Um dérbi simboliza um jogo de grande intensidade entre duas equipas da mesma cidade. Em Lisboa, chamamos dérbi ao encontro entre o Sporting e o Benfica. Dia de dérbi é dia de convívio, dia de grandes emoções e dia de apoiar o seu clube da melhor forma possível. Como tal, os bilhetes para estes jogos vendem-se sempre de forma rápida e neste caso não foi exceção: os bilhetes referentes à equipa visitante (Sporting) esgotaram em menos de 24 horas.
Relativamente à equipa da casa, esperava-se uma autêntica onda encarnada para apoiar o Benfica neste decisivo jogo. E assim foi. O Pavilhão da Luz quase encheu na sua totalidade e contou com ilustres figuras, tanto do passado recente da modalidade, como do presente do clube. Falo do mágico Ricardinho, de Pedro Costa e do administrador da SAD do clube, Rui Costa.
O jogo foi bem disputado, tanto dentro como fora da quadra. O Benfica entrou mal na partida, e o Sporting inaugurou o marcador fruto de uma belíssima triangulação finalizada por Pedro Carry. Após o golo leonino, houve uma boa reação da equipa da casa, que pressionou mais e aproveitou os erros do adversário. O golo marcado levou a equipa visitante a desorganizar-se, jogando mal. A magia benfiquista sobressaiu quando Serginho fez uma grande finta sobre Marcelinho e rematou de forma espetacular para um golo impossível de se defender. Nené, a passe de Marcão, finalizou de forma excecional com um golo de pontapé de bicicleta. A primeira parte terminou e o Benfica foi para intervalo a vencer, devido a uma boa resposta e a uma impressionante nota artística dos seus jogadores.
Festejos da equipa encarnada após a importantíssima vitoria diante do Sporting. Fonte:Slbenfica.pt
Previa-se uma entusiasmante segunda parte, devido à pequena diferença no resultado, mas não foi bem isso que sucedeu. O Benfica continuou a jogar bem e o Sporting melhorou substancialmente, faltando melhorar a pontaria (mérito também para o guardião da casa, que fez boas intervenções). Em mais uma desatenção defensiva, Alan Brandi matou o jogo e, até ao final, o Sporting nada conseguiu fazer para diminuir a desvantagem. Nuno Dias arriscou o 5 para 4, com o habitual Alex a desempenhar a função de guarda-redes avançado, mas a bola não queria mesmo entrar, e assim terminou a partida. Vitória justa da equipa encarnada, que fez uma excelente abordagem ao encontro. Com este resultado, ultrapassou o Sporting, alcançando o primeiro lugar da classificação, estando assim lançada para a conquista da Fase Regular.
Nos restantes jogos da jornada, é de realçar a importante vitória do Braga em casa da lanterna vermelha Académica, que consolida o terceiro lugar, mantendo a vantagem de quatro pontos sobre os Leões de Porto Salvo, que também venceram fora, em casa do Boavista, por 2-3.
Nesta jornada, aconteceu algo insólito, visto que apenas houve uma mudança classificativa: o Benfica subiu ao primeiro lugar e o Sporting desceu para segundo. Nas restantes posições, nada se alterou, o que é sem dúvida alguma algo estranho. Os últimos lugares, Académica e Vila Verde, muito dificilmente salvarão a descida de divisão. O Vila Verde está a nove pontos do 12º e a Académica está a seis do 12º, Póvoa Futsal.
Nené e Caio Japa numa disputa acesa pela posse de bola, com o jogador encarnado a levar vantagem. Fonte: Slbenfica.pt
De destacar o dérbi de sábado, que foi claramente o jogo cartaz da jornada. Para quem raramente assiste a esta modalidade e viu o jogo na televisão, tenho a certeza de que ficou apaixonado, devido à intensidade do mesmo e à facilidade com que o resultado se vai alterando.
Aliar força bruta a puro talento e classe é uma capacidade reservada apenas aos melhores jogadores. A posição que, actualmente, mais carece de atletas com tal habilidade é a de poste.
Devido à evolução que temos vindo a assistir na modalidade – um maior espaçamento em campo –, o papel de poste tem vindo a ser cada vez menos aproveitado, pelo menos de acordo com os grandes nomes da história da liga.
Dentro deste capítulo, há três nomes que merecem destaque, pelo enorme impacto que dão às suas equipas. Vou começar por um jogador que está a participar numa época em que tem vindo a impressionar o público pela melhoria na qualidade de jogo, de um ano para outro. Estou a falar de DeAndre Jordan e dos Los Angeles Clippers.
Esta imagem foi das que mais viajaram na Internet. Fonte: Sports-kings.com
Na imagem, vemos DeAndre Jordan a preparar-se para um potente afundanço que, mais tarde, foi considerado o melhor do ano passado.
O poste da actual melhor equipa da cidade dos anjos tem vindo a evoluir bastante. Isto deve-se ao facto de terem um novo treinador, um dos mais aclamados da história da liga. Doc Rivers conseguiu implementar um estilo de jogo mais bonito, por estranho que pareça, em comparação ao habitualmente conhecido por Lob City. Lidera a liga em ressaltos e já tem uma enorme colecção de afundanços, que fizeram, certamente, inúmeros fãs ficarem avivados com tais jogadas.
