Já tinha saudades de sair de casa em dia de jogo com um destino bem definido. Na verdade, o único possível, a existir um: o estádio. Tinha saudades dos gritos, da troca de sorrisos e emoções, de os ver ali tão perto. E do frio que sempre nos acolhe.
Ontem, quase quatro meses depois, voltei a ver o meu Porto. Regressei aos relvados. Ah, como é bom! Perseguido pela maldição Lopetegui que começou na minha estreia no Dragão (e o frio tão característico). Lá estava eu, perante os nossos heróis, desejoso por gritar ‘Golo!’.
À batalha dentro do campo antecederam-se outras, todas elas igualmente difíceis de ultrapassar: o mau acesso, a longa espera e, sobretudo, o frio. E a esse o Dragão não resistiu. Em noite gelada, foi congelado. A defesa, o cérebro de Fabiano no lance que resulta na grande penalidade e, de certa forma, o resultado.
Não faltou, contudo, emoção. Os comandados de Lopetegui, mais uma vez alinhados de forma diferente, bem tentaram, mas foram mais uma vez traídos por golpes surpreendentemente maus no sector defensivo – aquele que continua a ser, ainda assim, o melhor do campeonato português.
Mas voltemos ao estádio e às emoções únicas que nos proporciona. Tinha saudades. Saudades de ver a equipa aquecer e de bater palmas sempre que Quaresma se aproxima da bancada azul e branca. Saudades de gritar ‘golo!’ como se não houvesse amanhã. Sentia, acima de tudo, saudades de sofrer como nunca se sofre atrás de um ecrã. Como é bom ir ao estádio.
De ser treinador de bancada… na bancada. E comigo estavam muitos outros assim. “Passa, para este lado!”, “Cruza, cruza a bola!”, “Remata… nunca rematamos” foram algumas das expressões mais ouvidas. E assim, noventa e cinco minutos passados, chegou ao fim mais um dia único. Vestido de azul e branco, com pouca voz e feliz. Porque acima de tudo fomos Porto.
Grande parte das minhas memórias dos anos 90 são passadas em Alvalade. Ainda hoje me lembro da primeira vez em que entrei na velhinha nave ou que assisti a um dos treinos dos juniores, em que o meu pai me dizia “aquele Simão vai ser bom jogador”. Mas uma das memórias mais vincadas que tenho foi curiosamente a primeira vez que vi o Preud’homme em Alvalade. Desde miúdo que quis ser guarda-redes; fosse no futebol, futsal ou andebol, aquele espaço era onde me sentia bem. Não queria marcar golos e não queria fazer fintas e mais fintas. Desde miúdo que quis ser como aquele senhor belga que defendia as redes do clube rival e defender tudo o que viesse na direcção da minha baliza.
Apesar de já ter chegado à Luz com 35 anos, Saint Michel parecia um homem elástico, ágil como um jovem mas maduro e cheio de experiência. Vi defesas incríveis, vi uma segurança enorme que tranquilizava qualquer defesa e atormentava qualquer avançado. No entanto, e para mim, o melhor momento do incrível belga foi frente a Batistuta, num jogo em casa frente à Fiorentina para a Taça das Taças, em que fez uma defesa do outro mundo, negando o golo a um dos melhores avançados de sempre. Formado num dos maiores clubes belgas, o Standard de Liége, Preud’homme apenas conheceu três clubes na sua carreira, e foi no Mechelen que conseguiu os seus maiores feitos colectivos, vencendo uma Taça das Taças frente ao Ajax de Cruyff e a Supertaça Europeia ao PSV, vencedor da Liga dos Campeões contra o Benfica.
Sucessor de Jean-Marie Pfaff, outro monstro sagrado das balizas de origem belga, Preud’homme foi figura também da sua selecção, fazendo parte de uma geração que chegou à final do Euro 1980 e às meias-finais do Mundial de 1986. Contudo, foi no Mundial de 1994 que o guarda-redes mais se destacou, fazendo defesas que o tornaram conhecido do público e vencendo o prémio para melhor guardião do torneio.
Nesse mesmo ano transfere-se para Lisboa, onde, numa equipa frágil e a atravessar um período negro, se transforma num ídolo para os benfiquistas e não só. Acaba por vencer somente uma Taça de Portugal, em 1996, e num jogo marcado pelo homícidio de Rui Mendes, adepto do Sporting Clube de Portugal. É algo que ensombra a história de um dos melhores guarda-redes que passaram por Portugal, repartindo esse estatuto com Peter Schmeichel. Para mim, tenho a agradecer a Preud’homme o gosto pelo futebol e o gosto pelas balizas. Foi sempre um exemplo, seja no campo ou fora dele, onde se comportava como o grande senhor que foi, admitindo até que trocaria a vitória na Taça pela vida do adepto do clube rival.
Eu sei. Eu sei que tecnicamente faltam muito mais títulos a Roger Federer do que aquele que será o protagonista nas linhas em baixo, mas hoje o destaque vai a 100% para a Taça Davis, que o suíço vai tentar ganhar entre os dias 21 e 23 de Novembro em França.
A selecção suíça viu-se este ano reforçada com a melhor arma que poderia receber, e que responde pelo nome de Roger Federer. O suíço “meteu na cabeça” que queria conquistar a Taça Davis e pegou de estaca na competição, vencendo todos os jogos que disputou este ano e valendo assim a conquista de muitas eliminatórias, tendo em conta que em duas jogou duas vezes.
Há quem critique a atitude do suíço por muitas das vezes se mostrar indisponível para representar a selecção. Entendo esse ponto de vista, mas o que acho que digno de destaque é que o suíço, que aos 33 anos e com 17 títulos do Grand Slam no bolso quis vencer este título, chegou, viu e está perto de vencer.
