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Liga Brasileira: Jogaços

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Disputou-se mais uma jornada da Liga Brasileira. Como não podia deixar de ser, houve clássicos para todos os gostos. Uns com mais golos, outros nem tanto. Porém, as partidas de maior cartaz eram facilmente identificáveis. Jogava-se um Palmeiras vs Corinthians e um Fluminense vs Flamengo, ou o famoso Fla-Flu, para quem quiser. O primeiro jogo opunha dois dos grandes quatro clubes de São Paulo. O segundo opunha dois dos quatro grandes do Rio de Janeiro. Alvinegros e Verdes odeiam-se. No último jogo entre ambos a polícia teve mesmo que intervir para que o mesmo se pudesse desenrolar. Entre os cariocas o ambiente é mais são. Mas mesmo assim a rivalidade é imensa. Um Fla-Flu é, talvez, o jogo de maior chamariz e com mais charme do Brasil. Tudo a postos para um fim-de-semana de sonho.

Entre os paulistas as expectativas não saíram goradas: partida emotiva, com golos e muita animação. O Palmeiras esteve três vezes na frente; e três vezes se deixou empatar pelo Corinthians. Estivera outras tantas em vantagem e os Gaviões empatariam na mesma. 3-3 foi o placard final. Que jogo! Com este empate, o Corinthians continua firme na liderança. Penso que esta vantagem – agora somente de 5 pontos para o segundo classificado, Atlético Mineiro – é suficiente para vencer, se bem que ainda falte quase metade de campeonato. E bem sabemos que a competitividade da Série A do Brasil é pródiga em reviravoltas. Mas este Corinthians está certinho. Certinho e regular.

O Flamengo estraçalhou o Fluminense  Fonte: diariodovale.com.br
O Flamengo estraçalhou o Fluminense
Fonte: diariodovale.com.br

No Fla-Flu – ou, neste caso, Flu-Fla, para ser mais preciso – o Urubu entrou de rompante e abriu, cedo, uma vantagem confortável de 2-0. Na primeira parte o Tricolor não existiu. Não fora Diego Cavalieri, guarda-redes do Fluminense, e os Rubro-negros teriam resolvido tudo ainda no primeiro tempo. Este Flamengo tem uma alma nova. Quatro vitórias seguidas. Com tantas escorregadelas, já está na sexta posição, a apenas três pontos do G4: o grupo que dá acesso à Libertadores. O Fluminense imitou os seus congéneres, mas ao contrário; tem vindo a cair e já vai na quarta derrota consecutiva – nono lugar para a equipa das Laranjeiras. Ronaldinho Gaúcho nem sequer esteve no banco, o mesmo sucedendo com o goleador Fred.

Enfim, foi uma rodada desportiva muito boa, onde se concretizaram 27 tentos em 10 partidas. Por isso é que eu gosto do Brasileirão: pode ter que evoluir a nível tático – e tem – mas, caramba (!), possui aquilo de que o futebol é feito: golos!

Foto de capa: globoesporte.globo.com

A (Pouca) Arte do Guerra

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Este texto vai um pouco contra algumas das minhas ideias do que deveria ser o Futebol e tudo o que gira à sua volta. Em um ano de crónicas, tentei sempre que os meus textos fossem o mais Sporting possível, ou seja, sem nunca me envolver em questões relacionadas com outros clubes, ou até mesmo em quezílias com adeptos de equipas rivais. Mas está na hora de errar um pouco, esperando desde já que não tenha muitas hipóteses para o repetir.

De meados de Agosto para cá, tenho semanalmente assistido num programa de televisão num canal por cabo a uma verborreia intensa, estúpida e inconsciente por parte dum adepto benfiquense – permitam-me o benfiquense, mas não consigo colocar esta criatura acéfala a par de alguns benfiquistas que conheço e pelos quais tenho o maior respeito – de seu nome Pedro Guerra. Esta personagem, provavelmente saída da peça “À espera de Godot” ou de um sketch dos Monty Python, tem vindo a dar um ar sujo e extremamente hediondo do que deve ser um comentador duma instituição centenária como o Benfica, mas pior ainda estragando um programa que até tinha algum interesse.

São vários os episódios deste senhor que espelham a sua classe; uma simples pesquisa num motor de busca dão para alguns minutos de comédia e vergonha alheia. Fica marcada na memória o momento em que ele usa o seu segundo nome – Fernando Santos – para ligar para a Benfica TV “anonimamente” vangloriando o trabalho de Luís Filipe Vieira; convem referir que Pedro Guerra era comentador assíduo do canal encarnado, o que torna esta situação hilariante. Seguiu-se a CM TV, onde impôs o seu estilo próprio “grita mais do que todos para seres ouvido”; arranjou atritos com quase todos os colegas de painel, inclusivamente Octávio Machado, que recentemente elogiou de forma “coerente”.

Eis quando este senhor é convidado para substituir Fernando Seara no programa “Prolongamento”, juntando-se a Eduardo Barroso e Manuel Serrão, sem dúvida que ingredientes suficientes para o sucesso – leia-se audiências – do programa. E foi a partir deste momento que a postura e a espinha moral deste senhor me chamaram a atenção.

Os limites de paciência de Eduardo Barroso têm vindo a ser semanalmente testados Fonte: RTP
Os limites de paciência de Eduardo Barroso têm vindo a ser semanalmente testados
Fonte: RTP

Logo a partir do primeiro episódio, Pedro Guerra assume uma postura atacante para com Bruno de Carvalho e Jorge Jesus, alguém que segundo Guerra foi um problema do Benfica durante seis anos, apontando defeitos e criticando o Sporting, para depois afirmar que só se preocupa com o seu clube.

Nas semanas seguintes, tem tido mais alguns momentos preciosos, como o ter recorrido a uma imagem parada em detrimento de um vídeo disponibilizado pelo canal de televisão para justificar uma suposta grande penalidade no jogo frente ao Arouca, algo que até mereceu uma frase jocosa por parte de Sousa Martins, o apresentador do programa. Também já criticou a expulsão de Jesus frente à Académica, dizendo que na Luz aquele tipo de comportamento não seria aceite, esquecendo-se o pobre Pedro daquela vez em que elogiou o antigo treinador do seu clube por “defender” os adeptos em Guimarães. Convem também referir que até os seus colegas de estúdio já optam por ignorar a pessoa, uma vez que para estes casos de demência pouco ou nada já poderá ser feito.

