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Sporting-Nacional: uma excelente arbitragem

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sextoviolino

Não vou falar do jogo, que foi um dos menos conseguidos deste novo Sporting, apesar de termos feito o suficiente para ganhar. Também não vou falar da elegância de William Carvalho, da inteligência de Adrien ou do facto de o Sporting ter conseguido estabilizar a defesa ao ponto de já não sofrer golos há mais de 450 minutos. Muito menos criticarei este ou aquele jogador por ter tido pequenas falhas aqui ou ali, porque não foi por causa disso que não ganhámos e porque é sempre mais fácil falar a posteriori.

Hoje, falarei da excelente arbitragem a que pudemos assistir no jogo de Alvalade. E digo excelente porque foi uma arbitragem que foi ao encontro das pretensões do status quo do futebol português. Não é verdade que, por norma, algo que agrada à maioria das pessoas é considerado positivo? Admitindo que sim, o trabalho de Manuel Mota no Sporting-Nacional não podia ter sido melhor, pois teve o condão de agradar tanto a benfiquistas como a portistas. Ontem, no estádio, praticamente conseguia senti-los agarrados às rádios e televisões na esperança de um tropeção do Sporting, fosse de que maneira fosse. É sempre curioso observar a forma como adeptos de dois clubes desavindos se unem para festejar um empate fraudulento do Nacional em Alvalade e para branquear o que ontem se passou, inventando uma falta do Montero para justificar a irregularidade do golo com a mesma facilidade e desfaçatez com que os árbitros marcam um penalti fantasma sobre o Jackson ou validam um golo em offside ao Lima. Uns (ainda) detêm o controlo do futebol português; os outros ambicionam-lhes o lugar, e fazem da vitimização bacoca a principal forma de tentarem esconder aquilo que é óbvio: são ambos farinha do mesmo saco. Talvez seja por isso que se dão tão mal. Afinal, não consta que o despotismo aprecie divisões de poder.

Penso que quem acredita em que a arbitragem de ontem foi apenas fruto de um dia mau de Manuel Mota ou é extremamente ingénuo, ou é adepto dos rivais. A verdade é que, na próxima jornada, há um Benfica-Porto, pelo que os responsáveis dessas duas equipas não podiam correr o risco de perder o jogo e ficar a cinco pontos do líder. Desta forma, atrasar o Sporting foi a estratégia mais eficaz, e, sem dúvida, do agrado de ambas as partes. Como disse Bruno de Carvalho, depois do jogo, estes dois pontos que os rivais ontem ganharam em Alvalade farão certamente dos presidentes de Porto e Benfica os melhores do mundo. Sobretudo para Luís Filipe Vieira, que já começa a ser alvo de tímidos focos de contestação, o empate do Sporting terá sido um importante balão de oxigénio. Mas o certo é que o Sporting, mesmo prejudicado e sem os mesmos meios à disposição, não desarma. Segundo um trabalho recente do jornal A Bola, o total gasto por Porto e Benfica na construção do actual plantel ronda os 96M€, ao passo que o Sporting gastou pouco mais de 16M€. Por muito obscenas que sejam as quantias que envolvem o futebol, esta realidade põe a descoberto a total diferença de capacidade financeira de Porto e Benfica face ao Sporting. O Porto tem mesmo um jogador (Danilo) que custou, ele sozinho, mais do que a nossa equipa toda.

Querem fazer de nós candidatos à força. Se já seria difícil sermos campeões, tendo em conta as enormes diferenças orçamentais, ainda mais difícil se torna quando o mais frágil dos três grandes é prejudicado. Continuo a dizer que o terceiro lugar é o objectivo mais realista do Sporting para esta época, e alegra-me ver que estamos no bom caminho para o alcançar. Mas não deixa de ser engraçado ver o Porto e o Benfica com enormes dificuldades em superar a nossa equipa, e os seus adeptos a festejarem resultados mentirosos como o de ontem. Muito me orgulha o facto de uma equipa que, há poucos meses, atingiu a sua pior classificação da História já incomodar de novo tanta gente. Muitos adeptos rivais com quem falo dizem que os sportinguistas têm a mania da perseguição, que nos estamos sempre a queixar, que nos lembramos de coisas incríveis e sem importância, que tudo isto são teorias da conspiração. Pudera. O dia em que nos derem razão será o dia em que começarei a questionar se esta está realmente do nosso lado. Até lá, vamos continuar a dizer o que achamos que deve ser dito – e que, não raras vezes, os jornais omitem. Sei que estamos do lado certo.

No Algarve joga-se excelente futebol e Faro é a capital

cab reportagens bola na rede

Em Faro deu-se hoje um jogo equilibrado, repartido, quente dentro e fora das quatro linhas. Dentro de campo, a capital algarvia recebeu uma excelente amostra do que são os conjuntos algarvios da 2.ª liga portuguesa. Fora dele, mais do mesmo para os que andam atentos: a paixão pelo futebol continua bem viva em Faro; Portimão parece também envolvido na até agora excelente campanha da sua equipa e esgotou o sector que lhes foi destinado; a organização policial é que vai deixando a desejar.

