📲 Segue o Bola na Rede nos canais oficiais:
Início Site Página 9980

Marítimo: Entre o melhor e o pior

futebol nacional cabeçalho

Concluídas as obras, o Marítimo tem de volta o seu estádio, o “Caldeirão” dos Barreiros, e bem precisa dele para tentar atingir os seus objetivos.

Os verde-rubros definiram como objetivo chegar ao quinto lugar, de apuramento para a Liga Europa. Neste momento, estão na décima segunda posição da tabela classificativa, a 10 pontos do quinto, o Sporting de Braga. Na minha opinião, muito dificilmente a equipa madeirense poderá conseguir atingir o seu objetivo na Liga. Sporting de Braga e Vitória de Guimarães têm, claramente, melhores argumentos que os maritimistas, já para não falar de outras equipas que também podem entrar nessa luta, como Rio Ave, Estoril, Belenenses, Paços de Ferreira, Nacional e Moreirense. O sexto lugar também poderá dar apuramento europeu, mas isso já é outra história que dependerá dos finalistas da Taça de Portugal.

O grande ponto fraco do Marítimo neste campeonato tem sido o seu desempenho desastroso fora de casa, onde, em dez jogos, perdeu sete. Apenas venceram o Gil Vicente e empataram com o Rio Ave e a Académica nas visitas ao continente. São números muito fracos e absolutamente inadmissíveis para um clube que queira qualificar-se para a Liga Europa. Apenas o lantena vermelha Gil Vicente, o Boavista e o V. Setúbal têm pior performance fora do seu estádio. Em jeito de curiosidade, a outra equipa madeirense, o Nacional, também já fez nove jogos fora de casa e perdeu seis. Percursos semelhantes e muito cinzentos dos ilhéus nas partidas disputadas em terreno alheio.

Para combater estes números, o Marítimo tem estado muito bem nos jogos disputados nos Barreiros. Sendo um campo tradicionalmente difícil para quem o visita, o Caldeirão valeu 19 dos 24 pontos que o Marítimo tem na sua conta por estes dias. A equipa orientada por Leonel Pontes, anteriormente adjunto de Paulo Bento no Sporting e na seleção, venceu seis dos nove jogos que disputou em casa. Nas visitas aos Barreiros, apenas o Benfica e o Moreirense venceram, tendo o Estoril empatado. Entre as vitórias caseiras do Marítimo esta época, penso que existem três que se destacam: a goleada (4-0) aplicada ao Vitória de Guimarães e as vitórias pela margem mínima (2-1 e 1-0) frente a SC Braga e FC Porto, respetivamente.

Nas taças, o Marítimo foi afastado nos “quartos” da Taça de Portugal pelo Nacional, após grandes penalidades, e está qualificado para as meias finais da Taça da Liga, onde voltará a receber o FC Porto.

Apresentados estes números, penso que é relevante abordar algumas questões relacionadas com o plantel. No que concerne à baliza, penso que Leonel Pontes tem vida facilitada, porque tem um jovem português de qualidade (José Sá) e um guardião experiente que gosta de dar nas vistas, principalmente nos jogos com os chamados “grandes” (Salin). Eu gosto mais do português, mas o francês tem merecido mais vezes a titularidade e a exibição frente aos “dragões” foi bastante boa, tendo feito algumas defesas decisivas para garantir a vitória da sua equipa. Na defesa, Patrick Bauer tem sido o elemento mais consistente. O central alemão formado no Estugarda apenas falhou uma partida do campeonato, tendo já conhecido três companheiros ao seu lado no eixo defensivo: Gegé, cabo-verdiano que esteve neste mês de janeiro na CAN, Kaj Ramsteijn e Raul Silva, brasileiro contratado nesta janela de mercado. Nas alas da defesa, João Diogo e Ruben Ferreira, dois madeirenses de gema, têm sido os donos dos lugares, tendo o experiente capitão Briguel, que nunca conheceu outro clube na carreira, como principal alternativa.

No meio campo, o Marítimo tem um jogador que foi vice-campeão do Mundo Sub 20 em 2011, esteve duas épocas nos juniores do Benfica e é um autêntico poço de força e um patrão na equipa madeirense: Danilo Pereira. No que se jogou da temporada até agora, só falhou dois jogos do campeonato e o Marítimo não venceu nenhum deles. Danilo é, no meu ponto de vista, o jogador mais influente da equipa e não me surpreenderá se sair num futuro próximo para um clube com outras ambições. É um jogador guerreiro, que luta até à última gota de suor, com grande capacidade física, qualidade no passe e no jogo aéreo. Nas outras posições do meio campo, existem cinco jogadores que têm jogado regularmente, o que permite que Leonel Pontes esteja à vontade para escolher, dado que não existe falta de ritmo entre estes elementos. Bruno Gallo e Fernando Ferreira são os atletas mais utilizados, mas Alex Soares, Theo Weeks e Fransérgio não se podem queixar de poucas oportunidades.

Danilo é o “pulmão” do Marítimo. Não deverá cá estar na próxima época… Fonte: Facebook da Estoril SAD
Danilo é o “pulmão” do Marítimo. Não deverá cá estar na próxima época…
Fonte: Facebook da Estoril SAD

O setor ofensivo é, neste momento, a grande incógnita, após a saída de Maazou, melhor marcador da equipa, para o futebol chinês. O atacante do Níger marcou 11 golos em 23 jogos, contando com todas as competições. Se olharmos apenas para o campeonato, Maazou tinha uma média de um golo a cada dois jogos disputados. São excelentes números para um ponta de lança que não joga nos chamados “grandes”. Além disso, alguns destes golos foram absolutamente decisivos. Por exemplo, Maazou marcou o golo decisivo na segunda jornada (receção à Académica), na terceira jornada (vitória em Barcelos), na receção ao Oriental na Taça de Portugal (marcou o golo no empate 1-1 que levou o jogo para grandes penalidades) e marcou o golo decisivo na última jornada da Taça da Liga, novamente em Barcelos, que permitiu aos madeirenses a qualificação para as meias finais da prova. A juntar a estes golos decisivos, destaco ainda as duas vezes em que Maazou bisou, mas em que o Marítimo perdeu, nas visitas a Paços de Ferreira e a Alvalade. Depois de uma época em que mostrou qualidades no Vitória de Guimarães, mas onde marcou apenas seis golos em mais de 30 partidas, o africano era a principal arma apontada por Leonel Pontes às balizas adversárias.

Para colmatar esta péssima notícia, foi contratado o francês Moussa Marega, vindo do Espérance, da Tunísia. É um dianteiro franco-congolês, que é desconhecido do público português e, em França, apenas jogou em escalões secundários. Marega vem juntar-se a Ebinho, Dyego Sousa, Micolta, Edgar Costa e Xavier, os outros elementos do setor ofensivo do clube. Este leque de opções parece-me claramente insuficiente para as ambições da equipa madeirense, que tem no seu ataque o seu setor mais fragilizado, depois da saída do seu “matador”.

