Por mais paradoxal que possa parecer, as perspetivas de sucesso do FC Porto por esta altura, e com menos um ponto do que o líder, são bastante mais otimistas do que no começo do campeonato, quando todas as equipas iniciavam a competição em igualdade pontual. O Benfica começa a claudicar e vive uma fase de declínio da confiança e da qualidade de jogo, e o Porto, ainda que não apresente um nível exibicional alto e constante, tem elevado os níveis anímicos e a equipa parece mais unida do que nunca, sendo certo que, diga-se, esta nunca pareceu desmembrada.
Ainda assim, a jogar a favor dos comandados de Rui Vitória e, por conseguinte, contra os pupilos de Nuno, está o calendário, que se apresenta, até final da Liga NOS, bastante desfavorável para a equipa nortenha. O FC Porto tem, nas 14 jornadas que faltam, um conjunto de jogos substancialmente mais difíceis, sempre numa conjuntura teórica, claro está.
Antes de abordar a qualidade dos oponentes dos dois (por esta altura, únicos) candidatos ao título, importa fazer a distinção entre jogos em casa e fora. Para princípio de conversa, há que referir que enquanto que às Águias faltam jogar 7 jogos na Luz e apenas 7 jogos fora de portas, aos Dragões restam 6 jogos em casa e 8 na condição de visitante. Este dado, por si só, representa uma importante vantagem para o Benfica, não estivesse o Porto a fazer uma prova praticamente imaculada no seu reduto (à exceção do jogo com o Benfica, soma vitórias nas restantes partidas) e um campeonato tremendamente irregular fora de casa (4 vitórias, 4 empates e 1 derrota).
O jogo da Luz é um verdadeiro tudo ou nada Fonte: FC Porto
Estas contas ficarão saldadas quando, na próxima jornada, o FC Porto visitar a Cidade Berço para jogar contra o Vitória SC e o Benfica receber o Arouca. Outra vantagem teórica do SLB prende-se com o facto de o embate que resta para disputar entre ambos, referente à jornada 27, vir a ser disputado no Estádio da Luz.
A juntar a tudo isto, considero que as saídas do FC Porto são (mais uma vez importa referir que é tudo num plano teórico) de um grau de dificuldade bastante superior.
A época desportiva do futebol sénior do Sporting Clube de Portugal já viu dias melhores. Ora vejamos: No início da época, a equipa principal começou com solavancos, mas firme nos seus objetivos: ser campeã em maio, chegar o mais longe possível na Liga dos Campeões e ganhar as taças internas.
Olhando para o presente, foram eliminados por um Legia de Varsóvia, um clube em que as presenças nas competições europeias se contam pelos dedos da mão, na Liga dos Campeões; foram a Chaves perder a hipótese de chegar às meias finais da Taça de Portugal, ficou em terra a passagem à próxima fase da Taça da Liga no jogo frente ao Setúbal (a mítica questão das idades ainda está presente) e, neste momento, estão praticamente arredados da luta pelo título do campeonato.
Jesus não tem sido feliz nas suas opções técnicas, tácticas e motivacionais, sendo esta uma das principais funções em que está a falhar profundamente. Mas o seu congénere da equipa B, João de Deus, não está por caminhos melhores.
A equipa B do Sporting está, neste momento, em vigésimo lugar da segunda liga portuguesa; relembro que são vinte e duas equipas portanto, actualmente, os “bês” estão em lugar de descida directa para o Campeonato Prio.
João de Deus está à frente da equipa B do Sporting desde 2014/15 Fonte: Agente Desportivo
É de sentir vergonha alheia por esta equipa que, todos os anos promete tanto, que tem jogadores com bastante capacidade mas que, pura e simplesmente, não está a atingir os resultados pretendidos. Tem 27 pontos em 25 partidas jogadas. Fazendo a comparação com o Portimonense, primeiro classificado, tem menos 30 pontos (neste momento, a equipa de Portimão tem 57 pontos). Trinta pontos são dez jogos em que o Sporting não pontuou, são dez das doze derrotas que acumula.
