Caríssimo, não costumo dar títulos às minhas cartas. Mas esta, expressamente, teria de ter um. Sei que não és muito dado às questões sociológicas. Porém, neste caso, é imperioso que me auxilie delas para te explicar o desenvolvimento de um dos jogos mais espetaculares do mundo.
“O jogo é uma atividade geradora de prazer, que não se realiza com uma finalidade exterior a esta, mas sim por si mesma.” (J.C.Cultera). E é isso mesmo: o desporto em geral, e o basquetebol em particular, têm esta capacidade de nos criar alegria em crescendo, permitindo-nos ter reações que de outro modo não teríamos, e ter comportamentos que a nível social seriam altamente reprováveis. O basket, como jogo coletivo, é a consciência de ser do outro, mas de outro modo que não na vida corrente.
Assim, como defendia o evolucionismo, o basquetebol, sendo um desporto coletivo integrado na sociedade e com a sociedade, foi evoluindo em contato com esta. Já referimos que o número de jogadores foi diminuindo paulatinamente, mas também os sistemas defensivos (zona, homem ou misto) e atacantes. Claro que dentro destes há muitas nuances a serem exploradas. Sê-lo-ão, futuramente. Por fim, o mais importante: o jogo tornou-se muito mais rápido. E a nossa vida também não anda à velocidade da luz? Literalmente: a rotina, o levantar, comer, trabalhar (ou não), o ginásio, o constante tocar do telefone, o jogo marcado com os amigos e… tudo mais parece não fazer sentido. A vida evoluiu. O jogo também. Ficou veloz. A nossa vida é lesta. Passa rapidamente.
O jogo ganhou mais velocidade e ficou mais físico Fonte: bigcan.egloos.com
O desporto é o espelho de uma sociedade; dá para fazer o diagnóstico de ambos apenas olhando para um ou para outro. Segundo D. Blásquez, e desculpa-me por mais outra citação, “o desporto como fenómeno social não tem vida em si mesmo, não possui autonomia, é simplesmente o produto de uma cultura, de uma civilização ou, inclusivamente, de uma ideologia. De qualquer modo, o certo é que a sua evolução está subordinada à da sociedade.” Lewis Morgan (1818-1881), considerado um amigo dos índios e o mais notável autor evolucionista, publicou em 1877 A Sociedade Arcaica, onde esquematizava a evolução do Homem: selvajaria, barbárie e civilização. Terá o basquetebol tido o mesmo progresso? É uma forma bonita de finalizar esta carta.
P.S. – Viste o Benfica? Mais uma Supertaça para as vitrinas. Venceu o Vitória de Guimarães por 86-82; pode ser que tenha aprendido a lição da semana passada. Espero que esta cartinha chegue ao destino. Os correios andam mal, e vamos ver se não os vão tornar ainda piores. Mas não te apoquentes: tenho um pombo treinado de reserva.
O jogo com o Zenit era de extrema importância. O Porto precisava de assegurar três pontos para cimentar o segundo lugar no grupo. Com o Atlético de Madrid a fazer o pleno, até agora, com exibições de gala, as contas estão fáceis para os espanhóis. A corrida do grupo G é entre o Porto e o Zenit. Com a derrota, em casa, com o Zenit, as contas portistas estão complicadas. Em nove pontos possíveis o Porto apenas conseguiu três, contra a equipa teoricamente mais fraca.
Paulo Fonseca lançou dois jogadores no onze inicial portista: Licá e Herrera. No jogo da terceira jornada, Licá mostrou ser uma aposta boa, enquanto Herrera foi um desastre. Na prática, o Porto começou e acabou o jogo com um homem a menos. A expulsão aos 6 minutos de Herrera condicionou, e muito, a exibição dos homens de Paulo Fonseca. A expulsão de Herrera surge numa decisão peculiar do árbitro italiano: a primeira falta, que impede um contra-ataque perigoso, é para amarelo; tanto o jogador como os espectadores ainda devem estar a matutar sobre qual foi a razão para o segundo amarelo.
Mesmo com dez homens, o Porto mostrou, na primeira parte, bom futebol, apoiado em intensidade e propósito. Num 4-3-3 falso, com Licá a surgir como um segundo-avançado e Josué a descer no terreno para zonas mais próxima de Lucho, Lucho foi instrumental. As transições do Porto dependeram dos movimentos e passes de Lucho; sempre apoiado por Fernando e Josue, Lucho teve a liberdade de se movimentar dentro de campo à vontade. Cada ataque passou pela batuta de El Comandante.
Numa primeira parte forte, é de salientar o grande desempenho de Fernando. O médio brasileiro mostrou grande classe e raça nos vários desarmes que protagonizou durante todo o encontro. Uma coisa é certa: se Lucho tem marcado o poderoso remate que fez à baliza do Zenit, o rumo do jogo teria sido bastante diferente. No entanto, não existem “ses” no futebol. Com um F.C.Porto a dominar, o Zenit foi literalmente salvo pelo intervalo.
Hulk jogou contra a sua antiga equipa / Fonte: Reuters
Na segunda parte, o jogou mudou drasticamente de figura. A equipa russa mostrou-se mais agressiva, com mais vontade e maior força no meio-campo. A dura batalha travada na primeira parte começou a pender para o lado russo, sobretudo com a ascensão de Fayzulin e Shatov. Os dois médios foram capazes de segurar o meio-campo portista e inverter a maré de posse de bola portista. Liderado pela explosão de Hulk, de regresso ao estádio do Dragão, o Zenit começou por fim a aproveitar a vantagem numérica. Dependente dos piques de Licá, e, mais tarde, de Varela, o Porto aproximou-se do final da partida a afastar bolas da grande área com balões directos aos jogadores russos.
