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Da distrital à liga de Messi e Ronaldo – Entrevista a Diogo Salomão

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Diogo Salomão é a história de uma ascensão meteórica. Provavelmente uma das maiores fontes de inspiração dos jovens que actuam nas profundas divisões distritais do nosso país e que, a cada noite, ainda se deitam com o sonho de vir a representar o seu clube de sempre. Diogo Salomão, para além disso, é o exemplo de um jogador que teve de sair do seu país para conseguir sentir-se em casa: na Corunha, diz o próprio, encontrou uma “empatia” e um reconhecimento que o fazem feliz. Já encontrou também Messi e Cristiano Ronaldo, como adversários. Em Grande Entrevista ao Bola na Rede, Salomão fala-nos da vida em Espanha, das diferenças entre os adeptos, da mentalidade, da falta de oportunidades no Sporting e de muito mais!

A “xenofobia” espanhola

Bola na Rede: Em 2012 houve um jornalista espanhol que afirmou, sobretudo com base no tratamento a Ronaldo e Mourinho, que os portugueses sofriam de xenofobia em Espanha. Alguma vez sentiste semelhante problema?

Diogo Salomão: Aqui na Corunha raramente tive semelhante problema. É uma sorte estar na Corunha que é uma cidade bastante calma e educada e que torna tudo mais fácil. A receção dos companheiros de balneário também foi espetacular e nunca senti qualquer tipo de discriminação.

BnR: O Deportivo é um clube que tem apostado muito nos portugueses. Pelo contrário, o FC Porto deste ano tem bastantes jogadores provenientes de Espanha. Achas que há um nível mais alto aí que justifique a aposta em tantos espanhóis em detrimento de portugueses?

DS: Penso que em Espanha a aposta na formação e em jogadores nacionais está por cima da aposta dos clubes portugueses. Aqui dá-se mais valor ao que é da casa, o que acaba por trazer benefícios ao clube.

BnR: O que é que Portugal tem mais a aprender com a Espanha, no que a futebol diz respeito?

DS: A grande diferença que me chamou mais atenção aqui em Espanha é a paixão dos adeptos pelo clube local. O Deportivo mesmo na 2ª divisão conseguia ter o estádio com média de 20 000 ou 25 000 adeptos. Isso faz toda diferença na hora do espectáculo.

Diogo Salomão e os adeptos do Deportivo como fundo
Diogo Salomão e os adeptos do Deportivo como fundo

O início de carreira e as mudanças repentinas

BnR: Diogo, começaste no Casa Pia e representaste ainda o Real Massamá. Esperavas naquela fase da tua carreira chegar a um grande?

DS: Sim, quando comecei no futebol sénior apesar de estar na divisão de honra, ou seja nos distritais, tracei como objectivo chegar a um grande do futebol português. Sabia que seria complicado porque estava muito longe desse sonho mas a ascensão foi vertiginosa e cheguei a essa meta em apenas três anos.

BnR: Como surgiu essa hipótese de fazer uma carreira no futebol ao mais alto nível?

DS: Na altura representava o Real Massamá e o Sporting tinha um protocolo com o clube. Estavam vários jogadores emprestados e isso permitiu que tivesse bastante visibilidade. Sá Pinto, na altura director do Sporting, acompanhou quase todos os jogos do Massamá na época 2009/2010 e essa época acabou por ser bastante produtiva para mim. Assim surgiu o interesse em ser seu activo na seguinte temporada.

BnR: Quais são as principais diferenças entre jogar na primeira divisão portuguesa e nas ligas secundárias?

DS: Para mim foi um choque o primeiro jogo que realizei com o Sporting frente ao Lyon, no Estádio de Alvalade. Estava habituado a jogar perante 500 pessoas. Respondendo à questão, a diferença é brutal: o nível de exigência física e mental do jogo é muito diferente. Tive de me adaptar muito rapidamente.

BnR: Há muito talento perdido por equipas portuguesas menos conhecidas?

DS: O futebol está cheio de talentos perdidos. Existem bastantes valores que por diferentes motivos nunca se chegam a revelar. É necessária força mental, paixão pelo que se faz e muita muita sorte. Há alturas na vida em que estar no sítio certo, à hora certa faz toda diferença.

O Sporting

BnR: Sentes que podias ter beneficiado com um empréstimo a uma equipa portuguesa em algum momento da tua passagem pelo Sporting?

DS: No final da temporada 10/11 fui informado pela direção do Sporting de que tinham a intenção de me emprestar na seguinte temporada, o que me apanhou um pouco de surpresa visto que era algo que não esperava depois de uma época produtiva da minha parte. Tive a opção de alguns clubes portugueses mas decidi ir para Espanha. Queria arriscar no estrangeiro e sabia que o Deportivo tinha a missão de voltar a 1ª liga, o que me daria bastante visibilidade.

BnR: Entendes que tinhas condições para ter jogado mais pelo Sporting na última época?

DS: Sim, senti que tinha condições para demonstrar mais, mas os seis meses foram curtos porque acabei apenas por realizar três jogos. Tive menos oportunidades do que esperava, mas também entendo que todos os companheiros se encontravam em boa forma e acabámos por fazer uma boa campanha.

O jogo frente ao Braga foi uma das poucas oportunidades de Salomão na última época
O jogo frente ao Braga foi uma das poucas oportunidades de Salomão na última época

Deportivo de la Coruña: o título e o futuro

BnR: Já tens mais do que uma passagem pelo Deportivo. É um clube especial?

DS: O Depor já está marcado em mim. Esta é a quarta época consecutiva a representar o clube da Galícia. Estou bastante satisfeito com o que já consegui neste clube, sinto o meu trabalho reconhecido e uma empatia com toda gente relacionada com o clube. Um dia, mesmo depois de terminar carreira, é uma cidade que voltarei a visitar pelas amizades que aqui fiz.

BnR: Vencer o título da segunda divisão espanhola em 2012 e alcançar a subida foi o melhor momento da tua carreira?

DS: Sim, posso dizer que é o ponto alto da carreira. Em 2012 vencemos a Liga Adelante, participei em bastantes jogos e a equipa bateu o recorde de pontos da 2ª divisão espanhola – 91 pontos alcançados -, uma marca a destacar.

