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Desmistificar o problema

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Topo Sul

No futebol actual os lances de bola paradas são cada vez mais decisivos para a construção de um bom resultado e, por isso, algo com que qualquer treinador se preocupa em trabalhar nos treinos. Hoje em dia é raro assistir a um jogo em que as equipas não criam perigo através de cantos, livres, lançamentos laterais e, muitas das vezes, esses mesmos lances são traduzidos em golo.

Quando falamos em bolas paradas entende-se que nos referimos aos lances defensivos e ofensivos. Para qualquer uma das variantes as equipas despendem muito tempo e dedicação, dadas as exigências do futebol contemporâneo. Para algumas formações, essas situações são mesmo o seu “abono de família”, a sua especialidade, a forma de criar mais perigo. Sobretudo as equipas ditas pequenas recorrem a este tipo de lances para disfarçar as suas debilidades técnicas e assustar os adversários tidos, na teoria e muitas vezes na prática, como mais fortes e com melhores recursos. Nós, Benfica, como equipa grande e respeitada que somos, estamos constantemente a defrontar adversários desse calibre e, desse modo, estamos sujeitos a que, todas as vezes em que tivermos um lance de bola parada contra, a bola seja colocada na nossa área. Tal pressupõe-se que seja um mau prenúncio para a nós, mas durante algum tempo não foi esse o caso.

Desde que chegou ao Benfica, em 2009, Jorge Jesus tratou de implementar um modelo defensivo de bolas paradas assente na marcação à zona. Em cada livre ou canto os jogadores constroem uma espécie de linha à frente do guarda-redes e esperam que a bola venha para a atacarem. Não há qualquer marcação individual. Nem aos jogadores mais perigosos do adversário nesse tipo de lances. Este sistema parecia adequar-se à equipa encarnada, que sempre conta com jogadores altos e fortes no jogo aéreo. Matic, Garay, Cardozo, Luisão, em tempos Javi Garcia ou Emerson, são unidades que garantem consistência nesse tipo de lances e, até há pouco tempo, os lances de bola parada não eram algo que nos causasse grandes problemas. Contudo, essa toada foi-se alterando e atingiu o seu ponto mais negativo naquele lance na final da Liga Europa que nos tirou a possibilidade de conquistar um prestigiado troféu. No caso, Ivanovic , jogador do Chelsea, salta sozinho na área e cabeceia para oferecer a competição à sua equipa. A partir desse lance inicia-se uma história negra para o Benfica, no que a lances de bola paradas diz respeito. Não sei se esse lance nos tirou toda a confiança e capacidade que sempre tivemos, mas é certo que desde então têm-se cometido erros atrás de erros nesse tipo de lances. Normalmente quando se erra na nossa área é-se punido da forma mais severa no futebol, sofre-se com golo.

Golo do jogador do Olympiakos, Kostas Manolas, ao Benfica Fonte: Record
Golo do jogador do Olympiakos, Kostas Manolas, ao Benfica
Fonte: Record

Nesta temporada, que ainda nem vai a meio, sofremos quinze golos, contabilizando todas as condições, sendo que mais de um quarto desses mesmos sofridos através de lances de bola parada. Dá que pensar, de facto. Se vos disser que esses golos nos valeram um empate em casa para o campeonato (jogo com Belenenses) duas derrotas na Liga dos Campeões (PSG e Olympiakos, este último de carácter absolutamente decisivo) e um valente susto frente ao Sporting para a taça, mais se acentua a necessidade de reflexão e de…mudança. A situação é tão anormal e ridiculamente evidente que se impõe a alteração no modelo a adoptar. Eu tenho uma sugestão, mister. Chama-se modelo de marcação misto e utilizado por clubes em todo mundo, muitos deles de top mundial. O método é simples (à partida) de efectuar e adequa-se aos nossos jogadores. Passa por criar um bloco coeso de três ou quatro jogadores que não marcam ninguém, sendo que os restantes elementos marcam individualmente os adversários mais fortes no jogo aéreo. É um método equilibrado que pode garantir maior eficiência na defesa destes lances, não só porque as unidades mais perigosas estão bloqueadas, como se mantém aquela muralha à frente do guarda-redes, que, estando de frente para o lance, tem clara vantagem em atacar a bola sobre o avançado e afastar o perigo.

Espero, então, que, para bem da nossa equipa, Jorge Jesus reflicta e repense no modelo que utiliza. Ele, de cognome “mestre da táctica”, tem certamente recursos e alternativas suficientes para solucionar este problema e, por isso, confio nas suas capacidades para o fazer. E que remédio. É o que temos e parece não estar para vir mais nenhum.

Este gajo é campeão do mundo e eu ando pra’qui

cab desportos motorizados

O nome Marc Márquez diz-vos alguma coisa? Não? Então fiquem a saber que este espanhol de 20 anos se tornou no domingo o mais jovem campeão do mundo de MotoGP e o primeiro em 35 anos a conseguir ser campeão no ano de estreia. Só o americano Kenny Roberts, em 1978, ao volante de uma Yamaha, alcançou o mesmo feito que o catalão – isto em mais de 60 anos de competição.

