O intervalo acabou tanto para mim como para os jogadores. Começou ontem o Championship League. Este torneio não conta para o ranking, uma vez que a participação dos concorrentes é feita por convite. A participação do jogador é condicionada por critérios estabelecidos pelo organizador, patrocinador ou por convite pessoal. Pois é… só para os melhores. Até dia 9 de Janeiro decorrerá no Cordon Parl Golf Park, Stock, Inglaterra, a sexta edição deste torneio. O Championship League foi introduzido em 2008 por Barry Hearn para adicionar um pouco mais de competição, inserindo assim uma qualificação para o Premier League Snooker (1).
Factos curiosos: este torneio não tem público e é apenas transmitido via internet, o que me perturba um bocadinho. Ausência de público? Onde está toda aquela intimidade do jogo? Dois oponentes, um júri de mesa e um cameraman, sensacional! Digamos que o facto de ser um invitation event torna a “coisa” mais… hum… elitista? Tento pôr-me na pele do Shaun Murphy e imaginar o cenário, um jogo privado (não é nada apelativo) – sempre vi nas entrevistas que o que eles mais apreciam é a proximidade com o público. Mas, afinal, o que interessa é sempre o dinheiro e no Championship League isso não falta, com certeza. Os jogadores ganham dinheiro por cada frame ganho e há também prémios monetários por ser-se semifinalista, vice-campeão ou campeão de cada grupo (são sete grupos). Fácil não sair de lá com as mãos a abanar.
Fonte: sportsbun.com
O ano passado o vencedor foi Martin Gould, que arrecadou mais de 37 mil euros com um resultado de 3-2 contra Ali Carter.
O grupo um jogou ontem e houve quem voltasse fresco das férias. Ali Carter fez um fantástico break de 133 pontos no jogo contra Judd Trump. Ricky Walden e Stuart Bingham também entraram nos breaks centenários com entradas de 117 e 101, respectivamente.
(1)Premier League Snooker foi um torneio de snooker sem classificação para o ranking. Começou em 1987 e teve fim em 2012, quando foi substituído pelo Champion of Champions
Os “Rapazes Sem Nome” saíram à rua para um último tributo em morte, depois de muitos em vida. Com eles saiu tal cântico. Das suas bocas. Projectado entre punhos desvairados, cachecóis encarnados em reboliço e bandeiras de face voltada a um vento que soprava com uma alegre tristeza. Saíram também os adeptos. Os sócios. Os doentes. Os loucos. Uns velhos. Outros novos. Uns ricos. Outros pobres. De encarnado. De verde. E de azul. Uns de sorriso amarelo nos lábios. Outros de lágrimas logo enxutas e ainda por derramar. Percebeu-se que era a sério quando alguns as derramaram.
Percebeu-se que não havia volta a dar quando a voz do Malheiro ficou ainda mais grave. Percebeu-se que era tarde demais quando o próprio Toni não o desmentiu. Percebeu-se que já não havia nada a perceber quando o próprio Benfica o anunciou, começando os preparativos e abrindo as portas para o seu povo – que ontem e hoje foi o povo português, e até o povo mundial.
Perder Eusébio foi como perder parte de Portugal Fonte: SAPO
Ainda agora parece mentira, enquanto a chuva vai batendo lá fora. Tudo tão rápido, tudo a querer fugir-nos por entre as mãos, da mesma forma que a vida lhe fugiu por entre um sorriso malandro e de orelha a orelha – assim gosto de imaginar, para que não doa tanto. Mas terá doído? O que resta de sofrimento quando o Deus de que falamos viveu tudo o que havia para viver? Tendo-o feito, ainda para mais, como as crianças o fazem: da forma mais verdadeira, pura, simples e alegre que lhe(s) é possível. Assim foi. Assim está. Assim nos despedimos, ontem e hoje, da figura que marcou o desporto nacional. E os nossos corações.
Lembrar Eusébio é lembrar muito mais do que um jogador da bola. Percebo isso, finalmente. Eu, que amo celebrar o futebol, mas que odeio tudo o que se vive fora de campo. Hoje percebo. Percebo que levar pela mão este homem até à sua última morada é quase tão magnífico, único e necessário como levar o nosso filho ao seu primeiro jogo num estádio. É a celebração de uma vida. O celebrar da nossa vivência térrea. O “obrigado” a tudo o que é do coração e que o coração nos faz ver e viver com olhos turvos de tantas que são as lágrimas que os invadem. Parar uma cidade só para dizer adeus foi pouco. Dever-se-ia ter parado o mundo. País a país, cidade a cidade, casa a casa. Porquê? Porque morreu o último símbolo que era na realidade…um homem real.