BnR: Participaste num jogo épico no Riazor, contra o Barcelona, que os catalães venceram por 4-5 com um hat-trick de Messi. A pergunta da praxe: qual é o melhor, ele ou o Cristiano?

DS: Entre Messi e Cristiano é difícil dizer qual é melhor. São dois extraterrestres. Depende bastante da forma em que se encontram. Os dois já fizeram história no futebol e vão continuar a fazer. Serão recordados durante anos.

BnR: Depois de uma lesão grave, o teu regresso à competição pode estar para breve. Quais são as expectativas para esta temporada?

DS: Espero recuperar desta lesão grave que várias vezes me deu dores de cabeça. É uma lesão complicada de recuperar, mas agora nesta fase final a confiança aumenta e já vejo a luz ao fundo do túnel. Espero estar ao melhor nível para o que resta da liga e ajudar no objetivo do clube, a manutenção.

BnR: Tens ascendência da Guiné-Bissau. Já pensaste representar esse país no futebol de selecções, ou sonhas chegar à selecção portuguesa?

DS: Já tive contacto por parte elementos ligados à seleção da Guiné quando estava no Sporting e era ainda bastante jovem. Preferi dar um tempo e ver ser conseguia uma oportunidade na seleção nacional…

Pedimos-te que respondas às seguintes questões apenas com uma palavra.

O melhor jogador com que já jogaste? Marat Izmailov
O melhor treinador? José Couceiro
O clube que mais gostarias de representar na carreira? Arsenal
O teu melhor amigo feito através do futebol? André Santos
O teu ídolo futebolístico? Ronaldo “fenómeno”

Entrevista realizada por:

João Almeida Rosa

João V. Sousa

Texas: História, história, história. A pista é de Hamilton!

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O calendário aperta e o espaço para manobras é cada vez mais reduzido. Depois de uma curva apertada onde a ultrapassagem parecia impossível, Lewis Hamilton e Nico Rosberg — as duas grandes figuras do campeonato — surgem agora mais separados do que nunca e o título de campeão sorri ao piloto britânico.

Hamilton, campeão em 2008, saiu do Canadá e, mais tarde, da Bélgica de cabeça perdida — entre as desistências, somou um segundo lugar, uma vitória e dois ‘bronzes’ — mas viajou para os Estados Unidos como se de um membro da corte britânica se tratasse.

Times Square, USA Today, Mercedes em plenas ruas de Nova Iorque. Foi recebido por todos e tratado como um rei. Na pista, e mesmo partindo do segundo posto, voltou a dominar. Lutou com Rosberg, o seu único verdadeiro adversário em 2014 pelo lugar que era seu há semanas consecutivas.

Contornou o carro do alemão, seu colega de equipa, e só parou depois de passar na reta da meta com a mão erguida. Vitória. Pela quinta vez consecutiva, era Lewis Hamilton o vencedor de um Grande Prémio. Estava feita história. Igualou Alonso com 32 vitórias, tornou-se no britânico a vencer mais GPs na Fórmula 1 e, pela primeira vez na sua carreira, venceu a sua quinta prova consecutiva.

Mas os números, esses, talvez devam ficar para mais tarde. Afinal, e feitas as contas, Lewis — já campeã de construtores com a Mercedes e o seu grande rival — está cada vez mais próximo de vencer pela segunda vez o Mundial de Fórmula 1.

Mais próximo e, de momento, sem adversário à altura. Dominador em dez dos grandes prémios realizados até à data, Hamilton tem o pé bem assente no acelerador e não parece querer parar.

A festa essa, terá no entanto de ficar para o GP de Abu Dhabi, o último da temporada, onde os pontos valem a dobrar e impedem, por isso, que o britânico se sagre campeão já na próxima semana caso vença no Brasil.

Entrada de Leão, saída de cordeiro!

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A equipa de juniores do Sporting CP entrou no jogo desta tarde na sua academia disposta a discutir a vitória e o apuramento para a fase seguinte da competição. Perante um Schalke 04 tímido e inseguro, a entrada dos verde e brancos (que hoje jogaram de amarelo) não podia ter sido melhor, inaugurando o marcador por Bubacar Djaló logo ao minuto quatro, aproveitando um brinde da defesa alemã. A equipa contrária tinha agora de ir à procura do golo do empate, mas encontrava pela frente não só o forte vento que se fazia sentir em Alcochete, mas também uma equipa do Sporting bem organizada, com as linhas muito juntas. Até ao minuto 44 as equipas equivaleram-se em oportunidades de golo, com mais posse dos visitantes, mas com os da casa mais perigosos nas transições. Em cima do intervalo, um golo de livre do ponta de lança Postiga dilatava a vantagem para 2-0 e abria boas perspectivas para as hostes leoninas, deixando os alemães em maus lençóis.

O início da 2ª parte mostrava uma equipa do Schalke mais atrevida. Com o vento pelas costas e sem ter nada a perder, embora sem ter feito muito para o merecer, chegou ao primeiro golo num canto, seis minutos após o reatamento, com grande permissividade da defesa da casa (o jogador alemão cabeceou sem oposição na pequena área!).

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O Sporting festeja o primeiro golo da partida

A equipa verde e branca tremeu com este golo e mostrou alguma insegurança, não conseguindo ter a bola. Ao minuto 58 o árbitro decidiu inclinar o jogo a favor do Schalke e em dois minutos amarelou duplamente Fábio Martins, deixando o Sporting em inferioridade numérica. O treinador dos da casa (que se estreava no  banco) procurou equilibrar a equipa fazendo entrar Pedro Ferreira para o lugar de Rafael Barbosa, mas ao minuto 65, numa bola lançada nas costas do lateral direito do Sporting, o extremo contrário conseguiu cruzar e o ponta de lança, entre os dois centrais da casa, finalizou, conseguindo o empate. O Schalke sem mostrar grandes argumentos chegava ao seu objectivo. Eram agora os da casa que teriam de ir à procura de nova vantagem para manterem o sonho do apuramento; no entanto, com menos um homem em campo praticamente toda a segunda parte, não conseguiam criar perigo junto da baliza contrária e desequilibravam a sua defensiva para tentarem estender o jogo. Já no minuto 90, mais uma vez uma precipitação da defesa do Sporting permitiu, num mau alivio, isolar um avançado do Schalke que, sem oposição à boca da baliza, concretizava o volte-face.