De seguida, falo de Al Jefferson. Este atleta é o impulsionador que irá, em princípio, ser a razão principal da ida dos Charlotte Bobcats aos playoffs. Dotado de um jogo no poste impressionante, Jefferson tem sido, provavelmente, o melhor poste da liga – ofensivamente falando –, isto se tomarmos em conta que DeMarcus Cousins tem inúmeros problemas de obediência e comportamento e que Dwight Howard não é, de todo, o jogador que maravilhou milhões nos seus tempos nos Orlando Magic.
O número 25 dos Bobcats tem sido a peça fundamental que tem ajudado o grupo a chegar bem mais longe, algo que pouca gente esperava que fosse possível, pelo menos num espaço de tempo tão reduzido depois de terem alcançado o pior registo de vitórias, há dois anos.
Por fim, quero desviar as atenções para o atleta que mais me surpreendeu neste mês que passou. Joakim Noah tem sido para lá de impressionante. Com mais do que um triplo-duplo conseguido nestas últimas semanas, Noah é a personificação do estilo de jogo praticado pelos Bulls, de Tom Thibodeau. Com uma garra incrível, o poste dos Bulls tem conseguido levar a equipa às suas costas.
Na posição de poste, pelo menos na ideia clássica da posição, estamos perante um jogador bastante imponente, que garante ressaltos – dados estatísticos geralmente olhados de lado, por não serem estatísticas muito elegantes –, pontos, assistências, roubos e, por norma, abafos. Estes atletas são normalmente as bases de um plantel e, infelizmente, tem sido uma posição que se tem extinguido, pelo menos nos parâmetros a que o desporto nos habituou.
A constante evolução tem levado a inúmeras alterações nas posições. Contudo, sinto que a posição de poste é uma das que mais segurança garantem a um grupo, e isso ajuda uma equipa a manter-se estável durante uma época que, como se sabe, é dura.
O FC Porto venceu esta noite o Belenenses por 1-0, na 24ª jornada da Liga Portuguesa. Os portistas entravam no Dragão pressionados pela vitória do Sporting na Madeira, resultado que os “obrigava” a vencer os azuis do Restelo para continuarem a sonhar com a entrada direta na Liga dos Campeões.
Com as ausências de Danilo, Maicon, Fernando e Quaresma, Luís Castro foi obrigado a fazer várias alterações na equipa inicial, lançando Ricardo a lateral direito e incluindo Reyes, Josué e Ghilas no onze inicial. Do lado do Belenenses, e depois da saída de Marco Paulo, foi a vez de Lito Vidigal se estrear no banco da equipa lisboeta.
Os portistas não entraram fortes na partida, ainda apáticos na adaptação ao novo figurino e aos novos rostos. O Belenenses ia defendendo com os 11 homens atrás da linha da bola, procurando explorar o contra ataque. Só perto do minuto 30 se sacudiu a apatia no Dragão, após um cabeceamento para o fundo da baliza de Matt Jones, por parte de Jackson Martinez, que foi (bem) anulado por Carlos Xistra. Logo de seguida, foi Varela, com um forte cabeceamento, a criar perigo junto à baliza do Belenenses. Ainda assim, o cabeceamento do extremo português bateu no poste. O Belenenses ia segurando o empate como podia e, sem nada que o fizesse prever, esteve perto de inaugurar o marcador com um remate ao poste de Fernando Ferreira. Até ao final do primeiro tempo, a equipa forasteira acabou por sofrer um duro revés, ao ver João Afonso ser expulso após derrube sobre Jackson, quando este ia isolado.
Quintero foi decisivo Fonte: ZeroZero
Ao intervalo, Luís Castro lançou Quintero para o lugar de Josué, e tudo se alterou na equipa portista. Mais rápida, incisiva e dinâmica, a equipa foi acumulando lances de perigo junto à baliza de Matt Jones. O Belenenses tentou diminuir o ritmo de jogo, fazendo paragens constantes, mas isso apenas foi adiando aquilo que Quintero ia construindo e que parecia inevitável: o golo do FC Porto.
Depois da entrada de Kelvin e Licá, para os lugares de Varela e Reyes, os portistas chegaram mesmo ao golo da vitória, aos 77 minutos, com Quintero a bater finalmente Matt Jones, depois de cruzamento pela direita de Licá. Até ao final do jogo, novo lance de magia do colombiano, a enviar uma bola à trave da baliza do Belenenses na cobrança de um livre direto. Três pontos e uma vitória sofrida, mas merecida, de um FC Porto que agora já só pensa no duelo da próxima quarta feira, contra o Benfica, para a Taça de Portugal. Aí, os protagonistas serão diferentes, o adversário também, e o nível de exigência nem sequer é comparável. Veremos como se comporta este FC Porto.
A Figura: Quintero – O colombiano entrou e revolucionou o jogo azul e branco, rubricando uma bela exibição na segunda parte. Golo decisivo e justo pelo que fez.
O Fora de jogo: Jackson – A falta de alegria no avançado é inexplicável. Mais um par de golos falhados e mais uma exibição desinspirada do ainda melhor marcador do campeonato.