O objetivo de chegar a um lugar europeu será bastante difícil de alcançar, principalmente depois deste mercado de transferências, que levou uma das figuras da equipa.

Foto de capa: fpf.pt

As pipocas e os assobios

0

eternamocidade

A 30 de outubro de 2014, aquando da conferência de imprensa de antevisão do FC Porto-Nacional, algo se destacava de forma mais acentuada do que Julen Lopetegui. Falo, se bem se recorda, de um uma curta e esclarecedora mensagem que a estrutura portista deixou à frente do técnico espanhol, e onde se lia a frase “Enquanto se canta, não se assobia”.

Na mente dos adeptos portistas estava ainda aquela que foi a primeira das três derrotas que a equipa somou nos trinta e dois jogos oficiais já disputados. Contra o Sporting, para a Taça de Portugal, a equipa de Julen Lopetegui havia perdido 1-3, num jogo marcado por vários erros defensivos inacreditáveis, por um penalti falhado por Jackson Martinez e por uma exibição de personalidade leonina em pleno Dragão. Com a eliminação da Taça, para os adeptos portistas, que haviam enchido o anfiteatro portista, ficava a frustração do primeiro desaire da temporada e da primeira exibição verdadeiramente aquém do esperado.

As vitórias frente a Atlético de Bilbau e Arouca, para a Liga dos Campeões e campeonato, não foram argumentos suficientes para que as dúvidas parassem de crescer em torno daquilo que Lopetegui conseguiria fazer com um plantel tão qualificado. Por isso, para a estrutura portista, naquela conferência de imprensa de antevisão ao duelo contra os madeirenses, tornava-se essencial dar “um murro na mesa” contra uma parte da plateia portista. A mensagem era clara e tinha como principal objetivo motivar os adeptos para o apoio constante à equipa.

Na última semana, num vídeo de promoção do FC Porto ao jogo contra o Paços de Ferreira, o departamento de comunicação portista colocava os dois intervenientes do vídeo a defender novamente a mensagem de que os adeptos não deveriam assobiar a equipa. Aliás, um dos protagonistas realçava inclusivamente que sabia assobiar, mas que não o iria fazer.

Bom, enquanto adepto e sobretudo enquanto analista de realidade portista, admito que não concordei com as duas mensagens do clube acerca desta temática. E digo isto porque, tal como acontece em tantas outras ocasiões, penso que o FC Porto acabou por “confundir a árvore com a floresta”. Sou sócio, com lugar anual, há catorze anos e ao longo deste período já perdi a conta às centenas de jogos a que assisti ao vivo no Estádio das Antas e no Dragão. Desde 2001, foram vários os títulos e as vitórias que festejei, as derrotas com que sofri e os momentos que jamais esquecerei. Aliás, tudo isso faz parte do “ser adepto”: lidar com vitórias, saber ultrapassar as derrotas e sobretudo nunca esquecer o verdadeiro sentimento do clube.

Adeptos  Fonte: Facebook do FC Porto
Os adeptos devem ou não assobiar?
Fonte: Facebook do FC Porto

Como detentor de lugar cativo no Dragão, não posso obviamente (tantos são os jogos a que assisto) deixar de olhar para o lado e perceber o adepto que tenho junto a mim já sofreu horrores pelo clube de que ambos gostamos. Apesar de todas as diferenças que possam existir entre nós, o importante é aquilo que nos traz ali frequentemente: o amor ao clube e a dedicação a algo que por vezes nos alegra, noutras nos desilude mas que, seja qual for o resultado, está sempre no nosso pensamento.

Contudo, o que é facto é que, ao longo dos últimos anos, não pude deixar de reparar que, na maioria dos jogos do FC Porto, são cada vez menos as pessoas que estão a junto a mim no Dragão. Acredito aliás que isso é notório para qualquer espetador, bastando para isso ver a redução no número médio de adeptos portistas no seu estádio. De uma média que rondava os 35000 adeptos até há bem poucos anos, hoje em dia é raro, num jogo de nível médio, como o que tivemos ontem contra o Paços de Ferreira, o Dragão ter mais de 30 mil nas bancadas.

Bem sei que a vida dos portugueses está muito complicada em virtude dos problemas financeiros que assolam o país nos últimos anos. Por isso, não é de estranhar que opções tenham de ser feitas quanto à forma como se gasta o dinheiro. Sendo o futebol apenas “a coisa mais importante das menos importantes da vida”, naturalmente nem sempre há disponibilidade para, época após época, reservar uma cadeira no Estádio do Dragão. Aliás, eu próprio tive de fazer um interregno de um ano sem lugar anual porque assim a vida o exigiu.

Todavia, não é para os adeptos com problemas monetários que falo, e acredito que também não fosse a esses que as mensagens do FC Porto se dirigissem. Enquanto adepto portista, eu viro a agulha para os “outros” adeptos: aqueles que só vão ao Dragão “quando o rei faz anos” ou, futebolisticamente falando, quando há jogo grande na Liga dos Campeões ou quando há clássico contra Sporting ou Benfica para o campeonato ou Taça de Portugal.

Carinhosamente, costumo chamar-lhes “adeptos das pipocas”. Talvez a designação não seja a melhor, mas confesso que a escolhi porque, quando me recordo deste tipo de adeptos, a imagem que me vem à cabeça é sempre a do balde de pipocas que estes compram antes do jogo e que apenas largam, durante os 90 minutos, para soltar um ou outro aplauso para o jogador de que mais gostam ou para um ou outro assobio quando não gostam de um lance.

Adeptos  Fonte: Facebook do FC Porto
Nos últimos dois anos, o Dragão teve uma média inferior a 30.000 adeptos por jogo
Fonte: Facebook do FC Porto

Não quero, com este texto, que pense que estou a fazer um juízo de valor a quem quer que seja. Aliás, essa não é a minha intenção porque, mesmo enquanto adepto, não sou ninguém para julgar quem quer que seja. Contudo, não é por isso que deixo de dar a minha opinião perante este tipo de adeptos que parecem ser cada vez mais frequentes no sítio de que tanto gosto, o Estádio do Dragão. Com tantos anos a acompanhar o clube, confesso que sinto alguma tristeza por este novo tipo de apoio, que vai e vem consoante os resultados. Aliás, bastaria que o FC Porto diminuísse a distância pontual para o Benfica ou chegasse mesmo ao primeiro lugar do campeonato para que os 25.000 do jogo contra o Paços de Ferreira se transformassem em 35.000 ou 40.000 no jogo contra o Sporting no início do mês de Março.