Não se pode dizer que tenha sido uma vitória justa pelo jogo jogado, mas esta sorriu a quem melhor aproveitou as facilidades concedidas pelo adversário.

No final o Schalke fez a festa do apuramento (juntamente com o Chelsea, que esmagou o Maribor na Eslovénia por 0-7), enquanto ao Sporting resta honrar as camisolas e tentar nas duas próximas jornadas deixar uma imagem digna e que, simultaneamente, permita a estes jovens jogadores continuarem a crescer a nível internacional.

Athletic 0-2 FC Porto: Fato perfeito com medida de oitavos!

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Perfeita, dominadora, de gala: estes são os adjetivos que me vêm logo à cabeça para descrever a exibição portista, esta noite, na catedral de San Mamés, em Bilbau. Durante 90 minutos, o FC Porto passeou classe no País Basco, com Brahimi a fazer uma exibição soberba, Jackson a ser letal como sempre e Casemiro a fazer o melhor jogo até ao momento com a camisola azul e branca.

Mas vamos por partes: o Atlético de Bilbau surgia nesta partida da 4ª jornada do Grupo G da Liga dos Campeões com a necessidade imperiosa de ganhar; quanto ao FC Porto, percebia-se que o jogo não era decisivo e que um empate até poderia ser um resultado positivo, pois desde logo garantiria a Liga Europa e colocaria os portistas com um pé e meio entre as dezasseis melhores equipas do Velho Continente. Nas equipas iniciais, destaque para as ausências de Aduriz (lesão) e Muniain (opção) do onze inicial escalado por Ernesto Valverde, que optou por colocar Ibai Gomez e Guillermo Fernandez de início. No FC Porto, Lopetegui optou pelo seu onze de gala, retirando Quintero e Quaresma da equipa titular, colocando nos seus lugares o médio Oliver e o extremo Cristian Tello. Ao contrário do que se podia esperar, tendo em conta as dificuldades clássicas que todos os adversários do Bilbau sentem quando se deslocam ao seu reduto, cedo se percebeu que esta era a noite do FC Porto.

Terceira vitória em quatro jogos - oitavos garantidos  Rafael Rivas, APF
Com a terceira vitória em quatro jogos, o FC Porto garantiu presença nos oitavos-de-final
Fonte: Rafael Rivas, APF

Sempre com o ritmo de jogo controlado, os pupilos de Lopetegui tiveram quase sempre a bola, controlaram todos os momentos de jogo e raramente deixaram o ataque espanhol aproximar-se das redes de Fabiano. Com Casemiro a funcionar em pleno como pêndulo à frente dos centrais, destacava-se o papel de Óliver Torres e Herrera na construção do jogo ofensivo portista. Nas alas, o repentismo de Tello e a qualidade soberba de Brahimi criavam os desequilíbrios para um Jackson Martinez que sempre perturbou os centrais.

Com tanto domínio sobre a partida, o FC Porto começou a criar perigo efetivo junto à baliza de Iraizoz e, em abono da verdade, o empate a zero ao intervalo era tremendamente injusto, tendo em conta o que se passava no terreno. Primeiro por Jackson, depois por Maicon, a seguir por Brahimi e novamente por Jackson em duas ocasiões (uma delas num penalty inexistente que o colombiano não aproveitou): tantas e tantas foram as oportunidades desperdiçadas pelos portistas que se temia que, no segundo tempo, a equipa de Lopetegui fosse pagar a fatura por tanto desperdício.

Mesmo com a entrada de Muniain ao intervalo, os espanhóis nunca conseguiram reagir ao poderio portista: no início do segundo tempo, continuou o passeio de gala dos jogadores do FC Porto – percebia-se que, mais tarde ou mais cedo, o golo acabaria por surgir. E acabou por acontecer mesmo: aos 56 minutos, Brahimi saiu de duas ou três “cabines telefónicas” e numa jogada brilhante ofereceu de bandeira o quarto golo na competição milionária a Jackson Martinez. A partir daquele momento, o FC Porto colocava-se numa justa vantagem que lhe permitiu gerir o jogo como quis. Com exceção do cabeceamento ao poste de Guillermo, o Bilbau nunca conseguiu ter ideias ofensivas que pudessem fazer perigar Fabiano Freitas.

Jackson lutou muito, falhou um penalty e marcou mais um golo  Fonte: Alvaro Barrientos, AP
Jackson lutou muito, falhou um penalty e marcou mais um golo
Fonte: Alvaro Barrientos, AP

Em contra-ataque, com Brahimi endiabrado e com a entrada de Quaresma em campo, o FC Porto foi ameaçando o segundo golo: primeiro com o argelino a obrigar, na cobrança de um livre, Iraizoz a uma excelente defesa; e depois com Martins Indi a falhar à boca da baliza o segundo golo português no país basco. Contudo, o 0-2 acabou mesmo por chegar à passagem do minuto 73, quando Brahimi aproveitou uma prenda antecipada de Iraizoz e, com a baliza aberta, fez um golo mais do que merecido, tendo em conta a sua exibição individual. Até ao final da partida, os portistas não precisaram de sufocar mais o Bilbau; não precisaram de espalhar mais classe, nem sequer precisaram de deixar os artistas todos em campo até ao fim do espetáculo. E sim, porque hoje o que vimos na Catedral de San Mamés foi um verdadeiro espetáculo pintado de azul e branco como há muito não víamos na Europa do futebol. Honra seja feita ao FC Porto e a Lopetegui, que, com a exibição de gala de hoje, conquistou o direito a sonhar e a estar entre as 16 melhores da Europa. E que justo é esse prémio.

 

A Figura
Brahimi/Casemiro
– não foi à toa que optei por esta divisão no momento de atribuir este prémio simbólico. O argelino foi mágico como sempre e a sua presença nos dois golos (um golo e uma assistência) são por si suficientes para mostrar a magia que deixou no relvado terrível de San Mamés. Quanto a Casemiro, tantas vezes já criticado esta época, deixou tudo em campo e fez uma exibição para recordar. Com mais jogos destes, aí sim poderemos começar a “esquecer” o “Polvo”.

O Fora-de-Jogo
Beñat
– o médio espanhol foi uma das surpresas do onze, mas nem isso foi suficiente para que a sua presença em campo fosse notado. Passou pelo jogo como grande parte da sua equipa: completamente ao lado. Saiu sem surpresa ao intervalo.

