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Jogo Interior #14 – O sucesso de uma equipa feliz

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O mote para reunir as ideias para este artigo foi-me dado no sábado passado, pelo artigo do grande Professor José Neto, que publicou no site do jornal A Bola As equipas felizes ganham mais vezes. Como é seu apanágio, o professor com a sua sábia, simples e quase sempre poética elocução, expôs com mestria e coadjuvado pelas não menos sábias ideias do Professor Manuel Sérgio, que “as equipas felizes ganham mais vezes e com a inestimável e decisiva vantagem de, mesmo perdendo poderem continuar felizes, pois ficam mais disponíveis para em seguida ganhar”. Ainda aludiu que “muitas vezes os níveis de dificuldade nas respostas às exigências da competição, se transformam em força mobilizadora e aglutinadora que, por sua vez, se traduz num enorme empenhamento colectivo onde se vê despertar o sucesso, porque foi vivenciada a felicidade adquirida”.

Fico feliz por alguém com o gabarito do Professor José Neto investir em escrever acerca deste brilhante tema tão abertamente. Parece que o desporto é qualificado somente pela táctica, não obstante a sua importância e por mais que esta funcione como imagem identitária das equipas, e por isso parece-me a mim que faz falta na formação dos treinadores (formal ou informal), a aprendizagem de uma visão mais holística do “ecossistema” onde estão integrados. Este “ecossistema” que é composto pelos agentes que funcionam numa equipa, em prol da busca de um ou mais objectivos, suportado por todos os factores e dimensões integrantes: física, técnica, táctica e mental, racional, emocional, individual e colectivo, social, humano e espiritual.

Cabe a todos os elementos de uma equipa a responsabilidade de alimentar e investir nas relações mutuamente, por forma a construir uma causa inspiradora que irá alimentar o espírito colectivo e a motivação, em alinhamento com suas as metas e os seus objectivos. O bem-estar nas equipas é da responsabilidade de todos mas o líder tem um papel fundamental na propagação e contágio emocional deste fenómeno colectivo. A melhoria do desempenho está directamente ligada. Tanto a performance como o contágio emocional têm uma grande influência nas emoções positivas das equipas e o treinador é a figura que gere estas transacções.

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O ambiente de equipa intensifica os efeitos dos comportamentos de grupo
Fonte: marafado.wordpress.com

O ambiente de equipa intensifica os efeitos dos comportamentos de grupo e, para o bem e para o mal, numa equipa coesa, o contágio existe, os comportamentos e as acções cognitivas disfuncionais na tomada de decisão interferem na qualidade de decisão grupal e a performance baixa. Mais uma vez é no papel do treinador que recai a gestão deste ambiente e desta forma é importante a sua dotação de competências sociais e humanas extra. Extra, porque todos viemos “de fábrica” e desenvolvemos ao longo da vida algumas competências sociais e humanas, através da nossa educação, da aquisição dos nossos valores e da nossa formação. O que acontece é que poderão não ser suficientes para o desempenho com qualidade, de um papel com a importância tremenda que ser treinador tem.

Maslow já dizia que “A grande maioria da humanidade, pela sua necessidade de conexão, quer sentir-se parte integrante de um grupo, de uma causa e ser reconhecido pelas suas habilidades”. Uma equipa que participa no processo de decisão e planeamento faz com que ela se sinta que faz parte integrante. Uma equipa que partilha as dificuldades faz elevar a empatia e a resiliência, e ajuda ao aumento da sua união. Uma equipa com objectivos é bastante mais feliz porque sente que tem um plano.

“O Sucesso não é a chave da Felicidade. A Felicidade é a chave do Sucesso. Se tu adoras aquilo que fazes, tu terás Sucesso.” – Albert Schweitzer

Será que eu tenho uma equipa feliz?

foto miudos

Eu também sou treinador. Não vou fazer publicidade nem vou dizer quem são. Só vou dizer que são 15 rapazes de 13/14 anos que, apesar de todas as suas dificuldades pessoais, familiares, escolares e outras próprias destas idades, no treino e no jogo são felizes. Se vamos ganhar mais pelo facto de o sermos? Não sei mas no final do campeonato divulgo os resultados. E eu só lhes tenho a agradecer por aquilo que me dão: o gozo de os ver jogar, a energia que colocam no treino e no jogo e que também me alimenta, a garra que transportam, e o orgulho e honra em fazer parte do melhor grupo em que já estive! Fico feliz por vê-los crescer em jogo, através do trabalho que fazemos no treino e naquilo em que acreditamos funcionar. Juntos somos mais fortes e em cada jogo encaramos uma final. No final de cada jogo somos felizes se ganhamos. Somos felizes quando perdemos, porque temos a capacidade de persistir e aprender. Somos felizes a cada remate, que ecoa no murmurinho da excitação da bancada. Somos felizes porque fazemos da garra e da capacidade de luta uma forma de dignificar o jogo, o adversário, o nosso clube e as pessoas que nos vão ver. Somos felizes porque somos abertos, somos simples, somos juntos uma equipa humilde. Somos felizes porque somos inteligentes o suficiente para perceber que o mais importante é aquela “extra mile” que fazemos, que os americanos usam muitas vezes para relacionar a superação. Se somos melhores ou piores não sei. Mas que somos mais felizes do que muitos, somos! Se eu sou melhor treinador ou pior do que outros não sei, mas que sou mais feliz neste grupo agora, sou!

Da emoção à razão, um equilíbrio deve ser ensinado e aprendido, na minha opinião desde cedo. Isto eu quero ensinar-lhes, agora que têm 13/14 anos. Não só pelo jogo, não só pelos valores colectivos, não só pelas vitórias e pelas derrotas, mas por tudo o que eu possa e consiga. Crescerão mais completos e fortes, e isso é para mim o meu sucesso. Tudo aquilo que eu lhes possa ensinar, devolvem-me a mim pelo dobro da proporção. Acho que este tipo de reflexão deveria ser feita por todos os treinadores. Desenvolver a inteligência emocional, que na prática é ganhar a capacidade de reconhecer o que estamos a sentir e saber o que fazer com isso, permite obter uma vantagem mesmo ao nível competitivo: construir uma mentalidade forte, quer individual e colectiva, construir uma grande resiliência e aprender a desfrutar da felicidade encontrada no grupo e nas suas acções.

A natureza dinâmica das emoções da equipa

Os laços que germinam ao longo do tempo têm um papel relevante na dinâmica das equipas. É urgente que a abordagem predominante das organizações, a filosofia de trabalho dos clubes e dos treinadores seja a de adopção de emoções positivas e experiências impactantes na vida dos atletas, na sua dimensão desportiva. A consciencialização de que as emoções positivas conduzem a um melhor desempenho, aliado à hipótese de contágio emocional acarreta grandes implicações para o meio da organização, já que o contágio pode servir como catalisador para o sucesso da organização.