Por ter aprendido o que é “ser Porto” desde que me lembro é que fiquei triste por ver a mensagem que o clube deixou aos adeptos. Sobretudo, fiquei desiludido porque, na minha opinião, ser adepto significa criar uma relação de proximidade, como a de dois melhores amigos. E nessas relações de amizade, o que me ensinaram é que a infelicidade nos permite conhecer os verdadeiros amigos. No futebol acredito que o sentimento deva ser o mesmo. Não podemos aparecer apenas nos momentos bons e quando se ganha; há que estar sempre que possível junto da equipa, assim a vida nos permita. E esse apoio não tem de ser só com aplausos porque os assobios também devem servir para que a equipa cresça. Aliás, por que razão terei eu de aplaudir se acho que a equipa não está a honrar a camisola? Por isso é que ao longo destes catorze anos aplaudi em muitas ocasiões e assobiei em tantas outras. E isto porque, tal como em qualquer amizade, esta é uma relação que tem coisas boas e más. Mesmo que sejam cada vez menos aqueles que estão lá sempre. Esse foi o problema das mensagens do departamento de comunicação do FC Porto. O de “confundir a árvore com a floresta”.

Foto de Capa: Facebook do FC Porto

Pobre espectáculo, o dos ricos

0

cab premier league liga inglesa

Durante as últimas duas semanas, falou-se de muita coisa em Inglaterra, mas entre o ruído ia sobressaindo um jogo da Premier League que se dizia poder ser decisivo para as contas do campeonato inglês: o Chelsea-City. É certo que, durante este período, ambos os clubes foram escandalosamente eliminados da FA Cup por equipas de escalões inferiores e existiram dois duelos entre os blues e o Liverpool, mas o duelo entre os dois primeiros classificados, separados por 5 pontos e com um fosso igual para o resto da tabela classificativa, era aquele que mais paixão gerava nas discussões futebolísticas um pouco por todo o mundo.

O título poderia ficar decidido ou relançado independentemente do resultado final – em caso de vitória, 8 pontos de vantagem seriam importante folga dos blues para o resto da temporada, mas, em caso de derrota, os 2 pontos de vantagem sobre City seriam distância demasiado curta para se encarar com demasiado optimismo o período referido… já um empate aproximaria, eventualmente, o United e o Southampton do eixo da frente, podendo estas equipas ficar a uma distância de 5 e 3 pontos, respectivamente, na melhor das hipóteses.

Porém, uma certeza parecia emergir deste duelo – teríamos espectáculo garantido. A Premier League oferece-nos jogos bastante entretidos, sejam eles encontros entre equipas do fundo da tabela ou ainda mais entre emblemas do topo da mesma.

sds
A agressividade e a desinspiração marcaram o Chelsea-City
Fonte: Facebook do Man City

Ora, sendo Chelsea e City duas equipas com plantéis alimentados por milhões de euros, orientadas por dois dos melhores treinadores do mundo (e um deles com uma notável vocação ofensiva, e um arsenal respeitável no que a esse aspecto diz respeito) e campeões recentes da prova, seria de esperar que demonstrassem em campo tudo o que o contexto lhes proporcionava.

Mas o que aconteceu foi precisamente o contrário. Um jogo lento, muitíssimo disputado a meio-campo, com um Chelsea extremamente resguardado e um Manchester City inoperante, ficando em evidência o enorme buraco no elo de ligação meio-campo-ataque em ambas as equipas, fruto das ausências de Fàbregas e Yaya Touré, maestros de ambos os conjuntos. O último está ao serviço da sua selecção, na CAN, e, apesar de não estar a assinar uma época fantástica, continua a ter enorme influência na manobra ofensiva dos citizens pela forma como arrasta o jogo ofensivo da equipa de trás para a frente; já quanto à influência do primeiro nos blues, basta ir aos factos para explicá-la: assinou mais assistências na época que corre do que qualquer um dos jogadores do Chelsea nas últimas duas temporadas inteiras.

A ausência de ambos os jogadores está na génese da explicação para o pobre espectáculo, mas, apesar de ser uma justificação factual, não se torna aceitável. Duas equipas que têm os cofres cheios de libras, que lideram aquela que é a liga de futebol mais rica do mundo e que também é considerada, por muitos, a liga mais espectacular do mundo, terão obrigação de ter um plantel com profundidade suficiente para não ficar evidente, da maneira que ficou, a ausência das suas figuras principais. Pobre espectáculo, o dos ricos.

Foto de Capa: Facebook do Man City

Da pequenez dos minúsculos; Daquilo que torna os grandes ainda maiores

0

diva de alvalade catarina

Deveria hoje estar aqui, diante de vós, a regozijar-me com a vitória de ontem no batatal-ao-qual-alguém-se-atreveu-a-chamar-de-campo-de-futebol do Arouca. Em boa verdade, não me apeteceu festejar absolutamente nada. Ainda que com os três pontos no bolso – e não mais fizemos do que a nossa obrigação -, se eu tivesse um saco de boxe em casa, ter-lhe-ia certamente dado uso por volta da hora em que o MRS pregava aos peixes – a maioria indigna de outra categorização que não a de meras tainhas -, na sua habitual homilia dominical.

Muito do que resulta, à vista desarmada, do jogo em Arouca é o paradigma de tudo o que eu detesto – melhor dizendo, abomino – no futebol português. E não é por ter sido apenas chato, como o João Almeida Rosa ontem lhe chamou: é, outrossim, por chegar a ser desprestigiante, medíocre, pequenino e, até, irrisório.

Em primeiro lugar, aquele sapal no qual se lembraram de colocar meia dúzia de sementes de relva é, tão só, a prova de que as equipazecas como o Arouca não gostam, não sabem e não querem jogar futebol. Pior do que isso, não só não querem jogar como não querem que mais ninguém o faça. E, para que tal propósito se concretize, vale tudo. Aposto com todos e cada um de vós que treinaram naquele terreno a semana inteira. Se preciso fosse, fariam bi-diários e mandavam os juniores e restantes camadas jovens treinarem ali. E ainda mandavam ligar a rega, para a coisa ficar ainda mais composta, como o outro em tempos se lembrou de fazer. Só para matar as poucas sementes de relva que ainda restassem, porque isto do futebol é coisa de homens de barba rija, de preferência toscos e com os pés atados…

Depois, o horror inenarrável do diminuto tempo útil de jogo, tão tradicional no futebol português. O David Simão não morreu engolido pela lama daquele sapal sabe Deus como, tamanha foi a quantidade de vezes que tentou beneficiar das suas conhecidas propriedades terapêuticas – só até ao segundo tento do Sporting, claro está, porque a partir daí foi todo um fulgor crescente e nunca antes visto naquela alma (estavas a cumprir ordens de quem te paga o ordenado, não é, lampião? Pode ser que para a próxima te saias melhor…). E, como ele, quase todos os outros, saindo goradas as tímidas e, quiçá, pouco honestas, tentativas de Pedro Emanuel, que, como bem se percebeu nas imagens da SportTV, a espaços gritava do banco “Joooogaa”.