Luciano Spalletti mexeu bem. Ao colocar Kerzhakov, obrigou o Porto a colocar marcações fixas num homem dentro da área. A veia goleadora de Kerzhakov mostrou-se. Na primeira- e única – oportunidade que teve ao seu dispor, o russo não perdoou e com um ligeiro toque de cabeça colocou a bola no fundo das redes de Hélton.
O Porto não está afastado da próxima fase da Liga dos Campeões. O jogo da terceira jornada mostrou que o Porto é capaz de se bater, e possivelmente vencer, o seu mais próximo adversário. Num grupo que está a ser dominado por um Atlético de Madrid demolidor, faltam três jogos ao Porto. Para garantir a passagem, o Porto não pode perder nem mais um ponto. Será curioso ver a forma como a equipa de Madrid vai gerir o último encontro. No futebol não é boa ideia fazer previsões, mas, na minha opinião, o grupo será decidido na última jornada. Vai depender do Porto roubar pontos em Madrid ou arrumar as malas e partir para a Liga Europa.
Aqui ficam as minhas pontuações:
F.C.Porto
Hélton: 7/10
Numa noite em que o maior adversário foi Hulk, o guardião brasileiro saiu vitorioso. Ficou várias vezes com as luvas a escaldar devido às bombas que Hulk tentou colocar no fundo da sua baliza. Teve um momento brilhante quando aos 56 minutos impediu o golo de Hulk, com uma defesa do outro mundo. Sem qualquer hipótese no golo do Zenit.
Danilo: 5/10
O Lateral brasileiro passou despercebido durante todo o jogo. Muito condicionado pelos avanços pelo flanco de Ansaldi, Danilo poucas vezes subiu no terreno para causar desequilíbrios. Seguro defensivamente conseguiu “secar” Danny, que estava numa noite má.
Otamendi: 4/10
Após uma primeira parte segura e sem grandes problemas – a não ser Hulk -, o central argentino desmoronou-se na segunda metade. Aos 68 minutos cometeu um erro do tamanho da Torre dos Clérigos ao deixar Hulk isolado frente a Hélton. A partir desse incidente, nunca mais pareceu confiante.
Mangala: 6/10
Conseguiu segurar Hulk na primeira parte, com algum esforço. Mostrou-se muito forte nas bolas aéreas e conseguiu colocar Arshavin fora do jogo do Dragão. Na segunda parte, a par de Fernado, tornou-se o porto seguro da defesa do Porto, com vários cortes determinantes que adiaram o golo russo.
Alex Sandro: 6/10
Dos melhores elementos na primeira parte portista, o lateral portista esteve bastante presente nas acções ofensivas pela esquerda. Muito mais atrevido do que Danilo, foi uma boa solução para quando Licá fazia os desvios para o meio. Tentou um remate com o pior pé, sem êxito.
Fernando: 7/10
O melhor jogador em campo do lado portista. Com várias intervenções e cortes de grande qualidade no meio-campo, foi uma grande mais-valia durante o jogo todo. O Polvo esticou, e bem, os seus oitos braços. Conseguiu impedir a maior parte das investidas russas e foi uma verdadeira parede intransponível.
Herrera: 1/10
Sem tempo para mostrar futebol, foi expulso numa decisão peculiar do árbrito. Primeiro amarelo claro, após entrada dura sobre Hulk.
Lucho González: 6/10
Foi o grande comandante da ofensiva portista na primeira-parte. Esteve em todo o lado, tanto a defender como a atacar. Teve a batuta e a equipa a jogar com e para ele. Desapareceu, exausto, na segunda parte, face ao futebol de posse do Zenit. Substituído por Ghilas no período de desespero do Porto.
Licá: 6/10
Grande parte da ofensiva do Porto passou pelos pés do extremo do Porto. Enquanto teve pulmão, tentou rasgar as linhas do Zenit. Conseguiu desequilibrar, durante o melhor período do Porto. Esbarrou em Smolnikov, no corredor esquerdo. Saiu para dar lugar a Varela na segunda parte.
Josué: 5/10
Paulo Fonseca lançou Josué na expectativa de preencher tanto a ala direita como o meio-campo. Não pôde fazer uso da sua qualidade técnica e grande passe. Muito apagado dentro do meio-campo portista. Saiu para dar lugar a Defour, no minuto 74.
Jackson Martinez: 6/10
O grande sacrificado da noite. Com a expulsão de Herrera, perdeu um apoio no seu jogo. Ficou perdido no meio dos centrais do Zenit. Tentou, tentou e tentou, mas não foi capaz de impor o seu jogo. Exausto, apenas conseguiu um remate digno de destaque, perto do final da partida.
Varela: 6/10
Entrou na segunda parte para render Licá. Conseguiu mexer no jogo e mostrou-se numa boa forma. Sem apoio por parte dos colegas, era apenas um a remar contra a maré. Tornou-se a única fonte de perigo do lado do Porto. Esteve perto do golo, mas a barra impediu-o de fazer um golo de grande efeito.
Steven Defour: 4/10
Paulo Fonseca trocou Josué por Defour para tentar ganhar consistência e poder de choque no meio-campo. O belga não foi capaz de se impor perante a posse de bola russa e foi envolto no jogo do Zenit.
