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José Peseiro: O Moço dos Recados ou o Homem Certo?

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José Peseiro não teve uma vida propriamente fácil na sua carreira de 24 anos como treinador. Aos 55 quis agarrar uma oportunidade de ouro para provar o seu valor e relançar a sua carreira, ao assumir o comando técnico do FC Porto, assinando um contrato válido até junho de 2017 com mais um ano de opção. A dúvida que paira para os lados do Dragão é sobre se a SAD azul e branca vai continuar a contar com José Peseiro na próxima época ou se vai rescindir contrato com o treinador natural de Coruche, na tentativa de criar um projeto remodelado para o ataque ao título da próxima temporada.

Fui bastante crítico quando vi que as notícias oficializaram a contratação de José Peseiro para o comando técnico dos Dragões e, não querendo ser injusto, confesso que não estou arrependido. Admito que o FC Porto melhorou com a chegada de Peseiro tendo em conta o estilo de jogo que Lopetegui apresentava, e, acima de tudo, o treinador ribatejano mostrou-se mais humilde e mostrou o que é identidade de equipa nas conferências de imprensa e nos jogos. Também é um facto que Peseiro não teve tempo para mostrar o seu valor e não é com três meses de treino que consegue pôr a equipa a jogar à sua imagem. Depois destas constatações, que me parecem óbvias, porque é que continuo a achar que José Peseiro não deve continuar nos Dragões na próxima época?

A carreira de Peseiro, como já referi em cima, foi marcada por vários insucessos. Depois de ter levado o Nacional da Madeira à primeira liga e de ter dado nas vistas com o estilo de jogo invulgar que apresentava, o sucesso de Peseiro estagnou na ilha da Madeira. Em 2004, foi varrido do Real Madrid juntamente com Carlos Queiroz e um ano mais tarde, já em Lisboa, tornou-se uma das vítimas de chacota dos rivais do Sporting CP. Quando chegou a Alvalade, os adeptos leoninos depositavam grandes expectativas no seu recém-chegado treinador, uma vez que Peseiro tinha sido colega de “turma” de Mourinho e tinha tido sucesso quando teve oportunidade de treinar uma equipa como o CD Nacional. Apesar de ter brilhado na Taça UEFA, Peseiro conseguiu perder o ambicionado troféu europeu em casa contra o CSKA Moscovo, um ano depois de o FC Porto ter ganho a Liga dos Campeões com José Mourinho. Como se não bastasse, entregou o campeonato ao SL Benfica na mesma semana ao perder no Estádio da Luz e, para piorar, perdeu logo a seguir em casa contra o clube que o lançou para a ribalta do futebol português, o CD Nacional, entregando o segundo lugar e o apuramento direto para a liga dos campeões ao FC Porto.

Ainda assim, Peseiro conseguiu aguentar-se no Sporting CP, fruto da época europeia que os leões fizeram. Mas em Outubro de 2005, face ao lugar em que o Sporting CP se situava no campeonato (7.º) e face à eliminação precoce da Taça UEFA, apresentou a sua demissão do clube leonino sem ganhar nenhum troféu ao serviço dos Leões. Seguiram-se passagens sem títulos no Panathinaikus AC e no FC Rapid Bucuresti e ainda uma aventura não muito bem sucedida na Arábia Saudita, uma vez que, apesar de ter levado a selecção do Médio Oriente aos lugares de playoff para o Mundial 2010, não conseguiu levar de vencida a eliminatória frente ao Bairém.

José Peseiro mostrou-se otimista quando chegou ao Dragão Fonte: FC Porto
José Peseiro mostrou-se otimista quando chegou ao Dragão
Fonte: FC Porto

Foi já no seu regresso a Portugal, ao comando do SC Braga, que Peseiro ganhou o seu primeiro título de relevo contra o FC Porto: a Taça da Liga. Mesmo com esse troféu ganho, Peseiro não conseguiu aguentar-se nos minhotos por muito tempo face à insatisfação dos adeptos devido ao 4.º lugar, uma vez que o FC Paços Ferreira terminara a época em 3.º. Seguiu-se uma aventura curta no Al-Ahly até que surgiu a oportunidade da carreira de José Peseiro: o FC Porto. Na equipa azul e branca, Peseiro ainda tem a oportunidade de ganhar o maior título da sua longa carreira: a Taça de Portugal.

Com este currículo pouco invejado, não acredito que Peseiro, apesar de conseguir apresentar bom futebol, seja a pessoa certa para levar os Dragões a voltar a acreditar em bons desempenhos europeus e na conquista sucessiva de títulos a nível nacional. Existem treinadores portugueses de topo com maior currículo, e estão disponíveis para agarrar uma oportunidade ao serviço da equipa da Invicta. Falo de André Villas-Boas, que, na minha opinião, se ofereceu ao FC Porto no final do jogo que ditou a eliminação do FC Zenit da Liga dos Campeões frente ao SL Benfica. Marco Silva e Leonardo Jardim também me parecem nomes mais credíveis do que Peseiro e bem capazes de levar a equipa do FC Porto para o patamar de máxima exigência a que os portistas estão habituados.

Resta saber se a SAD estará disposta a arriscar mais uma época num treinador perseguido pelo insucesso ou se quer apostar num outro nome mais credível, de forma a relançar o sucesso do clube nortenho.