Por fim, Pedro Guerra afirma que tem em seu poder um suposto contrato oferecido pelo Sporting ao avançado Mitroglu, algo que o Sporting já fez questão de esclarecer que não será verdade porque esse contrato nunca existiu, será que é mais uma das ilusões de Guerra, ou é mais uma das suas provas de coerência e honestidade?

Tudo isto apenas serve para mostrar a parca qualidade que este senhor tem, assim como a incapacidade para defender o Benfica e os seus verdadeiros adeptos. Creio que a grande maioria dos benfiquistas não se revê, nem pode rever, numa pessoa tão mesquinha e de pobre espírito como Pedro Fernando Santos Guerra; tal como por exemplo não me revejo em Rui Oliveira e Costa, comentador de outro programa sobre Futebol.

Voltando aos meus princípios sobre o que deveria ser o futebol português, apetecia-me dizer: “volta Seara que estás perdoado”; sabendo de antemão que dificilmente irá acontecer, porque acredito que as audiências da TVI tenham subindo com a presença de tamanha figura no seu elenco. Como Sportinguista, acho ridícula a sua postura e a maneira como representa um clube rival; com tanto benfiquista capaz em “seis milhões”, de certo que não precisariam de um benfiquense.

A Pedro Guerra, um pedido: quando encontrar o contrato do Mitroglu, traga também as SMS do Jesus, se não for muito incómodo. Obrigado.

Foto de Capa: Facebook do Sporting Clube de Portugal

Futsal: Sporting e Benfica ganham tranquilamente

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Após a realização da primeira jornada, no passado fim-de-semana, os dois grandes do futsal português (Sporting CP e SL Benfica) construíram dois resultados bastante folgados e assumiram a liderança do campeonato, numa jornada que não trouxe grandes surpresas, com exceção da derrota do Fundão em Porto Salvo, perante os Leões locais por 6-4. A equipa beirã não conseguiu assim dar sequência à boa exibição na Supertaça, embora fosse um jogo bastante complicado em teoria.

Começando pelo campeão nacional em título, o Benfica goleou o Rio Ave em Vila do Conde por 9-0. No entanto, a formação nortenha teve algumas oportunidades para marcar, sobretudo na primeira parte, mas o SLB foi bastante mais eficaz que na final da supertaça e construiu a vitória expressiva com que terminou o encontro, tendo como principal figura o português Ré, autor de três golos. Alan Brandi bisou e Fábio Cecílio, Chaguinha, Rafael Hemni e Fernando Wilhelm marcaram os restantes golos.

O vice-campeão, Sporting CP, também ganhou o seu jogo, uma vitória de 5-0 sobre o Gualtar, em jogo antecipado da 14ª jornada. O emblema do distrito de Braga, recém-promovido ao principal escalão, raramente criou problemas de maior aos “leões”, que tiveram como principal figura o algarvio Pedro Cary, autor de três golos, e também o italo-brasileiro Cavinato, que marcou os restantes dois golos.

Melhores marcadores do campeonato: Diogo Santos (4 golos), Pedro Cary e Ré (3 golos) Fonte: futsalglobal.com
Melhores marcadores do campeonato: Diogo Santos, ao centro, (4 golos), Pedro Cary e Ré (3 golos)
Fonte: futsalglobal.com

De resto, destaque também para a vitória do principal “outsider” no que diz respeito à luta pelo título, o SC Braga, que derrotou o Boavista também por 5-0, resultado visto em mais dois encontros, sempre com vitórias para a equipa da casa (Modicus e SL Olivais sobre Burinhosa e Quinta dos Lombos, respetivamente). Falta só frisar a vitória do Belenenses em Coimbra, frente ao CS de S. João por 4-6 e a vitória por igual parcial dos Leões de Porto Salvo frente ao Fundão, já citado anteriormente. Jogo este que contou com o atual artilheiro da prova, do LPS, o jogador Diogo Santos, autor de quatro golos neste jogo.

A apresentação da 1.ª jornada está feita, resta-nos esperar pela 2.ª jornada, que promete bons encontros entre Sporting CP x SC Braga e SL Benfica x Leões de Porto Salvo. Quero realçar estes 2 jogos porque envolvem diretamente candidatos aos primeiros lugares e, no caso do Sporting, poderá ser uma tentativa de vingar a derrota em casa (3-6) na fase regular da época 2014/2015 frente aos guerreiros do Minho, um jogo que, a pedido do Sporting CP, foi adiado para o dia 28 de Outubro.

A confirmação do adiamento do jogo
 fonte: facebook SC Braga/AAUM
A confirmação do adiamento do jogo

fonte: facebook SC Braga/AAUM

Resta-nos esperar para ver o que sucede neste próximo fim-de-semana, que promete certamente muito espetáculo e jogos bastante emocionantes, como já é apanágio deste desporto.

Imagem de capa retirada do facebook do Rio Ave

Vamos brincar à caridadezinha

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“Vamos brincar à caridadezinha/ Festa, canasta e boa comidinha…”. Assim cantava José Barata Moura, em 1977, numa música crítica daqueles que “roubam muito mas dão prenda” e que fazem da esmola uma ocupação de tempos livres. Quase quatro décadas volvidas, subsiste como paradigma dominante o elogio da caridade – que pressupõe sempre uma relação hierárquica entre o que pede e o que dá esmola – em vez da solidariedade – que pode e deve existir de forma transversal e digna numa sociedade, com o Estado (e não os clubes/empresas/indivíduos) a desempenhar um papel determinante. No mundo do desporto, substitui-se a canasta pelas transferências no valor de quantias imorais e mantém se a festa e a boa comidinha. Para os líderes dos maiores clubes, pelo menos – os mesmos que, agora, dizem querer ajudar refugiados. Perpetuada pela tradição cristã e empolada pelos media, a caridadezinha é hoje uma realidade mais visível do que nunca e convive, cinicamente e à vista de todos, com os gastos pornográficos de muitos daqueles que a praticam, sejam indivíduos ou entidades.

