Veste o encarnado dos sonhos pela primeira vez. Longe de casa, mas rodeado do mundo. Do seu mundo. Tremem-lhe as pernas. Baixa a cabeça. Tenta respirar, mas parece-lhe impossível. Uma, duas, três vezes. O coração palpita, qual gazela que em alta velocidade se revolta contra as investidas sanguinárias do seu predador. E, como ela, vai deixando de ter medo. É a vida que está em jogo. Passo a passo. Galgada por galgada. Não se baixa mais a cabeça. O futuro é agora. E o futuro é dele.
Leva o “90” às costas. O mesmo número que anseia concretizar, em minutos, dentro de campo. Benze-se. Agora sim, respira fundo. Ao expirar solta um grito mudo, mais alto do que os sonhos e as esperanças que lhe assolavam o peito ainda há cinco minutos atrás, quando ajeitava as caneleiras e apertava as chuteiras. Olha à volta. As cores estão mais vivas, o ar sabe a maresia e os sons despertam paixões escondidas que sempre o fizeram sorrir. Tudo tão rapidamente que, ainda que belo, não dá por nada. Apito. Acaba o sonho. Começa a batalha.
Ivan Cavaleiro em Cinfães Fonte: Record
Nem dois minutos passaram quando o vila-franquense recebe a bola à entrada da área e, deixando apenas bater uma vez no relvado, remata para enorme defesa do guarda-redes cinfanense. A partir daí foi sem tirar os olhos da baliza e a fé do céu. Pontapé por cima. Cruzamento tenso mas sem resultados. Os seus companheiros sem conseguirem melhor. Intervalo. O mesmo ritual: ansiedade, medo, apreensão, coragem. Mão a desenhar uma cruz ao peito e as mesmas cores, os mesmos cheiros e os mesmos sons. A única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo, certo dia ouviu. Apito. Bate coração. E seis minutos depois o sonho torna-se realidade: cruzamento ao primeiro toque, fortuito, mas mortífero. A gazela virou águia. E já marcou o seu território.
Com a mesma humildade com que empunhou a espada, Ivan limpou-a e saiu vitorioso. Tem somente 20 anos. Tinha-os feito no dia anterior. É actualmente o melhor marcador da “Liga 2 Cabovisão” com 7 golos em apenas 10 jogos. Na próxima segunda-feira recebe o prémio do melhor jogador dos meses de Agosto e Setembro da mesma Liga. Ivan, ‘O Terrível’, senta-se agora no seu refúgio e espera pelo inevitável futuro: que chegue o dia em que seja aclamado Cavaleiro de Jesus.
O João é o meu melhor amigo desde que me conheço. Jogávamos à bola juntos, fomos colegas de escola, até tivemos a primeira namorada na mesma altura. Crescemos lado a lado como melhores amigos. Acima de tudo, tínhamos uma grande ligação: o amor ao Sporting.
Sempre fomos grandes leões e partilhávamos tudo! Cromos, posters, bonés, cachecóis e camisolas. Nas nossas peladinhas, ele era o Manuel Fernandes e eu o Vítor Damas, pois sempre preferi ir à baliza. Passávamos horas a imaginar um jogo de futebol, em Alvalade, em que nós próprios éramos os protagonistas que faziam vibrar a multidão leonina nas bancadas.
A diferença entre nós era só uma: eu sempre fui sócio e ele não. Os pais dele não ligavam ao futebol e nunca lhe deram dinheiro para pagar as quotas. Eu sempre soube que isso o deixava triste, mas nunca o tratei de forma diferente. O João era tão sportinguista quanto eu!
No domingo à tarde voltámos a estar juntos, como nos velhos tempos. Por circunstâncias da vida, já não nos víamos há mais de dois meses. Encontrámo-nos no café para beber uma imperial e pôr a conversa em dia. Obviamente, depois de saber como estava a sua família e emprego, acabámos a falar do Sporting.
“- E então, o que achas do novo Presidente, João? Estás a gostar dos primeiros meses?
– Claro, grande Bruno de Carvalho! Sempre disse que votaria nele!
– Pois é, mas não podias votar… quando é que te fazes sócio, homem?
– Oh, tenho lá tempo para isso… Eu até vou aos jogos e já comprei uma gamebox. Porque é que é tão importante ser sócio?”
Não esperava aquilo. Fez-me a pergunta com um encolher de ombros. Já não se mostrava triste, mas tinha, agora, uma certa indiferença na voz. O meu coração parou, como se caísse até ao estômago. De repente, voltou ao seu lugar e a bater, mas muito mais depressa. Comecei a suar e senti um estranho nó na barriga.