A vitória até pode nem se consumar nos próximos dias 21, 22 e 23 de Novembro. Do outro lado está uma França com Tsongas, Gasquets e Monfils, mas a determinação do suíço em pegar na selecção e conduzi-la ao jogo do título é impressionante.
Veja-se Rafael Nadal. O espanhol também teve os seus momentos de glória na Taça Davis e desde há três anos para cá que relegou essa competição. Em termos de calendário é um evento que não é fácil de gerir, e é assim entendível que os tenistas de topo, depois de garantirem este troféu no currículo, acabem por relegar a competição para segundo plano. Nadal começou por aqui, Federer escolheu terminar por aqui.
Isto leva-nos a um outro tema, que é o da importância da Taça Davis no panorama do ténis mundial. Já aqui escrevi sobre a importância desta competição, mas mais uma vez volto ao tema. Se a Taça Davis tem vindo a perder valor ao longo dos anos numa óptica mais global, a verdade é que os grandes tenistas não querem deixar a modalidade sem deixarem a sua marca na competição por equipas do ténis mundial.
Recorde-se Henri Leconte, um dos mais geniais tenistas mundiais, que ficará eternamente conhecido na história por ter sido um dos mosqueteiros franceses na conquista da Taça Davis. Não há competição como esta para unir os fãs de ténis de um país. A mística que vem das bancadas seja no grupo mundial, seja no grupo III, é inigualável.
Para concluir, a Roger Federer faltam dois grandes títulos: a Taça Davis e a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos (em singulares), mas o tenista suíço ainda vai até 2016, por isso…
O futebol está longe de ser uma ciência exata: nem sempre por se ter melhores jogadores se ganha, nem sempre por se criar oportunidades infinitas se vence e nem sempre por se começar a ganhar se consegue gerir um jogo. Apesar do futebol não ser matemática, há coisas que, semana após semana, se tornam difíceis de perceber: depois de uma exibição com tanta qualidade em Bilbau, aquilo que seria normal é que Lopetegui mudasse o menos possível. Com a ausência por fadiga muscular de Tello, aquilo que todos esperavam é que a troca do espanhol por Ricardo Quaresma fosse a única alteração que o técnico espanhol fosse fazer. Seria o mais lógico, o mais natural e, muito provavelmente, o melhor para a equipa do FC Porto.
Ao contrário do que era expectável, Lopetegui decidir retirar um coelho da cartola e lançar Adrián López em campo, em detrimento do médio Óliver Torres. Depois do erro de palmatória cometido frente ao Sporting, para a Taça de Portugal, o treinador portista decidiu repetir o brilhante feito do jogo da Taça e mais uma vez errou. Perdeu o meio-campo, deixou que Herrera fosse o único homem a construir jogo ofensivo e, sobretudo, colocou um jogador a menos em campo porque, salvo outra opinião, por esta altura ainda não sei se Adrián entrou ou não na Amoreira, esta noite. Do lado do Estoril, José Couceiro retirou o lesionado Kléber do onze e colocou Babanco de início, oferecendo maior consistência ao meio-campo e deixando Tozé como falso “9”.
O início da partida demonstrou rapidamente as dificuldades do FC Porto: com Casemiro encostado aos centrais na primeira fase de construção, apenas Herrera foi o elo de ligação entre o meio-campo e o ataque. Do mexicano até aos quatro homens da frente era um autêntico buraco, com Brahimi e Quaresma a serem os únicos capazes de baralhar as marcações canarinhas. Jackson Martinez nunca conseguiu adaptar-se ao sistema de dois avançados na área, enquanto Adrián não foi mais do que uma sombra durante os 60 minutos em que esteve em campo. Mesmo com uma exibição profundamente desinspirada nos primeiros minutos do jogo, a questão individual voltou a evidenciar-se e, como não raras vezes esta temporada, Brahimi decidiu fazer mais uma jogada brilhante e assinar o primeiro golo dos portistas no Estoril. Apesar do golo portista aos 20 minutos, a vantagem não foi boa conselheira para os azuis e brancos, que apenas 6 minutos depois viram Kuca fazer o empate para os canarinhos. Com tanto equilíbrio durante a primeira meia hora, o empate era o resultado mais ajustado tendo em conta o que Estoril e FC Porto faziam. O certo é que o golo do extremo cabo-verdiano foi um bom tónico para os portistas, que, até ao intervalo, podiam ter chegado à vantagem no marcador, por Brahimi, Quaresma e Jackson.
Jackson Martínez voltou a ficar em branco e o FC Porto deixou pontos na Amoreira Fonte: lebuteur.com
A segunda parte trouxe um Estoril menos afoito e um FC Porto mais balanceado no ataque. Com Herrera em plano de destaque, a equipa de Lopetegui entrou muito mais pressionante sob o adversário e, apesar de não ter criado grandes oportunidades de golo junto da baliza de Kieszek, adivinhava-se que o golo dos portistas poderia surgir a qualquer momento. Do lado canarinho, era por demais evidente a estratégia de contra-ataque sustentada na velocidade de Kuca, Sebá e Tozé, que ainda assim tiveram poucas oportunidades de levar perigo à área de Fabiano. Ainda assim, e após as entradas de Quintero e Aboubakar para as saídas de Casemiro e Adrián, o Estoril começou a ter mais espaço entre linhas, o que foi aproveitado por Esiti, Diogo Amado e Babanco para criar mais problemas aos portistas. Numa dessas oportunidades, Fabiano acabou mesmo por fazer falta sobre Tozé, dando a possibilidade ao jogador emprestado pelo FC Porto de cometer uma pequena “traição” ao seu clube ao fazer a reviravolta para o Estoril-Praia, aos 81 minutos.