Foto de Capa: FC Porto

A obra de Rui Vitória

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Rui Vitória. Foi este o nome que andou nas bocas do mundo durante grande parte desta temporada. Acusado de não ter mãos para o “Ferrari”, considerado por uma personagem caricata do futebol português (JJ) como um mau profissional, criticado por muitos e alvo das mais variadas pressões. O certo é que o treinador do Benfica fez jus ao seu nome e voltou a colocar a turma encarnada no devido lugar, e para além deste feito tem mostrado um trabalho extra, coisa que não se viu na era de Jorge Jesus.

Um dos maiores desejos do presidente encarnado, e também dos seus adeptos, era ver um onze onde houvesse jogadores que sentissem o símbolo como nós, adeptos, o sentimos. Um onze onde houvesse jogadores que amassem o emblema que carregam ao peito, um onze onde houvesse jogadores formados no clube. Um dos louros do professor Rui Vitória foi a aposta nos miúdos da formação. Aqueles, que teriam de nascer dez vezes para terem a qualidade exigida pelo antigo treinador encarnado, com Rui vitória apenas necessitaram de nascer uma vez para terem a sua oportunidade e mostrar serviço.

Apesar de serem jovens talentosos, a entrada na equipa principal é sempre complicada, e é aí que se torna evidente o trabalho do treinador ribatejano e de toda a sua equipa técnica. Como se sabe, jogar nas camadas jovens ou na segunda liga não é o mesmo que jogar no escalão máximo do futebol português ou nas competições europeias.

Rui Vitória tem mostrado um excelente trabalho ao serviço do SL Benfica Fonte: SL Benfica
Rui Vitória tem feito um excelente trabalho ao serviço do SL Benfica
Fonte: SL Benfica

É nesse capítulo que se entende todo o trabalho que está por trás do lançamento destes jovens na equipa principal. Renato Sanches, Nelson Semedo e Victor Lindelöf são o exemplo disso. Apesar de serem jovens hoje jogam com muita maturidade, atingindo assim uma ascensão meteórica. Em pouco tempo assumiram-se como garantias e todos eles chegaram à seleção principal dos seus países. A forma tranquila e descontraída como se apresentam nos jogos que efectuam e a segurança que têm oferecido à equipa encarnada mostram que não é preciso apostarmos em trintões para termos uma equipa segura e com rotinas de jogo bem sabidas.

Sem investir milhões em vedetas, Rui Vitória tem conseguido aproveitar a prata da casa e valorizá-la. Quem sabia quem eram estes miúdos há uns meses atrás? Provavelmente muito pouca gente, mas o certo é que hoje em dia andam nas bocas da Europa, sendo inclusive bastante cobiçados por algumas equipas de topo como o PSG ou o Real Madrid, por exemplo.

Outrora, todos os Benfiquistas olhavam para Jesus e viam nele uma máquina de valorizar jogadores, o que fazia o Benfica encher os seus cofres; pois, hoje em dia, eu vejo o mesmo em Rui Vitória, que em pouco tempo conseguiu fazer de “desconhecidos” jogadores de quem se fala pela Europa fora e para além disso fez com que outros jogadores, como Pizzi, rendessem muito mais.

Como o nosso presidente disse outrora, no Benfica não há insubstituíveis, e o trabalho que o professor Rui Vitória tem vindo a realizar depois da saída de Jorge Jesus é o exemplo disso.

Foto de Capa: SL Benfica

Sonhar com a Europa mas de pés bem assentes no chão

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É este o segredo do FC Arouca para o que falta do campeonato. A sete jornadas do fim, a manutenção está praticamente garantida e, mais do que isso, o clube do concelho nortenho está num dos lugares de acesso às competições europeias; se a Liga NOS terminasse hoje, o Arouca estaria qualificado para a terceira pré-eliminatória de acesso à Liga Europa.

Naquela que é apenas a sua terceira época no principal escalão do futebol português – o clube só se estreou na primeira liga em 2013/2014 – o Arouca ocupa, à 27.ª jornada, a quinta posição do campeonato, com 41 pontos. Significa isto que, aconteça o que acontecer até Maio, a equipa orientada por Lito Vidigal já bateu o seu recorde de pontos na primeira liga: há duas épocas atrás, tinha feito apenas 31 (12.º lugar), um registo, ainda assim, melhor que o de 2014/2015, onde conseguiu somente 28 pontos (16.º lugar, logo acima da linha de água).

E nem mesmo a pesada derrota em Alvalade na última jornada – os “leões” bateram o Arouca por expressivos 5-1 – mancha a brilhante campanha que este clube está a fazer no nosso campeonato. Aliás, o Sporting é mesmo o único dos chamados “três grandes” que não perdeu qualquer ponto com a turma arouquense esta época. Relembro que, logo na segunda jornada do campeonato, o Arouca recebeu e venceu o Benfica, no Municipal de Aveiro, por uma bola a zero; e, em Fevereiro passado, a turma de Lito Vidigal foi ao Estádio do Dragão derrotar o FC Porto de José Peseiro por 2-1.

O Arouca está a realizar a sua melhor época de sempre no principal escalão do futebol português Fonte: FC Arouca
O Arouca está a realizar a sua melhor época de sempre no principal escalão do futebol português
Fonte: FC Arouca

Mas este Arouca não se fica por aqui. Antes da já mencionada derrota em Alvalade, os arouquenses estiveram quase dois meses sem perder para o campeonato. Entre a derrota na Luz (3-1), em jogo a contar para a 19.ª jornada, e a goleada sofrida aos pés do Sporting, oito jogos depois, a equipa registou cinco vitórias e dois empates, numa incrível série de resultados que permitiu dar vida ao sonho europeu do Arouca.