Em mais uma tarde de domingo, o Benfica recebeu em casa a equipa da Académica em jogo a contar para 24ª jornada do campeonato nacional. A Luz esteve composta (cerca de 50 mil adeptos) para ver o Benfica a confirmar um resultado que não poderia ter sido outro. Apesar da influência que a deslocação ao Dragão, marcada para a próxima quarta-feira, poderia ter nas contas de Jesus, o técnico encarnado não poupou nenhum dos jogadores disponíveis e colocou em campo aquela que tem sido a formação mais utilizada (apenas Sílvio ocupou o lugar de Maxi Pereira). É evidente a atitude com que Jorge Jesus tem encarado os jogos para o campeonato, fazendo de cada partida uma final, naquilo que é decerto a preocupação de não voltar a cometer erros passados. E a família benfiquista agradece.
Para além dos golos, a história do jogo é curta, pelo que o desafio teve sempre apenas um sentido. Um Benfica peremptório entrou muito forte no jogo, querendo impor rapidamente o seu futebol, como nos tem habituado nos últimos tempos. Até ao primeiro golo, apontado por Lima (na sequência de um lance em que Rodrigo enviou a bola ao poste), o jogo esteve muito aberto e foi feito de transições rápidas. O Benfica soube aproveitar esse espaço e colocou-se em vantagem aos 11 minutos. A equipa dos estudantes reconfigurou-se e jogou muito mais compacta daí em diante, sempre na expectativa e a aguardar o erro para iniciar o contra-ataque.
Aos 28 minutos Lima bisa na partida. Depois de Sílvio ter colocado a bola em Markovic no flanco direito, o sérvio fez um cruzamento rasteiro milimétrico que descobriu Lima nas costas de Marcelo que, à boca da baliza, só teve que encostar. Antes do intervalo, uma jogada motivada por Siqueira não terminou em golo por acaso. É de assinalar, de facto, a iniciativa ofensiva dos laterais encarnados. Sílvio e Siqueira foram fundamentais na construção ofensiva do jogo do Benfica e tornaram os flancos da equipa encarnada uma verdadeira arma apontada à baliza de Ricardo.
Lima apontou dois golos e foi decisivo na vitória encarnada Fonte: ZeroZero
Na segunda parte, na sequência de um erro da defesa da Académica, Enzo Pérez aproveita para combinar com Rodrigo, que devolve ao argentino, e marca o terceiro das águias, na cara do guarda-redes da Briosa. A Académica não conseguia lidar com a supremacia do Benfica e foi impotente para evitar aquele que viria a ser o último golo da partida.
No fim dos 90 minutos, o resultado não foi mais amplo porque Ricardo, guarda-redes dos estudantes, e o excesso de pontaria (o ataque do Benfica colocou três bolas no ferro) não deixaram. Não posso fechar esta análise sem assinalar a excelência da circulação e posse de bola do Benfica assim como a capacidade de gerir o jogo quando em vantagem. O Benfica está na melhor forma da época e conseguiu hoje manter a distância confortável que tem em relação ao Sporting, o seu adversário mais próximo.
A Figura Lima – Para além dos dois golos que apontou, o avançado brasileiro foi um verdadeiro lutador no meio campo, tendo vindo muitas vezes buscar a bola atrás, sendo uma peça fundamental na transição para o ataque.
O Fora-de-Jogo Académica – A equipa da Briosa não foi capaz de impor o seu futebol em momento algum do jogo. À excepção de um livre executado por Marcos Paulo que ainda beijou o poste da baliza de Oblak, a equipa dos estudantes não teve, como disse o seu treinador, Sérgio Conceição, ambição nem atitude.
Estamos neste momento a nove jogos do fim da Ligue 1 de 2013/2014, e a classificação está inclinada para o PSG renovar o seu título, levando oito pontos de vantagem sobre o segundo classificado (Monaco) e 17 sobre o terceiro (Lille).
Isto não vem como surpresa. Apesar de o Monaco ter gastado milhões em reforços, acabaram de subir de divisão, o plantel não tem ainda opções para desafiar o domínio de um PSG recheado em todas as zonas do campo. Tiveram azar com a lesão do seu melhor jogador (Falcao), mas, parecendo que não, continuam a ser treinados pelo Ranieri. Não se pode pedir milagres.
Com o título “entregue” e o segundo lugar bastante seguro nas mãos do Monaco, resta-nos uma recta final com uma luta a quatro pelo último lugar de acesso à tão cobiçada Liga dos Campeões. De momento, o Lille, liderado pelo ex-Chelsea Salomon Kalou, ocupa o terceiro lugar, mas é seguido de perto pelo Saint-Étienne, de Ruffier, que está apenas a cinco pontos, estando o Lyon, de Gourcuff e Grenier, a oito pontos e o Marselha, de Valbuena e Gignac, a nove. Esta luta vem trazer um pouco de emoção a um campeonato que foi dominado pelo clube de Paris, que provavelmente com a sua equipa suplente conseguiria competir pelo título de França, tal é a profundidade do plantel.