O jogo estava marcado para as 15h mas começou bem antes disso. Sem bola e fora de campo, deram-se vários confrontos entre as forças policiais e alguns adeptos nos arredores do estádio. A rivalidade entre os dois emblemas fazia antever dificuldades para a PSP mas houve a sensação de que os confrontos poderiam ter sido evitados com outra organização: os autocarros dos adeptos afectos ao clube de Portimão, quando chegaram, passaram exactamente em frente à concentração dos membros da claque do Farense, os South Side Boys. Apesar de em época natalícia, o clima em Faro fez lembrar o de pleno Verão: quente, muito quente.

Confrontos entre a polícia e adeptos, antes do encontro / Fonte: Portugal Tifo
Confrontos entre a polícia e adeptos, antes do encontro / Fonte: Portugal Tifo

Os ingredientes para um jogo fervoroso estavam presentes e foi mesmo isso que aconteceu. A jogar em casa, o Farense entrou melhor e não demorou a colocar-se em vantagem. De cabeça, o baixinho Matias inaugurou o marcador e colocou o líder do campeonato em posição de desvantagem. O Portimonense reagiu ao golo sofrido mas com algum azar – enviou uma bola ao poste – não chegou ao empate. Contudo, durou pouco a supremacia territorial que ia exercendo. Seguro atrás e inspirado pelos quatro da frente, o Farense mostrou-se quase sempre mais perigoso na primeira parte, em que ainda viria a fazer o 2-0. Antes, nova bola no poste. Desta vez, do conjunto da casa, e novamente de cabeça. Depois, numa boa jogada de Matias a colocar em Rambé que, com um excelente cruzamento de primeira, colocou a bola em Ibukun que só teve de encostar. Um golaço do Farense a mostrar que também há bom futebol na 2ª liga portuguesa.

A primeira parte terminou com alguma confusão, com a equipa de arbitragem liderada por Carlos Xistra e os seguranças presentes a ter de intervir de forma a evitar males maiores. Na segunda, novo jogo. O Portimonense surgiu mais esclarecido e obrigou o Farense a descer no terreno. Aos 64 minutos, o japonês Mu Kanazaki reduziu para 2-1 e deixou a decisão para os últimos 20 minutos. Jorge Paixão, o treinador do Farense, foi mexendo na equipa mas não conferiu maior segurança aos que estavam em campo. Aos 89 minutos, Carlos Xistra mostrou ainda o segundo amarelo a Ibukun mas nem assim o Farense deixou fugir os três pontos. O resultado foi incerto até final, com o guarda-redes de Portimão a subir até à área contrária no último canto do jogo, mas justo. Em termos gerais, o Farense mereceu a vitória.

Fotografia Bola na Rede: Os South Side Boys nunca pararam de apoiar a equipa da casa
Fotografia Bola na Rede: Os South Side Boys nunca pararam de apoiar a equipa da casa

No topo da classificação as coisas pouco mudaram. Portimonense continua 1.º, com um ponto de avanço sobre o Moreirense. O Farense subiu ao 12º, mas está apenas a cinco pontos da posição de acesso ao Play-Off de Promoção à Liga Zon Sagres.

Em casa é que que se está bem

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Bem podia ser uma alusão ao frio que se faz sentir em Portugal – em especial no norte do país, mas não. Refiro-me, isso sim, à prestação do Athletic club de Bilbao na Liga Espanhola na temporada 2013/2014.

Na verdade, o novo estádio do Athletic Bilbao – San Mamés – tem-se revelado uma verdadeira muralha para os adversários: Os bascos têm 7 vitórias e 2 empates nos 9 jogos realizados para a Liga BBVA. Com a vitória desta noite frente ao Rayo Vallecano, os bascos perfazem um total de 17 golos marcados e apenas 8 sofridos em casa, é fácil perceber a razão do Athletic se encontrar atualmente na 4a posição com 33 pontos – somente a 5 pontos do Real Madrid de Cristiano Ronaldo e Gareth Bale (os merengues têm, contudo, um jogo a menos).

Mas há ainda mais mérito no trabalho deste histórico clube basco ao verificarmos que todos os 25 jogadores que compõem o plantel são espanhóis – quase todos nascidos no país basco -, sem exceção.

Essa é, aliás, uma das filosofias do clube, que tem no seu historial 8 Ligas de Espanha, 23 Copas Del Rey e uma Supercopa de Espanha.

O futebol dos bascos é frio e agressivo. Apoiado numa estrutura sólida e onde impera uma constante disponibilidade para ajudar o companheiro mais próximo, o Athletic evidencia uma grande propensão ofensiva nos jogos em casa, optando nos jogos fora por uma tática de maior contenção.

O canto do cisne no San Mamés aconteceu no dia 1 de dezembro frente ao Barcelona: ao minuto 70, o avançado de 21 anos Iker Muniain marcava o golo da vitória dos bascos e confirmava a primeira derrota dos catalães na presente época.

O Athletic levou a melhor sobre o Barcelona Fonte: http://a.espncdn.com
O Athletic levou a melhor sobre o Barcelona
Fonte: http://a.espncdn.com

Muito do mérito deste magnífico início de época deve-se ao experiente treinador Ernesto Valverde – que sucedeu ao carismático Marcelo Bielsa. O técnico espanhol teve passagens por Espanhol, Valência, Olympiacos e Villarreal, onde acumulou uma vasta experiência. Curiosamente, Valverde foi jogador do Athletic durante 6 épocas (de 1990 a 1996), o que demonstra uma clara perceção das ideologias e da responsabilidade de representar o clube basco.

