Sporting-Marítimo: 3-0 ao intervalo, 3-2 aos 53 minutos; Sporting-Penafiel: 2-0 aos 8 minutos, 2-2 aos 43. Em casa, foram estes os jogos em que os homens de Marco Silva mais perto estiveram de resolver cedo a contenda. Porém, tanto num caso como no outro, a vantagem inicial acabou por se esfumar. Nas partidas disputadas fora de portas, só contra o Gil Vicente o Sporting conseguiu acabar cedo com as dúvidas. Agora, frente a um dos adversários teoricamente mais fortes (e que infligira, na primeira volta, aquela que continua a ser a derrota mais pesada da época leonina, apenas igualada no Dragão), a equipa de Alvalade decidiu finalmente um jogo ainda na primeira parte. E que diferença que um golo cedo faz!
Em parte devido a alguma imaturidade da equipa, mas sobretudo por causa das falhas defensivas que têm sido uma constante nesta época, o Sporting tem-se visto demasiadas vezes atrás dos seus adversários no marcador. Tal facto significa um esforço redobrado para chegar a uma vitória que nem sempre surge. Mas hoje os erros defensivos não apareceram… Ou, melhor dizendo, apareceram quando já era demasiado tarde para o Vitória recuperar.
Começando pelo início, o Sporting chegou à vantagem na primeira vez que foi à baliza adversária, quando até eram os forasteiros que criavam mais perigo – relativo, é certo. O tal golo madrugador (bom cruzamento de Carrillo e João Mário a fazer de Slimani), que tão poucas vezes tem surgido a favor do Sporting, abalou o Vitória. Não só os minhotos não reagiram à desvantagem, como os leões passaram de uma atitude algo expectante e apreensiva para uma posição mais confortável. Depois do 1-0 a equipa passou a ter mais bola, como gosta, e o marcador voltou a funcionar após uma jogada alucinante: Miguel Lopes enviou um “míssil” à barra e Douglas fez uma grande defesa a remate de Nani. Na sequência, Jorge Sousa assinalou um penálti que se aceita, já que a bola ia para a baliza se não fosse o braço de Josué. Com o 3-0 antes do intervalo (Miguel Lopes a assistir com qualidade e desta vez foi mesmo Slimani a marcar um golo “à Slimani”), o Vitória parecia definitivamente arrumado.
Com a expulsão de Paulo Oliveira, Marco Silva enfrenta novos problemas na defesa Fonte: Sporting Clube de Portugal
E, se é verdade que a equipa de Rui Vitória não conseguiria mesmo qualquer ponto, não é menos verdade que voltou a entrar melhor do que o Sporting após o descanso. Com o jogo ganho, os leões baixaram o ritmo, a defesa foi dando espaços e permitiu algumas aproximações dos vimaranenses à sua baliza (mérito também para a atitude destes últimos que, mesmo a perder por 3-0, nunca viraram a cara à luta). Porém, ora os centrais ora Patrício resolveram com relativa serenidade.
Este último protagonizou duas excelentes intervenções na segunda parte, mas borraria a pintura com uma abordagem anedótica ao lance do golo sofrido. Ainda assim, o tento de honra apontado por Kanu, já depois de Nani ter feito o 4-0 na transformação de novo penálti, repôs alguma justiça num jogo onde até aí quase tudo tinha corrido bem aos leões. Mas raro é o jogo em que a equipa de Alvalade consegue manter as suas redes invioladas, e hoje não foi excepção. Mais um lance caricato naquele que foi o 23º golo sofrido pelos verdes e brancos, contra 13 do Benfica e 11 do FC Porto. E, com a expulsão de Paulo Oliveira (há necessidade de a equipa se expor tanto?), continuam os problemas na defesa leonina…
No entanto, nem tudo o que tem a ver com o sector mais recuado é mau. Para além da agradável exibição de Miguel Lopes, também Ewerton merece destaque pela positiva. O Sporting sofreu hoje o primeiro golo com o brasileiro em campo – golo em que, de resto, o número 5 dos leões não teve qualquer culpa. Agilidade, calma, critério, bom jogo aéreo, técnica, experiência e um par de bons cortes. A confirmar as boas indicações – e sem desprimor para Tobias, que é jovem e poderá evoluir – está encontrada a dupla de centrais para o próximo ano: a mais recente contratação do clube poderá formar um eixo sólido com Paulo Oliveira. E o Sporting bem precisa…!
Para finalizar, nota apenas para a quarta partida seguida em que Montero não joga. Com todo o respeito por André Martins, jogador de quem nem desgosto (desde que na posição de Adrien), é incompreensível o colombiano até já ter sido ultrapassado pelo médio nas opções que Marco Silva lança no decorrer do encontro…
A Figura:
Colectivo do Sporting – um golo madrugador ajuda a desbloquear o resultado e a serenar a equipa. A partir do 1-0, o Sporting jogou como mais gosta. Vários jogadores fizeram boas exibições, mas foi a solidez do conjunto, sobretudo na primeira parte e com bola, que tornou fácil um jogo difícil. Menção honrosa para o bom desempenho de Miguel Lopes.
O Fora-de-jogo:
Rui Patrício – Mais um jogo em que a equipa sofre golos, mais um lance caricato desta vez protagonizado pelo guarda-redes. Patrício certamente saberá que sair a uma bola e mudar de ideias a meio caminho é o pior que um guardião pode fazer. A sorte é que o resultado já estava feito… Embora não seja suficiente para o apontar como “fora-de-jogo”, nota também para João Mário, que marcou um golo mas não deslumbrou. Perdeu várias bolas e continua macio na recuperação defensiva.
A semana que agora termina foi possivelmente uma das mais difíceis em termos emocionais para o FC Porto. Penso que a melhor forma para sustentar esta argumentação se baseia na capacidade com que os adeptos portistas subiram ao céu e desceram à terra em breves momentos. Por outras palavras, para o universo portista, esta semana foi carregada de emoções: desde a vitória sofrida frente ao Arouca ao sorteio maldito da Liga dos Campeões, passando pela derrota do rival em Vila do Conde até ao empate amargo na Choupana.