Falcao foi a grande baixa do Monaco Fonte: goal.com
O Ajaccio parece ter o seu destino traçado, levando apenas 15 pontos em 29 jornadas, e estará certamente a caminho da Ligue 2. Contudo, não estará sozinho, sendo que entre o Sochaux, que é o 19º classificado, e o Nice, que ocupa actualmente a 10ª posição na liga, vão 12 pontos de diferença e ainda estão em disputa 27 pontos. Quaisquer dois deste dez clube – Sochaux, Valenciennes, Évian, Rennes, Nantes, Montpellier, Guingamp, Lorient, Bastia e Nice – poderão fazer companhia ao Ajaccio no próximo ano na Ligue 2.
É pena que a luta pela sobrevivência esteja a ser mais entusiasmante do que a luta pelo título, mas, devido às dispariadades que se verificam entre o PSG e o Monaco e o resto dos participantes na Ligue 1, não era nada que não fosse previsível, e provavelmente para o ano teremos mais do mesmo.
Os clubes que mais têm desiludido têm sido o Rennes, que se esperava que conseguisse lutar pela qualificação para a Liga Europa, o Bordéus, de quem se espera sempre mais do que um 9º lugar, e o Montepellier, cujo 14º lugar é apenas vergonhoso para quem foi campeão há duas épocas. Pelo contrário, quem mais tem impressionado é o Stade de Reims, um clube que já foi grande nas décadas de 1950 e 1960, e que era um dos candidatos à descida. No entanto, ocupa um fabuloso sétimo lugar de momento. Também o Saint-Étienne tem surpreendido, já que, mesmo depois de perder o seu melhor jogador, Aubameyang, para o Dortmund, continua mais um ano na luta pelos lugares europeus até ao fim.
O prémio de treinador do ano deverá ir para Laurent Blanc, que fez da Ligue 1 um passeio. Ajuda ter os dois melhores marcadores do campeonato na sua equipa, Ibrahimovic, que leva uns fantásticos 25 golos em 29 jogos, os mesmos que Ronaldo leva em Espanha e Suarez em Inglaterra, e Cavani, com os seus 14 golos. O jogador do ano deverá ser Zlatan Ibrahimovic. Se ele, no ano passado, dominou a competição, este ano dizimou. Não há resposta para ele no campeonato francês e desconfio de que continuará a não haver no futuro, o que diz mais sobre a qualidade do jogador do que da qualidade da liga.
Laurent Blanc é o timoneiro da equipa parisiense Fonte: The Daily Telegraph
Relembro que estamos a nove jornadas do fim mas queria terminar deixando aqueles que, para mim, mais me impressionaram em França esta época. Até ao momento, o onze do ano, condicionado pelas nove jornadas que faltam: Sirigu (PSG) na baliza, Thiago Silva (PSG) e Kjaer (Lille) como centrais, Van der Wiel (PSG) e Maxwell (PSG) nas laterais, Moutinho (Monaco), Matuidi (PSG), Grenier (Lyon) e Payet (Marselha) no meio campo e Ibrahimovic (PSG) e Kalou (Lille) no ataque.
Permite-me que cometa a ousadia de te deixar umas palavras. Sendo um perfeito leigo no mundo dos automóveis, sempre procurei, desde cedo, entender o verdadeiro motivo pelo qual muitos aficionados olham para esta modalidade com olhos apaixonados. O som dos motores, as ultrapassagens, as colisões, o passar a meta… Em criança, tudo me impressionava no mundo da Fórmula 1. As minhas manhãs de domingo eram passadas em frente à TV a ver e a tentar perceber tudo aquilo que fascinava os amantes desta modalidade. Lembro-me de que não conhecia os pilotos, mas, no início, sempre que via as corridas, havia um sujeito que me intrigava. O seu uniforme era sempre tingido de vermelho e era o mais rápido de todos. Tanto me intrigou que procurei saber e interessar-me mais por ele e por aquilo que fazia nas pistas de corrida. Uma rápida intervenção do meu pai à minha jovem cultura fez-me perceber que essa pessoa que desconhecia era tão-somente o melhor piloto de sempre. Falo, claro, de ti, Michael.
Conseguiste fazer com que alguém que mal sabe distinguir um Mercedes de um BMW se interessasse por uma modalidade de carros. Contigo descobri o que significava a Ferrari para a F1. Vi o que era dominar um desporto com 7 títulos de campeão do mundo. Encontrei também novas formas de encarar uma competição, uma rivalidade e, acima de tudo, uma amizade. Mais do que um grande vencedor, és um competidor que sempre valorizou a lealdade e aqueles que contigo lutam por um lugar entre os melhores. Impossível esquecer os teus míticos duelos com Mika Häkkinen, em que quase sempre saías a ganhar.
Häkkinen e Schumacher – Uma amizade mais forte do que qualquer rivalidade Fonte: tz.de
Tu revolucionaste a Fórmula 1 e foste um verdadeiro embaixador de uma competição que cada vez mais se preocupa com o lucro e em fazer grandes prémios em regiões de interesses como o Dubai, e menos com os amantes da modalidade. Sabes tão bem como eu que antes é que ganhavam os melhores. Hoje ganham os que estão mais apetrechados nos motores. Quando decidiste sair e dar oportunidades a outros, deves saber que parte da Fórmula 1 morreu. Em 2010, quando tentaste voltar, já era tarde demais. Aquilo já não era o mesmo. Levaste o encanto e a magia da competição contigo. Tudo aquilo que antes parecia ser apenas uma corrida de carros passou a ser mais adaptado a uma corrida de interesses e de fins publicitários. Os tempos de Häkkinen, Irvine, Coulthard, Montoya, Villeneuve ou do teu irmão, Ralf, acabaram. Não voltarão, nem tão pouco conseguiremos restaurar alguma da emoção antiga que tu e todos eles trouxeram para a Fórmula 1. No entanto, todos nós guardamos a recordação desses bons tempos de competição. Com saudade, mas também muito orgulho pelos fãs que conseguiram conquistar.