Com pouco mais de 10 minutos para jogar e com uma equipa completamente partida em campo, apenas a alma e determinação portistas impediram que o resultado na Amoreira fosse ainda pior. Aos 92 minutos, após mão de Yohan Tavares na área estorilista, Óliver isolou-se perante Kieszek e restabeleceu a igualdade. Até ao apito final de Artur Soares Dias, destaque apenas para um remate de Jackson que o guarda-redes polaco impediu que resultasse numa vitória portista.
Com este empate – repetição do resultado da época passada – o FC Porto cai para o 3.º lugar do campeonato, a 1 ponto do V. Guimarães, a 3 do Benfica e com 5 de vantagem para o Sporting. Esta noite na Amoreira o FC Porto só se pode queixar de si próprio por não ter levado um resultado melhor. E quando digo FC Porto, quero sobretudo deixar o reparo a Lopetegui: este resultado negativo deve-se a ele e a uma alteração completamente disparatada na equipa, retirando Óliver, colocando Adrián e desvirtuando um modelo tático que tinha resultado em Bilbau e que podia e devia ter-se mantido. Lopetegui quis inventar e com isso perdeu 2 pontos. E assim, às vezes, se perdem campeonatos.
A Figura
Yohan Tavares – O central do Estoril-Praia foi uma completa barreira às investidas portistas e não foi por acaso que Jackson Martinez passou, durante a maior parte do tempo completamente, ao lado do jogo.
O Fora-de-Jogo
Lopetegui/Adrián López – A teimosia de Lopetegui voltou a dar mau resultado e a aposta em Adrián fez com que o FC Porto tenha sido uma equipa completamente alterada relativamente ao que tinha feito em Bilbau. Depois de uma exibição quase perfeita em Espanha, não havia por que mudar. O treinador fê-lo e leva apenas 1 ponto para casa para recordar. Quanto ao suposto “avançado” espanhol, não há muito mais que possa dizer. É que perante tanta mediocridade, às vezes nem sequer as palavras fazem sentido.
Desculpem-me a ousadia: vou extravasar os limites dos noventa minutos de hoje em Alvalade para falar sobre o Sporting vs Paços de Ferreira. Assim o exige o contexto. É que no campeonato aquilo que se passa nos terrenos alheios onde jogam Benfica e Porto não é indiferente ao Sporting, tal como também não o é o contrário. E se quem aterrasse hoje de Marte não conseguiria ver nada de estranho na partida de Alvalade, quem cá está a acompanhar o que foram as dez primeiras jornadas só não vê aquilo que não quer.
“Os campeonatos perdem-se nas primeiras oito jornadas e ganham-se nas últimas oito”
Munique, 13 de Setembro de 2013 – Pep Guardiola
Justificava Guardiola esta sua opinião com a ideia de que quem cede mais de quatro/cinco pontos nas primeiras oito jornadas entra em campo sempre sob uma pressão que lhe dificulta a conquista dos seguintes pontos e que pode gerar um ciclo vicioso negativo. Ora, o contrário também se aplica: quem entra com uma vantagem confortável para determinada jornada tem sempre um maior à vontade para enfrentar os seus adversários. O que se deve questionar, olhando para o nosso campeonato, é como é que uma equipa como o Benfica – com dificuldades notórias nos mais variados níveis futebolísticos – está oito (!!) pontos à frente de outra que, também tendo os seus defeitos, se mostra superior naquilo que é possível às equipas trabalhar: o seu futebol. A resposta está na própria pergunta – o Benfica tem oito pontos de avanço mesmo praticando pior futebol do que o Sporting porque tem beneficiado de factores extra-futebol. São sucessivas as “coincidências”: em lances de maior ou menor dúvida, a decisão é sempre para o mesmo sentido.
No fim-de-semana passado, com a equipa de Jesus a vencer por um, foi anulado (e bem!) um golo ao Rio Ave por posição irregular, ainda que milimétrica e ainda que o fiscal de linha em questão não tivesse quaisquer condições para assinalar tal lance devido ao seu péssimo posicionamento. Um dia depois, em Guimarães, o Sporting sofreu um golo também irregular mas que seria validado. E, imagine-se, o fiscal estava muito bem posicionado e tinha todas as condições para anular o golo. Perspectivas, coincidências, chamaram-lhe. Hoje, na Madeira, o Nacional sofreu um golo (que viria a valer os três pontos) quando Jonas está novamente numa posição de limite entre o fora-de-jogo e o não fora-de-jogo. Novamente a decisão foi benéfica aos encarnados. Na segunda parte, a equipa da casa viu-lhe ser muito mal anulado um lance que seria de potencial perigo e que poderia valer o empate. O mesmo fiscal que validou o golo de Jonas decidiu anular o lance.
Neste lance, Montero marca e vê o golo anulado. Slimani, numa posição de limite, não tem interferência no lance.
Mais tarde, em Alvalade, eis que Montero volta a ver um golo completamente legal ser-lhe anulado, tal como se vê na imagem em cima. Não há posição de dúvida nem perspectiva que justifique o erro. O que seria o segundo golo do Sporting no jogo foi mal anulado e, pela segunda semana consecutiva, a equipa viu-se prejudicada por aquilo que não pode controlar.
Só assim se explica uma diferença futebolística onde ela não existe!