Eusébio da Silva Ferreira representa o meu pai – ainda que este malandro que tanto amo seja lagarto. A minha mãe – com menos bigode, felizmente. O meu querido avô materno – que não procurou sucesso no futebol, mas na tipografia. E mesmo a minha avó materna – ainda que esta não consiga chutar uma bola nem para salvar a própria vida. Porque Eusébio foi e é igual a eles. Um dos que se levantou todos os dias às sete da matina para passar o dia a treinar. Sem promessas de futuro. Sem poder descansar. Sem poder acreditar que a sua vida profissional poder-se-ia estender a algo mais do que Portugal. E depois de volta a casa. Dia após dia, após dia. Tudo isto com o acréscimo de ter deixado para trás o seu continente, o seu país e a sua família porque alguém lhe disse que ele haveria de vingar…em Portugal…e a jogar à bola. Não bastava portanto a este imigrante preto ter vindo para um país fascista que explorava colónias africanas – ou os pretos que lá viviam –, como teve ainda de acreditar irremediavelmente e com todo o seu coração que seria o antigamente-mal-pago-futebol o responsável por uma vida melhor. Por uma vida digna. Quantos de nós passamos ou passámos por isto? Acima de tudo: quantos de nós triunfaríamos nestas condições? Quantos abraçaríamos, com qualidade, honestidade e orgulho em todas as nossas acções, o selo de “Self-Made Man”?
Ele fê-lo. E fê-lo marcando uma geração. E a geração seguinte. E a depois dessa. E as que hão-de vir, acredito. O que o torna no Deus nacional e no Rei do Benfica foi acreditar. Somente acreditar. Acreditar como já há muitos anos não se acredita em coisa nenhuma ou em coisa qualquer neste País. Neste Mundo. E é acreditando que não se desiste. Eusébio foi o último de nós que, cheio de alegria, conquistou a sua e a de todos. Conquistou também uma Taça dos Campeões Europeus, onze Campeonatos Nacionais e cinco Taças de Portugal – tudo com a águia ao peito. Por ele, ela há-de voar novamente neste Domingo que se avizinha. Já ele, deu hoje a última volta ao estádio ao qual chamava “casa”. Nós? Nós despedimo-nos durante mais de 24 incessantes horas. Ao frio e à chuva. De noite, madrugada, manhã e tarde. Mas não custou. Não custou porque não foi propriamente uma despedida. É que os grandes nunca partem. E mesmo quando o fazem, fazem-no com uma jovialidade e elegância tais, que nós, meros mortais, pintamos durante o resto das nossas vidas os nossos sonhos com aquelas que foram as suas lutas e consequentes conquistas. Porque não há nada mais tocante e importante do que um ser humano que move multidões. Agora imaginem que esse ser humano “só” jogava à bola.
Agora vai lá descansar, Rei…se bem que eu acredito que sejas o único homem que até desse lado não vai desistir de viver. E de encantar, claro.
Em post-scriptum deixo um obrigado emocionado a todos os sportinguistas e portistas que souberam solene e dignamente honrar a memória de um benfiquista de clube, mas português de coração. Agradeço ainda e especialmente a Bruno de Carvalho, pela presença no momento fúnebre, e a Pinto da Costa, pela mensagem sincera que publicou no site oficial do FC Porto.
No meu último texto para o Bola na Rede defendi vincadamente que um dos principais problemas que o futebol feminino atravessa em Portugal é a sua paupérrima cobertura mediática. Dado que não pretendo ser acusado de hipocrisia e como não acho que “seja assim tão difícil” para o futebol feminino português “dar o salto” (http://www.bolanarede.pt/?p=4481 ), comecei este novo ano a fazer a minha parte, por assim dizer: aproveitei a oportunidade e fui assistir ao jogo que opôs a EFF Setúbal ao Atlético Ouriense, disputado no Complexo Municipal de Atletismo de Setúbal, a contar para a 14ª jornada do campeonato nacional feminino.
Em termos de antevisão do jogo, pouco havia a dizer. Uma derrota ou um empate, neste momento, seriam completos desastres para a formação de Ourém – estão a nove pontos do líder A-dos-Francos; a dois do Clube Futebol Benfica, que já vai em segundo; e com dois pontos apenas de vantagem do quarto classificado, o Albergaria. É certo que o Ouriense ainda tem um jogo em atraso com o Boavista, mas a apenas quatro jornadas do fim da fase regular perder pontos é proibido para qualquer das quatro primeiras equipas. Isto porque Vilaverdense e Boavista, ambos com 22 pontos (Vilaverdense perdeu por 2 a 1 perante o A-dos-Francos e o Boavista venceu o 1º de Dezembro pelo mesmo resultado), ainda sonham com o acesso à fase de apuramento de campeão. Já para a equipa de Setúbal, penúltima classificada com apenas seis pontos, o objectivo passava simplesmente por evitar a derrota contra o actual campeão em título.
