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O mais famoso adepto do Benfica – Entrevista ao “Barbas”

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Podemos dizer que há dois grupos de pessoas sem as quais o futebol não poderia existir: os jogadores e os adeptos. Os primeiros ambicionam atingir o estrelato, ganhar dinheiro, conquistar títulos e ver o seu nome imortalizado na História do desporto-rei; os segundos são simples homens e mulheres anónimos, e não consta que nenhum deles tenha feito vida à custa do futebol apenas por apoiar um determinado clube. No entanto, são eles, os adeptos, a razão de ser do futebol. Caso contrário, quem idolatraria Cristiano Ronaldo? Quem tentaria imitar a forma de jogar de Messi? Quem se lembraria actualmente de nomes como Beckenbauer, Cruijff, Pelé ou Maradona?

Um destes adeptos começou tão anónimo como todos os outros, mas hoje em dia já é tão ou mais famoso do que os jogadores do clube que apoia. António Ramos, ou o “Barbas”, tem 68 anos e é natural de Oleiros, uma pequena localidade na Beira Baixa. Ligado ao ramo da restauração, este benfiquista ferrenho segue fielmente o clube do coração para todo o lado, seja em Portugal ou na Europa. Ficou conhecido pela presença quase religiosa nos jogos do Benfica, pela oposição ao ex-presidente do clube João Vale e Azevedo e, claro, pelo visual peculiar que exibe desde há várias décadas. O “Barbas” é dono de vários restaurantes da Costa da Caparica, onde são vistos com frequência jogadores do Benfica – e não só, como faz questão de nos dizer – a tomarem as suas refeições. Numa altura em que o clube da Luz poderá estar prestes a conquistar um título que por pouco lhe escapou no ano passado, o Bola na Rede foi à Margem Sul conhecer o adepto mais famoso do país.

Como surgiu a sua paixão pelo Benfica?

Como todos os benfiquistas, vem desde criança. Na altura só havia rádio, e era a voz do sr. Artur Agostinho, que por acaso até era sportinguista, que nos fazia ver o que era o Benfica. Ele relatava os golos com tanto frenesim que nós pensávamos que, quando fôssemos para Lisboa – o sonho de qualquer miúdo – havíamos de tentar conhecer melhor o Benfica. Eu cheguei à capital com 12 anos e foi isso que fiz. A partir daí, nunca mais parei.

O que é que o Benfica significa para si? Muda o seu dia-a-dia? Obriga-o a fazer sacrifícios?

Para mim, o Benfica está acima de tudo. Eu até costumo dizer à minha família que eles estão em segundo lugar, mas eles já estão vacinados contra isso. O clube tem-me ajudado muito, inclusive na vertente comercial. Eu estou ligado à restauração e os meus restaurantes estão bastante subordinados ao tema Benfica. Também acompanho muito o clube, inclusivamente nas deslocações pela Europa. Ando há cerca de 30 anos a acompanhar o Benfica em todas as viagens. Infelizmente, das quatro finais europeias a que já pude assistir, não tive a sorte de ver nenhuma vitória. Espero que este ano isso mude! Em resumo, o Benfica faz parte da minha vida, ao ponto de eu não poder dar um passo na rua sem que me reconheçam e me associem de imediato ao clube.

Qual foi a última vez que falhou um jogo no Estádio da Luz?

Não falho nenhum desde há 50 anos. Mas já não vou aos outros estádios. Dantes ia, mas infelizmente o futebol tornou-se um bocado violento. Quando eu era jovem não era assim: pais, tios, netos, avós, mulheres… todos podiam ir à bola. Hoje é complicado, e eu comecei a ter alguns problemas quando me deslocava, principalmente ao norte. Nunca entrei no novo estádio do Porto, porque ainda nos tempos do estádio antigo comecei a ter problemas. Da última vez que fui a Braga também aconteceu o mesmo… Mas ao novo estádio do Sporting fui. Estive na inauguração, naquele célebre jogo com o Manchester United em que o Cristiano Ronaldo impressionou toda a gente. No resto da Europa, porém, é diferente, e desde emigrantes portugueses, a rádios, a televisões, todos querem falar comigo. Dou por mim a pensar: “mas quem sou eu para merecer toda esta atenção?”. O Benfica faz parte da minha vida. O meu restaurante antigo, mesmo ao lado deste, tinha cerca de 2000 quadros do Benfica, a grande maioria oferecidos. Parecia um museu. Infelizmente o edifício foi demolido, eu guardei-os numa garagem mas um dia veio uma cheia e perdi tudo. Nessa altura chegaram a vir televisões da China, do Japão, da África do Sul… Todas elas vieram saber como é que um dono de um restaurante fazia a sua vida e como era a sua paixão pelo Benfica.

”Barbas” sentado no seu “trono”: a águia e as referências a Eusébio são duas presenças constantes neste templo consagrado ao benfiquismo
”Barbas” sentado no seu “trono”: a águia e as referências a Eusébio são duas presenças constantes neste templo consagrado ao benfiquismo
Fotografias de João V. Sousa e Ludovic Ferro

Porquê essa barba?

Lembro-me de ser jovem e de aparecerem muitos rapazes ingleses com barba e cabelo compridos, nos quais me inspirei. Já tenho esta imagem há mais de 40 anos. Mas, antes disso, com o regime do Salazar, ninguém usava o cabelo e a barba assim. Estive na vida militar e fui empregado bancário, e nunca pude adoptar o estilo de que gostava. Ficava com o cabelo meio encarapinhado, pelo que muita gente na altura até pensava que eu era africano. Ainda hoje tenho essa fama, mas não me preocupa nada e às vezes até digo na brincadeira que sou cabo-verdiano. Depois apareceu o 25 de Abril e toda a gente usava o cabelo grande, principalmente quem se identificava com o sistema soviético. A certa altura fui para a marinha mercante, decidi que ia deixar crescer a barba e o cabelo e nunca mais cortei. O meu filho, que tem quase quarenta anos, nunca me viu de outra forma. Nem sequer a minha mulher. Hoje em dia há aquela “meia barba” que toda a gente usa. As modas vão e vêm, mas eu fico sempre igual. Nunca hei-de cortar isto, nem que o Benfica seja campeão europeu. Este visual faz parte de mim.