Ainda é muito cedo para se poder falar num Arouca europeu, mas o sonho começa a ganhar forma. A equipa de Lito Vidigal está a fazer um campeonato formidável, muito acima das expectativas, e, por isso, tem pelo menos o direito de acreditar que pode fazer história. Nestas últimas sete jornadas, o Arouca vai defrontar adversários directos na luta por um lugar de acesso às competições europeias, nomeadamente Rio Ave, Marítimo, Nacional, Estoril e Vitória de Guimarães, em partidas que se podem revelar decisivas.

Prevê-se, portanto, uma recta final de campeonato muito interessante no que diz respeito à luta pelo último lugar de acesso à Europa, já que uma das vagas parece estar já garantida pelo SC Braga, que ocupa confortavelmente o quarto lugar da Liga NOS. O Arouca só depende de si mesmo para lá chegar, mas sabe que não será nada fácil ficar à frente de equipas com outra experiência, inclusive a nível europeu, que jogam no campeonato português. Uma coisa, porém, é certa: os adeptos do Arouca nunca poderão ficar desiludidos com a época da sua equipa, a melhor de sempre na primeira liga portuguesa. Mesmo ficando de fora da Liga Europa, este clube do norte do país já fez mais do que o suficiente para ser considerado a equipa sensação da Liga NOS 2015/2016.

Foto de Capa: FC Arouca

Brasil 2-2 Uruguai: Grande jogo das Américas

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O Brasil voltou a desiludir os seus adeptos, ao empatar a duas bolas, na Arena Pernambuco, frente ao Uruguai. Os “canarinhos” até estiveram a vencer por dois golos de diferença, mas deixaram fugir a vantagem e estiveram até perto de perder no final.

O escrete, orientado por Dunga, apresentou-se em campo com Neymar como homem mais adiantado, funcionando como “falso 9”, dado que veio muitas vezes buscar jogo atrás e libertando espaço para o aparecimento em zonas de finalização do trio de jogadores que o secundava: Willian, Renato Augusto e Douglas Costa. Este último entrou fulminante na partida, assinando o primeiro golo quando estavam decorridos apenas 41 segundos da mesma. Dunga não podia ter pedido melhor início, dado que o golo deixou um pouco abananados os elementos do Uruguai, que atuaram com uma dupla de centrais alternativa, com o “leão” Coates e Mauricio Victorino, devido à ausência do par “colchonero” Godín-Giménez. Arévalo Ríos e Vecino, os dois médios que jogavam à frente da defesa, também tiveram uma entrada complicada e tardia em jogo, permitindo que os criativos brasileiros jogassem com tempo e espaço nos últimos 40 metros de terreno.

Foi sem surpresa que o Brasil chegou ao segundo tento, por volta dos 26 minutos. Neymar fez um passe a rasgar a linha defensiva “celeste”, Álvaro Pereira, antigo lateral do FC Porto, teve uma fífia do tamanho do estádio e depois foi uma simulação de corpo mágica de Renato Augusto que deixou Muslera fora da jogada, permitindo uma finalização fácil ao médio “canarinho” que joga agora no futebol chinês. Com o marcador em 2-0, pensou-se que o Brasil ia dominar o resto do jogo a seu belo prazer. Puro engano. Os uruguaios conseguiram ainda reduzir na primeira parte, por intermédio de Edinson Cavani, após assistência de Carlos Sánchez. Esta jogada seria o prenúncio de uma noite para esquecer dos dois centrais “amarelos”, David Luiz e Miranda. Ambos tiveram falhas clamorosas e comprometedoras na segunda parte, que só não deram em golo devido ao desacerto do adversário e a algumas boas intervenções de Alisson, guardião que foi titular nas redes brasileiras.

Renato Augusto, sem tocar na bola, senta Muslera e atira para o 2-0 Fonte: FIFA World Cup
Renato Augusto, sem tocar na bola, senta Muslera e atira para o 2-0
Fonte: FIFA World Cup

Na segunda parte, assistiu-se a um jogo completamente distinto. Os uruguaios entraram melhor, bem mais pressionantes, e o treinador Óscar Tabárez soube neutralizar o fator chave do Brasil na primeira metade, que foram as constantes descidas de Neymar no terreno para lançar jogo, com as entradas dos médios em zonas claras de finalização. O treinador colocou Álvaro González no lugar do apagadíssimo, e bem nosso conhecido, Cristian “Cebola” Rodríguez, com a equipa visitante a lograr chegar ao empate logo à passagem do terceiro minuto após o reatamento. Álvaro Pereira viu bem o movimento de desmarcação de Suárez, que rematou forte para uma oposição fraca de Allison. A partir daí, os uruguaios conseguiram estar mais vezes instalados no meio campo brasileiro, com a bola a chegar mais vezes a Cavani e Suárez, que tinham estado muito desapoiados no primeiro tempo. Até ao final, destaque para duas coisas: a incapacidade, quase escandalosa, de Dunga de saber fazer alterações positivas para a sua equipa; e a exibição de Alisson, que compensou, com algumas boas defesas, as falhas constantes e graves de Miranda e David Luiz.

Com este resultado, os uruguaios alcançam o segundo lugar do grupo sul americano de apuramento para o Mundial 2018, apenas atrás do surpreendente Equador. Já os brasileiros chegaram aos oito pontos, os mesmos que têm a Argentina e o Paraguai, todos empatados na terceira posição.

