PERFIL DE JOGADOR
Esta é, porventura, a maior metamorfose entre as eras Jesus e Vitória. Antes de tudo, é fundamental entender que o futebol evoluiu muito nos últimos 10 anos. A figura do treinador atraiu contornos inimagináveis e houve quem ousasse dizer, inclusivamente, que um técnico competente podia, sozinho, ganhar jogos. Nada mais falso. Por muito que um treinador tenha influência – e tem muita – continuam a ser os jogadores os protagonistas do jogo. Se um plantel de uma equipa for formado por jogadores rápidos, tecnicamente evoluídos e com propensão para o 1×1, é natural que o seu modelo tenha por base as transições rápidas.
O Liverpool, de Klopp, é um exemplo que ilustra bem esta premissa. E, tal como Klopp, Jorge Jesus sempre preferiu jogadores rápidos e fortes, física e tecnicamente. O modelo de jogo esteve frequentemente confinado às características destes jogadores porque, como é sabido, Jorge Jesus é adepto do lema “quanto mais autonomia tenho, melhor”. Isto determina a criatividade do modelo – o cérebro no jogo acaba por estar limitado ao do treinador – e pode ser prejudicial em momentos onde é vantajoso sair dos automatismos do treino.
Ora, com a chegada de Rui Vitória ao Benfica, tudo mudou. O perfil de jogador – e aqui não se sabe com exatidão se pela mão do treinador ou do clube – focou-se mais em variantes mentais. Preferiu-se a dimensão atlética pela dimensão mental. Com Jorge Jesus o Benfica contratava Salvio, Emerson, Funes Mori, Talisca, Jara, entre outros – e atenção que estão exemplos de bons e maus jogadores -; com Vitória dispõe de Grimaldo, Douglas, Krovinovic, André Horta, Carcela ou Rafa – aqui também estão exemplos bons e maus.
A criatividade no jogo do Benfica é hoje mais vasta comparativamente à era de Jorge Jesus. E isso resume-se à escolha dos jogadores. Mérito, aparentemente, de Rui Vitória.