David Simão persegue Carlos Mané  Fonte: Facebook do Sporting
David Simão persegue Carlos Mané
Fonte: Facebook do Sporting

Tenho para mim que este é um problema cultural. De falta de quase tudo, de pequenez de espírito, no geral, mas de falta de hombridade, em particular. No meio de tanta pobreza franciscana, permitam-me que ressalve Roberto. Ao acompanhar o jogo, comentei com o meu avô que aquele ponta-de-lança tinha garra, que se sabia movimentar e segurar a bola, e que não tarda estaria a dar o salto para uma equipa de segunda linha da tabela (e não de quinta ou sexta, como este Arouca). Não esperava, no regresso a casa, ouvi-lo dizer aos microfones da Antena 1 que o Sporting tinha sido melhor, e que não ia falar de um (suposto, eventual e muito questionável) penálti que não vira. Só lhe fica bem. Anotei.

Noutros tempos, nada longínquos, tenho por certo que o Sporting teria deixado pontos naquele terreno. E tenho dúvidas se não teria mesmo deixado todos os três pontos em jogo. E esta foi a única coisa boa que ontem vi: uma equipa que, sem estar em condições de jogar futebol – naquele cenário, nem com pitons apoiados sobre nuvens isso seria possível -, soube ser equipa. Soube descer do pedestal de quem está habituado a jogar de smoking (meçamos as distâncias e reservemos o fraque para quem é digno dele), calçar as galochas e enfrentar o teatro de guerra. OK, o Jonathan se calhar levou o figurino demasiado a sério. Permitam-me considerar que é apenas irreverência inerente à parca idade, por forma a não ter de lhe chamar estupidez pura e nada gratuita.

No final de contas, são três pontos que valem o mesmo que todos os outros. Para nós, já de si tão grandes mas com a ambição de sermos (bons) Gigantes, deviam valer um bocadinho mais: afinal, no Domingo joga-se, no Reino do Leão, o Clássico dos Clássicos do futebol Português. E que bem sabe voltar a casa com o altivo sorriso de quem começa, finalmente, a pôr reiteradamente em prática o lema sobre o qual os nossos antecessores edificaram o Reino do Leão!

Foto de Capa: Facebook do Sporting

Ganha “sempre” o Benfica

0

cab basquetebol nacional

Sem surpresa o Benfica ganhou mais um troféu, desta vez a VI Taça Hugo dos Santos ao derrotar na final o Guimarães (73-62), depois de ter ultrapassado na meia final a Oliveirense (83-64). Plagiando o ex-jogador de futebol Gary Lineker e fazendo a adaptação ao basquetebol, podemos afirmar: “o basquetebol é um jogo de cinco contra cinco. Os jogadores têm como objectivo marcar cesto. O jogo demora 40 minutos e no final ganha sempre o Benfica”. Na economia do desporto, o grau de competitividade das provas é determinante para o sucesso das mesmas. Sem equilíbrio competitivo não há incerteza nos resultados desportivos e as provas perdem interesse, afastando público e patrocinadores. As vitórias desportivas geram quase sempre proveitos financeiros e as derrotas o seu contrário. É pois, legítimo, que os organismos que dirigem o desporto tomem medidas para assegurar esse equilíbrio .

O exemplo da NBA

O problema não é novo e a NBA já o resolveu com a aplicação do tecto salarial ( limite autorizado a pagar aos jogadores “salary cap “ ) e com o “DRAFT” ( onde as equipas pior classificadas escolhem os melhores jogadores jovens ), entre outras medidas. Assim, os Lakers valem presentemente 2.600 milhões de dólares e estão nos últimos lugares da classificação. O sucesso da NBA baseia-se nos esforços colectivos e nos investimentos de todos. Nenhuma organização conseguiria tantos recursos se agisse por conta própria. O investimento máximo por equipa é de $63.065 milhões de dólares.

quadro 1

Na “Euroleague Basketball”, a competição mais importante no Continente europeu , já vai na 15 edição, também tem diferenças significativas :

quadro 2

Contudo , está competição procura encontrar o equilíbrio e no futuro, teremos certamente na Euroliga o “ Salary Cap”, tal como na NBA. “ Vamos ter de actuar na parte económica. Os clubes têm que ser capazes de se adaptarem. Sei que este plano não vai ser popular para as equipas mais poderosas, como o Panathinaikos, o CSKA de Moscovo e outras com grandes patrões no topo. Mas, se queremos que a Liga seja jogada de forma profissional, tenha futuro e seja sólida, teremos de avançar nesta direção. Os clubes maiores também têm de ceder”, disse o Director Financeiro , Salvador Alemany , O novo modelo será baseada não só nos resultados desportivos , mas também na transparência financeira e na gestão. O conceito de “FairPlay financeiro não irá ainda incluir o tecto salarial, mas terá regras rígidas sobre a percentagem do orçamento total que o clube pode gastar com salários dos jogadores . O regulamento (“FINANCIAL STABILITY AND FAIR PLAY REGULATION” ) vai entrar em vigor na temporada 2015-2016 e contemplará entre outros, os seguintes pontos: a) Os clubes não podem ter dívidas com jogadores, técnicos, funcionários ou impostos em atraso. b) Não podem ter sido declarados falidos ou insolventes, formalmente, por um órgão competente do seu país de origem . c) Não podem apresentar um déficit acumulado, provenientes das três anteriores épocas , que ultrapasse 10% do orçamento do clube. d) Devem apresentar um orçamento mínimo de 4.000.000 euros. e) Devem ter um orçamento para salários que não exceda 65% do total orçamentado para as despesas do clube. f) Não podem ter directa ou indirectamente contribuições dos acionistas que ultrapassem as seguintes percentagens : 75% na primeira temporada (2015-2016), 70% em na segunda e 65 % na terceira e seguintes .

À espera do F. C. Porto

A realidade em Portugal é, infelizmente, bem diferente. A nossa competição , com a honrosa excepção do SL.Benfica, ė disputada de forma quase amadora e nivelada por baixo. Mesmo o orçamento do campeão, não se compara aos mínimos verificados no quadro anterior e a maioria dos restantes clubes tem ao seu dispor, verbas irrisórias para formarem equipas. Sem Liga Profissional, sem televisão em sinal aberto, com apoios residuais das Câmaras Municipais , e sem “sponsors”, a situação é muito complicada para os clubes, o que justifica o baixo nível apresentado . Se no passado, com a LCB tínhamos uma prova bem disputada e com vencedor incerto, como se constata no quadro seguinte, hoje, com a prova Federativa, ganha quase sempre o mesmo:

quadro 3

Para que a prova ganhe alguma animação, resta a esperança de que na próxima época, o F. C. Porto regresse e que num futuro próximo o Sporting C. P. e outros lhe sigam o exemplo.

