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O renascer blaugrana

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cab la liga espanha

Após um início de época de baixo rendimento e inconstante em termos exibicionais e no que concerne a resultados, o FC Barcelona está finalmente a produzir um futebol de elevada qualidade e os jogadores a verem os seus esforços serem recompensados, renascendo assim das “cinzas” da temporada passada, escassa em títulos e conquistas para as hostes catalãs. O emblema blaugrana encontra-se no comando de La Liga e carimbou, recentemente, a passagem aos quartos de final da Liga dos Campeões.

A primeira metade da época não foi, de todo, uma caminhada fácil para os catalães. A equipa não demonstrava o habitual entrosamento, os jogadores aparentavam não ter a confiança de outrora e, obviamente, os níveis de produção não se revelaram elevados. A contratação de um novo treinador para o comando técnico do clube também não ajudou nesta situação. Pelo menos nos primeiros tempos.

O técnico escolhido para fazer o Barça voltar à ribalta do futebol e à conquista de troféus foi Luis Enrique. O treinador espanhol tentou fazer uso do tão aclamado tiki-taka culé, desenvolvido por Pep Guardiola, mas tornou-o menos “mastigado” a nível de meio-campo, atribuindo-lhe uma maior faceta ofensiva. Nos dias que correm, apercebemo-nos de que os jogadores do Barcelona necessitam de uma menor quantidade de passes entre si para chegar à área dos adversários e criar perigo. Levou algum tempo até que os jogadores se adaptassem a esta nova maneira de utilizar o seu estilo de jogo, no qual denotam agora uma maior liberdade para demonstrarem o seu potencial técnico, como vemos nas fintas de Neymar, Messi e companhia, e partirem para a jogada individual.

No final da primeira volta da Liga Espanhola, após a 19ª jornada, o FC Barcelona seguia em segundo lugar, a quatro pontos do primeiro classificado, o seu rival Real Madrid, contando já com três derrotas e dois empates no principal escalão de futebol espanhol. Faltavam os golos e passes magistrais de Messi, a magia de Neymar e a pontaria afinada de Luis Suaréz (que havia sido contratado ao Liverpool por cerca de 80 milhões de euros).

Porém, após meados de janeiro, a situação ficou certamente diferente. Os blaugrana começaram a demonstrar, novamente, um excelente entrosamento entre si, a praticar um futebol mais vistoso aos olhos dos seus adeptos e de todos os amantes do futebol e os resultados tornaram-se mais de agrado para com o que o clube espera alcançar. Certo é que depois de estar a quatro pontos da liderança, o Barcelona está hoje em primeiro lugar com essa mesma diferença pontual para o Real Madrid, tendo aproveitado a tremenda quebra de rendimento que tem vindo a acentuar-se nos merengues com o decorrer da época.

Algo que merece ser apontado como umas das principais causas para este “renascer” do Barça passa pela avassaladora subida de rendimento de Lionel Messi, desde o mês de janeiro até então. Até aí ainda não havia aparecido o mago do futebol a que tanto nos habituámos, com capacidade para decidir os jogos e dar vitórias aos blaugrana através de todo o seu talento. Estava em baixo de forma, não demonstrava prazer em jogar, tanto até que perdeu a luta pela Bola de Ouro 2014 para Cristiano Ronaldo, troféu entregue precisamente no primeiro mês do presente ano. Esse momento revelou-se como um autêntico “clique” para La Pulga, pois desde então Leo tem estado numa forma absolutamente imparável.

2015 tem decorrido de forma quase perfeita para os blaugrana Fonte: Facebook do Barcelona
2015 tem decorrido de forma quase perfeita para os blaugrana
Fonte: Facebook do Barcelona

Chegou a estar com menos 13 golos que Ronaldo na liga, mas o argentino é hoje o principal artilheiro da mesma e, também, o melhor marcador em todas as competições, tento feito balançar as redes da baliza adversária por 43 vezes. Porém, não é apenas pelos golos mas também pelas suas jogadas, dribles e fintas incríveis e pelo facto de ter a mestria para desequilibrar uma partida a qualquer momento com um único golpe da sua “magia”. E com Messi em forma, a tarefa do Barcelona afigura-se, certamente, mais facilitada.

Todavia, não só Messi demonstrou melhoria no seu rendimento em campo após o começo de 2015. Luis Suárez, internacional uruguaio que custou uma elevada quantia para os cofres do Barça, tardou em adaptar-se ao estilo de jogo dos culés e em fazer valer a aposta feita pelos dirigentes do clube nos seus serviços. Demorou, mas conseguiu, algo que nem todos os avançados que passaram pelo emblema catalão nos últimos anos podem afirmar. Suárez é hoje um jogador totalmente adaptado à equipa e tem vindo a demonstrá-lo. Encontra-se cada vez mais presente na criação de lances de perigo e de golos, toma parte nas constantes diagonais no estilo de jogo blaugrana e os golos, naturalmente, começaram a surgir. Luisito conta atualmente com 14 golos em todas as competições e o mais importante foi, de acordo com o mesmo, no passado domingo, em que concretizou o tento que deu a vitória por 2-1 do Barcelona frente ao Real Madrid, encontro decisivo para as contas de La Liga.

Não só a linha atacante, denominada de MSN (Messi, Suárez, Neymar), tem feito furor. A defesa culé tem, também, merecido uma devida e bem atribuída distinção por parte da imprensa. A equipa é a menos batida da Liga Espanhola, tendo concedido apenas 17 golos em 28 jornadas, feito que merece, de facto, ser realçado. Para isso tem contribuído a estabilidade neste setor, algo que não tinha vindo a acontecer em tempos recentes para os lados de Barcelona. A aquisição do francês Jérémy Mathieu veio dar ao clube uma maior consistência defensiva, que se alia à boa temporada que Mascherano, Jordi Alba e até mesmo Piqué têm vindo a realizar. Aliado a isto, a baliza blaugrana foi reforçada com dois guarda-redes de peso, Claudio Bravo e Marc-André ter Stegen, que têm dividido o posto pelas competições.

No meio-campo, que não tem estado ao seu melhor nível, deve atribuir-se a devida atenção a Ivan Rakitić, croata contratado ao Sevilha, que tem tido um papel de destaque no Barça, face à baixa de rendimento de Andrés Iniesta e ao facto de Xavi, nos dias que correm e por decisão de Luis Enrique, estar mais tempo no banco do que dentro das quatro linhas. Por seu turno, Rafinha, irmão de Thiago Alcântara, tem sido chamado ao onze inicial com regularidade e está a corresponder, imprimindo virtuosismo, uma elevada qualidade técnica, boa qualidade de passe e velocidade à turma catalã.