O desporto é uma das áreas em que isto se passa de forma mais óbvia. Nos últimos dias, a dramática realidade que os refugiados sírios vivem na Europa fez com que o departamento de marketing do Bayern de Munique se lembrasse de canalizar 1M€ para os migrantes, além de planear a organização de sessões de treino para jovens e de ter acordado com o próximo adversário que ambas as equipas irão entrar com crianças refugiadas pela mão. É caso para dizer que talvez dar uns toques na bola durante uns tempos (enquanto a atenção dos media durar, depois logo se vê) e acompanhar duas equipas a entrar em campo seja uma urgência muito maior para um clube que queira aproveitar-se de uma situação dramática do que propriamente para quem foge da guerra… Em Itália – um dos países que costuma receber mais imigrantes, normalmente desprezados e repatriados – seguindo a mesma estratégia, a Roma anunciou o leilão de três camisolas e, por cá, o FC Porto sugeriu que os clubes presentes na Liga dos Campeões doassem 1€ por cada bilhete vendido, em benefício dos refugiados. As decisões dos referidos clubes foram aclamadas pelo público em geral, incluindo adeptos rivais. Objectivo cumprido, portanto.

A situação dos sírios que agora fogem do Estado Islâmico (organização nascida, é bom não esquecer, do caos provocado pela intervenção militar europeia e dos EUA, em 2003) é apenas a face mais recente e mais visível desta azáfama caridosa e, na minha opinião, bastante cínica, como explicarei à frente. Mas a caridadezinha no desporto não apareceu agora e os exemplos abundam, vindos tanto de entidades (por exemplo, a NBA Cares, da NBA), de clubes ou de desportistas. Pegando apenas em exemplos recentes, Ronaldo foi celebrado pela imprensa portuguesa por ser “o desportista mais solidário do mundo”, o basquetebolista LeBron James recebeu inúmeros elogios por ter resolvido pagar a universidade a 1100 jovens e o Sporting, clube que apoio, não hesitou em anunciar com galhardia a contratação de Martunis, o jovem indonésio que sobreviveu a um tsunami e que, por ter sido encontrado com uma camisola da selecção portuguesa, se tornou numa espécie de mascote nacional – e pretexto para um oportuno lavar de imagem para a Federação, que se agarrou a ele com unhas e dentes.

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A atitude do mundo dos negócios em geral, e do desporto em particular, perante quem necessita de ajuda. É o Estado, e não as empresas/clubes, quem deve ter um papel determinante
Fonte: “O Mundo de Mafalda”

Ora, o prémio atribuído a Ronaldo é, a meu ver, abjecto, na medida em que usa vidas alheias para as transformar num foco de competição, vencida pelo português como se tratasse de uma Bola de Ouro; a situação de LeBron, por muito bem-intencionado que seja o norte-americano, não existiria caso, em lugar de se bater palmas, se colocasse em causa uma situação em que a educação só é acessível a quem tem dinheiro, tornando possível que mais de um milhar de pessoas possam estar dependentes de uma; por último, a situação de Martunis, também muito aplaudida tanto por Sportinguistas como por rivais, é apenas mais um exemplo de exploração e aproveitamento, com repercussão e aplausos a nível mundial. Como disse José Diogo Quintela no tempo em que o Gato Fedorento ainda era um blog, “azar [o] da outra criança indonésia que, na manhã do tsunami, escolheu uma t-shirt do Snoopy em vez de uma da selecção portuguesa e que por isso agora não recebe ajuda especial”.

Os exemplos da caridadezinha no desporto sucedem-se, mais ou menos aproveitadores da desgraça alheia, mais ou menos chocantes. Mais do que ajudar aqueles que precisam, todos eles visam enobrecer a imagem de quem os pratica. As ocasiões em que um clube associa a sua imagem ou a de atletas seus a crianças doentes, à luta contra doenças, à recolha de alimentos para África, etc., são hoje muito comuns. Um dos últimos vídeos que me chegou às mãos foi o de uma criança cega que reconhece todos os jogadores do Barcelona só através do tacto – o clube deixou-o ir aos balneários, pois claro. A fronteira entre a ajuda, o grotesco e o entretenimento explorador da desgraça alheia é, em vários casos, muito ténue. Na maior parte deles, estão presentes todos os condimentos menos o primeiro.

Não coloco em causa que, por ser milionário, um desportista não queira ajudar quem precisa. Mas esta paranóia quase competitiva de saber quem é o clube mais solidário e quem doa mais dinheiro às chamadas “causas nobres” choca. Esse tipo de acções tem sempre muito mais propósitos comerciais do que humanitários. Serve para as instituições, na ânsia de mostrarem a face humana que sabem não ter – uma vez que a sua finalidade é o lucro e não as comiserações de qualquer espécie – reciclarem a sua imagem, enganando os incautos e, não raras vezes, extraindo daí dividendos materiais. Por seu turno, a mediatização excessiva de tudo isso tem o propósito de entreter momentaneamente os cidadãos enfastiados, através de tragédias que se tornam meros faits divers. Nada mais eficaz numa sociedade em que o choque e o sensacionalismo se confundem frequentemente com acções meritórias. Quando a questão dos refugiados estiver explorada até à exaustão e as sessões de treinos de futebol para jovens sírios já tiverem chegado ao fim, os media deixarão de dar a mesma atenção ao tema e os clubes encontrarão outra causa para poderem continuar a somar pontos no campeonato do altruísmo de fachada. Pouco interessará, por exemplo, que esses refugiados consigam ou não reconstruir as suas vidas: o seu único papel é serem peões involuntários nas mãos pseudo-humanistas de muitos clubes e empresas, apenas enquanto o tema “asilo político” fizer manchetes e abrir telejornais.