O que fazia antes de ter os restaurantes?

O meu primeiro emprego foi na restauração, logo aos doze anos. Depois estive na polícia militar durante três anos aqui em Lisboa, e quando saí fui trabalhar para o Banco Pinto & Sotto Mayor. Mas sentia-me fechado, pelo que arranjei uma cédula marítima e embarquei durante uns anos. Apesar de trabalhar num navio alemão, na altura do 25 de Abril tudo se modificou e os portugueses começaram a fazer muitas reivindicações, pelo que os alemães passaram a contratar outros trabalhadores. A partir daí, ainda em 1974, enveredei pela restauração e nunca mais parei. Tive várias casas em Lisboa e depois vim aqui para a Costa.

Quer dar exemplos de alguns episódios marcantes que protagonizou e que envolvam o Benfica?

Foram muitos. No fim da inauguração do novo Estádio da Luz, por exemplo, fui ao centro do terreno, ajoelhei-me e comecei a comer a relva. Disse a um colega seu que era para dar o exemplo aos jogadores do Benfica e para lhes fazer ver que tinham de fazer aquilo para sentirem o que é o Benfica. Há uns tempos fomos à Alemanha jogar com o Estugarda. Eu viajei com um grupo muito unido de benfiquistas que me acompanham nestas andanças, e dos quais infelizmente já só restam quatro ou cinco. O Benfica nunca tinha ganho naquele país, portanto nós decidimos que, se ganhássemos, íamos a pé para o hotel. Vencemos o jogo e assim foi. O problema é que aquilo era mais longe do que pensávamos e demorámos quatro horas a lá chegar. Tivemos a sorte de encontrar um português – há sempre um em qualquer lado! – que nos levou até lá. Eu sei que isto não lembra ao diabo, mas fizemo-lo pelo Benfica.

Em Paris, também assisti a um jogo do Benfica num estádio com cerca de 50 000 pessoas, e que tinha mais portugueses do que franceses. É um caso raro no futebol. De resto, alguns dos melhores momentos que vivi a nível de deslocações ao estrangeiro passaram-se na União Soviética. Por exemplo, o Yashin e o Eusébio eram amigos, e este último fez questão que eu fosse com eles a um evento. Ele disse: “Ó Barbas, eu não sou o Benfica. Tu estás todo equipado e representas melhor o clube”. Para mim isto foi um momento de glória, porque pude estar perto de dois monstros do futebol.

Qual é a melhor memória que tem do clube? E a pior?

Tenho mais memórias positivas do que negativas. Não vou dizer que a pior foi o nosso actual treinador ajoelhar-se por causa de uma derrota [jogo com o Porto em 2012/13]… Aquela final europeia que perdemos nos penaltis [final da Taça dos Campeões de 1987/88, contra o PSV Eindhoven], com um falhanço do Veloso, deixou-me muito triste. Tivemos muitas oportunidades para ganhar o jogo e acabámos por perder aí. Depois, quase nem vale a pena falar do tempo de um presidente que infelizmente tivemos, o Vale e Azevedo. Em Vigo levámos 7 do Celta. Eu estava lá, vi três golos e tive o pressentimento de que ia ser o descalabro. Vim-me embora do estádio e sentei-me lá num degrau a ouvir o relato. Comecei a chorar, e quando dei por mim tinha dezenas de pessoas à minha volta.

Memórias boas, como disse, são muitas. Dá-me um gozo especial ir com o Benfica ao estrangeiro, é impressionante. No Estádio da Luz não páro um minuto, as pessoas estão sempre a querer tirar fotografias comigo. As derrotas para mim nunca contam. Costumo dizer que o Benfica nunca perde, os outros é que às vezes nos ganham.

Apesar de ser conhecido como um benfiquista irredutível, o “Barbas” já recebeu na sua casa vários jogadores dos rivais. Também não esconde alguma mágoa por não poder entrar em alguns estádios do país
Apesar de ser conhecido como um benfiquista irredutível, o “Barbas” já recebeu na sua casa vários jogadores dos rivais. Também não esconde alguma mágoa por não poder entrar em alguns estádios do país
Fotografias de João V. Sousa e Ludovic Ferro

Como encara o facto de o seu restaurante ser frequentado por vários jogadores e equipas de futebol?

Após Portugal ter ganho o título de campeão do mundo [sub-20, na Arábia Saudita em 1989] todas as equipas de futebol passaram a vir aqui. O Figo, o Rui Costa, o Carlos Queiroz e até jogadores do Sporting e do Porto. Dou-me bem com toda a gente. E o restaurante passou a ser muito frequentado por causa disso. Lembro-me, por exemplo, que quando o Preud’homme chegou a Portugal veio cá almoçar com os pais, trazido por um empresário. O restaurante tinha um terraço e ele ficou deslumbrado com a vista, de tal forma que perguntou se seria possível deixar os pais ali enquanto ele ia ao estádio da Luz tratar de assuntos. O belga só perguntava “como é que é possível nós chegarmos aqui e sermos tão bem recebidos sem nos conhecerem?” E todos os jogadores de maior vulto que vieram para o Benfica, em particular os brasileiros – o Valdo, o Mozer, o Ricardo Gomes, o Isaías, etc. – também passaram por aqui. Do Porto e do Sporting também: Fernando Gomes, Sousa, Jaime Pacheco… Uma vez o plantel do Sporting ia fazer uma festa de Natal, e o Cadete, que era o capitão, decidiu que o jantar iria ser no meu restaurante. Sendo eu benfiquista, naturalmente os outros jogadores ficaram desconfiados. Mas o presidente Sousa Cintra, de quem já na altura eu era amigo, fez-lhes ver que sempre que aqui tinham vindo tinham sido bem recebidos. E eles lá fizeram o jantar aqui, com a direcção e tudo. Sempre que os jogadores de futebol vêm cá eu ofereço-lhes a refeição, porque eles também trazem muita clientela. Como se costuma dizer, uma mão lava a outra. Ainda ontem à noite esteve cá o treinador do Benfica a jantar, e muita gente veio aqui ver se o via.