Foi uma temporada de sonho para Márquez, que venceu 6 das 18 provas da temporada. O jovem de 20 anos terminou com quatro pontos de vantagem sobre o também espanhol Jorge Lozenzo, campeão de 2010 e 2012. O piloto da Honda tem portanto um futuro brilhante pela frente, tal como já era previsto, ou não fosse ele o vencedor do Moto2 do ano passado e o vencedor do Moto3 (na altura ainda era conhecido por mundial de 125cc) em 2010.

Marqéz após o titulo http://ca.oakley.com/sports/motogp/posts/4079
Marquéz após o titulo
Fonte: ca.oakley.com/sports/motogp

Esta temporada fica ainda marcada pelo facto de os três campeões do mundo serem espanhóis. No Moto2, o campeão foi Pol Espargaró – curiosamente mais velho que o campeão do mundo de MotoGP, já que tem 22 anos – e Maverick Viñales (18 anos) venceu o Moto3. A Espanha tem definitivamente o maior viveiro de motociclistas do mundo.

Por falar em Moto3, o nosso único representante ao mais alto nível na categoria principal de motocilismo terminou a temporada no sexto posto. Miguel Oliveira, que este ano se mudou para a Mahindra, já testou a nova moto da equipa indiana para a próxima temporada. Espero que seja finalmente um ano que corra bem ao Miguel pois é um grande piloto, como os seus resultados no campeonato espanhol e europeu de 125cc mostram.

Miguel Oliveira no seu único pódio desta temporada. http://www.mid-day.com/sports/2013/oct/141013-teen-miguel-oliveira-rides-into-history.htm
Miguel Oliveira no seu único pódio desta temporada.
Fonte: mid-day.com/sports

Voltando ao título deste texto, esta vitória faz-me ficar a pensar em algo do género: “este gajo com 20 anos é campeão do mundo, eu com 20 ando aqui a brincar aos jornalistas”. São coisas como esta que me fazem pensar que tenho de começar a arranjar uma vida. Dia 23 de março começa mais uma temporada do MotoGP, com a ausência, novamente, do GP de Portugal.

Wax on, Wax off

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relacionamentodistancia

Confesso que não sei bem o que hei-de escrever sobre o que se passou no fim-de-semana passado.
Os meus colegas Sportinguistas escreveram muito (e bem) sobre os casos, os contextos, as manhas e as evidências de algo que todos vimos faz amanhã oito dias…
Portanto, decidi que esta semana não me vou irritar. Não vou chamar nomes a ninguém. Não vou descarregar as minhas (legítimas) frustrações neste espaço de opinião. Não vou falar do jogo, nem do Benfica, nem do Duarte Gomes, nem de penáltis, nem de expulsões, nem de episódios passados, nem do “grande espectáculo, um verdadeiro hino ao futebol português”.

Ora… Em vez disto tudo vou falar de… Hmm… Deixa cá ver…
Descobri esta semana que há uma ilha remota nas Bahamas habitada unicamente por porcos. Chamam-lhe, imagine-se lá… “Ilha dos Porcos”. Não, não vou fazer uma piadola de tasca reles a comparar este fascinante fenómeno natural com uma certa instituição do desporto nacional, não me vou desviar da minha missiva de paz estabelecida para esta semana. Não insistam, não vai acontecer.
Descobri também esta semana que, há não muito tempo, uma mulher americana, a bordo de um voo doméstico, tentou disfarçar o odor de flatulência acendendo vários fósforos, causando um pequeno fogo e forçando o piloto a uma aterragem de emergência. Mais uma vez, não vale a pena insistir: não vou fazer aqui nenhuma graçola taberneira de pessoas que tentam cobrir os seus erros com asneiras descomunais. Vocês, pá… Esqueçam lá a porcaria do jogo… Passado é passado.
Isto é giro.
Quem é que precisa de falar e ler sobre bola todos os dias, quando há um mundo tão interessante por descobrir?
E tem um efeito terapêutico, também. Está cientificamente provado (por pessoas – espertas – com batas brancas e tudo) que rir é o melhor remédio. Cá para mim, devia-se abrir um novo espaço no Bola na Rede, só com curiosidades e factos deste género, para quando não há mais paciência para sequer pensar em polémicas do mundo da bola.
Mas suponho que isto seja um bom exercício, daqueles difíceis de compreender mas de que mais tarde nos lembramos: “Eia, lembras-te? Foi graças àquela parvoíce que chegámos onde chegámos”. Como nos ensinou o imortal Mr. Miyagi em “Karate Kid” (1984), “Wax on. Wax off. Breathe in through nose, out the mouth. Wax on. Wax off. Don’t forget to breathe. Very important, Daniel-San“.

É o que se pede a todos os Sportiguistas. Wax on, wax off.

Para terminar, apenas uma breve palavra para a Selecção Nacional. Grande vitória ontem, estamos a um passinho do Brasil. 3ª feira é a doer. ‘Bora, tugas!

Árbitros para que vos queremos?

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cab frisbee

Na semana passada acabei o meu artigo a dizer que não existem árbitros nem no Ultimate nem na sua versão de praia, e achei que este seria um tema interessante para vos apresentar hoje, uma vez que suscita sempre muitas perguntas.