É necessário sublinhar que o Athletic perdeu no verão passado a sua maior figura dos últimos anos: Fernando Llorente, que se transferiu a custo zero para a Juventus. O goleador espanhol de 28 anos estava no clube desde 1996 (!), isto é. 18 temporadas a servir o clube (desde os escalões de formação).

Quanto ao Athletic club de Bilbao, resta saber se esta invencibilidade em casa se vai tornar uma tradição para ao resto da época. O próximo jogo no San Mames é no dia 12 de Janeiro de 2014 frente ao Almería. Em caso de vitória, os adeptos do Athletic podem começar a sonhar com um lugar europeu. E bem merecem.

A Metamorfose de Carlos Eduardo

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No início de cada época, treinadores, jogadores e até adeptos tendem sempre a falar do célebre “período de adaptação” para as novas caras da equipa. Cá para mim, isso é apenas uma forma para aqueles que apostaram nesses novos jogadores terem uma maneira de poderem fugir a um provável insucesso, no caso de esse atleta não corresponder àquilo que se esperava dele. A razão mais óbvia, para eles, é a de que o jogador ainda não se adaptou ao novo clube, aos novos colegas e ao novo futebol.

Bem sei que existem diferenças entre jogar no Brasil ou em Portugal, como naturalmente existem diferenças entre treinar o Paços de Ferreira e o FC Porto. Contudo, para mim, quando existe qualidade, essa existe em qualquer lado, do norte ao sul de um país, seja ele qual for. Esta introdução serviu basicamente para explicar que, olhando para as aquisições desta temporada do FC Porto, esse argumento não podia ser usado em grande parte dos jogadores, porque estes já atuavam no nosso campeonato. É certo que Herrera ou Quintero chegaram de paraquedas a Portugal, mas jogadores como Ricardo, Licá, Ghilas e Carlos Eduardo já sabiam os terrenos que iam ocupar.

Não foi por acaso que falei de Hector Herrera e Juan Quintero: com as saídas de João Moutinho e James Rodriguez, o mexicano e o colombiano pareciam ser os sucessores naturais dos ex-FC Porto, até pelo valor que os portistas investiram neles. No meio campo, Defour, Josué e Herrera foram as três opções que Paulo Fonseca usou para tentar encontrar um substituto para Moutinho. Missão impossível, pois claro. Como Moutinho possivelmente só Xavi, e esse joga na Catalunha. Não era preciso, portanto, ser muito entendido para perceber que era fundamental colocar o FC Porto a jogar de forma diferente no que dizia respeito ao meio campo. Era preciso um jogador que desse intensidade, rapidez e poder de decisão no último passe.

Não vou voltar à questão do duplo pivot, até porque acho que Fonseca já a abandonou. Falo apenas das hipóteses que o treinador quis inventar, mas que não deram resultado. Os resultados não apareciam e as exibições estavam longe de agradar. Tudo isto, até ao minuto 45 do jogo contra o Sp. Braga. Ao intervalo, Lucho Gonzalez saía lesionado para dar o lugar a Carlos Eduardo. O médio brasileiro, ex-Estoril, tinha dado na pré-época excelentes indicadores de que poderia ser uma aposta válida para o decorrer da época. Sem se perceber como, não foi inscrito na Liga dos Campeões e não foi aparecendo nas convocatórias de Fonseca, depois daquele intervalo contra os bracarenses. Chamei-lhe “A Metamorfose de Carlos Eduardo”, e não me parece que haja melhor descrição para o que temos visto nos últimos jogos do tricampeão.

Podem dizer-me que um jogador não faz uma equipa. É verdade. Podem dizer-me que o coletivo tem de ser mais do que a soma das individualidades. É verdade também. Mas olhando para este FC Porto, parece que esta metamorfose assinada pelo brasileiro contagiou todos os seus colegas: a defesa deixou praticamente de cometer erros infantis, Fernando parece outro em campo, Varela anda mais solto nas alas e até Jackson faz mais golos. Coincidência? Não acredito muito nisso.

A sorte procura-se, e Carlos Eduardo procurou-a. Primeiro na equipa B e agora como indiscutível no onze de Paulo Fonseca. Já há quem o compare a um tal de Deco, que, se bem se lembra, foi dos melhores naquela posição a atuar nos azuis e brancos. O futebol é um desporto de exageros, onde as metamorfoses aparecem a cada jogo decorrido.

Todavia, algo é indiscutível: este FC Porto não é o mesmo desde Carlos Eduardo. Permita-me que afirme que há um antes e um depois do brasileiro, e que os resultados não são apenas meras coincidências desse facto. Com magia em cada movimento que faz, e inteligência dos pés à cabeça, é já complicado tentar fazer um onze inicial sem Carlos Eduardo. Coincidência? Não acredito muito nisso. Eu chamo-lhe metamorfose.

É Natal, é Natal, tudo está igual

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O ano civil vai terminar sem que a primeira volta do campeonato esteja concluída – na verdade, vem aí uma super-jornada, com embates directos entre os quatro primeiros classificados da tabela classificativa. Por isso mesmo, face à quantidade de partidas que há ainda por jogar, volto a não considerar essencial ter em conta os critérios de desempate da igualdade de pontos que coloca os três grandes na “pole position”. Vermelhos, verdes e azuis somaram dez vitórias, três empates e uma derrota e por isso se encontram os três com 33 pontos no topo da tabela classificativa. Chegámos ao Natal e tudo está igual.