És um vencedor. Sempre lutaste por fazer mais e melhor. Nunca desististe e quiseste sempre vencer. E é isso que quero que continues a fazer. Desde 29 de dezembro de 2013, que entraste numa nova corrida. Esta bem mais complicada e dolorosa. Para ti, para a tua família e para os teus fãs, que, como eu, torcem para que voltes a vencer. Mais do que ninguém, tu sabes que és capaz. Em 306 corridas na Fórmula 1, ganhaste 91 provas, fizeste 1566 pontos e garantiste 155 pódios. Agora tens a 92ª corrida para ganhar. Esta é importante e quero que a venças. Não só por mim, mas por todos aqueles que começaram a olhar para ti como um exemplo. Força, Schumi!
“Faz-me um favor: só desta vez, não tentes superar o relógio. Não tens de cravar o melhor tempo na corrida. Tens de tomar todo o tempo de que precisas. Vai com calma. Mika Häkkinen” – Do teu rival e amigo de sempre.
Tive um ídolo. Era pequeno. Andava com um ombro levantado, e o Estádio da Luz transformava-se num inferno quando os defesas direitos o rasteiravam. Chamava-se, chama-se, António Simões. Era o extremo esquerdo do Benfica que viajou pelos píncaros do futebol europeu e mundial. Era “O Miúdo”, e o grito saído da garganta profunda do Estádio da Luz inflamado era um imperativo: “larga o Miúdo”. Entrou para o Benfica na época 1959-1960, depois da antecipação contratual do Benfica ao Sporting. Foi parar aos júniores, onde se encontrou com um forjador de talentos chamado Valdevieso. Foi mais um grande do futebol português que veio da “outra banda”, neste caso de Almada e do Almada F. C.
Só o Simões foi, ou era, mais aclamado do que o imortal Eusébio. Só o Rato Mickey levantou tantas ou mais paixões que Eusébio. Ver este jogador recolher a bola antes da linha do meio-campo e começar a encarar contrários era o delírio. Estes dois nomes, Eusébio e Simões, Simões e Eusébio, eram tão diabólicos e tão complementários que é escusado dizer que um sem o outro seria na mesma um grande do futebol, mas jamais se poderia realizar a cerimónia mágica que estes dois fora de série celebravam sobre os campos de futebol do Mundo. Simões era o meu ídolo, e por este jogador gritei e festejei numa bancada como jamais voltei a festejar ou gritar.
Esta linha avançada, esta equipa Fonte: imortaisdofutebol
Campeão da Europa à mais tenra idade, membro da linha atacante com mais classe, génio e contundência resolutiva que vi sobre um relvado: José Augusto, Coluna, José Águas, Eusébio e Simões. Nesta linha avançada estavam os dois melhores extremos de Europa. Um dos melhores, se não o melhor, avançado centro da Europa, o poderoso Coluna, e o irrepetível Eusébio. Vê-los evolucionar sobre o terreno era uma sensação especial. Bella Gutman começou a puxar pelo Simões já na época 1960-1961. Na época seguinte recuou o Cavém para médio de ataque e entregou a camisola número 11 a Simões. Nesse ano deram-se uns jogos empolgantes com o Sporting. O lateral direito do Sporting era o internacional Mário Lino.
Era um defesa conceituado, e a defesa do Sporting nadava em prestígio. Mas, lançado na equipa do Benfica, estava um tal Simões. Situado a dois, três metros atrás da linha do meio-campo, recebia a bola do Senhor Germano ou do jovem, também, Fernando Cruz, e “o Miúdo” corria com a bola entre os dois pés de cara a Mário Lino. Como se acontecesse uma saída da manga do Mago de um coelho via-se o Lino fintado e estatelado; mas vinham mais, e via-se mais e mais estatelados no relvado da Luz. A última imagem que tenho deste tipo de jogada é o defesa central brasileiro Lúcio, de joelho em terra, e ver o Eusébio chegar a trotar à entrada da grande área; o Simões, jogador assistente e clarividente, a passar-lhe a bola rasteirinha, e o Eusébio a acelerar para a bola, chutar e… golo. O Estádio da Luz do avesso e o Miúdo a correr a festejar, o Pantera aos saltos a festejar, e todos a correr para um abraço coletivo. O que se via era magia e feitiço.
Ausente já o José Águas, somou-se ao quinteto José Torres. Anos mais tarde, no Mundial de Inglaterra, criou-se a lenda dos Magriços, e Portugal ficou em terceiro lugar. Simões foi tão importante como o mais importante, e a Seleção do Campeonato incluía como extremo esquerdo Simões. Ganhou uma dezena de Campeonatos Nacionais e cinco Taças de Portugal. Venceu o Real Madrid na final de Amesterdão e teve a oportunidade de ganhar mais três, mas não aconteceu. Despediu-se do Benfica na época 1974-1975 e rumou aos Estados Unidos. Nos intervalos do seu períplo americano, jogou no União de Tomar e no Estoril. Simões, o companheiro inseparável de Eusébio, também está no Olimpo do futebol mundial.
