Este era provavelmente o jogo menos esperado do dia. Chile e Austrália fechavam o segundo dia da competição e a primeira jornada do grupo B. Os chilenos, para poderem confirmar a sua condição de seleção que pode surpreender e ultrapassar a fase de grupos, estavam forçados a vencer este jogo, contra a equipa mais fraca do grupo, e assim o fizeram. Entraram melhor, com dois golos quase seguidos, aos 12 e 14 minutos (Alexis Sanchez e Jorge Valdivia foram os marcadores dos tentos) da primeira parte, que deram uma confiança à formação da América do Sul que lhe permitiu ir controlando o jogo como bem pretendia. Parecia que o jogo iria ter contornos de goleada, mas um golo de Tim Cahill – de longe o melhor jogador da equipa da Oceania -, aos 35 minutos, mudou tudo. A partir daí, os Socceroos começaram a aparecer mais no jogo.
Na segunda parte, o jogo ficou mais aberto, e ambas as equipas procuraram o golo. A Austrália é uma seleção com muita entrega, mas a qualidade da maioria dos seus jogadores não permite que consigam um resultado melhor do que o que aquele que iam tendo. Logo no início, os australianos empataram, mas o golo foi bem anulado. Apesar de terem a bola, os australianos nunca conseguiam saber o que fazer com ela, criando poucas oportunidades – sendo que as poucas que tinham eram com base em cruzamentos para a área que se mostravam pouco efetivos. O Chile controlava o jogo, esperando que a defesa da Austrália se abrisse para dar o golpe final. O tal golo tranquilizante apareceu ao minuto 92; Jean Beausejour, com um forte remate fora da área, deu cabo das aspirações dos Socceroos de ganhar o jogo.
No final, o resultado de 3-1 é pesado para os australianos mas justo para os chilenos, que são premiados pela forte entrada que tiveram no jogo. A Austrália bateu-se bem, mostrou ser uma equipa esforçada, mas fica a ideia de que, se soubessem o que fazer com a bola, o resultado poderia ter sido outro. É importante ainda destacar Cahill; o australiano marcou pelo terceiro mundial consecutivo, tornando-se o primeiro jogador daquele país a atingir este feito; com este golo também pode dizer que já marcou nos seis continentes onde existe futebol.
Jogadores chilenos festejam o segundo golo Fonte: FIFA
Falando agora da arbitragem, ao fim de quatro jogos pode dizer-se que houve um jogo sem casos, algo grave tendo em conta que estamos a falar da maior competição do mundo e onde supostamente estão reunidos os melhores árbitros do mundo.
Dia 18 (quarta-feira) vai jogar-se um dos jogos mais decisivos desta fase de grupos, quando a Espanha defrontar o Chile. Neste jogo vamos saber se a campeã do mundo fica pela fase de grupos ou não. A formação da América do Sul promete dar luta à Espanha e será sem dúvida um jogo muito interessante de se seguir.
A Figura
Alexis Sanchez – Marcou e teve sempre presente no ataque chileno. Foi uma autêntica dor de cabeça para os australianos. É o melhor jogador chileno e, apesar de ter boa companhia no ataque, o Chile vai depender sempre da sua inspiração para poder pensar em voos mais altos.
O Fora de jogo
Ataque australiano – Como já referido, a Austrália poderia ter feito mais quando partia para o ataque. Foi o ponto fraco desta seleção e que de certa forma contribuiu para a derrota.
Espanha-Holanda: o primeiro jogo deste Mundial a opor dois candidatos ao título; a reedição da final de 2010. Quando me sentei no sofá para ver este interessantíssimo duelo europeu estava à espera de uma Holanda fechada atrás, explorando o contra-ataque, e de uma Espanha claramente dominadora, jogando em posse e chegando ao golo com maior ou menor dificuldade. Na primeira parte foi mais ou menos isso que aconteceu – a Espanha dominou, teve mais bola e acabou por marcar mesmo primeiro (num penalty duvidoso cometido sobre Diego Costa e convertido por Xabi Alonso).
A verdade é que a realidade acabou por ultrapassar o sonho dos neerlandeses mais crentes: a Holanda conseguiu, em pouco menos de quarenta e cinco minutos, completar uma mão cheia de golos e goleou a selecção campeã mundial e bi-campeã europeia. A reviravolta começou a ser operada ainda na primeira parte, com um voo absolutamente sublime do capitão Van Persie e acabou com Casillas deitado no chão, impotente perante a velocidade de execução de Robben, e o 1-5 no placard.
A vitória da Holanda é justa, mas os números são claramente exagerados. A diferença de golos não espelha a diferença de qualidade apresentada pelas duas equipas. A Espanha, sem deslumbrar, foi mais forte no primeiro tempo. Porém, os deuses do futebol acabaram por recompensar a determinação dos holandeses, que tiveram na capacidade de finalização o seu grande trunfo, e os pupilos de Van Gaal terminaram a partida com uma goleada histórica que sabe a desforra, depois da final perdida no último Mundial. Uma coisa é certa: embora este resultado venha baralhar as contas do grupo B, nem tudo está perdido para os espanhóis, nem a Holanda ganhou mais do que três pontos.
Robben, com dois golos, foi uma das figuras do jogo Fonte: Getty Images
Em relação à Espanha, importa, acima de tudo, sublinhar a incapacidade para reagir à adversidade e a surpreendente falta de coesão defensiva. Piqué e Ramos ficaram mal na fotografia em mais do que um golo; Iniesta e Silva tiveram dificuldade em pautar o ritmo do jogo e em encontrar espaços no denso corredor central; Diego Costa, vaiado a cada toque na bola, deu profundidade mas esteve longe do golo; Torres entrou muito mal, já num momento em que pouco podia fazer. Enfim, faltou dinâmica, velocidade e rasgo. A Espanha vai ter de fazer muito mais para passar a fase de grupos, uma vez que o Chile se perfila como um adversário bastante complicado. Vai ser curioso ver o onze que Del Bosque vai apresentar no próximo duelo: fará uma pequena revolução ou a confiança nos futebolistas que hoje estiveram menos bem não terá sido abalada?