Desta forma, torna-se emergente a preparação de líderes para sentirem e exibirem emoções positivas, assim como desenvolver intervenções reservadas à promoção do bem-estar e emoções positivas de equipas. Nunca o líder se deve descartar da responsabilidade de contribuir e servir a sua equipa, e de tentar sempre dinamizar a utilização da emoção para “atestar o depósito” motivacional que alimenta a razão, que por sua vez assegura o foco da equipa nos processos operacionalizados.

Uma equipa capaz de dar a volta a um resultado provavelmente é um equipa feliz. Uma equipa que goleia o adversário respeitosamente e sabe ser humilde é uma equipa feliz. A felicidade é um estado. Por força do pragmatismo que trazemos para a nossa vida quotidiana, dizemos que somos felizes, mas na verdade estamos felizes. Não estamos sempre felizes pois dessa forma não saberíamos reconhecer a felicidade. Também é importante não estar feliz às vezes. Se a felicidade é um estado então na verdade temos o poder de alterar esse estado quando quisermos e como quisermos. Tudo depende de nós. É difícil relacionar-se dentro de uma equipa. Ou não. Depende dos laços que queremos dar e mesmo se os queremos dar.

De uma forma ou de outra o natural da natureza, passando a redundância, é andarmos em grupo, relacionarmo-nos e trabalharmos em equipa. E se contribuirmos para uma equipa feliz também seremos um indivíduo feliz.

Fonte: cfmws.com
Fonte: cfmws.com

Bibliografia:

Smith, E.R., Seger, C.R., & Mackie, D.M. (2007). Can emotions be truly group level? Evidence regarding four conceptual criteria. Journal of Personality and Social Psychology, 93 (3), 431–446.

Seger, C.R., Smith, E.R., Kinias, Z., & Mackie, D.M. (2009). Knowing how they feel: Perceiving emotions felt by outgroups. Journal of Experimental Social Psychology, 45, 80–89.

“As equipas felizes ganham mais vezes “ (artigo de José Neto, 16) – www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=576022

A Roménia de Hagi, Ceaucescu e Iordanescu

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“A Roménia não é um país fácil de se gostar, uma mistura desconcertante entre o apelativo e o aterrador.” – Jonathan Wilson (Behind the Curtain)

De Gheorghe até Ianis, escreve-se muito da história do futebol romeno. O nome Hagi é algo incontornável no mundo do futebol, quer estejamos a falar de Gica Hagi, o eterno número 10 romeno que foi, não poucas vezes, comparado a Diego Armando Maradona, quer estejamos a falar do seu filho Ianis, de apenas 16 anos, que apesar de estar vinculado profissionalmente à Fiorentina de Paulo Sousa, continua ao serviço da equipa que o viu nascer para o futebol, o Viitorul Constanta. À semelhança do seu pai, Ianis tem também perfil de estrela e, cerca de duas semanas antes de completar 17 anos, já enverga com orgulho a braçadeira de capitão da sua equipa, que curiosamente, tem o velho “Maradona dos Cárpatos” como treinador.

Foi com Gheorghe Hagi em cena que se escreveram alguns dos capítulos mais gloriosos do futebol romeno no final da década de 1980. O Rei (Regele) como ainda hoje é conhecido no seu país ainda não fazia parte da grandiosa equipa do FC Steaua Bucuresti (liderada por László Bölöni, Marius Lacatus e pelo gigante Helmuth Duckadam, que venceu a Taça dos Clubes Campeões Europeus na temporada de 1985-86 frente ao poderoso FC Barcelona), mas foi já ele a comandar a sua equipa três anos mais tarde, na época 1988-89, até à final da mais importante competição de clubes do velho continente, sendo contudo esmagados pelo AC Milan de Arrigo Sacchi por uns contundentes 4-0.

László Bölöni, Marius Lacatus e também Gica Hagi estarão intrinsecamente ligados a outro episódio marcante do futebol romeno, mas desta vez fora das quatro linhas. Após a revolução Romena de 1989, que marcou o fim do tirânico reino de Nicolae Ceausescu, os três internacionais romenos “salvaram” Valentin, o filho mais novo do ditador Ceausescu, da morte certa, já depois dos seus pais terem sido executados. Marius Lacatus escondeu Valentin no seu apartamento em Bucareste durante esse período de elevada agitação social e, mais tarde, em conjunto com o antigo treinador do Sporting CP, László Bölöni, veio publicamente em sua defesa, permitindo que o filho do velho tirano continuasse com a vida modesta que, alegadamente e ao contrário da sua família, levava durante os dias negros do comunismo romeno.

Gheorghe e Ianis - Duas gerações do clã Hagi no futebol romeno.
Gheorghe e Ianis – Duas gerações do clã Hagi no futebol romeno
Fonte: DigiSport

Em 1983, o ministro da defesa romeno, preocupado com o facto de o FC Steaua Bucuresti estar a ser relegado para segundo plano pelos vizinhos do Dinamo e pela ascenção do Universitatea Craiova, entregou os destinos da equipa a Valentin, nomeando-o presidente e esperando eventualmente alguns “favores” políticos e / ou desportivos do clã Ceausescu. Ao contrário do que seria expectável, Valentin, um verdadeiro amante do desporto rei, liderou o histórico emblema romeno com mestria, tornando-o não só na primeira equipa totalmente profissional do extinto Bloco de Leste, através de um valioso acordo de patrocínio com a Ford, mas também conduzindo-o a inesquecíveis feitos históricos no plano desportivo até 1989, sendo anos mais tarde considerado por László Bölöni como o melhor gestor com quem alguma vez trabalhou.

Apesar dos sucessos conseguidos pelos seus clubes, o futebol romeno não teve grande expressão durante a ditadura comunista se apenas considerarmos a sua selecção nacional. De forma coincidente (ou não), a revolução de 1989 trouxe para a ribalta aquela que foi talvez a melhor geração de sempre do futebol romeno. A década de 1990 mostrou ao mundo uma selecção revitalizada, recheada de excelentes jogadores como Gica Hagi, Dorinel Munteanu, Gheorghe Popescu, Ilie Dumitrescu, Adrian Ilie, Viorel Moldovan, Florin Raducioiu e Ioan Sabau, entre outros, que representaram o seu país ao mais alto nível em diferentes Mundiais de Futebol e Campeonatos Europeus, dos quais se destacam as presenças nos Quartos-de-final em 1994, nos EUA, e no Euro 2000 que teve lugar na Bélgica e na Holanda.