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Os alemães do St. Pauli são dos únicos clubes coerentes no que toca a questões sociais
Fonte: Facebook oficial do St. Pauli

Chegados aqui, dir-me-ão: “mas não é bom que os clubes ajudem os refugiados e que os atletas que mais dinheiro têm apoiem causas humanitárias? E tu, o que já fizeste pelos refugiados?”. Ora, este texto não visa atacar quem ajuda, mas sim demonstrar que a protecção aos refugiados, a pessoas carenciadas, etc., deve estar a cargo dos Estados e não de entidades individuais e/ou privadas. Nenhuma vida humana deve estar dependente da eventual boa vontade de um milionário, de um clube ou de uma empresa multinacional, nem estes devem poder exibir vidas de homens, mulheres e crianças como troféus que comprovam a sua pretensa bondade.

Uma entidade, neste caso um clube, que compra Douglas Costa e Arturo Vidal por, respectivamente, 30 e 37M€ (Bayern), ou Bertolacci e Nainggolan por 9M€ cada (Roma), ou ainda Gianni Imbula por 20M€ (FC Porto), não tem moral para querer que o cidadão comum se mostre agradecido pela sua “ajuda humanitária” feita à medida das câmaras de televisão, e da qual nenhum ser humano deveria depender. Infelizmente, porém, o público reage com um misto de euforia, histerismo e gratidão apatetada, e as entidades não só o sabem como se aproveitam disso. Não esqueçamos, porém, o essencial: os clubes, sejam eles quais forem, sugam e gastam incontáveis milhões de euros em negócios mais ou menos lícitos, mas sempre fúteis e exagerados. Consequentemente, não poderão nunca surgir como benfeitores e guardiães de uma humanidade cujo único interesse para eles é saber quantos potenciais sócios e compradores de camisolas existem.

De um lado a esmola para a fotografia, dada a quem merecia não caridade, mas sim solidariedade e dignidade; do outro, gastos milionários com um desporto apaixonante mas que não deixa de ser apenas isso – um desporto. Enquanto os seus dirigentes se dizem preocupados com os flagelos da moda, o mundo do futebol vai-se tornando cada vez mais surreal: só neste último mercado, mais dois atletas entraram no top 10 das maiores transferências de sempre no futebol (Raheem Sterling, que custou 70M€, e Kevin de Bruyne, que chegou quase aos 80M€). Negócios de valores ilimitados e cada vez mais imorais com uma mão, migalhas para seres humanos com a outra: uma sociedade economicamente desregrada e onde o Estado é mero espectador presta-se à proliferação de situações esquizofrénicas e aviltantes como esta.

Um clube de futebol existe para disputar torneios e não para pseudo-ajudar refugiados; o papel de uma estrela do desporto é entreter o público através da sua habilidade, não através de uma fotografia, vídeo, balde de água gelada pela cabeça abaixo ou cerimónia mediatizada até à exaustão. Se realmente querem ajudar, e uma vez que os Estados se demitem daquilo que deveria ser a sua obrigação, podem perfeitamente fazê-lo de forma discreta e anónima. Ou o que interessa é, como dizia Barata Moura na sua canção, ser visto a praticar o desporto da caridade e ganhar o campeonato do “clube mais solidário”, para daí retirar dividendos comerciais e melhorar a imagem da instituição? Pois, se calhar sim. É verdade que os intervenientes desportivos não são os principais responsáveis por “mudar o mundo”; mas, de uma vez por todas, que deixem de fingir que o querem fazer.

 

Foto de capa: Facebook oficial do St. Pauli

Sub21: Albânia 1-6 Portugal: Mudou tudo, exceto o mais importante

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Não podia ter começado de melhor forma a fase de qualificação da seleção nacional sub 21 para a fase final do Europeu de 2017. Depois de ter sido finalista vencido no último europeu, disputado no passado mês de junho na República Checa, a seleção de esperanças entrava no novo ciclo de apuramento com o firme objetivo de garantir nova qualificação vitoriosa. O adversário era, porventura, dos mais acessíveis do grupo, mas as profundas alterações na convocatória de Rui Jorge faziam antever dificuldades de entrosamento da seleção.

Contas feitas, e comparativamente ao onze que disputou a final frente à Suécia no Europeu de junho, Rui Jorge não repetiu sequer um jogador. Onze alterações efetuadas e um onze novo para começar a caminhada rumo ao próximo europeu. A verdade é que, apesar das trocas, a identidade de jogo não se alterou. Mesmo com protagonistas diferentes, as ideias mantiveram-se e a qualidade exibicional foi uma constante. É certo que a Albânia teve sempre um comportamento passivo no encontro – sobretudo a nível defensivo – mas não é menos verdade que a seleção portuguesa teve momentos de bom futebol, com boas combinações e jogadas individuais, sobretudo no último terço do terreno. Particular destaque para o tridente ofensivo composto por Mané, Bruma e André Silva, cuja irreverência constante foi um verdadeiro quebra-cabeças para a seleção albanesa. Não foi de estranhar que Portugal tenha dominado o encontro por completo e que os primeiros minutos se tenham passado praticamente sempre junto à baliza albanesa. Rony Lopes, com um remate ao poste aos 5 minutos e Bruno Fernandes, com um remate por cima aos 20, foram apenas os primeiros protagonistas do caudal ofensivo português. Das ameaças, Portugal chegou aos atos e aos 30 minutos, Rúben Neves desbloqueou o jogo com um remate à entrada da área que o guarda-redes da Albânia não conseguiu parar.

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Portugal arrancou da melhor forma a qualificação
Fonte: Facebook Seleções Portugal

A partir daí, o jogo foi praticamente um rolo compressor de golos portugueses, com a seleção nacional a chegar mesmo ao 0-4 até ao intervalo. Primeiro foi Rony Lopes, aos 36 minutos, a aproveitar um excelente trabalho individual de Bruma para fazer o segundo golo português; aos 43 minutos, foi a vez de André Silva aproveitar um livre perfeito de Rafa para, de cabeça, fazer o terceiro para a equipa de Rui Jorge; e, por último, aos 45 minutos, o ponta de lança do FC Porto bisou mesmo após assistência perfeita do médio Bruno Fernandes.