Fazendo uma pesquisa rápida, pode-se perceber que, nos últimos dez jogos (incluindo o jogo frente ao Famalicão), o Sporting B conta com sete (!) derrotas e apenas três empates. Nenhuma vitória desde o dia 23 de Novembro de 2016, dia em que ganhou ao União da Madeira por 2-0.
Agora, neste mercado de inverno, o Sporting recuperou alguns jogadores, como André Geraldes, Ryan Gauld e Rafael Barbosa, para a equipa B. Apesar de ter vontade de acreditar no oposto, creio que não são estes que irão mudar o futebol leonino. A equipa B está pobre, sem ideias e sinceramente, sem capacidades para subir.
É necessário estudar quais as melhores opções para o Sporting. Com a equipa principal arredada das principais competições, deveria-se estudar o quão benéfico seria para a equipa B ter jogadores não utilizados por Jorge Jesus a ajudar os seus colegas a sair deste aperto. Este facto não acontece apenas com o Sporting, mas também com o Porto. Será que os “bês” já não estão a assegurar a sua principal função, de trabalhar os jogadores para a equipa principal? Se este é o futuro da minha equipa, tenho receio do que se passará a médio e longo prazo. Será que a academia não está trabalhar devidamente?
O que eu sei é que não quero ver o Sporting nesta situação, seja o escalão que for. Ponham os olhos no futebol feminino, meus caros. Essas são o futuro do Sporting e a única esperança de ver o nosso futebol a levantar uma taça.
Terminada a 31.ª edição do CAN, é tempo de fazer um balanço geral da competição disputada durante três semanas no Gabão, nomeadamente quais foram as figuras em destaque, as revelações do torneio e as desilusões. Em seguida, falarei do que mais importante ocorreu no principal torneio de futebol do continente africano.
Começando pelo vencedor da prova, os Camarões conseguiram confirmar o seu estatuto de favorito ao longo das partidas que disputaram, tendo demonstrado dentro de campo o porquê de serem sempre considerados como uma potencial seleção a conquistar a Taça das Nações Africanas. Com belíssimas exibições realizadas, os Leões Indomáveis mostraram que são um conjunto bastante difícil de ser ultrapassado, como é comprovado pelos escassos golos sofridos ao longo do torneio – apenas a Burquina Faso, Guiné-Bissau e o Egito se poderão gabar de terem feito o guarda-redes Fabrice Ondoa ir buscar a bola ao fundo das suas redes.
Apesar do herói dos camaroneses na Final ter sido o ponta-de-lança Vincent Aboubakar com um espectacular golo aos 88’, as atenções do público e dos olheiros dos mais importantes clubes europeus recaíram sobre um jogador que fez a sua estreia em torneios do CAN na edição deste ano: Christian Bassogog. O extremo direito de 21 anos do clube dinamarquês Aalborg BK revelou-se como a maior surpresa do torneio, através da sua boa capacidade de aceleração com a bola nos pés e ótima visão de jogo, tanto que foi eleito como o Melhor Jogador do torneio. Se Bassogog conseguir manter a forma que evidenciou ao serviço da sua seleção, creio que no mercado de transferências do Verão iremos assistir à sua mudança para campeonatos europeus mais reputados que o dinamarquês.
Paulo Duarte e o “seu” Burkina Faso surpreenderam nesta CAN Fonte: AFKinsider
As maiores surpresas do CAN´17, na minha opinião, podem ser atribuídas às seleções da Burquina Faso e República Democrática do Congo. A seleção treinada pelo português Paulo Duarte conseguiu terminar no 1.º lugar do seu grupo, onde tinha a companhia do anfitrião Gabão e da seleção vencedora do torneio. Sem jogadores de renome mas com um coletivo aguerrido, os Potros terminaram a prova num honroso 3.º lugar (no jogo de atribuição do 3.º lugar, venceram o Gana por 1-0), tendo apenas perdido com o finalista vencido Egito e somente no desempate por grandes penalidades. Por outro lado, a seleção da Rep. Dem. do Congo teve um excelente percurso até aos Quartos-de-final, onde foi travada pelo Gana (derrota por 1-2), contudo venceu o seu grupo com 7 pontos no total, que continha a Costa do Marfim, Togo e Marrocos. Muito do êxito congolês na prova, ficou a dever-se à boa performance de Junior Kabananga, que conquistou o prémio de Melhor Marcador com 3 remates certeiros.