Em relação à Holanda, foi interessante ver como resultou o 5-2-1-2. Van Gaal optou por jogar com três centrais, contrariando a ideia de jogo apresentada durante toda a qualificação, e deu-se muito bem. Vlaar esteve em especial destaque, com uma exibição monstruosa e autoritária. Já De Vrij, que cometeu o penalty, foi o menos feliz da defesa. No meio-campo, se De Guzman fez uma exibição esforçada – é muito rápido e forte – mas revelou algum desacerto com a bola no pé (tanto que, já amarelado, foi o primeiro a sair), De Jong foi o pitbull que todos conhecem e encheu o campo com a sua bravura – foi fundamental na estratégia da equipa. Depois, Blind com as duas assistências para os primeiros dois golos, também merece realce – não é particularmente rápido nem tem uma técnica prodigiosa, mas erra muito pouco, decide quase sempre bem e mostrou-se muito capaz nos lançamentos longos. Do lado oposto, Janmaat não foi mais do que discreto. De resto, Sneijder é um maestro de uma classe incomensurável e fez um grande jogo no papel de “número 10”, mas o destaque vai inteirinho para Robben e Van Persie.
A Figura
Robben e Van Persie – Merecem partilhar o título de figuras do jogo. Com dois golos cada, tornaram-se os dois primeiros holandeses a marcar em três edições do Campeonato do Mundo (2006, 2010 e 2014). Jogando à frente de Sneijder neste novo sistema de Van Gaal, acabaram por brilhar. O avançado do Bayern revelou o seu génio endiabrado com duas arrancadas fenomenais concluídas com a bola no fundo das redes; o avançado do United mostrou a sua “ratice” e o seu sentido de oportunidade – tanto no cabeceamento em chapéu no primeiro golo como na forma como roubou a bola a Casillas para o quarto tento dos homens dos Países Baixos. Uma dupla de sonho!
O Fora-de-Jogo
Iker Casillas – Simboliza a desconcentração e a apatia da Espanha. Embora tenha sofrido uma falta não assinalada no terceiro golo, a forma como perdeu o esférico no quarto golo e a maneira como foi batido no quinto provam mais uma vez que a perda da titularidade no Real não foi uma decisão descabida. Como capitão de La Roja, e tendo ele a experiência que tem, deveria ter reagido com outra tenacidade quando a Espanha se viu em maus lençóis. Não foi o único culpado pelo descalabro, mas foi definitivamente um dos responsáveis pela derrocada de nuestros hermanos. Perderá a titularidade na selecção, tal como no clube?
O primeiro jogo de hoje ficará para a História do Mundial de 2014 como aquele em que uma das equipas marcou três golos legais e ganhou por 1-0. A partida começou com um maior pendor ofensivo por parte do México, que apostou num esquema com três centrais para proteger a sua baliza. O ímpeto inicial dos americanos teria sido coroado com a chegada à vantagem logo aos 11 minutos, não fosse o árbitro colombiano Wilmar Roldán ter anulado um golo a Giovani dos Santos em que o mexicano está em linha com a defesa.
A partir daí os Camarões tentaram reagir, com Eto’o também a colocar a bola na baliza contrária. No entanto, no caso do (ainda) jogador do Chelsea, não houve qualquer dúvida quanto à irregularidade do seu posicionamento. Com Alex Song a comandar as operações no meio-campo, o dinâmico Assou-Ekotto a subir bem pelo lado esquerdo e o sempre perigoso Eto’o a mostrar-se disponível para assustar, os Camarões foram-se instalando no meio-campo contrário. Nesta altura, o “português” Herrera demonstrou toda a sua qualidade e disponibilidade na manobra defensiva da equipa, sendo sempre um dos mais esclarecidos. Aos 30 minutos, o México subiu à área dos Camarões e fez golo pela segunda vez. Mas, também pela segunda vez, a equipa de arbitragem lembrou-se de anular um golo limpo. E este ainda é mais flagrante: após a marcação do canto, Giovani dos Santos está nitidamente atrás dos defesas. Depois da polémica no jogo de abertura, a insistência da FIFA em resistir caprichosamente ao recurso às imagens voltou a arrastar o nome do futebol pela lama, na competição mais importante do planeta e com o mundo inteiro a ver: até agora, dois jogos realizados, duas arbitragens de terceira divisão.
Na segunda parte, o jogo voltou a ter a mesma toada. O México tentava chegar ao golo com maior insistência e o grande pormenor de Giovani dos Santos a isolar Oribe Peralta quase surtia efeito. Pouco tempo após um lance fortuito protagonizado por Assou-Ekotto que quase dava a vantagem à sua equipa (livre desviado na barreira), o México chegou ao terceiro golo, o primeiro a contar. Grande trabalho de Herrera a desmarcar Gio dos Santos, o ex-Barcelona permitiu a defesa de Itandje mas, na recarga, Peralta não perdoou. Vantagem merecida para os aztecas.
Com a equipa de arbitragem a anular dois golos limpos a Giovani dos Santos, teve de ser Oribe Peralta a dar a vitória ao México Fonte: raleigh.quepasanoticias.com
Em desvantagem, os Camarões mostraram-se pouco pressionantes e sem capacidade para alterar o rumo dos acontecimentos: perante o abrandamento de ritmo do México, bem ao estilo latino-americano, os homens de Volker Finke pareceram demasiado apáticos e não conseguiram imprimir a intensidade necessária. Nem quando a equipa passou a jogar com dois pontas-de-lança, após a entrada de Webó a 10 minutos do fim, a situação se alterou. Até final, destaque apenas para uma jogada perigosa pelo lado direito do ataque camaronês que a defesa contrária cortou para canto, e o bom cabeceamento de Moukandjo que Ochoa agarrou com estilo. Do lado Mexicano, Chicharito falhou completamente sozinho um golo certo, após perda de bola infantil de Nounkeu. O avançado do Manchester United já não marca pela selecção há quase um ano.
Vitória justa do México, que mesmo sem deslumbrar cumpriu o objectivo. Com este resultado, a ideia de que o segundo lugar do grupo será disputado por mexicanos e croatas ganha ainda mais força. Os Camarões jogarão contra a Croácia a continuidade neste Mundial, e terão de se mostrar mais aguerridos para conseguirem algo mais do que aquilo que fizeram nesta tarde chuvosa em Natal.
A Figura:
Herrera – O médio do FC Porto não fez uma grande temporada, mas continua a mostrar indícios de que a sua forma só poderá subir. Hoje fez um jogo inteligente tanto a atacar como a defender, mostrando toda a sua importância numa equipa jovem e em processo de renovação. A jogada do golo da sua equipa foi dele. E muito bem desenhada, por sinal.