Não havendo árbitro, as decisões dentro de campo cabem aos jogadores. Por exemplo, no caso de um jogador reclamar falta, a discussão é feita apenas entre os jogadores envolvidos na mesma e alguém tem de ceder e assumir o erro. E nisto se traduz a regra mais importante do Ultimate: o Espírito de Jogo, sem o qual este desporto não seria o que é hoje.

Em primeiro lugar é necessário referir que, em 1970, os fundadores do Ultimate não o conceberam como um desporto no qual fosse proibida a presença de um árbitro, mas sim um jogo em que, caso houvesse um árbitro disponível, o que nunca acontecia, este poderia arbitrar. Assim, os jogadores deviam jogar tendo por base um sistema de honra, respeitando-se mutuamente. Ao longo de décadas, foram (e ainda são) várias as discussões entre aqueles que desejavam ver o Ultimate tornar-se num desporto enorme, que atraísse patrocinadores e fosse transmitido pela televisão, e, por outro lado, os que queriam que este desporto continuasse a ser uma actividade recreativa, livre de árbitros e de marcas. O Espírito de Jogo esteve inclusive ameaçado nalguns períodos da história do Ultimate, mas conseguiu sempre prevalecer. Hoje, existem “Observadores” nas competições de mais alto nível da América do Norte que ajudam os jogadores a resolver casos em que seja mais difícil apurar o que realmente aconteceu, mas há quem defenda a inclusão de árbitros no Ultimate. Os argumentos a favor da introdução de árbitros traduzem-se basicamente num melhor aproveitamento do tempo de jogo (menos e mais curtas paragens), na possibilidade de dar aos jogadores oportunidade de se concentrarem apenas no jogo, e na redução das faltas mal contestadas, facilitando ao mesmo tempo a compreensão dos espectadores. Já os defensores de um Ultimate sem árbitro alegam que a auto-arbitragem sempre funcionou e que incluir um árbitro acabaria com a característica que torna este desporto único.

Compreendo que em alguns desportos seja complicada a ausência de árbitro. Imaginemos, por exemplo, um futebol sem árbitro. Neste caso, tenho a certeza de que seria complicado decidir os “foras de jogo”, pois às vezes nem os próprios jogadores sabem se estão ou não a infringir a regra. Outro aspecto interessante seria o facto de os grandes dirigentes não terem árbitros para subornar…que chatice! Pensem no impacto que teria a inexistência de árbitro nos desportos que conhecem: Basquetebol, Voleibol, Corfebol, Hóquei e por ai adiante. Podem achar que sem árbitro acabava tudo à pancada. Ora bem, isto leva-nos a um benefício do Espírito de Jogo no Ultimate. Esta regra é responsável por ajudar a desenvolver nos jogadores valores como a honestidade, integridade e a lealdade, portanto, torna-os melhores pessoas dentro e fora de campo. Não é fácil manter a calma e conter as emoções em jogos onde a pressão e muita, isto é: como gerir o Espírito de Jogo e o espírito competitivo em cada um de nós durante um jogo? É um desafio, uma aprendizagem constante, e para uns será certamente mais difícil do que para outros. É claro que nos outros desportos existe o fair-play; no entanto, por vezes, os jogadores desrespeitam deliberadamente as regras ou o árbitro comete decisões erradas que podem, eventualmente, custar uma vitória. Ora, isto não acontece no Ultimate, onde o cumprimento das regras depende única e exclusivamente dos jogadores. Mas os seres humanos não são perfeitos e, por vezes, há casos pontuais em que o jogador não está a ser honesto, desrespeitando a regra número um deste desporto, o Espírito de Jogo. Nestes casos em que o espírito competitivo não é saudável, o jogador não estará a jogar Ultimate, mas sim o chamado “Uglimate”, e deve ser chamado à atenção pelos restantes jogadores em campo.
Para além do espírito competitivo, há um sentimento de comunidade em todos os jogadores, de respeito mútuo, de preocupação com o outro e em que as relações interpessoais são muito próximas. Penso que quanto maior é este sentimento, maior é a felicidade de cada um e maior é o desejo de contribuir ainda mais para o bem dessa comunidade. Estão a ver a beleza “da coisa”? Há neste desporto toda uma dinâmica social muito interessante a ser estudada.

A título de curiosidade, depois de cada jogo, as equipas reúnem-se na Roda do Espírito e conversam sobre o que aconteceu em campo, e em cada torneio há um prémio para a equipa que demonstrou o melhor Espírito de Jogo. No recente Campeonato Europeu de Beach Ultimate em Calafell, Espanha, a selecção de Portugal ganhou o troféu do Espírito de Jogo na divisão mista, juntamente com a Turquia.

Roda do Espírito depois do jogo dos Vira’o’Disco contra os B.U.F.A no torneio da Taça de Ultimate Relva, em 2012.  Foto tirada por Juan Carlos Ruiz.
Roda do Espírito depois do jogo dos Vira’o’Disco contra os B.U.F.A no torneio da Taça de Ultimate Relva, em 2012.
Foto tirada por Juan Carlos Ruiz.

Voltando à questão dos árbitros, que está intimamente ligada à regra do Espírito de jogo: toda a comunidade dos desportos de disco, mais precisamente a World Flying Disc Federation e a USA Ultimate, está a reflectir e a debater seriamente sobre este assunto e eu deixo-vos algumas perguntas. Na América do Norte já há observadores. Será que esta regra vai ser implementada noutras competições? Será que daqui a uns anos vamos ter árbitros dentro de campo? Se o Ultimate crescer e começarem a surgir interesses por parte de grandes marcas patrocinadoras? Cada vez mais vai ser o dinheiro envolvido e todos vão querer ganhar. Vai ser necessário um árbitro?