É verdade que sempre vi nele um sportinguista como eu. Tínhamos a mesma dose de amor e dedicação. Mas naquela altura, com aquela pergunta, percebi que lhe faltava uma parte muito importante de Sportinguismo. O João, o pequenino João que eu sempre conheci, não teve a mesma sorte que eu, mas estava na altura de saber o que eu sei.
Acabei a minha imperial com três tragos, fiz uma pausa e disse-lhe calmamente:
– “João… somos todos do Sporting. Se não fores sócio continuarás a ser um enorme Sportinguista aos meus olhos e o meu melhor amigo. Mas ser sócio… ser sócio é fazer parte de uma família. Ser sócio do Sporting é partilhar laços com José de Alvalade e Francisco Stromp. Ser sócio do Sporting é estar associado à bicicleta de Joaquim Agostinho, ao esforço de Carlos Lopes, aos golos do Peyroteo, ao melhor jogador do Mundo, Cristiano Ronaldo.
Mais do que por todos eles… sou sócio do Sporting por mim próprio. Porque é um orgulho andar com um pedaço do meu clube na carteira. Porque tenho um número, faço parte de algo enorme. Porque sou um entre milhares de pessoas que acreditam no mesmo que eu, que sentem o mesmo que eu e que AMAM o mesmo que eu! Sou sócio do Sporting porque pertenço ao Sporting. E isso não tem custo!”
Quando acabei de falar, percebi que toda a gente no café estava com os olhos cravados em mim. Tinha a testa a escorrer suor e nem reparei na força que tinha colocado nas minhas palavras. O João estava branco como cal. Não me disse nada durante largos minutos. Depois, levantou-se, e com um forte abraço disse-me “dá cumprimentos à Rafaela e aos miúdos.”
Achei que tinha ido longe de mais. Pensei que talvez tivesse sido ofensivo e magoado o meu grande amigo, mas não. O João ligou-me há pouco, a chorar. É o número 102.315.
“O Özil é único. Não há uma cópia dele, nem sequer uma má. É o melhor número 10 do Mundo. Tornava as coisas mais fáceis para mim e para os seus colegas devido à sua visão de jogo. Todos o querem e nele é possível ver um pouco de Figo e de Zidane”. As palavras são de José Mourinho e foram proferidas aquando da inesperada transferência do médio para o Arsenal, que pagou 50 milhões de euros ao Real Madrid. Melhor descrição não poderia haver. A qualidade do internacional alemão – o jogador com mais assistências no futebol europeu nos últimos anos – veio revolucionar a equipa orientada por Arsène Wenger. Não só pelo que vale individualmente, mas também porque veio influenciar o rendimento de quem joga a seu lado. Uma contratação que eleva os gunners para outro patamar. Nesta altura, são reais candidatos ao título, algo impensável no início da Premier League.
Os fãs do Arsenal bem podem agradecer a Gareth Bale. Afinal, foi a transferência do galês para o Bernabéu que proporcionou a chegada de Özil ao Emirates. Um negócio em que só mesmo os merengues ficam a perder (confesso que gostava imenso que o Arsenal e o Real Madrid se encontrassem na Champions). O craque alemão tem finalmente uma equipa em que o seu talento é verdadeiramente aproveitado – num modelo de posse e não de transições – e em que é a estrela maior. Para Arsène Wenger, que tem vindo ano após ano a perder os melhores jogadores (Fàbregas, Van Persie…), acaba por ser uma recompensa justa. O técnico francês ganhou um artista capaz de executar na perfeição aquilo de que nunca abdicou: um futebol ofensivo e atractivo. Pode novamente provar que é um treinador vencedor (quem não se recorda da fantástica equipa que tinha Henry, Bergkamp, Vieira, entre outros?), que não se limita a potenciar jovens. Tem um conjunto à sua medida, com jogadores criativos e evoluídos tecnicamente.