Benfica 1-0 Mónaco: Talisca acende a chama

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O fenómeno parece não ter fim e tem um nome: Anderson Talisca. O jovem brasileiro de 20 anos, voltou a ser decisivo e a marcar o golo (82′) que deu a primeira vitória europeia ao Benfica, nesta temporada. Os encarnados voltaram a ter de sofrer para garantir 3 pontos, mas atente-se no facto que a equipa monegasca ainda não tinha sofrido qualquer golo na prova. A dupla de centrais composta por Raggi e Ricardo Carvalho (está velho, não está?) é extremamente eficaz e complementa-se muito bem. Os laterais são muito ofensivos, sabem defender e conferem muita largura aos corredores do terreno. Fabinho muito competente e Kurzawa é claramente um jogador acima da média. Tudo isto somado com a boa qualidade do guarda-redes Subasic justifica bem a competência desta equipa do Mónaco a nível defensivo.

Pela parte do Benfica, Jorge Jesus voltou a colocar Júlio César na baliza, apostou no regresso de Jardel para o lugar do castigado Lisandro e deixou Lima no banco para dar as honras do ataque a Derley. Todas estas opções, de uma forma ou de outra, foram benéficas para a vitória encarnada no jogo de hoje.

Na partida de hoje, o Benfica entrou melhor e dominou o jogo nos primeiros vinte minutos. Salvio (aos 5′) teve a primeira grande ocasião para inaugurar o marcador, após um grande passe de Talisca. Depois do bom começo no encontro, o Mónaco acabou por responder e soube capitalizar os amarelos a Samaris e Enzo Pérez para garantir algum domínio no meio-campo e a consequente superioridade em quase todas as zonas do terreno. Antes do intervalo, e ainda que não estivesse melhor no jogo, o Benfica voltou a ter nova ocasião para marcar, através de Gaitán (45+1′).

Talisca voltou a resolver Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica
Talisca voltou a resolver
Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

Na segunda parte, o ritmo manteve-se e o Mónaco continuou a ser a melhor equipa em campo. A equipa de Leonardo Jardim controlava toda a zona intermediária do terreno e foi sem surpresas que atacou com muito perigo a baliza de Júlio César. Yannick Ferreira-Carrasco, um dos melhores em campo, falhou isolado (59′) na cara do guarda-redes do Benfica, que fez uma intervenção de grande nível. O internacional canarinho, a par de Luisão e Jardel, estava a ser determinante para o Benfica aguentar o nulo até esta altura. Daí que, sem surpresas, Jesus teve de intervir, tirando Samaris e colocando em jogo Lima. Com esta troca, recuou Enzo para a posição 6, Talisca para 8 e colocou Lima e Derley na frente, dando clara indicação à equipa de que o jogo era mesmo para ganhar.

O Benfica voltou a crescer e subiu de produtividade. Notou-se que, por esta altura, havia muito desgaste em ambas as equipas, mas que os comandados de Jorge Jesus tinham mais vontade (e obrigação) para vencer o jogo. O Benfica procurou muito o jogo direto, mas caiu, em excesso, num jogo muito previsível e algo trapalhão. Na fase final do jogo, para conseguir vencer, era preciso ter sorte e algum rasgo de génio de algum jogador encarnado. E, adivinhe-se, deu Talisca. O brasileiro voltou a resolver, desta vez, depois de uma bola parada e ofereceu 3 pontos importantíssimos na luta por um lugar na próxima fase da Liga dos Campeões. De ter em conta ainda que, logo após o lance do golo, Jardel cometeu penalty e podia ter deitado tudo a perder (não só a sua boa exibição, como a vitória da equipa). Felizmente para o Benfica, o árbitro não viu e deixou passar em claro o (único) momento infeliz do defesa brasileiro durante os noventa minutos.

Ainda assim, foram 3 pontos importantes e que deixam tudo em aberto. É fundamental não perder na Rússia para manter acesa a esperança de seguir em frente. Uma derrota contra o Zenit deixa o Benfica praticamente fora da Champions e com situação complicada na Liga Europa. Otimismo é a palavra de ordem.

A Figura

Talisca: O brasileiro voltou a decidir e, ainda que não seja um jogador muito regular em todos os tempos de jogo, está sempre na zona de decisão. Está talhado para os grandes momentos e já é um caso sério. Destaque ainda para as exibições de Júlio César, da dupla Luisão-Jardel e do lateral-esquerdo do Mónaco, Kurzawa.

O Fora-de-Jogo

Salvio: Pode ser injusto, dado que trabalhou muito a nível defensivo, mas o argentino esteve completamente ineficaz na frente. Perdeu imensas bolas, decidiu quase sempre mal e comprovou que não está num bom momento de forma.

Há obras primas que merecem ficar para a história

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E com elas os seus artistas. O que Yacine Brahimi fez há dois dias em pleno Estádio do Dragão não pode ser perdido no tempo. Tem de ser eternizado. Há várias formas de descrever a sua obra mas comecemos pela mais simples (e instantânea): “Um golaço do outro mundo!”

Seja em português, inglês, argelino ou coreano, o golo apontado pelo herói do jogo inaugural da Liga dos Campeões corre já o mundo. Em tweets, shares no Facebook ou notícias nos mais prestigiados jornais e publicações online, não há forma de lhe escapar. É assim quando se testemunha tamanha criação, é assim quando, em pleno Dragão, se grita de emoção.

O que Brahimi fez não é novidade. Já havia encantado tanto no Porto quanto em muitas outras cidades que visitara enquanto Dragão. É, contudo, o esplendor do seu ‘portfólio’ — a sua obra prima, e exemplifica na perfeição aquilo de que é capaz.

Há poucos meses, atravessávamos ainda dias de verão, visitei pela primeira vez o Museu do Futebol Clube do Porto. Fi-lo menos de vinte e quatro horas depois de entrar no Estádio do Dragão pela primeira vez na minha vida (para assistir à apresentação aos sócios) e não poderia ter deixado o Porto com um maior sorriso nos lábios.

Regressei da Invicta mais completo. Regressei ainda mais azul e branco. Com uma parte desta tão bonita história. Lá, recordei alguns dos momentos mais bonitos do futebol português, europeu e, até, mundial – quem não se lembra do olhar de Pedro Emanuel?