Refira-se ainda que os “portugueses” Jonas e Maxi Pereira não jogaram. O brasileiro do Benfica não saiu do banco e o lateral direito do FC Porto não constou da ficha de jogo. O único jogador que atuou nesta partida e joga em Portugal foi Sebastián Coates, central do Sporting. O defesa leonino começou mal, embrulhado nos erros defensivos da sua equipa, mas, tal como os colegas, foi subindo de produção ao longo do encontro e ainda acabou por fazer uma mão cheia de cortes importantes, sempre utilizando o seu enorme porte físico para “varrer” o que aparecesse pela sua área.

A Figura:

Luis Suárez – O atacante do Barcelona quase não foi visto na primeira parte, mas só precisou de três minutos na segunda parte para deixar Miranda para trás e empatar a partida. Bateu cantos e livres, “brigou” pela bola com os adversários e foi muito inteligente num lance aos 86 minutos, adivinhando a falha de David Luiz. Contudo, depois permitiu a defesa de Alisson ao seu forte remate.

O Fora-de-Jogo:

Miranda e David Luiz – Os centrais “canarinhos” estiveram mal em campo, com alguma descoordenação e, acima de tudo, um grande excesso de erros primários, não forçados pelos adversários. Para uma seleção que deixa Thiago Silva de fora por opção, as alternativas têm de justificar essa escolha do treinador, que continua sem deslumbrar no comando técnico do escrete.

Foto de Capa: FIFA World Cup

Jogadores que Admiro #54 – Pedro Portela

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Nunca gostei muito de andebol. Há uns bons anos atrás lembro-me de ter vibrado com o título conquistado pela equipa de Carlos Ferreira e Ricardo Andorinho, mas hoje em dia praticamente não acompanho a modalidade. Ainda assim, há um nome que sei bem: Pedro Portela.

Em 2014, assisti pela primeira vez a um jogo de andebol ao vivo. Vivo em Barcelona e o Sporting foi jogar a Granollers, uma pequena localidade a 30 km daqui, pelo que não podia perder a oportunidade. É curioso que tenha vivido em Lisboa quase toda a minha vida e nunca tenha ido ver o andebol do Sporting. Há coisas a que damos mais valor à distância.

Fui sozinho e entrei no pavilhão uma hora antes do início da partida. Os jogadores já aqueciam, junto a uma das balizas, e foi mesmo ao lado deles que ocupei um lugar na primeira fila. Tirei o casaco de forma a exibir a minha camisola verde e branca e aplaudi a equipa. Alguns jogadores acenaram-me, outros limitaram-se a sorrir: é sempre bom encontrar uma cara familiar longe de casa, mesmo que nenhum deles me tivesse visto antes na vida.

Portela prepara o remate Fonte: Sporting CP
Portela prepara o remate
Fonte: Sporting CP

Com o aproximar da hora do jogo, o pavilhão foi enchendo e descobri que a claque adversária ficava mesmo ao meu lado. Um rapaz espanhol, vendo que eu era sportinguista, dirigiu-se a mim: “És português? Quem é o Magalhães?”, colocando-me na situação embaraçosa de lhe dizer que não sabia os nomes dos jogadores do meu clube. No entanto, munido de um telemóvel com acesso à Internet, cinco minutos depois dirigi-me a ele entusiasmado: “É o 80! O Magalhães é o 80! E se quiseres posso-te dizer o nome dos outros todos”, garanti-lhe eu,  depois de concluído o exercício de memorização em que tinha investido os minutos anteriores.

Quando o jogo começou, já o pavilhão estava completamente cheio e eu passei a ser apenas um pontinho verde no meio da multidão. Mas um pontinho sempre pronto a aplaudir e vibrar com os sete portugueses em campo. A eliminatória foi equilibrada e, a dois segundos do final, sofremos o golo da derrota. O pavilhão explodiu de alegria, vários adeptos saltaram para o campo a celebrar, enquanto os sportinguistas estavam de rastos. Como é compreensível, enquanto o Granollers festejava, os jogadores portugueses iam saindo cabisbaixos, pela porta do lado contrário ao meu lugar. Todos, exceto um. Um deles atravessou o campo inteiro, na minha direção. Já perto da bancada, alguns dos adeptos catalães, que tinham passado o tempo a vaiar a nossa equipa, queriam agora cumprimentá-lo. Ignorou-os. Estendeu-me o braço e deu-me um aperto de mão. Não me disse nada, nem eu lhe disse a ele. Éramos dois sportinguistas que tinham acabado de sofrer uma derrota; não precisávamos de dizer nada um ao outro.

Ele afastou-se e atravessou o campo no sentido contrário para se dirigir aos balneários, enquanto eu me dirigi à saída do pavilhão. Chovia torrencialmente, mas decidi não vestir o casaco. Fui de cabeça erguida e exibindo orgulhosamente a minha camisola da Missão Pavilhão. Não tem nome nas costas. Se tivesse, seria Pedro Portela.

Foto de Capa: Sporting CP

Portugal 0-1 Bulgária: Teste de aferição – reprovado

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Embora o leque de jogadores que serão seleccionados para o próximo Europeu esteja, exceptuando duas ou três unidades, practicamente decidido, ainda é tempo de limar arestas, principalmente as tácticas, e redobrar as estratégias possíveis, colocando-as em campo nesta fase experimental antes das partidas oficiais. Creio que o onze base da selecção andará muito perto daquele que hoje iniciou o jogo contra a Bulgária, não contando com a óbvia titularidade de Rui Patrício.