E com estes fenómenos extra-futebolísticos acabamos quase sempre por deixar a alguns a falta de atenção que não merecem: o Paços de Ferreira teve o dom de saber complicar a vida aos verde-e-brancos e não alterou uma vírgula naquilo que é a sua identidade. Paulo Fonseca está a provar que o sucesso não é ocasional e que, perante as suas boas ideias e convicções, conseguirá bons trabalhos em quase todos os seus desafios. Na primeira parte, o Paços dividiu o jogo com o Sporting e procurou sempre ter a bola tanto quanto possível, saindo da pressão alta com qualidade. Ao intervalo, o resultado aceitava-se. No futebol o demérito do adversário nunca é independente do nosso mérito e o contrário também é verdade – por isso, o Paços foi o principal culpado dos 45′ leoninos menos conseguidos.
Na segunda parte, Marco Silva mexeu (bem) no jogo e, mesmo arriscando, conseguiu encontrar um maior equilíbrio. João Mário desceu no campo para jogar sempre de frente e potenciar o momento em que é mais forte: o da construcção (e não na definição); Montero soube aproveitar os espaços entre linhas e tornar mais difícil à defesa do Paços a ocupação dos mesmos; Mané entrou com intensidade e conseguiu, principalmente através de investidas individuais, desequilibrar a defensiva contrária. A partir daí, o Sporting tornou-se dono e senhor do encontro, chegou à igualdade e também à superioridade, que posteriormente foi anulada. Pelo avalanche ofensivo do segundo tempo, os três pontos deveriam ter sido conquistados pelo clube de Alvalade. Apesar disso, o Paços fez por merecer o ponto que conseguiu e em nada deve alterar aquilo que o tem levado ao sucesso recente. No fim, nota para o tempo de compensação peremptoriamente escasso que existiu depois de tantas paragens. E aqui não há questões de perspectiva associadas. Mas assobiemos para o lado, ou não fossemos portugueses.
A Figura
Fredy Montero – O avançado colombiano apontou um golão e, mais do que isso, foi quem mais e melhor encontrou os espaços que viriam a virar o jogo, embora não o marcador. Ainda apontou o segundo, mas já se sabe o que aconteceu.
O Fora de Jogo
Islam Slimani – O outro avançado do Sporting teve uma noite para esquecer: golos falhados com os pés e até com a cabeça com a qual costuma ser letal.
Jogo tradicionalmente difícil para o Benfica na Choupana, em que a única palavra de ordem era ganhar para colocar pressão nos dois rivais, que só depois entrariam em campo. Com alguma surpresa, Jorge Jesus procedeu a duas alterações que modificam, e muito, a dinâmica da equipa. Se por um lado a parceria de Jonas com Lima oferece uma variedade de soluções bem diferentes daquelas de que Talisca (ainda não?) é capaz, por outro, o recuo do homem-golo para o duplo pivot com Enzo Pérez deixa a equipa bastante desequilibrada na hora de defender. E nem sequer foi preciso esperar muito para o provar. Ainda nem um minuto de jogo se havia cumprido quando Edgar Abreu aproveitou a tal descoordenação do meio-campo defensivo encarnado. Muito espaço para o jovem português poder rematar de fora da área e fazer o 1-0, apesar de ter ficado a impressão de que Júlio César poderia ter feito melhor.
Entrada em falso do Benfica, mas que rapidamente veio a ser corrigida. Com (muita) ajuda de Rui Silva, guarda-redes dos madeirenses, a equipa de Jorge Jesus deu a volta ao marcador. Primeiro foi Salvio a responder de cabeça a uma jogada iniciada por Jonas, que desmarcou Gaitán para assistir o extremo argentino para o 1-1. Enormes responsabilidades no golo para o guardião do Nacional, que, literalmente, colocou a bola dentro da baliza. Importante para o Benfica não ter deixado o 1-0 arrastar-se no tempo e recolocar, de pronto, a igualdade aos sete minutos. Numa primeira parte que primou pelo futebol de boa qualidade de ambas as partes, o Nacional respondeu de pronto e Marco Matias obrigou Júlio César a excelente defesa para canto. Mas pouco tardou para o Benfica passar para a frente do resultado: Jonas aproveitou a passividade da defesa da equipa da casa para, à vontade e liberto de marcação na pequena área, fazer o 1-2. Ainda antes do intervalo o Benfica dispôs de soberana oportunidade para fazer o terceiro e, quiçá, evitar o sofrimento que a segunda parte trouxe. Salvio desperdiçou clamorosa oportunidade de cabeça, e não mais Benfica houve a partir daí.
Nessa perdida de Salvio o Benfica esgotou as oportunidades de golo, e o Nacional aproveitou. Mais pressionante e a ganhar com facilidade as segundas bolas no meio-campo, o Nacional conseguiu ter o domínio do jogo contra um Benfica encostado atrás. Samaris substituiu Lima para, supostamente, reequilibrar a equipa, o que não se verificou. O Nacional ia acreditando no empate. Com o passar do tempo, o cansaço notava-se cada vez mais, e o Benfica nem três passes seguidos conseguia fazer. Até ao final da partida, a equipa de Manuel Machado tem razões de queixa da equipa de arbitragem, já que Marco Matias viu um lance mal anulado na cara de Júlio César, que permitiria o empate à equipa da casa. Sem capacidade para parar as constantes investidas dos extremos do Nacional, o Benfica recorreu inúmeras vezes a faltas perto da grande área e colocou-se a jeito para um desfecho amargo.
Um Benfica eficaz e a jogar q.b. foi suficiente para trazer os três pontos da Choupana. O primeiro terço do campeonato está quase concluído e a liderança isolada é uma realidade, sim. Jesus e a equipa têm esse mérito. Mas é mais do que urgente começar a jogar futebol a sério: jogar q.b. não vai resultar sempre.