Assim de repente, os quatro argumentos acima descritos podiam dar origem a um filme brilhante de Manoel de Oliveira. Bem vistas as coisas, quem é que poderia arriscar há uma semana que o FC Porto iria ter tantas dificuldades para ganhar ao Arouca, que iria ter a “sorte” de apanhar a melhor equipa do mundo, de ver finalmente o rival perder pontos e de, mesmo assim, só conseguir aproveitar esse deslize de forma tão agridoce? Bom, os quatro argumentos da semana portista mostraram bem aquilo que é o futebol e a forma como os estados de espírito podem mudar num instante. Enquanto adepto, não me preocupou ir às redes sociais e ter visto, depois do sorteio da Liga dos Campeões, comentários a preverem uma sentença humilhante para o FC Porto na Champions ou mensagens de esperança de um apuramento épico para as meias finais. Enquanto adepto, não me preocupou, depois do desaire do Benfica em Vila do Conde, ver portistas a acharem que finalmente tinha sido dado o passo de que precisávamos para chegar ao primeiro lugar. Enquanto adepto, o que me preocupa é que estes estados de alma – encaixados de forma tão perfeita naquilo que representa ser um adepto – passem de uma forma tão irracional para uma equipa como a de Lopetegui.
Não, não pense que venho para aqui com o argumento de que o FC Porto só empatou na Choupana porque soube do resultado do Benfica e por isso os jogadores acusaram a pressão. Desculpe-me o termo, mas a hipótese de sequer pensar que isso poderá ter acontecido, para mim, não passa de ficção. E infelizmente o digo. Aliás, o problema da equipa portista esta temporada tem sido completamente contrário a isso. Durante várias jornadas, com a equipa a ver o Benfica a não ceder, sinceramente nunca me pareceu que o FC Porto fosse a jogo mais pressionado por entrar a sete pontos da liderança. Talvez tenha sido impressão minha, mas sinceramente nunca me pareceu que esse fantasma tenha pairado nos jogadores. As sete vitórias seguidas para o campeonato – sem um único golo sofrido – e o apuramento brilhante para os quartos de final da Liga dos Campeões demonstravam uma equipa na plenitude dos seus recursos e ainda com muito para disputar até ao final da temporada.
O belo golo de Tello não apaga uma exibição fraca do FC Porto na Choupana Fonte: Página de Facebook do FC Porto
Contudo, inexplicavelmente, os problemas que afetaram a equipa no primeiro terço da temporada voltaram a atacar na Madeira. Tal como já havia acontecido no Estoril, em Alvalade, no Bessa ou nos Barreiros, a falta de intensidade e dinâmica da equipa voltaram a aparecer. Esse sim é, no meu entender, o principal problema do FC Porto esta temporada. Mais do que andar ao sabor dos resultados que os adversários fazem, o que me parece é que a equipa tem dificuldades em ter um passo firme e seguro. Quando falamos numa prova de regularidade como é o campeonato nacional, a pedra fulcral para ser bem sucedido tem a ver com a sua capacidade de ser regular e consistente. Ao olhar para os portistas, dificilmente consigo encontrar essas caraterísticas que não apenas de forma momentânea.
Como é que se explica que se façam exibições tão brilhantes, como contra Sporting e Basileia, e depois se façam jogos tão pobres, como frente a Marítimo e Nacional? Não estará a existir um foco excessivo na Liga dos Campeões, quando o campeonato deveria ser o objetivo mais importante, por ser o mais realista? Penso que é relativamente a esta última questão que reside um dos principais problemas da equipa ao longo da época. Se bem se recorda, caro leitor, na primeira volta o FC Porto perdeu pontos com Boavista e Estoril, depois de ter vencido Bate Borisov e Atlético de Bilbau, respetivamente. Esses foram apenas os dois exemplos mais flagrantes desta falta de regularidade e, sobretudo, de capacidade de treinador e jogadores terem bem presente aquilo que deve ser a prioridade da época portista: o campeonato.
Bem sei que não devemos ter o pensamento provinciano de achar que a Champions é apenas uma competição para fazer “boa figura”; ainda assim, e porque considero que a racionalidade deve estar acima de tudo o resto, creio que tem sido pela falta de realismo que o FC Porto tem deixado fugir o pássaro que está mais à sua mão, ou seja, a Liga Portuguesa. De facto, ao olhar para os portistas e para o seu maior rival, o Benfica, cada vez mais fico com a sensação de que, se não acabarmos este campeonato em primeiro lugar, será muito mais por demérito nosso do que por mérito do adversário. Com esta expressão possivelmente estarei a ser injusto para com o nosso rival, mas esta é uma afirmação que sustento em virtude daquilo que tenho visto em alguns momentos e que sei que o FC Porto desta temporada pode fazer.
O sorteio da Champions ditou um confronto com o Bayern de Munique. Fonte: Página de Facebook do FC Porto
Para os mais otimistas, o empate na Choupana foi um “mal menor”, pois permitiu, ainda que de forma (algo) ilusória, considerar que, a partir de agora, só dependemos de nós próprios para chegar ao título. Sim, essa é uma afirmação verdadeira, mas considerar razoável uma vitória por pelo menos dois golos na Luz é uma hipótese utópica que o treinador e os jogadores não podem sequer considerar. Provavelmente não será essa a mensagem que sairá para fora, mas penso que está à vista de todos que ficar a um ou a três pontos do rival não é a mesma coisa. É claro que o mais provável é que, estando a um ou a três pontos de distância, teríamos sempre que ganhar na Luz. O problema é que agora não basta ganhar na Luz, é preciso fazê-lo com autoridade. E isto porque, como já aconteceu em outras ocasiões deste campeonato, fiquei com a impressão de que a cabeça dos jogadores estava bem longe do terreno de jogo.
Enquanto portista, sempre soube que um plantel com tanta qualidade teria sempre os dois lados da moeda. Por um lado, era evidente que a qualidade de jogo iria aumentar, porque os artistas são significativamente melhores. Por outro lado, fiquei sempre com a impressão de que um dos principais riscos que o FC Porto corria ao ter tantos jogadores “com mercado” era o de, em vários momentos da temporada, perder o norte daquilo que verdadeiramente era importante para o clube: a conquista do campeonato. Com um treinador jovem, que se quer mostrar ao país de onde saiu, e com jogadores de inegável qualidade que querem voltar igualmente de onde vieram, para mim era óbvio que esta ilusão pela Champions, em detrimento do campeonato, podia acontecer. O meu medo é que, com o monstro Bayern a bater à porta, este deslumbramento ainda venha a ser pior. A cerca de dois meses de terminar a época, acho que o melhor seria mesmo alguém entrar no balneário e pôr a equipa com os pés na terra. Sonhar será sempre permitido, e o melhor sítio para o fazer é sem dúvida na Champions. Mas, por favor, não se esqueçam do ditado: “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”. Não deixem o campeonato fugir. Basta acreditarem que é possível. E, claro, sempre com racionalidade e cabeça.