Tabela do Campeonato Nacional Feminino, à passagem da 14ª jornada da fase regular Fonte: http://futebolfemininoportugal.com
Após o obrigatório minuto de silêncio em homenagem a uma incontornável figura do futebol e desporto nacional (um enorme obrigado por tudo, Eusébio!), a partida começou de forma bastante aguerrida. Obrigado a ganhar, o Ouriense entrou com intenção de controlar a partida e resolver logo nos primeiros minutos. No entanto, o campo de relva natural do Complexo Municipal de Atletismo de Setúbal estava em condições que dificultaram e muito o estilo de jogo das atletas de Ourém. A forte chuva do dia anterior deixou o relvado algo “empapado”, como se costuma dizer na gíria do futebol, o que impediu, em parte, as duas equipas de praticar futebol de qualidade. Habituado a trocar a bola com frequência e critério, o Ouriense teve bastantes dificuldades em se habituar ao terreno de jogo. Já a EFF Setúbal apresentou-se em campo com uma defesa compacta, que procurava sair a jogar com velocidade no contra-ataque.
O primeiro tempo terminou sem nenhuma oportunidade de golo digna de destaque. O Ouriense teve grande parte da posse de bola, mas falhou constantemente quer no último passe quer em encontrar formas de chegar com perigo à baliza adversária. O Setúbal aproveitou as condições do campo e a aparente desinspiração do oponente para defender bem e disputar o jogo logo no centro do campo. A dez minutos do intervalo um canto cobrado pela equipa da casa ainda assustou as forasteiras; mas fora isso, a partida foi para o descanso com futebol “durinho” e pouco atractivo.
Escola de Futebol Feminino de Setúbal; penúltimos classificados, fizeram uma boa primeira parte em termos defensivos contra o campeão em título, Atlético Ouriense Fonte:Fonte: facebook da EFF Setúbal
A segunda parte não trouxe grandes alterações a esta conjuntura. O Ouriense continuava sem ideias e a insistir na posse de bola inofensiva. Até foi a EFF Setúbal que criou a primeira grande oportunidade de perigo, numa saída rápida em contra ataque que viu a guarda-redes Petra negar o golo à já isolada avançada setubalense. Num jogo que cada vez mais começava a complicar-se, o Ouriense elevou o ritmo de jogo em busca do golo que tardava em aparecer. Se a consistência defensiva do Setúbal e o terreno em fracas condições tornaram complicado jogar a bola pelo chão, a solução acabou mesmo por vir pelo ar. Pouco depois da oportunidade flagrante da EFF Setúbal, o Ouriense aproveitou a marcação de um canto para inaugurar o marcador. Ou pelo menos assim parecia. A árbitra do jogo invalidou o golo por alegada falta sobre a guarda-redes setubalense, Ana Filipa Marques. As jogadoras do Ourém contestaram a decisão, mas há coisas no futebol que estão destinadas a acontecer. Poucos minutos volvidos, novo canto para o Ouriense, bola bombeada para o coração da área, defesa incapaz de aliviar a bola, e, finalmente, o golo de cabeça por Bárbara Pragana. 1 a 0 para o Ouriense.
Cristiano Ronaldo bem diz que os golos são como o ketchup. Não sei se concordo com o melhor jogador português da actualidade, mas dar-lhe-ia razão se nos baseássemos apenas no que aconteceu este domingo em Setúbal. Desfeito o nulo, o Ouriense continuou a controlar o jogo e o segundo tento não tardou em aparecer, novamente pelo ar. Recuperação de bola por Ana Coelho, cruzamento de Manaus e o infeliz desvio da defesa da EFF Setúbal, que faz um autêntico chapéu à guardiã da casa, muito à semelhança do auto-golo marcado por Vicent Kompany no Machester City há bem pouco tempo.
O resultado parecia fechado, mas ainda havia tempo para ver em prática uma velha máxima do futebol. Empenhada em dar a volta à diferença de dois golos, a EFF Setúbal ainda tentou um par de investidas ofensivas. A mais perigosa veio a escassos minutos dos 90, com um desentendimento entre Filipa Rodrigues e Ana Valinho que quase resultava em golo. Mas como “quem não marca sofre”, foi mesmo o Ouriense que ampliou a vantagem, numa jogada conduzida por jogadoras que haviam entrado na segunda parte. Nova recuperação de bola, desta vez por Manaus, e passe curto para Inês Cruz, que mostrou instinto finalizador e aplicou um remate colocado sem qualquer hipótese.
Atlético Ouriense ainda tremeu, mas conseguiu levar a melhor sobre a EFF Setúbal Fonte: www.zerozero.pt
Contas feitas, 3 a 0 para o Ouriense, num jogo em que foi preciso subir aos ares para “desengatar” o marcador. O terreno impediu a prática de bom futebol, mas o Ouriense bem que se pode queixar de falta de criatividade ofensiva na primeira parte. A táctica montada pela EFF Setúbal conseguiu tardar o golo do Ouriense, mas este melhorou – e muito – o rendimento na segunda parte, conseguindo assim atingir o objectivo dos três pontos.