Ghilas: 2/10
Entrou após o golo do Zenit, numa tentativa de fazer a diferença; sem tempo para fazer a diferença, não acrescentou nada ao jogo. Quase sem tocar na bola.
Zenit
Lodygin: 6/10
Noite tranquila para o guardião russo. Num jogo em que foi salvo pelos postes nas duas melhores oportunidades do ataque do Porto, apenas teve de se aplicar na parte final do jogo. Defende a vantagem russa com uma excelente defesa a remate de Varela. Valeu dois pontos.
Smolnikov: 6/10
Claramente um jogador de contenção. Dotado de um físico possante, focou-se em fechar o flanco esquerdo do ataque do Porto. Muito contido e reticente nos momentos de avançar no terreno. Substituído por Criscitto na parte final do jogo.
Luís Neto: 7/10
O melhor defesa do lado do Zenit. Conseguiu colocar Jackson num grande aperto por espaço. Muito seguro nas bolas altas e no posicionamento. Uma boa exibição do central internacional português.
Lombaerts: 6/10
Não teve a melhor das noites no Dragão. Com algumas intercepções fora de tempo, apoiou Neto no corte do ataque do Porto. Quando confrontado por Jackson, teve dificuldades em acompanhar o colombiano.
Ansaldi: 6/10
Muito ofensivo ao longo da partida, o argentino esteve em muitas incursões pelo lado esquerdo do ataque do Zenit. Provocou problemas a Danilo, impedindo o lateral portista de subir no terreno. Facilitou na jogada em que Varela ganhou a linha e conseguiu rematar à baliza de Lodygin.
Shatov: 6/ 10
O melhor elemento do meio-campo russo. Discreto na primeira parte, face ao maior domínio do Porto. Surgiu na segunda parte a compensar e a equilibrar o ritmo do Zenit. O médio, de 23 anos, subiu bastante de rendimento após o descanso.
Shirokov: 5/10
Não foi o mesmo jogador que tem mostrado ser ao longo da época. Indiscutivelmente um dos mais influentes desta equipa do Zenit, esteve muito apagado ao longo do jogo. Apareceu na segunda parte mas não mostrou a grande qualidade que tem. Saiu para dar o lugar a Zyrianov.
Fayzulin: 6/10
O médio russo foi quase um jogador invisível. Fez o que lhe era pedido – ser um médio de contenção que tentasse apoiar Shirokov -, sem grandes alaridos. Um trabalho cirúrgico que resultou na maior posse de bola no segundo tempo.
Danny: 4/10
Um jogo para esquecer para Danny. O luso-venezuelano não entrou bem, não esteve bem e não acabou bem. Numa época em que tem sido a grande estrela do Zenit, surge no estádio do Dragão sem brilho. Tentou investidas sem sucesso e foi facilmente domado pelos defesas do Porto.
Arshavin: 5/10
Não conseguiu jogar da forma de que gosta. O médio russo, ex-Arsenal, teve sempre a forte oposição da dupla Mangala-Alex Sandro. Está a subir de forma, mas ainda não se dá bem com uma defesa bem organizada. Na segunda parte, o internacional russo despareceu até ser substituído, aos 72 minutos, pelo compatriota Kerzhakov.
Hulk: 8/10
Em noite de regresso a casa, o brasileiro mostrou que ainda sabe jogar bem no Dragão. Sem dúvida o melhor em campo na equipa russa, foi, ao longo do jogo, o homem mais perigoso do Zenit. Procurou o golo através de vários remates que queimaram as mãos de Hélton. É dele a assistência para o golo de Kerzhakov. Um regresso feliz ao Dragão.
Zyrianov: 5/10
O veterano Zyrianov entrou numa altura em que o Zenit começava a subir de rendimento. Utilizou a sua experiência para dar ao meio-campo russo consistência e segurança na altura de manter a posse de bola. Fez o que teve de fazer.
Kerzhakov:6/10
A segunda aposta de Luciano Spalletti acabou por ser a mais feliz. Entrou para o lugar de um Arshavin em sub-rendimento e foi feliz. Bastante discreto, sem criar grande oportunidade, teve a veia de goleador para colocar na cabeça a bola cruzada por Hulk, para fazer o único golo da noite. Goleador nato.
Criscito: 4/10
Entrou perto do fim, para defender o resultado. Rendeu Smolnikov e passou Ansaldi para o lado direito. Sem tempo para mais.
À oitava jornada joga-se finalmente o encontro mais esperado até agora. Sporting e Porto defrontam-se no próximo domingo no Estádio do Dragão, num jogo que promete ter de sobra a emoção que tanto faltou nas últimas épocas. Depois de vários anos em que o Sporting, tal como disse recentemente Bruno de Carvalho, “não contava para o Totobola”, os leões deslocam-se à Invicta com o melhor ataque da Europa e com a possibilidade de chegarem ao primeiro lugar. Mas, assim como podem alcançar a liderança caso ganhem, na eventualidade de um derrota verde-e-branca o Porto ganha uma vantagem de cinco pontos e o Benfica pode igualar o Sporting na segunda posição.