O Fora-de-Jogo:
Arbitragem – Ontem os dois últimos golos do Brasil tiveram mão do japonês Yuishi Nishimura, hoje foi a vez de o colombiano Wilmar Roldán resolver subtrair dois golos legais ao México. No primeiro caso, a Croácia podia ter saído do jogo de abertura com grandes perspectivas de passagem para a fase seguinte, mas foi-se embora sem nada; no segundo, o México só não foi prejudicado nas contas finais porque conseguiu fazer um golo que o árbitro lá resolveu validar. As arbitragens insistem em escrever elas próprias a história dos jogos, prejudicando várias equipas. Se o objectivo da FIFA for desprover o futebol de qualquer credibilidade, diria que está a ter um enorme sucesso.
Impossível deixar de iniciar esta minha participação no Bola na Rede sem agradecer à administração pelo convite endereçado. Fui destacado para trabalhar no Mundial do Brasil e é um enorme prazer poder contribuir, de alguma forma, para que os leitores em Portugal possam ter uma noção um pouco mais aprofundada de como a competição é vivida por cá, tanto pelos brasileiros, como pelos milhares de adeptos que estão a chegar vindos dos quatro cantos do Mundo. Ontem, no dia que marcava o arranque da prova, o país parou para ver jogar a canarinha.
De facto, neste particular, os brasileiros são um pouco como os portugueses quando receberam o Campeonato da Europa em 2004: queixam-se de tudo e mais alguma coisa relativamente ao dinheiro que foi gasto pelo governo para acolher o torneio, mas, assim que a bola começa a rolar, ninguém mais quer saber disso e toda a gente abraça a prova. O principal foco de contestação surgiu em São Paulo e, mesmo aí, já se vê adeptos a vibrar por todo o lado. As cores do Brasil decoram as janelas, metade dos carros circulam com uma bandeira pendurada em cada vidro, a amarelinha com o nº 10 nas costas é vista em todas as ruas e passeios do país. Não tenho dúvidas, por isso, de que – apesar de todas as dificuldades que são conhecidas, com estádios e acessos ainda por terminar – este vai ser um Mundial extraordinário e o povo brasileiro vai confirmar-se como um dos mais animados e hospitaleiros de sempre na história da competição.
Quanto a nós, portugueses, que entramos em campo no dia 16, há uma grande expectativa por parte de todos os que estão presentes no Brasil relativamente à nossa prestação. Tenho estado com jornalistas alemães e nenhum deles dá a vitória da sua equipa como garantida nesse jogo inaugural contra as nossas cores, revelando um enorme respeito pelo Cristiano Ronaldo e por um colectivo forte, que – dizem eles – “nunca é fácil de ultrapassar”. O que é de espantar, tendo em conta a frieza e a arrogância que a maioria dos germânicos normalmente revela quando fala sobre a Mannschaft. Resta-nos, por isso, esperar que os nossos craques consigam dar conta do recado e nos ofereçam a primeira grande alegria nesta caminhada que se espera triunfal.
Amanhã regressarei com mais pormenores, sempre em directo do coração da Copa.
Depois de toda a turbulência e polémica, a bola começou finalmente a rolar! Foi no Arena Corinthians, em pleno São Paulo, e com mais de 60 mil espectadores nas bancadas, que os olhos do Mundo (futebolístico) se voltaram para o Brasil. Na partida inaugural da competição, com a realidade da ‘Copa’ em casa e com o sonho do Hexa no pensamento, Scolari escalou o onze-base da ‘Canarinha’ desde a vitória na Taça das Confederações, no ano passado; do outro lado, uma Croácia com nomes interessantes, e com duas alterações forçadas em relação à equipa apresentada pelo Bola na Rede: não surgiram Pranjic e Mandzukic, foram titulares Vrsaljko e Jelavic.
Como era expectável, o Brasil tomou as rédeas da partida desde cedo. Num 4-2-3-1 perfeitamente declarado, apresentou, no entanto, uma nuance: Óscar surgiu pela direita e Neymar mais pelo centro (com Hulk do lado esquerdo do ataque), ainda que com a possibilidade (e realidade) de constantes trocas entre os três. Para contrariar, a Croácia apresentou-se com um bloco médio-baixo, utilizando, a defender, um 4-4-2 clássico – Kovacic juntou-se a Jelavic na primeira linha defensiva, e no quarteto do meio-campo Perisic e Olic fecharam as alas, com Modric e Rakitic a ocuparem o espaço central.
A equipa comandada por Niko Kovac trazia a lição bem estudada e dificultou imenso o trabalho à turma brasileira, fechando muito bem os corredores laterais, beneficiando ainda da pouca vivacidade e velocidade do Brasil no processo ofensivo. Teve ainda a sorte (e o mérito) de marcar bem cedo, após um lance conduzido por Rakitic, com o cruzamento de Olic, desde a esquerda, a encontrar um infeliz Marcelo que haveria de, involuntariamente, desviar a bola para a sua própria baliza (11’).
Olic foi sempre um perigo à solta para a defesa brasileira. Fonte: FIFA
De forma natural, a equipa de Scolari, sentindo-se acossada, tentou reagir: Neymar tornou-se, deliberadamente, o comandante da equipa, pegando inúmeras vezes na bola ainda na primeira fase de construção de jogo; Paulinho soltou-se um pouco mais do duplo pivot; e Óscar começou a dar sinais de vida, preferencialmente pelo lado direito do ataque. Estes dois últimos, aliás, criaram as duas maiores oportunidades de perigo do Brasil antes do génio de Neymar começar a dizer ‘presente’ no Mundial que tantos querem que seja o da afirmação do astro do Barcelona – foi ao minuto 29 que o número 10 brasileiro pegou na bola e desferiu um pontapé com o pé esquerdo que, sorrateiramente, foi embater no poste de Pletikosa e resgatou os (já) aflitos e impacientes rostos brasileiros. Com o empate restabelecido, seria suposto que a ‘Canarinha’ tomasse completamente conta do encontro e encostasse às cordas o seu adversário; não foi, porém, isso que sucedeu. Sempre apoiados nos guardiões-sinaleiros da equipa – Rakitic e Modric – os croatas mantiveram a sua estratégia, criando perigo sobretudo pelo lado esquerdo, com Olic em plano de evidência (mas também Perisic a aparecer a espaços), tentando servir um Jelavic muitas vezes mal posicionado.
Depois do descanso, o reatar do jogo foi mais morno e, por isso, menos interessante. Sempre com uma percentagem de bola superior, o Brasil nunca se impôs nem tomou conta do jogo como seria expectável, mantendo dificuldades em lidar e penetrar num bloco defensivo coeso dos croatas – as excepções eram, aqui e ali, arrancadas de Óscar ou Neymar. A Cróacia, por sua vez, nos poucos momentos em que conseguia trocar a bola com algum à-vontade em plena organização ofensiva (e não em rápida transição como sucedeu maioritariamente nos primeiros 45’) não levava homens suficientes para assaltar a baliza de Júlio César, por certo com receio de abrir brechas atrás, permitindo ao Brasil explorar aquela que é verdadeiramente a sua maior arma: as rápidas transições verticais (em que Hulk se torna um jogador muito mais preponderante do que foi hoje).