Com o jogo ganho ao intervalo, Rui Jorge aproveitou o encontro com os albaneses para testar jogadores: Gelson Martins, Ricardo Horta e Guzzo entraram para os lugares de Mané, Bruma e Bruno Fernandes. A verdade é que, mesmo tendo feito uma segunda parte menos intensa e dominadora, a seleção portuguesa fez mais dois golos à Albânia: aos 62 minutos, André Silva – a grande figura do encontro – fez o hat-trick com um desvio oportuno após remate de Ricardo Horta; aos 70 minutos, o médio do Málaga fez o sexto e último golo português, ao aproveitar uma assistência de Raphael Guzzo. Até ao final do encontro, o golo de honra apontado por Rashica aos 83 minutos foi um prémio justo para uma seleção albanesa que, mesmo com imensas debilidades a nível defensivo, foi mostrando alguns bons pormenores no ataque.

Para Portugal, a goleada frente à Albânia foi o melhor ponto de partida para uma fase de qualificação que tem uma especificidade: ao contrário do que acontecia até aqui, os primeiros apurados dos nove grupos de qualificação terão entrada direta no Europeu de 2017. Para a equipa de Rui Jorge, o próximo duelo rumo à liderança do grupo acontece a 9 de outubro, quando Portugal receber a seleção da Hungria, que conta também com 3 pontos somados.

 

Figura Jogo: André Silva – O ponta de lança da seleção nacional confirmou esta noite o bom momento que vive. Depois do excelente mundial sub20 e de um arranque de temporada no FC Porto B de grande qualidade, André Silva estreou-se na seleção de esperanças com três golos apontados e uma série de excelentes pormenores técnicos. Grande exibição.

Fora de Jogo: Inconsistência defensiva da Albânia – Rui Jorge tinha alertado para o facto da Albânia ser uma seleção com limitações defensivas. É caso para dizer que as expetativas acabaram por se concretizar à custa de uma seleção albanesa cujas fragilidades foram evidentes. A goleada sofrida mostra bem as facilidades que Portugal teve neste jogo.

Albânia 0-1 Portugal: Fernando Santos coleciona uma vitória à engenheiro

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Talvez tenha havido alguma supresa quando se soube do onze escolhido por Fernando Santos. Porém, quando se olha para a selecção, é difícil eleger um lote de incontestáveis. Ao contrário do que é comum, as boas dores de cabeça que um seleccionador sente ao eleger um lote de jogadores e dele extrair um onze titular não são assim tão saudáveis. É que, se retirarmos Ronaldo acima de qualquer outro, Patrício, Pepe, Ricardo Carvalho e Nani, Fernando Santos pode escolher, mas a semelhança é muita e nivela-se por baixo relativamente aos acima mencionados.

Mas não é apenas por isso que esta selecção não encanta. As equipas de Fernando Santos geralmente não o fazem, embora consigam resultados. É isso que está a acontecer desde que o engenheiro pegou na selecção, coleccionando já a quinta vitória consecutiva em jogos oficiais, tendo o apuramento praticamente conseguido.

Portugal esteve melhor na primeira parte, tendo controlado o adversário, chegando a dominar. Quando tinha que defender, víamos praticamente todos os jogadores atrás da linha da bola, com excepção de Ronaldo. Patrício foi praticamente espectador. Na frente o panorama era mais cinzento e muito por causa do aprisionamento do nosso melhor jogador no papel de “nove”.  Mas não só. Nani esteve irreconhecível, quase ausente. Danny manteve o habitual tom desastrado e infeliz que regista na selecção. Bernardo Silva esteve alguns furos acima nesta bitola, mas apenas em pormenores de grande qualidade muito espaçados entre si. Veloso só no golo tardio se libertou da mediania.

A festa depois do golo Fonte: Facebook UEFA EURO
A festa depois do golo
Fonte: Facebook UEFA EURO

A segunda parte chegou a ser penosa. A equipa foi-se deixando embalar num ritmo que parecia lembrar o habitual fado das nossas equipas nacionais, que, não marcando, acabam por sofrer. Tal só não aconteceu porque o acaso resumiu de forma sublime num lance apenas o significado de azar e sorte quando a bola ressaltou numa defesa nacional e se estatelou no poste de um Patrício impotente para impedir o golo.

Foi já com Quaresma em campo, e depois dos noventa minutos corridos, que Veloso arrancou uma cabeçada fulminante. Fernando Santos obtém assim uma vitória prática, sem nenhum floreado, fazendo jus à sua formação em engenharia.

A Figura: É particularmente difícil escolher alguém que se tenha elevado acima da produção dos restantes colegas. Fica entregue a Miguel Veloso, pela importância do golo para as nossas aspirações.

O Fora-de-Jogo: A falta de esclarecimento na produção ofensiva. Com particular incidência na tristonha exibição de Nani e no atabalhoamento de Danny.

Foto de capa: Facebook Selecções de Portugal

GP de Itália: Passeio de Hamilton… tirado a ferros

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cab desportos motorizadosO circuito italiano de Monza já nos habituou às velocidades estonteantes que por ali se conseguem, e a edição de 2015 não foi excepção. Lewis Hamilton partia, mais uma vez, da pole-position, e uma eventual vitória colocava-o em excelente posição para a conquista do tricampeonato. A corrida foi um passeio, mas os imprevistos tornaram este GP invulgarmente difícil para a Mercedes. Já lá vamos.

A qualificação do GP de Monza ficou marcada pelas inúmeras penalizações, que em muito alteraram o grid final. Daniel Ricciardo e Daniil Kvyat, os pilotos da Red Bull, perderam lugares por utilizarem o sexto motor e o quinto turbo; a McLaren volta a ser penalizada pelas trocas de motor; Carlos Sainz perdeu dez lugares por usar o quinto motor no seu Toro Rosso. Já Lewis Hamilton foi o piloto mais rápido nas três voltas de qualificação, e acabou por garantir a 11.ª pole da temporada. A Ferrari esteve sempre por perto: Kimi Raikkonen saiu da segunda posição e Vettel da terceira, sendo Rosberg a principal desilusão. O alemão não conseguiu acompanhar o ritmo do colega de equipa e saiu atrás, inclusive, dos dois Ferrari.