Tabela Classificativa
Tabela Classificativa

Fujamos agora da tabela e olhemos para o futebol. Será que em relação ao ano passado a única coisa que falta ao Benfica são três pontos? Venha de lá esse grande “não”. Se olharmos então para esta recta final do ano, o Benfica tem vindo a mostrar-se cada vez mais pobre. Depois de um jogo sem especial encanto em Vila do Conde, os encarnados fizeram um jogo miserável contra o Arouca e outro igual contra o Olhanense (de notar que em ambos os jogos o Benfica se encontrou a perder e a correr contra o prejuízo por duas ocasiões em cada partida), e para acabar, o futebol praticado no Bonfim põe-nos a pensar sobre se o Benfica está a lutar pela primeira metade da tabela classificativa. Numa equipa em que Rodrigo e Lima têm a obrigação de substituir Cardozo com eficácia; em que Sulejmani, Markovic ou Gaitán devem responder com criatividade à sombra de Salvio; em que o eixo da defesa é fixo e devia já jogar de olhos fechados; e em que Matic e Enzo são já raízes da estrutura, como é que as ideias de jogo são tão poucas ou nenhumas? Como é que o Benfica não sai para o contra-ataque de forma mortífera como acontecia o ano passado se há quem distribua no meio e quem seja capaz de desequilibrar na frente? Como é que o Benfica não faz um remate à baliza na primeira parte em Setúbal? O mercado de Inverno, a montra milionária e o castigo aplicado a Jesus não desculpam as fracas exibições nem podem afectar a motivação de profissionais do futebol do 15º plantel mais valioso do Mundo.

Não seja esta análise indiciadora de que acho que o Benfica está pelo referido acima injustamente no primeiro lugar. À semelhança dos rivais, o Benfica encontra-se na frente, mas isso pouco indica. Na verdade, ao invés de um percurso vincado que resultasse na posição que ocupam na tabela, a igualdade pontual entre os três mostra sim falta de argumentos que justifiquem maiores discrepâncias nesta altura. Não esquecendo que as armas com que o Sporting atacou o campeonato são diferentes das utilizadas por Benfica e Porto, falta um clique, uma resposta colectiva, uma coesão una que permita a uma das equipas iniciar uma fuga em direcção ao título, coisa que até agora não aconteceu.

Mais uma vez não esquecendo que a primeira volta não está terminada, acredito que a segunda ronda vai ter características completamente diferentes: Benfica e Porto fora da Liga dos Campeões mas com compromissos europeus, ainda assim; Sporting manifestamente candidato ao título; Porto com o trono dos últimos anos ameaçado e com uma equipa técnica pouco firme.

Sirva este Natal para que os treinadores pensem na forma como vão atacar 2014. Pela proximidade que tem ao presépio, que seja Jesus o feliz iluminado.

Jogadores que Admiro #8 – Ronaldo, o Fenómeno

jogadoresqueadmiro

Nunca gostei de máquinas enfiadas nos corpos de quem se movimenta pelos campos de futebol. Máquinas perfeitamente trabalhadas e afinadas para exemplarmente desempenharem o seu papel pelo gramado. Auto-programação técnica, auto-programação táctica, auto-programação técnico-táctica… Improviso zero, jogadas aprendidas num intenso estudo pelos grandes livros do futebol – mas há algum livro que ensine o futebol? Futebol de estatísticas, xadrez táctico, x remates, y cantos, z passes completos. Se isto, aquilo. Pouco prego a fundo pela estrada do génio e da loucura e sempre muita cautela, piscas, retrovisores. Obrigações do futebol moderno, porventura. Valha-nos o diabo do Di María, a saudade do Zidane, o gozo do Gaúcho ou a soberba de Riquelme.

Sou Ronaldo
Muito prazer em conhecer
Eu sou Fenômeno
Ronaldo Nazário dos Campos

Ronaldo, o verdadeiro, o primeiro, a extensão do povo brasileiro no relvado. Futebol no seu estado mais puro, futebol inventado, futebol pensado no microssegundo. Ronaldo interpretou-o na perfeição. Contrariava as jogadas pensadas por quem assistia ao jogo, escolhia sempre o mais difícil. É esse o dom dos génios. O mais fácil e mais óbvio é tão mais fácil e tão óbvio que nem os preenche. Precisam da pedalada, do calcanhar e da vírgula para irem felizes para casa. Por isso é que falham mais, mas a memória do adepto é excepcional e guarda só o que é bom de se guardar. Quantos de nós não quisemos ser – e fomos até, nem que fosse na inocência de criança – Ronaldo no pátio da escola? Imitar o que víamos o gordo fazer pela televisão. Fascinava-me toda aquela superioridade do Ronaldo em relação aos adversários. Como podia um homem só ser tão mais rápido e ter tanta mais técnica do que aquele que lhe ousava tentar tirar a bola? Só tentar, porque o dono dela era Ronaldo.