Tem o seu nome gravado no chão das imediações do Estádio da Luz?

Sim. Está perto da estátua do Eusébio, em que não está escrito o meu nome – António Ramos – mas sim “O Barbas”. Depois tenho outra com o meu nome, o da minha mulher e o dos meus filhos.

Pensa fazer-se enterrar com as cores e o símbolo do clube?

Tenho assistido a algumas perdas relacionadas com o Benfica. Uma viagem que me deixou muito marcado foi a ida à Hungria na altura da morte do Fehér, para a qual levei uma bandeira que depositei no caixão dele. Agora, no funeral do Eusébio, também levei algumas peças do clube e pus lá um cachecol do Benfica. Mas cada um pensa da sua maneira. Feliz ou infelizmente hoje temos opção de escolha. Eu já disse à minha família que quero ser cremado, e como não quero queimar coisas do Benfica esse é um assunto que está posto de parte.

Imagina a sua vida sem o Benfica?

Não. Impossível.

 

Entrevista realizada por João V. Sousa e Ludovic Ferro

O ténis feminino

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Título simples para um tema bem complexo. Se têm acompanhado as minhas crónicas tenísticas aqui no Bola na Rede podem reparar que quase nunca, ou mesmo nunca, abordei o ténis feminino.

Não é uma variante que me agrade muito. Claro que poder ver um jogo entre uma Maria Sharapova e uma Maria Kirilenko é sempre mais agradável do que ver um entre Radek Stepanek e Gael Monfils. Quem os conhece certamente entenderá. No entanto, o ténis feminino é o tipo de ténis que de longe menos aprecio.

Para além de ser um ténis menos físico, com menos pancadas em força, com um ritmo mais baixo e mais propício a erros, embora me possam acusar também de ter uma visão conservadora e antiquada, a irregularidade que pontua no circuito irrita-me de sobremaneira.

O facto de o ranking feminino ser dos mais instáveis que existe, para além de termos vencedoras de Grand Slam que agora estão muito abaixo do top100, ou algumas ainda dentro do mesmo mas a um nível muito mais baixo, leva a que, na minha opinião, o circuito saia desacreditado.

Muitos ainda se recordam certamente de quando o circuito mundial era dominado pela dinamarquesa Caroline Wozniacki, que era acusada de ter um ténis defensivo, “chato” e que entusiasmava pouco; agora passeia pelos courts com poucos ou nenhuns resultados. Também se recordam certamente de Francesca Schiavone quando venceu Roland Garros com toda aquela garra e que agora ocupa o “modesto” 49º lugar.

 

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O ténis feminino é isto. É irregularidade, o que na minha óptica não é exactamente sinónimo de competitivade. Isto porque competitividade é algo que pouco vi enquanto acompanhei a variante feminina.

Também nós, em Portugal, temos alguma dificuldade em dar o salto no que às senhoras diz respeito. Maria João Koehler tem sido a escudeira portuguesa no que toca ao ténis português. Michelle Larcher de Brito é a irregularidade que conhecemos, e embora tenha sido já capaz de grandes momentos, talvez de um dos maiores do ténis nacional, não mostra uma evolução sólida e constante – fruto da falta de um acompanhamento técnico de outro nível, que as dificuldades financeiras ou o pai não querem/podem proporcionar.

Vê-se também pelo desempenho português na Fed Cup que não tem sido possível sonhar com grandes conquistas, mas sim em manter o nível em que nos encontramos, o que prova que o desenvolvimento não se tem notado ou não tem estado a ser feito.

Por fim, e isso é mero gosto pessoal, lamento que o circuito feminino seja dominado por Serena Williams, uma tenista da qual nunca fui fã, e que me faz também afastar desta variante sempre que entra em court. Mas gostos não se discutem…

O declínio da Serie A

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A Serie A tem descrescido em termos de qualidade anualmente, cada vez atrai menos jogadores de reputação mundial e passou discutivelmente da melhor Liga do mundo no início do novo milénio para a quarta melhor actualmente, tendo sido ultrapassada pela Premier League, Liga BBVA e Bundesliga.

Todos os anos a Liga parece perder mais adeptos, quer a nível nacional (os estádios estão constantemente vazios), quer a nível internacional (cada vez menos pessoas conseguem “aguentar” noventa minutos de futebol italiano).

O que se passou, então? Como é que o futebol italiano perdeu a sua “mística” nos últimos quinze anos?

No início dos anos 2000 tinhamos a Juventus de Zidane, Del Piero e Davids; o Milan de Maldini, Shevchenko e Inzaghi; o Inter de Ronaldo, Recoba e Vieri; a Roma de Totti, Cafú e Montella; a Lazio de Nedved, Verón e Crespo; o Parma de Buffon, Cannavaro e Thuram e a Fiorentina de Rui Costa, Batistuta e Toldo. Todos competiam pelo tão cobiçado scudetto. De momento, temos a Juventus e a Juventus, e o segundo lugar vai rodando, acabando de ano para ano por ser obtido pelo clube que tiver uma época mais feliz do que os outros, sem qualquer tipo de continuidade.