Quem leu o meu artigo de antevisão pode comprovar que disse que José Pedro Fontes era o principal candidato à vitória, mas existem coisas que não mudam e Ricardo Moura ser o piloto mais rápido e consistente do Nacional de Ralis é uma delas. Como diria Mourinho, em condições normais Ricardo Moura é campeão, em condições anormais Moura é um dos candidatos.
O ano passado foi um destes anos anormais, e as várias desistências, com especial destaque para a do Vinho Madeira – devido a ter levado ao fim prematuro da temporada a nível nacional -, fizeram de 2014 uma temporada muito difícil para o açoriano no campeonato nacional, já que no regional açoriano as dificuldades não apareceram.
No passado fim de semana, o açoriano foi o vencedor do Serras de Fafe estando sempre na liderança da prova e controlando-a como queria. Miguel Campos e João Barros tiveram, igualmente, um ritmo muito forte, mas não suficiente para bater Ricardo Moura.
Como todos os interessados já estão fartos de ouvir do Serras de Fafe, vou agora falar do tema do título deste artigo. Depois da vitória, as redes sociais e os comentários nos sites da especialidade voltaram a encher-se de ataques a Moura, por mil e um motivos, de quem – na sua maioria – não consegue ver um açoriano ser melhor que os continentais; isto vê-se nas mais variadas coisas. Vir das ilhas ainda significa ser inferior para muitos dos continentais.
Ricardo Moura Fonte: Facebook de Ricardo Moura
A crítica mais usada é a de que o açoriano apenas ganha porque tem apoios públicos do Governos dos Açores; apoio este, dado ao campeão açoriano, no valor de 64 mil euros e em troca de patrocínio no carro da marca Açores. Não deixam de ser curiosas estas críticas todas dos continentais pelo dinheiro público ser gasto desta forma, quando em 2010 todos atacavam o Governo central por não dar 2 milhões de euros à Virgin para que Álvaro Parente fosse piloto de testes desta equipa inglesa. Mas não foi só para este piloto que muitos portugueses “choraram” por não haver apoios públicos, quer nos desportos motorizados, quer noutras modalidades. Talvez para estes ser do continente já seja merecedor de apoios públicos.
Outra das coisas mais apontadas a Ricardo Moura é a de ele ser profissional de ralis, o que não é verdade. Isto, contudo, já entra na vida privada do piloto, pelo que não vou aprofundar o assunto, dizendo apenas que o atleta está ligado à construção civil. Apesar disto, Moura é talvez o mais profissional a preparar tudo aquilo de que precisa para uma prova, o que faz muita diferença na estrada, como se pode ver.
Para finalizar, quero apenas relembrar mais uma das muitas “postas de pescada que atiram”. Segundo muitos, o açoriano só ganha porque não tem adversários à altura e porque o seu carro é de topo – pelos vistos, mais seis R5 e três S2000 não foram suficientes para o derrotar. Já para não falar de que, em 2013, Bernardo Sousa – para mim, o mais rápido piloto português, e curiosamente também de uma ilha (Madeira) – também perdeu o campeonato para o Moura. Com certeza que nesse ano o madeirense perdeu todo o seu valor, recuperando-o em 2014.
O Futebol Clube do Porto deslocou-se à Madeira para defrontar o Nacional de Manuel Machado. No Estádio da Choupana (que etimologicamente significa cabana ou palhota) os dragões fizeram uma exibição desinspirada, pouco pressionante defensivamente, desgarrada em termos de construção ofensiva e com falta de destreza e frescura física individuais. A pensar na Luz, os jogadores emanaram uma negritude futebolística, não só pelas razões anteriormente referidas, mas também pela enorme desilusão e mágoa pelo não aproveitamento total da derrota do Benfica.
Os azuis e brancos apresentaram-se na sua estrutura habitual, o 4x3x3, com Helton na baliza; Alex Sandro, Ivan Marcano, Maicon e Danilo a completar o quarteto defensivo; Casemiro jogou como pivot defensivo com os médios interiores Evandro e Herrera à sua frente; o trio de ataque foi composto por Brahimi, Tello e Aboubakar.
A principal lacuna a reter desta exibição dos portuenses foi o facto de estes não terem conseguido impor de uma forma tão incontestável como habitualmente o seu estilo de jogo. A usual troca de bola impositiva não aconteceu, foram poucas as recuperações conseguidas em zona alta, bem como as segundas bolas ganhas na batalha do miolo. Em vários momentos da partida, o rumo dos acontecimentos foi conveniente aos madeirenses, que partiram o jogo, forçaram as transições rápidas e um jogo mais esticado na frente, não possibilitando o tradicional “embalo circular” com que o Porto tranquiliza os adversários até encontrar espaço para um repentismo mortífero que faça estremecer o marcador.
O golo do Nacional foi um balde de águia fria para os ‘dragões’ Fonte: Nacional da Madeira
As substituições são lógicas mas não surtiram nenhum melhoramento substancial no jogo da equipa. Rúben Neves entrou para o lugar de Casemiro, amarelado num lance despropositado da sua parte, que condicionou o próprio (perdendo agressividade) e a equipa (visto que o jovem português não é defensivamente tão robusto). Quintero substituiu Evandro sem trazer magia ao jogo. Se em anteriores partidas o colombiano estava desligado dos mecanismos globais da equipa, neste encontro, nem uma jogada individual lhe saiu. Por último, entrou Ricardo Quaresma para render o argelino Brahimi. O português criou mais reboliço nos 15 minutos em que esteve em campo do que o seu companheiro de sector em 75.
O Porto pode estar um pouco feliz (apesar deste dissabor) porque ganhou um ponto ao Benfica na luta pelo troféu (estando agora a três do rival). É indubitável que os dragões apenas dependem de si para ser campeões. Devem lamentar, ainda assim, o facto de não terem conseguido colocar o Benfica numa situação aflitiva. Os nortenhos não foram hábeis o suficiente para criar um enquadramento fantasmagórico para os seus rivais, onde o peso histórico dos traumas recentes fosse o mote para a descrença global dos encarnados. Assim, o medo cénico que os lisboetas iriam sentir continua ainda dormente num subconsciente longínquo.