Valentin Ceausescu, ao meio, com Anghel Iordanescu e Emerich Jenei num treino do FC Steaua Bucuresti em 1986 Fonte: Puterea
Valentin Ceausescu, ao meio, com Anghel Iordanescu e Emerich Jenei num treino do FC Steaua Bucuresti em 1986
Fonte: Puterea

A realidade actual do futebol romeno é, no entanto, bem diferente, quer no plano internacional, quer a nível doméstico. O grau de letargia que se instalou no futebol do país de há 15 anos a esta parte deixou a Roménia orfã de uma selecção de nível elevado como aquela que teve, por exemplo, na década de 1990. A falta de ideias sobre como mudar os desígnios da selecção nacional levaram, em 2011, a Federação Romena a nomear pela terceira vez Victor Piturca como timoneiro do projecto futebolístico do país. Após falhar a presença no Mundial do Brasil, Piturca manteve-se no leme da equipa e conseguiu um auspicioso começo na campanha rumo ao Euro 2016, mas a sua terceira epopeia ao comando da enferrujada armada romena tinha os dias contados. Quando ninguém o fazia prever, Piturca abandonou a selecção romena, alegadamente por desentendimentos hierárquicos e / ou, porque não, interferências políticas, algo muito recorrente quotidiano romeno.

A falta de soluções aparentemente credíveis fez com que, em boa hora, a Federação Romena, escolhesse em 2014 o experiente Anghel Iordanescu para o comando da selecção nacional, cargo que também já havia ocupado duas vezes durante a sua longa carreira como treinador principal. Iordanescu talvez não fosse um nome consensual, mas provou ser a melhor solução que poderia ser encontrada para pôr cobro à anarquia que se vivia (e talvez ainda se viva) no futebol daquele país. Iordanescu tinha sido o responsável por levar a Roménia aos Quartos-de-final do Mundial de Futebol dos EUA em 1994 e também havia sido ele, na posição de treinador de adjunto do lendário Emerich Jenei, que havia levado o FC Steaua Bucuresti a levantar a Taça dos Campeões Europeus há cerca de 30 anos atrás.

Anghel Iordanescu levado em braços após a vitória da selecção romena sobre a Argentina no Mundial de 1994 Fonte: Sportnews.libertatea
Anghel Iordanescu levado em braços após a vitória da selecção romena sobre a Argentina no Mundial de 1994
Fonte: Sportnews.libertatea

Aos 65 anos de idade, Iordanescu viu-se recentemente envolvido numa polémica relacionada com a sua reforma, que alegadamente recebeu um faustoso aumento à conta de uma suposta promoção meritória a general de três estrelas, concedida pelos responsáveis militares do país. Polémicas à parte, Iordanescu, um treinador da velha escola do futebol do leste da Europa, reconfigurou a selecção romena e conseguiu com todo o mérito o apuramento para o Europeu de futebol do próximo ano. A confirmação foi apenas conseguida no último jogo da prova, que teve lugar nas Ilhas Faroé e que a Roménia venceu por 3-0.

A Roménia de Iordanescu terminou a fase de apuramento no segundo lugar do Grupo F, com um ponto menos do que a surpreendente Irlanda do Norte e com mais quatro do que os seus vizinhos húngaros, que garantiram assim um lugar no playoff final. Ficar em segundo lugar atrás de uma Irlanda do Norte, que por muito surpreendente que seja não deixa de ser uma formação de segunda linha do futebol europeu, pode parecer um feito modesto, mas se analisarmos os números finais, podemos constatar que esta Roménia do velho general alcançou alguns feitos. Cinco vitórias, cinco empates e zero derrotas, onze golos marcados e apenas dois sofridos são os números de uma equipa que é quase exímia na arte de defender e que, a reboque de uma ligeira variação do 4-4-2 clássico, vai cumprindo a sua tarefa no último terço do terreno.

Os heróis romenos que garantiram o apuramento para o Euro 2016 no passado Domingo nas Ilhas Faroe Fonte: sportnews.libertatea.ro
Os heróis romenos que garantiram o apuramento para o Euro 2016 no passado Domingo nas Ilhas Faroe
Fonte: sportnews.libertatea.ro

Os jogadores que compõem a selecção romena de Anghel Iordanescu são na, sua maioria, bastante experientes, alguns deles já com mais de 34 Primaveras, como são os casos do Razvan Rat e Lucian Sanmartean, mas todos eles, com excepção do capitão Rat, de Alexandru Maxim e de Florin Andone, actuam fora das grandes ligas europeias. Ainda assim, Iordanescu foi capaz de criar uma equipa bastante competitiva, que chegará ao Euro 2016 com todo o mérito e à qual é dada uma oportunidade de ouro de abrir uma nova página na história do futebol romeno.

Trinta anos parece muito tempo, mas na Roménia, embora não ande para trás, os episódios temporais parecem repetir-se eternamente, com os mesmos intervenientes que povoam o futebol daquela nação do leste da Europa há mais de três décadas, imergindo-nos, assim, numa estranha sensação de que o relógio do tempo, por momentos, parou.

Foto de Capa: Sportnews.libertatea.ro

GP da Rússia: Hamilton é cada vez mais campeão

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cab desportos motorizados

Por muito que insistam no contrário, a Fórmula 1 é cada vez mais um desporto emocionante e imprevisível. Mesmo que tal não aconteça na liderança das corridas, onde a balança tomba invariavelmente para o lado de Lewis Hamilton, as lutas pelos pódios, pelos lugares cimeiros e até pelos pontos estão cerradas e cheias de interesse. Sochi não foi excepção. O GP da Rússia foi um dos melhores deste Mundial e manteve-se quente do princípio ao fim.

O fim-de-semana do Grande Prémio da Rússia ficou marcado pelo violentíssimo acidente de Carlos Sainz (Toro Rosso) no último treino livre. O piloto espanhol foi hospitalizado mas, corajosamente, convenceu os médicos a deixarem-no correr na prova deste domingo. A sorte (e os travões do Toro Rosso…) voltou a falhar-lhe na volta 47, quando se despistou duas vezes quase consecutivas e foi obrigado a abandonar.

Quanto à qualificação, Nico Rosberg aproveitou um erro de Hamilton e garantiu a pole-position. O inglês confirmou a segunda posição, tendo sido mais rápido que Valtteri Bottas e Sebastian Vettel, que saíram ambos da segunda linha. Kimi Raikkonen colocou o outro Ferrari na terceira linha do grid, ao lado de Hulkenberg.

Hulkenberg, esse, provocou o primeiro pico de interesse no GP. O alemão da Force India fez um pião logo na curva 2 e foi o responsável pelo embate com Marcus Ericsson. Abandono imediato para ambos. Rosberg conseguiu manter a liderança depois do safety-car e Bottas segurou o terceiro lugar, apesar do arranque canhão de Raikkonen. Mas, na volta 8, o Grande Prémio ficou resolvido, bem como o Campeonato do Mundo. Nico Rosberg avisa via rádio que tem o pedal do acelerador partido e acaba por abandonar, deixando a corrida e o título mundial nas mãos de Lewis Hamilton. O inglês limitou-se a gerir a vantagem até ao final.