Com os jogadores a exibirem-se a um bom nível nesta fase determinante da época, o FC Barcelona mantém-se em destaque em todas as frentes pelas quais luta. Na Liga Espanhola, os quatro pontos de avanço, conquistados após o El Clásico da última jornada, dão alguma segurança às hostes culés para a conquista do campeonato. No que concerne à Taça do Rei, as esperanças e motivação dos catalães estão em alta, pois irão marcar presença na final da competição, a realizar a 30 de maio, face ao Athletic Bilbao. A nível internacional, após uma eliminatória na qual a equipa demonstrou todo o seu poderio e qualidade de jogo invejáveis nas duas partidas que realizou contra o Manchester City, o Barça irá defrontar o PSG nos quartos de final da Champions League, afirmando-se, de momento, como um dos favoritos à conquista do troféu. Serão, então, os blaugrana capazes de conquistar o “tri”?

Foto de Capa: Facebook do Barcelona

Dois anos de Bruno de Carvalho: os méritos, as fragilidades e os desafios

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a norte de alvalade

Bruno de Carvalho completará no próximo dia 27 dois anos na liderança do Sporting. Está, portanto, a meio da viagem do mandato que lhe foi conferido pelos sócios. Um momento natural para se fazerem as tradicionais avaliações – será o que aqui hoje se tentará fazer. A sua nomeação em exclusivo e não de uma equipa parece-me fazer aqui todo o sentido tal tem sido o cunho pessoal e centralizador imprimido à tomada de decisões.

Numa análise como esta há matérias sobre as quais é possível emitir uma opinião definitiva, outras há que, pela sua complexidade, só o tempo deixará perceber o produto resultante da tomada de algumas decisões. Depois há os condicionalismos resultantes do facto de a gestão de um clube estar muito ligada aos resultados desportivos, em particular o futebol, o grande gerador e consumidor de receitas, sendo estes determinantes para a definição do sucesso.

Elencar-se-ão de seguida, de forma resumida, aqueles que são considerados por mim os principais méritos na actual gestão, considerando desde já alguns aspectos e circunstâncias importantes que marcam a chegada de Bruno de Carvalho à presidência do clube:

– Um cenário particularmente difícil do ponto de vista financeiro, resultante da falência da gestão anterior, que se reflectiu na pior época de sempre no futebol, agravado pelo facto de ficarmos fora das competições europeias.

– Um clube há muito desaurido e estilhaçado por convulsões internas, em muito resultante da falta de vitórias e de liderança, com as consequências a fazerem-se sentir quer no espírito do clube e dos adeptos quer na forma como éramos visto de fora.

– Um clube a clamar por uma mudança na nomenclatura dos seus dirigentes de forma a acabar com álibis de alguns e pôr fim a muitos interesses instalados.

Méritos

– Implementação da reestruturação financeira. Independentemente de quem seja a autoria – da direcção anterior, dos credores, ou da actual direcção – o mérito tem que ser tributado a quem a implementa. Ela era crucial para o clube poder sobreviver depois de quatro anos (Bettencourt e Godinho Lopes) de um elevado investimento do qual não resultou nem retorno financeiro nem retorno desportivo.

– Neste âmbito, os exercícios económicos positivos consecutivos merecem também destaque. Bem como melhores performances nos resultados obtidos com as vendas de jogadores, tão importantes para o reequilíbrio financeiro.

– Algumas medidas tomadas neste âmbito, nomeadamente o despedimento de funcionários, podem até ter sido injustas para alguns, o que é sempre de lamentar, mas é também verdade que a margem de manobra era muito limitada e o Sporting acumulava em quase todos os sectores gente a mais, acomodada e mal orientada.

– A re-aproximação do clube às bases, com a implementação de medidas que trouxeram o acréscimo do número de associados.

– A resolução de alguns problemas que se arrastavam no tempo e pareciam insolúveis, como a colocação das claques na mesma bancada, conseguida de forma simples e célere, ou a edificação do tão ansiado pavilhão, cujo lançamento da primeira pedra está a um par de dias de ocorrer. O início das emissões da Sporting TV.

– A reorganização das modalidades, sobretudo ao nível financeiro, com a diminuição de verbas, não correspondeu à tão temida perda de competitividade. É certo que também não melhoramos, mas dificilmente se consegue crescer sem pôr mais adubo, leia-se euros. A par disso juntou-se o hóquei às modalidades que regressaram integralmente ao clube, estimando-se que o mesmo venha a prosperar, como o basquetebol e o râguebi.

– Um dedo especial para a escolha dos treinadores. Grande parte do ressurgimento competitivo do clube, especialmente no futebol, advém de duas boas escolhas consecutivas, Leonardo Jardim e Marco Silva.

Fragilidades

– Ao contrário do que se podia esperar, a conflitualidade interna continua a ser um problema para o Sporting. As responsabilidades são de todos, maiores de quem ganhou porque, como em qualquer contenda, os termos da paz são ditados por quem vence. É minha convicção que aqui Bruno de Carvalho podia ter feito mais e melhor e os seus “pecados” nesta área são tanto por acção directa sua como dos seus apoiantes mais acérrimos.

– Mais importante do que analisar as estratégias, que podem ser diversas, são os respectivos resultados que contam. O isolamento institucional do Sporting mantém-se e é notória nas mais diversas ocorrências. Apesar de a postura hoje ser diferente, os resultados são os mesmos, com o Sporting a aparecer isolado e a não conseguir congregar à sua volta nenhuma outra instituição ou agente.

– Se houve actuação que ficou muito aquém das promessas eleitorais foi a política de aquisição e dispensas. Excesso de intervencionismo no mercado face às necessidades e possibilidades, (mais de 30 jogadores em 2 anos), acumulando-se a chegada de jogadores sem qualquer recomendação para incorporar uma equipa com as obrigações do Sporting.

– Excesso de intervencionismo na Academia, que era precisamente, apesar de muitos erros acumulados no passado, o que melhores e mais notórios resultados trazia ao clube. A “aposta na formação” tornou-se numa conversa recorrente, nem sempre com os melhores argumentos de parte a parte. Provavelmente os resultados das actuais intervenções só se conhecerão no médio prazo. São os hoje claros os dividendos de uma aposta efectuada há quase década e meia: Patrício, Cédric, Adrien, William, Tobias, Martins, João Mário, Wallyson, Mané, Iuri, Chaby, Nani e outros que já cá não estão só são possíveis por isso. Os sinais de aviso estão acesos: convocações para selecções desertas de jogadores, ausência inédita em fases finais.

– A comunicação excessivamente truculenta e desfasada do que me parecem ser as melhores práticas e até os valores do clube. As mudanças recentes são uma admissão de que nem tudo correu bem e, sobretudo, um sinal de reflexão e auto-crítica, indispensável para quem quer melhorar.