Este jogo terá, portanto, na perspectiva dos sportinguistas, um nível de interesse como há muito não se assistia. O Porto parte para este jogo no primeiro posto, mas não tem deslumbrado dentro de campo. A equipa está ainda a ter algumas dificuldades em adaptar-se à perda de Moutinho (não desprezando também a importância de James Rodríguez), algo que me parece ter motivado a inversão do triângulo do meio-campo em busca de uma maior consistência defensiva. Embora o seu novo treinador tenha vindo a adoptar uma postura de injustiçado, a verdade é que o Porto já conseguiu alguns pontos preciosos fruto dos erros de arbitragem que, estranhamente, lhes caem do céu com frequência sempre que a equipa não corresponde em campo (jogos com o Guimarães e o Estoril, por exemplo). E, se nos lembrarmos do castigo insuficiente à cuspidela do Josué, é caso para dizer que as queixas de Paulo Fonseca denotam uma enorme desonestidade e revelam que o treinador está a sentir alguma pressão neste seu início de ciclo no Porto. Ainda assim, é bom lembrar que os azuis-e-brancos têm uma defesa forte com dois laterais que dão profundidade à equipa, um meio-campo competente onde sobressai Lucho González (ainda que este sector esteja um pouco lento de processos neste início de época) e um ataque venenoso, alimentado com os golos de Jackson e onde Quintero só continua a ser uma surpresa para quem ainda não o viu jogar.
Os adeptos vão ser uma peça importante para o Sporting conseguir superar mais este desafio / Fonte: www.rr.pt
Já o Sporting terá mais um jogo para continuar a crescer e, sobretudo, para medir as potencialidades da sua equipa. Podia dizer-se que os leões não têm nada a perder, mas isso, como tentei demonstrar no início do texto, não corresponde à realidade. A missão para este jogo é algo ingrata, sobretudo se pensarmos que a derrota é o desfecho mais provável e que, a acontecer, permitirá a um Benfica à deriva sair desta jornada com os mesmos pontos e novo ânimo. Seja como for, será interessante ver como se comportarão certos sectores da equipa do Sporting – sobretudo a defesa, que terá o seu segundo teste mais a sério (ou terceiro, se contarmos com o exigente jogo em Braga), e o jovem William Carvalho, que desempenhará uma função muito complicada. Julgo mesmo, aliás, que o nível exibicional do Sporting dependerá em boa parte do seu posicionamento, capacidade física e serenidade. De resto, e independentemente que quem for titular, aposto num Sporting sem medos, a jogar de igual para igual (ainda que com as cautelas defensivas adequadas) e com a lição bem estudada de modo a conseguir minimizar os pontos fortes do adversário. São estes, a meu ver, os momentos de forma das duas equipas, e será neste contexto que ambas se irão exibir dentro de campo.
No que diz respeito a incidências fora das quarto linhas, o Sporting também saberá com o que pode contar. O próximo adversário é a melhor equipa das últimas três décadas em Portugal, mas é também aquela que, desde essa altura até agora, mais domina os bastidores do futebol português. Para uma equipa ganhar no Dragão, onde o Porto já não perde para o campeonato desde 2008, é preciso que cumpra pelo menos uma destas condições: ou ser estrangeira, como mostrou o Zenit ainda hoje, ou ser suficientemente brava, resistente e bem-sucedida para conseguir jogar contra 14 e ainda assim levar os 3 pontos. Desenganem-se aqueles que pensam que os sportinguistas estão a querer arranjar desculpas para uma eventual derrota no Dragão, e desenganem-se também todos os que acham que já lá vai o tempo em que os tentáculos do “polvo” portista chegavam a todos os cantos do futebol português. À primeira ideia, a minha resposta pessoal é que o Sporting sabe que irá disputar porventura o jogo mais difícil desta nova era, e que terá de lutar para contrariar as expectativas (que são, ainda assim, mais animadoras do que nos anos anteriores). Relativamente à segunda, digo apenas que quem pensa assim ou é adepto do Porto e quer “atirar areia para os olhos”, ou então não podia estar mais distante da realidade. O Josué que o diga.
A paciência é uma qualidade alcançável para poucos. Pior, mesmo quem a possui por natureza nem sempre consegue detê-la por muito tempo, o tempo, por vezes, necessário. E o adepto do Benfica, como aliás é facilmente compreensível, consegue não tê-la de todo. Mas nem sempre é assim. Há jogadores que por, mesmo estando as suas exibições a desiludir, que dão tudo, correm, ajudam a equipa, defendem. Esses merecem mais do que outros, um bocado mais de paciência.
Rodrigo saúda o novo 10 Fonte: zimbio.com
Provavelmente, quando se soube da transferência de Filip Djuricic para o Benfica todos pensaram: já temos 10. E não é que não tenhamos, mas é preciso calma. É um miúdo com muito talento, ponto final, mas também se nota que ainda não entrou completamente nos mecanismos da equipa, como é perfeitamente normal. Mas os passes não enganam, a visão de jogo também não, precisa é de jogar. Outro apontamento que não o favorece é a teimosia de Jesus em jogar com dois pontas de lança, não quero entrar nas opções técnicas, mas a constante alteração táctica não lhe dá tempo para impor o seu jogo.
Contudo, tenho uma grande convicção que se tornará um jogador de classe, com uma carreira de sucesso no Benfica e umas coroas a entrar no cofre. Antes disso, tem que se ser paciente. Não é por não estar ainda a demonstrar o que já vimos dele no Heerenveen que é um flop, e ainda há uns quantos no nosso plantel. Djuricic tem tudo para ser um fantástico nº10. E para nos fazer esquecer a ausência do eterno Aimar. Se assim o deixarem. Se não, paciência.