A Figura
Tello – Marcou um golo espectacular de pé esquerdo e ainda assistiu Danilo e Aboubakar para remates perigosíssimos. Nota-se, como venho escrevendo, que é em zona interior que é decisivo. Deve ser trabalhado para actuar em zona central, não para se fixar nesse espaço constantemente, mas para o invadir em velocidade.
O Fora-de-Jogo
Brahimi – João Aurélio, defesa direito do Nacional, foi o melhor elemento em campo. O argelino do Porto foi incapaz de se superiorizar ao seu marcador directo. Tentou (e bem) ir para o centro para conquistar espaço, mas nem nesse naco de terreno fez a diferença. Quaresma, pelo menos nestes jogos da Liga, deve ser titular. É o mais desequilibrador. Tello e Brahimi devem ficar com a outra vaga e descansar para o jogo contra o Bayern. Vão ser indispensáveis para o contra-ataque rápido.
Está na rua o cartaz oficial e (quase) completo do Millenium Estoril Open, onde só lesões de última hora podem trocar as voltas à organização. Não há top’10, mas há top’20 e um quadro de inscritos equilibrado, que pode não garantir o melhor torneio mas garante bons jogos com tenistas jovens e menos jovens a pisarem o “pó de tijolo” do Estoril.
Para além de Nick Kyrgios, que vai estar lesionado até bem perto da data do Estoril Open, numa má noticia para os portugueses, que esperavam um australiano na melhor forma; e de Borna Coric, confirmado um dia antes da lista completa pela organização, estarão no Estoril Open tenistas como Feliciano Lopez, Richard Gasque e o vencedor da última edição do Portugal Open, Carlos Berlocq.
Não destaquei aqui os melhores tenistas mas sim aqueles que considero darem melhor espectáctulo, embora faltem ainda outros como Tommy Robredo, Kevin Anderson, e até mesmo um dos tenistas com melhor técnica no circuito, o cipriota Marcos Baghdatis, actualmente orientado pelo português António Van Grichen.
Isto tudo para dizer que o cartaz não é mau. Pelo contrário, é bem bom e bem equilibrado, tendo em conta que o último inscrito, Ricardas Berankis, ocupa o 76.º lugar no ranking mundial.
A organização tem ainda quatro wild-cards para atribuir, sendo que é neste ponto que a estratégia é totalmente desconhecida: serão os convites para dar à “prata da casa”, a tenistas como Gastão Elias e Rui Machado, ou até mesmo Frederico Gil (embora seja pouco provável, dado o actual momento do português), ou serão para surpreendentemente apresentar algum tenista de top contratado à última da hora.
O leque de jogadores que a equipa de João Zilhão, novo director do torneio, reuniu não garante assim que quem não acompanha ténis vá propositadamente ao Estoril para assistir a este evento, mas garante certamente que os adeptos da modalidade se desloquem ao clube para assistir a este renovado torneio. Quem acompanha ténis sabe que tem aqui matéria prima para bons embates, com tenistas para todos os gostos e feitios, isto já para não falar de características específicas de alguns deles que são verdadeiramente apaixonantes.
Claro que, a par de todos estes jogadores, temos ainda o português João Sousa, que será um dos grandes, senão mesmo o maior atractivo, desta edição do Estoril Open, e que é a grande aposta da organização, acima de qualquer “estrela” do ténis.
O tenista português tem estado a fazer uma temporada assente no piso rápido, mas todos esperam que chegue em boa forma à terra batida do Clube Ténis do Estoril para fazer valer o estatuto que lhe tem sido atribuído neste evento.
Seguindo as palavras do treinador-encarnado… isto é futebol. Seguindo aquilo que se tem passado nas últimas épocas… esta derrota é à Benfica. A verdade é que não sei muito bem por onde começar, até porque o meu cérebro ainda não recuperou todas as funcionalidades. Talvez pelo óbvio: O Sport Lisboa e Benfica perdeu esta tarde, em Vila do Conde, com o Rio Ave por duas bolas a uma. Respirar. Contar até dez. E o cérebro continua a nadar num vazio.
Focando-me nos factos do encontro, o Benfica começou a partida como sempre: dominador e com muita bola. Pizzi e Samarias facilmente se apoderaram do meio-campo e conforme os minutos iam passando também os encarnados se iam tornando mais controladores. Foi assim, sem surpresa, que o reduto benfiquista chegou ao primeiro golo do encontro, logo aos cinco minutos – uma finalização genial de Salvio a passe não menos fabuloso de Pizzi. Os restantes quarenta-minutos foram coerentes com o domínio benfiquista: mais bola, remates, oportunidades, etc. O Rio Ave pouco fez durante a primeira-parte, acabando por ficar limitado com as lesões de Marcelo e Hassan.
A segunda-parte regressou para dar seguimento a um jogo de ritmo baixo que o Benfica tranquilamente controlava. No segundo-tempo o Rio Ave apareceu mais agitado, com Del Valle a querer mostrar serviço (como aliás já nos tem habituado neste Campeonato). No entanto, rapidamente os encarnados voltaram a controlar o meio-campo e com isso a ganhar a maioria das segundas bolas e a manter a posse da mesma. O ritmo voltou a baixar, com o Benfica totalmente satisfeito com a história que o jogo parecia trazer. Ao minuto cinquenta e oito a equipa da casa trocou Pedro Moreira por Diego Lopes, com o brasileiro a precisar apenas de cinco minutos para assustar Júlio César com uma bola ao poste. Depois disso não há muitas palavras que possam descrever o que aconteceu – até ao minuto setenta e cinco há pouco para contar; depois disso, só o Inferno. Na entrada para os últimos quinze minutos Samaris meteu a mão na bola…penálti para o Rio Ave, amarelo para o grego (será que ele não consegue fazer um jogo sem levar cartão?).
Vila do Conde foi invadida por benfiquistas Fonte: Sport Lisboa e Benfica
O marcador afirmava o empate, eu nessa altura já não acreditava. Passados dez minutos onde Lima foi capaz de falhar uma oportunidade claríssima e pouco mais, veio uma falta de Luisão com direito a vermelho directo – aqui terei de discordar do treinador encarnado, visto que me parece de facto falta para expulsão. Por esta altura já a equipa benfiquista andava desnorteada em campo, com Jorge Jesus ou demasiado expressivo ou simplesmente adormecido. Depois do empate a verdade é que apenas Ola John foi capaz de querer ter a bola, com alguns rasgos pelo lado esquerdo. Para além disso, vimos um Benfica a querer pôr a bola no ar à força toda, à espera de alguma coisa que não um milagre.
