Wayde van Niekerk – O amigo de Bolt que não quer ser Bolt
Muita gente estava em frente aos televisores na noite (já madrugada do dia seguinte em Portugal) de 14 de Agosto de 2016. A noite iria fechar com a muito aguardada final dos 100 metros – onde Usain Bolt conquistou o terceiro título olímpico consecutivo na distância – mas os portugueses desde bem cedo tinham motivos para estar agarrados ao televisor, pois decorria a final do Triplo Salto feminino, com a presença de Patrícia Mamona e Susana Costa. No entanto, foi durante a final que se realizou antes da dos 100 metros que mais bocas se abriram de espanto. Naquela noite, Wayde van Niekerk conseguiu roubar o prémio de protagonista da noite ao tornar-se, pela primeira vez na sua carreira, campeão olímpico dos 400 metros e ao fazê-lo com uma marca estratosférica de 43.03 segundos, pulverizando o recorde de Michael Johnson, que muitos afirmavam ser indestrutível, de 43.18 segundos, que durava há 17 anos.
Não é que van Niekerk fosse um desconhecido à data ou que não fosse um dos principais favoritos ao Ouro. No ano anterior, o sul-africano tinha causado surpresa em Pequim ao tornar-se campeão mundial – depois de um mês antes ter baixado pela primeira vez dos 44 segundos – na frente de LaShawn Merritt, que era o campeão mundial na altura, e na frente de Kirani James, que era o campeão olímpico. Nesse dia, o sul-africano van Niekerk correu um grande recorde pessoal à altura de 43.48, que era recorde africano e que o tornava no 4º homem mais rápido de sempre na distância. 2016 estava a ser um ano regular para ele. Tendo participado em apenas dois meetings da Diamond League – e vencido os dois com tempos acima dos 44 – nada faria prever que iria ao Rio de Janeiro correr nos incríveis 43.03, tornando-se o mais rápido da história, mais uma vez na frente de James e Merritt (sim, agora com a ordem invertida).
2017 foi o ano mais regular de van Niekerk até ao momento. Apesar de não ter corrido tão rápido (nos 400) como o fez nas finais de 2015 e 2016, ficou a ideia de que isso talvez tenha acontecido por não ter precisado, por falta de concorrência na distância. Nesse ano baixou por 3 vezes da barreira dos 44 segundos (uma delas em 43.62) e venceu a final dos Mundiais de Londres em 43.98, mas totalmente confortável. Foi um ano em que apostou também nos 200 metros, tendo alcançado a Prata nos Mundiais de Londres e batido o seu recorde pessoal em Kingston, com 19.84 (+1.2), além de também ter feito o seu melhor pessoal nos 100 metros, correndo em 9.94 (+0.9). Em outubro desse ano, num jogo de exibição de Rugby, Wayde van Niekerk acabou por se lesionar gravemente ao fazer uma rotura de ligamentos e do menisco do seu joelho direito, ao apoiar mal o pé no chão. A lesão obrigou o sul-africano a ser operado e a sua recuperação demorou cerca de 9 meses, fazendo com que o mesmo não tenha podido competir na temporada 2018.
Visto por muitos como o maior nome da velocidade na atualidade, recebendo o legado de Usain Bolt, o sul-africano é amigo do jamaicano, tendo treinado por várias vezes com o mesmo. No entanto, van Niekerk sempre diz que Bolt só há um e o que ele quer é ser conhecido por ser ele próprio, o melhor de sempre nos 400 metros. A confiança leva-o a acreditar em algo nunca antes vistos nos 400 metros: sonha em baixar dos 43 segundos e muito em breve. O tempo não é ainda um problema: chegou cedo ao topo do mundo e é com 27 anos que se apresentará em Doha.