– Provavelmente o ponto mais polémico desta análise face ao que é o pensamento dominante hoje: os fundos. Uma guerra que sofreu notáveis mudanças, ao começar com a Doyen, pedindo a regulação da actividade até se generalizar a todo o tipo de partilha de passes, pedindo a sua extinção. Ao contrário do que se tem vinculado, e que merecerá em breve post próprio, os principais prejudicados serão os clubes com perfis semelhantes aos portugueses e que tenham no horizonte não apenas as prestações internas como também a sua competitividade internacional.

Bruno de Carvalho vai completar dois anos à frente do Sporting CP Fonte: Sporting Clube de Portugal
Bruno de Carvalho vai completar dois anos à frente do Sporting CP
Fonte: Sporting Clube de Portugal

Momentos altos

– A eleição e respectiva aclamação no momento que se seguiu. O momento foi de natural festa mas foi também um momento importante de responsabilização.

– A conquista do segundo lugar no campeonato passado. É pouco, atendendo ao historial do clube, mas é muito atendendo ao ponto de onde se partiu e aos diferentes meios ao nosso alcance, face à concorrência.

Momentos infelizes

– A rábula com Manuel Fernandes, um símbolo do clube. Até porque as criticas de Manuel Fernandes não justificavam uma reacção tão violenta.

– A comunicação no Facebook nos momentos seguintes à derrota em Guimarães. É doloroso perder daquela forma mas o tempo veio demonstrar que se tratou de um acidente circunstancial.

– O “episódio Marco Silva”. Felizmente quer a intervenção dos adeptos quer a reflexão que se seguiu, permitiu corrigir a estratégia lançada para despedir o treinador, sem razões de fundo que a justificasse. Continua a faltar pôr no lugar o mandatado José Eduardo e acabar de vez com os rumores sobre o contrato e continuidade de Marco Silva.

Desafios para os próximos 2 anos

– A palavra determinante será consolidação e estabilização. Por exemplo, da reestruturação financeira, do projecto Pavilhão, da Sporting TV e de outros projectos importantes em curso, como a internacionalização da Academia, etc.

Upgrade competitivo indispensável para que o Sporting se reencontre com a sua grandeza. Este não surgirá num ápice, requer paciência e sobretudo muita assertividade nas medidas, porque a margem é praticamente inexistente, face ao tempo perdido. Requer também convicção à prova dos primeiros dissabores.

– O ponto anterior é crucial no futebol, a mola real do clube. Será aqui que as principais ideias – é dizer também as principais guerras – de Bruno de Carvalho serão testadas: fazer mais com menos, as relações com os empresários, manter os melhores jogadores ou substituí-los por jogadores de valor igual, etc. e sobretudo alcançar resultados. Depois de duas épocas excepcionais – que foram do pior lugar de sempre ao regresso pela porta grande às competições internacionais -, o Sporting apresta-se a voltar a um “lugar natural”, que parece ditado pelas diferenças orçamentais. Contrariá-las com o rumo traçado parece ser a convicção do presidente e é, quanto a mim, o grande teste que terá, a bem do Sporting, de passar com distinção. Porque um Sporting sem títulos é um Sporting contra o seu próprio destino.

– Outras matérias terão igualmente importância crucial, cuja resolução marcará a competitividade do clube, pelas suas implicações financeiras. A renegociação do patrocínio das camisolas será o próximo grande desafio. Outros há como o aumento das receitas, as participações na SAD ou a centralização dos direitos televisivos, que serão algumas das próximas lutas a travar.

Thank you, Steve!

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cab nba

Quais eram as probabilidades de um miúdo canadiano, magrinho e não particularmente atlético, que fez o liceu num colégio privado na província da Columbia Britânica e jogou basquetebol universitário na pequena Universidade de Santa Clara, se tornar uma estrela da NBA? Uma em 500 milhões?

E quais as probabilidades de esse miúdo se tornar não apenas uma estrela, mas um dos melhores distribuidores e atiradores de sempre e alguém que mudou a forma como se joga na NBA? Uma em mil milhões? Menos ainda?

Mas foi isso mesmo que Stephen John Nash conseguiu. Não foi um percurso fácil até lá, mas, contrariando todas as probabilidades, o miúdo canadiano que foi assobiado pelos fãs dos Suns quando a equipa o escolheu na 15ª posição do draft de 1996 retirou-se este fim de semana como um dos melhores bases de sempre e um jogador que ficará eternamente na memória dos fãs e na história da liga. Depois de um começo de carreira em Phoenix, em que, num plantel com vários bases e atrás de Kevin Johnson, Sam Cassell e depois Jason Kidd, nunca foi muito utilizado, Steve Nash foi trocado para os Mavs em 1998.

Em Dallas, começou a desenvolver e a mostrar todo o seu talento para lançar, passar e orquestrar um ataque. Ao lado de Dirk Nowitzki e Michael Finley, tornou-se o maestro de um dos melhores ataques da liga e, em 2002, foi escolhido pela primeira vez para o All Star.

Em 2004, depois de os Mavs não igualarem a proposta dos Suns, voltou para Phoenix como free agent. E o basquetebol nunca mais foi o mesmo. Nash juntou-se a Amare Stoudemire, Shawn Marion e Joe Johnson para formar o ataque mais prolífico da liga (e o melhor da década, com uma média de 110.4 pts/jogo) e a equipa mais excitante de seguir do mundo. Os Suns, que na época anterior ganharam 29 jogos, acabaram com um record de 62-20 nessa temporada de 2004-05, foram até às Finais de Conferência (onde perderam com os eventuais campeões Spurs em cinco jogos) e Nash foi eleito o MVP da temporada.

Steve Nash e esses Suns dos “Sete Segundos Ou Menos” revolucionaram os ataques na NBA e mudaram a forma como se joga desse lado do campo. O pick and roll alto e os jogadores abertos foram popularizados por essa equipa e Nash (sob a batuta de Mike D’Antoni, justiça seja feita ao homem) foi o precursor desse ataque que hoje está generalizado na liga.Actualmente, não há nenhuma equipa na liga que não incorpore o pick and roll alto no seu ataque e a maioria delas fazem desse movimento a base do seu ataque. Todos os grandes bases desta geração fazem desse pick and roll o seu pão nosso de cada dia. E todos eles aprenderam com Nash.