O ponto de viragem da competitividade em Itália, e provavelmente da reputação da Liga, veio com o escândalo do CalcioCaos em 2005/2006. Com as sanções impostas à Juventus e ao Milan, o Inter aproveitou para dominar a Serie A durante cinco anos e agora parece que a Juventus está destinada a fazer o mesmo.

A Juventus futebol italiano Fonte: The Independent
A Juventus tem dominado o futebol italiano
Fonte: The Independent

O Inter e o Milan estão a atingir os níveis mais baixos de sempre devido a má gestão; o Nápoles é treinado pelo Benitez, logo não deve ser uma ameaça séria enquanto ele por lá andar; o Parma, a Lazio e Fiorentina continuam a tentar recuperar gradualmente dos colapsos financeiros que sofreram; e a Roma tanto luta pelo título como fica a meio da tabela – é demasiado irregular. Enquanto isto se mantiver, a Juventus continuará a coleccionar títulos, em parte por demérito da concorrência.

Itália continua a produzir e a formar bons jogadores de futebol e raramente os italianos vão jogar para outra Liga, algo que têm em comum com a Inglaterra. Mas, tirando esses, não conseguem atrair jogadores de nível mais elevado, que continuam a preferir levar os seus talentos para Espanha ou Inglaterra e recentemente Alemanha ou França. Actualmente a Serie A só consegue atrair jogadores que perderam espaço nas Ligas de maior dimensão e vão para Itália para estender o que resta da sua carreira, como Kaká, Mario Gomez ou Carlos Tevez, que encontram neste campeonato uma “segunda vida”. Esta situação explica a falta de sucesso dos clubes italianos na Liga dos Campeões e na Liga Europa mas o sucesso da Itália em termos de selecção, como vimos no Euro 2012.

No entanto, há esperança. A Juventus continuará no cimo da montanha, o Milan e o Inter já perceberam que algo tem de mudar e estão a trabalhar para voltar ao topo, a Fiorentina e a Roma estão a ressurgir internamente e o Nápoles está a uma troca de treinador de fazer algo. Esperemos que a partir da próxima época regresse a competitividade em termos internos para eventualmente voltarem a causar mossa nas competições internacionais, o que gradualmente aumentará a reputação da Liga e, quem sabe, a catapultará de volta para o topo do futebol europeu. Potencial não lhe falta.

Paços de Ferreira 1-3 Sporting – El Rei D. Leão

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O Sporting começou melhor, a alinhar com Martins no miolo, a fazer companhia a Adrien e William. Foi este trio que acabou por ditar a pulsação do jogo na Mata Real. Nas alas, Mané e Capel arreliavam a defesa amarela na procura constante de Islam Slimani. Do outro lado, Bebé entrou forte, com vontade de abalar na procura de espaços entre a lateral esquerda e a zona central da defesa leonina.

O meio-campo do Sporting pautava o jogo, empurrando toda a equipa para a frente enquanto os pacenses procuravam as saídas rápidas. O futebol apoiado do Sporting deu frutos ainda não estava cumprido o primeiro quarto de hora de jogo. Numa tabela perfeita entre William Carvalho e Slimani, o trinco empurrou para o 1-0 com toda a calma do mundo. Ainda se festejava o golo do Sporting e Bebé ameaçou, com um grande remate na zona central. Patrício fechou a porta e negou o empate ao avançado Português ex-Manchester United.

O Sporting manteve a concentração, com processos simples, “1, 2” interessantes entre meio-campo, alas e Slimani, domínio táctico da partida, interrompido apenas por tentativas esforçadas do Paços de sair no contra. Pouco depois da meia hora de jogo, na sequência de um canto batido por Adrien, a defesa da capital do móvel ficou… imóvel, permitindo a Marcos Rojo duplicar a vantagem para a equipa visitante, cenário mais confortável que a equipa de Jardim levou para o intervalo.

No período de descanso, Jorge Costa puxou as orelhas aos seus pupilos e estes entraram melhor. Já sem Mané em campo, substituído por Carrilho, por motivos físicos, o Sporting foi descendo um pouco no terreno, dando iniciativa ao adversário, mantendo relativa segurança e apostando na velocidade de Capel para sair no ataque. Já debaixo de um cerradíssimo nevoeiro, o Paços acaba por reduzir através de um remate cruzado do inevitável Bebé, que após várias tentativas conseguiu levar a melhor e bater Rui Patrício.

Após o golo, e com o resultado aberto, o Sporting tentou reagir e subir as suas linhas mas o Paços estava motivado. O tridente do meio-campo Leonino não teve tanta bola com desejaria e a equipa da casa queria mais. Foi num lance de saída através do pequenino grande André Martins que, com muita calma, deixou para Slimani que por sua vez atrasou para o “fuzilamento” de Adrien Silva. Estava feito o 3-1 que acabaria por ser definitivamente selado momentos depois com o segundo amarelo e expulsão de Felipe Anunciação.

O médio Português atirou sem hipótese para o 3-1 final Fonte: Zerozero.pt
O médio Português atirou sem hipótese para o 3-1 final
Fonte: ZeroZero

Reduzido a 10 e já com Montero em campo, por troca com (o muitíssimo trabalhador, autor de 2 assistências da noite) Islam Slimani, o Sporting controlou os últimos 20 minutos de jogo com tranquilidade. Falando em “tranquilidade”, o jogo de hoje foi mais uma mensagem clara dos Portugueses de verde e branco para Paulo Bento. Rui Patrício, Cédric, William, Adrien, André Martins e Mané (porque não?!), cabem todos no avião para o Brasil daqui a um par de meses.

No final da partida, com 60 pontos alcançados, 50 golos marcados no campeonato e com o 3º lugar garantido, o 1º lugar está provavelmente longe demais esta época mas o 3º está longe o suficiente. Devemos estar todos orgulhosos desta equipa, deste treinador, desta direcção e deste clube que nos dá alegrias mais uma vez.