Ainda assim há algo que deve ser claro: desengane-se quem pensa que um seleccionador pode, em pouco tempo de preparação, fazer milagres tácticos. É pegando nesta ideia que entendo a aposta de Fernando Santos num meio-campo que se conhece bem e que é composto, possivelmente, pelos jogadores que neste momento melhor se encontram preparados para jogar na zona do terreno, estando habituados aos mesmos procedimentos táctico-defensivos (que numa equipa são sempre os mais difíceis de ritmar) desempenhados no Sporting. Compreendo igualmente a entrada de Rafa, que se encontra a fazer uma excelente época no Braga, já para não falar na catividade de Ronaldo e Nani. Antes de fazer apontamentos ao sector defensivo, é importante dizer que esta Bulgária, impotente no grupo de apuramento e longe de se equiparar à Bulgária genial da década de 80, está longe de ser uma equipa ao nível da Portuguesa – mas uma coisa é o plano teórico; outra coisa, muito diferente, é a realidade práctica. Aos dez minutos Portugal já contabilizava cinco remates à baliza, muito com Ronaldo em foco, conseguindo chegar a zonas de finalização com processos de transição rápida onde a lateralização do jogo se tornou prioritária. Ninguém diria, num começo de jogo dominado pela equipa portuguesa, que a Bulgária iria estrear o marcado num lance atípico. Podemos falar em ocasiões azarentas – sendo certa a sua existência-, mas a subjectividade da análise do lance pode ter o seu reverso, podendo ser anotada a ineficácia da actuação da defesa. Pepe não foi eficaz, e este género de lapso paga-se caro em jogos em que o experimentalismo já não conte. Ainda assim, creio que é no sector defensivo que não restam muitas dúvidas: Pepe e Bruno Alves serão quase certos no centro, enquanto que a aceitável época de Eliseu e o destaque de Vieirinha na Alemanha justificam a titularidade. É nas zonas mais altas que as principais questões se levantam.

Cristiano Ronaldo esteve em dia não Fonte: Selecções de Portugal
Cristiano Ronaldo esteve em dia não
Fonte: Seleções de Portugal

Um jogo em que Portugal pôde dominar, embora tendo perdido, não é a circunstância ideal para retirar conclusões. O ideal, por seu turno, seria a confrontação com uma equipa cujo teor táctico obrigasse a repensar as soluções. Neste exemplo concreto – esta derrota com a Bulgária -, há algo mais primordial na análise que podemos fazer: a ineficácia de Ronaldo, cuja taxa foi anormalmente elevada, muito por culpa do guarda-redes Búlgaro. Portugal poderia ter vencido o jogo e, com sorte, ter inclusivamente goleado. Mas se pensarmos que esta ineficácia lusa poderá, mais tarde, verificar-se com uma equipa com mais argumentos, concluímos que Portugal poderá ter fragilidades que não são próprias para um candidato ao título.

Fazendo uma análise mais individualista, a ideia presente no começo do artigo volta a ganhar peso. Não creio que Danilo possa fazer melhor do que William Carvalho na contensão; não advogo a ideia de que João Mário não possa ser o responsável pela variação de processos; não vejo melhor solução do que Adrien, devido à inteligência táctica numa equipa que tanto poderá jogar num 4x4x2, num 4x4x3 ou num 4x2x3x1. Em paralelo, sou um admirador assumido do talento de Rafa, acreditando, portanto, que terá fortes hipóteses de lutar pela titularidade na equipa. As suas possibilidades desceriam caso existisse um avançado tremendo que libertasse Nani para a ala e que acompanhasse Ronaldo. Não havendo, volto a afirmar que Fernando Santos quis, hoje, apresentar um molde. Mas um molde concreto.

Como não acontecia há algum tempo, o horizonte da selecção pressupõe uma convocatória constituída por um considerável número de jogadores que pertencem ao mesmo núcleo competitivo e que estão na linha da frente pela luta pelos lugares do onze. Estamos numa fase experimental, mas, como todas as fases, terá o seu fim. É justo lançarmos o seguinte desafio: o que pensará Fernando Santos em França para o sector do meio-campo, por exemplo, quando tem a seu dispor três jogadores em excelente forma e que coabitaram durante a época inteira? Embora falemos de uma competição com poucos jogos, a exigência competitiva poderá convidar a alterações pontuais de um jogo para o outro. Convém ter um banco forte. Convém, também, ter jogadores que possam corresponder de diversas formas e que estejam preparados para outras dificuldade que, hoje, não estiveram dentro do estádio de Leiria. Seria imaginável que, no rescaldo, teríamos pouca análise táctica – o mesmo não se poderia dizer sobre qual seria o nosso maior obstáculo. Os testes de aferição não contam para a nota, mas há-que ganhá-los.

A Figura:

Stoyanov – O guarda-redes búlgaro teve uma noite de sonho e salvou a Bulgária em diversos lances. Exibição fantástica num duelo interessante com Ronaldo, ficando para a história, e para a sua história pessoal, o penálti que defendeu.

O Fora-de-Jogo:

Portugal – Uma selecção que quer ser candidata à vitória final em França não pode escorregar nos testes que antecedem a fase final do Europeu – muito menos perder com lances evitáveis.

Foto de Capa: Seleções de Portugal

A Prata da Casa Vale Mais

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No futebol de hoje em dia os valores são todos calculados na base dos milhões. As transferências e os ordenados atingem valores que não passam indiferentes a ninguém enquanto que os empresários e os clubes apresentam facturações que deixam a maior parte das empresas de qualquer outro sector a salivar. Este é o novo Mundo do futebol; um mundo acima dos seis dígitos, que influencia milhões de pessoas e movimenta milhões de euros.