Foi ao serviço dos Suns que Nash jogou cerca de metade da sua carreira  Fonte: Wikipedia
Foi ao serviço dos Suns que Steve Nash mais brilhou ao longo da da sua carreira
Fonte: Wikipedia

Muitos irão sempre apontar que faltou o título para coroar o legado do canadiano. Ou destacar a sua fraqueza do outro lado do campo. Mas isso não retira Nash do seu lugar na história. E não lhe diminui nenhum dos feitos alcançados:

– 2 vezes MVP da temporada (2005 e 2006; o único jogador com menos de 1,98m a ganhar o prémio por mais de uma vez)
– 8 vezes All Star
– 7 vezes All-NBA (3 vezes First Team; 2 vezes Second Team; 2 vezes Third Team)
– 3.º jogador com mais assistências de sempre (10.335)
– 7 temporadas com mais de 10 ast/jogo (3.ª melhor marca de sempre, só atrás de John Stockton e Magic Johnson)
– Melhor percentagem de lançamento livre na carreira de sempre (90.4%; são mais de 90%, não numa temporada, mas na carreira! Só mais um jogador conseguiu isso em toda a história da NBA: Mark Price, com 90.3%)
– 4 temporadas com 40-50-90 (lançar 40% de 3pts, 50% de 2pts e 90% de LL é um feito que só foi conseguido 10 vezes até agora; 4 dessas vezes são de Nash)

Qualquer um destes feitos por si só já lhe valeria um lugar no Olimpo da NBA. Junte-se a isso a marca que, como dissemos em cima, ele deixou no jogo e na forma como ele é jogado e só podemos dizer “Obrigado por tudo, Steve. Nunca te esqueceremos”.

Foto de Capa: nbaarena.com

Jogadores que Admiro #34 – Gianfranco Zola

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Houve um tempo em que o Chelsea tinha estado 26 anos sem ganhar um único troféu. No entanto, quando um mágico vagabundo de 1.68 metros chegou a Londres, a tristeza estava destinada a dar lugar à alegria e à emoção. Estávamos na época de 96/97 e Ruud Gullit foi buscar ao Parma um jogador italiano chamado Gianfranco Zola, pagando por ele 4.5 milhões de libras. Este mágico italiano foi o homem que Maradona apontou como seu sucessor no Napoli e que vinha a maravilhar o campeonato italiano com golos, fintas e passes fenomenais. Em Inglaterra, quando choviam notícias de jogadores que o Chelsea iria contratar, o nome de Zola gerou receios e fantasias. Receios pela sua estatura e fantasias pela magia que o trequartista italiano espalhava em campo.

Zola não esperou muito para calar os críticos e logo no jogo de estreia marcou um golo fenomenal. A geração de Zola mostrou ao mundo os melhores trequartistas que este viu até aos dias de hoje, entre eles Del Piero e Roberto Baggio, mas há qualquer coisa em Zola que me faz ficar ainda mais encantado com ele do que com os outros. Se pelo facto de Zola ter empurrado o Chelsea para uma era de sucesso ímpar até à data ou pelo facto de ser dos três de que falei o que menos reconhecimento teve pelo talento que tinha, eu verdadeiramente não sei. Apenas sei que é um dos jogadores que mais admiro e um dos que mais talento tinha. E que talento era esse! O Magic Box, como em Inglaterra viria a ser chamado, era um jogador que simplesmente me enchia as medidas e entristece-me o coração o facto de não ser enaltecido como merece. Zola era um vagabundo em campo, sem posição definida, sem amarras táticas e apenas focado em fazer o que ele fazia melhor, espalhar magia e trazer alegria aos adeptos.

Zola foi feliz no Chelsea Fonte: Chelseafc.com
Zola foi feliz no Chelsea
Fonte: Chelseafc.com

Com a sua chegada, o Chelsea passou de 26 anos sem ganhar nada para 4 anos seguidos a ganhar troféus. Mas, mais do que os troféus, acredito que o que fez de Franco um dos homens mais amados em Stamford Bridge foi a alegria contagiante do seu futebol, aquele pequeno génio que conseguia fintar 3 jogadores em simultâneo, marcar um golo a 30 metros ou fazer um passe de 35/40 metros para os pés de Hasselbaink. O Chelsea de Zola pode nunca ter ganho uma Premier League, mas era a equipa que toda a gente queria ver jogar – adeptos e rivais admiravam o futebol emocionante do Magic Box e só queriam nunca ver desvanecer aquela genialidade. Eles pediram e Zola deu-lhes. Em 2002/2003, o mágico da Sardenha faria a última época no Chelsea, com 36 anos. Nessa época, marcou 16 golos, o seu registo máximo ao serviço do Chelsea. Marcou o seu último golo contra o Everton com um fantástico chapéu e, na última vez que vestiu a camisola do Chelsea, jogou 20 minutos contra o Liverpool, fintou 4 defesas numa fantástica sequência de dribles, deixando o estádio ao rubro e sendo ovacionado por adeptos do Chelsea e do Liverpool.

Gianfranco Zola, deixou Londres, Inglaterra e o futebol inglês pela porta grande aos 36 anos. Voltou para Itália, para o Cagliari, clube da sua terra natal. Jogou por mais 2 épocas, retirando-se aos 38 anos, nas quais conduziu o Cagliari de volta à Série A, jogou 74 jogos e marcou 22 golos. A lenda e a sua magia permanecem agora em inúmeros vídeos do Youtube, onde quem, como eu, adora o futebol se delicia por horas.

Foto de capa: Chelseafc.com

Bem vinda de volta, Vecchia Signora!

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cab serie a liga italiana

A Juventus está nos quartos de final da Liga dos Campeões. Para meu júbilo, para ser sincera. A vecchia signora venceu categoricamente o Borussia Dortmund no Westfalenstadion por 3-0, e temos de o dizer: mesmo com a crise da equipa alemã, nem todos são capazes de o fazer. Mas a Juve não é uma equipa qualquer.

O séc. XXI começou bem, com a Bola de Ouro de Nedved e dois campeonatos consecutivos. Mas depois vieram os escândalos: corrupção, resultados combinados e subornos; a Juventus foi pontapeada para os escalões inferiores e obrigada a atingir novamente o palmarés de mais de um século. Degrau a degrau, ignorando as humilhações, com o apoio nas bancadas e a raça de Del Piero, os bianconeros regressaram à Serie A e fizeram o que ninguém esperava. Foram subindo na tabela, são tricampeões italianos e estão a caminho de mais um campeonato. Vai escapando a glória europeia.

Esta Juve da segunda década do século é diferente; tem juventude, garra, querer; quer ganhar, quer ser o que já foi. Pogba trouxe elegância e modernidade. Pode talvez estar cumprir a sua última temporada ao serviço da Juventus, mas fá-lo brilhantemente. Arturo Vidal é um excelente organizador, Tévez leva ao desespero os centrais e ainda tem lances de génio. E Morata. Dá a esta Juve o seu coração, e ela devolve, se tudo correr bem, com gratidão e títulos.