Onde ia? No museu, sim! De lá saí ainda mais Porto. Saí ainda mais Dragão. Apropriei-me de tudo o que consiste em ser Porto. E são golos como os de Brahimi, com a técnica do argelino, que um dia são colocados num museu de um clube de futebol.

São golos como aquele – para além, claro, dos que nos dão troféus europeus ou reviravoltas histórias frente a rivais nacionais – que constroem a história de um clube. Que a tornam mais forte. E um dia, espero, regressarei para, num dos muitos ecrãs, poder testemunhar, por uma vez que seja, tal obra de arte.

És nosso, Brahimi. Fazes parte da nossa história. E a história quer-te.

Belenenses 3-1 Boavista: Deyverson guia Belenenses aos lugares europeus

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Muita chuva e pouca gente nas bancadas do Restelo acolheram um duelo entre dois emblemas que já foram campeões nacionais mas que tentam reerguer-se de tempos complicados. Levou a melhor a equipa da casa, num jogo de muita luta e mal jogado em alguns períodos, essencialmente na segunda parte, devido ao relvado cada vez mais afetado pelas más condições climatéricas.

Sem que fizessem nada de especial por isso, as duas equipas chegaram ao golo à passagem do quarto de hora da partida. Primeiro marcaram os de Belém. João Meira lançou Miguel Rosa (um dos melhores em campo) pelo flanco esquerdo, Lucas Rocha falhou a interceção ao cruzamento rasteiro e Deyverson empurrou para a baliza de Mika. No entanto, a defesa azul mostrava-se insegura e, depois de João Meira e Gonçalo Brandão já terem falhado passes na sua zona defensiva, foi de um mau passe de Bruno Chian que resultou o empate axadrezado. Brito ganhou a bola entre Palmeira e João Meira, entrou na área e rematou por entre as pernas de Matt Jones. Num ápice, aconteceram dois golos nos dois primeiros remates perigosos do encontro. Tal como os defesas da equipa de Belém, os centrais do Boavista também mostraram algumas deficiências técnicas e a nível de velocidade, com Fábio Ervões e Lucas Rocha a mostrarem muitas dificuldades para controlar as movimentações de Deyverson e companhia. O jogo estava muito quezilento, mas aos 30 minutos Fábio Sturgeon tirou da cartola uma diagonal da direita para o meio, passando por vários boavisteiros e deixando para Deyverson rematar forte e colocado de fora da área, apontando o seu sétimo golo no campeonato. Uma grande jogada do miúdo português, mais um que pode ir ao Europeu de Sub 21 do próximo ano.

Deyverson, Miguel Rosa e Sturgeon construíram os três golos dos "azuis" Fonte: Zerozero
Deyverson, Miguel Rosa e Sturgeon construíram os três golos dos “azuis”
Fonte: Zerozero

Quatro minutos depois, na terceira boa oportunidade para bater Mika, o Belenenses faz o seu terceiro golo. Fábio Ervões deu espaço a Sturgeon que, em esforço, cruzou do lado direito para Miguel Rosa cabecear sozinho no meio da grande área, sem hipóteses para o guardião dos axadrezados. Grande eficácia dos homens de Lito Vidigal perante a inoperância do setor defensivo do Boavista.

Na segunda parte, com o relvado cada vez mais pesado devido à incessante chuva que caiu em Belém, a qualidade técnica do jogo, que já não era muita, ainda ficou pior e apenas aos 70 minutos surgiu uma boa chance de golo, com Brito a tirar Palmeira da jogada mas a rematar ao lado da baliza do guardião inglês Matt Jones. O Boavista terminou o jogo com mais remates efetuados, mas o Belenenses foi muitíssimo eficaz nas suas ações ofensivas, principalmente enquanto Fábio Sturgeon esteve em campo. O jogador de 20 anos entregou-se bastante, lutou com os adversários a meio-campo e fez duas assistências na primeira parte, a primeira após iniciativa individual de grande qualidade e a segunda num cruzamento perfeito para a cabeça de Miguel Rosa – outro dos elementos em destaque na equipa azul, com um golo e uma assistência. Porém, a grande figura destaque do jogo e da época dos homens do Restelo é Deyverson. O brasileiro que, tal como Miguel Rosa, veio da equipa B do Benfica na temporada passada está a mostrar a sua veia goleadora e já leva sete golos apontados na presente edição da Liga. Tal como frente ao Estoril na semana passada, foram Miguel Rosa e Deyverson a alvejar as redes adversárias.

Na equipa do Boavista, Petit vai ter muitas dificuldades para levar o barco a bom porto. Apesar de a equipa estar a mostrar um bom rendimento no Bessa, apenas hoje marcou o primeiro golo fora de casa e só levou um ponto na bagagem aquando do nulo no Dragão. De resto, tem apenas derrotas longe do seu estádio. A defesa é muito permeável, sobretudo no corredor central, com Lucas Rocha e Fábio Ervões a demonstrarem muitas dificuldades com a bola nos pés e em lances de velocidade. No ataque, o nigeriano Michael Uchebo, que se estreou com um golo na semana passada frente ao Paços de Ferreira, mostrou alguns bons apontamentos esta noite. Com uma grande capacidade física, o avançado deambula muito pela frente de ataque em busca de espaços para poder finalizar. Também tentou algumas jogadas de entendimento com os seus extremos, mas sem sucesso. Brito foi quem teve nos pés as melhores oportunidades de golo, tendo concretizado a primeira. É um jogador sempre perigoso quando parte em velocidade, mas necessita de um maior envolvimento da equipa em tarefas atacantes. Leozinho, que entrou na segunda parte para o lado direito do ataque, mostrou boa qualidade técnica, com um bom pé esquerdo, e ainda tentou o golo num livre que Matt Jones defendeu de forma segura. Na próxima jornada, o Boavista recebe o Penafiel num encontro entre dois aflitos na tabela classificativa.