Neste mundo luxuoso, os clubes já não se podem dar ao luxo de funcionarem apenas como clubes. Têm de pensar empresarialmente e de facto já o fazem. Os modelos de gestão implicam preocupações constantes com o equilíbrio das contas e da balança comercial.

Contudo, pela Europa fora o futebol português continua a ser menosprezado e muitas das grandes equipas europeias encaram como um “alívio” o facto de lhes calhar um clube português como adversário. No entanto, são esses grandes clubes que cobiçam os jogadores das equipas nacionais. Por muito que nos menosprezem, são inegáveis todos os brilhantes contributos que o sangue lusitano já deu ao Mundo do futebol, tanto em jogadores como em treinadores e equipas.

Mas o problema português no futebol dos milhões reside no facto de continuarmos a ser um país com poucos dígitos, tanto demograficamente como financeiramente, incapazes de competir economicamente com os grandes tubarões do futebol europeu. Mesmo assim a história tem vindo a provar-nos que o dinheiro atrai jogadores mas não quer dizer que construa equipas. Quando chegamos a esta conclusão, e face à realidade portuguesa, na minha opinião só há mesmo um caminho a seguir: a formação.

Como é do senso comum o Sporting CP tem das melhores academias de formação do mundo. Este é também um facto inegável e, apesar de o presidente Bruno de Carvalho já ter dito que o objectivo é apostar na formação, podemos correr o risco de passá-lo para segundo plano, jogando pelo seguro e beneficiando com a experiência de jogadores estrangeiros e mais velhos. E é num clube como o Barcelona que está o segredo daquilo que deve ser feito no Sporting CP. Um puro investimento na formação, criando não só uma identidade e um espírito de leão desde as camadas mais jovens como também um modelo e uma filosofia de jogo transversal a todos os escalões. Isto implicará que os vários treinadores estejam em permanente contacto e sintonia, para que a integração e a adaptação dos jogadores mais jovens em escalões superiores seja feita harmoniosamente.

Os futuros melhores jogadores do Mundo têm de estar aqui Fonte: Sporting CP
Os futuros melhores jogadores do Mundo têm de estar aqui
Fonte: Sporting CP

Claro que ter este objectivo é um projecto ambicioso, que só pode ser alcançável a longo prazo, mas não é por isso que deixo de acreditar ser o caminho correcto para o Sporting CP e para o futebol português. Se queremos ganhar o maior número de competições, inclusive europeias, e não temos dinheiro para ir buscar os melhores do Mundo, temos de criá-los e fazer o máximo possível para mantê-los. Mais do que os melhores jogadores do mundo, têm de ser formadas as melhores equipas do Mundo. Isto requer o desenvolvimento das capacidades físicas, técnicas, tácticas e psicológicas nos nossos jogadores, desde que calçam as primeiras chuteiras até que as arrumam de vez.

Isto é o que o Barcelona tem de admirável, e que, passados tantos anos a desenvolver um modelo assim, tornou as suas equipas nos adversários mais temíveis do mundo do futebol. É o contrário de equipas como PSG, Manchester City e United, Chelsea e Real Madrid, em que, quando a equipa não rende, se gastam os milhões e a equipa continua sem render. É o mesmo com o FC Porto, que gastou os seus milhões mas perdeu a sua identidade. Esta parece-me ser a ambição do Presidente Bruno de Carvalho e eu espero que consiga realizá-la em prol de um futuro brilhante para o Sporting CP.

Garantida a qualidade interna das equipas, começam a entrar os milhões da FIFA, o que permitirá segurar os jogadores mais importantes e fundamentais, sendo que gastos em reforços poderão ser apenas pontuais e para posições essenciais. Isto porque eu não quero mais Boulahrouz e Onyewus, quero mais Rubens Semedos, Tobias Figueiredos e Domingos Duartes; não quero mais Evaldos e Pranjics, quero mais Cédrics Soares, Mauros Riquichos e Ricardos Esgaios; não quero mais Schaars nem Elias, quero mais Adriens, Joões Mários, Franciscos Geraldes, Williams e Zezinhos, ou até Ryans Gaulds. Não quero mais Carrillos; eu quero o Iuri Medeiros ou mais Matheus Pereiras e Daniel Podences.

Muitos outros ficaram por dizer mas creio que consegui transmitir a minha ideia. Concluo da seguinte forma. Para o futuro do Sporting eu não quero mais Gelsons Fernandes; quanto aos únicos Gelsons que eu quero, os sportinguistas hão-de saber quais são.

Foto de Capa: Sporting CP

Olheiro BnR – Hugo Vieira

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Mais uma convocatória da principal selecção nacional portuguesa e novamente surpreende que, num país com tão poucas referências ofensivas de excelência, se continue a ignorar os poucos goleadores lusos que vão demonstrando, semana após semana, que poderiam ser a chave para pelo menos minimizar as enormes lacunas que a “Equipa das Quinas” tem sofrido na posição “nove” nos tempos mais recentes da sua história. Um desses exemplos, lembre-se, é Bruno Moreira, que, aos 28 anos, parece viver o auge das suas capacidades, somando 18 golos no Paços de Ferreira, isto depois de já ter facturado por 14 ocasiões na temporada anterior.