As grandes desilusões do CAN´17 foram a Costa do Marfim, Argélia e o Gabão, uma vez que nem mesmo com grandes nomes nos seus 23 convocados para o torneio, como por exemplo Pierre Aubameyang, Riyad Mahrez e Salomon Kalou, não comprovaram em campo o seu estatuto de favoritas à vitória final, tendo mesmo deixado a prova numa fase tão prematura da mesma. Os três conjuntos apenas conseguiram alcançar empates nas partidas que jogaram, o que pode ser explicado pela má preparação para a edição de 2017 do CAN ou pela forte pressão exercida pelos adeptos em ter de obter resultados positivos, o que por vezes prejudica o normal rendimento dos atletas.
Em conclusão, penso que quem teve a oportunidade de assistir aos 32 jogos disputados ao longo destas três semanas, de certeza absoluta, não ficou arrependido de poder ver grandes jogos entre seleções que não tiveram medo de arriscar todas as suas armas, com vista à conquista do troféu em disputa, e, também, à enorme festa feita pelos adeptos presentes nos estádios gaboneses. Uma coisa é certa: a edição deste ano foi mais uma excelente demonstração do porquê do CAN ser visto como a Magia do Futebol Africano!
Falar na saída do Luisão é um assunto que toca a qualquer benfiquista. Assaltam a mente uma série de questões: Perder o nosso capitão? Que impacto terá isso na dinâmica da equipa? E no balneário? São respostas e soluções que, mais cedo ou mais tarde, terão que ser encontradas mas talvez só lá para Junho de 2018.
Todos sabemos que o Luisão é um jogador muito experiente, tem boas noções de posicionamento em campo, o que a um defesa central facilita muito a vida, ainda mais, um defesa central que no jogo aéreo é muito forte. Mas e quando pela frente destes centrais surgem avançados rápidos e com grandes dinâmicas, a puxar para as linhas ou para as costas dos centrais? O capitão tem dado luta mas já não consegue acompanhar como outrora. Ainda na semana passada, ouvia-se dos adeptos ao meu lado no Bonfim: “Então, Luisão?”; “Vai lá, Luisão”.
Que futuro para o capitão? Fonte: SL Benfica
A renovação contratual de um jogador com 35 anos é sempre uma decisão difícil, pois é colocado, obviamente, em causa o rendimento desportivo do mesmo. A perda de capacidades físicas, neste caso, vão-se notando pela velocidade, que tem vindo a diminuir, o jogador vai ficando mais “duro de rins”, como se diz por aí, mas também pela qualidade técnica, que se tem tornado menos frequente nas suas performances em campo.
Ao longo de destes 14 anos, habituou-nos a exibições regulares e de alto nível. Aliás, Luisão no 11, sempre foi sinónimo de equilíbrio e segurança, qualidades estas que acabam por lhe conferir também, o carisma necessário para a figura de capitão de uma equipa com a dimensão do Benfica. Posto isto, deve um jogador com tanta importância no balneário, continuar no clube, mesmo que o seu peso em campo tenha vindo a decair?
A verdade é que o Benfica não tem substituto à altura, de momento, não vislumbro um líder com as características necessárias no plantel. Já para não falar da questão da mudança de liderança, que é sempre complicada para um coletivo e nesta fase não vinha nada a calhar, convenhamos.
No entanto, há ainda outro aspeto a ter em conta: o financeiro. Já vimos que a nível desportivo pode fazer sentido a renovação mas não nos podemos esquecer, que é um dos jogadores mais bem pagos da equipa da Luz e não só está em declínio físico, como não presumo que assuma a titularidade por mais uma época. Neste momento, tem em cima da mesa um acordo de 2,5 milhões líquidos com Luís Filipe Vieira, se alguma proposta igualar este valor, considera-se a saída por ambas as partes, se não, é certo que continua na Luz, pelo menos mais uma época.