Perante este cenário, o jogo foi arrastando-se com a ‘cumplicidade’ da janela de substituições que se abriu depois dos 60 minutos: Kovac trocou Kovacic por Brozovic, enquanto Scolari lançou Hernanes e Bernard nos lugares de Paulinho e Hulk, respectivamente. Contudo, os protagonistas do lance capital do jogo já estavam em campo desde o apito inicial … Na verdade, foi à passagem do minuto 70 que a partida se desequilibrou: na grande área croata, recebendo a bola de costas para a baliza, Fred, sentindo o ligeiro contacto de Lovren, deixou-se cair, num movimento que, aos portugueses, fez lembrar as comemorações do último 10 de Junho. Lá como cá, alguém haveria de acudir ao desafortunado, e, neste caso, o árbitro Nishimura não teve pudor em assinalar grande penalidade. Assumindo o momento, Neymar selou a cambalhota no marcador e deixou o Brasil à porta da primeira vitória do ‘seu’ Mundial.
Após converter a grande penalidade, Neymar festeja. Fonte: FIFA
Mesmo adiantando-se no campo, a Croácia não teve, desde logo, uma verdadeira reacção. Kovac fez sair um lutador mas inconsequente Jelavic e deu ao jogo Rebic, fazendo Olic derivar para o meio. Também entretanto Scolari procurou fortalecer o meio-campo, fazendo entrar Ramires para o lugar de um Neymar merecidamente ovacionado. Mas mesmo na festa, o Brasil ainda sofreu: Júlio César foi determinante a parar remates de Modric e Perisic no momento em que a selecção croata, dando o tudo por tudo, ‘esticou a manta’ e desguarneceu a defesa. Era exactamente o que o Brasil e Óscar procuravam para dar a estocada final, algo que sucedeu mesmo em cima do minuto 90, num contra-ataque em que o médio do Chelsea, de forma pouco ortodoxa, num remate de ‘bico’, assinou o terceiro golo da ‘Canarinha’.
Tudo somado, a vitória assenta bem à equipa de Scolari, não deixando de ser verdade que se esperava mais deste Brasil. Revelou-se um conjunto organizado mas pouco criativo e inventivo no momento de derrubar a organização croata, beneficiando ainda de uma grande penalidade no mínimo duvidosa que em muito ajudou a definir o jogo; por outro lado, a Croácia, mesmo sem Mandzukic, revelou bons pormenores, tendo muita qualidade ao nível da primeira fase de construção de jogo à qual se aliou a capacidade e inteligência de explorar os espaços que o Brasil foi dando na sua defesa (principalmente na primeira parte). O Brasil sai na frente de um grupo que conta ainda com México e Camarões mas em que a Croácia, provavelmente, se revelará como a segunda equipa mais capaz.
Neymar agradecendo a ajuda divina. Fonte: FIFA
A Figura:
Neymar – Muito do que este Brasil for capaz de fazer no Mundial vai depender do ex-Santos. No jogo de hoje, Neymar soube ser o intérprete que pega na bola quando percebe que as coisas colectivamente não estão a sair: marcou dois golos mas, mais do que isso, veio buscar jogo atrás, caiu nas laterais e foi sempre dele que saíram os lances mais perigosos, mesmo quando os espaços aparentemente não existiam.
O Fora-de-jogo:
Daniel Alves – Podia ser Hulk, Fred ou Kovacic. Porém, nenhum deles comprometeu tanto quanto o lateral brasileiro. Porque, de facto, antes de ser defesa, Daniel Alves é um verdadeiro lateral e o Brasil pagou por isso hoje: o jogador do Barcelona deu sempre imensos espaços no seu corredor (no golo croata, estava a pressionar o … guarda-redes contrário) e nunca soube lidar com a velocidade de Olic.
Qual é a contradição entre gostar de futebol e ser contra a realização deste Campeonato do Mundo? Nenhuma. Especialmente se o evento desportivo for organizado num dos países mais desiguais do planeta, onde o luxo e a miséria coexistem embora nunca se toquem. É o caso do Brasil: o país tem níveis de corrupção elevadíssimos, um sistema de educação elitista que praticamente impede qualquer mobilidade social, uma rede de saúde precária e vários problemas a nível de transportes e de habitação, para não falar na enorme criminalidade ainda existente. Ao mesmo tempo, a nação mais populosa da América do Sul tem dois representantes na lista das 100 maiores fortunas do mundo em 2014, segundo a revista Forbes. Somadas, as duas quantias atingem um valor de cerca de 36 mil milhões de dólares.
Entendo que, por uma questão de igualdade de circunstâncias, deve haver uma certa rotatividade nos países-sede dos Campeonatos do Mundo. No entanto, esta alternância não pode sobrepor-se à realidade. Ou seja, não é por um continente nunca ter recebido a competição mais importante do planeta que devemos fechar os olhos ao atraso e aos problemas de um país, porque o Mundial acarreta sempre grandes despesas. Foi assim na África do Sul há quatro anos, é assim no Brasil em 2014. E é por isso que sou da opinião de que tem de haver critérios sérios para atribuir a organização do Mundial. Muitas vezes os governos argumentam que “não há dinheiro” como desculpa para não para melhorarem as condições de existência das suas populações. Portugal, como sabemos, não é excepção. Por outro lado, contudo, os mesmos governantes não hesitam em gastar largos milhões em estádios e infra-estruturas – tornando-se muitas delas, como também sabemos por experiência própria, autênticos “elefantes brancos”. O futebol e os negócios não se podem sobrepor às vidas de milhões de pessoas.
Os gastos astronómicos e supérfluos com o Mundial têm motivado vários protestos dos brasileiros ao longo do último ano Fonte: estadao.com.br
Não é a primeira vez que a atribuição da sede de um Campeonato do Mundo a um país é contestada: para além do já falado caso da África do Sul em 2010, também o Mundial de 1978, na Argentina, ficou marcado pela polémica. O país vivia então sob uma ditadura responsável pelo escândalo do desaparecimento de milhares de recém-nascidos, retirados aos oposicionistas e entregues para adopção a famílias próximas do regime. A FIFA não se deixou impressionar pela onda de protestos e manteve a sua decisão inicial, contribuindo para lavar a imagem do regime de Jorge Videla aos olhos da comunidade internacional. Hoje, ao querer organizar o mundial dos gastos astronómicos e das aparências (a “Copa” do Brasil vai custar mais do que as três últimas edições somadas), onde o bem-estar de um turista se sobrepõe ao de vários milhares de locais, o organismo máximo do futebol mundial está a ser cúmplice da perpetuação da desigualdade e da injustiça sociais.