Eusébio da Silva Ferreira foi inegavelmente o melhor futebolista da sua geração a nível nacional e um grande jogador à escala mundial. A Taça dos Campeões conquistada ao serviço do Benfica (esteve apenas presente numa e não nas duas, ao contrário do que é comum dizer-se) e a prestação brilhante ao serviço da selecção no Mundial de 66 levaram a sua fama além-fronteiras, algo que Peyroteo, em parte devido ao facto de na sua altura não haver competições europeias, não teve a sorte de alcançar. Eusébio passou a ser unanimemente admirado pela comunidade internacional – situação que contrastava com o desprezo estrangeiro por Portugal, à época um país isolado, ditatorial e em guerra. Muitos portugueses, mesmo os de outros clubes, vibraram com os seus golos em Inglaterra e choraram com o fim do sonho de conquistar o Campeonato do Mundo. Eusébio era, por esta altura, um homem idolatrado por todos. Por que razão, muito depois de ter terminado a carreira, havia de querer deitar tudo a perder? Não consigo encontrar uma resposta, mas foi precisamente isso que aconteceu.
É verdade que Eusébio não tinha tanto à-vontade ao nível do discurso como em tempos tivera com a bola. Aquilo que dizia, sobretudo nos últimos tempos, era nitidamente moldado por responsáveis do Benfica. Dou-lhe esse desconto, mas isso não justifica tudo. Frases como “o Benfica só perdia com o Sporting se jogasse com os juniores” ou “nem do Sporting de lá [Moçambique] gosto, quanto mais do de cá” apenas contribuíram para que os Sportinguistas tivessem deixado, como foi o meu caso, de se rever minimamente neste ex-jogador. Eusébio também omitiu o papel do Sporting no início da sua carreira, quando o Benfica local o rejeitou, dizendo que “tudo o que hoje sou é graças a mim, aos meus colegas e ao Benfica”. Mas dizer que “no meu bairro, o Sporting era um clube de elite, da polícia e racista”, é passar todas as marcas. Estas palavras, ditas em vésperas de derby e poucos dias depois de Javi Garcia ter sido precisamente acusado de racismo, fazem com que, na minha opinião, os Sportinguistas tenham de saber distinguir o Eusébio jogador do Eusébio ex-jogador.
Se o primeiro foi sublime, o segundo faltou várias vezes ao respeito a um clube que sempre o valorizou e admirou. Felizmente, vários ex-jogadores africanos do Sporting, entre os quais Hilário, vieram desmenti-lo. Mas não deixa de ser triste que Eusébio, uma das maiores figuras do desporto nacional – inclusivamente para muitos Sportinguistas – tenha optado por essa via. A todos os que, na altura, bateram palmas a estas palavras, recordo que o racismo e a discriminação social não se dividem por clubes. Não existem “clubes racistas”, existem apenas pessoas e sectores que podem sê-lo ou não. E, assumindo que o Benfica é o clube com mais adeptos a nível nacional, os racistas talvez até sejam em maior número nesse clube do que noutros, quem sabe. A conversa dos 6 milhões vale para o bem e para o mal.
A entrevista de Eusébio à “Única”, uma das ocasiões em que o Pantera Negra se dirigiu ao Sporting em termos menos próprios/ fonte: leaodaestrela.blogspot.pt
Numa altura em que sobram os elogios sinceros de muitos e o oportunismo de alguns, vejo-me na obrigação de evocar tudo isto, para que não caia no esquecimento. Não o faço como tentativa de provocação a quem quer que seja, e menos ainda como um ataque a quem já não se pode defender. Sei que o desaparecimento do “Pantera Negra” é um momento triste para os benfiquistas, e respeito todos aqueles para quem este jogador é um ídolo. Quero apenas, através de factos, demarcar-me da onda de elogios incondicionais ao Eusébio – atitude a meu ver justificável, já que esta pessoa nem sempre foi correcta para com o meu clube. Se, contudo, algumas destas declarações podem denotar uma certa ingenuidade da parte dele – a mesma ingenuidade que o fez admitir à RTP que, quando jogou pelo Beira-Mar contra o Benfica, foi dizer aos ex-colegas que não iria sequer rematar à baliza, atitude que se situa no limiar entre o mau profissionalismo e a corrupção activa – outras, como é o caso das evitáveis palavras sobre Cristiano Ronaldo (“nunca joguei contra o Liechtenstein”), revelam uma pessoa triste e, porventura, com medo de ser esquecida. Tanto a primeira como a segunda situação me parecem compreensíveis do ponto de vista humano, mas ambas são também condenáveis do ponto de vista ético.