A festa dos homens da Mercedes
A festa dos homens da Mercedes

E como ultimamente um safety-car por GP já sabe a pouco, Romain Grosjean fez questão de manter a animação. Na volta 12, o francês despistou-se e só parou na barreira de protecção; apesar de o Lotus ter ficado completamente destruído, Grosjean saiu ileso. A saída do safety-car deu espaço a Vettel para recuperar posições, ultrapassando o colega de equipa com uma excelente manobra e subindo a terceiro. Iniciava aqui a cruzada pelo segundo lugar do pódio, sacrificando Valtteri Bottas.

Mais uma vez, a estratégia de paragem nas boxes da Williams voltou a falhar. Bottas foi mudar de pneus e a equipa não calculou que o piloto regressaria à corrida mesmo no miolo do pelotão – era necessário ter parado, talvez, duas voltas antes. De segundo, o finlandês caiu para 11º; a situação ficaria ainda pior quando Vettel emergiu do pit-lane à frente do Williams e subiu a segundo.

A dez voltas do final, Sergio Perez ia resistindo no terceiro lugar, brilhantemente e com enorme esforço – pairava a dúvida sobre se os pneus iam aguentar até ao final. Valtteri Bottas e Kimi Raikkonen pressionavam e atacavam, conseguindo a ultrapassagem final na penúltima volta. Mas o azar de Perez foi recompensado numa enorme sorte segundos depois: Raikkonen deixa a ambição levar a melhor e arrisca demasiado, batendo em Bottas e arruinando a corrida para ambos. Ainda assim, e na tentativa de evitar a vitória no Campeonato do Mundo de construtores da Mercedes, Raikkonen conseguiu terminar em quinto. Contudo, foi considerado culpado do acidente com Bottas e penalizado em 30s – a Mercedes é mesmo bicampeã mundial de construtores.

Nota positiva para a McLaren, que conseguiu colocar os dois carros nos pontos. Na semana em que se soube que Fernando Alonso vai ficar, pelo menos, mais um ano, o motor Honda mostrou que é capaz de voos mais altos e que a experiência só vai fazer bem à equipa. De acompanhar, também, o jovem mexicano Sergio Perez: o piloto da Force India mostrou-se corajoso e com uma enorme perseverança – qualidades que lhe garantiram o pódio.

Lewis Hamilton venceu e é campeão garantido, Vettel foi segundo e ultrapassou Rosberg na classificação geral. A Fórmula 1 volta no fim-de-semana de 23 a 25 de Outubro, com o Grande Prémio dos Estados Unidos e a festa de Lewis Hamilton.

Imagens do artigo: Mercedes

Sérvia 1-2 Portugal: Parabéns, Fernando Santos!

cab seleçao nacional portugal

Fernando Santos está de parabéns. Não só pelo 61.º aniversário completado ontem, mas por ter levado a selecção nacional a um feito inédito: pela primeira vez na história do nosso futebol, a selecção AA somou sete vitórias consecutivas numa fase de qualificação para uma grande competição. Até agora, o nosso mister não conhece outro sabor que não o da vitória em jogos oficiais por Portugal. Curiosamente, cada um destes sete triunfos foi obtido pela margem mínima, o que demonstra por um lado grande uma grande mentalidade competitiva e por outro o espaço que ainda existe para melhorar o desempenho da equipa até ao pontapé de saída do Euro 2016.

Hoje, sem algumas das suas principais figuras – Cristiano Ronaldo, Ricardo Carvalho, Fábio Coentrão e Tiago foram dispensados da deslocação à Sérvia -, e com uma exibição quase tão cinzenta como o tempo que se fez sentir em Belgrado durante a maior parte do tempo, Portugal voltou a não deslumbrar mas voltou a ser eficaz e somou mais uma vez os três pontos. Como já vem sendo hábito, a sorte e o pragmatismo foram as notas dominantes.

Da equipa que derrotou a Dinamarca na quinta-feira passada sobraram apenas quatro resistentes: Rui Patrício, Bruno Alves, Danilo Pereira e Nani, hoje feito capitão. A grande novidade foi a estreia de Nélson Semedo com a camisola das Quinas. Esta tarde, o onze foi o seguinte: Rui Patrício; Nélson Semedo, Bruno Alves, José Fonte, Eliseu; Danilo, André André, Miguel Veloso; Nani, Quaresma e Danny.

A partida começou com uma entrada fulgurante da Sérvia, que teve duas boas oportunidades logo no primeiro minuto. No entanto, Portugal rapidamente pegou nas rédeas do jogo. A pressão alta da turma lusitana pôs a Sérvia em sentido – ainda nos instantes iniciais, Quaresma recuperou uma bola no último terço e cavou uma falta à entrada da área adversária. Aos 5’, chegou mesmo o primeiro golo. A defesa sérvia foi obrigada a jogar longo, Bruno Alves fez um corte/passe de cabeça que foi ter a Danny, o jogador do Zenit aproveitou o espaço na zona central para ultrapassar facilmente o defesa sérvio (Mitrovic) e rematar rasteiro para defesa incompleta de Stojkovic; Nani, na recarga, atirou para o fundo das redes, fazendo o 0-1.

Nani, hoje capitão, marcou logo os 5'  Fonte: APF/Getty Images
Nani, hoje capitão, marcou logo os 5 minutos
Fonte: AFP/Getty Images

À medida que o tempo foi passando, Portugal começou a baixar as suas linhas, a abdicar da tal pressão alta que tão bem estava a funcionar e a entregar a iniciativa de jogo à selecção da casa. Se até à meia hora a Sérvia jogou sempre num ritmo demasiado baixo e teve muitas dificuldades em encontrar espaço, no último quarto de hora chegou várias vezes à área de Patrício – ora com iniciativas individuais, ora com trocas de bola rápidas. O primeiro remate da Sérvia chegou somente aos 31’ – Mitrovic baixou para vir buscar jogo, lançou longo para a direita e Tosic, numa diagonal rápida (o movimento em que é mais forte), rematou para defesa segura de Patrício. A Sérvia, que até então só se acercava da baliza portuguesa através de bolas paradas, começou a conseguir entrar em zonas de finalização. O contra-ataque conduzido por Tosic que resultou num remate por cima de Tadic e o tiro de Ljajic sobre o lado esquerdo do ataque sérvio são exemplos disso mesmo. De resto, Portugal só voltou a rematar aos 43’, numa jogada colectiva bem construída por Quaresma, Nelson Semedo e Nani que culminou num remate fraco de Miguel Veloso, sozinho, à entrada da área. Sim, isso mesmo: Portugal esteve praticamente 40 minutos sem atirar à baliza de Stojkovic.