A Figura: Adrien Silva

Confesso-me indeciso entre ele e André Martins, que teve, no regresso ao 11, uma exibição ao mais alto nível. Mas foi o nº 23 que marcou o ritmo da partida. Assistiu Rojo na primeira parte e sentenciou o jogo na segunda, quando a coisa podia ter dado para o torto. Paulinho, podes reservar uma camisola “M” para o rapaz.

O Fora-de-jogo: André Carrillo

Foi dada ao peruano mais uma oportunidade nos segundos 45 minutos que este acabou por não aproveitar. Altos e baixos, mais baixos do que altos, continuam a marcar o percurso de La Culebra no Sporting. Tanto potencial, tão desaproveitado…

Ser sonhador

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paixaovermelha

Só há duas formas de ficar na história de um clube: pelo sucesso ou pelo fracasso. É um facto inquestionável. Podemos até dizer que é “a lei do futebol”. Se o sucesso de um presidente, de um treinador e de um ou vários jogadores é facilmente visível nos almanaques, livros e museus do clube, o insucesso fica, invariavelmente, marcado na memória dos sócios e adeptos.
Voltando atrás no tempo, em junho de 2010, após a forma espetacular como o Benfica conquistou o Campeonato Nacional, o meu pensamento foi só um: Jorge Jesus vai ficar na história deste clube. Vai ser um vencedor.

Estava longe de imaginar o que se iria passar nos três anos seguintes. Humilhações à parte, na última época – aquela que mais cicatrizes deixou no ego encarnado – o Benfica de Jorge Jesus perdeu a liderança da Liga Zon Sagres, uma final da Liga Europa e uma final da Taça de Portugal em… duas semanas. Devastador, sem dúvida alguma. A ideia de um Jorge Jesus histórico e imortal nos livros benfiquistas era agora transformada num pessimismo nítido de que aquela equipa seria recordada pela piores razões.

Volvido um ano (ou quase), é ainda uma árdua tarefa entender o que realmente se passou naqueles 15 dias. Como é que um coletivo daqueles, a jogar um futebol brilhante, deixa fugir tudo? Enganaram-nos durante toda uma temporada? Os “porquês” são muitos, mas não menos do que os “ses”: se Carlos Martins não tivesse sido expulso; se Artur fosse um bocadinho mais comprido; se Jardel não tivesse oferecido o canto… Caso queira, a lista aumenta exponencialmente – que o diga a minha almofada, que tantos “ses” partilhou comigo.

O momento da conquista do último título nacional  Fonte: lavozdelinterior.com.ar
O momento da conquista do último título nacional
Fonte: lavozdelinterior.com.ar

Mas a verdade é que, um ano depois, o mesmo Jorge Jesus e a mesma equipa (com alguns reajustamentos, é verdade) estão a pouquíssimos jogos de regressar a uma situação em tudo igual à do ano passado: a possibilidade de vencer tudo.
O Benfica está praticamente nas meias-finais da Liga Europa, está a um jogo de alcançar a final da Taça de Portugal e precisa de “apenas” três vitórias para se consagrar campeão nacional. Independentemente dos adversários, o Benfica (e reforço a ideia de que é praticamente a mesma equipa de há um ano) tem tudo para fazer história. Uma história com final feliz. Uma história de orgulho, de superação, de vencedores. Não querendo ser injusto para quem teve/tem o mérito de levar o símbolo do nosso clube tão longe, este é um comboio que passou duas vezes. É uma oportunidade de ouro para repor alguma justiça e verdade ao final da época passada.

Não escondo que sinto a equipa confiante, madura e concentrada. Sou, contudo, intolerante com excesso de confiança e desrespeito pelo adversário (ora, talvez aqui esteja outro “porquê”). É por esta razão que a política do “jogo a jogo” nunca fez tanto sentido. Sabemos perfeitamente qual é o percurso até ao destino mais desejado e, por isso mesmo, temos a obrigação de ser mais fortes.
Porém, por muito que a lógica me diga o contrário, o meu coração só deseja a glória sublime. Só deseja justiça completa. Só quer ganhar. Só quer que este Benfica viva para a eternidade.

Sou um sonhador.

Notas soltas

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Normalmente um caderno de notas é um objeto onde escrevemos os nossos mais remotos pensamentos. Reflexões, memórias, “tiras” impagáveis para a posteridade. Enfim, todo esse vasto leque. Mas as notas de que vos quero falar são outras. Ou melhor, de outro tipo: musicais.

No Brasil, todos os clubes têm um hino que entoam com orgulho. Seja clube grande, médio, ou pequeno – sim, porque os times são como as pizzas, também os há em tamanhos –, por mais ridículas que sejam a letra e/ou a melodia, tudo é cantado do início ao fim. Ser-me-ia impossível reproduzir todos os hinos aqui neste pequeno espaço. Contudo, podemos transcrever algumas partes.

As canções dos quatro grandes do Rio são lindas. Todas elas à sua maneira. Desde “Uma vez flamengo, Flamengo até morrer” ou “Sou tricolor do coração!”, até “No futebol és um traço que une ao Brasil, Portugal” ou “Na estrada dos louros, um facho de luz, tua estrela solitária te conduz!”.

Peço desculpa pela prepotência, mas no parágrafo anterior coloquei ao vosso dispor quatro trechos de quatro hinos dos quatro maiores clubes cariocas. Engraçada a história dos hinos da cidade maravilhosa. Todas estas músicas de exaltação foram escritas por um único autor: Lamartine Babo. E a pergunta que se impõe é a seguinte: mas afinal, por que clube torcia Babo? Resposta: nenhum dos quatro grandes! É verdade. Ele era adepto do simpático América, também do Rio. Um clube histórico, que hoje em dia tem perdido expressão. Costuma dizer-se que o hino mais bonito do Brasil pertence ao América do Rio. Em parte, sim. Talvez Lamartine Babo tenha deixado o melhor para o seu América. Se a letra do refrão, “trá lá lá!”, pouco nos diz, a melodia é simplesmente estupenda. Ouçam pelo sórdido mundo da web e digam o que acham!