Ronaldo, o Fenómeno
Ronaldo, o Fenómeno / Fonte: futebolpiada.com.br

Também não gosto de misturar números quando se fala de génios que os nossos olhos tiveram o prazer de poder ver. Duas Bolas de Ouro e 352 golos entre Cruzeiro, PSV, Barcelona, Inter, Real Madrid, AC Milan e Corinthians. 67 pela canarinha, a quem deu uma Copa. Esta coisa de ter nascido em 1992 tem as suas desvantagens. O melhor do melhor de Ronaldo – Barcelona e Inter – só mesmo pelo Youtube. Foi por alturas do Mundial de 2002 que estranhei a presença de um extraterrestre, perdão, jogador muito melhor do que os outros. Nesse mesmo verão chegou a Madrid para se juntar a Zidane, Figo e Raúl e formar uma orquestra, perdão, equipa muito melhor do que as outras. Infelizmente, teve um prazo de vida muito curto porque rapidamente passou de orquestra a circo.

Muitos criticaram o excesso de peso do Fenómeno. Muitos o deram como acabado em 1999, quando o mesmo joelho lhe pregou duas partidas seguidas. Outros tantos queriam afastá-lo para Romário ter espaço. Pobres de espírito que, em vez de se deleitarem com um dos melhores jogadores que este desporto viu, lhe viram o fim sempre tão próximo. Porque as arrancadas, o gozo ao adversário e a condução de bola nunca caberão em palavras, nada melhor do que 16 minutos que nos levam à infância e nos fazem lembrar o porquê de gostarmos tanto disto:

O triunfo dos esforçados

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cab ténis

Depois de na semana passada ter falado sobre os talentos do ténis, esta semana vou dar o lugar aos esforçados. Aqueles que, não sendo prodígios da modalidade, trabalharam diariamente e lutaram para chegar onde chegaram; e felizmente hoje em dia temos bons e vários exemplos desse tipo de tenistas bem classificados.

É indissociável falarmos de tenistas esforçados e não falarmos de David Ferrer. O nº3 do ranking mundial ATP é o exemplo máximo de alguém que, não tendo nenhum talento em especial, conseguiu atingir um nível de trabalho e de capacidade de sacrifício que lhe permitiu chegar onde está actualmente.
Pessoalmente, considero que é impossível não simpatizar com Ferrer. O “patinho feio” da armada espanhola não é o mais bonito nem veste roupa das melhores marcas, mas está à frente de Murray e Federer no ranking mundial, e ver o seu jogo é sinónimo de ver um jogo certinho, tecnicamente limpo, bem disputado, e sobretudo aguerrido, sem nunca desistir do ponto, sem dar um ponto por perdido – e isso motiva não só quem está do outro lado como também quem assiste, tendo a possibilidade de ver quase sempre um encontro longo, tacticamente pensado, no qual o protagonista coloca tudo o que tem em campo.

tenis
Stanislas Wawrinka
Fonte: ABC

Dentro do top10 do ranking mundial podemos também falar de Stanislas Wawrinka; o segundo melhor suíço da classificação do ténis sempre viveu à sombra de Roger Federer, mas parece que o decréscimo do “number one” coincidiu com a melhoria de forma de Wawrinka.

O suíço que deixou a mulher e a filha para se dedicar exclusivamente ao ténis tem nesta história de vida a tónica para uma carreira que tem estado em crescimento e que proporcionou já à História do ténis duelos épicos como o encontro a cinco set’s frente a Novak Djokovic, no Austrália Open, que terminou com um 12/10 ao fim de cinco horas. Wawrinka não é também o tenista mais talentoso do mundo, apesar de ter uma das esquerdas a uma mão mais bonitas do circuito, mas, fruto do seu empenho em relação à modalidade, conseguiu melhorar o seu jogo, sendo actualmente um tenista mais sólido e mais coeso ao longo de todo o seu jogo.
Stanislas Wawrinka tem já no currículo uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, em Pares, ao lado de Roger Federer. Fosse Wawrinka mais novo e a Suíça teria um tenista de top para garantir a continuidade do país no top10 do ranking mundial. Ainda assim, Stanislas Wawrinka está a atravessar a melhor fase da sua carreira e poderão chegar mais alegrias para os seus adeptos.

Mais uma vez, e estabelecendo um paralelismo com Portugal, Frederico Gil é um tenista que, não sendo um portento no que toca ao talento, conseguiu, fruto do seu empenho e trabalho, chegar onde chegou, e a motivação que o leva todos os dias a entrar em court para treinar deu os seus frutos. Gil pode não ter o talento de um Pedro Sousa (apontado como um dos mais talentosos da sua geração), mas revelou ao longo dos anos uma capacidade de trabalho brutal e que deu resultados.

Sporting 0-0 Nacional: Veneno no sapatinho

milnovezeroseis
Caro leitor.

O último jogo a contar para o Campeonato Nacional, costuma ser sinónimo de dificuldade para o Sporting Clube de Portugal. Hoje, a “tradição” manteve-se. Em Alvalade, os leões não foram além de um empate a zero com os insulares do Nacional. À semelhança do que sucedeu nas últimas duas temporadas, os verde e brancos não conseguiram dobrar o ano com uma vitória.