Özil, o reforço que Wenger tanto ansiava / Fonte: cdn.foxsports.com.br
Só com o decorrer do campeonato poderemos perceber se a profundidade do plantel do Arsenal chegará para o título, mas a verdade é que a chegada de Özil – que já leva 2 golos e 4 assistências – teve um impacto muito positivo no colectivo. Para já, os gunners seguem na liderança isolada da Premier League e afastaram alguns problemas antigos, nomeadamente na defesa. O quarteto formado por Sagna, Mertesacker (a atravessar o seu melhor momento com a camisola do Arsenal), Koscielny e Gibbs tem conseguido manter alguma regularidade exibicional nos últimos encontros, embora continue a ser o sector mais limitado da equipa. Por outro lado, a dinâmica ofensiva, assente em movimentações constantes e futebol ao primeiro toque, continua a ser o ponto forte dos londrinos. E isso explica-se pela enorme qualidade das opções para o meio campo. Aaron Ramsey é a grande revelação da temporada. O galês tem impressionado pela facilidade com que aparece em zonas de finalização, levando já 5 golos marcados. Wilshere, depois de ter sido afectado por alguns problemas físicos, parece determinado em confirmar de vez o seu tremendo potencial. Cazorla, regressado de lesão, promete formar uma dupla infernal com Özil – o espanhol, que na última época actuava sobre o corredor central, vê-se agora “obrigado” a descair para a direita. Tendo em conta que estes três jogadores farão seguramente parte do 11 mais utilizado e que a posição 10 é de Özil, sobra uma vaga, que tem sido ocupada por Flamini, o menino bonito de Wenger. Face à inexistência de um trinco de raiz no plantel, tem sido o francês a desempenhar a posição de médio mais defensivo no duplo pivot. Rosicky e Arteta, jogadores experientes e com um toque de bola fantástico, serão certamente importantes na rotação do plantel. Podolski é uma incógnita, já que tem passado mais tempo na enfermaria do que nos relvados. Ainda há Walcott, Oxlade-Chamberlain (vai estar afastado por um longo período devido a lesão) e o jovem Gnabry, para ir evoluindo. Na frente de ataque, Giroud tem estado em evidência neste início de temporada. Não só pelos golos que marca como também pela facilidade que tem em jogar de costas para a baliza, algo que beneficia o modelo de jogo da equipa. Não existe uma verdadeira alternativa ao francês. Bendtner, a eterna promessa, ainda vai tendo alguns minutos de jogo, e Yaya Sanogo é uma aposta a longo prazo. Resumindo, um plantel com qualidade mas que apresenta algumas lacunas.
Chegou, viu e venceu / Fonte: static-imgs-acf.hereisthecity.com
Voltando a Özil, se tivesse aparecido há alguns anos atrás, estaria facilmente a lutar pelo prémio de melhor do mundo. O problema, na perspectiva do alemão, é que agora existem dois jogadores que marcam uma quantidade exorbitante de golos, o que torna impossível para quem quer que seja intrometer-se na luta. Mas não importa. Agora, o “Nemo” tem uma relação de simbiose com o emblema que representa. Deu-lhe capacidade de lutar por títulos. Em troca, tem uma equipa construída em seu redor; é a estrela maior de um conjunto em que, indubitavelmente, é ele e mais 10.
Terminadas as provas das selecções, os clubes dão os últimos passos tendo em vista o campeonato português, que começa no próximo fim-de-semana. E, dos jogos oficiais já disputados pelos principais favoritos, há algo a afirmar: o hóquei português continua com a mesma qualidade, tanto a nível interno como a nível internacional.
No jogo que abriu a nova época desportiva, duas potências do hóquei encontraram-se para disputar a Supertaça. O FC Porto, campeão nacional e vencedor da Taça, e a Oliveirense, finalista vencido da Taça, disputaram o primeiro grande troféu da época.
Habituadas já a grandes palcos, as duas equipas não defraudaram as espectativas de quem assistiu ao jogo e deram um grande espectáculo. Foi um jogo sempre de parada e resposta, com várias reviravoltas. O Porto esteve a ganhar, viu a Oliveirense virar o resultado e voltou a estar em vantagem. No final, o resultado de 5-4, favorável aos dragões, permitiu conquistar a 19ª Supertaça. Os destaques desta partida são vários. Desde logo, Gonçalo Alves, o melhor marcador da época passada, voltou a mostrar que ainda tem a veia de goleador, ao marcar os quatro golos do conjunto de Oliveira de Azeméis. Do lado azul e branco, o espanhol Edo Bosch mostrou-se mais uma vez a grande nível, ao impedir que o jogo fosse para prolongamento por várias vezes na parte final. Mais um grande jogo da modalidade e que deixa água na boca para o que aí vem.
Benfica, vencedor da Liga Europeia Fonte: desporto.globalnews.pt
A nível internacional, o hóquei português voltou a mostrar do que é capaz. Depois de uma final da Liga Europeia 100% portuguesa, o detentor do troféu, Benfica, defrontou os espanhóis do Vendrell, vencedor da Taça CERS, na primeira mão da Taça Continental. O resultado não poderia ter sido melhor. O Benfica venceu na Catalunha por 5-3 e parte para o jogo da segunda mão, dia 2 de Novembro, com grandes hipóteses de conquistar a sua 2ª Taça Continental. Foi um jogo sempre bem disputado, com os encarnados a não vacilarem e a conseguirem segurar um resultado de 4-3 e a aumentar para 5-3. O grande destaque vai para João Rodrigues, que fez um hattrick. O Benfica mostrou que, mesmo com um novo treinador, está preparado para a próxima época e para voltar a conquistar a Liga Europeia.