Com esta vitória em casa frente aos portuenses – que já não acontecia há 20 anos -, o Belenenses ascendeu ao quinto lugar por troca com o Sporting e em igualdade pontual com o Paços de Ferreira de Paulo Fonseca. A equipa orientada por Lito Vidigal geriu bem o encontro na segunda parte e ficou a sensação de que, caso apertasse mais um pouco, teria conseguido uma vitória mais folgada, tais as facilidades que encontrou na zona mais recuada dos boavisteiros. O Belenenses está nos lugares europeus à nona jornada e a mostrar um ataque que pode fazer mossa em várias equipas. O trio formado por Fredy, Miguel Rosa e Fábio Sturgeon no apoio a Deyverson está a ser um dos principais destaques da nossa Liga. O próximo encontro antevê-se bastante interessante, dado que os homens do Restelo vão visitar o Moreirense, que vem moralizado pela vitória nos Barreiros, que lhe permitiu ascender à primeira metade da classificação.

A Figura 

Deyverson – O atacante de 23 anos tem estado em destaque no campeonato e com os dois golos de hoje chegou aos sete na competição. Depois de ter garantido os empates em Alvalade e na receção ao Vitória de Setúbal, o brasileiro garantiu a vitória na Amoreira e foi agora um elemento preponderante frente ao Boavista. Com boa capacidade de mobilidade e um bom pé esquerdo, Deyverson promete continuar a marcar golos para gáudio de Lito Vidigal.

O Fora de Jogo 

centrais do Boavista – Lucas Rocha e Fábio Ervões mostraram muita lentidão de processos e uma fraca qualidade técnica quando foram chamados a intervir. Lucas falhou a interceção no primeiro golo e, no terceiro, ambos deram muito espaço a Sturgeon e Miguel Rosa, os obreiros da jogada. Não transmitem segurança à equipa e frente a bons atacantes como os do Belenenses, estas deficiências foram fatais

Lisboa fica junto a Matosinhos, e ponto final!

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Terceiro Anel
Jorge Jesus, treinador do clube pelo qual sou doente, técnico do clube pelo qual eu suspiro constantemente, orientador do clube pelo qual eu me contorço, me esganiço, me descontrolo. Jorge Jesus, homem de convicções fortes, homem portador de doses de teimosia a roçar o olímpico, homem que consegue assegurar que Lisboa fica a escassos cinco quilómetros de Matosinhos, não admitindo que ninguém contraponha isso! Desde que colaboro no Bola na Rede que já escrevi várias vezes sobre este grande treinador. Já disse muitíssimo bem dele, já o critiquei, até já fui bastante duro para com ele. Podem acusar-me de ser um situacionista, mas não se trata disso. Apenas escrevo com total sinceridade sobre os diversos momentos por que passa o meu soberbo clube, e Jorge Jesus nunca estará imune a isso.

E a verdade é que o Benfica segue na primeira posição do campeonato, apesar do futebol praticado ainda estar a milhas daquilo que é o mais consentâneo com uma instituição deste calibre. E para isso têm contribuído diversos factores, sendo que para o caso não importa referir todos eles. Se bem que há um que me assalta de imediato o pensamento: o internacional grego Samaris, excelente jogador na minha óptica, mas que está visto que para já não rende na posição 6. Pode vir a render, até porque todos nós reconhecemos o toque de Midas de JJ, porém ainda está longe de conferir ao conjunto aquilo que um atleta na zona mais recuada do meio-campo deve conferir. Agora também me podem atirar à cara com as lesões de Rúben Amorim e Fejsa, só que ainda há um André Almeida, por exemplo, que na partida disputada no Mónaco deu boa conta do recado.

Samaris ainda se encontra longe do rendimento esperado Fonte: www.maidirecalcio.com
Samaris ainda se encontra longe do rendimento esperado
Fonte: www.maidirecalcio.com

Lá está, Jorge Jesus é um enormíssimo treinador, de longe um dos melhores técnicos portugueses, e muito sinceramente chego a sentir-me um privilegiado por poder tê-lo a servir o clube que me arrebata. Porém, também me sinto na obrigação de recorrer à minha memória e de enunciar outros momentos desta personagem amadorense pelo maior de Portugal, momentos esses pautados pela teimosia, e que não raras vezes causaram dissabores a milhões de adeptos.

2010/2011, época de má memória para toda a nação benfiquista. Durante toda a temporada Jorge Jesus insistiu num tal de Roberto para a baliza (sim, o tal que não sabe jogar mal lá para os lados do Pireu…), o que acabou por se traduzir na perda de vários pontos, em humilhações em momentos negros. Além disso, nessa mesma época, a tal derrota por 5-0 no Dragão (que arrepio ao escrever isto), jogo no qual JJ decidiu voltar a insistir em David Luiz a defesa-esquerdo (já o havia feito meses atrás em Liverpool, com igual resultado nefasto), ficando assim Sidnei no eixo defensivo ao lado de Luisão. E pronto, lá se sabe o que aconteceu.

2011/2012, mais um capítulo desta saga. Emerson, lateral-esquerdo brasileiro, homem com evidentes dificuldades no simples acto de correr, foi o eleito para ser o dono do lugar durante toda a época desportiva. Mas não havia nenhum substituto à altura? Não, “só” havia Capdevilla, futebolista campeão do mundo pela selecção espanhola.

2012/2013, outro clássico. Melgarejo, jovem paraguaio adaptado à lateral-esquerda (tanto que há para contar em relação a esta posição no meu Benfica…), uma insistência de Jorge Jesus. E a verdade é que a páginas tantas até deu a sensação de que Melgarejo estava convertido num excelente lateral, mas o final de temporada confirmou o contrário, com o atleta sul-americano a despedir-se do clube sem honra nem glória.

2013/2014, a época de todos os sonhos, a época que acabou por ser uma história de encantar, um conto, uma maravilha, um regalo, uma epopeia. Mas até nela houve um ou outro “podre”. Para começar, Jorge Jesus apostou nalgumas partidas em Bruno Cortez, futebolista que num Olivais e Moscavide não passaria de um nível médio. Autêntico desastre, logo conduzindo a resultados negativos. Para colocar Oblak na baliza foi o cabo dos trabalhos, contribuindo para isso uma lesão de Artur. E até para lançar mais vezes Rodrigo em campo tiveram que entrar outros factores em jogo.