Na minha opinião, a presença de um árbitro em campo iria descaracterizar e mudar completamente este desporto, destruindo a sua beleza. Se é necessário um árbitro em campo, então quer dizer que os jogadores não conseguem respeitar a regra do Espírito de Jogo, deixando de ser honestos e de se respeitar uns aos outros. A responsabilidade de todos os jogadores e órgãos institucionais, como o Ultimate Spirit of The Game Comittee, é manter e fomentar esta regra, na qual reside toda a essência do Ultimate e que o torna um desporto tão diferente de todos os desportos de equipas que conhecemos.

Portugal 1-0 Suécia: Golo de Ouro para Blatter ver

cab seleçao nacional portugal

“Água mole em pedra dura. Tanto bate até que fura”. Este provérbio é, talvez, o que melhor se aplica ao jogo de Portugal: insistir, insistir, insistir… até que a bola entra. Conseguindo cumprir os requisitos mínimos para satisfazer os adeptos presentes no Estádio da Luz, Portugal fez o que lhe competia: vencer a Suécia sem sofrer golos. O facto de o golo ser de Cristiano Ronaldo foi apenas um acréscimo de satisfação para todos os portugueses, que podem agora dar mais um motivo a Sepp Blatter para estar calado.

Na abordagem ao encontro, Paulo Bento foi cauteloso. Apostou no seu onze mais rodado e voltou a fiar-se na sorte e na persistência do jogo português. Era um dado quase adquirido que entrar com Postiga sozinho na frente e com três médios de contenção não daria para marcar muitos golos. Sabe-se que nenhum dos homens do meio-campo é suficientemente criativo para “inventar” jogadas pelo meio. Portanto, como expectável, o jogo de Portugal acabou por se tornar previsível e com poucas ideias. Meireles e Moutinho usaram e abusaram das bolas bombeadas para a grande área e os únicos momentos de (alguma) criatividade no jogo de Portugal vinham mesmos das alas, onde Nani e, claro, Cristiano Ronaldo procuravam desbloquear uma sólida defesa sueca.

O melhor da atualidade... Cristiano Ronaldo
O melhor da atualidade… Cristiano Ronaldo

Na frente, o móvel, mas inconsequente Postiga, tentava desgastar os dois poderosos centrais, Nilsson e Antonsson. Sempre em vão. Daí que olhe para a abordagem que Paulo Bento teve para este jogo e pense apenas que o selecionador nacional estava mais preocupado em não sofrer golos do que em marcá-los. Teve a benesse de ter no seu onze o melhor jogador do mundo da atualidade. E isso vale jogos. Portugal foi melhor e soube impor o seu jogo. Mas nunca, como vem sendo hábito, de forma eficaz nas zonas de finalização. Como já se viu, a equipa das quinas não é seleção para qualificações porque não sabe jogar ao ataque. Portugal sabe dominar, mas continua sem conseguir ter a clareza a definir jogadas de outros tempos. A tática resume-se na insistência em cruzamentos para a área. Algum haveria de entrar. Entrou o de Ronaldo, aos 83’.

Hoje Ibrahimovic não apareceu, felizmente para os portugueses
Hoje Ibrahimovic não apareceu, felizmente para os portugueses

Não quero, com este texto, tirar mérito à nossa seleção. Como já escrevi no passado, Paulo Bento é o meu treinador. Se estivermos no mundial, terá todo o meu apoio. Acredito, inclusive, que se lá formos, vamos fazer novamente boa figura. Porque o nosso esquema tático está talhado para os grandes jogos. Como foi o de hoje. Nos momentos difíceis, sabemos controlar ansiedades. Controlar jogos. E ter aquela ponta de sorte que premeia os lutadores. Aqueles que insistem mais do que os outros. E hoje, apesar da escassez de ideias, foi Portugal quem lutou mais pelo golo.

Agora vamos à Suécia. A eliminatória está longe de estar ganha. Acredito que se formos sólidos como hoje podemos ter fortes possibilidades. O pior está feito. Agora é só manter a consistência no próximo jogo. Sem deslumbrar, que não é preciso. Basta ganhar.

O Renascimento da Vecchia Signora

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Um dos períodos mais marcantes da história da Humanidade ocorreu em Itália entre os séculos XIV e XVI. Com base na região da Toscânia, nomeadamente nas cidades de Florença e Siena, o Renascimento foi um período de grandes mudanças na cultura, ciência, religião, política, economia e trouxe consigo nomes imortais como Leonardo Da Vinci, William Shakespeare e Galileu.

Cinco séculos depois, ainda em Itália, mas mais a Norte, assistimos a um diferente renascimento, um renascimento desportivo de uma velha senhora que parecia perdida e agarrada às memórias gloriosas do passado. Falo, concretamente, da Juventus.