E se já nos vamos habituando aos maus arranques dos Mercedes, em Monza foi a Ferrari que deixou muito a desejar na partida. Kimi Raikkonen ficou pregado ao asfalto e perdeu de imediato a posição privilegiada que tinha; caiu para último e fez toda a corrida de trás para a frente. Hamilton conseguiu um bom arranque e colocou-se de imediato na liderança da corrida, seguido por Vettel. Nico Rosberg acabou por ser prejudicado pelo erro de Raikkonen, já que teve de utilizar a berma forçadamente, perdendo muita da velocidade que imprimiu no Mercedes. Foi quase instantaneamente ultrapassado pelos dois Williams.

E pior do que Raikkonen só os dois Lotus. A equipa teve um início desastroso, com os dois pilotos a abandonarem o GP ainda na primeira volta, devido a problemas técnicos. Depois do motivador pódio de Grosjean, em Spa-Francorchamps, a Lotus sofre aqui um violento revés.

Com um início de prova emocionante, o Grande Prémio de Itália entrou depois num período de letargia e quase aborrecimento. Raikkonen ia continuando a sua escalada vertiginosa pela classificação (o finlandês chegou a quarto, mas desceu a nono depois de uma tardia paragem nas boxes), Hamilton controlava a liderança, Vettel seguia-o de longe, e Rosberg já havia conseguido ultrapassar os dois Williams e estava agora na última posição do pódio.

E, quando o alemão da Mercedes começa a pressionar o alemão da Ferrari, o impensável acontece: o motor de combustão de Rosberg parte e este é obrigado a abandonar. Por esta altura, o Mercedes estava já a 2,5s do Ferrari…

O publico esteve em peso Fonte: Facebook da Williams F1 Team
O publico esteve em peso
Fonte: Facebook da Williams F1 Team

Concomitantemente, a Mercedes pede a Lewis Hamilton que aumente a diferença que tem para Vettel. Quando o inglês pede explicações, o engenheiro apenas responde: “precisamos de aumentar a diferença. Não faça perguntas, apenas execute. Explicamos mais tarde”. Era óbvio que algo se passava, e essa incógnita só foi respondida no final do GP. O pneu esquerdo traseiro estava abaixo da pressão aconselhada pela Pirelli; o mesmo se passava com o veículo de Nico Rosberg. A ideia da Mercedes, ao pedir aquele sprint final, era exactamente criar uma margem de erro em caso de penalização. Mas não foi necessário. Três horas depois da bandeira axadrezada em Monza, os comissários decidiram manter a vitória do piloto inglês.

Hamilton acabou por terminar a corrida com 25s de vantagem sobre Sebastian Vettel, e Felipe Massa encerrou o pódio, beneficiando do abandono de Rosberg, O brasileiro da Williams teve de defender o terceiro lugar do colega de equipa, Valtteri Bottas, mas a experiência e os anos de F1 levaram a melhor. A Williams já criticou a decisão de dar a vitória a Hamilton: em caso de desclassificação, a equipa conseguiria um duplo pódio.

Monza encerrou, como já vem sendo costume, a fase europeia do Mundial de F1. O espectáculo que os apoiantes da Ferrari proporcionaram, com a tradicional gigantesca bandeira da scuderia italiana, talvez tenha conseguido convencer Bernie Ecclestone a manter o Grande Prémio de Itália: o patrão da F1 ameaçou, no início do fim-de-semana, que a edição de 2015 podia ser a última. Esperemos que tal não aconteça. Lewis Hamilton já cavou uma distância de 53 pontos sobre Rosberg, e o tricampeonato está praticamente garantido. Segue-se o GP de Singapura, no fim-de-semana de 19 e 20 de Setembro.

Foto de capa : Facebook Mercedes AMG Petronas

Santa Clara 0-1 Académico Viseu: Final triste para jogo alegre

futebol nacional cabeçalhoUm jogo de futebol tem 90 minutos mas, como todos sabemos, por vezes é depois destes 90 que tudo se resolve. Mas já lá vamos.

Hoje, no estádio de São Miguel, até bem composto para o habitual, provavelmente devido à possibilidade da chegada ao primeiro lugar, o Santa Clara entrou melhor no jogo e a pressionar a equipa do Académico de Viseu no campo todo. Aos 15 minutos surgiu o primeiro lance de perigo, e para os açorianos. Clemente roubou a bola no meio campo a Mathaus e avançou para a grande área mas, já dentro desta, deixou-se antecipar por Bura e apenas ganhou um canto. Clemente teve novamente uma boa oportunidade 10 minutos depois, desta vez dentro da área mas contra os dois centrais do Viseu, tendo ganhado novo canto, que Tiago Ronaldo rematou por cima.

Depois deste lance, a equipa de Viseu equilibrou o jogo, conseguindo três boas oportunidades, duas por Carlos Eduardo e a última já quase no intervalo por Tomé, com um remate forte de fora da área que causou dificuldades a Pedro Freitas.

Bura remata para o golo
Bura remata para o golo

A segunda parte começou com boas oportunidades dos dois lados. O Viseu podia ter aberto o marcador logo aos 49 minutos por Carlos Eduardo, com o Santa Clara a responder dois minutos depois através de Hugo Santos, num livre. Aos 54 minutos, Capela fez um chapéu a Pedro Freitas, mas a bola bateu na trave; na recarga, Fonseca, isolado dentro da grande área, rematou por cima.

Aos 56 minutos surgiu o primeiro lance polémico do jogo. O árbitro João Matos considerou que João Dias atrasou a bola a Pedro Freitas e assinalou livre indireto para o Académico, mas com a bola quase na linha de fundo. Do livre resultou um remate sem perigo.

Foi preciso esperar até aos 71 minutos para voltar a ver um lance de perigo, com Tiago Ronaldo quase a marcar, mas Janota, guarda redes do Viseu, a conseguir uma boa defesa.