Pirlo, o maestro da Jue  Fonte: Wikipédia
Pirlo, o maestro da Juve!
Fonte: Wikipédia

Parágrafo para falar de coisas diferentes, de um homem diferente: Andrea Pirlo. Sempre o admirei enquanto jogava no Milan e como capitão da azurra, e foi com enormíssima alegria que o vi transferir-se para o meu clube italiano predilecto. Colmatou a dor da saída de Del Piero. É o maestro, o capitano ventuno; orquestra os outros 10 heróis que estão a repor a Juve no sítio onde ela merece estar. Passes magistrais, livres marcados como se estivesse a jogar PlayStation, subtileza a tocar na bola, como se de um filho se tratasse. Obrigada, Pirlo. Graças a ti escolhi ser médio-centro quando ainda nem tinha resistência para o ser.

Podia estar aqui o dia todo a elogiar Buffon, Chiellini, Evra e Llorente. Mas é mais importante dizer que todos estes jogadores, juntamente com aqueles que já saíram (como Felipe Melo), mostraram que é possível bater no fundo e voltar a estar no topo do Mundo. Que grande lição, que clube. A Juventus está nos quartos de final da Liga dos Campeões. Venha o Mónaco.

Foto de Capa: Facebook da Juventus

UFC Fight Night 62: Maia vs LaFlare – Um abre-olhos para LaFlare

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cabeçalho ufc

É em noites como esta que se percebe o verdadeiro valor de uma onda invicta: simultaneamente tudo e nada. Tudo para quem a carrega, nada para quem a enfrenta. LaFlare acusou o peso desta e das quatro vitórias seguidas por decisão, na UFC. Demian Maia mostrou indiferença ao recorde e que experiência pode valer mais do que um zero no registo de derrotas.

O que o Fight Night 62 tinha em falta de nomes sonantes certamente compensou em espectacularidade. Dos seis combates, cinco terminaram por finalização, e em todos estes se viu uma finalização diferente.

O começo do cartaz principal, com o combate entre Godofredo “Pepey” e Andre Fili, não poderia ter sido melhor. “Pepey” entrou frenético, com um pontapé saltado, a levar o combate a Fili. Eventualmente, consegue uma projecção. Fili recupera, levanta-se e encosta Godofredo à rede, no clinch. É nesta altura que o finalista do The Ultimate Fighter: Brazil, “Pepey”, tem um momento de génio. Fili levanta Godofredo para um slam, e este, usando a rede como apoio, propulsiona-se e prende as pernas em Fili, em preparação de Triângulo. Leva o combate para o chão, encaixa bem a manobra e, após o desgaste de Fili, faz com que este bata, aos três minutos e 14 segundos da primeira ronda. Esta finalização fez com que arrecadasse, merecidamente, um prémio de performance da noite, o terceiro seguido. Segue-se um combate contra um lutador do ranking para “Pepey”?

Godofredo “Pepey” a preparar o triângulo que mais tarde lhe daria a vitória sobre Andre Fili Fonte: UFC
Godofredo “Pepey” a preparar o triângulo que mais tarde lhe daria a vitória sobre Andre Fili
Fonte: UFC

Após um óptimo começo, Gilbert Burns e Alex Oliveira tinham a missão de manter o nível estabelecido por “Pepey”, algo que fizeram com sucesso. Na sua estreia pela UFC, Alex Oliveira mostrou toda a sua qualidade, entrando solto e com vontade de assumir as rédeas do combate, levando constantemente a luta a Burns, que ao final da primeira ronda já ostentava algumas “medalhas” na cara, atribuídas por Oliveira com um belíssimo trabalho de mãos. Na segunda ronda, apesar de algumas tentativas de derrube por parte de Burns, viu-se mais do mesmo. À entrada para a terceira ronda ouviu-se, do canto de “Cowboy” Oliveira, “Mais uma ronda e o mundo saberá quem tu és”. Mas foi nessa mesma ronda que Oliveira caiu. Não podemos saber se essas palavras o afectaram, mas a realidade é que Burns entrou forte, com uma projecção, e rapidamente conseguiu a montada. Tentou um Triângulo, que se tornou em Omoplata.

Persistiu nesta manobra na maior parte da ronda, mas Oliveira ia defendendo com sucesso e acabou por se conseguir soltar. Burns rapidamente tentou outro Triângulo, mas Oliveira conseguiu, mais uma vez, impedir que Burns encaixasse a manobra. No entanto, e num erro que demonstra a falta de experiência em Jiu-Jitsu de Oliveira, este deixa o braço, oferecendo a Burns a oportunidade de um Armlock que não a desperdiçou, fazendo Oliveira bater aos quatro minutos e 14 da última ronda. Apesar da derrota de Oliveira no papel, neste combate, e pelo espetáculo que deram, ambos saíram vencedores. Burns ampliou o seu registo de invencibilidade para 10-0, e Alex Oliveira deu-se, apesar de tudo, a conhecer ao mundo.

A única luta feminina do cartaz principal foi uma das mais curtas, mas uma das mais interessantes. Amanda Nunes e Shayna Baszler procuraram, neste domingo, mostrar que tinham valor para “voos mais altos”. Amanda Nunes, no entanto, foi a única que mostrou ter esse valor, derrotando uma das pioneiras do MMA feminino com relativa facilidade. Nunes fez bom uso da sua força, ao mesmo tempo que soube calcular e ser certeira, distribuindo alguns pontapés baixos a Baszler, que se encontrava estática. Uma sequência de socos na cara seguido de um pontapé frontal à barriga magoaram Baszler ainda mais, sem que esta mostrasse qualquer tipo de reacção.

Ao minuto e 54 segundos, Amanda Nunes acerta outro pontapé baixo ao joelho de Baszler, que cede e fica de joelhos no octógono, à espera da paragem do combate, algo que o árbitro Mario Yamasaki rapidamente fez. Amanda Nunes, com esta vitória através de K.O técnico, reinseriu-se assim na lista de candidatas ao título de Ronda Rousey. Baszler, no entanto, ainda não conseguiu vencer na UFC.

Tony Martin e Leonardo Santos continuaram a tendência do evento, protagonizando mais um combate com finalização. Os pesos leves ofereceram-nos uma primeira ronda algo apática, com muito jogo encostado à rede. A segunda ronda, no entanto, foi completamente diferente. A entrada foi, desta vez, mais agressiva por parte de ambos. Tony tentou a projecção de Santos, mas foi o último quem acabou por raspar, de forma fenomenal, diga-se, conseguindo a montada. Tony, em tentativa de defesa, dá as costas a Santos, que facilmente capitaliza, encaixando um Mata-Leão e submetendo assim Tony Martin, que leva agora três derrotas seguidas, aos dois minutos e 29 segundos da segunda ronda.

