estes pequenos feitos do finlandês.

A Mercedes continua a acertar na estratégia de paragem nas boxes, e foi exactamente dessa maneira que Lewis Hamilton recuperou o segundo lugar. Na 51ª volta, Hamilton saiu das boxes à frente de Vettel e practicamente confirmou mais uma dobradinha para a Mercedes. O Mundial de F1 2015 continua dividido: os três da frente demarcam-se, com notável distância, dos outros pilotos. E com a frente da corrida decidida, o interesse deslocou-se para os lugares mais abaixo na classificação.

Os 3 primeiros Fonte: Facebook da Mercedes AMG Petronas
Os 3 primeiros da prova
Fonte: Facebook da Mercedes AMG Petronas

Sainz e Raikkonen protagonizaram os momentos mais emocionantes da recta final da prova. Raikkonen, com os pneus mais macios desde o início, esteve a 0.7s de Valtteri Bottas (Williams), tendo então a possibilidade de colocar dois Ferraris a seguir aos dois Mercedes. Apesar do esforço e da excelente prestação do piloto da Ferrari, Bottas defendeu bem o quarto lugar para a Williams. Já Carlos Sainz conseguiu, quase heroicamente, posicionar-se nos lugares pontuados, ultrapassando Kvyat (Red Bull) num momento quase aparatoso, tendo os dois carros chegado a embater um no outro.

Nota negativa para Pastor Maldonado, que por pouco não conseguiu pontuar pela primeira vez este ano. Depois de uma boa corrida, o venezuelano foi forçado a abandonar. Lewis Hamilton ainda pediu, via rádio, para se aproximar de Rosberg; o inglês chegou mesmo a insinuar que a equipa poderia pedir ao alemão para deixar o companheiro de equipa vencer. Mas a Mercedes mostrou-se irredutível: Nico Rosberg ia mesmo, tal como aconteceu, vencer o GP de Espanha. E agora está a menos de uma vitória de ultrapassar Lewis Hamilton na liderança do campeonato…

Foto de capa: Facebook da Mercedes AMG Petronas

Os cães ladram e a caravana passa

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Ainda nada está ganho. Faltam duas jornadas e temos de manter a concentração e o respeito pelos nossos adversários até ao fim. Ao mesmo tempo que admito a minha descrença no início desta época em relação à possibilidade de o Benfica vir a ser campeão, também confesso alguma ansiedade pelo próximo fim-de-semana. Se tudo correr bem, a festa descerá de Guimarães para Lisboa, num passeio triunfal que consagrará campeã aquela que foi, sem dúvida, a equipa que melhor futebol praticou esta época.

Basta lembrar a irregularidade exibicional do FC Porto no início da temporada (equipa que era apontada quase por unanimidade como a favorita a conquistar o campeonato) e o facto de o Benfica ser líder desde a 5ª jornada (está na frente, portanto, há 27 jornadas consecutivas!) para se perceber quem merece ser campeão. Temos visto nos últimos dias o nervosismo a crescer a norte. E percebe-se porquê. Primeiro, porque o Benfica não mais vacilou desde a derrota em Vila do Conde e, para além disso, tem aperfeiçoado a máquina goleadora e mantido a qualidade do seu jogo num nível alto. Segundo, porque a narrativa do colinho já caiu há muito tempo (vão-se sucedendo os jogos em que não há casos de arbitragem a registar) e agora falta outro argumento extra-jogo para colocar em causa a liderança do Benfica. Terceiro, porque vão ficando para trás os anos em que os troféus ficavam na Invicta (o mais provável é o FC Porto não voltar a ganhar rigorosamente nada este ano) e a hegemonia do futebol português parece agora estar a virar-se para sul e a ganhar tons de vermelho.

Não fui capaz de conter o sorriso quando li, ainda esta semana, um artigo publicado aqui no Bola na Rede, intitulado “Parabéns, Coli…Benfica!”, em que o seu autor, numa luta constante para contrariar o tão famoso provérbio popular “o pior cego é aquele que não quer ver”, aponta várias razões pelas quais acredita que o Benfica não será um justo campeão nacional. Apenas por razões de falta de espaço, comentarei apenas as mais ridículas. Salta à vista a acusação de que a FPF ansiava pelo bicampeonato dos encarnados. Este argumento, se é que chega a sê-lo, é facilmente neutralizado pelo facto de o atual presidente da FPF ter estado, durante quase 20 anos, ligado ao FC Porto. Depois, assiste-se ao já habitual ataque a Maxi Pereira, sem nunca ser referido o nome de Casemiro, que muitas vezes leva a agressividade para lá das regras. O autor fala também das arbitragens, aquelas que, acusa, têm cometido erros atrás de erros a favor do Benfica, expulsaram demasiados jogadores dos adversários do Benfica e, pasme-se, até validaram um golo em fora-de-jogo que permitiu aos encarnados garantirem 3 pontos.

O verdadeiro "colinho" do Benfica é este Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica
O verdadeiro “colinho” do Benfica é este
Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica 

Embora o autor deste texto peça a quem o lê para que não fale do escândalo do Apito Dourado, escutas telefónicas, caso da fruta e demais ilegalidades em que Pinto da Costa e os dirigentes do FC Porto estiveram envolvidos durante anos, é inevitável que se fale nestes casos, ou melhor, nestes processos. Processos porque se tornaram casos judiciais, que resultaram em condenações e multas e cujas provas que sustentaram a acusação são públicas: as escutas telefónicas. Apesar de os portistas virarem a cara para o lado e taparem os ouvidos quando se deparam com elas, as escutas não desaparecem; continuam a existir e não são mitos nem fantasias. É verdade que o Benfica ganhou 1-0 ao Gil Vicente com um golo irregular, como também é verdade que o FC Porto ganhou em Penafiel marcando três golos irregulares.

Na grande maioria dos jogos em se diz que o Benfica terá sido beneficiado, os eventuais erros do árbitro nem sequer influenciaram o resultado final. E se em muitos jogos o Benfica ficou a jogar contra 10 foi porque os jogadores adversários não encontraram outra solução para suster o poder do Benfica se não recorrer às faltas. O autor do texto acima citado garante que em todos os jogos em que os encarnados ganharam com alguma dificuldade houve sempre ajudas da equipa de arbitragem, para, de seguida, afirmar que o Benfica deveria ter, pelo menos, menos 10 pontos na classificação. Enfim, adiante. Saltemos para a parte em que, e já no fim do artigo, se arranca, a ferros, um esclarecedor “PARABÉNS, BENFICA”.

Tenho a sensação de que depois daquela que, acredito, será uma vitória histórica, porque nos levará ao 34º campeonato nacional, a caravana do título viajará em festa em direção à capital, espalhando os festejos a todo o país e a todas as comunidades portuguesas por esse mundo fora. À passagem pelo Porto, a caravana não vai parar. Aplicar-se-á o lema “Deixem passar o maior de Portugal”.