A Figura
Nacional da Madeira – perante a passividade do Benfica, o Nacional dominou por completo o segundo tempo e merecia o empate. A equipa de Manuel Machado tem mais qualidade do que a classificação mostra.
O Fora de Jogo
Salvio – Apesar do golo, o extremo argentino continua muito longe da sua melhor forma. Entre aquilo que Salvio está a fazer e o que pode vir a fazer está muito do que o Benfica poderá melhorar.
O Sporting de Braga disputou a sexta partida esta época em casa (contando com o jogo da Taça de Portugal) e venceu… pela sexta vez! A turma orientada por Sérgio Conceição recebeu o último classificado e entrou bem no jogo. Logo aos 12 minutos, começou o espetáculo de Adriano Facchini. O guarda-redes brasileiro do Gil Vicente negou o golo a Rafa após uma boa arrancada do internacional português. Os bracarenses continuaram melhor em campo no decorrer da primeira parte, com Pardo a liderar as investidas à baliza dos “galos” mas falhando sempre na finalização.
Aos 35 minutos, Luís Silva viu o segundo amarelo (tinha visto o primeiro três minutos antes), e a tarefa já de si difícil ficou ainda mais. Sem ter ganhado ainda na Liga, os gilistas tinham agora de enfrentar 55 minutos com menos um homem em campo. Até ao intervalo, primeiro Adriano e depois Peck’s negaram o golo ao colombiano Felipe Pardo.
O Braga foi sempre superior, chegando ao intervalo com 17 remates e mais de 70% de posse de bola. Contudo, ao contrário do que seria de esperar, o Gil Vicente entrou melhor na segunda metade. Marwan Mohsen deu algum trabalho a Aderlan Santos e André Pinto, mas foi através de Diogo Viana e Jander que o Gil Vicente incomodou Matheus. O guardião do Braga evitou o golo mas mostrou sempre alguma intranquilidade, que se estendia às bancadas, onde os adeptos assobiaram a equipa por mais do que uma vez.
Um remate de Pedro Tiba aos 62 minutos para mais uma espetacular defesa de Adriano foi o clique para o Braga voltar ao domínio do encontro. Os “Guerreiros” trocavam a bola no meio-campo barcelense, mas com muito pouca velocidade e criatividade para furar a organização defensiva pensada por José Mota.
No último quarto de hora, já com Pedro Santos em campo, André Pinto tem mais uma grande oportunidade após centro de Pardo, mas Adriano fez mais uma defesa magnífica. Contudo, apenas conseguiu adiar por uns minutos a vantagem dos homens de vermelho. Salvador Agra e Sami também já estavam dentro das quatro linhas quando, ao minuto 82, Pardo fez o primeiro golo da partida. Canto batido por Agra na esquerda, no segundo poste apareceu Aderlan Santos a cabecear para a boca da baliza, e aí Pardo foi mais forte e encostou para as redes. Estava materializada em golo a superioridade do Sporting de Braga no terreno, apesar do escasso número de ocasiões claras na segunda metade.
José Mota ainda colocou o possante avançado Simy em campo (ainda fez dois remates nos menos de 10 minutos em que esteve no relvado), mas era muito difícil aos “galos” inverterem o rumo dos acontecimentos. A cinco minutos dos 90, na sequência de um contra-ataque conduzido por Rafa, Salvador rematou para uma grande defesa de Adriano, mas, na recarga, Pedro Santos chutou para o segundo golo, perante os protestos dos gilistas, que alegaram uma pretensa mão do autor do tento na disputa da jogada.
Pedro Santos marcou o segundo golo Fonte: Sporting Clube de Braga
Mesmo antes da expulsão de Luís Silva, o Braga sempre foi a equipa que teve as melhores ocasiões, porém, notou-se demasiado nervosismo e intranquilidade nos homens da casa e nos seus adeptos até à chegada do primeiro golo. Os primeiros 15 minutos da segunda parte são um bom exemplo disso. O Sporting de Braga terminou o encontro com 25 remates, quase metade deles mal direcionados. Aqui dou um especial destaque a Aderlan Santos. O central tentou algumas vezes o remate, mas sempre de muito longe e quando tinha melhores soluções para continuar as jogadas. Hoje os remates do “33” saíram muito tortos e originaram alguns dos muitos assobios que foram audíveis ao longo do jogo no Estádio AXA.
Além de Adriano, destaco a exibição muito positiva de Felipe Pardo, sempre o homem mais esclarecido no ataque da turma de Sérgio Conceição e o que mais vezes ameaçou as redes do guardião gilista, tendo sido mesmo o autor do golo que deu vantagem aos da casa.
Com este resultado, o Braga ascendeu provisoriamente ao quarto lugar, mas pode ser ultrapassado este domingo pelo Belenenses, que jogará em Moreira de Cónegos, e ainda por Sporting ou Paços de Ferreira, que vão medir forças em Alvalade. O Gil Vicente tem apenas três pontos fruto de três empates ao cabo de 10 jornadas e já deve sentir bastante peso na lanterna vermelha que carrega.
A Figura
Adriano – O guarda-redes do Gil Vicente adiou em vários momentos o que acabou por ser inevitável. Esteve a grande nível na defesa das redes gilistas com intervenções seguras aos minutos 12, 40, 62 e 78. No segundo golo ainda faz uma excelente defesa no remate de Agra mas foi impotente para travar o pontapé de Pedro Santos.