Lamartine Babo, o génio dos hinos cariocas Fonte: mensagensvirtuais.xpg.uol.com.br
Lamartine Babo, o génio dos hinos cariocas
Fonte: mensagensvirtuais.xpg.uol.com.br

Fechando o Rio, ainda há um hino de que vale a pena transcrever a letra, de tão inusitada que é. O cântico do Bangu: “Em Bangu, se o time vence há na certa um feriado, comércio fechado! A torcida reunida até parece a do Fla-Flu, Bangu, Bangu, Bangu!”. E fechamos o Rio.

Enfim, passando por Minas Gerais, temos uma música do Cruzeiro que diz: “Nos gramados de Minas Gerais, temos tantas glórias imortais, Cruzeiro, Cruzeiro querido, tão combatido e jamais vencido!”. Ou uma do Atlético Mineiro que fala “Galo forte e vingador!”, em homenagem à sua eterna mascote querida. Até o hino do América Mineiro (não confundir com o América do Rio) fala numa “torcida feminina” que se destaca. Gostos.

Eu poderia falar dos hinos de São Paulo, onde “agora quem dá bola é o Santos!” ou de que o “Corinthians é o campeão dos campeões”. E até dos gaúchos Grêmio, cujos adeptos estarão “onde o Grêmio estiver” e do Internacional, caro em palavras: “Correm os anos, surge o amanhã, radioso de luz, varonil; segue a tua senda de vitórias,colorado das glórias, orgulho do Brasil!”. Mas é tudo muito massivo. Quero que fiquem curiosos e vão ouvir algumas destas músicas que são autênticos tratados musicais e exaltações constantes à língua portuguesa.

Por falar em glorificação da nossa língua-mãe, nada melhor do que o próprio hino do Brasil. O hino mais tocado em Mundiais. Um jogo para fechar. Tentem saber o significado de algumas das seguintes palavras sem consultar o dicionário:

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos
Brilhou no céu da Pátria nesse instante

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,
Idolatrada.
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce.
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece

Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso
E o teu futuro espelha essa grandeza

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil
Pátria amada
Brasil!

E isto é só a primeira parte. Não se preocupem se não decoraram. Há quem cante uma vida toda e não saiba o que significa a música. Mas o certo é que a nossa vida também é feita de melodias. E para os apaixonados isto é mais do que música. É um grito de guerra!

Seis problemas de uma (quase) equipa

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Há certas coisas que é preciso afinar neste onze azul e branco. O jogo contra o Sevilha mostrou, mais uma vez, que Luís Castro é um treinador “à Porto” mas que teve o azar de herdar uma equipa que durante mais de meia época não o foi.

Começo a abrir as hostilidades com Paulo Fonseca. Problema número um: Luís Castro não herdou uma equipa porque Paulo Fonseca não a construiu, apenas manteve a forma física dos jogadores. Assim como um daqueles instrutores que antigamente existiam nos ginásios, cuja formação havia sido feita num curso teórico-prático e que durou 4 meses, um homem grande, musculado, que faz as delícias dos pronto-a-vestir, comprando toda a porcaria “XXL” que mais ninguém quer. Ele existe, está lá, mas os treinos que dá aos utentes são quase sempre os mesmos. Na realidade ele não nos ajuda a cultivar o corpo, ele apenas garante que ele não fique parado. Desde que Luís Castro assumiu o comando que finalmente se viu uma equipa a ser formada. Derrotou o Nápoles, o Benfica e o Sevilha. Três grandes equipas! Só por isso merece um grande voto de confiança de todos nós.

Problema número dois: não há mecanismos de contra-ataque rápido e perigoso. Este problema também tem a ver com o anterior, mas se queremos ganhar outra vez ao Benfica (e queremos, sempre!), ao Nápoles e ao Sevilha, precisamos de rapidez, lucidez e objectividade nos contra-ataques.

Problema número três: Herrera é um jogador com grande potencial mas… é um pouco lento a decidir. Nem sempre acontece, mas a verdade é que acontece mais vezes do que deveria. O futebol é um jogo de decisões, e, tal como as acções, estas podem ser recompensadas quando se revelam boas, ou castigadas quando se revelam más. E o tempo afecta tudo, principalmente – por exemplo – um contra-ataque! Percebem onde quero chegar? Herrera é um óptimo jogador, mas em situações de contra-ataque (mas não só) já se revelou um pouco lento a decidir o que fazer à bola. Mas também acredito que esta é apenas mais uma consequência do senhor “XXL”.

Herrera tem mostrado serviço, mas tem de ser mais rápido a decidir  Fonte: ZeroZero
Herrera tem mostrado serviço, mas tem de ser mais rápido a decidir
Fonte: ZeroZero

Problema número quatro: as bolas paradas. Esta é uma situação que tem parecido uma canção de embalar. Costumávamos ser tão fortes nas bolas paradas e agora somos praticamente inúteis. Sim, marcámos há poucos dias na sequência de uma bola parada e agora marcámos outro contra o Sevilha nas mesmas circunstâncias, mas a realidade é que com jogadores como Jackson, Mangala, Maicon, Abdoulaye e Reyes tínhamos a obrigação de mostrar mais perigo no jogo aéreo. E os “cantos” ultimamente têm sido extremamente mal batidos! Quaresma insiste em marcar e, sejamos sinceros, não o tem feito com qualidade. Várias bolas são batidas ao primeiro poste e acertam em cheio no primeiro ou segundo defesa, ao nível do tronco e da cabeça. Sem bola na área não adianta falar de pontaria!