Curiosamente, em Dezembro do ano transacto, o Sporting havia igualmente enfrentado o Nacional da Madeira no último jogo, respectivo ao campeonato, do ano de 2012. O resultado final saldou-se num empate a uma bola, com golos de Isael e Cédric. Contudo, o hábito do veneno do sapatinho remonta à época de 2011/2012. No Estádio Cidade de Coimbra, o Sporting não consegui bater a Académica, resultado que, na altura, marcou o afastamento gradual dos lugares cimeiros.

Tal como os jogos da época passada e da anterior a esta última, a partida desta noite foi débil, no sentido exibicional. Apesar do pendor mais ofensivo, o Sporting foi uma equipa pouco criativa, presa de ideias e, por vezes, inferior ao adversário. Aliás, os insulares demonstram ser, ao longo do jogo, uma equipa pressionante e à procura de um bom resultado. Comparativamente com os jogos disputados nas passadas jornadas, o Sporting não conseguiu ser acutilante nas suas acções.

O colectivo leonino não teve ao nível já apresentado, por várias vezes, esta época. O entrosamento entre sectores não foi tão hábil. Montero esteve apagado, assim como André Martins, que saiu lesionado ao intervalo. De facto, o empate frente ao Nacional deveu-se, essencialmente, à queda de rendimento da equipa em geral.

Todavia, se existem alturas em que é legítimo reivindicar erros de arbitragem, o Sporting tem, hoje, o momento certo. Manuel Mota rubricou uma exibição deplorável. Ao golo mal anulado, somam-se faltas claríssimas por marcar, e agressões por sancionar. Jefferson é, ainda na primeira parte, vítima de um carrinho violento, situação onde nem falta foi marcada. No golo de Slimani, recentemente galardoado com o prémio de melhor jogador argelino, o alegado empurrão de Montero é inexistente. Um conjunto de erros que, indubitavelmente, marcaram o resultado final.

O Sporting continua, contudo, no topo da tabela classificativa, apesar de em igualdade pontual com Benfica e Porto. Qualquer boa equipa enfrenta jogos onde não consegue impor a sua superioridade. Os leões viram-se, hoje, a braços com esta situação. Faltou criatividade, mas também competência de terceiros. Mas, a certeza de que começaremos 2014 em 1º lugar ninguém nos tira. Até lá, ainda há um clássico em Alvalade, no qual urge mostrar que o empate contra o Nacional não passa de um percalço. Boas Festas!

O Passado Também Chuta: Raymond Kopa: O Deus Francês

o passado tambem chuta

Tudo se pode aplastar, menos a genialidade. Raymond Kopa era um menino produto da emigração oriunda da Polónia. Como tantos outros polacos, fora parar à zona mineira. Um trágico acidente nas minas alterou a sua vida. Deixou uma vida que ainda era incipiente e cruel para começar a brincar, a jogar com uma bola. O céu abriu-se e mostrou, orgulhoso, a sua nova estrela. Acabava de nascer aquele que seria chamado Napoleão. Molière, Racine, Corneille desde as suas tumbas perfuraram os seus caixões e o Marquês de Sade alambicou um novo amor louco. O Stade Reims fez-se com os seus serviços. Os campeonatos franceses começaram a cair e o mundo futebolístico começou a vibrar com aquele diminuto jogador, que, vindo do seu próprio meio-campo, superava adversários e sempre inventava um passe mortal. Finalmente, viu como se lhe abriam as portas da Europa. Uma final da taça da Europa marcaria um novo caminho. Saiu derrotado contra Alfredo Di Stéfano, mas, no ano seguinte, estariam juntos na mesma equipa: o Real Madrid.

Não é um sonho; é a linha avançada do Real Madrid
Não é um sonho; é a linha avançada do Real Madrid

Napoleão chegou a uma Espanha triste e cinzenta. A Guerra Civil colocara na chefia do país um ditador: Franco. A penúria social era evidente. A alegria fomentada era o futebol e, mais concretamente, o Real Madrid. O ano de 1957 estava tão longínquo da felicidade social como da morte do ditador. Chegou a Madrid e incorporou-se à equipa que estava recheada de estrelas da América do Sul: Santamaria, Rial e Di Stéfano. Kopa e Di Stéfano evolucionavam no terreno pelos mesmos espaços. Os génios começaram a estorvar-se. Kopa teve de escorar-se mais à direita, ainda que o seu talento não lhe permitia ser um pau de bandeira mas, sim, um vagabundo de todos os espaços ofensivos. O Real Madrid ganhou encanto. A capacidade de Kopa para desbordar e a sua visão de jogo fizeram multiplicar as ocasiões de golo e as vitórias. Caíram Taças da Europa, Campeonatos; tudo caía quando passava aquela orquestra de fantasia.

França classificou-se para a fase final do Campeonato Mundial. A Suécia seria um campeonato histórico. O Real Madrid, fazendo uso e abuso, não permitira que Kopa participasse nas eliminatórias, mas não conseguiu impedir a sua presença na fase final. O Mundial da Suécia, além de ser o primeiro arrecadado pelo Brasil, foi o Mundial do fabuloso Mané Garrincha. No entanto, foi o primeiro campeonato em que apareceu França nas meias-finais. Kopa, ajudado pelo fantástico finalizador Fontaine, torna-se a sensação do acontecimento. Os caprichos da sorte ou do azar cruzaram França com Brasil nas meias-finais. O Brasil montou um estratagema para que Kopa não conseguisse ultrapassar o seu meio-campo. Garrincha era o diabo, era o fabricador de olhos vesgos na defesa contrária. O Brasil ganhou e ganhou também o campeonato, mas a França alcançou a sua primeira grande classificação: ficou em terceiro lugar.