Ary Barroso, natural das montanhosas Minas Gerais, escreveu a letra da música “Aquarela do Brasil”. É um tema que, praticamente, se escusa de apresentações. E retrata o grande país lusófono com uma precisão sem igual. E é isso que o Brasil é: um país intrigante, de bamboleio, de fontes murmurantes e onde a lua e até o sol vêm brincar. Brasil é sol e calor. É gingar e sonhar. Brasil é futebol. A nação do desporto rei.
Belo Horizonte, capital mineira. Nem de propósito o destino me colocou em lugar melhor do que no local de nascimento do nosso querido Ary. Quatro horas da tarde. Dirijo-me para o Estádio (ou arena, como agora está na moda) Independência, para assistir ao encontro entre o Atlético Mineiro e os congéneres de Goiânia. O segundo classificado contra o lanterna vermelha da classificação. Tenho um chope geladinho na mão. Termino-o. Entro no Estádio. Não consigo ficar quieto. Eles saltam. Também tenho saltar. E o jogo todo nisto.
A festa da torcida brasileira Fonte: veja.abril.com.br
-Galo! Galo! Galo! É por este nome que é conhecido o Atlético Mineiro. E o Atlético Goianiense já fazia o 0-2, ainda na primeira parte. A torcida esmorece, mas mesmo assim ainda canta: “O Galo é o time da virada!”. E a reviravolta quase se concretizou. Gaúcho deu o empate no último suspiro de um jogo sofrido. O resultado final foi uma igualdade a dois. E o fatum , o maroto, ordenou que aquele ponto desse ao Galo o segundo lugar no Brasileirão e a consequente entrada direta na Libertadores, que haveria de vencer. De acordo com as leis de aritmética, no fundo, vi o Atlético conquistar a coroa do futebol sul-americano. Mas tinha saudades. Voltei para terra lusa. Como um bom filho torna a casa.
“Aqui na terra estão jogando futebol, tem muito samba, muito choro e rock n´roll”. Grande mestre Chico Buarque. E olhem que ele chegou a dizer que nada há de mais artístico do que uma partida de futebol. O jogador é o rei, o artesão que constrói lances maravilhosos.
E então, já descobriram o que é o Brasil? É uma aquarela. Terra de samba e pandeiro. E nele vivemos a mais portuguesa das palavras: saudade.
O que é isto afinal, da AOEV? A Confederação Europeia de Voleibol (CEV), em reuniões que precederam as meias-finais e a final do Campeonato da Europa de 2013 em seniores masculinos, disputadas no final do mês de setembro, em Copenhaga, apresentou este novo organismo, que não é nada mais, nada menos do que, em francês, Association de L’Ouest Européenne de Volley-Ball; ou seja, a Associação Zonal de Voleibol do Oeste Europeu.
Integrando nesta associação mais 7 países europeus – Espanha, Alemanha, Bélgica, Itália, Holanda, França e Suíça –, este novo organismo tem como vice-presidente e tesoureiro o atual presidente da Federação Portuguesa de Voleibol, Vicente Araújo.
Países que integram nova associação Fonte: fpvoleibol.pt
Ora bem, a estrutura do voleibol mundial tem como “organismo pai” a Federação Internacional (FIVB), que por si só nos traz mais cinco confederações que incluem outras largas centenas de federações nacionais, e estas últimas têm integradas as associações regionais.
O que de há alguns anos para cá se tem vindo a observar, face ao leque enorme de competições internacionais que não só a própria FIVB organiza e que têm como foco de importância maior o campeonato do mundo de voleibol, foi a criação de organismos suplementares que fomentam uma espécie de “diálogo” internacional que o voleibol hoje em dia reflete.
O caso desta recém-criada AOEV é que se trata de mais uma associação zonal da Confederação Europeia que se junta às outras quatro já existentes.
Mas quais são as vantagens disto para o voleibol português, então? Pois bem, primeiramente, a presença do próprio presidente da federação portuguesa na direção deste organismo contempla uma importante ligação à realidade interna e às possibilidades de alastrar essa realidade a um nível internacional.
Todos os anos há uma série de provas que unem equipas de todo o mundo e de todas as confederações e trazem jogos a pavilhões do globo inteiro, movendo equipas de arbitragem, multidões fanáticas, várias culturas que se fundem e órgãos media que divulgam estas competições mundo fora.
A AOEV tem como principal objetivo, além da união dos países que a integram a nível competitivo, uma clara aposta na formação.
A minha opinião, tendo em conta o que está fundamentado no mundo do voleibol e pela minha experiência, é sempre que a formação é um passo importante na carreira de um voleibolista, pois o voleibol tem uma hierarquia de aprendizagem que ao longo da faixa etária é cumprida e garante um futuro jogador de sucesso.
Para já, e esperando que estes objetivos sejam cumpridos, a Federação Portuguesa de Voleibol irá acolher hoje (dia 22 de outubro) a primeira reunião do Executivo da AOEV, que com certeza irá traçar o plano competitivo que alargará horizontes para o voleibol português.
O Porto joga com o Zenit o apuramento para a próxima fase da Champions League. Os próximos dois embates com o Zenit serão decisivos para a passagem do Porto à próxima fase da Liga dos Campeões. Com a derrota, em casa, com o Atlético de Madrid, o Porto pode muito bem ter comprometido qualquer espaço para falhas que pudesse ter tido. Agora, com apenas três pontos, os jogos com o Zenit vão ser os mais importantes do grupo. Quem vencer os dois embates tem meio caminho andado para a passagem à fase a eliminar.