Super Bowl XLIX – O Regresso do Rei

0

cab NFL

Depois de no ano passado Seattle ter atropelado os Denver de Peyton Manning com um humilhante 43-8, esta época foi a vez de Tom Brady ter a sua oportunidade de enfrentar a Legion of Boom.

Para os Patriots foi o regresso a Arizona, o local onde perderam o Super Bowl XLII contra os Giants, e a terceira tentativa (possivelmente a última) da dupla Brady-Belichick de conquistar o quarto anel. Para Seattle, os campeões em título, era a oportunidade de repetir a fantástica conquista do ano passado com possivelmente uma das melhores defesas da História da liga.

O jogo começou lento, com ambas as equipas a exibirem desconfiança e cuidado perante a outra, tentando evitar erros a qualquer custo. O ataque de Seattle demorava a arrancar e foram os Patriots a primeira equipa a percorrer o campo e chegar à redzone da equipa adversária. Mas, de repente, Brady sentiu a pressão da defesa e acabou por ter o seu lançamento interceptado por Jeremy Lane (que acabou por partir o pulso na jogada), custando à sua equipa pelo menos três pontos num momento muito pouco característico de um dos melhores jogadores que a liga já viu. Assim se passou o primeiro quarto: sem pontos e, tirando a intercepção de Brady, sem jogadas dignas de registo.

Mas mais uma vez o ataque de Seattle não conseguia ganhar jardas, sendo obrigado a fazer punts no final de cada posse.. Na oportunidade seguinte que teve, Brady não falhou, conectando com Brandon LaFell para o primeiro touchdown do jogo e redimindo-se do erro idiota na jogada anterior.

brady e sherman
Brady e Sherman
Fonte: sports.yahoo.com

O primeiro touchdown abriu a partida e Seattle passou a arriscar mais, conseguindo empatar o jogo quase de seguida, apoiando-se no running back Marshawn Lynch, que correu para a endzone e atropelando tudo e todos no seu caminho – ou não fosse ele chamado Beast Mode.

Nos dois minutos finais do segundo quarto cada uma das equipas marcou: os Patriots através de um lançamento perfeito de Brady para Gronk, reconhecendo que o tight end estava a ser marcado por um linebacker, um matchup que os Patriots agradecem e exploram sempre que possível; com apenas trinta segundos para o final da primeira parte, os Seahawks foram subindo no terreno e acabaram por empatar o jogo através de uma série de jogadas do seu rookie wide receiver Chris Matthews, que até hoje nunca tinha apanhado uma bola na NFL mas que acabou por marcar o touchdown que mandou o jogo empatado a catorze para o intervalo.

Depois do espectáculo de Katy Perry acompanhada por Lenny Kravitz e Missy Elliott durante a pausa, Seattle começou com a bola na segunda parte, acabando por conseguir um field goal e passando a estar na frente do jogo pela primeira vez (17-14).

Tom Brady voltou então a enterrar e teve o seu segundo lançamento interceptado no jogo, desta vez um passe para Gronk, que ficou parado em vez de atacar a bola. No seguimento, Bobby Wagner foi mais rápido e inteligente e acabou por ir lá buscá-la. Depois da intercepção Seattle voltou a marcar, numa jogada bizarra em que um jogador dos Patriots, Darrelle Revis, acabou por ser “bloqueado” por um árbitro, permitindo que Doug Baldwin recebesse a bola sozinho na endzone. A vantagem dos Hawks aumentava assim para 24-14.

Foram dezassete pontos seguidos da equipa de Seattle sem qualquer tipo de resposta da equipa de New England. Em suma, um terceiro quarto para esquecer em que o ataque não conseguia converter nada e a defesa parecia um buraco.

Chegámos então ao último quarto, aos quinze minutos finais. Com muito esforço e paciência, Brady levou a sua equipa até à redzone adversária, acabando a jogada com um touchdown para Danny Amendola (24-21). O ataque dos Patriots estava de volta; agora era a vez da defesa mostrar serviço, o que miraculosamente aconteceu. Depois de um terceiro quarto para esquecer, no último quarto tudo parecia correr bem a New England e a defesa parou o ataque de Seattle, dando ao seu ataque a oportunidade de empatar o jogo com um field goal ou passar para a frente com um touchdown.

Tom Brady não se fez rogado e acabou mesmo por fazer outro touchdown, o seu quarto no jogo, desta vez para o fantástico Julian Edelman (109 jardas em 9 recepções), voltando assim os Patriots a virar o resultado (28-24).

gronk
GRONK!
Fonte: 9news.com

O último minuto foi algo tirado de um filme. Tivemos uma recepção de Kearse estatelado no chão depois de a bola bater em tudo quanto era sítio, uma intercepção na linha de uma jarda que acabou por resolver o jogo a favor dos Patriots e uma cena de pancadaria imensa e completamente desnecessária. Fica para a história a péssima decisão do treinador de Seattle, Pete Carroll, de lançar a bola em vez de correr com Lynch na jogada que lhe custou o jogo, acabando Malcolm Butler, um rookie na defesa dos Patriots, por ser o herói inesperado.

Os Patriots acabaram por conquistar o Super Bowl XLIX por 28-24, destronando os campeões em título Seahawks. Tom Brady foi eleito o MVP do jogo com 4 touchdowns e 2 intercepções, 37/50 passes completados e 328 jardas, uma performance para a História em que o quarterback dos Patriots bateu uma série de recordes: maior número de passes completados numa primeira parte de um Super Bowl, com 20, maior número de passes completados num Super Bowl, com 37, e ainda o facto de ter ultrapassado Joe Montana como o quarterback com o maior número de touchdowns em Super Bowls, com 13. Isto tudo além de ganhar o quarto Super Bowl e o terceiro MVP do Super Bowl. A performance de Brady é ainda mais impressionante quando se tem em conta que New England quase não realizou um jogo em corrida, o que obrigou o quarterback a lançar a bola cinquenta vezes.

Os New England Patriots conquistaram assim o seu quarto Super Bowl num jogo memorável e que fica para a história como possivelmente um dos melhores de sempre, ajudando a cimentar o estatuto de Tom Brady e Bill Belichick como (possivelmente) o melhor jogador e treinador da História da liga.

Foto de capa: bleacherreport.com

FC Porto 5-0 Paços de Ferreira: Asfixiante e com Harry Potter

dosaliadosaodragao

“Não conseguimos sair a jogar por causa da pressão do FC Porto”. Estas palavras de Hélder Lopes, defesa esquerdo do Paços de Ferreira, na flash interview da SportTV, resumem na perfeição o que foi a partida do Dragão. Julen Lopetegui voltou à fórmula original, ignorando os bons desempenhos de alguns elementos nas últimas partidas da Taça da Liga (frente a Braga e Académica), e, por isso, a única verdadeira novidade foi a titularidade de Marcano em função da ausência, por castigo, de Bruno Martins Indi.