Ricardo Araújo Pereira escreveu ontem que “Eusébio é outra maneira de dizer Benfica”. Concordo por inteiro. A admiração por Eusébio foi comum a várias gerações anteriores, mas ele, mais do que um símbolo de Moçambique e de Portugal, é um símbolo do Benfica. Pessoalmente, como não sou benfiquista, não ligo muito à selecção nem aprecio o modo como o Eusébio por vezes falava do Sporting, não o tenho como grande referência. E, da mesma forma que percebo que muitos benfiquistas não morram de amor pelo Ronaldo depois de ele lhes ter levantado o dedo (ainda que isso tenha ocorrido após mais de uma hora de assobios ao jogador), também me sinto à vontade para emitir a minha opinião sobre este assunto. Os benfiquistas não podem querer fazer do seu jogador mais emblemático um símbolo nacional à força, se tanto esse jogador como o discurso oficial do clube não são capazes de respeitar as restantes instituições desportivas do país. Faz-me confusão que surjam campanhas a elevá-lo a “herói unificador” quando nem o próprio Eusébio fez por isso. Mesmo que Figo e Ronaldo não tivessem atingido um nível ainda mais estratosférico do que o de Eusébio e Peyroteo, nunca me iria sentir verdadeiramente representado pelo “Pantera Negra” – o que não significa, claro, que não reconheça o seu brilhantismo dentro de campo e a importância que teve e ainda tem no imaginário de várias gerações. Jogador genial, claro que sim. Ídolo, talvez. Mas não o meu. Que descanse em paz.
Morreu um génio. O futebol português nunca mais será o mesmo sem Eusébio. Espera-se uma grande homenagem à figura de Eusébio no próximo jogo na Luz. Por coincidência das coincidências, o jogo opõe as duas maiores equipas de Portugal: Porto e Benfica. Parte de mim gostaria de ver o Benfica prestar uma homenagem a Eusébio com uma vitória. Porém, não faz parte das ambições azuis e brancas dar uma “carta branca” no jogo de dia 12. Independentemente da morte de Eusébio, o Porto necessita da vitória e vai jogar para vencer.
Perante um público choroso em luto, o que espero, acima da vitória, é respeito. Não vejo melhor homenagem possível ao ”Pantera Negra” do que um embate entre Porto e Benfica. Se há, em Portugal, equipas capazes de produzir um jogo ao nível da figura de Eusébio são, sem dúvida, as equipas supramencionadas.
A chegada de claque é sempre um momento crítico em clássicos / Fonte: SD
Tenho, no entanto, uma preocupação. Não sou contra claques. Acho que são uma forma saudável de mostrar carinho e afecto para com um emblema. Os maiores exemplos de claques, embora não o sejam na génese do termo, são as claques do Liverpool de Inglaterra e dos escoceses do Celtic. Em Portugal, as claques funcionam de forma diferente. O carinho e o afecto sofrem uma transformação para se tornarem fanatismo. Não interessa qual for a razão, o fanatismo nunca é positivo. A rivalidade entre Benfica e Porto é antiga e representa também confronto entre as duas grandes cidades.
Como nos tem mostrado a história, as romarias das claques ao recinto dos rivais são sinónimo de problemas, pancadaria e feridos. A falta de respeito entre claques também é notória. Na cobertura da morte de Eusébio, Toni, antiga glória do Benfica, mostrou preocupação face à claque do Porto. Em declarações sentidas, o treinador afirmou que espera que, quando for feita a homenagem a Eusébio, haja silêncio e respeito pela lenda não do Benfica, mas sim de Portugal.
É esperada casa cheia no primeiro jogo na Luz após a morte de Eusébio / Fonte: Desportugal
Toni expõe, de facto, um sério problema. Espero, e faço disto um apelo a todos os amantes de futebol que desejem ir ao estádio no próximo dia 12, que, independentemente da cor da camisola, se dignem fazer silêncio e prestem uma homenagem merecida àquele que é provavelmente o melhor jogador português de sempre. Durante o jogo e depois dele puxem pela vossa equipa, entoem os vossos cânticos, mostrem quem vocês são e quem defendem. Mas antes mostrem respeito por um dos grandes.
No relvado, a minha ambição é igual. Como já referi, o resultado é importante. No entanto, dia 12 não é um jogo da 15º jornada da Liga Portuguesa. É um jogo de homenagem a Eusébio. Um jogo de homenagem a quem a merece.
Neste meu primeiro artigo do ano, decidi escrever-vos sobre o histórico Nottingham Forest, uma equipa que marcou o final da década de 1970, em toda a Europa. Porém, esta decisão não advém da falta de tópicos sobre o que escrever: o Manchester United continua a desapontar, o próprio City não conseguiu levar de vencido o Blackburn, ou mesmo sobre o dérbi londrino Arsenal – Tottenham.
O Nottingham Forest aspira a um regresso ao escalão principal, a relembrar os tempos de Brian Clough, que levou a equipa à sua época dourada, com um bis europeu em 1979 e 1980. Na verdade, a época tem corrido bem e ocupam a 5ª posição do Championship.