O esquema habitual de Fernando Santos, assente na mobilidade entre os três homens da frente, revelou-se hoje muito menos eficaz. A ausência de Ronaldo fez-se sentir – não só pelo óbvio valor intrínseco do habitual capitão da selecção das Quinas, mas também pelas marcações que arrasta e pela facilidade que tem em surgir na posição de ponta-de-lança. Hoje houve muito menos trocas posicionais entre o trio da dianteira e houve, acima de tudo, muita dificuldade em colocar gente em zona de finalização. Nani e Quaresma apareceram quase sempre ora dando largura sobre uma das faixas, ora em terrenos interiores à procura de bola para construir, mas raramente surgiram na posição de ponta-de-lança. Danny, sempre no meio, revelou-se pouco efectivo na pressão à saída de bola adversária, e, demasiado desapoiado, nunca disfarçou a incapacidade para ser a referência ofensiva da equipa. Exceptuando o fogacho no lance do golo, voltou a ser muito pouco produtivo.

Danny pareceu sempre um corpo estranho na dinâmica colectiva de Portugal  Fonte: AFP/Getty Images
Danny pareceu sempre um corpo estranho na dinâmica colectiva de Portugal
Fonte: AFP/Getty Images

No regresso dos balneários, já com Luís Neto a substituir o lesionado Bruno Alves, a toada do final do primeiro tempo manteve-se. A Sérvia entrou com o pé no acelerador e não descansou até chegar ao empate. Tadic, Tosic e Ljajic, endiabrados, puseram a cabeça dos defesas portugueses em água. Mitrovic chegou mesmo a marcar um golo bem anulado por fora-de-jogo. A selecção portuguesa apresentava-se demasiado retraída, com as linhas muito baixas e dando sempre espaço entre essas mesmas linhas aos criativos adversários. Inteligentemente, Fernando Santos lançou Éder na partida para o lugar de Danny, aos 56’, e o ponta-de-lança do Swansea foi decisivo na sua primeira intervenção – amorteceu de peito para Quaresma, que atirou do meio da rua a rasar o poste esquerdo do guardião sérvio. Cerca de dez minutos volvidos, já depois de tentativas de meia distância de Matic e Kolarov, a Sérvia chegou mesmo ao golo: respondendo a um cruzamento rasteiro e atrasado de Kolarov, Tosic, sozinho à entrada da pequena área, disparou para o empate. Fez-se justiça no marcador.

Portugal precisava claramente de João Moutinho no meio-campo para inverter a tendência da partida. E Fernando Santos percebeu isso, lançando o médio do Mónaco para o lugar de um desgastado e desinspirado Miguel Veloso aos 68’. A equipa melhorou, começou a soltar-se mais, a pressionar mais à frente, a ter mais critério na saída para o ataque e seria do pé direito do próprio João Moutinho que sairia o golo da vitória portuguesa. Aos 77’, Eliseu ganhou no duelo com Tosic (os sérvios reclamaram falta), foi à linha e deu para Moutinho, que à entrada da área atirou em arco para o fundo das redes. Deja vù – com um fabuloso remate de longe, Moutinho voltou a selar um triunfo, depois do tento assinado no desafio anterior, frente à Dinamarca, que também valeu os três pontos.

João Moutinho voltou a ser herói  Fonte: AFP/Getty Images
João Moutinho voltou a ser herói
Fonte: AFP/Getty Images

A partir daí, a Sérvia enervou-se e desapareceu. Depois do cartão vermelho exibido a Kolarov, já no banco de suplentes depois de ter sido substituído, Matic agrediu um André André em clara subida de rendimento depois da entrada de Moutinho e foi expulso, deixando os anfitriões com dez unidades. Até ao final, as melhores ocasiões foram portuguesas – na mais evidente, Éder, num ressalto, ia fazendo o terceiro.

Mesmo sem alguns dos seus principais artistas, Portugal tinha obrigação de se ter apresentado com outro comportamento colectivo. Ficando a ver jogar a Sérvia durante demasiado tempo, Eliseu (“certinho”) e Nelson Semedo (destemido mas com algumas falhas naturais) não conseguiram dar à equipa a largura e a profundidade que se lhes exigia; e Nani e Quaresma, demasiado presos em missões defensivas (obrigados a fechar os corredores e com poucas ocasiões no último terço) e oscilando entre as necessidades de construir ao meio e de abrir nos corredores, também não foram consistentes nos desequilíbrios ofensivos. Danny, pelos motivos já enumerados, também produziu muito pouco e acabou por dar menos à equipa do que o limitado Éder. Danilo Pereira voltou a ser o bombeiro de serviço, assumindo-se claramente como único pivot defensivo da equipa, e cumpriu bem o seu papel, mas Miguel Veloso e André André passaram o jogo quase todo com pouca bola no pé e mais preocupados em não se desposicionar defensivamente do que em desenvolver o jogo a partir do centro do terreno (o médio do Porto soltou-se muito mais com a entrada de Moutinho – parecia outro!). Rui Patrício e os centrais (José Fonte, Bruno Alves e Luís Neto) estiveram em bom plano, apesar de tudo.

Fernando Santos está de parabéns. Não pela performance da sua equipa, que foi relativamente pobre, mas pela astúcia que revelou na hora de mexer no jogo -percebendo o que estava a correr mal, fez as substituições certas nos momentos certos e chegou à vitória por causa disso. Agora é hora de começar a sonhar com o Euro 2016!

Os dois maiores astros portugueses (excluindo Ronaldo) marcaram os dois golos  Fonte: Facebook das Seleções Nacionais de Portugal
Os dois maiores astros portugueses (excluindo Ronaldo) marcaram os dois golos
Fonte: Facebook das Seleções Nacionais de Portugal

A Figura

João Moutinho – É estranho nomear como homem do jogo um jogador que só actua um quarto de hora. Mas é merecido: transfigurou o meio-campo de Portugal, mudou a atitude da equipa e foi novamente protagonista ao apontar o golo da vitória. Uma dupla jornada de sonho para o melhor médio português da actualidade.

O Fora-de-Jogo

Adormecimento colectivo – Dos 35’ aos 65’, Portugal esteve “a dormir”. Começou e acabou o jogo por cima, mas pelo meio revelou uma retração incompreensível que poderia ter tido resultados desoladores. A permeabilidade defensiva e a inoperância ofensiva durante esse período é um dos capítulos a rever para os próximos duelos.

 

Top 10: O Passado e o Presente do Motociclismo

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[tps_title]10.º Marco Simoncelli[/tps_title]

Fonte: MotoGP
Fonte: MotoGP

Simoncelli era agressivo em pista, e amigável fora dela. Perdeu a vida no asfalto do circuito de Sepang (Malásia), mas deixou a sua marca na história do Mundial de Motociclismo. Ficou conhecido pela sua peculiar condução, onde sempre aplicou o conceito de “vai ou cai”. Venceu um campeonato na antiga categoria de 250cc, e estava na sua primeira temporada da classe rainha quando faleceu.