Aos 80 foi a vez de o Viseu voltar a criar perigo. Bruno Carvalho rematou à entrada da área e a bola bateu em Accioly, quase traindo o guarda redes açoriano. Até ao final do jogo, o Santa Clara esteve por cima, mas Clemente e Jimmy não conseguiram marcar aos 86 e 89 minutos.

Mas, voltando ao primeiro parágrafo, quando toda a gente já apontava para o empate, o árbitro João Matos, aos 93 minutos, descobre uma falta de João Dias sobre Fábio Martins, jogador que tinha entrado aos 88 minutos, apontando para a marca de grande penalidade. Esta é uma daquelas faltas que só existem em Portugal, isto se se puder chamar falta ao que aconteceu. Foi a impressão com que fiquei no estádio e que foi confirmada pelas imagens televisivas. Bura converteu esta grande penalidade, que deu a vitória à equipa continental.

Rui Melo juntou-se ao treinador Filipe Gouveia na Conferência de Imprensa
Rui Melo juntou-se ao treinador Filipe Gouveia na Conferência de Imprensa

Este golo levou ao descontrolo de alguns adeptos da equipa da casa, havendo três invasões de campo, uma delas quase resultando em agressão ao árbitro. No final do jogo, também houve muita confusão entre jogadores e dirigentes de ambas as partes, como já puderam ver no facebook do Bola na Rede.

Depois do jogo, o presidente do Santa Clara anunciou que vai avançar com uma Exposição ao Concelho de Arbitragem da Liga e pedir uma reunião com o Presidente da Liga. Rui Cordeiro quer saber porque é que para os jogos em casa vêm sempre árbitros sem experiência de futebol profissional e exige que “deixem de brincar com o Santa Clara”.

A Figura:

Santa Clara e Académico de Viseu – As duas equipas lutaram pela vitória e proporcionaram um jogo entretido, principalmente na segunda parte. Um empate com golos era o resultado mais justo para este jogo.

O Fora de jogo:

João Matos – Aos 25 minutos anotei que o árbitro demorava muito tempo a tomar qualquer decisão, mas o pior ficou mesmo para os 93 minutos. O árbitro, de 31 anos, que veio de Viana de Castelo, fez apenas o seu terceiro jogo profissional. O comportamento dos adeptos após a grande penalidade e dos jogadores após o final do jogo também tem de estar aqui.

Memórias dos 60 anos da Liga dos Campeões

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“Outside the family life, there is nothing better than winning the European Cups.”Brian Clough (vencedor de duas Taças dos Clubes Campeões Europeus ao serviço do Nottingham Forest)

As quatro grandes penalidades consecutivas defendidas pelo gigante romeno Helmuth Duckadam; uma equipa albanesa que, de forma a equilibrar uma eliminatória com o poderoso Ajax, faz com seja proibida a entrada no seu país de jogadores com cabelo comprido; um Peter Shilton que, descontente com o estado dos relvados dos campos de treino em Madrid, decide ir treinar para uma conhecida rotunda da cidade; uma nuvem de fumo que força à repetição integral de um jogo em Belgrado e salva o AC Milan de uma derrota certa; e uma grande penalidade falhada por John Terry que dá a vitória aos seus rivais do Manchester United no imponente Estádio Luzhniki, em Moscovo, são alguns dos muitos episódios que marcam a história dos 60 anos da mais importante competição de clubes a nível europeu, a UEFA Champions League.

As primeiras imagens que me vêm à memória são as da final de 1986-87, quando o FC Porto de Artur Jorge mediu forças com a super máquina alemã do Bayern Munique. Aos 6 anos de idade, não tinha obviamente a sensibilidade necessária para entender a essência do futebol e muito menos para perceber o que estava em causa naquele jogo disputado no mítico Prater de Viena. Para mim, aquilo que tornou aquele dia especial foi talvez o facto de jantar na sala de estar, onde estava a televisão, algo muito pouco habitual na casa dos meus pais, e o facto de o meu tio, confesso adepto do SL Benfica, ter corrido para minha casa munido de uma garrafa de champanhe pouco tempo depois de o pequeno Juary ter dado o golpe final no poderoso Panzer germânico. Os dias que se seguiram ao jogo serviram para a rapaziada com quem jogava à bola nas traseiras do meu prédio tentar imitar, alguns com bastante sucesso (eu não incluído), o majestoso golo de calcanhar apontado pelo diamante argelino do FC Porto, o grande Rabah Madjer. Para mim, aquela final serviu essencialmente para despertar a curiosidade de conhecer melhor os jogadores, saber o seu nome, a posição em que jogavam e por onde já tinham passado. Nomes como os de Lothar Matthäus, Dieter Hoeness ou Helmut Winklhofer constituíam uma barreira linguística quase intransponível para alguém que na altura tinha apenas 6 anos de idade, mas o facto de os repetir a todos, vezes sem conta, como se de uma rotina diária se tratasse, sempre que o meu pai me ligava do emprego, ajudou-me a ultrapassar a falta de destreza linguística inicial.

João Pinto e Lothar Matthäus antes do apito inicial da final de Viena Fonte: ESPN
João Pinto e Lothar Matthäus antes do apito inicial da final de Viena
Fonte: ESPN

Os anos foram passando, e a minha curiosidade pelo futebol e pela Liga dos Campeões (Taça dos Clubes Campeões Europeus) foi-se adensando, de tal forma que, naquela altura, tudo o que me permitisse saber mais sobre uma e outra coisa foi-se tornando os meus companheiros de brincadeira. Livros, revistas, cromos, o Domingo Desportivo da RTP1 e cassetes VHS, tudo servia para saber um pouco mais sobre o desporto rei. Lembro-me com alguma nitidez da final de 1989 entre o Steaua de Bucareste de Gica Hagi e o AC Milan de Marco Van Basten, que tinha entrado para a minha selecção de personas non gratas após ter marcado aquele golo memorável na final do Euro 88 a Rinat Dasaev, o meu ídolo de infância. O AC Milan, que não era considerado por muitos, jornalistas italianos incluídos, como favorito para final disputada em Camp Nou, venceu o jogo por uns contundentes 4-0 e inscreveu, pela segunda vez, o seu nome na lista de vencedores do tão ambicionado troféu após um longo jejum de 20 anos. À frente da esquadra rossoneri estava Arrigo Sacchi, o mestre do 4-4-2 à italiana, o líder de uma equipa que baseava grande parte do seu jogo em poderosos movimentos de contra-ataque que eram geralmente fatais para as formações adversárias.