Em suma, Jorge Jesus já errou muito? Afinal até nem é assim tão bom treinador? Sim, já errou por diversas vezes, mas é natural que se errem várias vezes quando se está num clube há quase seis anos. Volto a realçar: Jorge Jesus é um treinador de elevadíssimo nível, deu e ainda dará imenso ao Benfica, marcou uma reviravolta na história recente deste clube tão impactante. Mas às vezes coloco-me a pensar nestas teimosias deste monstro sagrado dos bancos de suplentes, e na forma como ainda podíamos ter sido mais felizes noutras alturas, caso tivessem sido tomadas outras decisões. Portanto, penso que para já não podemos ter um Samaris a alinhar na posição 6. Confio muito em si, Jorge Jesus, quase cegamente! Há um Benfica antes de si e outro após ter chegado. Mas eu não quero que cada bola que vá para as costas da defesa do meu clube seja um susto, não quero que o meu clube não consiga sair a jogar com qualidade de passe, não quero que este meio-campo viva em sobressalto. Confio tanto no seu trabalho, caro JJ, e portanto sei que muito provavelmente até fará de Samaris aquilo que pretende. Mas não experimente tanto, não deixe o Benfica em xeque, e não faça experimentalismos em jogos europeus. Para a Liga dos Campeões…qualquer teimosia pode acabar em agonia.

Despeço-me como de costume nestas alturas: boa sorte, Sport Lisboa e Benfica. O Mónaco é inferior a nós, será inferior a nós, vamos ser felizes.

Artistas a mais para o General Inverno

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eternamocidade

Os últimos dias têm trazido ventos de esperança para os lados do Dragão: depois da goleada imposta ao Arouca, nada melhor do que uma derrota do rival SL Benfica em Braga para colocar o FC Porto a apenas 1 ponto da liderança do campeonato. Depois do desaire na Taça de Portugal, o toque de midas provocado pelos comandados de Sérgio Conceição foi talvez o clique necessário para que, de uma vez por todas, o FC Porto demonstre aquilo que parece ser óbvio à vista de quase todos: tem os melhores jogadores, o melhor plantel e por isso a obrigação de liderar o campeonato.

Com uma prestação extremamente positiva até ao momento na Liga dos Campeões e a liderança tão perto no campeonato, o FC Porto demonstrou nos últimos jogos uma face muito mais consolidada e próxima daquilo que se deseja. Para que isso tenha acontecido, não é coincidência que a tão proclamada “rotatividade” de Lopetegui seja, por esta altura, não tão drástica como já foi. É certo que entre o jogo com o Arouca e o Nacional o treinador mudou três jogadores, mas as entradas de Maicon, Oliver e Quarema para o jogo contra os madeirenses pareceram muito mais compreensíveis do que aquela revolução entre a goleada frente ao BATE Borisov e o jogo com o Boavista, sem esquecer as poupanças e a gestão ridícula feita frente ao Sporting, na Taça.

Apesar das melhores evidentes no jogo portista, há um fator que na minha opinião continua a falhar na equipa: a falta de agressividade. Ao ver os jogos do FC Porto, é fácil perceber que Lopetegui quer um estilo de jogo agradável para os adeptos, com velocidade na posse de bola, trocas posicionais constantes e sobretudo um domínio territorial equilibrado que permita, com maior ou menor dificuldade, derrubar os adversários. Contudo, e para além dos erros individuais que já custaram pontos e uma competição esta temporada, aquilo que mais me “preocupa” é falta de agressividade que a equipa demonstra em vários momentos durante os jogos.

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Saberá Lopetegui readaptar o futebol do FC Porto quando for necessário?
Fonte: ogol.com.br

De facto, com a exceção dos centrais Maicon e Martins Indi, não se vê ninguém da equipa portista com “sangue na guelra” para perceber que nem sempre se pode jogar bonito. Sábado, ao olhar para o alinhamento inicial do FC Porto, é evidente que para a maioria dos adeptos portistas, ver Oliver e Quintero no onze é sinónimo de brilhantismo, de classe e sobretudo de jogo ofensivo constante. De facto, analisar a primeira parte do jogo frente ao Nacional é ver uma equipa que, com bola, sempre criou perigo mas que quando não a teve, passou por imensas dificuldades para perceber os momentos em que tinha que recuar as linhas e ser uma equipa mais paciente. Com Quintero, Oliver, Brahimi e Quaresma de início, não há dúvidas que a magia aparecerá sempre, mas é óbvio que colocar tantos artistas de início não é viável na maioria dos jogos.

Dessa forma, e porque com o mês de Novembro se aproxima o mau tempo, é compreensível que o mesmo traga enormes dificuldades a um plantel tão dotado tecnicamente como o FC Porto. Para os amantes de futebol, ver os dribles de Brahimi, a velocidade de Tello, a magia de Quintero e a técnica de Quaresma é um regalo mas num campeonato como o português, onde a componente física é extremamente importante, será que com o decorrer da competição, só isso chegará ao FC Porto? Se bem se recorda, caro leitor, este problema de falta de agressividade já apareceu na época passada, sobretudo nos jogos fora de portas, onde o FC Porto raramente conseguiu vencer devido a essas dificuldades em ser mais forte nos duelos, em ser mais eficaz e competente em jogos onde o brilho individual raramente consegue aparecer. Na condição de visitante, perante equipas agressivas e campos pesados, em que o relvado nem sempre está nas melhores condições, será interessante perceber se todos os artistas do elenco portista serão capazes de se adaptar ao fato de macaco e perceber que nem sempre se pode fazer uma finta ou um passe de 40 metros.

Numa altura em que os rivais não estão na melhor das formas, só uma equipa completamente concentrada nos seus objetivos é que poderá fazer frente a um campeonato que se tem pautado por algumas surpresas e sobretudo muita competitividade. É certo que a magia de Brahimi, a velocidade de Tello, o repentismo de Quintero e a técnica de Quaresma terão que estar presentes mas com as deslocações mais complicadas, será preciso também saber jogar “feio”, fazer mais faltas quando assim for necessário, ser mais pressionante sobre os adversários e sobretudo ter sempre mais agressividade. É que para ganhar campeonatos, nem sempre basta ter as melhores cartas. É preciso saber o que fazer com elas.

Em cima de areia não se constroem arranha-céus

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sexto violino

Conceber uma obra de construção civil, qualquer que ela seja, é muito mais do que pura e simplesmente passar para a realidade uma ideia que existe apenas no papel. Há vários passos a dar antes disso: é preciso estudar o terreno, pedir a opinião de peritos para saber se e como é possível construir, decidir quais as fundações, proceder à terraplanagem, etc. É por isso que não há – ou não deveria haver – grandes arranha-céus construídos na extremidade de dunas costeiras. É necessário solidez e estabilidade, e isso só se consegue com uma construção consciente, planificada e faseada. É também por isso que existe a expressão “não se constrói uma casa a partir do telhado”. Ora, estas premissas são aplicáveis a outras áreas da vida e, infelizmente, o Sporting esta época parece tê-las desprezado – hoje em dia há volume ofensivo mas o sector mais recuado está em estilhaços.