Deixem passar… Fonte: UEFA.com
Deixem passar…
Fonte: UEFA.com

Chega, então, a hora do reconhecimento. Kopa disputa diretamente com o grande Alfredo Stéfano a Bola de Ouro. Dois génios, dois colegas de equipa e dois jogadores de fantasia. A Bola de Ouro é outorgada ao Napoleão dos relvados. Esse momento, e em disputa direta com um craque como Saeta Rubia, é mais do que um título; é um momento que só os gigantes são capazes de protagonizar.

Regressou a França nos últimos sete anos de vida futebolística. Não foram anos felizes. Entre divergências com a casta dirigente, problemas de saúde de um filho e a multiplicação das lesões, o seu fim não esteve no nível de estrela que teve e com o qual viveu. Retirou-se em 1967 e permaneceu durante décadas o único futebolista francês galardoado ao mais alto nível. Raymond Kopa era a simplicidade desbordante; até Di Stéfano sentiu que ao seu lado jogou um number one.

Dias mais azuis

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dosaliadosaodragao

A semana do Dragão foi tão longa quanto saborosa. Iniciou-se com uma auspiciosa vitória em Vila do Conde e encerrou com uma goleada na recepção ao Olhanense na última Jornada do ano do Campeonato. Pelo meio, ficou a conhecer-se o adversário dos dezasseis avos de final da Liga Europa, consumada que está a descida à segunda divisão europeia.
Ora, sem Mangala mas com Otamendi, o FC Porto que surgiu defronte do Rio Ave trouxe novidades. Nos nomes e na dinâmica. Há umas semanas, neste mesmo espaço, tinha defendido, no que ao desenho do meio-campo diz respeito, a incorporação de Lucho ao lado de Fernando (com a necessária saída do onze de Herrera ou Defour) e a afirmação de Quintero no espaço 10. A verdade é que não contei de forma séria com Carlos Eduardo.

A aparição do ex-estorilista na 2ª parte diante do Braga foi uma lufada de ar fresco no jogo monótono e pouco fluido da equipa. E o futebol torna-se simples (e melhor) quando, dentro de um colectivo, o treinador encontra os habitats adequados tendo em conta as (melhores) características de cada jogador. E, neste ponto, aparentemente, Paulo Fonseca aprendeu com os erros … Se Quintero ainda não está pronto para ser atirado às feras, igualmente verdade é que Lucho aparece com outra preponderância no jogo da equipa a partir de uma posição mais recuada, e indesmentível, da mesma forma, é que Carlos Eduardo revelou-se – até hoje – a melhor solução para ligar a linha mais recuada do meio-campo à frente atacante.

Desta forma, o FC Porto que vimos no Estádio dos Arcos foi uma equipa mais solta, menos amarrada – em suma, mais dinâmica. Carlos Eduardo tem um raio de acção alargado, sabe recuar e vir buscar jogo quando necessário, transportando bola, mas demonstrou igualmente capacidade para dar largura ao jogo da equipa, caindo nas alas. Tem, além disso, uma enorme qualidade técnica (designadamente ao nível do passe) e uma visão de jogo acima da média. Não estamos perante a última Coca-Cola do deserto mas não deixa de ser estranho como um conjunto com a valia do FC Porto se transformou positivamente com a entrada de um único elemento na equipa.

Rio Ave e Olhanense são as mais recentes vítimas de Jackson no duelo cafetero com Montero Fonte: http://www.jornalacores9.net/
Rio Ave e Olhanense são as mais recentes vítimas de Jackson no duelo cafetero com Montero
Fonte: http://www.jornalacores9.net/

A par disto, a equipa revelou-se mais segura a defender, os laterais envolveram-se com mais qualidade no processo defensivo (e como o FC Porto continua a depender de Alex Sandro e Danilo para chegar à frente!), Varela esteve uns furos acima do habitual e Kelvin ressurgiu com toda a irreverência que lhe conhecemos.
É certo que a exibição do Tri Campeão não foi brilhante; mas é indesmentível que o FC Porto que esteve em Vila do Conde transmite outra confiança aos adeptos num futuro mais risonho e consentâneo com aquilo que o Dragão sempre foi capaz de fazer.

E se Domingo foi uma noite futebolisticamente agradável, a manhã de Segunda-Feira não foi, de todo, desfavorável às hostes portistas, na medida em que, no sorteio da Liga Europa, calhou em sorte o Eintracht Frankfurt, actual 15º classificado do Campeonato Alemão.