Ao contrário do jogo diante da Briosa, o FC Porto não entrou particularmente proactivo ou dinâmico, ainda que tenha tido quase sempre a posse de bola, e, por isso, os primeiros 20’ foram pouco entusiasmantes – dominando e controlando o jogo, os dragões não foram capazes de descobrir os melhores espaços para penetrar na defensiva pacense (sempre com um bloco baixíssimo). Ainda que Óliver tenha tido possibilidade para aparecer duas/três vezes em posição de finalizar – e com outra clarividência, o golo podia ter, desde logo, surgido.

De todo em todo, não produzindo uma exibição brilhante, o mérito do FC Porto foi a forma como aniquilou as (tímidas) tentativas de saída para o ataque por parte do Paços. Sempre muito subida no terreno, a equipa de Lopetegui asfixiou e roubou facilmente a bola aos castores. Neste ponto, Casemiro esteve anormalmente em destaque, ainda que todo o posicionamento defensivo dos dragões levasse a isso – a linha defensiva esteve sempre muito próxima da zona intermediária, não abrindo espaços e “obrigando” a uma pressão constante e (quase) sempre harmoniosa.

De resto, porém, aconteceu mais do mesmo: tendência quase automática para procurar os flancos laterais mas com velocidade insuficiente para criar desequilíbrios, destacando-se a ausência de um médio que se ‘escondesse’ entre os centrais e os médios pacenses, recebendo a bola entre linhas e oferecendo outras alternativas ao jogo portista. Diga-se, no entanto, que ao minuto 30 – quando surgiu o primeiro golo portista –, o nulo era já injusto perante a inoperância pacense e o domínio total do jogo por parte do FC Porto. Foi Jackson (quem mais?!) que abriu as hostilidades, depois de um cruzamento de Alex Sandro, sendo que o keeper pacense Defendi não foi hábil ao ponto de segurar a bola, tendo o colombiano apenas de empurrar para o golo. Estava feito o mais difícil!

O FC Porto ficou, assim, mais confortável no jogo e, até ao intervalo, haveria de ampliar a vantagem. Primeiro na transformação de uma grande penalidade, a castigar falta de Hélder Lopes sobre Jackson (após passe longo de Marcano, outra das armas muito utilizadas nesta partida) – o português agarrou o colombiano até à área(?), sobrando a dúvida sobre o momento do término da infracção. Quaresma não desperdiçou e, embalado pela injecção de moral, haveria de voltar a marcar quatro minutos depois – num daqueles lances dignos de clip de final de ano, o ‘Cigano’ voltou ao passado, resgatou as insígnias de ‘Harry Potter’ e, com a famosa e já esquecida trivela, assinou o momento mágico da partida, liturgia de “quem sabe não esquece”. 3-0 ao intervalo.

1
Quaresma bisou e foi uma das figuras da partida
Fonte: Página de Facebook do FC Porto

A 2ª parte haveria de abrir da mesma forma como terminou a 1ª – com um golo do FC Porto. A tal pressão alta característica do Dragão não ficou no balneário, e com uma recuperação de bola à saída da área do Paços – a que se juntou demasiada passividade da equipa pacense –, Jackson teve oportunidade para servir Herrera para o mexicano deixar também a sua assinatura no livro de honra do jogo. A partir desse momento, o Paços decidiu começar a pensar em visitar Fabiano. Seri deu o primeiro sinal ao rematar à barra portista, naquele que foi também o primeiro remate da sua equipa. Estávamos no minuto 48. Esse lance teve o condão, porém, de trazer ao jogo uma nova vida – o Paços começou a soltar-se, a revelar-se mais atrevido, conseguindo sair em várias transições (sobretudo pelos corredores), uma vez que o martírio que havia sido a primeira fase de pressão portista começou a esmorecer, possibilitando, assim, que surgissem em jogo os elementos mais avançados dos castores no terreno e que nunca se viram nos primeiros 45’. Por outro lado, o FC Porto também relaxou e baixou os índices de ligação ao jogo (ainda que Óliver, por exemplo, tenha tido uma soberana oportunidade aos 55’).

A dança das substituições começou logo de seguida: saíram Casemiro, Quaresma e Herrera e entraram para os seus lugares Rúben Neves, Quintero e Evandro, aos 64’, 68’ e 81’, respectivamente. De notar tão-só o momento em que o #10 portista surgiu em campo, levando a que Óliver fosse ocupar terrenos semelhantes ao que haviam sido pisados por Quaresma, deixando Quintero, dessa forma, na zona central e nevrálgica do campo. Onde ele pode, verdadeiramente, fazer a diferença. Tal como fez ao minuto 76’, quando, com um grande passe, deixou Jackson isolado, com ‘Cha Cha Cha’ a tentar o chapéu, que acabou por sair longe da baliza.

Até ao fim o FC Porto haveria de chegar ao quinto golo, na transformação irrepreensível de um livre, por parte de Tello, a castigar um lance em que Jackson surgia, de novo, isolado perante a baliza, impedido apenas pelo defesa Romeu Rocha, que ao fazer falta, viu ainda o segundo cartão amarelo.

Tudo somado, a exibição do FC Porto, longe de ser brilhante, foi suficientemente competente e responsável para justificar uma vitória ampla, perante um Paços de Ferreira demasiado amorfo, recolhido e que não soube – principalmente durante os primeiros 45’ – justificar a fama de equipa que pratica um futebol ofensivo e descomplexado.

 

A Figura
Quaresma
– Não fez uma exibição de encher o olho, até porque teve sempre muitos adversários pela frente. Porém, merece esta distinção pelo momento absolutamente genial que assinou ao minuto 44 – é certo que tenta imensas vezes (e por isso também é criticado…), mas a forma como a trivela voltou a ser tão perfeita quanto eficaz é um daqueles lances que faz sorrir qualquer verdadeiro amante de futebol.

O Fora-de-Jogo
Paços de Ferreira
– Os primeiros 45 minutos foram totalmente desajustados da imagem positiva que esta mesma equipa tem granjeado ao longo deste campeonato. Nesse período não encontrou qualquer tipo de antídoto para a forma muito forte como foi pressionada e nunca conseguiu explorar a profundidade perante um adversário que até expôs a sua linha defensiva.

Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

Arouca 1-3 Sporting: Vencer jogos chatos também dá três pontos

escolhi

Estes jogos são chatos. À partida, se o Sporting ganha, não faz mais do que o seu dever; se perde, chegam todas as dúvidas, todas as críticas, todos os defeitos. São chatos também pela qualidade dos praticantes. Imaginem-se num fim de semana em que um vosso amigo inglês – adepto de futebol, claro está -, vem a Portugal. Dir-lhe-iam, com um grande sorriso e todo o orgulho, “este é o meu campeonato!”, no fim de um jogo do Arouca? Claro que não. Nenhum adepto de futebol chorava se este ano descessem mais equipas do que o previsto. Mas adiante.