O Fora-de-Jogo
Luís Silva – O médio gilista até pode alegar que mal tocou no braço de Ruben Micael na jogada que dá o segundo amarelo, mas não tinha necessidade de dar esse pequeno toque quando o madeirense se aproximava das imediações da área dos “galos”. Viu o primeiro cartão amarelo ao minuto 32 e depois deixou a equipa a jogar com menos um, num terreno muito difícil. Não foi apenas por isto que o Gil Vicente perdeu, mas Luís Silva deveria ter sido mais prudente.
A “Quinta do Buitre” foi muito mais do que quatro jogadores. Foi o Madrid do presidente Mendonça, onde se conta que os jogadores, ou certos jogadores, tinham um mimo especial que se traduziu em chorudos contratos. No entanto, como grupo procedente das camadas inferiores do clube, a Quinta foi também mais do que quatro. Ochotorena era o guarda-redes da equipa da formação e chegou a internacional; Chendo foi o defesa-direito do Real Madrid e da Seleção durante muitos anos além de ser o capitão, até que se cansou do Real. Francis, capitão do Castilla, a equipa da formação, foi um excelente central, que brilhou a grande altura no Espanhol de Barcelona até que as lesões perturbaram a sua carreira. E mais alguns craques que a minha memória não tem presente.
Como grupo mediático estava formado, exclusivamente, por Manolo Sanchis, Rafael Martin Vasquez, Michel e Emílio Butraguenho. O carisma de Butraguenho e César Iglésias do jornal El País batizaram o grupo. Posteriormente lembraram-se de que Miguel Pardeza também era membro de pleno direito. Também como grupo ficou além das suas possibilidades e utopias; tropeçou na Europa com o Milão de Van Basten. No entanto, ganhou o que lhe apeteceu em Espanha e somou duas Taças da UEFA. Evidentemente, estes jovens jogadores foram agasalhados com a aquisição de jogadores como o guarda-redes galego Paco Buyo, o defesa-medio Gordillo ou o goleador mexicano Hugo Sanchez. Em contraposição, este grupo de jogadores foi apelidado a “Quinta dos Machos”.
A Quinta do Buitre
Os entendidos e outros fabricantes de opinião alimentaram debates sobre qual dos membros da Quinta do Buitre sobressaía em relação aos restantes; um número considerável de opiniões situou o centrocampista Rafael Martin Vasquez como o vértice de qualidade do grupo. Possivelmente, Martin Vasquez reuniu um somando de qualidades superiores aos restantes, mas este grupo teve um jogador que enchia todas as medidas e todas as importâncias dentro de um relvado: chamava-se Manolo Sanchis. Foi um médio reconvertido a defesa-central. Foi o capitão, depois de Chendo entregar a braçadeira, e foi o único que levantou a Taça da Europa. Para ser defesa-central não era muito alto mas tinha uma excelente técnica e saía com a bola jogada como um craque. Também não posso esquecer um dos jogadores paralelos desta mediática Quinta. Não me posso esquecer do extraordinário marcador que foi o defesa-direito Chendo. O futebol pode ser belo a atacar e a defender.
Além de ter a má ventura de tropeçar com o Milão de Van Basten, esta geração recebeu várias críticas pela carência da Taça da Europa. Mendonça, o Presidente da Quinta, foi acusado de os tratar à base de docinhos e miminhos bem traduzidos em cifrões. Não sei, nunca se poderá saber, mas parece-me que eram excelentes; no entanto, nunca possuíram a excelência do Milão de Van Basten. Ser segundos no mundo da alta competição muitas vezes é considerado uma derrota; eu discordo deste tipo de avaliações. O Brasil do Sócrates que disputou o Mundial de Espanha foi eliminado; no entanto, ainda hoje é recordado pela sua beleza e qualidade.
Resta recordar que o treinador que os começou a introduzir na primeira equipa do Real Madrid foi e chamou-se Alfredo Di Stéfano.
Chegou ao Porto azul e branco um argelino, tecnicista veloz, que “rebentou” no Granada antes de incendiar o Dragão com a sua chama inebriante. Yacine Brahimi de seu nome. Seus pés o apresentam, sua cabeça o guia, recebe, pensa, faz magia. A contenção da sua explosão é sofrível; por favor explode, jogador temível.
O seu engenho leva ao rubro os portistas, que admiram a sua habilidade e destreza pungente para com as defensivas contrárias. Este jogador é merecedor de um artigo em forma de ode estilo camoniana ao seu inefável talento. Não julguem que estou a enveredar por um panegírico desmedido e descabido – neste caso, a hipérbole não é exagero, é a medida certa. Nele, o instinto selvagem torna-se matemática, ciência exacta, inteligência prática. Brahimi é a personificação das sinuosidades: com o seu drible quebra o aborrecimento linear do jogo, transforma em golo o previsível, subverte o plausível, estilhaça, com um chuto, o código indestrutível.
Este meu tom laudatório para com este excelso futebolista transparece toda a admiração e prazer que sinto quando presencio o seu jogo, as suas acções autodidactas e os seus “diálogos” com a equipa que são um deleite. Em apenas dois meses de riscas azuis e brancas ao peito, a massa adepta já o deseja imperecível. Por favor, que a “lei da morte não se aplique a Brahimi”, gritam, em súplica fervorosa, os dragões que o amam.
Brahimi está a ser o grande jogador do FC Porto neste início de temporada Fonte: footmercato.net
Nesta última semana resolveu dois jogos a favor do Futebol Clube do Porto. Na partida contra o Nacional, tabelou com um colega e niilistamente rematou, perante a “inexistência” de dois adversários por perto. No País Basco, marcou um golo e assistiu, numa arrancada estonteante, colocando o Porto nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. É justo relevar a sua importância para o bom momento do Porto: tem sido o jogador mais procurado e eficaz na criação de desequilíbrios, o melhor da equipa, sem dúvida, neste arranque de época.