Tudo indica que o brasileiro fica e a concretizar-se, completará 15 temperadas seguidas no clube, acabando de alcançar Humberto Coelho com 498 partidas de águia ao peito.
Aconteça o que acontecer, Luisão é e sempre será um símbolo do clube, parte do emblema encarnado, um capitão que já viveu momentos bons, muito bons e menos bons também, e o qual todos estes anos soube personificar a “raça, querer e ambição” que caracterizam o Sport Lisboa e Benfica.
É já hoje, dia 8 de fevereiro de 2017, que Portugal inicia a sua participação na poule C do torneio do Grupo I da zona euro-africana da Fed Cup, em Tallinn, na Estónia. A capitã da seleção portuguesa, Neuza Silva, levará a jogo Michelle Larcher de Brito, Inês Murta, Francisca Jorge e Rita Vilaça, as duas últimas em estreia absoluta na Fed Cup ocupando os lugares deixados vagos pelas lesionadas Maria João Koehler e Joana Valle Costa.
A estreia de Portugal será frente à Grã-Bretanha e as dificuldades esperadas são muitas. A seleção portuguesa, que na convocatória não conta com qualquer tenista presente no top 100 mundial, irá enfrentar Heather Watson (número 72 do ranking WTA) e Johanna Konta (número 10 do mesmo ranking). Na seleção da Grã-Bretanha figura ainda Laura Robson, tenista que ocupa o lugar 211 do ranking WTA mas que, em 2013, figurou no top-30 mundial. Assim sendo, e considerando o mau momento de Michelle Larcher de Brito (que deverá defrontar Johanna Konta) e a pouca experiência de Inês Murta (19 anos de idade e número 546 do ranking WTA), que deverá defrontar Heather Watson, parecem restar poucas hipóteses de sucesso e, como tal, o encontro final de pares deverá servir apenas para dar ritmo competitivo à dupla Francisca Jorge/Rita Vilaça, vice-campeãs de pares do Porto Open.
Fonte: Michelle Larcher de Brito
Já na 5ª feira, dia 9 de fevereiro, o desafio a enfrentar será a seleção da Turquia, e aí o principal alvo a abater será Cagla Buyukakcay, número 86 do ranking WTA. Também Ipek Soylu (número 163 do ranking WTA), tenista dotada de uma consistente pancada de direita, parece vir a ser uma adversária de respeito para a seleção portuguesa. Relembre-se que, no momento atual, a segunda tenista mais cotada da seleção turca apresenta-se mais bem classificada no ranking WTA do que Michelle Larcher de Brito, tenista que encabeça a seleção portuguesa. Apesar de Ipek Soylu ser mais competente a jogar em terra batida e de os encontros terem lugar em piso rápido (indoor), parece existir algum favoritismo por parte da seleção da Turquia, sendo claro que para alcançar a vitória as tenistas portuguesas terão que entrar em court com uma concentração e atitude competitiva irrepreensíveis.
Finalmente, na 6ª feira Portugal irá enfrentar a seleção da Letónia. A seleção de leste tem como figura de cartaz Jelena Ostapenko, número 35 mundial e tenista claramente favorita para vencer o encontro que irá disputar contra qualquer das tenista que integram a convocatória da seleção portuguesa. Contudo, a segunda tenista mais cotada da seleção letã, Diana Marcinkevica (número 307 do ranking WTA), é bastante menos consistente e poderá permitir a Portugal levar a decisão do confronto entre seleções para o encontro de pares.
Tendo em consideração este cenário avizinha-se difícil a tarefa de Portugal para garantir a manutenção no Grupo I da zona euro-africana da Fed Cup. Considerando que a Grã-Bretanha é a grande favorita à vitória da poule, fica claro que o objetivo de Portugal passa por evitar o último lugar do grupo e consequente discussão da despromoção ao Grupo II. As dificuldades são conhecidas, as seleções adversárias e, em particular, algumas das tenistas que integram as respetivas convocatórias são respeitáveis e, assim sendo, Michelle Larcher de Brito, Inês Murta, Francisca Jorge e Rita Vilaça terão que deixar tudo em campo para trazer para Portugal um resultado que encha de orgulho o ténis português.