Quanto ao outro, trata-se daquele que considero o jogador que mais mereceria ser o ponta de lança da selecção nacional no próximo Europeu: Hugo Vieira, do Estrela Vermelha de Belgrado. Afinal, aos 27 anos, após ser vítima de algumas más escolhas na carreira e, acima de tudo, da dor resultante do desaparecimento precoce da companheira, Hugo Vieira vive um excelente momento de forma, assumindo-se de pleno direito como a principal referência ofensiva do histórico clube sérvio, onde é um verdadeiro ídolo de uma fanática e muito numerosa massa adepta.

Salto para a ribalta em Barcelos

Hugo Filipe da Costa Vieira nasceu a 25 de Julho de 1988 em Galegos e iniciou a sua carreira num modesto clube local, mais concretamente, o Santa Maria, onde permaneceu durante a fase mais embrionária do seu percurso. Pelo meio, ainda assim, viveu experiências nos franceses do Bordéus e no Estoril-Praia, dois emblemas que representou ainda antes dos 20 anos de idade e onde falhou a adaptação, não se conseguindo impor. O grito do Ipiranga do atacante surgiria no seguimento da passagem pelos canarinhos, em 2008/09, quando, na primeira divisão distrital de Braga, ao serviço do Santa Maria, apontou 48 golos, números que contribuíram decisivamente para a subida desse emblema aos campeonatos nacionais e que valeram a Hugo Vieira o salto para o Gil Vicente. Nesse emblema de Barcelos, e depois de uma temporada de adaptação (14 jogos, três golos), o móvel ponta de lança daria os primeiros passos rumo à ribalta em 2010/11, com 12 golos em 28 jogos. E esse percurso ascendente conheceria o seu primeiro ponto alto na época seguinte, que marcou o regresso do Gil Vicente ao principal escalão do futebol português, quando Hugo Vieira facturou por sete vezes em 33 jogos oficiais.

Para quando a chamada à selecção? Fonte: Facebook Oficial de Hugo Vieira
Para quando a chamada à selecção?
Fonte: Facebook Oficial de Hugo Vieira

Itália 1-1 Espanha: Obrigado, Aduriz!

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Arrependo-me sempre de ver jogos amigáveis. Já só vejo aqueles de maior cartaz, como era o caso do Itália – Espanha de hoje, reedição da final do último Europeu, mas desiludo-me sempre. Jogar a feijões não é o mesmo que jogar uma final. Hoje, no entanto, havia um atrativo extra: Aritz Aduriz.

Há meses que meia Espanha pedia a convocatória do avançado basco. Ele, que até hoje contava apenas com 15 minutos de jogo na seleção, numa partida há seis anos atrás, está agora, aos 35 anos, a fazer a melhor época da sua carreira, somando já 31 golos em 48 jogos. No entanto, Del Bosque, teimoso como todos os bons selecionadores, vinha insistindo em convocar apenas Diego Costa, Morata e Paco Alcácer. Ora, desta feita, Aduriz teve finalmente a sua oportunidade, devido a problemas físicos de Diego (pelo menos, é essa a explicação dada pelo selecionador).

Diria que toda a gente ficou satisfeita com a lesão do hispano-brasileiro. É que, por um lado, é difícil não simpatizar com a história de Aduriz, um tipo que já bem depois dos trinta anos se recusou a entrar na fase descendente da carreira e desatou a marcar golos. Por outro, é difícil simpatizar com Diego Costa. Desde logo, há sempre quem não veja os jogadores naturalizados com bons olhos. Se a isso juntarmos o seu estilo conflituoso e, o mais grave de tudo, a falta de pontaria que tem revelado ao serviço da seleção, apostaria que ninguém em Espanha ficou triste pela ausência de Diego Costa na convocatória. Talvez apenas algum adepto mais fanático do Atlético.

Aduriz exibe a camisola da seleção espanhola Fonte: UEFA Euro'2016
Aduriz exibe a camisola da seleção espanhola
Fonte: UEFA Euro’2016

Mas, se o jogo desiludiu devido à falta de intensidade e ao ritmo lento típico dos amigáveis, Aduriz não defraudou as expetativas. O adversário nem era o ideal para um avançado, que os italianos têm fama de defender bem, mas Aduriz lá estava, ao minuto 69, para fazer a recarga na pequena área e estrear-se a marcar pela seleção. Morata parte de posição irregular antes de fazer o primeiro remate e Aduriz só teve de encostar, é verdade, mas não há golo feio; feio é não marcar, como diria Dadá Maravilha. Agora fica a curiosidade de saber o que Del Bosque fará nas próximas convocatórias.

Quanto às restantes opções do selecionador espanhol, a titularidade de De Gea significa que Casillas corre sérios riscos de não ser titular no Europeu, até porque o guarda-redes do Manchester United fez mais algumas intervenções de grande qualidade, só não sendo capaz de travar o remate de Insigne, que deu o golo à Squadra Azzurra. A pálida exibição da seleção espanhola deixou também claro como é difícil substituir Busquets e Iniesta, que perderam o jogo por problemas físicos. Do outro lado, mesmo sem ter nenhuma grande estrela mundial (exceção feita a Buffon), a seleção italiana parece preparada para fazer frente a qualquer adversário no Europeu, como, de resto, é tradição.

Mas, deste jogo, o que levo é a história de Aduriz e as ilusões que a mesma cria. Hélder Postiga, por exemplo, tem 33 anos. Quem sabe se não desatará a marcar golos nas próximas duas épocas? E Ederzito? Afinal ainda tem imensas épocas pela frente para se tornar num finalizador refinado. Hugo Almeida, Carlos Saleiro, Nélson Oliveira, há esperança para todos! Obrigado, Aduriz.