O mal não é de agora, e o último jogo nem sequer foi o caso mais grave. Desde bem cedo que a dupla Maurício-Naby Sarr deu dissabores ao clube. Vamos por partes: o central brasileiro já tinha mostrado que não era um jogador extraordinário mas, em abono da verdade, a dupla com Rojo na última época funcionou bastante bem. O Sporting foi uma das melhores defesas do campeonato, não só em termos de números mas também a nível de segurança, processos e rotinas. Em termos individuais, a temporada do brasileiro não ficou a dever nada à do argentino, embora este último tenha terminado a época em crescendo. No entanto, este ano Maurício provou aquilo de que muitos já suspeitavam: a sua forma depende muito da fiabilidade do outro central e a sua capacidade para liderar uma defesa é baixa. Não tenho nenhum prazer em dizê-lo mas, actualmente, não há um jogo em que não prejudique a equipa.

Falando de outros intervenientes, como é que um clube que no ano passado tinha Marcos Rojo este ano tem Naby Sarr? Neste capítulo há pouca margem para dúvidas: a direcção do Sporting foi apanhada desprevenida e não previu nem a saída do argentino nem a de Eric Dier. O que é estranho, porque Rojo fez um óptimo mundial, foi vice-campeão do Mundo e era óbvio que um clube como o Sporting teria de o vender; quanto a Dier, estranha-se o desconhecimento da tal cláusula que obrigava o clube a vendê-lo a emblemas ingleses caso estes oferecessem uma determinada quantia. Bruno de Carvalho e Inácio estavam convencidos de que seria possível manter os dois jogadores, quando na realidade ficaram sem nenhum.

mauricio sarr
Maurício e Naby sarr têm sido um quebra-cabeças para o Sporting

É impossível olhar para esta equipa do Sporting e não imaginar Rojo ou Dier no eixo defensivo. Tanto um como outro, ao lado de Paulo Oliveira, seriam o complemento ideal para um plantel cuja evolução tem sido notória e que conta agora com a liderança e o primor técnico de Nani. Mas, mesmo com a saída dos dois defesas, não teria sido possível contratar um central mais capaz? Sarr até pode melhorar no futuro, mas o que importa é o presente. Se se assume uma candidatura ao título, tem de se apostar em jogadores de hoje e não nas promessas de amanhã. O francês será até quem tem menos culpa, mas as suas exibições chegaram a um ponto em que nem ele nem o Sporting beneficiavam com a sua titularidade – e Marco Silva, bem, tirou-o da equipa.

Mas o problema é que Maurício neste momento não está melhor. E o Sporting sofre. Os centrais (leia-se Maurício na grande maioria dos casos) abrem auto-estradas ao centro, não conseguem acompanhar os adversários em velocidade, perdem bolas aéreas, constroem o jogo de forma atabalhoada e entram em pânico com grande facilidade. Convém, claro, não esquecer as recentes exibições medíocres de Cédric, bem como as dificuldades que Jonathan tem sentido no seu flanco. A defesa é, em suma, típica de uma equipa de meio da tabela.

O Sporting arrisca-se a sofrer golos a qualquer altura de qualquer jogo, pelo que o bom trabalho que o meio-campo e o ataque desenvolvem na construção de jogadas de perigo é constantemente sabotado pelo sector mais recuado. Patrício tem sido mais vezes posto à prova do que um guarda-redes dos distritais numa eliminatória da Taça contra um grande. Toda a época do Sporting está dependente, portanto, da tal superfície arenosa que pode ceder a qualquer momento. E, se esta ainda não caiu em definitivo, já abanou (e de que maneira!) vezes mais do que suficientes. Assim, não há candidaturas ao que quer que seja.

Note-se que, no que toca a buracos defensivos, curiosamente o jogo de Guimarães nem foi dos piores. Toda a equipa entrou letárgica e letárgica saiu. Não há segundo golo irregular, por muito que tenha sido o seu efeito psicológico na equipa, que justifique uma exibição tão fraca. Mas o Vitória – e digo isto sem querer tirar ao adversário o mérito de um triunfo incontestável – apenas precisou de ir duas vezes com perigo à área leonina para marcar dois golos. E o que mais me preocupa é que, caso os intervenientes na defesa não mudem urgentemente, estas situações voltarão a acontecer.

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Uri Rosell pode ser uma boa solução de recurso para o eixo da defesa, mas a ida ao mercado é obrigatória

Como, para cúmulo, a exibição de Ramy Rabia pela equipa B foi anedótica e não perspectiva nada de bom, exige-se uma ida ao mercado quanto antes. Eu até costumo ser céptico relativamente a quem diz que se devia apostar nos centrais da equipa B e dos juniores só pelo facto de serem portugueses e da Academia, mas cheguei a um ponto em que acho que qualquer Tobias Figueiredo faria melhor figura do que Maurício e Sarr.

Na quarta-feira há jogo decisivo com o Schalke. Sinceramente, e sem querer parecer arrogante, daquilo que já vi dos alemães diria que o principal adversário do Sporting vai ser o nosso próprio eixo defensivo. E sou sincero: depois de todos os sustos que já apanhámos, dou por mim a pensar se Uri Rosell não seria quem, juntamente com Paulo Oliveira, assegura a posição de central de forma mais serena. O catalão vem da escola do Barcelona e parece ter alguma inteligência, sentido posicional e certeza no passe. Longe de ser a situação ideal, já são características que, por si só, o colocam a ganhar 4-0 a Maurício e Sarr…

De qualquer das formas é urgente atacar o mercado. Não há adversário que não passe por esta defesa, e o Sporting não pode perder mais tempo. O trabalho de uma época não pode ser posto em cheque devido a um sector defensivo feito de areia, que não aguenta o resto da equipa. A continuar assim, o edifício que Marco Silva tem tentado construir corre o risco de desabar. E é pena, porque o resto da equipa tem qualidade para fazer uma época muito interessante.