Como não há situação chata que não se torne mais chata, acho que é mais ou menos isto que diz a Lei de Murphy, o já de si jogo chato com o Arouca, tornou-se mais chato devido às condições meteorológicas e ao empapamento do também usualmente chato relvado da equipa do norte. Se ainda pensarmos que Nani (e Jefferson) estavam castigados, constatamos a fiabilidade da tal lei que nos diz que tudo pode ficar sempre mais chato. Aí, e porque nestas situações o resultado é sempre o melhor juiz, Marco Silva merece que lhe louvem a perspicácia: é sempre melhor prevenir do que remediar. Foi o que fez. Mas adiante.

O jogo começou dividido, como se esperava depois do enunciado, a proporcionar muito choque, muito salto, muitas coisas mas pouco futebol. Ainda assim, Montero colocou o guarda-redes adversário em acção num lance, Adrien ficou a milímetros de colocar as redes a balançar noutro. Pelo meio, o árbitro resolveu decidir que o Tobias não podia levar os braços para o relvado e por isso – não me ocorre outra justificação -,  marcou penalty que a equipa de Pedro Emanuel viria a converter com sucesso. Não há mesmo situação chata que não se possa tornar mais chata, pois não?

No meio desta chatice desmedida, Marco Silva há-de ter pensado em Nani mas por pouco tempo. É que Mané, que pareceu meio perdido por uns minutos, resolveu arrancar pela esquerda, fixar o adversário, soltar na altura certa para o jogador certo que finalizou para o empate. O jogador foi Montero e apetece perguntar: quem é que “jogava bem mas não marcava”? Já é o melhor marcador da equipa, este que joga bem mas não marca. Até ao intervalo, nada mais a realçar para além da classe de William a controlar a bola, o adversário e a definir os tempos. O Adrien também não esteve nos seus piores dias, mas achei por bem colocar o ponto final a dividir as coisas que não me pareceu sensato misturá-lo com o Sir na mesma frase. Já bem chega no campo.

O intervalo trouxe-nos uma novidade: pela primeira vez desde as 18h, passou um minuto e meio sem um jogador do Arouca cair. Para além dessa, não muitas mais. Nenhuma mexida nos onzes iniciais e poucas no jogo. Talvez Adrien se tenha soltado um pouco mais, talvez a zona de pressão do Arouca tenha subido também e, com estes dois factores interligados, talvez tenha passado a existir um pouco mais de espaço no meio. O Sporting dispôs de uma belíssima oportunidade através de um passe de cabeça de Mané para Adrien, que desperdiçou com um remate ao lado. Noutros jogos, este lance poderia custar pontos. Foi preciso novo passe de Mané, desta vez para Carrillo, que, à ponta de lança, não perdoou. Minuto 62′ e finalmente uma notícia um pouco menos chata.

Perante este novo contexto, o Arouca reagiu como soube e encostou, por minutos, o Sporting mais atrás, mas Tobias Figueiredo, que nunca foi pior do que Maurício ou Sarr, sentenciou a partida com um excelente golo de cabeça, depois de um canto muito bem batido por Carrillo. 1-3 e a partir daqui notícias chatas só um segundo amarelo ou uma lesão. Que pena foi não poder dizê-lo ao Jonathan que, menos mau, dificilmente seria opção para o derby de dia oito. Daí até ao final, houve algum futebol que poderíamos convidar o nosso amigo inglês a ver sem que disso nos envergonhássemos. André Martins concluiu mal uma boa jogada colectiva; Tanaka falhou por muito pouco mais um golo; o Sporting venceu e conquistou, pela sexta vez consecutiva no campeonato, os três pontos. Para a semana, chatos ou não, que continuemos a somá-los!

A Figura

William Carvalho – Parece-me que, como no ano passado, daqui em diante vou passar a dedicar sempre este pequeno lugar de homenagem ao trinco leonino. Cabeça no ar com bola no pé, cabeça no lugar sem ela. Qualidade, visão. Já tinha saudades tuas, pá!

O Fora de Jogo

Arouca – Acho que a equipa de Pedro Emanuel pediu mais vezes assistência nos primeiros 45′ (aqueles onde o resultado lhes era favorável, portanto) do que uma qualquer equipa da Premier League na temporada inteira. E isto basta para a eleição.

Foto de capa: FPF

Djokovic “ganha o Óscar” frente a Andy Murray

0

cab ténis

Novak Djokovic conquistou pela quinta vez o Open da Austrália, derrotando na final o britânico Andy Murray por 7/6, 6/7, 6/3 e 6/0. Mais uma vez o tenista sérvio protagonizou momentos que geraram opiniões divergentes por parte da crítica e dos adeptos.

O número 1 mundial colocou tudo o que tinha na final deste Open da Austrália, e tudo o que tinha refere-se ao jogo jogado mas também à vertente mental da partida. Djokovic, conhecido pela sua saudável “loucura” dentro de court, conseguiu desconcentrar Andy Murray, que nunca mais foi o mesmo a partir do terceiro set do encontro.

Depois de dois set’s iniciais, resolvidos apenas no tie-break, com a duração de 2h30, os dois set’s finais resolveram-se em 60 minutos. Não foi Andy Murray que “desaprendeu” o que sabia e a táctica que aplicou nos set’s iniciais, mas sim o sérvio que conseguiu mexer com a cabeça do britânico, que nunca mais conseguiu encontrar os níveis de concentração necessários para discutir taco-a-taco a final deste Open da Austrália.

O número 1 mundial alegou algumas dores durante a terceira partida, e com as queixas e as paragens conseguiu quebrar o ritmo de Murray, que estava em fase ascendente da partida, e partir assim para dois set’s finais completamente diferentes das duas partidas iniciais.

No entanto, o feito de Djokovic não merece ser recordado apenas pelos factores extra-jogo. O tenista sérvio esteve melhor e soube à sua maneira levar o jogo a seu favor, numa partida que começou por ser complicada. Andy Murray foi com a lição bem estudada e os dois set’s iniciais tanto poderiam ter “caído” para um como para outro.

Murray atacou a esquerda de “Nole” e conseguiu criar dificuldades ao sérvio, que no entanto aproveitou uma das maiores deficiências do jogo de Murray, o segundo serviço. Murray conquistou apenas 34% dos pontos com o segundo serviço, enquanto Djokovic conquistou 64%. O sérvio soube aproveitar as fraquezas de Djokovic para, a par da desconcentração do britânico, conseguir conquistar mais um troféu do Open da Austrália.