São milhões e milhões de reais que podiam ter sido aplicados na saúde, na educação, na habitação, nos transportes, etc. O valor previsto em 2010 para o total da construção era de 5 389 300 000 reais (cerca de 1 780 000 000 €). Em 2014, contudo, esse montante derrapou para 8 925 000 000 reais (quase 3 000 000 000 €). De modo a facilitar a percepção de tudo isto, penso valer a pena observar os dados nesta tabela:
Entre 2010 e 2014, a previsão de custos dos estádios do Mundial subiu 66% – um valor suportado quase na totalidade pelo Estado brasileiro Fonte: http://esportes.terra.com.br/
De seguida, apresentam-se alguns dados reveladores acerca dos enormes gastos deste Mundial:
– segundo um estudo da KPMG, empresa prestadora de serviços, 10 dos 20 estádios mais caros do mundo estão do Brasil:
– o Estádio Mané Garrincha, em Brasília, é o terceiro mais caro do mundo, só ultrapassado por Wembley e pelo Emirates (ambos no Reino Unido).
– os estádios brasileiros custaram mais 66% do que o previsto em 2010 (ver tabela anterior).
– apesar de a FIFA ter garantido, em 2007, que os estádios seriam financiados por privados, a presidente brasileira Dilma Rousseff afirmou recentemente que, se o governo não avançasse com dinheiros públicos, “nem meio estádio” sairia do papel.
No final da semana passada o comediante britânico John Oliver protagonizou um brilhante momento televisivo onde, com muito humor à mistura, mostrou ao seu público norte-americano o que é realmente a FIFA. A visualização do vídeo é obrigatória. Porém, aqui ficam resumidas algumas das passagens mais revoltantes:
– a FIFA contornou uma lei do Brasil que, por motivos de segurança nos estádios, proíbe que as bebidas alcoólicas patrocinem o futebol. Esta lei foi implementada devido ao número elevado de mortes entre os adeptos. No entanto, o órgão que rege o futebol mundial é patrocinado pela marca de cervejas Budweiser. Jérôme Valcke, secretário-geral da FIFA, disse apenas: “peço desculpa se pareço um pouco arrogante, mas não iremos negociar isso (…). Temos o direito de vender cerveja”.
– quando confrontado com o facto de a organização – oficialmente sem fins lucrativos, diga-se – a que preside ter mil milhões de dólares no banco, Joseph Blatter proferiu cinicamente que esse montante é apenas “uma reserva”.
– o modo pouco claro como a organização do Mundial de 2002 foi atribuído ao Qatar, um país descrito como “esclavagista”.
Há exactamente um ano os brasileiros manifestaram-se durante a Taça das Confederações, e nem a repressão policial que se fez sentir impediu que houvesse protestos à porta do Maracanã quando lá dentro se jogava a final entre o Brasil e a Espanha. Agora, um ano depois, as demonstrações de descontentamento poderão voltar. Muitas delas têm sido novamente reprimidas, como é o caso da greve dos trabalhadores do metro de São Paulo.
O que se passa actualmente no Brasil é a consequência natural de décadas de desigualdade, ampliadas nos últimos tempos por gastos astronómicos e desnecessários. Infelizmente, nem a FIFA nem os governantes brasileiros se mostraram sensíveis perante as reivindicações de quem apenas quer melhores condições de vida. Os protestos são justos, e nenhum torneio de futebol devia poder sobrepor-se a eles.
Aqui fica também o documentário “The Price of the World Cup“, que aprofunda esta temática:
Desde 1998 que Portugal não desperdiça a oportunidade para estar presente na mais importante competição de selecções do mundo. Não falhou com António Oliveira, não falhou com Scolari, não falhou com Carlos Queiroz e também não seria agora que tem um bom treinador, que isso iria acontecer. Paulo Bento pegou na Seleção Nacional em setembro de 2010, depois dos sucessivos erros de gestão de Queiroz e, desde então, tem cumprido todos os objectivos a que se tem proposto: conseguiu o feito de pegar numa equipa portuguesa completamente destroçada e a cair aos bocados (que já contava com dois resultados ridículos para a fase de qualificação para o Euro’2012 com Carlos Queiroz – empate a 4 frente ao Chipre e derrota por 1-0 com a Noruega.
Depois disso, Paulo Bento pegou na equipa, moldou-a à sua maneira, ainda foi a tempo de se qualificar para o Euro’2012 (quando poucos acreditavam), apenas caindo aos pés da campeã Espanha na marcação de grandes penalidades. Depois disso, sofremos para nos qualificarmos para o Mundial, é verdade. Mas relembrem-se, os portugueses que o criticam, de uma vez com qualquer um destes antigos selecionadores, que tenhamos tido uma qualificação folgada para uma fase final. São poucas, como puderam verificar.
Agora é hora de acreditar e não a de criticar o selecionador por convocar A ou B. O núcleo-duro há muito que está formado e dificilmente se iria alterar. Paulo Bento escolheu estes 23 e nós só temos é de apoiar. Se o trabalho for bem feito, como tem sido até agora, ninguém poderá colocar em causa o selecionador nacional, que muito tem feito por Portugal.
Para este Mundial, as hipóteses de sucesso são promissoras. Voltámos a ter a infelicidade de voltar a encontrar a Alemanha, que é, por norma, um adversário complicado para Portugal. Mas, tal como em 2012, é benéfico que seja o adversário inicial. Os primeiros jogos são sempre mais táticos e fechados e, tanto os portugueses como os alemães, em primeiro lugar, não quererão perder o encontro. Por isso mesmo, Portugal poderá aproveitar para montar bem a equipa para gerir este primeiro jogo e adotar uma posição ligeiramente mais defensiva. Sem jogar para o empate, mas com a ideia de que o empate será um bom resultado.
Depois seguir-se-ão dois jogos que, à partida, definirão bem toda a participação de Portugal no Mundial: E.U.A e Gana. Dois jogos em que somos favoritos, mas que estão longe de ser fáceis. Os americanos são uma equipa muito mais evoluída taticamente, desde a última vez que os encontrámos numa fase final – sim, em 2002, quando perdemos por 3-2 – e deverão ser uma barreira difícil de ultrapassar. Quanto ao Gana, teremos de contar com uma equipa de 11 obreiros, que coloca uma intensidade imensa em campo durante os 90 minutos. É importantíssimo que os jogadores portugueses entrem em campo em boas condições físicas e com capacidade para aguentar o ritmo do jogo, que será muito elevado.