E como o futebol é isto, de um lançamento lateral a favor dos encarnados, a bola foi entregue a Tarantini, que fez o passe para Diego Lopes que por sua vez colocou a bola em Del Valle. O resto já vocês sabem, golo do venezuelano – sobre este lance apenas dizer que a falha do Maxi é completamente infantil e que o Lisandro deve ter entrado tão frio que nem chegou a perceber que estava a jogar a defesa-central (esta é a única justificação que encontro para o espaço que o Diego Lopes teve ao receber a bola). Vitória da equipa caseira. Apesar das palavras do treinador vila-condense, não concordo que a vitória tenha sido justa e dizer que podiam ter ganho por mais é simplesmente ridículo e pretensioso.
Como notas finais, fica mais um aviso que um golo de vantagem não é suficiente. Fica também a certeza que o jogo foi pessimamente mal controlado, a começar pela forma como a equipa entra na segunda parte. Nós benfiquistas já estamos habituados a estas partidas de mau gosto. O meu cérebro ainda mal funciona, parece-me que nenhuma parte do meu corpo acredita no que aconteceu. Continuamos na liderança e só dependemos de nós para o Marquês ser nosso. Pois bem, que venham essas oito finais!
Um abraço triste e macio, mas com o coração igualmente encarnado…
O evento desta madrugada de domingo, encabeçado pelos pesos Meio-Médio Demian Maia e Ryan LaFlare, não parece ser muito interessante, à primeira vista. A sua proximidade ao electrizante e, no mínimo, surpreendente UFC 185 prejudica-o mais do que o beneficia. A realidade é que falta um verdadeiro “pay-per-view seller” neste Fight Night, um estatuto que LaFlare vai procurar alcançar ao mesmo tempo que tenta ampliar o seu recorde invicto e assumir-se como um nome a ter em conta na categoria… Mas Demian Maia precisa da vitória para se colocar outra vez no cenário de possíveis pretendentes ao título de Robbie Lawler. O que é que podemos esperar dos combates deste domingo?
Godofredo “Pepey” e Andre Fili têm a árdua tarefa de dar um bom começo ao cartaz principal deste Fight Night. Os pesos Pena têm um recorde de lutas relativamente semelhante (12-3 para “Pepey” e 14-2 para Fili) e ambos procuram ganhar mais destaque numa divisão ao rubro, muito graças a Connor McGregor. Deverá ser um combate interessante; ambos são bastante competentes em todas as áreas de luta, pelo que é difícil dizer qual será o registo em que decorrerá o combate. Godofredo vem de duas vitórias seguidas, Fili vem de uma derrota (contra o número 10 do ranking, Max Holloway) e uma vitória. Apesar do histórico recente de lutas, Fili é o mais provável vencedor desta luta: tem vindo a ser conotado como uma das maiores promessas da categoria e uma vitória contra um “Pepey” em boa forma é capaz de o catapultar para alguns combates mais vistosos. Esperem uma luta renhida.
A segunda luta da noite, entre Gilbert Burns e Alex Oliveira, não aparenta ter muitos cenários nos quais Burns não saia vencedor. Alex Oliveira é um lutador bastante competente, o seu recorde de 10-1-1 comprova-o, mas entrou neste combate em substituição de Josh Thomson, número 9 do ranking de pesos Leves, que se lesionou. A UFC claramente tem grandes expectativas em relação a Burns e demonstrou-o ao originalmente colocá-lo num combate contra um lutador do top 10. Este combate não será mais do que um cumprimento de calendário para Burns; é provável que vença Oliveira sem dificuldades.
Amanda Nunes, número 9 do ranking de Bantamweight, e Shayna Baszler vão opor-se num combate que é mais interessante do que aquilo que aparenta. Nunes vem de uma derrota contra Cat Zingano, número um do ranking de pretendentes ao título de Ronda Rousey e a última a desafiar a campeã pelo título, e Baszler vem de duas derrotas, uma contra Bethe Correia, a próxima a lutar contra Rousey, e a outra contra Alexis Davis (esta ainda em 2013). Trata-se de uma luta de reinserção na relevância da categoria, por assim dizer. Amanda Nunes é, aparentemente, a mais provável vencedora, mas Baszler tem elevadas probabilidades de vencer se a luta se der mais no chão. Nunes, no entanto, é bastante mais forte fisicamente do que Baszler e isso deve fazer-se notar se a luta decorrer em pé. Em virtude da sua posição no ranking, a aposta mais sensata será a de apontar Amanda Nunes como vencedora.
O quarto combate da noite, entre Leonardo Santos e Tony Martin, é, também ele, difícil de prever. Santos, vencedor da segunda temporada do The Ultimate Fighter: Brazil, ainda não perdeu na UFC, pelo que parece pouco provável que isso possa acontecer contra Tony Martin. Este já por duas vezes perdeu dentro do octógono, mas a sua última vitória, contra Fabricio Camões, fez com que não perdesse o estatuto de promessa – tem 25 anos e toda uma carreira pela frente. A luta não será nada fácil para nenhum dos lutadores. No entanto, aos 35 anos, Leonardo Santos parece ser o lutador mais experiente e capaz, e, por isso, é mais fácil apontá-lo como provável vencedor. Esperem um combate onde este tentará manter o controlo da luta.
Koscheck (à esquerda) vai procurar mostrar que ainda tem uma palavra a dizer na UFC, apesar dos seus 37 anos e de 4 derrotas seguidas Fonte: UFC
O co-evento principal tem como protagonistas Erick Silva e Josh Koscheck. Disse, num artigo relativo ao UFC 184, que o fim da linha tinha chegado para Koscheck, após a derrota contra Jake Ellenberger. De facto, com 37 anos e 4 derrotas seguidas, Koscheck não aparenta ter muito mais para dar. A sua carreira na UFC é algo que não podemos contornar, pelo que seria natural que Koscheck não quisesse continuar a pô-la em causa.