No co-evento principal, Erick Silva e John Koscheck protagonizaram mais um combate rápido. Koscheck aceitou esta luta em curto prazo, disponibilizando-se assim para combater apenas três semanas depois de ter perdido contra Jake Ellenberger. O seu desejo era, obviamente, mostrar que ainda tinha valor enquanto lutador. No entanto, parece que o tiro lhe saiu pela culatra. “Kos” entrou, de facto, com vontade de ganhar cedo, agressivo. Rapidamente tentou uma projecção a Silva, acabando por encostá-lo à rede e desferir uma forte cotovelada de direita.

Após separação do árbitro por empate do combate, Silva consegue desferir uma esquerda a Koscheck, que o abala mas acaba por conseguir controlar Silva na guarda, que aproveita para desferir mais alguns golpes. Com o combate de novo em pé, Silva passou a controlar. Após uma tentativa de projecção por parte de Koscheck, Silva aproveita a exposição do pescoço do americano para encaixar uma guilhotina, levando-o para o chão e fechando a guarda, não dando chance de escapatória a Koscheck, que acabou por bater. Após mais uma derrota, a quinta seguida, será certamente esta a altura certa para Koscheck se retirar e não manchar (mais) um legado incontornável na história da UFC. Erick Silva, esse, catapulta-se novamente para combates de perfil mais elevado, nos quais provavelmente espera conseguir afirmar-se de vez.

O evento principal foi o único que não terminou com uma finalização. Isso, no entanto, não fez com que este combate se tornasse desinteressante, nem com que a sua espectacularidade diminuísse, antes pelo contrário. Damien Maia e Ryan LaFlare proporcionaram-nos um combate ao estilo “professor vs aprendiz”. Infelizmente para LaFlare, este teve que se contentar com o último papel. Podemos usar a mesma síntese para todas as rondas, à excepção da última: Damien Maia projecta LaFlare, controla-o no chão, seja nos 100 quilos, seja na montada. Por vezes procura uma submissão, por outras limita-se a distribuir alguns socos, até ao final da ronda.

Todo o combate foi assim. Damien Maia (calções azuis) fez aquilo que bem entendeu e deu a LaFlare uma verdadeira lição Fonte: UFC
Todo o combate foi assim. Damien Maia (calções azuis) fez aquilo que bem entendeu e deu a LaFlare uma verdadeira lição
Fonte: UFC

Maia venceu quatro rondas ao usar sempre o mesmo jogo. LaFlare só na última ronda se apercebeu daquilo que tinha de fazer: impedir que o jogo fosse para o chão, encurtar os espaços a Maia e levar-lhe a luta, não o contrário. Parece, de facto, incrível que só ao final de quatro rondas a ser completamente dominado por Maia no Jiu-Jitsu LaFlare encontrasse o rumo que tinha de tomar. Por essa altura, era tarde demais. Maia apercebeu-se de que a nova postura de LaFlare no combate representava um perigo, pelo que propositadamente se ia colocando no chão, como forma de queimar tempo e cortar o ritmo do combate. Já tinha ganhado por decisão, o combate já era dele. Foi uma verdadeira lição de Maia, que, aos 37 anos, mostra ter uma nova vida na categoria. Talvez não para combater pelo título de Robbie Lawler mas para servir de “gatekeeper” da divisão, onde só entra quem por ele passar. Quanto a LaFlare? Que a quinta ronda deste combate lhe sirva como ponto de viragem. Vai ter de voltar à tabula rasa para mais tarde poder bater novamente à porta.

Foto de Capa: UFC

Quando o Maracanã era o ex-libris do Brasil

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Sim, decerto que o leitor compreendeu bem o título. Não querendo que o mesmo se transforme em blasfémia, vou, por ora, explicar o porquê de tal adjetivação.

Por falar em adjetivos, importa referir o porquê de o estádio se ter assim chamado. É que naquela zona da cidade do Rio de Janeiro habitavam muitos passarinhos, que os índios, outrora, chamaram maracanãs-guaçu, devido ao intenso barulho que faziam com as asas, fazendo lembrar um constante chocalho.

A construção do recinto começou em 1948. Mas antes houve vários retrocessos no projeto. Relembre-se que o Brasil já sabia que iria organizar o primeiro Mundial do pós-guerra. Era preciso dotar a capital – Brasília ainda nem sequer era sonhada – de um grande estádio. Muitos criticaram o projeto, concebido inicialmente para albergar cerca de 150 mil almas. Os mais céticos consideravam esta uma estrutura faraónica, impossível de sair do papel, mesmo pelos arquitetos e engenheiros mais megalómanos. Mas o que é certo é que, dois anos depois, com a ajuda de apenas 1500 trabalhadores (a que se vieram juntar mais 2000 nos meses finais), o Maracanã ficou pronto. Ressalve-se que, depois disso, levou várias obras de melhoramento, mas estava pronto para receber a Copa que se avizinhava. O Maracanã era, oficialmente, o maior recinto desportivo do mundo.

Por certo, o mais atento leitor também já deve ter reparado que o Estádio do Maracanã tem o nome oficial do Jornalista Mário Filho. Nada melhor do que homenagear um dos grandes defensores do projeto de papel para a realidade e igualmente um dos melhores homens da imprensa e das letras brasileiras do século XX.

Tudo estava pronto. A inauguração aconteceu ainda em junho, dia 16, de 1950. Seleções carioca e paulista jogaram entre si, e a sorte sorriu aos visitantes: 3-1 foi o placard final. Mas o melhor (ou pior) ainda estava para vir. No Mundial, os canarinhos jogaram cinco de seis partidas naquele anfiteatro – à época, havia muito menos estádios e também menos possibilidades de viagem. O primeiro jogo deu 4-0 para o Brasil sobre o México. Mas não foi nem esse nem os outros três que ficaram mais conhecidos. Quando os brasileiros precisavam apenas de um empate para se sagrarem (pela primeira vez) campeões do mundo, eis que o Uruguai venceu 2-1. Ainda por cima a perder por 1-0 quase até ao fim. Duzentas mil pessoas – sim, leu bem – o maior público de sempre no querido Maraca, viram um desastre a que os bicampeões do mundo uruguaios chamariam Maracanazo. A lenda duraria. Mas o Brasil aprendeu a lição. Nunca mais jogou de branco e a partir daí tornou-se a seleção mais titulada em Mundiais. Superstições.