No entanto, com maior ou menor dificuldade, eu aposto na passagem de Portugal à fase seguinte. Na teoria, essa é a hipótese mais óbvia e na prática também o será. E a partir do momento em que passemos estes 3 jogos, tudo é possível. Temos hipóteses para ganhar a qualquer seleção do mundo e o sonho é o limite. Não é a seleção de Figo, Rui Costa, Deco, João Vieira Pinto ou Paulo Sousa, mas é a equipa que temos agora e que nos vai querer fazer sonhar. Guardemos então o nosso tempo para ela. Para vibrar, apoiar e nunca baixar os braços. Eu acredito nesta equipa.
OS CONVOCADOS
Guarda-redes: Beto (Sevilha), Eduardo (Sp. Braga) e Rui Patrício (Sporting);
Defesas: André Almeida (Benfica), Bruno Alves (Fenerbahçe), Fábio Coentrão (Real Madrid), João Pereira (Valência), Neto (Zenit), Pepe (Real Madrid), Ricardo Costa (Valência)
Médios: João Moutinho (Mónaco), Miguel Veloso (D. Kiev), Raul Meireles (Fenerbahçe), Rúben Amorim (Benfica) e William Carvalho (Sporting);
Avançados: Cristiano Ronaldo (Real Madrid), Éder (Sp. Braga), Hélder Postiga (Lazio), Hugo Almeida (Besiktas), Nani (Manchester United), Rafa (SC Braga), Varela (FC Porto) e Vieirinha (Wolfsburgo)
A ESTRELA
Cristiano Ronaldo Fonte: foxsports.com.br
Devo ter, provavelmente, a tarefa mais facilitada de todas para escolher a figura desta equipa. Se temos o melhor do mundo, a minha escolha é óbvia. Cristiano Ronaldo aparece neste Mundial longe com algumas debilidades físicas e muito desgastado de uma temporada ao mais alto nível. Logicamente que a sua presença é sempre um fator motivacional para os portugueses e os seus colegas, mas parece-me que a Seleção Nacional não deve focalizar o seu jogo exclusivamente na inspiração do português, como aconteceu nos últimos jogos da fase de apuramento. Portugal tem de jogar com Ronaldo e não para Ronaldo. Devemos aproveitar os seus desequilíbrios, mas pensar em planos B ou C, caso o craque português não esteja a conseguir adquirir a preponderância necessária para pegar no jogo. Desse modo, aponto João Moutinho como o principal leitor do jogo português e aquele que mais disponibilidade terá para organizar a equipa e fazer as ligações entre a defesa e o ataque nacional.
O TREINADOR
Paulo Bento Fonte: seleccaonacional.net
Sobre Paulo Bento já foi quase tudo dito. Elogiado por poucos e criticado por muitos, o selecionador nacional vai procurar fazer tudo aquilo que estiver ao seu alcance para chegarmos o mais longe possível na competição. Partimos como outsiders e poderemos aproveitar esse estatuto para jogar sem pressão nos primeiros encontros. O primeiro e único objetivo, para o imediato, é passar a fase de grupos. Depois, tudo o que vier por acréscimo é um ponto extra.
Paulo Bento tem cumprido todos os objetivos a que se tem proposto. Foi ao Europeu e fez uma boa campanha e agora vai ao Mundial e também vai fazer. É o que espero e aquilo que acredito que vai acontecer.
O ESQUEMA TÁTICO
O esquema tático de Portugal não irá fugir muito ao que tem sido habitual, desde que Paulo Bento pegou na equipa. Arrisco-me até a dizer que o onze base deverá ser o mesmo do último Europeu. Excluindo as dúvidas entre Miguel Veloso e William, Nani e Varela e Postiga ou Hugo Almeida, o resto da equipa está completamente definido. Na questão do trinco, creio que Paulo Bento dará a Miguel Veloso a titularidade no primeiro encontro e dependendo da exibição do jogador do Dínamo Kiev, o lugar ficará definido. Quanto às outras duas posições, tudo dependerá dos jogos. Se o jogo pedir mais velocidade, Varela é a escolha. Se, por outro lado, pedir mais inteligência e capacidade para segurar a bola, Paulo Bento optará sempre por Nani. Finalmente, na posição mais adiantada do terreno, Postiga deve levar alguma vantagem, embora eu arrisque na titularidade de Hugo Almeida para o jogo com a Alemanha. Não só pela sua capacidade física, que será adequada para o tipo de jogo praticado pelos alemães, como também pelos 2 golos marcados no último jogo de preparação, frente à Irlanda, que lhe deram, por certo, um acréscimo de moral para a competição. Depois, há ainda jogadores como Vieirinha, Rúben Amorim e Éder que podem acrescentar algo mais à equipa.
O PONTO FORTE
A Experiência e coesão a nível tático são claramente os pontos mais fortes da equipa portuguesa. Não há dúvida de que Portugal é uma das melhores equipas do mundo a jogar em posse e sem bola. Todos os jogadores têm um tremendo sentido posicional e sabem sempre o que têm de fazer em campo, tanto nos momentos ofensivos, como defensivos. Este fator está intrinsecamente ligado com o outro ponto forte – a experiência – dado que este conhecimento e reconhecimento dos jogadores das suas posições e tarefas em campo, em muito é devido à forte experiência que a grande maioria já possui, tanto a nível de seleção, como de clubes. Portugal é a segunda seleção com uma média de idades mais alta neste Mundial (28,2 anos, apenas suplantada pela Argentina com 28,4) e esse é um interessante fator também a ter em conta.
O PONTO FRACO
A dependência em relação a Cristiano Ronaldo pode ser um problema. Se Ronaldo não estiver nas melhores condições físicas e se os jogadores portugueses sentirem o peso de ter de centralizar o ataque da equipa na inspiração do português. O craque do Real Madrid tem de ser encarado como uma peça importante da equipa, mas nunca como o nosso único recurso para atacar as balizas adversárias.
A selecção do México é a quinta equipa com mais participações em fases finais de Mundiais. Contando com 14 presenças, só é suplantada por Brasil (19), Alemanha (17), Itália (17) e Argentina (15). Este dado estatístico poderia ser um bom indicativo, mas esta ideia rapidamente cai por terra quando olhamos para a melhor classificação que o México alcançou: quartos-de-final, em 1970 e em 1986 – em ambas as vezes a competição foi disputada, precisamente, no México. A selecção tricolor é também aquela que mais derrotas tem em fases finais de Campeonatos do Mundo: 24 derrotas.