Equipa mais titulada de Itália, com vinte e nove Ligas no seu museu, a formação bianconera está, nos dias de hoje, a voltar a dominar o futebol transalpino depois de ter atravessado o período mais negro da sua história, onde militou na segunda divisão. Um esquema de corrupção, que ficou conhecido como Calciocaos, levou à descida de escalão da Juventus no final da época 2005/2006, o que provocou a saída dalguns dos principais jogadores da equipa de Turim, como Ibrahimovic e Vieira. Com o nome do clube manchado, e a perder alguns dos seus principais activos, começou aqui o período mais complicado da Juventus, que só a partir da temporada 2011/2012, sobre o comando de Antonio Conte, começou a renascer.

A mudança começou, desde logo, pelo treinador, mas também pela mudança de Estádio, e do reforço claro do plantel. O novo Estádio é menos “frio” que o antigo Delle Alpi, onde os adeptos estavam longe do relvado, devido à pista de atletismo. Este recente reduto marca a nova vida da Juventus, em que os tiffosi apoiam “em cima” do relvado, criando um ambiente infernal para as formações visitantes. Este ano de renascimento trouxe ainda para o plantel da Juve aquele que é um dos mais geniais jogadores da actualidade, não obstante a veterania, Andrea Pirlo.

Pirlo tem sido decisivo na equipa da Juve / Fonte: www. planetf1.com
Pirlo tem sido decisivo na equipa da Juve / Fonte: www. planetf1.com

Este renascimento levou a Juve a conquistar dois campeonatos consecutivos, a recuperar a sua posição constante na Liga dos Campeões e a ser temida pelos principais adversários.

Hoje, está no segundo lugar da Liga, contando com dez vitórias, um empate e uma derrota nos doze jogos já disputados, o que permite estar a apenas um ponto da líder Roma.

Numa corrida ao título que conta, para além da Juve e da Roma, com o Nápoles o Inter e a Fiorentina, os bianconeri parecem, contudo, os mais fortes candidatos à revalidação do scudetto. Jogando essencialmente num esquema de 3-5-2, esta renascida Juve costuma actuar da seguinte forma:

Formação habitual da Juventus / Fonte: lineupbuilder.com
Formação habitual da Juventus / Fonte: lineupbuilder.com

Buffon, com 35 anos, parece eterno na baliza da equipa de Turim. Continua a dar sinais de que é um dos melhores jogadores na sua posição e é amado pelos tiffosi, já que não abandonou o barco, mesmo quando a Juve se afundou na segunda divisão.

Na defesa, Chiellini é um dos símbolos da Juventus e pode fazer o corredor esquerdo. Caceres toma conta do lado direito e é Andrea Barzagli a comandar na zona central.

Mais à frente, um meio-campo de luxo. Pirlo é genial no passe, na visão de jogo, na cobrança de livres; enfim, um autêntico fora de série, um puro génio, capaz de virar um jogo de pernas para o ar. Marchisio partilha com Pirlo as tarefas mais defensivas da zona intermediária e Pogba é a nova estrela de Turim. O jovem francês de apenas vinte anos de idade tem tudo para ser um dos melhores jogadores do mundo na sua posição, já num futuro muito próximo. Pogba tem força, velocidade, excelente posicionamento no terreno e uma facilidade de remate incrível. Nas alas, Asamoah e Vidal são os homens que dão velocidade e jogo exterior à vecchia signora.

Finalmente, no ataque, mais dois grandes jogadores: Tevez e Llorente. Para além do argentino e do basco, Conte tem ainda à disposição Vucinic, Giovinco e Quagliarella.

Um plantel de luxo, a fazer recordar os velhos tempos da toda poderosa Juventus. Um grupo capaz de dar alegrias aos seus tiffosi, um grupo capaz de continuar a perpetuar este “renascimento juventino” que nasceu em Agosto de 2011.

Obrigado, Tacuara!

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Terceiro Anel

No dia 20 de Maio de 1983 nascia o homem que iria fazer história, muitos anos depois, no Sport Lisboa e Benfica: Óscar Cardozo, um bombardeiro puro que marca golos atrás de golos, sendo desde 2010 o melhor marcador estrangeiro da fantástica história do maior clube português.

Há cerca de 6 anos e meio em Portugal, este internacional paraguaio tem provado, semana após semana, que é um jogador de alto nível, possuindo um dos pés esquerdos mais letais do mundo do futebol. Mesmo parecendo desengonçado e pouco dado ao esforço (e aqui me penitencio eu, por várias vezes te ter vaiado na Luz ou via tv!), Óscar Cardozo é, a meu ver, um profissional de excelência e que muito tem dado ao Benfica.

Sim, o homem teve um desaguisado tremendo com o Jorge Jesus, no Jamor, em Maio último; sim, o homem teve um grave episódio com o Pedro Proença, na Choupana, em Fevereiro último; sim, o homem, em Setembro de 2010, após apontar um golo ao Hapoel, mandou calar o público presente na catedral (essa foi a que me doeu mais, Takuara!); mas, exceptuando isso…há tanta coisa boa!