Na jornada 11 do Campeonato Nacional de juniores da Zona Sul assistiu-se, no campo nº1 do Caixa Futebol Campus, no Seixal, ao jogo empolgante entre as equipas do Sport Lisboa e Benfica e do Sporting Clube de Portugal. O resultado final, 3-3, acabou por ilustrar, no geral, o desempenho das equipas e o equilíbrio que a tabela classificativa já revelava (ambas com 22 pontos, resultado de 7 vitórias, 1 empate e 2 derrotas, e com praticamente a mesma diferença de golos marcados e sofridos, 24 para o Sporting e 23 para o Benfica).
Nos “onzes” iniciais notava-se a preocupação dos treinadores em apostar preferencialmente em juniores de segundo ano (na equipa inicial encarnada surgiam 4 atletas de primeiro ano, enquanto no verde-e-brancos apenas 2).
Pode dizer-se que tivemos duas partes distintas, em termos de supremacia no jogo. Durante a primeira parte, foi notória a superioridade da equipa visitante. Os leões afiaram as garras e dominaram o relvado. Uma abordagem estratégica ao jogo assente numa pressão muito alta e com linhas muito próximas realizada pelos seus sectores mais avançados impediu a organização de jogo das águias e criou inúmeras oportunidades de golo. Porém, o único golo da primeira parte surgiu ao minuto 21′, apontado pelo camisola 11, Daniel Podence.
A segunda parte começou com um golo madrugador do Sporting, logo ao minuto 48′, da autoria do capitão da equipa, Francisco Geraldes, na sequência de um pontapé de canto. Com o marcador em 0-2, a equipa leonina parecia estar próxima da vitória e não se percebia qualquer tentativa de reação da equipa da casa. Porém, o futebol tem a capacidade de surpreender os adeptos e a direcção do jogo pode ser alterada a qualquer momento. Em consequência de uma diminuição dos níveis de concentração na equipa do Sporting C.P, os encarnados conseguiram reduzir a desvantagem para 1-2 ao minuto 54, com um golo de Nuno Santos, que, ao segundo poste e sem qualquer marcação, finalizou já na pequena área uma boa jogada do colega do flanco contrário, Romário Baldé. Este golo veio “acordar” uma equipa que parecia derrotada, e, em apenas 3 minutos (entre os 72 e os 75 minutos), o Benfica conseguiu a reviravolta no marcador, com golos de Gonçalo Guedes, primeiro, e de Diogo Rocha, depois. A formação verde-e-branda acusava alguma falta de frescura e pagava caro a descida das suas linhas.
Depois deste “volte face”, já não se esperava mais nenhuma alteração no resultado. Porém, o futebol tem esta magia: joga-se até ao último folgo, especialmente quando estão em confronto equipas tão equilibradas. A quatro minutos dos 90, Mama Baldé fechou o marcador, assegurando o 3-3 e colocando justiça no resultado.
A repartição de pontos deixa as duas equipas com 23 pontos no final da primeira volta desta primeira fase do Campeonato Nacional de Juniores da 1ª divisão, à espera do que poderão fazer Oeiras e Vitória de Setúbal, ambas com possibilidade de assumirem o comando da zona sul.
É difícil escolher alguém que admiro entre uma lista infindável de excelentes jogadores que abençoaram os meus olhos nas duas últimas décadas. Ao fazer uma viagem mental no tempo, lembro-me de jogadas brilhantes executadas por génios da bola como Zidane, Dennis Bergkamp, Figo, Del Piero, entre outros ilustres da mesma era. Mas como esta rubrica não se chama “Caderneta do Europeu de ’00” decidi escolher um dos melhores avançados a pisar o relvado: Thierry Henry. Marcador de livres excepcional, cabeceador razoável, dono de uma técnica imensurável, dos melhores remates a passar pela Premier League e das arrancadas em velocidade mais dificéis de parar na história do futebol.