Apesar de a estatística não ajudar (muitas participações para poucas conquistas), é certo que esta equipa foi sempre respeitada pelos adversários. Embora nunca tenha chegado muito longe nas fases finais – talvez fruto de a fase de qualificação ser sempre feita contra equipas de valor muito inferior tanto ao da própria selecção como ao daquelas equipas com que se depara nas fases finais – esteve presente na maior parte das vezes, o que impõe um certo respeito.
Mas o caminho da selecção tricolor para chegar ao Brasil não foi fácil, já que para garantir o passaporte para a fase final teve de jogar o play-off contra a Nova Zelândia. Durante a classificação, o comando técnico da equipa mudou quatro vezes em cerca de dois meses, e só após a eliminação da equipa neozelandesa é que Miguel Herrera, que tinha sido contratado para orientar a equipa apenas no play-off, assumiu definitivamente o cargo de seleccionador.
Desde 1994 que o México se tem ficado pelos oitavos-de-final. Pois bem, este ano não podem ambicionar muito mais. A equipa orientada por Miguel Herrera está num grupo onde a tarefa de seguir em frente será um osso muito duro de roer: Brasil, o eterno candidato ao título, com um dos plantéis mais invejáveis da competição e, este ano, país organizador do Mundial; Croácia, que tem um dos miolos mais criativos desta prova, contando com craques como Modric, Rakitic ou Kovacic, e é a favorita para seguir em frente, juntamente com os canarinhos; e Camarões, que é uma selecção imprevisível e que pode causar mossa a uma equipa como a do México. Mas o problema não acaba aqui – é que, se os mexicanos conseguirem passar este difícil grupo, terão pela frente um dos vencedores daquele que é, este ano, o “segundo grupo da morte” (Espanha, Holanda, Chile e Austrália). Posto isto, passar a fase de grupos é um feito assinalável, mas mais do que isto é algo utópico.
Defesas – Paul Aguilar (América), Andrés Guardado (Bayer Leverkusen), Miguel Layun (América), Rafael Márquez (León), Héctor Moreno (Espanyol), Diego Reyes (Porto), Francisco Rodriguez (América), Carlos Salcido (Tigres)
Médios – Marco Fabián (Cruz Azul), Hector Herrera (Porto), Juan Carlos Medina (América), Luis Montes (León), Carlos Peña (León), Juan Vázquez (León), Isaac Brizuela (Toluca)
Avançados – Oribe Peralta (Santos Laguna), Alan Pulido (Tigres), Javier “Chicharito” Hernández (Manchester United), Raúl Jiménez (América) e Giovani Dos Santos (Villarreal).
A ESTRELA
Javier Hernández Fonte: Fonte: futblog.net
Apesar de não ter sido uma aposta recorrente no Manchester United esta época, Chicharito Hernández continua a ser o craque desta selecção. Ágil, rápido e inteligente nas movimentações, o jogador de 26 anos pode ser um desequilibrador.
Forte tanto no jogo aéreo como com os pés, Chicharito é uma ameaça constante, sendo um avançado que se sente na praia quando joga dentro de área.
O facto de não marcar nenhum golo pela selecção há cerca de um ano fez nascer algumas críticas, no entanto o avançado dos red devils vai certamente ter os olhos apontados para a baliza desde o primeiro minuto do Mundial para tentar confirmar o estatuto de estrela da equipa e acabar com as críticas existentes.
O TREINADOR
Miguel Herrera Fonte: vivelohoy.com
Miguel Herrera foi o responsável pela qualificação do México para o Mundial do Brasil. Como já foi referido, o técnico de 46 anos foi o quarto treinador no espaço de dois meses e foi ele que, através de duas goleadas convincentes frente à Nova Zelândia no Play-off (5-1 e 4-2), conseguiu garantir a presença da selecção mexicana neste mundial.
Conhecido por Piolho, devido ao facto de ser irrequieto tanto no banco de suplentes como nas redes sociais, o ex-defesa internacional pelo México 14 vezes é um técnico instável mas que já anunciou que gostaria de ganhar o Mundial. Ambição, instabilidade e incerteza são as características que melhor o definem.
O ESQUEMA TÁTICO
O PONTO FORTE
O ponto forte da selecção mexicana é, sem dúvida, o ataque. Do onze inicial saltam à vista nomes como Guardado ou Rafa Márquez, mas é no ataque que residem as maiores esperanças desta selecção. Chicharito Hernández é a estrela da equipa e faz dupla atacante com um goleador nato: Oribe Peralta, que tem 16 golos em 26 internacionalizações, sendo que 10 desses tentos foram obtidos nos 18 jogos de classificação para o Mundial.
A selecção tricolor conta ainda com Giovani Dos Santos, o conhecido jogador do Villareal, que deverá fazer parte do banco de suplentes, apresentando-se como uma boa arma secreta e uma excelente alternativa ofensiva.
O PONTO FRACO
A fragilidade defensiva é o ponto fraco desta equipa. O veterano Rafa Márquez já não joga o seu melhor futebol há uns anos, e a renovação geracional não chegou ainda para tornar a defesa sólida, antes pelo contrário.
Se, como foi já referido, o técnico traz alguma incerteza à equipa, as deficiências defensivas são um factor que em nada contribui para melhorar essa característica.
No dia 31 de Maio, o CDUL conseguiu pôr um fim à maré de derrotas contra o GD Direito, ao vencer a final do campeonato nacional por 19-15, no desafio disputado no Estádio Universitário de Lisboa. Os universitários conquistaram assim o 19º título de campeão nacional, recuperando o troféu que tinham perdido para o mesmo rival na época passada, e que esta época já tinha vencido a Taça de Portugal, a Supertaça e a Taça Ibérica.
Apesar de se terem notado alguns erros nas duas equipas, que não se deveriam notar numa final Nacional, é de louvar a ‘muralha’ que o CDUL conseguiu manter forte durante todo o jogo, o que impediu os advogados de passar a linha de ensaio e conseguir a vitória.
Os universitários começaram bem o jogo, com um primeiro ensaio do capitão Gonçalo Foro e um segundo ensaio de Tomás Appleton. No entanto, Gonçalo Malheiro conseguiu dar luta com os três pontapés de ressalto, deixando o resultado a 12-9 no final da primeira parte.
Na segunda parte, o CDUL regressou ainda mais forte e unido, mostrando claramente que não tencionava perder mais um título para os advogados. Francisco Appleton seguiu o exemplo do seu irmão e superou a linha de três-quartos do Direito, garantindo um 19-9 no marcador.