No entanto, este parece querer sacudir as críticas e mostrar que ainda tem uma palavra na categoria. Erick Silva procura a segunda vitória seguida, algo que nunca conseguiu na UFC. Isto é o suficiente para pôr em causa as suas aspirações neste combate – desde 2011 que Silva intercala vitórias com derrotas. Podemos prever que, se Silva não terminar o combate na primeira ronda, irá certamente sair derrotado. As últimas derrotas de Silva deram-se todas para além da primeira ronda. E as suas vitórias? Precisamente: na primeira ronda. A experiência de Koscheck deverá fazer com que este consiga levar este combate para além da ronda inicial, pelo que aí apenas terá que fazer o seu jogo e desgastar Silva, que aparenta ter falta de resistência dentro do octógono.
“Dêem-me uma chance”, disse LaFlare na antevisão a este Fight Night, em resposta às críticas que vinham fazendo ao evento. Na verdade, é nisto que este evento principal consiste: perceber quem é Ryan LaFlare. 31 anos, invicto na UFC com 4 vitórias seguidas, mas lesionado desde Abril passado. O que é que ele tem para dar? O seu adversário, Damien Maia, já faz parte da “prata da casa” – luta na UFC desde 2007 e é um nome forte na categoria de Meio-Médio. No entanto, as derrotas contra Jake Shields e Rory MacDonald roubaram-lhe o estatuto de pretendente. Será que LaFlare vai conseguir afirmar-se como um caso sério ou que Damien Maia vai mostrar um novo fôlego?
Será que LaFlare (na foto) vai conseguir ampliar o seu recorde invicto e mostrar-se como alguém a temer na divisão de pesos Meio-Médio? Fonte: UFC
Na UFC, La Flare venceu todas as suas lutas por decisão unânime. Sendo este um combate de 25 minutos, podemos esperar um La Flare mais controlador e com cuidado a gerir o tempo, tentando desgastar Maia, que é conhecido por se cansar depressa. No entanto, a experiência de Maia poderá fazer com que este tente terminar o combate nas primeiras rondas, levando a luta para o chão e usando o seu Jiu-Jitsu, que é, sem dúvida, uma das suas maiores armas. É uma luta à qual é difícil atribuir um vencedor: se LaFlare ganhar, será por mais uma decisão; se Maia ganhar, será por submissão, numa das primeiras duas rondas. Está tudo em aberto nesta madrugada de domingo. O UFC Fight Night 62 será transmitido na Sport TV 1, às 2h00.
O talento já vem de “fábrica” ou é construído? Quando vemos um miúdo de 6 anos a fazer coisas fantásticas com uma bola, seja com as mãos, seja com os pés ou com a cabeça, a primeira coisa em que pensamos é: “Aquele miúdo tem talento…”. Amiúde acontece-nos isto mas julgo que nunca nos debruçámos efectivamente sobre esta questão.
Há uns tempos encontrei um livro bastante interessante de Daniel Coyle: “O Código do Talento”. Basicamente explica-nos com alguma profundidade e base científica e experimental o que faz com que alguém tenha talento, em qualquer área. O que nos diz também é que há uma pequena base genética que pode influenciar a habilidade de um filho para fazer algo, habilidade essa relacionada com uma que o pai ou a mãe também tenham. Diz-nos ainda que essa base genética é apenas um ponto de partida e que o desenvolvimento do talento em si é fruto de uma prática intensiva. Daniel Coyle no seu livro explica-nos que “A teoria da excelência através do talento natural priva as pessoas e as instituições da motivação para se mudarem a si mesmas e às sociedades.”.
Nós não acreditamos no poder da prática, seja ela informal ou formal, se considerarmos que Ronaldos ou Messis nascem já com o talento que demonstram ou até demonstraram quando eram crianças e foram encontrados pelos “caçadores de talentos”, sejam eles os próprios pais, familiares ou olheiros. Não acreditamos que a prática pode moldar a forma como os jogadores jogarão no futuro, seja ele imediato ou remoto. Muitos pais, quando o filho já mostra alguma coisa a nível técnico em tenra idade, criam expectativas desmedidas e alimentam o ego da criança até à exaustão: o ego da criança, sim, mas principalmente o seu, sendo que aquilo que o filho faz é motivo de um orgulho cego, desproporcionado e desmedido, e quando a criança não corresponde às expectativas surge uma grande desilusão. Ou isso, ou quando um treinador competente, honesto e sincero vai ter com um pai ou uma mãe e diz algo do género: “O seu filho não é o jogador que você julga que é…”. O que acontece de seguida? O pai retira o filho dessa equipa porque o treinador para ele é um incompetente e não percebe nada do jogo… Esta questão levar-nos-ia para longe do contexto do tema e por isso vou-me focar no talento em si.
O Professor Júlio Garganta (2014) afirma que “o Talento Potencial pode existir antes do treino, mas o jogador só existe depois disso.”. O talento potencial mencionado pelo Professor nesta afirmação indica a possibilidade da existência de certas potencialidades e propensões genéticas que podem ajudar uma criança a tornar-se no futuro um talento real, como também poderão ter existido certas influências e experiências que guiaram alguém ao estado de talento potencial. Importa recordar que inúmeros talentos potenciais apenas o são em certas idades e posteriormente, por diversas razões, acabam por não ser transformados em reais, deixando naturalmente o indivíduo de se tornar num jogador.
O que retiramos da frase do Professor não é que esse potencial existe mas que o jogador só existe depois da prática e que não há uma opção em que o potencial transforme o indivíduo em jogador sem este praticar. Coyle coloca isso como sendo uma condição obrigatória… Como foi referido anteriormente um indivíduo pode ter propensões que o ajudarão ou farão com que as suas experiências sejam vividas de forma diferente.
O talento do treinador
Quando consideramos o talento de um professor ou treinador, podemos usar o mesmo tipo de reflexão e abordar os mesmos aspectos, embora de forma diferente. No nono capítulo do livro de Daniel Coyle (“O Código do Talento”), o autor lista as quatro maiores virtudes dos grandes treinadores. Essas qualidades são decorrentes de observações feitas a uma série de treinadores, não sendo apenas treinadores desportivos. Na opinião de Coyle, “A habilidade de ensinar excepcionalmente bem é um talento como qualquer outro: parece algo mágico quando na verdade é uma combinação de habilidades.”. A esse conjunto de habilidades Coyle chamou “As quatro virtudes”.