Marco Van Basten cabeceia nas alturas perante o olhar incredulo de Dan Petrescu Fonte: Soccer Nostalgia
Marco Van Basten cabeceia nas alturas perante o olhar incredulo de Dan Petrescu
Fonte: Soccer Nostalgia

Antes do jogo, os jornais italianos esperavam um AC Milan a jogar à espera do erro do adversário, de forma a tentar surpreender uma equipa romena que confiava o seu jogo a movimentos de ataque organizado conduzidos pelo “Maradona dos Cárpatos”, Gica Hagi, e finalizados pelo lendários goleadores Marius Lacatus e Victor Piturca. Os jogadores do AC Milan, cientes dos riscos que corriam, adoptaram uma estratégia diferente e, no balneário, antes do apito inicial, Ruud Gullit deu o mote, dizendo aos seus colegas de equipa que era necessário atacar desde o primeiro minuto e não deixar o emblema romeno respirar nem por um segundo. Assim foi e, pela primeira vez, a diferença de golos numa final foi de quatro, algo que só o mesmo AC Milan viria a repetir alguns anos mais tarde, em Atenas, perante o poderoso Barcelona.

Este troféu, que agora comemora 60 anos de existência, acompanhou as mudanças políticas na Europa e não deixa de ser interessante o facto de 1991, ano em que o surpreendente FK Crvena Zvezda (Estrela Vermelha de Belgrado) se sagrou campeão europeu, ter sido também o ano em que a Jugoslávia foi desmantelada e em que se disse o último adeus à Taça dos Clubes Campeões, rebaptizada então como Liga dos Campeões. Essa marcante final de Bari entre o FK Crvena Zvezda e o Olympique Marseille foi apenas resolvida na marcação das grandes penalidades. O lendário lateral francês Manuel Amoros não esteve à altura das responsabilidades e permitiu à fantástica armada jugoslava, da qual faziam parte Prosinecki, Pancev, Savicevic, Jugovic e Mihajlovic, levantar o troféu, dando ao seu país uma última e gloriosa vitória antes do seu desaparecimento. O jogo em si ficou marcado por outro episódio curioso, protagonizado pelo maestro Dragan Stojkovic, que se havia mudado da equipa de Belgrado para o emblema francês um ano antes e que pediu ao seu treinador (Raymond Goethals) para não bater uma grande penalidade, já que não tinha coragem para tal.

A poderosa armada do FK Crvena zvezda que venceu o torneio em 1991 Fonte: historiadelfutbolenimagenes
A poderosa armada do FK Crvena zvezda que venceu o torneio em 1991
Fonte: historiadelfutbolenimagenes

Os 60 anos da Champions League são isto: história, emoção, surpresa, magia, momentos mais ou menos felizes, golos de levantar estádios e outros de fazer corar os melhores do mundo. A essência do desporto rei está a perder-se à medida em que mergulhamos, cada vez mais profundamente, numa era em que o poderio financeiro vence, ou sai quase sempre vencedor, desvirtuando o verdadeiro âmago do futebol e deixando que, da Liga dos Campeões, façam parte não só os verdadeiros campeões, mas também aqueles que, à conta de malabarismos financeiros, conseguem sempre ou quase sempre um lugar de destaque nos seus próprios campeonatos nacionais.

Foto de Capa: El Confidencial

Diferentes, mas todos iguais

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Nos últimos dias, a esfera mediática mundial tem sido dominada por aquele que já é conhecido como o “naufrágio da humanidade”. A fotografia do corpo de uma criança de 3 anos, caída na praia, já sem vida, teve lugar (discutivelmente ou não) em praticamente todos os meios de comunicação, portugueses incluídos.

O que tem o futebol a ver com isto? Pouco ou nada, dirão muitos. Muito, digo eu. É nestes momentos que se põem de parte as diferenças. O futebol também nos tenta incutir isto, sem descurar a expressão das rivalidades que se situe dentro dos limites do bom senso. Adeptos deste clube ou daquele que se juntam em torno de uma causa, que, neste caso específico, assume contextos preocupantes no que é relativo à humanidade em si e à humanidade dentro de cada um.

O FC Porto assumiu a iniciativa. Através de uma carta endereçada a Michel Platini, presidente da UEFA, os azuis e brancos apelam à solidariedade dos restantes 31 clubes que figuram na fase de grupos da Liga dos Campeões. A ideia consiste em pedir um donativo de um euro por cada bilhete vendido para o jogo que cada equipa realizar em casa, nas duas primeiras jornadas; no caso do FC Porto, tudo será posto em prática antes do jogo frente ao Chelsea, no dia 29 de setembro. O somatório de todos os donativos servirá para ajudar os migrantes.

Aqui fica o exemplar da mensagem:

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A carta do FC Porto a apelar à solidariedade dos clubes da ‘Champions’
Fonte: fcporto.pt

As mensagens que a UEFA e a FIFA passam (sobre o fair-play e o racismo) também apelam ao bom senso de cada um e esta é uma iniciativa equiparável. Os abraços podem ser dados fora do relvado e das bancadas. Este é um abraço que milhares de pessoas podem dar a cada um dos migrantes.

Não me pretendo alongar muito mais. O brilhantismo da ideia fala por si. Falta apenas dizer que a considero louvável e que espero assistir à adesão total por parte dos visados (julgo que todos esperamos). E que, desta vez, todas as diferenças sejam deixadas de lado. Todas. Clubísticas, pessoais… Todas. No fundo, é um favor que o FC Porto e todos os outros fazem à Humanidade.