Problema número cinco: Jackson continua muito afastado da sua posição real. Contra o Sevilha vi um lance que me irritou muito! Numa situação em que o Porto ia com grande embalagem, depois de várias bolas desperdiçadas e recuperadas pelo Porto, Jackson está no limite do segundo terço do campo e cruza para a área onde só estava Varela e Carlos Eduardo. A verdade é que isto é recorrente. Eu percebo que Jackson também tenha de vir buscar/segurar jogo cá atrás, mas sacrificar constantemente o ponta-de-lança para que a equipa suba mais as linhas e os laterais ganhem espaço não tem dado resultado.

E, por fim, problema número seis: remates de meia distância. Uma tentativa de finalização que se encontra em grande parte das equipas de futebol, independentemente da táctica utilizada, e que o Porto tem adoptado pouco. Não interessa se há ou não bons finalizadores, a realidade é que se vêem poucos remates antes da área. Ou não há ordem da parte do treinador ou a equipa não está “programada” para criar situações que a facilitem.

Todas estas situações são passíveis de erro da minha parte. Não sou treinador nem algo que se pareça, mas a verdade é que se prestarem atenção aos jogos do Porto tudo isto pode ser observado. Isto e muito mais, com certeza! Mas para uma equipa que só agora começa a jogar como tal é imperativo corrigir situações tão pequenas que até eu consigo ver. E só uso tamanho “M”!

Os milhões ali tão perto

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milnovezeroseis

Caro leitor,

No passado Sábado, em Alvalade, o Sporting levou de vencida a equipa do Vitória de Guimarães. Apesar de a exibição ter ficado um pouco aquém das expectativas, o que importa, realmente, é mencionar que o embate da 25ª jornada foi uma das batalhas mais difíceis que o Sporting tem de enfrentar até atingir o objectivo primordial desta época desportiva: conseguir o apuramento directo para a Liga dos Campeões.

Com quatro partidas a disputar até ao término do Campeonato Nacional, a presença na Liga Milionária é um objectivo cada vez mais exequível. O Porto, que perdeu na Madeira contra um Nacional bem organizado, na passada jornada, deu ainda mais alento a esta realidade. Os comandados de Luís Castro ocupam, presentemente, a terceira posição, estando a oito pontos do Sporting.  É preciso contenção, é certo, mas estes são números que fazem, no mínimo, sonhar.

Os leões estão a um passo de alcançar a tão desejada Liga dos Campeões  Fonte: abancadanascente.blogspot.com
Os leões estão a um passo de alcançar a tão desejada Liga dos Campeões
Fonte: abancadanascente.blogspot.com

Analisando o que falta jogar às hostes leoninas, as maiores contrariedades que podem vir a existir advêm dos jogos com Nacional, na Madeira, a acontecer na 29ª jornada, e com a partida com o Estoril, na derradeira jornada, no Estádio José Alvalade.  Contudo, caso o Sporting vença os dois jogos até lá, com o Paços da Ferreira e Gil Vicente, um empate na Choupana garante automaticamente a presença, sem necessidade de um play-off, na Liga dos Campeões.

A verdade é que o objectivo e ambição do Sporting para a presente temporada sempre foi este – atingir a Liga Milionária. Sem outros propósitos quimeros. Recorde-se que a entrada directa na fase de grupos garante, por si só, 8,6 milhões de euros aos cofres leoninos. A este valor acrescem os prémios de jogo, que variam entre os 500 mil euros e o milhão de euros. Números assombrosos e que mostram bem a importância da competição.

Num momento em que o Sporting ainda não atingiu a sanidade financeira desejada, a vertente monetária é (mais) um factor importante, que comprova a relevância com que se reveste a entrada na Liga dos Campeões. A juntar a isso, surge a natural, e evidente, valorização, quer do onze, quer do clube em si, tão necessária após um bom par de anos em que o Sporting foi ficando arredado das grandes montras do futebol europeu. Mas os milhões estão já ali. Tão perto.

Athletic Club de Bilbao: um clube, uma filosofia

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Em 1898 foi fundado aquele que é, a par de Real Madrid e Barcelona, um dos únicos totalistas de presenças na Liga Espanhola. É o terceiro clube mais titulado em Espanha, com 8 campeonatos, 24 Taças do Rei e uma Supertaça Espanhola. Na verdade, comparado com os dois colossos que dominam de fio a pavio a Liga Espanhola, nem é um palmarés muito rico nem extremamente apelativo. Mas o que é facto é que esse palmarés é conseguido através de uma filosofia própria, uma maneira de estar no futebol diferente. O Athletic adopta uma política desportiva que só admite jogadores nascidos ou formados no País Basco, uma política conhecida pelo seu famoso lema “Con cantera e afición, no hace falta importación”, que é o mesmo que dizer “com uma boa formação e com os adeptos não é preciso importação”.

É nesta realidade futebolística que actualmente encontramos este Athletic Club, um clube ímpar, que é dos poucos que pode dizer que não é uma SAD (e são apenas quatro na Liga Espanhola), sendo o seu património dos sócios. Além disso, é um clube que, fiel a uma filosofia de anos e anos, trabalha a formação como poucos, que investe nela e que a aproveita de real maneira. No panorama desportivo actual só o Barcelona dos últimos 10/15 anos terá dado tanta qualidade ao futebol espanhol no desenvolvimento de novos talentos, aproveitando-os de maneira eficaz.

Iker Muniain é uma das figuras do actual Athletic  Fonte: squawka.com
Iker Muniain é uma das figuras do actual Athletic
Fonte: squawka.com

Com esta política, a história do Athletic transporta alguns jogadores que foram, nos seus diversos tempos, baluartes das várias seleções espanholas, como são os casos de Manu Sarabia, Joseba Exteberria, Julen Guerrero, Izmael Urzaiz, Andoni Goikoetxea, Andoni Zubizarreta, Ernesto Valverde, Javier Clemente, Rafael Alkorta, Julio Salinas ou Javier Irureta. Mais recentemente, fez despontar uma nova panóplia de jogadores de enormissima qualidade como Fernando Llorente, Iker Muniain, Ander Herrera, Javi Martinez, Oscar de Marcos, Ibai Gomez, Susaeta, Iraola ou Gurpegui, sendo que alguns deles são ainda autênticas promessas que poderão ter uma palavra a dizer numa futura Espanha que aposta cada vez mais na formação.