Tiquinho chegou ao FC Porto há sensivelmente duas semanas e, com ele, trazia um jogo de suspensão que lhe adiou a estreia para o Clássico frente ao Sporting. Sabendo, de antemão, que era no ataque que residiam as maiores debilidades dos Dragões, era natural que, além da normal falta de entrosamento, o jogador sentisse alguma pressão ao alinhar como titular num jogo desta importância, pensei eu. E não podia estar mais errado!
Desde cedo, no jogo, Soares mostrou bom entendimento com os novos companheiros de equipa e foi combinando, de forma quase perfeita, com aqueles que lhe apareciam por perto. No lance que dá o 1-0 percebeu bem a intenção de Corona e aproveitou, de forma sublime, o erro de Palhinha, enquanto, no segundo golo, usou tudo o que se pede a um matador naquelas circunstâncias – velocidade, inteligência, técnica e frieza – para aproveitar o excelente passe de Danilo. E assim, do nada, no intervalo o FC Porto ia vencendo o Sporting com dois golos de um estreante.
Quantos jogadores no mundo marcaram dois golos em jogo de estreia? E, desse grupo, quantos o fizeram contra um dos principais rivais? E em menos de 45 minutos? Começa a ser fácil perceber o porquê de Soares ser a figura da semana. Mas vou mais longe: não fossem as espectaculares defesas de Casillas e nem era preciso o ex-vimaranense ter marcado qualquer golo para merecer destaque.
Fonte: FC Porto
A equipa do Sporting tem qualidade e, além disso, quando se comparam os dois últimos onzes existe uma característica em que bate os Azuis e Brancos com algum conforto: os jogadores eram, em média, bastante mais altos e mais fortes. Essa diferença foi ficando cada vez mais a descoberto à medida que o segundo tempo se aproximava do final. A certa altura, não havia como não reparar: Soares era dos poucos portistas que conseguia ganhar lances divididos, e o único que conseguia ter a bola por mais do que meia dúzia de segundos no meio-campo leonino.
O novo camisola 29 dos Dragões tem uma mentalidade competitiva acima da média e uma capacidade física soberba. Foi por aí que, ainda como jogador do Nacional, lhe chamei por brincadeira o “Diego Costa dos pobres”. Seja na raça ou em velocidade, pelo ar ou pelo chão, a ganhar ou a perder, sabemos que, a partir de agora, o FC Porto tem um avançado que não dá uma bola por perdida e que, no fim do jogo de estreia, em que marca dois golos, tem a coragem de dizer que lhe falta ainda um pouco de intensidade e entrosamento. Nunca mudes, Soares.
Nasceu com nome de craque, e tem feito jus ao estatuto, ainda que se demarque, de forma muito clara do estilo de jogo do (por enquanto) Rui Costa “principal”. É que, enquanto o ex-internacional português jogava com pés de veludo, espalhando o aroma da classe em cada toque e cada passe, o “novo” Rui Costa tem um estilo mais agressivo, furão e aguerrido, embora se denote a mesma perspicácia, a mesma tendência para encontrar brechas nas costas das defesas. Mas se o primeiro lançava os colegas, o segundo lança-se a si mesmo, não deixando o crédito por pés alheios. Se tem de ser feito, ele faz, e pega na bola, finta um ou dois, se necessário fôr e ora tenta a sua sorte, ora oferece o golo a um colega mais bem posicionado.
A forma como, feito predador, procura espaços, permite que haja sempre uma linha de passe no último terço do terreno e a bola pode não ir ter com ele, mas o seu contributo posicional já pode ser tão crucial quanto um “passe de morte” do seu homónimo.
Embora ele prefira tê-la no pé e ser ele a resolver, claro. Porque é um jogador que foge (da marcação) mas não se esconde (do jogo), e que não se importa de assumir as despesas quando é solicitado. Recebe a bola no conforto do seu pé direito e orienta-se, sempre, de forma já bastante evoluída para os seus anos de sénior, para a baliza contrária, local de destino de 9 dos seus remates, que representam mais de um quarto da capacidade finalizadora do Varzim no campeonato, contribuindo significativamente para a boa Segunda Liga do clube, recém chegado ao 5º lugar quando o objectivo passava, no início da época manutenção.