Henry ganha o prémio de melhor jogador da liga inglesa e melhor marcador em 2004 | Fonte: http://www.bbc.co.uk/sport/
Se esta introdução não foi suficiente para provar a sua grandeza, vou passar a citar números. Normalmente, é algo que costuma funcionar quando se quer provar algo. O número 14 do Arsenal é o melhor marcador na história do Arsenal e da Selecção Francesa. Tem uma lista extensa, tanto de honras individuais como de títulos colectivos. Desde a conquista da Liga Francesa, Espanhola e Inglesa até à vitória na Champions e no Campeonato do Mundo de 1998, o legado de Thierry Henry é lendário.
Claro que para miúdos pré-adolescentes, como eu era na altura em que o Arsenal era relevante, o que criava admiração por certos futebolistas eram as fintas de outro mundo, os golaços, as jogadas que mais pareciam retiradas da hipérbole futebolística Oliver e Benji. E eram poucos os que rivalizavam com Thierry Henry nesse departamento. A sua colectânea em vídeo de golos, fintas e passes dava um filme com direito a pipocas no cinema. Os seus remates controlados por comando remoto, tentativas de bater o recorde dos 100 metros com a bola no pé ou dribbles nunca antes vistos, faziam as delícias a milhares de fãs por todo o Mundo.
No entanto, realço que a sua paixão pelo jogo, juntamente com a alegria que demonstrava em campo, foi um dos factores que o tornou tão popular. Nem o ódio de estimação que ganhei aos jogadores franceses e ao Abel Xavier após a derrota de Portugal nas meias do Campeonato Mundial impediu a minha admiração de crescer pelo King of Highbury.
Estátua de Thierry Henry erguida em Highbury, celebrando um golaço que marcou contra o Tottenham | Fonte: http://cdn.fansided.com
Por ser um grande jogador, gostar da NBA e ser fã dos Spurs, ter pertencido a uma das minhas equipas favoritas e existir uma cover do 50 cent em sua honra, Thierry Henry é um dos meus jogadores favoritos, a par de Rui Costa e o imaginário Tó Madeira.
Às vezes há jogos de um só sentido em que pouco ou nada há a dizer. Mas não é o caso. A notícia, ensina-se nas primeiras aulas dos cursos de jornalismo e comunicação social, apresenta conteúdos de excepção e novidade. Colocar frente a uma equipa de divisões distritais a seriedade e empenho em doses equivalentes àquelas que têm vindo a ser mostradas no campeonato é, cada vez mais, algo raro e, portanto, uma novidade.
Ao contrário daquilo que Benfica e Porto haviam feito, o Sporting deu ao Alba o respeito que qualquer equipa merece. Foram oito mas poderiam ter sido mais, não fosse a boa exibição do guardião adversário e a mudança táctica aquando da entrada de Slimani. O respeito, que referi, espelha-se através da maturidade que Leonardo Jardim implementou no 11 titular. Querer mais não é sinónimo de arrogância nem do desejo de humilhação, mas antes de seriedade que se tem tanto pelo Alba como pelo Porto, por exemplo.
Mas há escolhas passíveis de ser discutidas. À partida, defendo-me de qualquer má interpretação: não pretendo colocar em causa nem contestar o que passarei a referir, mas antes levantar ideias para discussão. Eric Dier, jovem central que era tido como uma das promessas da academia leonina, não mereceria esta oportunidade? Jogou na selecção sub-21 de Inglaterra mas, por exemplo, também Rojo o fez pela Argentina. Rojo, aliás, tem sido pedra fulcral na equipa de Alvalade e terá, por certo, maior desgaste acumulado do que o jovem inglês. Já Gerson Magrão, colocado a lateral esquerdo, pareceu-me uma aposta inteligente do técnico madeirense. Em jogo facilmente controlado, testa-se um lateral adaptado na altura em que Jefferson passa por lesão e, portanto, existe uma vaga entre-aberta na equipa. Digo entre-aberta porque Piris esteve seguro e mostrou uma intensidade de jogo surpreendente para quem teve tão poucos minutos até ao momento.
No meio campo, Vítor mostrou a classe exibida no Paços mas a que havia faltado oportunidade para demonstrar nos leões. Rinaudo continua como sempre: aguerrido, intenso, mas demasiado longe de colmatar um William paradoxalmente experiente e inteligente. Adrien saiu tocado mas, em princípio, não terá dificuldades em recuperar para o Dragão. Essa foi, já agora, uma questão que certamente ocorreu a variados sportinguistas. Não estaria Leonardo Jardim a arriscar demais ao colocar seis habituais titulares perante um adversário tão vulnerável? A questão do respeito pelo adversário coloca-se, sobretudo, na mentalidade e intensidade com que o 11, seja ele qual for, aborda o encontro.