Deste modo, e procurando respostas num fenómeno cada vez mais dependente dos mihões, pode estar aqui, neste modelo adpotado por um clube centenário e icónico no país vizinho, uma das respostas para um futuro economicamente mais viável para clubes que não tenham o poderio dos dois grandes colossos espanhóis. Afinal de contas, foi com esta política que, ainda há dois anos, disputaram uma final europeia com um futebol que chegou a encantar a Europa.

Basta do “Movimento Basta”

Ze Pedro Mozos - Sob o Signo do Leao

Sei que esta opinião que aqui vou expressar não vai reunir consenso. Em primeiro lugar, porque se trata precisamente de uma opinião e não de algo factual. Em segundo lugar, porque tenho uma visão algo diferente da maioria dos sportinguistas com quem falei sobre este assunto.

Foram entregues, na passada Terça-Feira, na sede da FPF, as cerca de três mil assinaturas referentes ao movimento “Basta!”. Para quem não sabe, o movimento “Basta!” foi criado por adeptos do Sporting que pretendem fazer com que a arbitragem em Portugal pare de prejudicar o clube leonino, que tem visto os adversários a serem recorrentemente beneficiados.

A notícia podia (e devia) ficar por aqui. Mas aquilo que marcou a entrega destas assinaturas foi tudo menos as próprias assinaturas: à chegada, no hall de entrada, lançaram-se notas com a cara de Pinto da Costa estampada; alguns indivíduos que faziam parte da organização do movimento e que iam entregar as assinaturas entraram encapuçados, de cara tapada; à saída, depois de efectuada a entrega, houve o rebentamento de um petardo. Era esta a intenção inicial deste movimento ou as suas consequências tomaram proporções desmedidas? Com que credibilidade será levado daqui em diante? Deveria a direcção do clube tê-lo apoiado?

Não consigo responder directa nem objectivamente a estas perguntas, mas tentarei oferecer o meu ponto de vista. Concordo com o fundamento deste movimento na medida em que também sou da opinião de que o Sporting tem sido uma das equipas que tem sido mais prejudicadas pela arbitragem e de que está na altura de tomar medidas (só nesta época já anularam – e mal – cinco golos ao Sporting, um recorde a nível nacional). No entanto, acho que este movimento excedeu os limites daquilo que devem ser manifestações de indignação. Qualquer credibilidade que este movimento pudesse ter ficou minada logo à partida, quando, no primeiro protesto público, se lançaram notas com a cara de Pinto da Costa estampada e se exibiram cartazes com árbitros vestidos com o equipamento do Benfica. Graças a isso, esse movimento nunca foi levado a sério, dando a ideia de se tratar mas de uma birra do que de um protesto contra a arbitragem. Se é verdade que devia haver uma reflexão sobre aquilo que tem sido a arbitragem portuguesa nos últimos anos, também é certo que estes movimentos em nada contribuem para isso. O problema não está no conteúdo, com o qual – repito – concordo, mas sim na forma. Se deve haver uma discussão pública sobre o assunto não deve começar por movimentos com estes moldes, pois logo à partida criam um clima de crispação que em nada contribui para a realização de um debate equilibrado e inteligente sobre o assunto.

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A direcção apoiou este movimento, tornando-se assim cúmplice
Fonte: ZeroZero

Por essa mesma razão, creio que a direcção do Sporting Clube de Portugal não devia ter apoiado este movimento, dado que agora está associada ao jogo sujo de lançar notas de presidentes de outros clubes ou de fixar cartazes de árbitros equipados “à Benfica”. A direcção foi cúmplice destes actos, e isso não dignifica em nada a estrutura do clube leonino. Poderão dizer que o movimento não tinha estas intenções inicialmente e que a direcção não conseguia prever as proporções que este ia tomar. Se for verdade, então é só mais uma razão para não se dar apoio “às cegas” a este movimento, pelo menos sem se exigir um mínimo de civismo nas manifestações, para não manchar a imagem do clube.

Os actos de vandalismo a que se assistiu na passada terça-feira na sede da FPF foram só mais um exemplo daquilo que não se devia fazer se a intenção é levar a sério este movimento. Como sportinguista que sou, repudio estes actos. Não me revejo neles. Isto não é o Sporting. O Sporting é aquilo que se sente no Estádio José Alvalade XXI. O Sporting é aquele ambiente espetacular que a Curva Sul do estádio cria em cada jogo. O Sporting é a raça de vencer, a vontade de mudar. O Sporting é nunca desistir.

Não sou menos sportinguista por não apoiar este movimento; não sinto menos o clube por não apoiar este movimento; não deixo de achar que o Sporting tem sido prejudicado; não deixo de vibrar com as boas exibições; não sou um mau adepto por repudiar os actos de vandalismo que este movimento tem provocado; não deixo de viver o clube todos os dias; o Sporting não deixa de ser uma das minhas maiores paixões; não deixo de achar que, de facto, já basta de sermos prejudicados.

A única diferença é que eu acredito que pode haver medidas concretas que mudem o panorama da arbitragem portuguesa e que se pode discutir isto de uma forma civilizada. Confio em que, se nos fizermos ouvir, iremos contribuir para melhorar as actuações dos árbitros portugueses. Mais tarde ou mais cedo, as entidades responsáveis vão ter de deixar de ignorar as medidas que Bruno de Carvalho tem apresentado. Até lá, temos continuar a jogar um bom futebol e a apoiar o Sporting. A única diferença é que eu não acho que este seja o caminho certo.