Rui Costa em acção num jogo onde foi decisivo ao marcar o único golo Fonte: Varzim SC
“Manutenção”. Uma palavra que não cabe no léxico de Rui Costa, um inconformista nato, um agitador típico que não pode ver águas paradas. Precisa de crescer. Talvez por isso tenha trocado o clube onde acabou de se fazer homem e jogador (começou a formação no Famalicão) pelo líder destacado da Segunda Liga, o Portimonense, com melhores perspectivas de subida.
No Algarve, e partindo do princípio que a filosofia de Vítor Oliveira transita para o próximo ano (com ou sem subida), encontrará outro contexto táctico. Despirá o fato de jogador-satélite, que gravita na órbita de uma referência ofensiva mais musculada, e “encostar-se-à” a uma das alas, um local onde também já foi utilizado esta época e nos escalões de formação e no qual necessita de crescer para que possa explodir além do espectro de jogador de equipa pequena talhado para o contra-ataque.
Algo que, estou em crer, conseguirá. Afinal, quem se consegue afirmar, aos 20 anos e com as suas características, num enquadramento competitivo em que o físico impera, só pode ter (como já demonstrou) a inteligência dos inatos para a ‘bola’.
Com a chegada de Janeiro, chega também o tão aguardado mercado de Inverno, onde as equipas fazem contratações cirúrgicas com vista a melhorar os pontos fracos de cada setor. Este ano, com o Sporting arredado de três dos seus objetivos e com o quarto objetivo praticamente hipotecado, o presidente Bruno de Carvalho afirmou que o clube faria regressar jovens jogadores que tinham dado nas vistas na primeira volta do campeonato, ao serviço de outros clubes da primeira liga onde estavam por empréstimo. Esta promoção e mudança de política de contratações deve-se ao facto de nomes como Markovic, André ou Elias terem significado um grande esforço financeiro, ao mesmo tempo que se revelaram uma grande desilusão. Francisco Geraldes, André Geraldes, Ryan Gauld, Daniel Podence e João Palhinha são os “retornados” que trazem na bagagem o sonho de se estrearem na equipa principal de futebol do Sporting Clube de Portugal. O mote para a próxima época está lançado, mas afinal de contas o que serão capazes de fazer estes “meninos” no que resta desta época?
O jovem Francisco Geraldes é o novo “menino bonito” da formação de Alvalade e há até quem já o apelide de “futuro capitão”. Depois da bestial campanha que fez no Moreirense na primeira fase da época, as expectativas de sócios e adeptos estão especialmente altas, sobretudo se tivermos em conta que chegou para ser a principal alternativa ao elemento mais influente da equipa, Adrien Silva. Com a saída de Elias, Geraldes vai focar para si todas as atenções quando o capitão leonino não estiver disponível, algo que esta época já foi uma grande dor de cabeça que se refletiu (e muito) no rendimento da equipa. Por isso mesmo, é essencial que o jovem português coloque ao serviço do coletivo todas as suas qualidades, de onde se destacam a visão de jogo (muito) acima da média, a capacidade combativa e a forma como lê o jogo e o estagna ou acelera conforme as necessidades. É certo que tem em si todos os ingredientes para ser um jogador muito influente a médio e longo prazo na equipa sportinguista. Agora resta-nos esperar que a sua evolução seja positiva e que Jorge Jesus consiga lapidar da melhor forma este diamante em bruto.