Cardozo a comemorar um golo por si apontado (tão normal) / Fonte: sapo.pt
Cardozo a comemorar um golo por si apontado (tão normal)
Fonte: SAPO

Como é que eu me poderia esquecer dos teus golos, caro Cardozo? Aquele golo que apontaste ao Celtic, nos minutos finais, em 2007; aquele “bis” em Donetsk, no mesmo ano, debaixo de um clima glaciar; aquele golo ao cair do pano em Nuremberga, que nos valeu o apuramento na Taça Uefa; a tua fantástica temporada, em 2009/2010, na qual te sagraste melhor marcador do campeonato; o teu hat-trick no 8-1 ao Vitória de Setúbal; os teus dois golos frente ao Liverpool, na Luz, em 2010; os teus dois tentos no 2-1 ao Rio Ave, quando nos sagrámos campeões!

E reparem bem como ainda vou no longínquo ano de 2010! É que, de lá para cá, os golos continuaram a aparecer, o homem continuou a festejar, o homem voltou a ser o melhor marcador de mais um campeonato, o homem provocou-me enormes sorrisos em milhentas ocasiões. E depois há outra coisa que este ser humano tem que me encanta: marca golos ao Sporting com uma frequência louca! E os nossos rivais da 2ª Circular puderam sentir isso (e de que maneira!) no passado sábado.

Portanto, e depois de um artigo no qual te elogio até ao tutano, acho que escuso de dizer que te admiro. E sim, sei que muito provavelmente te continuarei a enviar um ou outro comentário menos agradável, quando topar que não estás para te mexer muito no relvado. Porém, um homem deve sempre saber agradecer, e por isso te digo: obrigado, muito obrigado por teres vindo para o Benfica em 2007, e por ainda não teres saído. Não saias deste clube, por favor.

Vá, e agora lê isto, e ganha ainda mais motivação para aquilo que aí vem, nesta difícil temporada.

Novak Djokovic ataca a Taça Davis depois do Masters

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cab ténis

Novak Djokovic venceu esta semana a final do ATP World Tour Finals, o Masters de final de temporada do circuito mundial masculino. Na final, o tenista sérvio derrotou Rafael Nadal por 6/3 e 6/4.

O tenista sérvio, que terminará o ano como nº2, tem agora a difícil missão de guiar o seu país na final do Grupo Mundial da Taça Davis, ou, trocando por miúdos, na competição com mais mística no ténis mundial. Se vencer um Grand Slam é um momento inesquecível para um jogador, conquistar uma Taça Davis pelo seu país não lhe fica atrás.

Se para jogadores como Boris Becker, Marat Safin, Kafelnikov, Henri Leconte e outros, vários títulos foram importantes, a Taça Davis é sem dúvida um dos momentos que estes guardam com um carinho especial. O pavilhão cheio, a pressão sobre a equipa adversária e sobre o árbitro, o “desrepeito” aceitavél pelas regras do silêncio, só se vêem numa competição como a Taça Davis, proporcionando assim a oportunidade de transformar o ténis num desporto de equipa onde todos puxam pela vitória de uma nação.

A Sérvia de Novak Djokovic já “se deu ao luxo” de vencer uma Taça Davis, em 2010, com a estrela da equipa a vencer duas das três partidas necessárias para conquistar o troféu. Este ano, no entanto, a tarefa prevê-se mais complicada.

Radek Stepanek e Novak Djokovic http://www.daviscup.com/en
Radek Stepanek e Novak Djokovic
Fonte: daviscup.com/en

A Sérvia não conta com Janko Tipsarevic, que está lesionado e que é conhecido por “inflamar” as bancadas nesta competição, nem com Victor Troicki, suspenso por ter faltado a um controlo anti-doping. O próprio “Nole” já admitiu que “esta será uma final mais complicada do que a de 2010”, e do outro lado a Républica Checa apresenta-se na máxima força.

Tomas Berdych, Radek Stepanek, Lukas Rosol e Jan Hajek constituem assim a armada checa que procura renovar o título conquistado no ano passado frente à Espanha. Desde 1980 que a Républica Checa não vencia a Taça Davis, enquanto a Sérvia venceu pela primeira vez em 2010.

Sendo assim, de 15 a 17 de Novembro os olhos estarão postos na Arena de Belgrado. Djokovic vai abrir a contenda frente a Stepanek, enquanto Lajovic e Berdych irão protagonizar o segundo encontro do dia. Ou seja, caso Stepanek surpreenda, a Sérvia fica praticamente impossibilitada de vencer esta Taça Davis.

Massacrada nos últimos anos, a Taça Davis sofre com promessas de reestruturação desde há vários anos. Na verdade, alguns dos tenistas nunca prestaram grande atenção a esta competição, de entre os quais Roger Federer é um dos maiores exemplos. Na minha opinião, nada é mais mágico do que a relva de Wimbledon e os encontros que a mesma proporciona; no entanto, nada é mais mágico também do que ver milhares de pessoas a aplaudir de pé um tenista do seu país, do que ver os jogadores e o treinador no banco a roer a unhas ao longo da partida e de no final sentir a alegria de vencer o “campeonato do mundo” de ténis.

A garra dos Lobos no primeiro particular

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cab Rugby

Foi no dia 9 de Novembro que a Selecção Nacional de XV defrontou as Fiji, no Estádio Universitário de Lisboa, pela segunda vez.
A primeira vez que estas duas equipas se defrontaram foi em 2005, num jogo que marcou a história do rugby nacional e em que os Lobos fizeram tremer as Flying Fijians, tendo perdido apenas por 26-17.
No jogo deste fim-de-semana, as Fiji levaram a melhor e vencerem a partida por 36-13.