A primeira página do jornal “Mundo Esportivo”, aquando da derrota em 1950 Fonte: impedimento.org
A primeira página do jornal “Mundo Esportivo”, aquando da derrota em 1950
Fonte: impedimento.org

As décadas seguintes seriam do Botafogo de Garrincha, do Fluminense de Rivelino, e depois do Flamengo de Zico, o melhor artilheiro (ainda) daquele estádio. O Vasco da Gama também ganhou muitos triunfos com Roberto Dinamite ao comando. O estádio Jornalista Mário Filho voltou a receber o Mundial, em 2014. Agora com obras e uma redução para 78 mil lugares. Já não tem aquela magia e encanto. Com dois anéis e um peão. O célebre peão, onde as pessoas, como o nome indica, ficavam de pé. Onde se vê a alegria dos anos 70 e 80. Era menos confortável. Mas todos podiam ver o jogo. Talvez ferido no orgulho, o Maraca nem se dignou a receber o Brasil na final. Porventura já estivesse à espera de outro Maracanazo. Aconteceu algo bem pior em terras mineiras. Mas é melhor nem lembrar. Para o ano, o Maracanã será o palco principal do futebol nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Será agora que a seleção do Brasil quebrará o enguiço de não vencer uma medalha de ouro nas Olimpíadas? O Maracanã lá estará para responder, sempre alegre e sorridente, pensando: “tens uma dívida para me saldar. Já lá vão mais de 60 anos. E que tal se for agora?”.

Foto de Capa: culturaeviagem.wordpress.com

É humano

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cab premier league liga inglesa

A desilusão é um lugar comum ao ser humano. É quase inevitável lidarmos com ela ao longo da vida, especialmente se fomos criados com a segurança de que o mundo estaria desinfectado de ganância e egoísmo. Elas existem porque o ser humano existe, e, por muito que se confie numa pessoa, ela quererá, muitas das vezes, aquilo que melhor serve os seus interesses e não os de quem lhe é próximo ou os da instituição que representa.

Porque a competitividade é algo que também assiste à natureza humana. É por isso que encaramos actos de bondade com desconfiança e vemos como “pretextos” grande parte dos elogios que nos fazem. Tem de haver um interesse por trás, porque é assim que o mundo funciona, cada vez se quer saber menos dos outros e mais de si.

Isso vem à tona quando “se perde a cabeça”, quando se deixa cair a carapaça social que reveste o animal de índole egoísta que habita dentro de nós. Aí passam a conhecer-se as intenções, a índole e a vontade de cada um de nós. É raro deixarmo-nos desproteger dessa maneira porque fomos educados no sentido de travar instintos animalescos, mas às vezes deixamo-nos ficar mal e cometemos erros que mancham a nossa reputação e podem mesmo ferir a das entidades que representamos.

Assim aconteceu com Steven Gerrard e o seu Liverpool no último jogo dos reds. O eterno capitão do eterno emblema da cidade dos Beatles entrou ao intervalo do jogo contra o rival Manchester United para substituir Adam Lallana e depois de ter dado o pontapé de saída e conseguir mostrar, nos primeiros seis toques que deu na bola, que vinha emprestar uma dinâmica diferente ao jogo, entrou de forma descabida sobre Juan Mata e, instantes depois, pisou, sem dó nem piedade, o tornozelo de Ander Herrera numa reacção intempestiva a um carrinho do adversário.

O resultado não podia ser outro: cartão vermelho. 48 segundos depois de ter entrado em campo, com a equipa a perder por 1-0 e com 45 minutos pela frente, o capitão, o líder incontestável do balneário do Liverpool, o jogador em quem os adeptos mais confiam, a reputação de figura respeitável que se estende muito além do clube, do país e do continente onde joga cometera um erro infantil, digno de uma pessoa guiada por instintos e sem racionalidade.

Os seus companheiros de equipa deram uma excelente resposta, conseguindo disputar a segunda parte do encontro com um dos maiores rivais de sempre de “igual para igual”. É certo que ficaram meio abalados com a expulsão do capitão e líder da equipa e consentiram o 2-0 passados seis minutos de ficarem em desvantagem numérica. Mas a equipa partiu para cima do rival em busca de, pelo menos, um ponto e ainda conseguiu reduzir e obrigar os red devils a suar para garantirem mais uma vitória…

Quão relevantes teriam sido os golos de Juan Mata, ontem, caso Gerrard não tivesse sido expulso? Fonte: Facebook do Manchester United
Quão relevantes teriam sido os golos de Juan Mata, ontem, caso Gerrard não tivesse sido expulso?
Fonte: Facebook do Manchester United

… que é bem mais que isso. É o cavar de um fosso pontual para a concorrência, liderada, precisamente, pelo Liverpool na luta por um lugar na Champions do próximo ano. Agora os reds estão a cinco pontos do rival, a seis do acesso directo à liga milionária e a 10 do líder Chelsea (que tem um jogo a menos).

O Liverpool vinha a evidenciar sinais de retoma de um início de temporada difícil até este encontro, tendo, inclusivamente, batido o campeão Manchester City em Anfield Road e o Southampton no dificílimo Saint Mary’s. Curiosamente, durante o período em que superou estes duros obstáculos, Steven Gerrard não esteve presente, por lesão.

O capitão voltou a ter disponibilidade, mas Joe Allen, o seu subtituto, tem vindo a exibir-se de forma irrepreensível na sua substituição, destacando-se sobretudo no capítulo do passe na primeira fase de construção dos reds, altura do jogo em que o Liverpool tem sentido muitos problemas esta época, e o lugar cativo de Gerrard no onze parece estar a expirar 14 anos depois.

Deve ser frustante sentir a força do tempo a abater-se sobre as capacidades de um jogador (e ele tê-las-à sentido, de outra forma não teria assinado contrato com os LA Galaxy, em vigor a partir do Verão, rumando a uma liga menos competitiva que a inglesa), ainda para mais num tão influente como Gerrard. Mas isso não devia fazer dele o jogador intempestivo que nunca foi e que em 497 jogos apenas foi expulso por 6 vezes.

A carapaça social e profissional caiu, e o jogador respeitável foi, por 2 segundos, um humano guiado por um ego ferido e sem controlo das emoções. Deixou os adeptos, que tantas vezes alegrara e que tanta esperança nele ainda depositam, desiludidos por, momentaneamente, não terem no seu capitão a tal figura imperturbável que sempre os representara. Afinal, Gerrard é também humano.

Foto de Capa: Facebook do Liverpool

‘Podcast’ Bola na Rede – 84.º Programa

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O Podcast ‘Bola na Rede’ com as explicações para os desaires de Benfica e FC Porto. Toda a jornada analisada por Francisco Manuel Reis (FCP), Francisco Vaz Miranda (SLB) e João Almeida Rosa. Mário Cagica Oliveira está na moderação.