Vai ser doloroso para os adeptos, também para os apreciadores de futebol e quem sabe para a equipa, não poder contar com o seu virtuosismo indescritível entre Janeiro e Fevereiro, período da Taça das Nações Africanas de 2015 (se tal competição não for, entretanto, suspensa, devido à propagação do Ébola). O Porto, com o excelente conjunto de extremos que tem, poderá não sentir muito a sua partida para terras africanas. Mesmo que o mês de ausência de Brahimi em África não seja tortuoso para as hostes portistas, mesmo que a sua ausência não seja “sebastianicamente” excruciante, o universo portista ansiará pela “embrumada manhã” do seu regresso à invicta.
Afirmo que, quando lemos ou escrevemos algo sobre Yacine Brahimi, não estamos defronte artigos de análise futebolística, mas sim, perante uma exegese bíblica.
Os últimos resultados da equipa B do Sporting na Liga 2 expuseram, da forma mais clara possível, um problema que mora no seio deste conjunto desde o início da temporada.
O problema diagnosticado dá-se pelo nome de “défice organizacional”, e, atingiu o seu expoente máximo numa derrota expressiva (5-0) diante do Atlético Clube de Portugal, na última jornada da Segunda Liga nacional.
Em treze jornadas que o Sporting B disputou na Liga 2, já estiveram entre os convocados cerca de quarenta jogadores. Por entre este batalhão de futebolistas verificamos a existência de três tipos de atletas: os da equipa A, que não contam para Marco Silva, os excendentários para os quais não foi possível arranjar colocação, os jogadores realmente da equipa B e os jogadores que mais dão nas vistas nos juniores. Ora esta situação, obviamente, não deveria acontecer, e, terá de ser resolvida o mais rapidamente possível.
A equipa B terá de funcionar como um fase de transição entre a equipa de juniores e o plantel principal, e não como um depósito de jogadores em relação aos quais não há esperança. A irregularidade que se nota em cada onze inicial desta equipa, semana após semana, provoca uma total desmotivação nestes atletas, fruto de uma ausência de objectividade crescente. Perante esta situação começa-se a reparar na existência de muito talento estagnado nesta equipa B do Sporting, o que, a meu ver, é algo extremamente preocupante num clube que nos orgulha pelo grande sucesso da sua aposta na formação.
Apesar deste grande problema que aqui exponho, acredito piamente que haverá soluções que poderão ser executadas, com maior ou menor facilidade, já a partir de Janeiro, de forma a poder respirar-se saúde no Stadium Aurélio Pereira, a saber:
Solução nº 1- A mudança de treinador. A época começou com Francisco Barão como treinador, mas cedo se percebeu que, apesar do seu sportinguismo, não seria, nem por sombras, o nome indicado para liderar esta equipa. A solução foi João de Deus. Sinceramente também não me parece a solução mais viável, pois João de Deus não possui cultura de Sporting nem nunca deu provas sequer de poder representar com sucesso a maior instituição desportiva do nosso país. O homem indicado para este lugar terá de ser alguém que transmita com facilidade a estes jovens o que é o Sporting, o que significa representar este clube e que lhes mostre o orgulho e o espírito leonino. O homem ideal? Sem dúvida, Ricardo Sá Pinto. Porém, como sabemos, Ricardo “Coração de Leão” está a fazer um bom trabalho no Atromitos na Liga Grega, pelo que o seu regresso para comandar a equipa B seria praticamente impossível. Perante esta impossibilidade o nome de Pedro Barbosa parece-me encaixar-se que nem uma luva neste papel. O antigo capitão leonino tem o curso de treinador concluído, e, melhor do que ninguém, sabe o que é a magia de representar e viver o Sporting Clube de Portugal.
Pedro Barbosa, a escolha acertada para liderar a Equipa B Fonte: SuperSporting.Net
Solução nº 2- Os jogadores da equipa A são para ficar na equipa A e não para entupir o plantel da B. Jogadores como Ramy Rabia, Simeon Slavchev, Ryan Gauld, André Geraldes e Hadi Sacko, a meu ver, não deveriam integrar o plantel secundário do Sporting. Estes nomes foram contratados com o intuito de fazer parte da equipa principal dos “Leões”, logo, se quiserem fazer parte das contas de Marco Silva, terão de se esforçar mais para fazer valer o dinheiro investido nas suas contratações e merecerem uma oportunidade na equipa principal. Num plantel com cerca de 25 jogadores, como é óbvio, nem todos podem ser convocados. Os não-convocados terão de se contentar em ver o jogo na bancada e não competir nesse fim-de-semana. A equipa B não é um abrigo para os excendentários. Caso não se veja capacidade nestes jogadores para assumir um papel activo na equipa principal, o empréstimo ou a saída definitiva terá de ser a solução. Gauld e Slavchev terão de rodar na Primeira Liga a partir de Janeiro, enquanto Geraldes foi uma contratação desnecessária e a porta da saída definitiva parece-me ser a solução mais viável. Já Rabia tem feito exibições desastrosas pela equipa B, porém, regressa de lesão grave, pelo que lhe deveremos dar o benefício da dúvida. O egípcio deverá ser integrado no plantel A, trabalhar afincadamente e esperar a sua oportunidade num plantel principal em que a qualidade da zona central da defesa não abunda.