Terminou há pouco a partida no estádio dos Barreiros referente à 24ª jornada do campeonato nacional. Num terreno onde Benfica e Porto perderam pontos esta época, e com os insulares a perseguirem ambições europeias, o embate entre Leões da Madeira e de Lisboa prometia.
O Sporting alinhou com Mané no lugar do lesionado André Martins, quando muitos adivinhavam a presença de Gerson Magrão no apoio a William e Adrien. Havia também alguma especulação no que diz respeito à companhia de Rojo na dupla de centrais. Jardim fez regressar Maurício apesar da excelente partida de Dier no clássico da semana passada. O Sporting começou bem desde o pontapé de saída com Heldon e Mané, tal melhores amigos, traquinas, a darem um ar da sua graça na ala direita do ataque. Aos 90 segundos do jogo, os adeptos leoninos sacudiram as migalhas do bolo do caco do colo, resultado da marcação de penalti por falta clara sobre Carlos Mané em mais uma investida atacante. Adrien “ice man” Silva concretizou. Estava feito o 1-0.
O Marítimo reagiu bem e nem 5 minutos após o golo do Sporting, marcou o golo do empate após uma boa triangulação no ataque. Depois de meia dúzia de minutos frenéticos de jogo, pedia-se ao Sporting que pegasse no jogo, serenasse os ânimos e fosse em busca do 2-1. O meio campo funcionou bem. William esteve mais uma vez imperial. Adrien, concentrado, maduro e com menos pressão para ser ele a fazer o passe de ruptura pelo envolvimento de Mané na segunda fase de construção. Capel, Heldon, Jefferson e Cédric devoraram os corredores e não fossem as 1001 faltas do meio-campo e defesa do Marítimo, muitos mais cruzamentos poderiam ter surgido para servir Slimani. Não obstante, o Sporting estava por cima do jogo. Aos 38 minutos, na sequência de um canto, William Carvalho disferiu um pontapé num jogo teimoso que parecia querer fugir ao Sporting. Estava feito o 2-1 que se pedia para ir para o descanso com mais tranquilidade.
O Madeirense voltou a gerir bem o jogo Fonte: ZeroZero
No arranque da segunda parte, o Sporting voltou a entrar melhor. Quer pelas alas, quer pelo centro, e sempre organizado na zona mais recuada do terreno. O Marítimo, pressionado pelo resultado desfavorável, viu-se forçado a reagir e o Sporting, confortavelmente deu a iniciativa aos homens de Pedro Martins, adaptando a sua estratégia atacante para saídas rápidas e dinâmicas de contra-ataque. Numa destas jogadas, ao quarto de hora da segunda parte, Slimani quase mata o jogo, no cara-a-cara com o guardião adversário, com uma grande defesa do francês Salin.
Pedro Martins, homem-das-camisas-dois-tamanhos-abaixo, arriscou, lançando homens de ataque, na tentativa de empurrar o Sporting para o seu último terço defensivo. O Sporting recuava com relativa segurança defensiva e contra-ataques de relativo perigo. Leonardo Jardim não deixou a sorte (ou falta dela) decidir o resultado do jogo de hoje. Respondeu com as entradas de La Culebra e El Avioncito. A 5 minutos dos 90′, numa saída de rápida através de Adrien, Jefferson sprintou até à área e disparou decidido para o 3-1 final. Houve ainda tempo para Slimani marcar, mas mais uma vez, o golo seria anulado, por “pé em riste” de Montero, na assistência para o argelino. Mal, a meu ver.
Na hora das reacções, muita calma, muita serenidade e muita maturidade. O discurso não muda – jogo a jogo, pensar já no próximo, as contas fazem-se no fim. Hoje bebe-se umas ponchas, amanhã folga-se e Segunda-feira voltamos ao trabalho. Mais 3 pontos, mais um objectivo cumprido. Em jogo de Leões, hoje ganhou quem teve mais coração.
A Figura
William Carvalho – Podia ser Adrien, podia ser Mané, podia ser Jardim, podiam ser outros, mas hoje foi William Carvalho. Porque marcou um golo importantíssimo, porque continua a evoluir, porque parece que melhora todos os jogos, porque é o nosso William Carvalho.
O Fora-de-Jogo
Ninguém em particular – Seria injusto, na minha opinião, atribuir este título a qualquer elemento das três equipas em campo hoje. Aceitam-se opiniões contrárias na caixa de comentários abaixo.
Desde a última vez que fui ‘titular’ neste espaço, o FC Porto pisou dois palcos tremendos (descontando o jogo, no Dragão, diante do Arouca) – Alvalade e San Paolo. De ambos ficam histórias para contar, sendo que a última noite de Quinta-Feira devolveu algum orgulho à nação azul e branca – aquele que ainda não tinha sentido esta época.