Francisco Geraldes e Daniel Podence rumaram ao Moreirense e regressaram a ‘casa’ juntos, depois de fazerem história no clube de Moreira de Cónegos Fonte: Instagram de Francisco Geraldes
Quem também acompanhou Geraldes no seu regresso a Alvalade foi Daniel Podence. Apesar de ter deixado boas referências na pré-época, a opção final foi a de o emprestar ao Moreirense para ganhar experiência e ritmo competitivo. As boas exibições e a importância que teve no processo ofensivo da equipa de Augusto Inácio levaram a que o seu passaporte de regresso chegasse mais cedo que o previsto. Podence pode jogar a extremo (e é aí que está habituado a jogar) mas também tem qualidade para jogar como segundo avançado. Esta época essa tem sido uma das posições mais carenciadas, tanto que por ela já passaram várias jogadores “à experiência”. Por isso mesmo, em caso de não haver Bryan Ruiz, que tem sido o “bombeiro de serviço” para essa posição, é sempre possível utilizar o jogador português. Contudo, a falta de rendimento de Markovic (que entretanto abandonou o clube) e a inconstância de Joel Campbell levaram a que fosse obrigatório encontrar uma solução que servisse os interesses da equipa mas que também significasse concorrência para Gelson Martins. A sua capacidade desequilibradora (fruto da velocidade que imprime ao jogo) é a sua principal arma e, apesar de ainda ter pontos que precisam de ser trabalhados, se a sua evolução for boa, poderá vir a ser uma pedra no sapato das defesas adversárias.
O silêncio somente é de ouro ao sabermos calar-nos ou falar nos momentos certos. Caso contrário, o mesmo não passará de passividade cúmplice perante a ilegalidade e a imoralidade. Ou, pior ainda, de prova de culpa. Faz agora um mês que alegados membros dos Super Dragões, claque oficial do FC Porto, visitaram o centro de treino de árbitros, na Maia, onde, alegadamente, terão feito ameaças à vida de árbitros e de seus familiares. Esta situação, ao que parece, não terá sido tida como uma “de gravidade” pelos responsáveis do Estado e do futebol português. Para atestá-lo, basta verificarmos a ausência de consequências, seja de carácter desportivo ou cível, efectivadas em tempo útil face a tais actos. Aconteceu no dia 5 de Janeiro. No dia 13 do mesmo mês, Nuno Espírito Santo, treinador do FC Porto, voz crítica do poder instalado – essa figura abstrata nomeada repetidamente pelos responsáveis de FC Porto e Sporting como justificação dos respectivos contratempos (e da supremacia incontestável do Benfica) –, sentenciou ser “o momento de deixar de falar tanto nos árbitros”. Desconheço o que leva alguém a abdicar de defender aquilo que crê ser a verdade e a justiça. Mas, enfim, assim foi e assim tem sido.
Coincidentemente, numa latitude mais a Sul, teve início uma forte tempestade. Logo no dia seguinte das anunciadas tréguas, a 14 de Janeiro, o futebol português viveu um daqueles episódios que os mais ingénuos (como eu) julgavam fazer parte de um passado longínquo, ultrapassado, resistente apenas na memória e no Youtube. O Boavista empatou na Luz (3-3) com três golos ilegais – onde se destaca o fora-de-jogo de André Schembri, numa decisão para os anais da história da arbitragem; a 26 de Janeiro, o Moreirense venceu o Benfica (3-1) na meia-final da Taça da Liga, com dois golos ilegais – onde se destaca a falta sobre Eliseu no lance do segundo golo, a segunda construção humana vista do Espaço naquele dia; a 30 de Janeiro, o V. Setubal ganhou na recepção ao Benfica (1-0), ficando por assinalar um penálti evidente sobre André Carrillo, no último lance do jogo. Um ciclo tão negativo, quanto estranho e inesperado, que valeu, entre outras coisas, a Taça da Liga e a vantagem pontual que o Benfica tinha sobre o FC Porto, invicto neste período (quatro jogos; quatro vitórias), no campeonato.
Luís Filipe Vieira (e a sua equipa) mantêm o silêncio perante as últimas semanas Fonte: SL Benfica
Peço a leitor para não extrapolar das minhas palavras. Nomeio apenas factos, abdicando mesmo, desta vez, de quaisquer conclusões. Aliás, ao ler e ouvir repetidamente os especialistas já conheço de cor e salteado, como, de resto, conhecemos todos, quais as causas e consequências desta tormenta: tudo se deve, unânime e exclusivamente, às persistentes lesões, ao cansaço físico e anímico, e, sobretudo, à factura de 44 jogos consecutivos que pesam em demasia nas pernas e na cabeça de Pizzi. Nunca foi tão fácil chegar-se a um diagnóstico.