Slavchev é um dos jogadores a emprestar Fonte: A Bola
Solução nº 3- Os atletas que militam na equipa B há mais de 2 anos ou que depois de cedência temporária (a equipas primo-divisionárias) voltaram a integrar a equipa B terão de sair por empréstimo (se mostrarem qualidade para servir o Sporting) ou mesmo definitivamente (se não tiverem qualidade para representar o clube). A meu ver, na equipa B de um clube, nenhum atleta poderá jogar por mais de 2 anos, para evitar a estagnação da evolução do futebolista. Se por outro lado, o atleta já tiver sido emprestado a um clube de divisões superiores, não me parece que faça sentido a sua inclusão no plantel B do Sporting. No Sporting B existem alguns casos nestes moldes:
– Ricardo Esgaio está há 3 anos no plantel secundário do Sporting. Teve ao longo dessas 3 épocas algumas oportunidades na equipa A, porém, neste momento, encontra-se tapado devido ao regresso de Miguel Lopes. Trata-se de um grande talento do futebol nacional, e, sem dúvida alguma, que qualquer clube da Primeira Liga gostaria de contar com os seus serviços por empréstimo. É urgente colocar este rapaz a rodar ao mais alto nível. Ou isso ou estagnará.
– Nuno Reis, quase a completar 24 (!!!) anos de vida, passeia alternadamente desde 2010 pelo Sporting B, Cercle de Brugge e Olhanense. Várias vezes me questiono sobre se isto tem algum cabimento. Reconheço qualidade a este jogador, mas claramente estancou devido a tanto percalço no seu percurso. Este atleta acaba o contrato no final da presente época e não me parece que vá renovar contrato. Com quase ¼ de século de vida, não faz sentido este rapaz continuar na equipa B do Sporting. Se não é aposta, nem existe a intenção de renovar o seu contrato, dispensem-no.
– Seejou King cumpre a sua terceira época no plantel secundário do Sporting. O dinamarquês, de ascendência gambiana, deu muito boas indicações na sua primeira época no Sporting B (por empréstimo do Nordsjaelland) levando mesmo o clube a adquirir o seu passe. A partir daí foi sempre a cair. King desceu de qualidade na época transacta e este ano não tem sido aposta. Tem contrato até 2016, mas não me parece ter qualidade para servir o Sporting. Terá de ser dispensado o mais rápido possível.
– Mica Pinto é um jogador de inegável qualidade, presença assídua nas selecções jovens de Portugal, mas também já está parado na equipa B há 3 anos. Já não faz sentido. Mica tem qualidade para vir a integrar o plantel principal do Sporting, mas para isso tem de dar o salto e rodar a título de empréstimo numa equipa da primeira divisão. Interessados não vão faltar.
– Fabrice Fokobo é um estranho caso. De aposta de Jesualdo Ferreira na fatídica época de 2012/2013 (com alguma qualidade sempre que foi chamado), passou a um jogador apagado na equipa B do Sporting. Apesar da sua queda, parece-me que ainda pode sair algo deste jogador. A sua força bruta na posição de trinco pode ser uma boa arma para equipas que lutam para não descer na Primeira Liga.
– Iuri Medeiros, como todos já percebemos, tem um talento inato. Um talento grande demais para a Liga 2. Se tal ainda não fosse um dado adquirido, as suas exibições nos Sub-21 de Rui Jorge dissiparam todas as dúvidas. Tapado por Nani, Carrillo, Capel, Mané e Héldon, o jovem açoriano terá de rodar na principal liga nacional. Com a sua técnica, velocidade e repentismo, pode ser uma forte arma para qualquer equipa da Liga Portuguesa. A meu ver, um dos atletas que têm mais facilidade em arranjar colocação. Precisa de dar o salto urgentemente.
– Salim Cissé, no meu entender, foi uma contratação falhada. Está a entupir o plantel B do Sporting. Já se percebeu que não há colocação para este jogador pois a tentativa foi feita ao longo de todo o defeso, sem sucesso. Depois de um empréstimo inconsequente ao Arouca, penso que a solução passa por uma rescisão de contrato ou colocação definitiva a troco de percentagens de uma próxima venda.
Iuri Medeiros é um dos jovens leoninos a precisar de dar “o salto” Fonte: O Jogo
Soluções nº 4- Os jogadores com idade de júnior devem integrar a equipa júnior do Sporting Clube de Portugal. A evolução de um jovem jogador deve ser sustentada. Se existe talento na equipa B para quê estar a desfalcar a equipa júnior? Os melhores juniores terão a sua oportunidade na equipa B (ou mesmo A) na próxima época. Não existe necessidade de acelerar demasiado os processos. Trazer Gelson Martins ou Matheus Pereira para a equipa B deixa os juniores sem dois dos seus maiores trunfos, e mais vulnerável aos maus resultados que têm vindo a acontecer durante esta época. Ao contrário do que se diz, o Sporting não tem uma má equipa de juniores, mas precisa de consistência e estabilidade. Se estivermos constantemente a “roubar” os melhores juniores para a equipa B, continuaremos a perder com equipas fracas no Campeonato Nacional de Juniores e a ser goleados na Youth League. Tanto a equipa B, como a equipa de juniores, para atingirem bons resultados, precisam de um plantel fixo, sem constantes revoluções.
Gelson Martins vem jogando pela Equipa B e pelos Juniores Fonte: A Bola
Isto não pode acontecer no Sporting. É urgente dispensar, emprestar, criar um núcleo de cerca de 20 jogadores de equipa B (podendo em casos pontuais ser incluído um junior numa ou outra convocatória), e dar estabilidade à equipa sub-19 para que os resultados possam aparecer quer na B, quer nos juniores.
Temos a melhor formação do mundo. Temos de ter resultados e há condições para isso. As soluções para tal são óbvias, estão à vista, e não tenho dúvidas de que a competência da nossa direcção nos irá levar ao caminho correcto para que se elimine de vez este défice organizacional no seio da equipa B.