A primeira virtude constitui-se no “software” do treinador, ou seja, naquilo que ele armazenou ao longo do tempo: a sua memória, o conhecimento, a experiência. Para Coyle, na prática, isso consiste numa mistura de “conhecimento técnico, estratégia, experiência e sensibilidade aguçada (…) sempre pronta a identificar e compreender o ponto em que os alunos (ou atletas) estão e aonde precisam chegar.”. Quando ele se refere à sensibilidade aguçada está a referir-se à inteligência emocional, obviamente.
A segunda virtude é a perspicácia. O treinador não apenas vê mas esmiúça, decifra, identifica, reconhece, atribui uma lógica para o que está a acontecer! Para Coyle, os grandes treinadores “ficam a observar demoradamente, sem sequer piscar os olhos.”. Transformam os seus olhos em câmaras, com a finalidade de captar todas as informações. Conseguem ver aquilo de que precisam e vêem também o que não estão à espera de ver. Aplicam o seu filtro interno e livre de julgamento a priori…
A terceira virtude, a que ele chama “O reflexo GPS”, é a capacidade de o treinador fornecer dicas que conduzem o atleta à execução ideal. O atraente desta comunicação é que ela acontece por imperativos, como por exemplo: “Faz assim!”, “Usa!”, “Vira!”, etc.. O treinador tem algo objectivo a partilhar. Não deixa dúvidas quando comunica, pois quer levar o seu atleta para um lugar que interessa aos dois. Se necessário, o treinador muda o tipo de informação que emite até conseguir o efeito desejado. Para Coyle, “Quando o plano A não surtia efeito tentavam o B e o C. Quando o B e o C falhavam, ainda tinham todo o resto do alfabeto à disposição.”. Demonstrações de paciência e persistência integram esta virtude. Bem, na verdade, não é paciência, mas sim uma impaciência estratégica por parte do treinador. A paciência está mais ligada ao executante.
A quarta virtude identificada foi a “honestidade teatral”. Trata-se da virtude de o treinador encontrar a forma de comunicar mais adequada para cada atleta, cada situação: encorajando, variando o tom e a velocidade da voz, perguntando, sendo assertivo, umas vezes calmo, outras vezes inquieto, etc.. Para Coyle, “o teatro e as máscaras não passavam de instrumentos utilizados por eles para transmitir aos alunos a verdade sobre o seu desempenho.”. Portanto, grandes treinadores têm um vasto conhecimento, são perspicazes, sabem o que querem e como comunicar, o que não é fácil.
O papel chave da descoberta guiada no desenvolvimento do talento no desporto
No desporto não concebo a aprendizagem e o desenvolvimento que não sejam feitos através de descoberta guiada. É a minha perspectiva. A descoberta está relacionada com entrar no desconhecido ou incerto, sendo que, por ser guiada, através da presença de alguém que orienta, certificando-se de que a experiência se mantém dentro da busca do objectivo, o executante desenvolve em si competências cognitivas consistentes, permitindo-lhe fazer o transfer entre as diversas situações e/ou contextos. O potencial talento a que o Professor Garganta se referia é fruto da constante descoberta e experiência inicial, repetidas vezes sem conta, que em idades baixas a criança executa.
Tenhamos em conta o basquetebol. Um miúdo de 8/10 anos que começa a tomar contacto com a modalidade (provavelmente deram-lhe uma bola e ele arranjou um campo com cesto) começa basicamente por imitar outros jogadores mais velhos, que ele admira, seja do campo ou da televisão, a driblar, a passar, a encestar, com uma mão, com duas mãos, a experimentar passar a bola por trás das costas, por baixo das pernas, etc.. Isto vezes sem conta, atendendo a que a sua motivação estará ligada directamente à sua capacidade de evolução. A tríade tentativa/erro, tentativa/correcção e tentativa/acerto é o mapa mental que a criança usa para aprender, e as legendas são as imagens que ela copia e compara. Aos 13 anos, e após prática diária regular e intensa, verificam-se em média cerca de 1200 horas investidas em treino.
Fonte: Chilli Head
Não é de admirar que este jovem se torne excelente e que transforme o talento potencial em real. Isto somente através da autodescoberta. Entrando ele para um clube e integrando uma equipa de formação que treina e compete bastantes horas e com treinadores competentes, a descoberta guiada irá fazê-lo emergir do potencial para o real em pouco tempo. Ter um excelente treinador acelera este processo.
A importância da Mielina
O talento veio em parte da autodescoberta dos gestos, da prática, da persistência, da motivação, da genética, e de inúmeros outros factores que o influenciam, havendo até uma enorme influência ao nível neurofisiológico, através da mielinização dos axónios das células nervosas (as “fibras” que transportam os impulsos eléctricos e que os neurónios utilizam para comunicar entre si). A mielina permite não só a condução rápida dos impulsos nervosos como a sobrevivência das próprias células nervosas.
A psicologia da aprendizagem ensina que o conhecimento, ou movimento, uma vez aprendido, fica armazenado no neocórtex sob forma de engrama (impressão deixada nos centros nervosos pelos acontecimentos vivenciados, activa ou passivamente, pelo indivíduo), que consiste num determinado padrão de ligação entre os neurónios. O engrama, que é sempre utilizado, fica cada vez mais “nítido” e “forte”, ao passo que aquele que não é utilizado enfraquece e pode até extinguir-se. Se um gesto desportivo for repetido com constância, o seu engrama ficará tão forte que permitirá a execução do gesto de forma reflexa, através de uma rápida comparação entre as reacções neuromusculares e o engrama. Este aspecto está ligado à mielinização das fibras nervosas e à velocidade de condução dos impulsos, bem como à caracterização dos tipos de movimentos.
Em jeito de conclusão deixo aqui algumas questões:
Aquele miúdo que era uma promessa e tinha grande talento nos juvenis “desapareceu” porquê? Aquele que era tosco aos 13 anos porque é que agora é um excelente jogador profissional? Que influência pode ter o treinador, através da experiência que fornece aos seus atletas, na realização de um potencial talento? O que é que os talentos reais actuais fizeram para chegar onde chegaram?
O Segredo? Prática, prática, prática… É isso! Agora, embora lá treinar…
O Bruce Lee disse uma vez: “Eu não receio aquele que praticou 10.000 pontapés uma vez. Eu receio aquele que praticou um pontapé 10.000 vezes.”