Andy Murray regressou assim a uma final de um torneio do grand slam, enquanto Novak Djokovic conquistou pela quinta vez o Open da Austrália, reforçando a sua liderança do ranking mundial. Com esta final, o top 4 voltou a ser constituído pelos denominados “big four”: Djokovic, Federer, Nadal e Murray, devido à queda de Stanislas Wawrinka no ranking.

Nos pares, os italianos Simone Bolelli e Fabio Fognini venceram os franceses Pierre Herbert e Nicolas Mahut (o protagonista do jogo de 11h em Wimbledon), por 6/4 e 6/4.

O Open da Austrália regressa para o ano, num evento que está a ficar cada vez melhor, quando foi já considerado o mais “pobre” dos quatro grand slams. Hoje em dia, Melbourne Park é uma casa de topo que abre a temporada do ténis de topo mundial.

França 25-22 Qatar: Gauleses sagram-se Campeões do Mundo!

0

cab andebol

Fez-se justiça. Nenhum apreciador de andebol ou do desporto em geral poderia estar hoje a torcer pela vitória do Qatar, pelo que o triunfo francês tem de ser visto como um triunfo da verdade desportiva. Quem acompanhou minimamente esta competição sabe por que o digo: não só os qataris dispunham de 10 jogadores naturalizados à pressa num plantel de 17, como as arbitragens deste Mundial, que os asiáticos disputaram em casa, foram-lhes invariavelmente favoráveis. É caso para dizer, citando um adepto francês, “Talent – 1, Argent – 0” (“Talento – 1, Dinheiro – 0″).

Privados de Luc Abalo durante todo o Mundial, os franceses apresentaram hoje Valentin Porte (4 golos em 8 remates, 50% de eficácia) na ponta-direita, bem como a surpresa Alix Nyokas (3/5, 60%, pouco utilizado até aqui) como lateral desse flanco. O atleta do Göppingen marcou, de resto, o primeiro golo gaulês e foi um dos jogadores em maior destaque durante os primeiros minutos. A França aproveitou algumas perdas de bola e passes errados por parte do Qatar – fruto talvez de algum nervosismo inicial – para, com Nikola Karabatic (5/7, 71%) também em grande evidência, colocar o resultado em 5-9 aos 17 minutos. Como resultado, Valero Rivera pediu o primeiro desconto de tempo.

Ao contrário do que tinha acontecido em jogos anteriores, os qataris não demonstravam a eficácia da sua pressão defensiva, situação que a França aproveitou nos primeiros 20 minutos – exemplo disso foram os 6 golos encaixados pela equipa de Claude Onesta, situação notável mas que não mais se repetiu até final. Com o central Kamalladin Mallash (3/4, 75%) a orquestrar as jogadas, foi sobretudo o lateral-esquerdo cubano naturalizado qatari Rafael Capote (6/7, 86%) quem mais se evidenciou na primeira parte da equipa da casa, concretizando quatro golos em remates fortíssimos de primeira linha. Ao intervalo o marcador registava 11-14 a favor dos franceses, resultado que só não era mais desnivelado devido a algumas falhas na concretização por parte do gauleses e também a algumas decisões discutíveis da equipa de arbitragem, quase sempre a beneficiar os asiáticos. Uma palavra ainda para o guardião Danijel Saric (14 defesas/37 remates na sua direcção, 38% de eficácia), que manteve os qataris na discussão com várias boas defesas.

karabatic
o francês Nikola Karabatic foi o melhor em campo

No início do segundo tempo, dois golos de Mallash colocaram o Qatar a perder apenas pela diferença mínima. À semelhança do que já tinha acontecido na meia-final com a Espanha, a França caiu um pouco de rendimento após o intervalo – embora, em boa verdade, nunca tenha perdido o controlo da partida. O facto de o Qatar nunca mais ter conseguido passar para a frente do marcador depois do 1-0 é relevador disso mesmo. Com a entrada de Xavier Barachet (3/6, 50%) para o lugar de um Nyokas em quebra de produção, foi sobretudo Porte quem mais melhorou a sua prestação na selecção dos bleus. Porém, ainda que o jogo exterior francês saísse valorizado, a equipa estava num período de menor eficácia defensiva (contra a Espanha o nível foi bem melhor) e permitiu que o adversário reduzisse para 17-18 aos 40 minutos.

Com o encurtar das distâncias, a defesa qatari tornou-se mais agressiva e indicava que a equipa sabia que podia virar o jogo. Com efeito, o lateral Hassan Mabrouk (0 remates) foi-se tornando cada vez mais faltoso e quezilento, pouco acrescentando à sua equipa no ataque e inviabilizando algumas acções ofensivas do opositor. Num dos lances em que os franceses não foram capazes de aumentar a vantagem, o apagado ponta-esquerda Michaël Guigou (3/5, 60%) lesionou-se após rematar ao poste. Na resposta, golo do pivot “qatari” Borja Vidal (3/3, 100%), que estabeleceu o 19-20 aos 45 minutos.

A França parecia mais fatigada, e Claude Onesta promoveu a rotação na sua equipa dando minutos a jogadores como Jérôme Fernandez (1/2, 50%) e o jovem Kentin Mahe (1/2, 50%). Depois de um período a descansar, Nikola Karabatic – enorme tanto a atacar como a defender e, quanto a mim, o melhor jogador da final – regressou para os últimos dez minutos. Aos 54′, após (mais uma) assistência de N. Karabatic, Mahe fez o 21-24 num raro contra-ataque. A partir daí, o inteligente central Daniel Narcisse (4/7, 57%), que se exibiu sempre a muito bom nível, assumiu a liderança da sua equipa no ataque, tomando iniciativas sempre com critério e aparecendo de forma decisiva quando os colegas mais precisaram dele. Dois erros de Abdulla Al-Karbi (0/2, 0%) precipitaram a vitória francesa quando ainda havia um par de minutos para jogar. Estava assim consumado o quinto título mundial de França, que ultrapassa a Suécia e a Roménia e se torna no país mais bem-sucedido do andebol mundial.

Ainda que sem grande brilhantismo, a vitória gaulesa no jogo de hoje nunca esteve em discussão. O Qatar mostrou alma, deu boa réplica (Zarko Markovic (7/16, 44%) mais uma vez terminou uma partida como melhor marcador, embora tenha falhado vários golos no primeiro tempo) e teve o mérito de ter conseguido adiar ao máximo a confirmação do triunfo francês, depois de um período inicial em que o desequilíbrio parecia vir a ser muito maior. Como já se disse, algumas decisões da equipa de arbitragem também contribuíram para um certo equilíbrio no marcador, mas hoje seria necessário um autêntico escândalo ao nível da apreciação das jogadas para retirar o título aos franceses. Vitória justa dos bleus, vitória também da seriedade e da verdade desportiva contra o poder do dinheiro. No entanto, a continuar assim, o futuro do desporto está seriamente ameaçado…

 

Fotos: Facebook IHF