Hóquei em Patins: A vitória da raça do Sporting

cab hoqueiPela quarta vez a disputar a Taça Continental, sendo a terceira vez contra o Barcelona, o Sporting parte para Barcelona com uma vantagem de dois golos para o segundo jogo ao vencer os catalães precisamente por 2-0. Esta foi a primeira vitória em sete jogos para a Supertaça Europeia por parte dos leões.

Num jogo histórico seja em que modalidade for, ou não estivessem frente a frente duas das três equipas com mais títulos europeus, o espetáculo não foi tão bom como se esperava, em muito devido ao estado em que o piso se encontrava devido à humidade.

Na primeira parte o jogo foi muito condicionado por este problema do ringue e o 0-0 ao intervalo não deixa margem para dúvidas sobre o equilíbrio que existiu, apesar de algum ascendente leonino.

Na segunda parte o jogo subiu de ritmo, sempre com o Sporting por cima até que aos 39 minutos (14 da segunda parte) Cacau levou à loucura os 1000 sportinguistas que lotaram o Livramento ao abrir o marcador. 

Depois do golo o Barça avançou no terreno e tomou conta do jogo, apesar de o Sporting ter conseguido alguns bons contra ataques. Mas só a dois minutos do fim conseguiu aproveitar através de Tuco com um potente remate.

O reconhecimento do Hóquei já chegou ao Futebol Fonte: Facebook Juve Leo
O reconhecimento ao Hóquei já chegou ao Futebol
Fonte: Facebook Juve Leo

Para a semana que vem joga-se a segunda mão em Barcelona. Apenas se pode pedir à equipa que continue a ser a equipa que tem sido no passado recente, ou seja, uma equipa lutadora e que honra o lema do Sporting. Ao Esforço, Dedicação e Devoção, a Glória também começa cada vez mais a juntar-se, como prova a recente Supertaça.

A ligação entre equipa e adeptos é especial e cada vez mais se sente como se fosse uma só. O trabalho feito pelo Engenheiro Gilberto Borges é reconhecido por todos e arrisco-me a dizer que a união equipa/adeptos é a maior dentro do universo Sporting, e não será decerto um resultado menos positivo na Catalunha que tirará o orgulho que os adeptos sentem por esta equipa.

Durante a semana as redes do Sporting usaram a hashtag #OTeuReinadoVoltará. Assim todos desejamos: os primeiros passos para tal estão mais que dados!

Imagem de capa: Facebook Gilberto Borges

João Barbosa, um nome ainda desconhecido dos portugueses

cab desportos motorizados

Em fevereiro de 2014 escrevi sobre João Barbosa e na altura referi que era um nome praticamente desconhecido para a grande maioria da população portuguesa. Hoje, passado mais de ano e meio, o nome continua a ser pouco conhecido por nós.

Na altura dei um exemplo de como o nome não é conhecido entre nós através da Wikipédia, e escrevi que no referido site “apenas existem, para este piloto, páginas em inglês, espanhol, francês, alemão e finlandês.” Passado mais de ano e meio foram acrescentadas mais duas línguas, o polaco e o malagasy (de Madagáscar). Pelo que, por cá no burgo, nada mudou.

Mas este artigo surge no seguimento do segundo título de campeão nacional nos Estados Unidos por parte do piloto nascido no Porto. Uma vitória suada e conquistada apenas na última corrida em Atlanta. Esta segunda vitória na United SportsCar Championship foi alcançada ao lado de Christian Fittipaldi, tal como a primeira, e é um passo muito grande na sua consagração como piloto de protótipos, como se ainda fossem precisos mais passos para tal.

Barbosa, Fittipaldi e o Corvette da Action Express têm sido uma tripla muito forte, como provam os dois títulos americanos conquistados, mas no domingo passado, além deste título, a tripla ganhou a Taça norte americana de Endurance. Este ano ficaram ainda em segundo nas 24h de Daytona, uma das provas mais importantes de resistência, que também já foi ganha por duas vezes pelo português, a última das quais em 2014.  Este ano ganhou ainda as 12h de Sebring.

O portuense tem cada vez mais razões para sorrir
O portuense tem cada vez mais razões para sorrir
Fonte: Facebook do piloto

Em 2015 João Barbosa voltou às 24h de Le Mans, a mais importante prova de resistência do Mundo, depois de quatro anos de ausência. Neste seu regresso não foi muito feliz, tendo ficado em 12.º na sua categoria, a segunda mais importante em disputa. A sua presença nesta prova pode ajudar na sua divulgação em Portugal; afinal, a proximidade e o destaque dado à prova são muito maiores do que em relação aos Estados Unidos.

Agora, quantos de vocês ouviram falar neste título através dos média? Poucos ou nenhuns, apenas umas referências em rodapé. Todos nós sabemos que o futebol é que vende, mas falamos de um bicampeão nos Estados Unidos.

Em Portugal parece que um jogo da quinta divisão de futebol do Sudão do Sul tem mais importância do que um qualquer campeonato de uma modalidade dita amadora ou do que um desportista português, a não ser, claro, quando ele ganha alguma coisa importante. Aí sempre o apoiámos e acreditámos em que tinha qualidade para tal.

Como diz o piloto, “ser chamado de campeão soa bem”, só é pena poucos saberem da existência do piloto para o poderem chamar campeão, neste caso, bicampeão!

O Passado Também Chuta: José Henriques

o passado tambem chuta

Talvez se perguntem porque ainda não escrevi sobre jogadores como o Humberto Coelho ou o Luís Figo. Também não escrevi sobre craques como Michel Platini; nem sobre o José Henrique, o Damas ou o Pujol. É simples: a não ser o José Henrique, os outros foram grandes jogadores; jogadores de memória, mas ainda não tocaram na varinha mágica que me faz escrever. Normalmente, escrevo sobre as lendas que por algum motivo me tocaram ou me fizeram vibrar. E o José Henriques fez-me vibrar e, depois da saída do lendário Costa Pereira, foi o primeiro guarda-redes do Benfica que me fez sentir seguro. Adorava o Melo. Conhecia-o desde os juniores e da rivalidade que mantinha com o excelente Rui do FC do Porto nas seleções inferiores.

Eu era do Melo, mas também sabia que o Rui era um excelente guarda-redes. Tinha mais corpo; era completo; era sério na baliza. Mas, o Melo, quando teve a prova dos nove na primeira equipa do Benfica, teve um dia que o marcou: o famoso dia do São Lourenço. Lourenço, avançado-centro do Sporting, marcou-lhe três golos num dérbi; um deles foi um belo e falado chapéu. E desapareceu da primeira equipa; mais tarde, alinhou pela Académica de Coimbra, onde fez excelentes épocas e tapou o vazio deixado pelo dr. Maló. Portugal, naquela época, tinha grandes guarda-redes, e não só o Porto, o Sporting ou o Benfica.