No jogo de hoje, o Porto entra em campo com uma equipa quase na máxima força; apenas Izmaylov está de fora. Paulo Fonseca deve apostar no onze-tipo do Porto, com o seu 4-3-3. Mas a grande questão é: quem vai jogar no miolo do Porto? Tanto Fernando como Lucho são, na minha opinião, elementos imprescindíveis do meio-campo portista e da forma de jogar do Porto. Agora, a questão pende sobre que será o terceiro homem a fazer parte do onze inicial. Defour tem sido o titular habitual com Paulo Fonseca. O belga já afirmou no passado que este tem de ser o seu ano de afirmação. O historial de jogos prova que, de facto, Steven Defour tem sido uma aposta fixa. No entanto, Hector Herrera, nos poucos jogos que já jogou, tem mostrado bons argumentos no que toca a ser uma aposta viável para o meio-campo portista.
Steven Defour / Fonte: http://www.abola.pt/
Por um lado, Defour é um jogador de esforço. Não possui o toque mágico de João Moutinho, mas deixa sempre a pele em campo em prol da equipa. Do ano passado para agora, a evolução é notória: Defour está um jogador mais completo. A influência dentro de campo é maior e a confiança dos colegas também. O belga possui ainda uma “arma secreta”: a sua polivalência. Defour pode jogar tanto a médio defensivo como a médio centro, número 10 e até extremo. Porém, a sua “arma secreta” é, também, a sua fraqueza. Na minha opinião, o facto de Defour já ter jogado em tantas posições impede-o de se focar numa só. Se um jogador tem qualidade para ser excelente numa posição não vejo a razão, excepto em casos extremos, de o mudar de posição. Por outro lado, Herrera. O mexicano começou a mostrar o seu futebol com grandes exibições na equipa B do Porto. Rapidamente subiu na consideração de Paulo Fonseca, até ascender ao estatuto de suplente. A evolução, dentro do plantel azul e branco, de Herrera é extremamente rápida e coesa. Nos poucos jogos que fez até agora, mostrou uma grande inteligência e classe na assimilação dos processos de jogo do Porto. Possui uma boa cultura táctica e bons pés. Num meio campo com Fernamdo, Defour e Lucho, vê-se, facilmente, uma entrada de Herrera. Será interessante ver quem Paulo Fonseca vai lançar perante os russos do Zenit.
Do outro lado está a grande equipa russa do Zenit. Em anos recentes, o Zenit tem sido o grande adversário russo do Porto. Lembro-me dos embates com o Spartak de Moscovo na campanha da Liga Europa (com grandes resultados para o Porto). O Zenit vai jogar no Dragão sabendo que enfrenta uma equipa com o orgulho ferido, após a derrota com o Atlético de Madrid. Tal como o Porto, o Zenit vai subir ao relvado com a equipa quase na máxima força. Apenas um jogador está de fora da equipa de Luciano Spalletti: Witsel. O técnico italiano desvalorizou a ausência de um jogador como Witsel; no entanto, embora o Zenit tenha uma equipa com grandes jogadores, não se pode desvalorizar um jogador como este. Dentro do estilo de jogo da formação russa, Witsel surge como o maior herói. É o belga quem transmite segurança e inicia as transições defesa-ataque do Zenit. O Zenit joga numa espécie de 4-3-3 com Hulk, Danny e Kerzhakov na frente. Este trio ofensivo pode causar graves problemas à formação de Paulo Fonseca com o seu jogo rápido, sempre apoiado pelo meio-campo, e com grande poder de explosão. A defesa russa aparenta ser a zona mais fraca da equipa. Ambos os laterias são muito ofensivos, o que pode gerar abertas para o contra-ataque do porto.
O segredo para desbloquear o jogo vai estar nas alas. Ambas as equipas têm sistemas semelhantes que se encaixam na perfeição. Vão ter de ser os extremos a criar os desequilíbrios. Vamos ver que tipo de atitude terá o Zenit; num jogo que o Porto tem de ganhar, a equipa russa pode dar-se ao luxo de jogar com o empate, mas não para o empate.
Uma nota breve: vai ser bom ver regressar o Dragão Hulk. O brasileiro, que deu bastantes alegrias aos adeptos portistas, volta a casa, e espero vê-lo ser bem recebido por todo o estádio. No jogo, espero que falhe passes e remates, que perca a bola e faça um péssimo jogo. Fora das quatro linhas, espero que seja ovacionado pelo estádio do Dragão.
Veste o encarnado dos sonhos pela primeira vez. Longe de casa, mas rodeado do mundo. Do seu mundo. Tremem-lhe as pernas. Baixa a cabeça. Tenta respirar, mas parece-lhe impossível. Uma, duas, três vezes. O coração palpita, qual gazela que em alta velocidade se revolta contra as investidas sanguinárias do seu predador. E, como ela, vai deixando de ter medo. É a vida que está em jogo. Passo a passo. Galgada por galgada. Não se baixa mais a cabeça. O futuro é agora. E o futuro é dele.