De telemóvel na mão, com um nervoso miudinho, lá ia eu actualizando a página online da UEFA à espera de saber qual o adversário do Porto nos quartos-de-final da Liga dos Campeões. A notícia chegou-me através de um portista que, baixinho, soltou um “f*da-se, já fomos!” – o Barcelona iria encontrar o PSG, por isso só restava uma equipa que provocasse uma reacção tão franca. O Bayern de Munique, claro. Passado uns segundos lá me chegou a confirmação (a página apresentava um certo atraso em relação a outras fontes): o Porto vai mesmo defrontar os bávaros.
As probabilidades de sucesso são baixas. Aliás, seriam baixas com grande parte das equipas, mas defrontando o Barcelona ou Bayern Munique, então o cenário ficaria ainda mais negro. Analisando os resultados do Bayern Munique no campeonato alemão, vemos que tem apenas quatro empates (só um destes foi em casa) e uma derrota. Na Liga dos Campeões tem um empate, com o Shakhtar Donetsk, e uma derrota, com o Manchester City, ambos fora de casa. Pelo caminho humilhou a Roma, por 7-1, em Itália, e goleou o mesmo Shakhtar, por 7-0, na 2ª mão dos oitavos-de-final. Em suma, estão num grande momento de forma – melhoraram em relação ao ano passado (Guardiola introduziu algumas mudanças depois do insucesso na Europa na época anterior), pelo que até será díficil “copiar” tácticas.
A qualidade técnica e táctica dos bávaros é brilhante. É uma equipa que consegue alternar entre uma posse de bola asfixiante e um jogo directo letal (Ribery, Muller e Robben dão muita verticalidade ao jogo), que tem craques de encher o olho e, por tudo isto, não é fácil encontrar uma brecha na perfeição da máquina alemã. Se tivesse que apostar, diria que vamos tentar aproveitar o contra-ataque, com Brahimi e Tello nas alas, e talvez soframos alguma alteração táctica, deslocando o argelino mais para o centro para tentar povoar o nosso meio-campo. De qualquer forma, será curioso assistir a este duelo, pois o Porto também joga preferencialmente em posse; acredito, no entanto, que a posse de bola do Bayern venha a prevalecer.
A única vantagem que o Porto teve neste sorteio foi a de jogar primeiramente em casa. Contra um adversário desta qualidade, penso que um bom jogo em casa pode ajudar a encarar a 2ª mão com outros olhos e com mais confiança, ao invés de um primeiro jogo fora que pode trazer, desde logo, um resultado pouco esperançoso para os da Invicta. Abril vai ser um mês de tudo ou nada para o Porto pois poderá defrontar – caso chegue à final da Taça da Liga – duas vezes o Benfica e, ainda, claro, o Bayern.
Sabemos que as probabilidades de sucesso em duas das três competições são difíceis, quer pelos adversários (no caso da Liga dos Campeões), quer pela diferença pontual (no Campeonato) mas é nestas alturas que temos de ter jogadores à Porto. Que deixem sangue, suor e lágrimas no campo e que sejam autênticos guerreiros. As imagens de Viena vieram logo à memória; são condições e equipas diferentes mas já na altura nos davam como mortos. A ilusão e o sonho podem prevalecer, com alemães e portugueses (principalmente os outros que não estão lá e que se roem de inveja…) a serem surpreendidos, e é nisso que todos os portistas, no fundo, acreditam. Espero que a equipa não deixe de acreditar nunca porque nós também jamais o deixaremos.
Data de Abril de 1993 a primeira recordação que tenho de Alvalade. O Sporting de Figo, Valckx, Cadete, Juskowiak, Cherbakov e acima de tudo de Balakov – saudades tuas, mágico 10! – jogava contra o Chaves. O resultado foi o menos importante, mas foi uma goleada das antigas, cinco a zero, ainda que com três golos apontados no final do jogo.
Sinceramente, não sei se foi a primeira vez que me levaste à bola, e que entrei de mão dada contigo no nosso velhinho paraíso; mas para mim é das melhores e mais bonitas memórias que tenho. Lembro-me de tudo, da boína tweed horrível que usavas, e que te dava um ar de taxista; da tua almofada desdobrável para pôr no cimento gélido das bancadas , e que contrastava com o vulcão em erupção que vivia na Sul que me captivava o olhar e me prendia a atenção, e do teu inseparável rádio a pilhas, auxiliar fantástico pelo qual confirmavas que o árbitro era quase sempre um ladrão e aproveitavas para lhe chamar uma série de nomes injuriosos, entre os quais o inesquecível “Boi Negro”.
Sabes pai, poucas vezes te disse obrigado por estas memórias. Tu não me fizeste ser Sportinguista, acho que já nasci assim, no entanto o meu Amor por este clube aumentou e tornou-se o que é hoje por momentos como o que agora recordei.
Nunca me hei de cansar de te ouvir a falar sobre o Damas e o Yazalde Fonte: Facebook Sporting
Lembro-me também da primeira vez que ouvi o Hino da Champions em Alvalade, num jogo frente ao Mónaco de Barthez e Trezeguet. O relvado estava horrível porque tinha havido um concerto pouco tempo antes, e ganhámos três a zero. Mais uma vez, lembro-me de olhar para ti e de te ver feliz como raramente te via, e de ficar contente por partilhar tamanho Amor contigo.
Com os anos foste perdendo este entusiasmo, deixei de ir contigo a Alvalade, Jamor, ou até mesmo à antiga nave de Alvalade. As equipas de formação deixaram de treinar nos pelados, e com isso deixei de te ouvir falar nos “putos” que jogavam nos juniores, como aquele Simão Sabrosa que ia ser uma máquina.
Não sei se foi o Roquettismo que te afastou, ou se foi mesmo a tua idade que começou a pesar, mas tenho saudades desse tempo. Mesmo quando nada ganhávamos, o teu amor pelo Sporting era inquestionável, a paixão que punhas em cada Domingo de bola moldou-me na pessoa que sou hoje e até no que quero ser no futuro.
Como disse, tenho saudades. Saudades que me compres um nougat ou umas queijadas, saudades de olhar para ti e te ver com os fones nos ouvidos a ouvir o relato e até mesmo dos teus insultos; saudades tuas ali comigo.
Acredita que hoje muito se perdeu daqueles dias “nossos” que passávamos em Alvalade. Já não há tanta magia e não se respira tanto Sportinguismo; já não conheces os teus parceiros do lado e nem precisas de levar a tua almofada. Ainda assim, gostava que fosses, que fosses a minha companhia, e de me abraçar a ti no nosso próximo golo.