O ridículo
Porém, antes de ir eliminar o Nápoles, o Dragão teve um duro combate pela frente – o jogo de Alvalade durou, infelizmente, muito mais do que 90 minutos. O domicílio do Sporting tornou-se num palco de fazer inveja à casa de Victor Hugo Cardinali: os leões nunca faltaram, mas a verdade é que a semana anterior ao Clássico foi pródiga em momentos (e movimentos) originais e risíveis. O objectivo, esse, estava identificado: a moralização do futebol português e a luta pela verdade desportiva, dizem-nos.
Ainda que este espaço seja curto, convém aproveitá-lo para, enumerando, mostrar como se moraliza o futebol português. Então é assim: começa-se por dar uma conferência de imprensa (a propósito do jogo de Setúbal), transformando uma péssima arbitragem para ambos os lados no maior roubo da história do futebol português; segue-se a promoção de um ‘Jantar de Senadores Sportinguistas’ para dar ainda mais eco à revolta; logo de seguida edita-se um artigo tão criativo quanto colorido no jornal do Sporting a propósito da “verdade dos números”; pelo meio visita-se a residência oficial do Presidente da República levando a solução para todos os males do futebol português; posteriormente promete-se a interposição de acções judiciais contra os árbitros “que deixaram o Sporting fora da Europa”; por último, mas não menos importante, institui-se um movimento ‘Basta’, cujo expoente máximo acontece na tarde de Domingo, com a proliferação de figuras e figurinhas, em cima de um palanque, num estilo à la ‘Homens da Luta’, a entoar palavras de ordem e a buscar, nas entidades alheias, responsabilidades pelos fracos resultados desportivos. O que dantes, para Bruno de Carvalho, era culpa de Dias da Cunha, Bettencourt, Soares Franco ou Godinho Lopes é hoje assacado a outros homens. Coerências de quem tem um objectivo bem definido e que, quando confrontado, prefere invocar a (suposta) senilidade do seu opositor. Elevado de carácter este moralizador do futebol português.
Tão factual quanto os acontecimentos que fizeram de Alvalade o centro das notícias da semana, foi o desfecho do jogo (propriamente dito). A partida foi bastante equilibrada, ainda que as melhores oportunidades tenham sido dos Dragões. De todo em todo, o Sporting acabou por vencer porque soube condicionar mais o jogo do FC Porto do que o inverso – em campo, com Leonardo Jardim a ler bem o jogo ao intervalo e a incentivar os seus jogadores a pressionar uma equipa do Dragão que ainda não é confiante de si, provocando imensas dificuldades na primeira fase de construção de jogo do FC Porto (Mangala e Abdoulaye estiveram péssimos neste particular); fora de campo, porque toda a campanha circense montada ao longo da semana teve como resultado uma pressão acrescida sobre Pedro Proença (excelente árbitro), que redundou num golo ferido de ilegalidade e num penalty por marcar sobre Jackson Martinez (com consequente expulsão de Cédric).
Há quem diga que o Homem, na sua vida e em cada um dos seus comportamentos, deve pautar-se pelo medo do ridículo. Toda e qualquer luta pode ser legítima se acontecer até ao limite do razoável – a semana passada (e o comportamento pós-jogo) serviu para perceber que há lutas, promovidas por certas personagens ávidas de protagonismo, que se norteiam por agendas ocultas, e que, por isso, são irrazoáveis e batem os limites do ‘ridiculometro’. Talvez baste ou talvez para eles ainda não chegue.
No duelo de argelinos, apenas Slimani marcou Fonte: ZeroZero
O pequeno orgulho azul
A última noite europeia do San Paolo ficará ligada a uma bonita página do FC Porto. Parece-me indiscutível que a equipa está ainda longe de ser brilhante, exuberante ou até mesmo consistente. Na realidade, o FC Porto sofreu a bom sofrer durante os primeiros 60 minutos do encontro; aliás, dificilmente se poderia eliminar uma equipa com o poder de fogo do Nápoles (Higuain, Pandev, Hamsik, Callejon, Insigne ou Mertens não são propriamente moços de recados) sem que houvesse uma quota-parte de sofrimento.
É, ainda assim, lamentável ter sido preciso esperar por Março para a nação azul e branca sentir, finalmente, uma pontinha daquele orgulho azul nesta equipa. Chegar a San Paolo com ‘a defesa da equipa B’ (passe o exagero), sofrer um golo cedo mas ter capacidade para aguentar e reerguer-se foi uma demonstração de bravura. Fabiano esteve intransponível, Danilo alternou péssimas abordagens com cortes decisivos, Reyes foi crescendo com o decorrer dos minutos, Mangala rubricou uma bela exibição e mesmo Ricardo, com todas as dificuldades óbvias de um extremo direito adaptado a lateral esquerdo, não soçobrou. Daí para a frente, esperava-se que a equipa soubesse estar em campo mais tranquila e pudesse, com uma gestão da bola e dos tempos criteriosa, dar possibilidade a uma defesa em retalhos de respirar. O certo é que isso acabou por não acontecer, muito fruto das más exibições de Carlos Eduardo e Varela e da distância da equipa face a Jackson.