Leva o “90” às costas. O mesmo número que anseia concretizar, em minutos, dentro de campo. Benze-se. Agora sim, respira fundo. Ao expirar solta um grito mudo, mais alto do que os sonhos e as esperanças que lhe assolavam o peito ainda há cinco minutos atrás, quando ajeitava as caneleiras e apertava as chuteiras. Olha à volta. As cores estão mais vivas, o ar sabe a maresia e os sons despertam paixões escondidas que sempre o fizeram sorrir. Tudo tão rapidamente que, ainda que belo, não dá por nada. Apito. Acaba o sonho. Começa a batalha.
Ivan Cavaleiro em Cinfães Fonte: Record
Nem dois minutos passaram quando o vila-franquense recebe a bola à entrada da área e, deixando apenas bater uma vez no relvado, remata para enorme defesa do guarda-redes cinfanense. A partir daí foi sem tirar os olhos da baliza e a fé do céu. Pontapé por cima. Cruzamento tenso mas sem resultados. Os seus companheiros sem conseguirem melhor. Intervalo. O mesmo ritual: ansiedade, medo, apreensão, coragem. Mão a desenhar uma cruz ao peito e as mesmas cores, os mesmos cheiros e os mesmos sons. A única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo, certo dia ouviu. Apito. Bate coração. E seis minutos depois o sonho torna-se realidade: cruzamento ao primeiro toque, fortuito, mas mortífero. A gazela virou águia. E já marcou o seu território.
Com a mesma humildade com que empunhou a espada, Ivan limpou-a e saiu vitorioso. Tem somente 20 anos. Tinha-os feito no dia anterior. É actualmente o melhor marcador da “Liga 2 Cabovisão” com 7 golos em apenas 10 jogos. Na próxima segunda-feira recebe o prémio do melhor jogador dos meses de Agosto e Setembro da mesma Liga. Ivan, ‘O Terrível’, senta-se agora no seu refúgio e espera pelo inevitável futuro: que chegue o dia em que seja aclamado Cavaleiro de Jesus.
O João é o meu melhor amigo desde que me conheço. Jogávamos à bola juntos, fomos colegas de escola, até tivemos a primeira namorada na mesma altura. Crescemos lado a lado como melhores amigos. Acima de tudo, tínhamos uma grande ligação: o amor ao Sporting.
Sempre fomos grandes leões e partilhávamos tudo! Cromos, posters, bonés, cachecóis e camisolas. Nas nossas peladinhas, ele era o Manuel Fernandes e eu o Vítor Damas, pois sempre preferi ir à baliza. Passávamos horas a imaginar um jogo de futebol, em Alvalade, em que nós próprios éramos os protagonistas que faziam vibrar a multidão leonina nas bancadas.
A diferença entre nós era só uma: eu sempre fui sócio e ele não. Os pais dele não ligavam ao futebol e nunca lhe deram dinheiro para pagar as quotas. Eu sempre soube que isso o deixava triste, mas nunca o tratei de forma diferente. O João era tão sportinguista quanto eu!
No domingo à tarde voltámos a estar juntos, como nos velhos tempos. Por circunstâncias da vida, já não nos víamos há mais de dois meses. Encontrámo-nos no café para beber uma imperial e pôr a conversa em dia. Obviamente, depois de saber como estava a sua família e emprego, acabámos a falar do Sporting.
“- E então, o que achas do novo Presidente, João? Estás a gostar dos primeiros meses?
– Claro, grande Bruno de Carvalho! Sempre disse que votaria nele!
– Pois é, mas não podias votar… quando é que te fazes sócio, homem?
– Oh, tenho lá tempo para isso… Eu até vou aos jogos e já comprei uma gamebox. Porque é que é tão importante ser sócio?”
Não esperava aquilo. Fez-me a pergunta com um encolher de ombros. Já não se mostrava triste, mas tinha, agora, uma certa indiferença na voz. O meu coração parou, como se caísse até ao estômago. De repente, voltou ao seu lugar e a bater, mas muito mais depressa. Comecei a suar e senti um estranho nó na barriga.
É verdade que sempre vi nele um sportinguista como eu. Tínhamos a mesma dose de amor e dedicação. Mas naquela altura, com aquela pergunta, percebi que lhe faltava uma parte muito importante de Sportinguismo. O João, o pequenino João que eu sempre conheci, não teve a mesma sorte que eu, mas estava na altura de saber o que eu sei.
Acabei a minha imperial com três tragos, fiz uma pausa e disse-lhe calmamente:
– “João… somos todos do Sporting. Se não fores sócio continuarás a ser um enorme Sportinguista aos meus olhos e o meu melhor amigo. Mas ser sócio… ser sócio é fazer parte de uma família. Ser sócio do Sporting é partilhar laços com José de Alvalade e Francisco Stromp. Ser sócio do Sporting é estar associado à bicicleta de Joaquim Agostinho, ao esforço de Carlos Lopes, aos golos do Peyroteo, ao melhor jogador do Mundo, Cristiano Ronaldo.
Mais do que por todos eles… sou sócio do Sporting por mim próprio. Porque é um orgulho andar com um pedaço do meu clube na carteira. Porque tenho um número, faço parte de algo enorme. Porque sou um entre milhares de pessoas que acreditam no mesmo que eu, que sentem o mesmo que eu e que AMAM o mesmo que eu! Sou sócio do Sporting porque pertenço ao Sporting. E isso não tem custo!”
Quando acabei de falar, percebi que toda a gente no café estava com os olhos cravados em mim. Tinha a testa a escorrer suor e nem reparei na força que tinha colocado nas minhas palavras. O João estava branco como cal. Não me disse nada durante largos minutos. Depois, levantou-se, e com um forte abraço disse-me “dá cumprimentos à Rafaela e aos miúdos.”