Assim se tem vindo a justificar, portanto, o silêncio, não o de Nuno Espírito Santo, neste caso, mas o dos responsáveis do Benfica, dirigentes, treinadores e outros, perante os acontecimentos acima descritos. Admitindo que o problema é, essencialmente, de ordem interna, resta-me, como benfiquista, respeitar esse silêncio exigindo, porém, que nesta fase decisiva da época sejam encontradas rapidamente as soluções. Admitindo que tudo se decide dentro das quatro linhas, resta-me, como benfiquista, respeitar esse silêncio sobre árbitros e sobre as recentes arbitragens. Admitindo que a justiça desportiva funciona, resta-me, como benfiquista, respeitar esse silêncio sobre a pena decretada a Rui Vitória, após a expulsão no Algarve. Admitindo, e como conclusão – e admitindo que esta repetição já se tornou irritante ao leitor –, que o talento, a capacidade de trabalho e de sacrifício se mantêm inalterados, resta-me, como benfiquista, respeitar esse silêncio, aguardando que, no final, vença quem tem o melhor treinador, o melhor plantel e a melhor equipa. E que esse silêncio foi premiado, como habitual exemplo de elevação, e não penalizado, como um simples e pueril erro estratégico.
PS: noutro plano, talvez mais sério, e admitindo que ainda vivemos num Estado de direito, resta-me, como benfiquista, mas muito mais como cidadão, esperar que os crimes e os criminosos sejam devidamente punidos. Julgo que, neste ponto, estamos todos de acordo.
No último jogo do Sporting, os leões entraram em campo com seis atletas formados na Academia de Alcochete no onze titular, nos dezoito convocados para o clássico dez eram da “cantera” leonina. Recorde-se os nomes dos jogadores em causa, Rui Patrício, Beto, Rúben Semedo, Ricardo Esgaio, João Palhinha, Adrien Silva, Gelson Martins, Daniel Podence, Francisco Geraldes e Matheus Pereira.
A verdade é que a base do onze habitual é a Academia de Alcochete, com nomes como Rui Patrício, Rúben Semedo, William Carvalho, Adrien Silva e Gelson Martins a serem absolutamente indiscutíveis no xadrez de Jorge Jesus. Gelson tem sido uma das estrelas em afirmação da equipa esta temporada, sendo um titular indiscutível já marcou quatro golos na Liga NOS e fez oito assistências.
Com o reajustamento do plantel, regressaram de empréstimo mais três grandes talentos formados em Alcochete, João Palhinha que esteve ao serviço do Belenenses e do Moreirense, chegaram ainda Francisco Geraldes e Daniel Podence, depois de venceram a Taça da Liga com a camisola do clube de Moreira de Cónegos. Estes foram três jogadores que foram importantes nesta meia temporada nos clubes onde estiveram e voltam ao Sporting pare crescer e dar o seu contributo à equipa. Hoje, o plantel principal do Sporting Clube de Portugal tem a sua base na Academia de Alcochete.
O êxito em Paris é uma página de ouro para a Academia de Alcochete Fonte: Sporting CP
Nos 23 campeões europeus, ao serviço da selecção portuguesa, estavam presentes dez atletas provenientes da formação leonina, Rui Patrício, Cédric Soares, José Fonte, João Moutinho, William Carvalho, João Mário, Adrien Silva, Nani, Ricardo Quaresma e o capitão Cristiano Ronaldo. Destes 23 campeões da Europa, três integram o plantel do Sporting.
Vale ainda a pena recordar que o Sporting, enquanto clube formador, soma cinco Bolas de Ouro, repartidas entre Luís Figo por uma ocasião e Cristiano Ronaldo com quatro troféus. Entre tantos outros talentos da escola de formação leonina, que ao longo dos 111 anos de história do clube foram surgindo no futebol português, como é o caso de Paulo Futre. É caso para dizer: os melhores do mundo nascem aqui!