Não era conhecido. Regressou ao Benfica depois de andar alguns anos a endurecer pelo Amora, pelo Seixal e pelo Atlético, onde se notabilizou. Era um guarda-redes para o Benfica que passara despercebido nas camadas inferiores. Hoje, acontece-lhe o mesmo. Fala-se do Bento, do Preud`homme, mas, do José Henriques, nem um ligeiro sopro. Não era pior; era melhor; era o Zé Gato. As bancadas do velho Estádio da Luz sentiram-se aliviadas quando se apropriou da baliza do Costa Pereira. Começou no Arrentela e depois no ano 1959 veio para os juniores do Benfica, onde foi companheiro do Simões.

Teve rivalidade fora do Benfica. Depois de poucos meses, desalojou o Nascimento e fez-se com a baliza por uma década. A rivalidade morava no Estádio José Alvalade. Vítor Damas era referência no futebol português e um ídolo em Alvalade. A camisa da seleção era muito cara. Mas José Henriques agigantava-se e consolidava-se como um guarda-redes com vastos recursos. Não era muito alto para a posição; no entanto, tinha a garra e o poder de salto para ir lá acima socar as bolas com poder. A seleção abriu-se e rendeu-se. Lembro-me de um jogo contra Inglaterra onde o Zé Gato voou e socou bolas até à extenuação. Depois do jogo, soube-se que jogara os últimos minutos do desafio lesionado numa mão. Numa das saídas impactara com o punho numa cabeça e ficara magoado. Essa exibição foi uma das muitas que fizeram empolgar os adeptos. Jogou-se no Brasil uma mini-Taça do Mundo. Zé Henriques defendeu tudo e atemorizou os sonhos dos contrários. Portugal jogou a final do torneio com o Brasil e não havia bola que passasse; no entanto, perto do fim do jogo, Jairzinho conseguiu marcar e Portugal foi vice-campeão. O campo do Ajax viu uma das mais célebres exibições do José Henriques. O Benfica venceu esse jogo e o grande craque do jogo foi o Zé Gato.

Era felino; arrojado; uns reflexos prodigiosos e também socava. Ganhou a nível nacional muitos campeonatos; taças; disputou um final da Taça da Europa. Foi grande. É grande. Saiu do seu Benfica em 1979 e ainda fez grandes jogos no Nacional. Despediu-se no Sporting da Covilhã. Agora, ocupa-se das camadas jovens da formação benfiquista. Transmite o seu saber, o seu querer e a sua grande qualidade humana.

Sub21: Portugal 2-0 Hungria: Estes miúdos só sabem ganhar!

cab seleçao nacional portugal

A selecção portuguesa de sub-21 venceu. Outra vez. Já é um hábito. Na verdade, com Rui Jorge ao leme só a Rússia conseguiu derrotar Portugal. E foi já há muito tempo, no longínquo ano de 2011. Depois de uma qualificação imaculada para o Euro 2015 e de uma brilhante fase final, onde o título escapou por muito pouco e de forma inglória, Portugal entrou nesta qualificação para o Euro 2017 com uma importante vitória em casa da Albânia por 1-6. Hoje, em Penafiel, a turma de Rui Jorge voltou a imprimir bastante qualidade ao seu jogo e somou os três pontos com justiça e autoridade.

A equipa que hoje entrou em campo foi, grosso modo, a mesma do último jogo. João Cancelo entrou para o lugar do lesionado Mauro Riquicho na lateral direita da defesa, Gonçalo Paciência substituiu o malogrado André Silva (autor de um hat-trick na jornada anterior) na frente de ataque e Carlos Mané foi rendido por Iuri Medeiros no onze. De resto, o guarda-redes Bruno Varela (sem jogos oficiais esta época pelo Valladolid) voltou a merecer a confiança do seleccionador; Tobias Figueiredo e Edgar Ié emparelharam-se no eixo central da defesa (Ruben Vezo, que tem sido titular no Valência, ficou no banco); Rafa e Bruma formaram a asa esquerda da equipa e o meio-campo, composto por Ruben Neves, Rony Lopes e o capitão Bruno Fernandes, também não sofreu alterações.

A ideia de jogo manteve-se: futebol ofensivo, de posse e com várias trocas posicionais no ataque e pressão alta e entreajuda no momento de defender. A chave do jogo esteve no miolo: Ruben Neves, o esteio do meio-campo, voltou a revelar toda a sua maturidade técnica, táctica e emocional e apresentou-se como uma das mais determinantes unidades do onze de Rui Jorge. Com ele a pautar o jogo desde trás, Bruno Fernandes e Rony Lopes puderam dar largas à sua criatividade e desequilibrar a partir da zona central. Iuri Medeiros e Bruma não agitaram tanto o jogo como se esperava (por isso foram os primeiros a sair) e por isso pode dizer-se que foram aqueles dois – Bruno e Rony – os mais perigosos e influentes da equipa das Quinas.

Durante a primeira parte, a Hungria dispôs de uma única boa oportunidade para marcar, num lance de génio de László Kleinheisler, mas pouco mais conseguiu do que equilibrar um pouco as coisas em alguns períodos. Portugal dominou claramente a partida e, mesmo claudicando várias vezes na tomada de decisão no último terço (mais passes falhados do que o costume), teve uma mão cheia de ocasiões de perigo que desaproveitou. O único golo chegou do inevitável Bruno Fernandes, capitão de equipa, que disparou para o fundo das redes aos 35’. Um prémio justo para aquele que estava a ser – e que acabou por ser – o melhor jogador em campo.

No segundo tempo, a toada manteve-se. Os húngaros subiram ligeiramente as suas linhas no regresso dos balneários e procuraram discutir o resultado, mas uma brilhante jogada colectiva de Portugal, finalizada por Gonçalo Paciência, atirou por terra as aspirações magiares. Aos 56’, Cancelo lançou Rony Lopes ainda no meio-campo português, o luso-brasileiro progrediu com a bola controlada, tabelou com Bruma e, já dentro da área, deu a Rafa, que cruzou rasteiro para o remate fácil do ponta-de-lança emprestado pelo FC Porto à Académica. Estava feito o 2-0.

Gonçalo Paciência voltou a marcar com a camisola das Quinas  Fonte: Getty Images
Gonçalo Paciência voltou a marcar com a camisola das Quinas
Fonte: Getty Images

Com o segundo golo, Portugal geriu os ritmos de jogo, expôs-se pouco ao erro e ainda dispôs de algumas ocasiões para chegar ao terceiro. Não deslumbrando, controlou. Rui Jorge refrescou as alas, fazendo entrar Ricardo Horta e Gonçalo Guedes (primeira internacionalização sub-21) para os lugares de Iuri Medeiros e Bruma e reforçou o meio-campo com a entrada de Raphael Guzzo, segurando assim a merecida e natural vantagem no marcador.