Fotografia do jogo realizado este sábado, no Estádio Universitário de Lisboa, https://www.facebook.com/fpr.pt
Fotografia do jogo realizado este sábado, no Estádio Universitário de Lisboa
Fonte: facebook.com/fpr.pt

Este jogo particular da janela de jogos internacionais de Novembro serviu de preparação para a segunda volta do Torneio Europeu das Nações, que terá início em Fevereiro, e marcou a estreia de Frederico Sousa como seleccionador nacional.
A equipa lusitana começou a partida a dominar, com um pontapé de penalidade por Pedro Leal. No entanto, as Fiji responderam rapidamente com dois ensaios convertidos e terminaram a primeira parte a vencer por 14-03.
Na segunda-parte, Frederico Oliveira marcou um ensaio convertido por Pedro Leal mas os seis ensaios da equipa adversária garantiram a vitória das Flying Fijians por 36-13.

Foi um jogo que ficou marcado pela inclusão de vários jogadores novos na equipa dos Lobos e pelo seu excelente e surpreendente comportamento frente à 13ª equipa do ranking mundial.
A aposta nos jogadores mais jovens e a capacidade demonstrada neste jogo deixa-nos cheios de curiosidade para o jogo que se realiza esta sexta-feira, às 22h, frente à Selecção Brasileira, em São Paulo, uma vez que a lista de convocados sofreu apenas duas alterações: o regresso de Adérito Esteves e Eric dos Santos por troca com Duarte Moreira e Rui D’Orey. Este será o primeiro jogo entre as duas selecções e promete marcar a história do rugby mundial.

«A transição no meio-campo»

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Pronúncia do Norte

Paulo Fonseca chegou ao FC Porto numa época que coincidirá – até que desenvolvimentos futuros em sentido contrário venham a ser públicos – com o último ano de contrato de Fernando, Lucho e Helton. Estes três – os três capitães -, são, de todos os jogadores do plantel, os que mais épocas cumpriram no Dragão. Além de Fucile, aparentemente de saída, são os únicos do grupo que neste momento disputam, no mínimo, a sexta época pelo FC Porto.

Helton, 35 anos, está na nona temporada consecutiva no FC Porto (leva sete campeonatos nacionais em oito épocas concluídas). Lucho González, 32 anos, chegou no mesmo ano que o guarda-redes, mas fez uma pausa de duas épocas e meia em França, no Marselha – El Comandante terá, assim, cumprido seis épocas e meia pelo FC Porto quando terminar o contrato (para já, leva mais campeonatos nacionais do que épocas completas). Fernando, 26 anos, após curta passagem pelo Estrela da Amadora por empréstimo dos azuis e brancos, assumiu a titularidade aos 20 anos e vai a caminho das seis épocas no clube onde ganhou a alcunha de “Polvo”. Só por curiosidade, se nenhum dos três renovar, Varela e Maicon (agora na quinta época no clube) serão os jogadores mais antigos do balneário, superando Otamendi (na quarta época).

Lucho acaba contrato no fim da época e não se fala em renovação Fonte: http://relvado.sapo.pt/
Lucho acaba contrato no fim da época e não se fala em renovação
Fonte: http://relvado.sapo.pt/

A substituição do lendário Helton dará, por certo, pano para mangas quando nos estivermos a aproximar de Julho. Até ver, Fabiano está na pole position. Porém, mais interessante é analisar como Paulo Fonseca vai lidar com as substituições de Lucho e Fernando. Neste momento, ambos são indiscutíveis no meio-campo; para o ano não deverão estar a jogar em Portugal. Sobram Defour, à procura da sua época de afirmação; Josué, Herrera, Carlos Eduardo e Quintero, jovens talentosos que chegaram este Verão ao Dragão. Esta é, por isso, uma época de transição no seio do meio-campo portista.

Como conjugar, então, a necessidade de usar duas das maiores figuras da equipa (Lucho e Fernando) com a necessidade de criar rotinas entre os que são o futuro do meio-campo portista? Deve construir-se um modelo que privilegie os dois médios mais preponderantes no presente (Lucho e Fernando) ou um modelo que exponencie as potencialidades daqueles que comporão o meio-campo do FC Porto da próxima época?
Comecemos por tentar conceber o sistema que mais favorece os actuais jogadores do FC Porto.

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Tendo Fernando, não há como não colocá-lo como único pivot defensivo. Foi nesta posição que se destacou, foi nesta posição que sempre jogou desde que assumiu a titularidade na equipa e é esta a posição que melhor se adequa às suas características – é sozinho à frente dos centrais que mais rende. Pese embora tenha ganho alguns predicados essenciais para jogar mais à frente (foi melhorando progressivamente nos capítulos do passe e da condução de bola), as suas grandes qualidades são defensivas – é no posicionamento e no desarme que é forte. Assim sendo, faria sentido jogar com dois médios centro à sua frente, ficando ele a cobrir as subidas dos médios e dos laterais, como acontece há anos. Lucho-Meireles, Moutinho-Meireles, Moutinho-Belluschi, Moutinho-Guarín ou Lucho-Moutinho são algumas das duplas que se foram notabilizando a jogar à frente do (em breve) luso-brasileiro.