Foto de Capa: UEFA Euro’2016

Luisão: O rosto do Benfica do século XXI (e ele que não se esqueça disso)

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Depois de uma segunda metade da década de 90 verdadeiramente desgraçada a nível desportivo, financeiro e organizacional, o Benfica com Vilarinho e Vieira transfigurou-se. Para melhor, admito. E, sendo que considero LFV um péssimo gestor no âmbito desportivo (futebol), pouco me custa admitir que a nível institucional e estrutural há uma grande obra que não pode ser escamoteada, com a SAD a apresentar resultados financeiros interessantes, mas com um passivo galopante.

Atrás afirmei que Vieira é péssimo no âmbito desportivo. Sim, é mesmo. O Benfica é bicampeão? É. Mas o problema acontece quando o Presidente se intromete em campos que não são os seus, confundindo coisas que não podem ser confundidas. Mas isso é motivo de outra crónica. Após a Liga, talvez. Mas outra coisa também é verdade: existiram boas decisões ao nível das aquisições. No século XXI, o de Vieira no Benfica, a História consagrará Simão Sabrosa como o 1.º grande nome do clube. Falamos de um craque de 1.ª linha europeia que tornou o Benfica numa equipa mais temível do que até aí. E no título de 2005, convenhamos, levou a equipa às costas com os seus 22 golos e as suas inúmeras assistências. Não me lembro de um jogador sozinho com tanto peso no sucesso colectivo do Benfica.

Mas no âmbito das decisões de Vieira existiram outras que demoraram mais a vingar. Case in point: Luisão. Quando o central chegou, já Simão tinha dois anos de Benfica, com o ex-Cruzeiro a receber a responsabilidade de ser o patrão da defesa. A ser no sector recuado o que o extremo era para o ataque: decisivo e com qualidade extra. Não foi… Pelo menos desde logo. A primeira metade de 2003/04 foi de uma falta de qualidade confrangedora, quase em níveis “Edcarlianos”. Assustava a facilidade com que era ultrapassado. Mas Camacho persistiu e, apesar das constantes exibições sofríveis, tornou-o no patrão do sector defensivo. No final do ano, o prémio: a subida ao Jamor com a Taça de Portugal, já como titularíssimo. E a partir de 2004/05 nunca mais foi o brasileiro contestado como pilar da equipa. E os títulos sucederam-se. Menos do que aqueles de que eu gostaria, mas vieram, e sempre com Luisão a marcar o ritmo da defesa e mais tarde a capitanear-nos, após o ocaso de Nuno Gomes (jogador e capitão exemplar). Em retrospectiva, se Luisão coleccionou, entre outros títulos, quatro Ligas portuguesas, duas Taças de Portugal, duas Taças das Confederações, uma Copa América e mais de 40 presenças nos AA do Brasil, em grande medida deve-o à persistência de José António Camacho, que manteve a aposta numa fase crítica e viu nele potencial.

Com 13 temporadas de águia ao peito, Luisão é então o rosto do Benfica XXI até agora. Daqui por 50 anos, quando lermos os canhanhos da História Ilustrada do Século XXI do Sport Lisboa e Benfica, o Capitão estará lá, com o nome gravado a ouro. Como um central de qualidade, um capitão com C e com um bom palmarés. Luisão será o Benfica deste tempo em formato de jogador. A representação da Mística, numa linhagem consagrada, com nomes como António Veloso, Humberto Coelho, Toni, ou Mário Coluna. E isso nunca seria fácil, mas, a meu ver, o brasileiro conseguiu esse lugar na História, neste clube de capitães.

Mas ao longo do percurso, apesar de ter uma postura exemplar em campo e de não ficar atrás fora dele, por vezes Luisão teve algumas “variações em Ré Menor” ao longo destes anos. Não raras foram as ocasiões em que persistiu na conversa, em público, de querer sair da Luz. E já como um dos capitães de equipa. E, aquando das últimas renovações, houve sempre algum “sururu”… E esta semana o brasileiro falou em jogar até aos 40 anos. Bom, nada contra. Mas precipitou-se, porque isso dificilmente acontecerá na Luz! O capitão tem 35 anos, com contrato até 2017. No final do contrato terá 36 anos e, pelo que temos visto, dificilmente conseguirá bater os centrais após essa data. E, olhando para o comportamento do brasileiro, temo que ele persista no seu nome e no seu peso dentro do balneário para se eternizar até lá para 2017.

O capitão do SL Benfica está com vários problemas físicos nesta temporada Fonte: SL Benfica
O capitão do SL Benfica está com vários problemas físicos nesta temporada
Fonte: SL Benfica

O início desta temporada já foi algo penoso a nível exibicional para Luisão, mas acredito que ele tem ainda algo mais para dar ao Benfica. Pelo menos na próxima temporada. E não excluo a possibilidade de uma renovação até 2018, mas sempre com alguma redução salarial e numa perspectiva de passagem de testemunho para a geração seguinte. É que Lindelof tem pinta de patrão e Lisandro é bom central também. Obviamente que, se o central estiver bem fisicamente, será opção. Mesmo com 37/38 anos. Mas não podemos ter ilusões: ao nível a que o Benfica pretende estar isso é muito difícil de acontecer… E daí ter falado atrás em precipitação por parte do jogador.