Jornada da FA Cup / Fonte: chelseabrasil.com
Mas vamos, agora, ao que realmente interessa. Nesta jornada da FA Cup (Taça Inglesa), o Nottingham não só venceu o West Ham United como o goleou por uns esclarecedores 5-0. A rotação da equipa não pode ser de todo desculpa para os hammers.
A equipa da casa viria a marcar muito cedo na partida, aos 12 minutos, por Abdoun, através de uma grande penalidade ganha por Paterson, que viria a ser a figura do encontro. Já na segunda parte, Paterson viria a fazer um hat-trick, em apenas 14 minutos. A estocada final no West Ham viria a ser dada por Reid, depois de um contra-ataque organizado por Abdoun.
A estrela da partida, Jamie Paterson, vinha até este jogo a ter dificuldade em impor-se na equipa, não marcando qualquer golo em 16 partidas, conseguindo apenas em quatro jogos a totalidade de minutos dos encontros. Foi, sem dúvida, uma aposta feliz de Billy Davies.
Jamie Paterson, figura do encontro / Fonte: imguol.com
Já do lado do West Ham, a falta de experiência não pode ser desculpa, visto que jogaram bastantes titulares na equipa de Sam Allardyce. Depois desta paupérrima exibição, fala-se mesmo no despedimento do treinador inglês. Os Hammers ocupam o 19º lugar na Premier League e este jogo pode mesmo ter sido a gota da água para o experiente manager.
Quanto ao histórico Nottingham, só resta esperar um regresso à Premier League e que, passo a passo, conquistem o seu espaço na melhor liga do mundo. É um clube com quase 150 anos de história e, definitivamente, não tem intenção de fracassar.
Mais uma semana que passa. Mais dezenas de jogos. Mais histórias para serem contadas. Depois de engolir a azia que senti após o jogo entre os Golden State Warriors e os Miami Heat (vitória da equipa da Califórnia), decidi escrever sobre os jogadores mais indefensáveis da liga.
Para quem gosta da NBA, há jogadores que por vezes podem meter algum “asco” pela qualidade apresentada. Há atletas que por mais pressão que tenham em cima, por mais longe que estejam do cesto, por mais impossíveis que pareçam as suas missões ofensivas, têm sempre algum toque de magia que faz com que os seus lançamentos encontrem o destino.
Por onde começar se não pelo detentor do recorde de maior número de triplos numa época, Stephen Curry, que por acaso marcou mais de 30 pontos contra os bicampeões. Curry tem demonstrado que é o base que mais medo mete quando se aproxima do garrafão. O jogador dos Golden State Warriors é mortífero a longa distância e se um defesa se antecipar e tentar defender essa opção ofensiva, quase sempre em vão, o base opta ou por passar para alguém livre, ou por utilizar a sua velocidade e habilidade para atacar o cesto. Contra os Miami Heat, Curry fez 8 triplos e muitos deles quase impossíveis. Bem, com qualquer outro atleta seriam mesmo impossíveis, mas com Curry é algo que já é expectável.
De seguida, falo de outro base. James Harden, o barbudo que joga nos Houston Rockets, é outro jogador que se apresenta como uma constante ameaça a todas as formações defensivas. Este não faz tantas assistências como o anterior, porém marca mais. Assustadoramente bom a lançar de triplo, Harden é um atleta com uma gigante capacidade de explosão e de afundar. Jogador bastante forte no um para um, Harden, mesmo quando lança mal, é capaz de fazer jogos fenomenais. Exemplo disso foi o jogo em que apenas acertou duas vezes em nove lançamentos de campo, mas mesmo assim acabou com mais de 20 pontos. Escusado será dizer que Harden é um jogador fenomenal e quase indefensável.
Os próximos jogadores são absolutamente soberbos e a prova disso é que estão constantemente entre os melhores marcadores da liga. Comecemos pelo que ganhou esse título no ano passado. Carmelo Anthony está a fazer um início de época muito abaixo do comum. Aliás, a equipa dos Knicks é que o está a fazer. Melo, como é conhecido pelos fãs, faz regularmente “duplos-duplos” e marca uma quantidade ridícula de pontos. A sua qualidade ofensiva está a ser ofuscada pela péssima performance da equipa de Nova Iorque, mas mesmo assim, Anthony é actualmente o segundo melhor marcador da liga. Este tem um dos lançamentos mais puros da NBA e tem um jogo de pés fenomenal. Não garante grandes afundanços nem grandes rodopios. Basicamente, Carmelo Anthony garante pontos.