Na frente, Montero soma e segue. Mais um hattrick, uma assistência e participação fundamental em outros dois golos. No total, em jogos oficiais, o Colombiano já leva 12 na sua conta pessoal. Slimani, por seu lado, estreou-se a marcar e mostrou que poderia, também ele, ter sido uma opção para começar o jogo desta noite. Wilson Eduardo também voltou a marcar e Carrillo vai ganhando o seu espaço com uma regularidade exibicional de que há tanto a massa associativa espera. Capel regressou de lesão com uma excelente finalização que valeu um golo na sua primeira intervenção no jogo e ameaça a posição dos actuais titulares, como é preciso em qualquer equipa competitiva.
Nota ainda para a alteração no esquema táctico – no minuto 68 – em que Carrillo deu lugar a Slimani e o Sporting passou a jogar em 4x4x2, em vez do 4x3x3 que tem sido adoptado. A partir daí surgiram dificuldades ou, pelo menos, um entrosamento menor que estancou a fluidez apresentada até então. A aposta, contudo, é bem feita visto que o encontro estava ganho e os diferentes desenhos tácticos devem ser tão colocados em prática quanto o possível de forma a ganharem as rotinas necessárias. Para já, verifica-se que o 4x4x2 ainda não é uma alternativa viável e, mesmo quando em desvantagem, o Sporting dificilmente ganhará em jogar com dois avançados na frente. A passagem de três para dois no meio-campo abre espaços que os médios leoninos ainda não sabem como ocupar e, a partir daí, o sector intermediário desmorona todo o restante equilíbrio que para já tem estado presente nas exibições do Sporting.
Para a semana, no Domingo, há jogo grande com a visita ao Estádio do Dragão. Até lá, sensação de missão cumprida. Missão fácil mas que já todos vimos tornar-se complicada quando há qualidade mas falta maturidade. Hoje não faltou.
P:S: Eric Dier não jogou, afinal, porque está ainda a recuperar de uma virose gripal. Fica respondida a questão levantada quanto à sua ausência com uma razão que desconhecia quando escrevi o artigo.
O Benfica é um servo do tempo que nos manipula toda a vida. Consoante o estado em que se encontra – vivo e vencedor, cá vamos andando, meio-vivo, deprimido, quase-morto – leva consigo os seus adeptos. Faz-nos loucos e doentes, arrasta-nos na depressão, atira-nos para a morte aos 92 minutos. Junta avôs, pais e filhos, que se atropelam em busca do melhor ângulo (na bancada, na taberna da aldeia, no topo da montanha) para que, numa maravilhosa sincronia de bocas abertas, olhos arregalados, punhos cerrados e joelhos flectidos que só um golo do Benfica traz, possam deleitar seus olhos com aquele golaço do Magnusson, do Paneira, do Rui Costa, do João Pinto, do Simão, do Cardozo. Foram muitos – tantos! -, três milhões de golos ou até mais, que já vi e sonhei que vi por aquele relvado.
“E agora?” Fonte: UEFA
O antigo Estádio parece que até era mais verde, cheirava mais a relva, o sol acariciava-o de plena vontade, por anos e goleadas a fio. Os pilares a tremer, esmagados por cento e vinte mil seres fanáticos que empurravam os onze vermelhos e a bola baliza adentro, e o quarto anel acenando lá de cima, satisfeito por ter feito bem o trabalho enquanto terrestre. Havia benfiquismo militante, misturado com ganas de mais golos porque um 5-0 nunca chegava – e esses adeptos exigentes enfadavam-se se não chegasse o sexto. Se o sexto demorasse, até o avô tirava a boina e cabeceava e a mãe esquecia o joanete para finalizar de primeira, à Águas. O quarto anel (deliciosa expressão) está feliz, com certeza: viu Taças dos Campeões Europeus, viu Eusébio. O que podiam ter querido mais? Lá saberão eles, agora, felizardos inconscientes, da volta que isto deu. Se olhassem lá de cima, só iriam ver ombros caídos, pessoas cabisbaixas, sangue benfiquista num vermelho rosado muito maricas e fraco de espírito (para fazer jus ao equipamento, claro). Se vissem um Presidente que ambiciona a final da Liga dos Campeões quando apresenta dois invejáveis campeonatos em dez anos, o Cortez de águia ao peito e um jogador da formação a ser lançado para defender o resultado contra o Cinfães porque 1-0 chega, menos quando num soalheiro domingo de Maio “pensávamos que 1-0 chegava”…
Et pluribus unum, de muitos, um, parece-me completamente desprovido de sentido, actualmente. Porque não de um, muitos? Esse um foi eleito em 2003 (daqui por alguns anos: Eu? Eu nunca votei Vieira!) – os muitos seguem-no, cegos – e ligou o Benfica à máquina. O último a sair que a desligue ou carregue no reset, por favor.