No meio destes problemas, eis que – e há quanto tempo isso não acontecia! – o segredo esteve no banco. Duplamente no banco! Luís Castro fez aquilo que é suposto um treinador fazer: leu o jogo, percebeu as lacunas e as dificuldades da equipa e mexeu no jogo da única forma directa que pode. Retirou os tais apagados Carlos Eduardo e Varela e lançou Josué e Ghilas. O português veio dar outra alma e intensidade ao meio-campo da equipa, mostrou-se ao jogo, assumindo-o, e sem medo de ter a bola, fazendo com que o FC Porto tivesse, enfim, efectiva superioridade nesse sector do terreno; o argelino, com a sua raça e combatividade, mas também com o faro de golo que demonstra, tornou o FC Porto bem mais ameaçador.
Os frutos surgiram de imediato, em duas belas jogadas colectivas, culminadas com execuções primorosas. A de Quaresma então é de uma beleza rara e a prova de que o futebol continua a ser mais talento (ao serviço do colectivo) do que qualquer outra coisa – o ‘Harry Potter’ lá pegou na sua varinha mágica, vingou a sua discreta passagem por Itália e voltou a colocar o seu nome na boca da Europa. Quaresma já fazia isto aos 19, aos 22, aos 26, e hoje aos 30, mas continuará a fazer aos 63 quando estiver a jogar com os netos. Porque magia é algo que nunca lhe faltará.
Ricardo Quaresma. Ou ‘Harry Potter’, em Nápoles Fonte: ASF
Sempre me pareceu evidente que o problema deste FC Porto não era apenas o seu treinador. Chegar a Nápoles com a defesa remendada, sem alternativas sólidas a Alex Sandro ou Danilo (mesmo sem um central de categoria para a parceria com Mangala) e sem um verdadeiro extremo que faça sombra a Varela e Quaresma (Ghilas, reencarnando Derlei, é agora a aposta) é a demonstração de que o FC Porto não foi suficiente previdente e responsável na formação do plantel, permitindo-se correr riscos desnecessários (algo que voltará a acontecer diante do Belenenses).
Por outro lado, é evidente que, num dado momento, a questão também já era Paulo Fonseca. E este jogo, esta eliminatória, estas semanas com Luís Castro provam-no: a equipa está mais organizada, mais compacta e há jogadores que parecem ter ganho alguma vida. Mais do que isso, em Nápoles, ficou evidente que o pensamento do agora treinador do FC Porto é bastante diferente do de Paulo Fonseca: quando a equipa estava perdida, foi Luís Castro que a agarrou, com uma dupla substituição que a devolveu ao jogo, fazendo-a olhar para a frente e para a baliza de Reina mais do que para a baliza de Fabiano; fazendo-a pensar em marcar e não em não sofrer; em suma, lembrando aos seus jogadores que era o FC Porto que ali estava.
Chegados aos quartos-de-final da Liga Europa, o número de clubes presentes em prova é já tão curto que se torna possível apontar favoritos com maior grau de precisão. Com Benfica e FC Porto ainda na corrida, a grande favorita, apontada pela maioria da comunicação social, é a Juventus. Não só porque se encaminha a passos largos para o tricampeonato em Itália, mas também porque joga com a motivação extra de poder disputar a final desta Liga Europa no seu estádio. Mas será que a formação de Antonio Conte é mesmo a grande candidata à vitória?
Antonio Conte, o técnico que trouxe a Juve de regresso às vitórias. Fonte: u.goal.com
Pessoalmente, a minha linha de pensamento vai ao encontro da maioria, isto é, a Juve é, também para mim, a principal candidata. Primeiro porque tem um plantel e sobretudo um onze muito equilibrado, que tem dado provas evidentes de qualidade na Serie A. Estamos a falar de uma equipa que ganhou 24 dos 28 jogos disputados no principal escalão do futebol italiano, tendo ganhado 18 dos últimos 20. Junta a isso o melhor ataque da prova, com uma média superior a dois golos por jogo.
No meio daquele 3-5-2, que contempla o imortal Buffon, o espirituoso líder Chiellini, o jovem talentoso Pogba, o irreverente Vidal e o matador Tevez, mora um dos mais fantásticos jogadores da última década: Andrea Pirlo. A chamada de atenção para o veterano de 34 anos de idade surge num momento em que este génio deu a vitória à sua equipa nos dois últimos jogos. E deu de forma idêntica: através de dois livres directos executados de forma soberba, só ao alcance de autênticos predestinados. É sob a batuta de Pirlo, e não Pirrlo, como tanta gente diz (e a confusão que isso me faz), que a Juve pode acertar o passo para voltar a conquistar uma prova europeia, algo que não acontece desde 1996.
Golaço de Pirlo frente à Fiorentina. Fonte: static.weltsport.net
Com o campeonato no bolso, a Juventus vai apostar tudo na Liga Europa, tentando remediar o fracasso que foi a não qualificação para os oitavos de final da Champions, onde caiu perante o Galatasaray.
Do pesadelo da Serie B, onde “cumpriu pena”, à conquista de campeonatos, a Juve espera este ano completar a sua reabilitação com o triunfo numa prova europeia. Será que vai conseguir confirmar esse favoritismo? Essa é uma pergunta que só vai ser respondida mais à frente no tempo, e para a qual Benfica e FC Porto têm uma palavra a dizer. Aguardemos.