Temos sido abençoados por poder assistir a estes dois fenómenos a jogar. Sem dúvida, os melhores do mundo. São também os mais indefensáveis da liga. Fonte: sportsinreview.com
Os dois jogadores mais indefensáveis da liga são também os dois melhores. Kevin Durant dos Oklahoma City Thunder foi o melhor marcador durante três anos consecutivos (e está a caminho de o ser outra vez). Com Durant não há volta a dar – ele vai marcar pontos, como é que ele o vai fazer é que é a grande questão. Possuidor de um grande alcance nos seus lançamentos e de uma enorme aptidão para afundanços poderosíssimos, a maior estrela da equipa de Oklahoma faz o que quer quando tem a bola na mão. Durant tem mostrado que, sozinho, consegue levar a equipa às costas. Agora, o que o torna tão indefensável? O jogador possuidor de braços compridíssimos tem um lançamento bastante elevado, o que faz com que os defesas não o defendam tão bem e quando o conseguem, fazem falta. Ou se tem um jogador com capacidade paranormal a cobrir “Durantula”, ou basicamente tem de se esperar que o treinador o tire para descansar, para que se possam ter hipóteses.
Por fim, tem de se falar, obviamente, de LeBron James. Melhor jogador da NBA por quatro vezes não consecutivas, quando LeBron começa a ir em direcção ao cesto, não há quase ninguém que o consiga parar. Feito locomotiva, James leva os jogadores que tiver de levar à sua frente. Com um físico assustador, a maior estrela da liga tem uma habilidade que engana bastante. Liderou a equipa de Miami em assistências, pontos e ressaltos, feito poucas vezes conseguido na história da liga. Com um lançamento de meia distância muito bom e um de triplo interessante, LeBron James prova por que é o melhor jogador da liga.
Em suma, destes jogadores só se podem esperar dezenas de pontos diariamente. E basicamente, as equipas adversárias só têm “sorte” quando estes atletas fazem jogos menos conseguidos.
Depois da vitória tranquila no Dragão frente ao Atlético para a Taça de Portugal, chega um dos jogos mais importantes para a temporada azul e branca. Dia 12 de Janeiro, pelas 16 horas, quando Benfica e FC Porto começarem a disputar o clássico da 15ª jornada, serão muitas as respostas dadas no relvado da Luz.
Com a presença nos quartos-de-final da Taça de Portugal, uma perspetiva de apuramento para as meias-finais da Taça da Liga e a liderança do campeonato, podia-se pensar que o FC Porto chegava ao Estádio da Luz na confiança máxima para enfrentar a equipa de Jorge Jesus. Apesar de no mundo do futebol serem os resultados a ditar o destino de treinadores, jogadores e dirigentes, no FC Porto essa é uma premissa nem sempre aplicável. A inconstância exibicional no Dragão ao longo da primeira metade da época, a que se junta a péssima prestação em Alvalade para a Taça da Liga, faz os portistas questionar-se sobre que equipa vão encontrar na Luz.
Não é menos verdade que a uma semana do clássico, e ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, ainda não se sabe bem qual será o onze de Paulo Fonseca: jogará Otamendi ou Maicon? Carlos Eduardo ou Defour? Licá, Kelvin ou até Quaresma? São muitas as dúvidas que por esta altura inquietam Fonseca e os adeptos portistas. É sabido que portistas e encarnados não estão a passar pela melhor das fases, mas também é de senso comum que é nestes jogos que as verdadeiras equipas se revelam. Quer FC Porto quer Benfica vêm de goleadas e exibições consistentes, mas a fraca resistência de Atlético e Gil Vicente fazem do próximo clássico um jogo imperdível.
A Luz pode vir a ser o palco do regresso de Quaresma / Fonte: Desportugal
No que aos portistas diz respeito, penso que posso afirmar que o jogo na Luz será o mais importante da curta carreira de Paulo Fonseca enquanto treinador. Em termos práticos, este será o seu primeiro clássico “a sério” disputado fora de portas enquanto técnico portista. Frente ao rival de sempre, os adeptos portistas duvidam da real capacidade deste Porto de repetir o que tem feito nas últimas deslocações à Luz. Controlando, dominando e ganhando, os portistas têm saído por cima das últimas deslocações ao terreno do maior rival. Contudo, algo parece indiscutível: mais do que um clássico, mais do que três pontos, o jogo do próximo domingo é uma prova de afirmação da equipa portista. No clássico da Luz, a dúvida passa por perceber que FC Porto é que vamos encontrar: se um FC Porto dominador, como nas últimas exibições em casa, ou uma equipa temerária, como vimos na Liga dos Campeões.
Os fantasmas à volta da equipa portista continuam bem vivos, e só uma equipa a puxar dos galões pode retirar as dúvidas que ainda a envolvem. Com ou sem Quaresma, com ou sem o duplo pivô, o dia 12 de Janeiro representa uma autêntica “prova dos 9” para a equipa e para o treinador. Por isso mesmo, a Luz será palco de um jogo onde veremos afinal de contas o que vale esta equipa pois, tal como dizia Goethe, “diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Cabe ao FC Porto a resposta.