Portugal continua um trajecto soberbo neste escalão à custa das muitas e muito boas soluções para todos os sectores do terreno, mas também devido à capacidade de liderança de Rui Jorge, capaz de implementar vários sistemas de jogo (o 4-3-3 com André Silva ou Gonçalo Paciência na frente utilizado nestes dois últimos encontros nada tem que ver com o 4-4-2 losango com falsos avançados utilizado no Euro 2015) e de “espremer” os nossos jovens valores ao máximo, exigindo sempre deles uma atitude séria e uma entrega sem limites, indispensáveis para o sucesso. Hoje saiu de Penafiel com seis pontos na bagagem e confiança redobrada para a deslocação à Grécia na próxima terça-feira.

 

A Figura

Bruno Fernandes – Foi o dínamo da selecção nacional. Envergando a braçadeira de capitão, mostrou clarividência na grande maioria das decisões de tomou, e revelou o espírito combativo a que nos habituou. Funcionou como verdadeiro box-to-box, ora apoiando Ruben Neves em missões ofensivas, ora aparecendo na área adversária para atirar à baliza ou endossar um último passe, e mostrou que tem as características necessárias para render em posições centrais (apareceu na Udinese como extremo, hoje joga como médio interior). Também Ruben Neves e Rony Lopes estiveram em destaque – como disse, o meio-campo foi crucial nesta vitória -, mas Bruno Fernandes merece a eleição, até pelo golo que assinou.

O Fora-de-Jogo

Bruma e Iuri Medeiros – Muito longe de terem tido desempenhos desastrosos, acabaram por não ser tão preponderantes como deveriam ter sido e como já foram em ocasiões anteriores. O luso-guineense falhou demasiados passes, o açoriano nunca foi capaz de encontrar espaços para o seu poderoso remate. Sendo esta uma das posições com mais concorrência, é provável que Rui Jorge lance um outro extremo como titular na Grécia.

 

Foto de Capa: Facebook das Seleções Nacionais de Portugal

O Benfica é nosso: e isso sempre chegou

cabeçalho benfica

A afirmação do Benfica como maior clube português – em apoio popular, sucesso desportivo e prestígio internacional (necessariamente por esta ordem) – teve um impulso decisivo em 1907, apenas três anos após a fundação e na sequência de uma grave crise que, na altura, colocou em risco a sobrevivência da própria instituição. A fuga da maioria dos jogadores para o abastado Sporting – capaz de garantir condições de treino e de jogo mais favoráveis – colocou em curso um projecto liderado pela mente e alma de Cosme Damião, um dos 24 fundadores do clube, que incluiu, entre outras coisas, uma activa campanha de angariação de fundos e a absorção do Grupo Sport Benfica (proporcionando um campo para a prática do futebol e o início do seu ecletismo desportivo). São episódios como este – que figuram como factos nos livros de História (sem recurso a prestidigitações intelectuais) – que explicam, de forma simples e directa, a natureza do Sport Lisboa e Benfica.

A identidade do clube – assente numa dialéctica de oposição entre o povo e a aristocracia – sobrevém das origens dos seus fundadores, ex-alunos da Casa Pia; o Benfica não tinha campo próprio ou dinheiro, somente sobrevivendo pela vontade férrea de um grupo de homens humilde e trabalhador. No Portugal de então, monárquico e de profundos contrastes sociais, a camisola vermelha tornar-se-ia numa escolha óbvia e natural para a (esmagadora) maioria: o número de simpatizantes e sócios aumentou a um ritmo imparável e Cosme Damião e seus pares perceberam no imediato e com espírito de dever cumprido que o clube deixara de lhes pertencer.

O Benfica jamais perdeu essa base de apoio popular – que carregou o clube para o topo do futebol português e europeu (tornando-o na principal referência associativa e desportiva nacional, reconhecida nos quatro cantos do mundo) –, fiadora dos seus princípios fundadores, da sua consolidação e de um crescimento que, em 1904, podia ser só sonhado. Com o passar dos anos, intervalando períodos de hegemonia total e as grandes conquistas, surgiram outras crises, com características variadas. Porém, a vantagem em relação aos demais, aberta, sobretudo, por uma falange de apoio activa e disponível, manteve o clube numa posição de superioridade inata, confinando os opositores à eterna tarefa de subverter uma ordem fossilizada.

As respostas a dar para fora têm local e data marcada Fonte: Sport Lisboa e Benfica
As respostas a dar para fora têm local e data marcada
Fonte: Sport Lisboa e Benfica

Actualmente, o Benfica é mais do que um clube: com infra-estruturas de nível mundial; um notável trabalho social e solidário; um espaço essencial para a prática desportiva de crianças e jovens na capital; e, na alta competição, domina praticamente todas as principais modalidades desportivas que existem em Portugal. O benfiquista dos nossos dias tem, por isso, a tarefa muito facilitada: é difícil conter tanto orgulho. Por vezes, podemos não gostar daquele treinador ou jogador; das decisões do presidente; ou do comentador do programa televisivo. No entanto, nenhum sócio ou adepto deve esquecer-se do essencial ou, pior ainda, perder o seu tempo com questiúnculas lunáticas. No Benfica, todos os temas – desde o comportamento dos próprios adeptos às opções de hospitalidade da actual direcção – devem necessariamente ser discutidos, nos momentos e locais apropriados, com seriedade e elevação, fazendo jus à liberdade democrática que sempre caracterizou o clube; haverá, certamente, ainda muitas questões para corrigir e resolver.

Este texto surge, obviamente, motivado pelo muito que se leu e ouviu nos últimos dias sobre o Benfica, proveniente do exterior. É um daqueles episódios chatos em que, ao invés de gastarmos tempo e energia em fazer mais e melhor, suspendemos temporariamente a reflexão sobre certas questões internas, verdadeiramente importantes – como a do comportamento de alguns benfiquistas em Madrid –, porque alguém quer desviar as atenções da sua própria casa. Por respeito aos princípios fundadores e à nossa herança colectiva – e tal como está estatutariamente previsto – a defesa do Benfica faz-se primeiro. No entanto, as batalhas dos benfiquistas não se travam contra este ou aquele; muito menos resultam num estranho e caricato regozijo pela vitória (?) num debate de tasca. Basta a união e o apoio de todos – dos milhões que mais ninguém tem ou terá –, para o Benfica continuar a crescer sem companhias indesejadas. Está nos livros, desde 1907.

Foto de Capa: Sport Lisboa e Benfica