Cheguei à conclusão de que não estava habituada a ver um jogo de futebol com tanta qualidade como o que vi ontem no Estádio Universitário de Lisboa.
Passava pouco das 15h da tarde quando entrei pela zona das piscinas do Estádio Universitário de Lisboa, para assistir a um jogo entre duas das melhores escolas de formação de Lisboa da actualidade – Benjamins A – Sporting vs Sacavenense. Vivia-se um ambiente quase de estádio; os adeptos – ou seja, os pais – a apoiar os seus miúdos com cachecóis e a gritarem para dentro do campo para os incentivar. De facto, uma coisa bonita de se ver.
EUL – Estadio Universitário de Lisboa http://www.viva-agenda.com/
Bom, o Sacavenense e o Sporting são, como disse há pouco, duas das melhores escolas de formação de Lisboa, e, como tal, primam pela qualidade de jogo e jogadores. Para o leitor se situar, os Benjamins A são crianças que têm cerca de 10 anos, mas que, dentro de campo, crescem. Demonstram qualidade táctica e inteligência no jogo, o que deixa qualquer amante de futebol pasmado. São crianças. Pois. Mas são também os nossos futuros profissionais da bola.
A partida teve início, com duas equipas que já se tinham defrontado na Copa do Guadiana, em Junho deste ano. Nessa partida, o Sacavenense saiu a ganhar por quatro bolas a zero. Mas voltando novamente para o dia de ontem, em Lisboa, entraram em campo duas equipas equilibradas e concentradas, com crianças que pareciam adultos na hora de jogar.
Estes pequenos craques combateram com unhas e dentes, e mais coragem e precisão do que muitos seniores a jogar à bola. Os olheiros do Benfica marcaram presença, como seria de esperar. Com duas equipas com bons jogadores, avizinhava-se uma luta renhida.As coisas começaram bem e a aquecer para o lado do Sacavenense, com um remate do seu craque nº10 e em seguida com a defesa de um livre pelo guarda-redes, nº12, mas aos doze minutos da primeira parte o Sporting marca.
Foi uma primeira parte que pendeu mais, na minha opinião, para o lado dos verdes e brancos, não tirando ao mérito ao Sacavenense, pela dificuldade que impôs ao adversário.
Quanto à segunda parte, existiram, pelo menos, quatro oportunidades de golo para o Sacavenense, vendo-se, claramente, uma superioridade destes pequenos craques em relação ao Sporting, mas a sorte não esteve do seu lado, não conseguindo marcar o golo do empate. Neste ponto, tenho de enaltecer a excelente exibição do nº22 da equipa leonina, o guarda-redes – talvez o melhor em campo? –, com defesas fantásticas. Cheguei a acreditar que sabia para onde a bola se dirigia. Magnífico.
Foi uma tarde que me deliciou, a nível futebolístico. Passes, fintas, domínios de bola de outro mundo. No que toca ao Sporting, posso retirar o antigo nome da instituição e toda a história por detrás das suas escolas de formação, para além de uma equipa consciente de ao que é que ia. Quanto ao Sacavenense, retiro o facto de ser uma equipa equilibrada, capaz de fazer frente aos verdes e brancos, mostrando imensa qualidade. Faltou-lhes sorte e talvez um pouco de eficácia, mas ainda estamos na primeira jornada do campeonato.
Não me posso esquecer da diversão que os pequenos tiraram a jogar à bola e que se pôde ver pelas suas caras. E os seus treinadores sabem disso porque para além de formarem jogadores estão conscientes que ainda se tratam de crianças.
Em suma, são fins-de-semana destes que fazem a minha semana. Entrar no Estádio Universitário de Lisboa e ver este ambiente. Ver os nossos futuros profissionais da bola. Ver os nossos futuros craques.
Não se assuste com o título da crónica que está prestes a jorrar. O nome pode sugerir, por exemplo, interpretações de guerrilhas animalescas, na Segunda Grande Guerra, entre aviões dos Aliados contra o Reich onde a morte e o avião se conjugavam. Pode, igualmente, levantar perspectivas literárias, ou não tenha sido A insustentável leveza do ser um marco no panorama da escrita. Milan Kundera nem por sombras desconfiava de que algumas décadas volvidas outro “Levezinho” faria furor para os lados de Alvalade. Liedson de seu nome. Contudo, antes da apoteose que o brasileiro naturalizado português representou, houve outro ponta de lança que deixou a sua indelével marca no Sporting Clube de Portugal. El Matador, pois claro.