No entanto, os advogados ganharam força após o primeiro ensaio da segunda parte, apesar de continuarem dependentes de Gonçalo Malheiro, que conseguiu de novo reduzir o marcador, com duas penalidades, para 19-15.
Os últimos 20 minutos foram de muita tensão, e João Silva quase virou o resultado. No entanto, foi impedido por uma placagem de Tomás Appleton, autor de uma das melhores exibições da partida.
No final do jogo, notou-se um domínio dos advogados. No entanto, nem os atletas António Aguilar e Diogo Coutinho, que tinham acabado de entrar para o seu jogo de despedida do Rugby, conseguiram derrubar a muralha forte do pack avançado e linha de três-quartos do CDUL, que garantiu assim a vitória azul.
Nascido a 15 de Outubro de 1969 e de seu nome Vítor Manuel Martins Baía (conhecido, apenas, como “Vítor Baia”), este ex-guardião de clubes de renome como Barcelona ou Futebol Clube do Porto dispensa apresentações, sendo que o seu maior cartão-de-visita é somente o facto de ser, ainda na actualidade, um dos jogadores como mais títulos colectivos do mundo (e chegou a ser, durante vários anos, o jogador com mais – isto a falar de futebol, claro): 33.
Atormentado por diversas lesões no joelho que o impediram de se afirmar como um dos melhores guarda-redes da história do futebol, quem conhece e percebe de futebol, quem sabe da especificidade que é preciso ter na posição mais recuada no xadrez do futebol, sabe que ele o foi. A prova daquilo que digo está assente nos 39 prémios individuais que foi acumulando ao longo da carreira, começando na época longínqua de 88/89, onde ganha o prémio “foot-Reuch”, que distinguia o melhor guarda-redes nacional e que teve a cereja no topo do bolo quando, em 2004, na épica época do Futebol Clube do Porto do então “desconhecido” José Mourinho, Vítor Baia arrecadou, primeiramente, o prémio “UEFA best-goalkeeper” (referente à Europa) e, nesse mesmo ano, o “FIFA best-goalkeeper” (referente a todo mundo). Pelo meio foi conquistando outros galhardetes, como o de guarda-redes do ano para a “european sports magazine” (94/95) ou o prémio carreira, em 2003. Os seus últimos dois troféus enquanto desportista foram entregues na época de 2008, com a distinção da “Ordem do Infante D. Henrique (República Portuguesa) “ e “Prémio “alto prestígio” pela Confederação do Desporto de Portugal”.
Baía alcançou a glória europeia em 2004, ao vencer a Liga dos Campeões Fonte: somosporto.org
Feito este difícil processo de escolha de títulos, desengane-se quem pensa que fico por aqui: acima do jogador fabuloso que foi, acima do grande legado de defesas que nos deixou, Vítor Baía assumiu-se como um grande Homem! Um verdadeiro Homem com “H grande e maiúsculo” que fundou, em Junho de 2004, aquela que é uma das instituições de caridade de maior sucesso em Portugal: a fundação Vítor Baía 99 (número que ostentou durante a sua carreira). Para mim, este último parágrafo já chegaria para fazer esta rubrica. Grandes homens fazem grandes coisas, e Vítor demonstrou sê-lo. Milhares de crianças e famílias carenciadas estão-te eternamente gratas, Vítor.
Logotipo da Fundação Vítor Baía Fonte: Blog Pronúncia do Dragão
Porém, a vida do ex-guardião “Azul-e-Branco” e “Blaugrana” nem sempre foi um mar de rosas… Sendo ele o primeiro jogador internacional a atingir as 75 internacionalizações e ainda tendo o recorde de imbatibilidade das nossas redes (1191 minutos), Vítor Baía foi vítima de um processo de escrutínio público sujo e, atrevo-me a dizer, nojento (permita-me o leitor o uso de tal linguagem): foi repentinamente afastado da selecção nacional tendo sido substituído por um jogador que estava a emergir mas que não passava de um guardião banal: Ricardo. Na altura, o bode expiatório de Gilberto Madaíl (por quem não nutro qualquer sentimento de agradecimento) foi Scolari, “sargentão” brasileiro, campeão do mundo e com fama de “quero, posso e mando”. Eram opções, dizia-se. Até ao dia em que o brasileiro, numa entrevista, se “descaiu” e admitiu que não convocava Baía pois essa fora uma imposição de Madaíl, na sua chegada a Portugal para assinar contrato. Foi o então Boavisteiro Ricardo que assumiu as rédeas da baliza nacional (onde se revelou um defensor de penaltys exímio mas um péssimo guarda-redes fora dos postes, para tal estatuto de “número 1” – uma espécie de… Beto?).
Ao longo da carreira, o guarda redes fez 80 jogos na equipa principal da Selecção Portuguesa Fonte: Blog Dazuis
Outra das amarguras que estão “incrustadas” em Vítor Baía foi a forma como saiu do seu clube de coração, o clube que foi muito responsável para hoje o “ex 99” ser um dos únicos nove jogadores a terem conquistado os três principais troféus europeus (até então): Taça UEFA (agora Liga Europa), Taça das Taças (hoje em dia Supertaça Europeia) e Liga dos Campeões. Falo, portanto, do Futebol Clube do Porto. Algo que não foi bem explicado, penso eu… Vítor Baía, após “pendurar as luvas”, assumiu um cargo na estrutura azul-e-branca. Tudo apontava para um jogo de homenagem, mas tal não se sucedeu, e o mesmo afastou-se (ou foi afastado…) do cargo que assumira cerca de dois anos antes. Hoje continua ligado ao Porto através do “dragon force vintage”, que é a equipa de ex-estrelas que disputam o campeonato indoor com clubes espanhóis. Um dia gostaria de ver esta história esclarecida…
Bem, Vítor, que se pode mais dizer de ti, depois de conquistares 12 campeonatos, cinco Taças de Portugal, nove taças Cândido de Oliveira, uma Taça UEFA, uma Liga dos Campeões, uma Taça Intercontinental, 1 Taça das Taças, 2 Taças do Rei de Espanha, 1 Supertaça de Espanha e 1 Taça da Catalunha…? Apenas que foste enorme, és enorme! Espero um dia voltar a ver-te intimamente ligado ao meu Porto, que com tanto orgulho representaste. “Longe de vista, mas perto dos corações”; e a tua história de amor pelo Porto não acabará aqui. Nada será esquecido, és uma lenda do nosso clube! Obrigado por tudo, campeão! Continua!