O Benfica fechou 2013 em primeiro lugar a 2 pontos do 2º classificado, o Sporting Clube de Portugal. Pontos esses que foram recuperados nesta 17º jornada, em 2014, mas já lá vamos. Primeiro quero dar uma vista de olhos no que se passou de interessante no ano que passou. Em 2013 o Sporting venceu o campeonato, sem espinhas, ao Benfica por 3-1 em jogos na final do play-off. E digo sem espinhas porque mais justo do que o que foi é impossível. O Sporting praticava o melhor futsal em Portugal e na final, ou nas finais, como preferirem, deu uma liçãozinha ao rival da 2ª Circular de como jogar futsal. O que é que se passou a seguir? Remodelação total na equipa do Benfica: venderam e dispensaram metade dos jogadores, ou mais de metade, mesmo, foram buscar jovens de valor e construíram uma equipa relativamente competitiva. Nunca me passou pela cabeça que fechassem o ano de 2013, já na época actual, em primeiro lugar no campeonato. Quando chega uma batelada de jogadores novos como chegou, sem automatismos, sem estarem habituados ao esquema de jogo da equipa e à forma de jogar dos colegas, é de louvar que estejamos (pois é, estou a falar do meu Benfica, posso usar os verbos na 1ª pessoa do plural) lá para cima no campeonato.
Já o Sporting venceu o campeonato na época anterior, como já foi referido, e, como tal, teve acesso à Uefa Futsal Cup deste ano. Toda a gente esperava grandes coisas do Sporting na competição, visto que jogava bom futsal e os jogos da fase de grupos eram em Portugal. Infelizmente as coisas não correram lá muito bem para os lados de Alvalade a acabaram por ser afastados da competição pelo Araz do Davi, ex-jogador do Benfica e Sporting, que deve ter agradecido ao pai, ao filho e ao espírito santo a exibição muito apagada de Divanei no jogo decisivo do grupo. Divanei que, a meu ver, é dos melhores jogadores da equipa e nesse jogo em particular fez tudo mal. Fez passes errados, falhou golos certos, defendeu mal, enfim, uma exibição desinspirada de um jogador que num dia bom teria dado certamente a vitória e a passagem ao Sporting.
A falta de inspiração de Divanei contribuiu para a eliminação da UEFA Futsal Cup / Fonte: UEFA
Ora, deixando o drama dos leões de Alvalade de parte, passemos para o drama desta semana: o drama dos Leões de Porto Salvo. O Sporting recebeu e bateu os Leões por 6-5. Independentemente de acharmos que a vitória foi justa ou não, devemos sim questionar a sua legalidade. Foi um jogo intenso, alimentado pelo facto de o Benfica ter empatado em casa com o Rio Ave, o que fazia com que o Sporting tivesse oportunidade de igualar o rival na liderança. O que se passou foi simples: o jogo acabou (a buzina tocou) e o Sporting marcou um golo.
Adeptos sportinguistas inundaram os tópicos de discussão com argumentos como: “o árbitro ainda não tinha apitado” e “o árbitro não ouviu a buzina”. Mas o que é certo é que a buzina já tinha tocado, o tempo já se tinha esgotado, o facto do árbitro apitar um segundo ou dois depois não tem que influenciar seja o que for. Ou seja, ganharam com um golo depois do tempo acabar, sendo que no futsal o tempo pára quando a bola está fora, logo, os 20 minutos da segunda parte já tinham decorrido. Não há razões que expliquem o atrofio dos árbitros do encontro. Mas eles gostam, eles gostam de atrofiar e o que é certo é que já não estamos (Benfica) isolados na frente. Temos os chatos do costume à procura dum deslize nosso, o que não é nada engraçado.
Partiu o maior entre os maiores, símbolo do Sport Lisboa e Benfica, símbolo de Portugal, Deus negro do mundo. Os mitos e os heróis não deviam partir. Partem fisicamente, sim, mas no coração de quem ama o maravilhoso futebol, perduram para a eternidade. Eusébio deixa-nos 733 golos para sempre e tantos outros sonhos benfiquistas por ele tornados realidade. Uma estátua em vida mostra bem a grandeza do melhor futebolista português de sempre. Não escolhe países nem clubes, Eusébio é de todos nós. Do pé descalço em Moçambique ao topo do mundo. Dos 5-3 à Coreia a rejeitar marcar um livre directo pelo Beira-Mar num jogo frente ao Benfica porque sabia que seria golo.
De Eusébio guardamos o diabo no corpo, os golos em série, o amor pela baliza e pela bola de cabedal, a pequenez que sentimos ao estar perto ou falar de tal monstro. As palavras trazem-nos a amargura de nunca conseguirem expressar os sentimentos na sua plenitude. Tentamos e experimentamos, mas sentimo-nos sempre esmagados pela imponência de ver os vídeos de um Deus negro na busca apaixonada pelo golo. À equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica, peço apenas que saiba honrar a memória do nosso maior símbolo com a conquista do campeonato. Ao Benfica, obrigado por o ter homenageado em vida. Hoje partiu um pedaço do nosso país, mas morrer é só deixar de ser visto.
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.