Achei que tinha ido longe de mais. Pensei que talvez tivesse sido ofensivo e magoado o meu grande amigo, mas não. O João ligou-me há pouco, a chorar. É o número 102.315.
“O Özil é único. Não há uma cópia dele, nem sequer uma má. É o melhor número 10 do Mundo. Tornava as coisas mais fáceis para mim e para os seus colegas devido à sua visão de jogo. Todos o querem e nele é possível ver um pouco de Figo e de Zidane”. As palavras são de José Mourinho e foram proferidas aquando da inesperada transferência do médio para o Arsenal, que pagou 50 milhões de euros ao Real Madrid. Melhor descrição não poderia haver. A qualidade do internacional alemão – o jogador com mais assistências no futebol europeu nos últimos anos – veio revolucionar a equipa orientada por Arsène Wenger. Não só pelo que vale individualmente, mas também porque veio influenciar o rendimento de quem joga a seu lado. Uma contratação que eleva os gunners para outro patamar. Nesta altura, são reais candidatos ao título, algo impensável no início da Premier League.
Os fãs do Arsenal bem podem agradecer a Gareth Bale. Afinal, foi a transferência do galês para o Bernabéu que proporcionou a chegada de Özil ao Emirates. Um negócio em que só mesmo os merengues ficam a perder (confesso que gostava imenso que o Arsenal e o Real Madrid se encontrassem na Champions). O craque alemão tem finalmente uma equipa em que o seu talento é verdadeiramente aproveitado – num modelo de posse e não de transições – e em que é a estrela maior. Para Arsène Wenger, que tem vindo ano após ano a perder os melhores jogadores (Fàbregas, Van Persie…), acaba por ser uma recompensa justa. O técnico francês ganhou um artista capaz de executar na perfeição aquilo de que nunca abdicou: um futebol ofensivo e atractivo. Pode novamente provar que é um treinador vencedor (quem não se recorda da fantástica equipa que tinha Henry, Bergkamp, Vieira, entre outros?), que não se limita a potenciar jovens. Tem um conjunto à sua medida, com jogadores criativos e evoluídos tecnicamente.
Özil, o reforço que Wenger tanto ansiava / Fonte: cdn.foxsports.com.br
Só com o decorrer do campeonato poderemos perceber se a profundidade do plantel do Arsenal chegará para o título, mas a verdade é que a chegada de Özil – que já leva 2 golos e 4 assistências – teve um impacto muito positivo no colectivo. Para já, os gunners seguem na liderança isolada da Premier League e afastaram alguns problemas antigos, nomeadamente na defesa. O quarteto formado por Sagna, Mertesacker (a atravessar o seu melhor momento com a camisola do Arsenal), Koscielny e Gibbs tem conseguido manter alguma regularidade exibicional nos últimos encontros, embora continue a ser o sector mais limitado da equipa. Por outro lado, a dinâmica ofensiva, assente em movimentações constantes e futebol ao primeiro toque, continua a ser o ponto forte dos londrinos. E isso explica-se pela enorme qualidade das opções para o meio campo. Aaron Ramsey é a grande revelação da temporada. O galês tem impressionado pela facilidade com que aparece em zonas de finalização, levando já 5 golos marcados. Wilshere, depois de ter sido afectado por alguns problemas físicos, parece determinado em confirmar de vez o seu tremendo potencial. Cazorla, regressado de lesão, promete formar uma dupla infernal com Özil – o espanhol, que na última época actuava sobre o corredor central, vê-se agora “obrigado” a descair para a direita. Tendo em conta que estes três jogadores farão seguramente parte do 11 mais utilizado e que a posição 10 é de Özil, sobra uma vaga, que tem sido ocupada por Flamini, o menino bonito de Wenger. Face à inexistência de um trinco de raiz no plantel, tem sido o francês a desempenhar a posição de médio mais defensivo no duplo pivot. Rosicky e Arteta, jogadores experientes e com um toque de bola fantástico, serão certamente importantes na rotação do plantel. Podolski é uma incógnita, já que tem passado mais tempo na enfermaria do que nos relvados. Ainda há Walcott, Oxlade-Chamberlain (vai estar afastado por um longo período devido a lesão) e o jovem Gnabry, para ir evoluindo. Na frente de ataque, Giroud tem estado em evidência neste início de temporada. Não só pelos golos que marca como também pela facilidade que tem em jogar de costas para a baliza, algo que beneficia o modelo de jogo da equipa. Não existe uma verdadeira alternativa ao francês. Bendtner, a eterna promessa, ainda vai tendo alguns minutos de jogo, e Yaya Sanogo é uma aposta a longo prazo. Resumindo, um plantel com qualidade mas que apresenta algumas lacunas.
Chegou, viu e venceu / Fonte: static-imgs-acf.hereisthecity.com
Voltando a Özil, se tivesse aparecido há alguns anos atrás, estaria facilmente a lutar pelo prémio de melhor do mundo. O problema, na perspectiva do alemão, é que agora existem dois jogadores que marcam uma quantidade exorbitante de golos, o que torna impossível para quem quer que seja intrometer-se na luta. Mas não importa. Agora, o “Nemo” tem uma relação de simbiose com o emblema que representa. Deu-lhe capacidade de lutar por títulos. Em troca, tem uma equipa construída em seu redor; é a estrela maior de um conjunto em que, indubitavelmente, é ele e mais 10.