Bola na Rede – 84.º Programa by Bola Na Rede on Mixcloud

Os pecados de Jesus

cabeçalho benfica

«O empate é um resultado que pode deixar os adeptos algo desiludidos. Mas eu, como treinador, já perdi muitos jogos porque jogando ao ataque e a outra equipa em contra-ataque marca e ganha. (…) Podíamos não ganhar, mas era muito importante não perder. Esta é uma ideia que, no futuro, devemos de ter presente.» Giovanni Trapattoni, treinador italiano campeão pelo Benfica em 2004/05.

Não é por acaso que começo o texto com uma citação de um dos mais titulados treinadores da história do futebol. Trapattoni, pese embora todo o pragmatismo que lhe é reconhecido, é um vencedor. Conhece o futebol como poucos e está habituado à pressão de vencer. Ganhou diversos títulos e calou críticos pelo mundo fora. Está-se nas tintas para o futebol espetáculo e sempre foi muito criterioso na busca pelo resultado que queria (ou que lhe fosse possível alcançar).

Apontem-lhe todos os defeitos que quiserem, mas nunca lhe retirem o mérito de saber ler um jogo. Uma característica ao alcance de poucos e que tem escapado a Jorge Jesus, desde que pegou na equipa do Benfica. Apesar de apresentar um futebol espectacular e vistoso, a formação encarnada continua a pecar em pormenores. Ligeiros detalhes que, numa primeira instância, parecem não fazer a diferença, mas que, no fim das contas, acabam por ser decisivos para as grandes decisões.

Falta de pragmatismo

Ao contrário de ‘Trap’, Jesus é incapaz de não arriscar. Uma característica que é altamente prejudicial para um treinador de uma equipa que procura títulos de forma consistente. Jesus é um extraordinário treinador que consegue tirar o melhor partido de cada jogador, mas releva ainda uma enormíssima lacuna na leitura pragmática dos jogos. Bastará, para isso, olhar para as derrotas do Benfica nesta temporada. Para além do merecido desaire em Braga, Jesus perdeu mais dois jogos no campeonato, frente a Paços de Ferreira e Rio Ave. Em ambos os jogos, esteve mais próximo de empatar do que perder. E em ambos os jogos, foi derrotado nos instantes finais.

Em Paços de Ferreira, Jesus podia ter conseguido o empate. Mas preferiu arriscar a vitória num panorama que não lhe era favorável. Via-se que os jogadores estavam desmotivados, que os processos de jogo teimavam em não aparecer e que parecia difícil chegar ao golo. O treinador do Benfica leu mal o jogo e acabou por sair derrotado. Podia ter 1 ponto, mas acabou por sair sem nenhum.

Em Vila do Conde, a história repetiu-se. Jesus teve o jogo na mão, quis controlar e dilatar a vantagem e acabou por sair pela terceira vez na temporada sem qualquer ponto no bolso. Depois da expulsão de Luisão (85’), não quis apenas agarrar o empate. Voltou a tentar vencer um jogo que já estava condenado ao fracasso. Resultado: o mesmo do que em Paços de Ferreira. Podia ter 1 ponto, mas acabou por sair sem nenhum.

Pode parecer pouca coisa, mas não é. Revela muita da ambição desmedida de Jesus. Ninguém me saberá dar razão, mas eu mantenho aqui a aposta de que se Jesus tivesse um pouco da mentalidade de Trapattoni para estes momentos, nunca perderia nenhum dos dois jogos.

"Jesus não sabe reagir à adversidade. Qualquer adepto do Benfica já percebeu que não há um ‘plano B’ no esquema do técnico encarnado" Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica
“Jesus não sabe reagir à adversidade. Qualquer adepto do Benfica já percebeu que não há um ‘plano B’ no esquema do técnico encarnado”
Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

Dificuldades para ler um jogo

Jesus não sabe reagir à adversidade. Qualquer adepto do Benfica já percebeu que não há um ‘plano B’ no esquema do técnico encarnado. Aliás, até há, mas é ineficaz. Sempre que está em desvantagem ou que procura um golo (tome-se como exemplo o jogo em Paços de Ferreira – saída de Samaris e entrada de Derley e de Braga – saída também do grego para a entrada de Jonas) Jesus tira um elemento do meio-campo – por norma, o trinco – e coloca mais um avançado em jogo. Fica, portanto, com três jogadores na frente de ataque (apoiados por dois extremos) e UM jogador no meio-campo. Sim, UM JOGADOR para recuperar bolas, fazer transições entre a defesa e o ataque e ser o principal (e único) responsável pelo equilíbrio da equipa. Certamente que não sou ninguém para ensinar o que quer que seja a Jesus acerca de tática, mas parece-me lógico que a colocação de mais elementos na frente de ataque não implica maior perigo na defesa adversária. Com esta habitual mudança, apenas consegue desequilibrar a equipa e permitir que o adversário tenha maior facilidade para dominar o meio-campo e fazer mais transições rápidas em contra-ataque. Perdeu assim em Paços. Já perdeu assim no passado. E vai continuar a perder no futuro, se continuar a fazê-lo.

Incapaz de lidar com a pressão

Não é de hoje. Jesus não consegue lidar com a pressão. É incapaz de controlar a ansiedade de vencer e isso não se vê apenas nos jogos. Percebe-se também através da comunicação. Jesus começa a acusar a pressão quando não se sente confortável com alguma situação mais problemática. O facto de não conseguir admitir fracassos e/ou erros revela insegurança. Veja-se, por exemplo, o caso recorrente de fingir despreocupação com a aproximação do FC Porto na tabela classificativa, usando o já habitual argumento de que “quem está em primeiro é o Benfica”. Não precisarei de ajudar muito os adeptos do Benfica a fazerem uma viagem no tempo nos dois campeonatos consecutivos perdidos com vantagens de 4 e 5 pontos a poucos jogos do fim. Jesus foi desvalorizando a aproximação do FC Porto e depois acabou por ser ultrapassado. Esta é a maneira que encontra para disfarçar receios e medos que estão à vista de todos. Todos sabemos que Jesus está com medo. Que estes 3 pontos de vantagem lhe estão a tirar o sono. Mas claro que isto ele nunca vai admitir.

Por tudo isto, Jesus, peço-te, que me deixes dirigir a ti, neste último parágrafo: O que te resta agora? Experimenta deixar a arrogância de lado e ser um pouco mais racional. Percebe que até o mais ínfimo detalhe faz a diferença numa prova de regularidade. Estás, constantemente, a perder o controlo nos jogos fora de casa. Se não dá para ganhares o jogo, pelo menos, tenta não o perder. Se tivesses aceitado o empate em Paços e em Vila do Conde, terias agora 5 pontos de vantagem para o FC Porto. Não te condeno a ambição, mas peço-te mais racionalidade. Afinal, não é por acaso que já deixaste escapar dois campeonatos devido a pequenos pormenores… Mas eu sei que um dia vais deixar de ser teimoso. Ainda vais a tempo…