Tomando igualmente como garantida a titularidade de Lucho, só falta perceber quem pode jogar a seu lado. À partida, um box-to-box como Moutinho ou Meireles favorece as características do astro argentino. Defour e Herrera são os jogadores do plantel que encaixam nesse perfil. No entanto, não será estranho para Lucho jogar ligeiramente mais recuado do que o seu parceiro na “posição 8” e fazer parelha com um jogador mais criativo como Josué, Carlos Eduardo ou até mesmo Quintero (conquanto tenha dificuldades em imaginar o colombiano a trabalhar defensivamente tanto quanto necessário nesta posição do terreno). A solução ideal depende das circunstâncias – do jogo, do momento do jogo em particular, do adversário em questão ou de quem esteja a jogar como extremo.

Se o FC Porto não contratar nenhum extremo, a solução de adaptar um dos médios criativos (os esquerdinos Josué e Quintero) a esse lugar parece consistente. Em jogos mais difíceis, será útil para criar superioridade numérica no meio-campo. Em suma, parece-me que o melhor seria jogar no 4-3-3 de sempre, com um trinco, dois box-to-box e dois extremos abertos (ou um extremo aberto e um falso ala). No fundo, o sistema que o FC Porto já utiliza desde Jesualdo Ferreira, que atingiu o seu auge com Villas-Boas e que Vítor Pereira transformou à sua imagem, com uma filosofia de posse.
Façamos, agora, o exercício oposto: excluamos Fernando e Lucho da equação e pensemos no que seria o meio-campo do FC Porto sem eles.

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Sem Fernando, o panorama inverte-se drasticamente. Se ao “Polvo” não faz sentido impingir um companheiro no mesmo raio de acção, sem ele não é possível jogar com um único homem cá atrás. Nenhum dos que fazem parte do grupo tem a capacidade de segurar todo o meio-campo sozinho. Na verdade, poucos são capazes disso. Não há, no mercado, muitos médios defensivos “destruidores” do nível de Fernando. O ideal é, portanto, jogar com o triângulo invertido e obrigar Defour e Herrera a formar um duplo pivot que liberte um “número 10”. Tiago Rodrigues ou Castro, actualmente emprestados pelos dragões, serão potenciais substitutos do belga e do mexicano. Para a função de médio ofensivo já há várias soluções: é nessa posição que Josué, Quintero e Carlos Eduardo se sentem mais confortáveis. Sem mexidas no meio-campo, não haverá alternativa ao 4-2-3-1.
Qual foi, então, a solução apresentada por Paulo Fonseca para esta época?

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Como temos visto, o jovem treinador azul e branco optou por começar a trabalhar, desde já, o 4-2-3-1. Não só porque, provavelmente, será assim que será “forçado” a jogar para o ano, mas também porque este é o seu sistema favorito (e aquele que sempre implementou nas suas equipas). À velha questão sobre se o treinador deve adaptar o seu sistema aos jogadores ou adaptar os jogadores ao seu sistema, Paulo Fonseca respondeu claramente com a última opção.

O resultado está à vista: um meio-campo sem grande química e com todos os jogadores fora do seu habitat. Defour joga demasiado atrás, preocupado em dobrar Fernando, Danilo e Alex Sandro e imprimindo pouca profundidade ao jogo do FC Porto. Ao contrário do que sucede na selecção belga ou do acontecia com Vítor Pereira, não tem grande liberdade para se lançar no ataque. Por outro lado, Fernando joga demasiado à frente, sendo inúmeras vezes responsável pelo transporte de bola. Apesar de estar cada vez melhor do ponto de vista ofensivo, não consegue fazer a diferença no último terço. Para cumprir essa tarefa, há vários jogadores mais valiosos no plantel. Por fim, Lucho, o médio mais inteligente, mais experiente e com mais classe na equipa, vê-se obrigado a ocupar uma posição excessivamente adiantada. Tem a dupla missão de ligar os sectores no momento do ataque e de pressionar bem à frente quando a equipa não tem bola. Jogando assim, aparece poucas vezes de frente para o jogo e tira a possibilidade à equipa de usar um jovem mais repentista nas costas de Jackson (como Josué ou Quintero).

Concluindo, na minha perspectiva não se está a retirar o máximo rendimento de nenhum dos três. Não tem a ver com os jogadores, tem a ver com a dinâmica: os mesmos jogadores a jogar no sistema que propus inicialmente teriam, suponho eu, mais sucesso.
Já que é para usar este sistema, gostaria que se experimentasse actuar com Fernando e Lucho lado a lado e um dos miúdos à frente (Josué, Quintero ou até mesmo Carlos Eduardo). Todavia, isso implicaria dar pouca utilização a Defour (o único com anos de casa, dos que vão ficar) e a Herrera (a contratação mais cara deste defeso), por isso não acredito que esse cenário venha materializar-se com frequência.

Paulo Fonseca escolheu, no presente, olhar para o futuro. Acredito que a equipa possa apresentar um rendimento consideravelmente mais alto num futuro mais ou menos próximo, fruto do entrosamento que se vai gerando, da qualidade e do tempo de trabalho com o grupo. Resta saber quanto tempo falta para chegar a esse futuro. Entretanto, o tempo vai passando…