O que valem os 43.70 de Fred Kerley?
O facto de não termos tido van Niekerk por cá em 2018 fez com que tivéssemos direito a novos nomes a ocupar o seu lugar nos 400 metros, com mais ou menos brilhantismo. Para quem se limita a acompanhar com atenção apenas os meetings da Diamond League, terá passado despercebido o que de melhor aconteceu na distância, mas já lá vamos. A vitória dessa competição foi para Fred Kerley, o norte-americano de 23 anos, e é precisamente por aí que podemos começar.
E como é abaixo dos 44 segundos que tivemos qualquer tempo campeão mundial ou olímpico desde 2012 e temos a certeza que é abaixo dessa marca que teremos os 3 futuros tempos vencedores de eventos globais, é abaixo dessa marca que nos iremos referir várias vezes ao longo deste artigo. Kerley fê-lo apenas uma vez na sua carreira. Mas fê-lo em 43.70! É uma marca que o coloca como o 8º mais rápido a percorrer a distância e a apenas 5 milésimos do recorde pessoal do ex-campeão olímpico e mundial LaShawn Merritt! Fê-lo quando havia apenas completado os 22 anos, logo em Maio do ano passado, num evento universitário preliminar a nível estadual! Esmagou o anterior recorde colegial norte-americano e mais tarde venceria mesmo o título nacional universitário, bem como os nacionais seniores em 44.03. Chegava a Londres como um dos favoritos a medalhas e saiu de mãos a abanar, com um 7º lugar na final, em 45.23. Terá sido resultado de um esforço enorme pela longíssima temporada universitária? Terá sido porque o pico foi apontado para essas competições universitárias bem mais cedo no ano? Muitas razões o podem explicar.
Em 2018, nunca se aproximou dessas marcas – o melhor foram os 44.33 em Roma – mas venceu 3 meetings da Diamond League, incluindo a final de Zurique, pelo que não se pode considerar um mau ano. Fica, ainda assim, a ideia de que venceu pelas ausências. Kerley melhor do que ninguém saberá que para vencer em 2019 – os Mundiais, mas mesmo a Diamond League ou os Nacionais/Trials norte-americanos – precisará de correr mais rápido do que o que fez em 2018. E será também a oportunidade para provar que os seus críticos – que afirmam que a sua prova em Austin em 2017 foi uma vez sem exemplo – estão errados.