Faltam ainda dois meses até ao primeiro jogo (20/02/2014), a realizar no Dragão. De todo em todo, ainda que a classificação actual do adversário do FC Porto seja um dado factual, parece-me que este opositor está longe de ser um verdadeiro bombom. Desde logo porque representa um campeonato super competitivo, com uma agressividade e intensidade de jogo brutais. Por outro, porque chega a esta fase depois de ter vencido o grupo em que estava inserido com uma margem confortável (em 6 jogos, conseguiu 5 vitórias, tendo perdido apenas um jogo em Israel, diante do Maccabi Tel Aviv) e de no passado fim-de-semana ter ido ganhar ao difícil terreno do Bayer Leverkusen (0-1). Aliás, é curioso perceber que, internamente, o Frankfurt ainda não conseguiu vencer um único jogo em casa (ontem empatou com o modesto Augsburg a 1; por outro lado, as derrotas perante Bayern ou Dortmund, por exemplo, consumaram-se apenas pela margem mínima), apresentando um score muito mais interessante fora de portas.

Fechando o capítulo Frankfurt, é de realçar que se trata de uma equipa que, tendo terminado a época 2012/2013 num prestigiante 6º lugar, acabou por não perder nenhum jogador de destaque, reforçando-se, aliás, com nomes interessantes como Kadlec, Joselu, Rosenthal e – provavelmente o mais conhecido – Barnetta. Jamais qualquer destes factos impedirá de eleger o FC Porto como claro favorito nesta eliminatória – a ambição e a História assim o exigem. Caberá aos comandados de Paulo Fonseca limpar a péssima imagem desenhada na edição deste ano da Champions, sendo que isso – ainda que com a possibilidade Nápoles já nos oitavos-de-final – só será conseguido com uma chegada à final de Turim.

Eintracht Frankfurt é o primeiro obstáculo do FC Porto na Liga Europa 2013/2014 Fonte: Expresso
Eintracht Frankfurt é o primeiro obstáculo do FC Porto na Liga Europa 2013/2014
Fonte: Expresso

A semana terminou, enfim, com a recepção ao conjunto de Olhão. Falar da turma de Paulo Alves é falar, muito provavelmente, da equipa mais fraca da Liga. Neste sentido, o FC Porto estava obrigado a vencer e, diria, a brindar os seus adeptos com um presente de Natal sob a forma de uma exibição que convencesse e entusiasmasse. Dito e feito.
O onze titular não apresentou grandes novidades. Se Helton é o número 1, com a ausência de Alex Sandro, Mangala surgiu a ocupar a faixa esquerda da defesa, acompanhando Danilo, Maicon e Otamendi (despedida do Dragão?). À frente, até por tudo o que já foi dito, as dúvidas dissiparam-se: Fernando e Lucho, no papel, lado-a-lado, com ‘El Comandante’, com toda a sua inteligência, a poder soltar-se e ocupar outros espaços, funcionando como um verdadeiro 8; Carlos Eduardo mais à frente a ligar os dois sectores e a reconfirmar os créditos demonstrados. Por fim, a frente de ataque composta por Varela, ‘Cha Cha Cha’ Martinez e Licá.

Os Dragões até nem começaram com uma grande fibra atacante mas, naturalmente, tomaram conta do jogo e as oportunidades foram surgindo. Varela, Licá e Jackson (fabuloso gesto técnico merecia golo) tiveram nos pés a possibilidade de abrir as hostilidades; haveria, no entanto, de ser Mangala, qual bala, a ganhar nas alturas e inaugurar o marcador. A demonstrar uma tranquilidade, fiabilidade e dinâmica que não se lhe vislumbravam há um par de semanas, a equipa soube empolgar os adeptos e reforçar o seu score. Jackson, Carlos Eduardo e Herrera assinaram golos de belo efeito e fizeram com que a noite fria do Dragão fosse acompanhada de um resultado volumoso (mas justo), com momentos de bom futebol como ainda não se tinha visto de forma tão consolidada este ano à equipa do FC Porto.

Dissociar este jogo (resultado e exibição) de Rio Ave ou Braga seria desajustado. Reconfirmando as boas indicações dadas nesses últimos compromissos, a equipa, a cada dia, respira melhor na nova roupagem. Os mesmos jogadores parecem melhores jogadores. O que entrou (Carlos Eduardo) … Bem, o melhor elogio que lhe posso fazer é que vejo qualquer coisa de Deco no actual camisola 20 do FC Porto. Descontando o novo papel de Lucho (e que deleite é ver ‘El Comandante’ finalmente de frente para o jogo), a subida de forma de Varela ou a ascensão dos níveis de eficácia de Jackson, é a Carlos Eduardo que deve ser atribuído o mérito de ter pegado numa equipa moribunda, desligada, adinâmica, e de lhe ter dado o toque de lucidez, categoria e classe que ela mais necessitava. Numa palavra, de critério. Conhecia-o do Estoril mas – como já confessei – não esperava tanto. Resta saber se esta pérola esteve escondida na equipa B ou se se tornou uma pérola porque esteve na equipa B.

Carlos Eduardo, de proscrito a solução inesperada Fonte: www.maisfutebol.iol.pt
Carlos Eduardo, de proscrito a solução inesperada
Fonte: www.maisfutebol.iol.pt

O que referi relativamente à deslocação a Vila do Conde continua válido: o FC Porto (ainda) não se tornou numa máquina de jogar futebol, é verdade. Porém, a semana terminou à semelhança do seu início. Para os adeptos portistas, segue-se um Natal mais doce, alegre e colorido. E por mais recheada que seja a consoada, fica a certeza de que o melhor presente (futebolisticamente falando) foi este inesperado reforço de Inverno com laivos de ‘Mágico’ e que nos deixa a todos com água na boca.