Beto Acosta aterrou em Lisboa na época de 1998/1999, com um historial de peso na bagagem. Constou nas equipas que venceram a Taça da Confederações em 1992 e Copa América no ano seguinte, ao serviço da Argentina, jogando lado a dado com El Pibe Maradona. Ainda assim, o ingresso do “Matador” nas fileiras leoninas foi alvo de uma crítica generalizada, muito por culpa dos 32 anos que carregava. A adaptação de Acosta foi, de facto, um processo moroso. Um problema na ciática que já se arrastava há algum tempo impediu o argentino de mostrar serviço prontamente.
El Matador celebra mais um golo ao serviço dos leões / Fonte: Chamaco
Com a chegada de Inácio ao banco do Sporting, o ponta de lança ganhou novo alento. Acosta era, doravante, um goleador nato temido por qualquer defesa adversária! Jornada após jornada, o argentino foi mostrando o seu faro para o golo. Para a História ficaram exibições como a realizada no Estádio da Luz, em jogo a contar para a Taça de Portugal, onde o Sporting categoricamente eliminou o eterno rival nuns clarividentes 0-3. O natural de Arocena marcou, no total 22 golos na edição de 1999/00 da Liga Portuguesa, tendo um papel crucial no fim do jejum de 18 anos. A maneira como se movimentava no seu habitat e a apetência para balancear as redes adversárias outorgaram-lhe, nas bancadas de Alvalade, a alcunha de El Matador. A cada golo de Acosta o ritual repetia-se – “Matador, Matador, Beto Acosta Beto Acosta, és o nosso matador”. Este foi um dos gritos de guerra da conquista do Campeonato, o primeiro que me lembro de entoar, no chão da sala, com 5 anos de idade.
Se à primeira vista, Beto Acosta, não convenceu, o próximo goleador sobre o qual a crónica se irá debruçar, ainda menos. Vindo do Brasil no tórrido verão de 2003, catastrófico para os Soldados da Paz, Liedson foi recebido com alguma desconfiança devido ao seu corpo franzino. O mundo do futebol enganou-se, uma vez mais. O “levezinho”, alcunha que lhe foi arreigada, devido à razão atrás apresentada, encantou as gentes de Alvalade durante cerca de 7 anos, repletos de golos. 172, para ser mais exacto. De bicicleta, de fora de área, de cabeça e até de chapéu, o luso-brasileiro, colocou a “redondinha” na baliza adversária, das mais variadas formas. Liedson foi o meu ídolo futebolístico. Comuns eram as ocasiões em que nos jogos de recreio, reproduzia a sua comemoração de golo. Mão atrás da orelha e eis-me um mini Liedson de 10 anos, na altura. Quando regressou ao Corinthians, como bom filho pródigo, senti que o Sporting tinha perdido um pouco do seu passado recente. E não me errei. O clube sentiu falta da raça e dos golos do Levezinho. Até à chegada do avião.
Nos últimos anos a Colômbia tem presenteado o mundo do futebol com um rol de avançados de grande calibre. Jackson Martinez e o inevitável Radamel Falcão – na minha óptica o melhor do mundo na sua posição- são expoentes paradigmáticos. Ora, o Sporting não quis de fora desta “moda colombiana”, e no último defeso contractou Fredy Montero, também ele internacional da Tricolor. El avioncito, alcunha pela qual é conhecido, não tardou em justificar a aposta que Bruno de Carvalho fez cair sobre os ombros do colombiano. Até ao presente momento, em 7 jogos Montero marcou 9 golos fixando-se como o melhor marcador do Campeonato Português. Fredy é um avançado móvel, tecnicista e com veia de goleador. O perfeito sucessor na linhagem de exímios avançados que passaram por Alvalade.
Fredy “El Aviocinto” Montero marcou 3 golos no primeiro jogo oficial, ante o Arouca” / Fonte: Global Imagens
Com efeito, uma equipa com rotinas de vitória não vive sem contar com um garante de golos no seu manual de sobrevivência. Os melhores planteis leoninos, num passado recente, são paradigmas disso mesmo. Acosta e o “Super Mário” Jardel – o qual poderia, perfeitamente, ser parte integrante da crónica apesar da minha escolha ter recaído sob Liedson – foram preponderantes para as conquistas dos campeonatos de 2000 e 2002, respectivamente. E não só.
Desde Jordão e Manuel Fernandes até aos mais remotos Travassos e Peyroteo, o Sporting têm uma escola de avançados respeitável, da qual se espera que Montero seja o novo benjamim. Qualidade não lhe falta!