Começo este meu espaço no Bola na Rede a falar sobre uma modalidade que já deu muitas alegrias aos portugueses: falo do hóquei em patins. E, neste momento, falar sobre hóquei é falar sobre o Mundial de 2013 que aconteceu em Angola.
Mais uma vez Portugal apresentou-se como um dos favoritos à competição, procurando o título que escapa desde 2003. Na última edição, na Argentina, Portugal foi eliminado na meia-final pela selecção da casa num jogo bastante polémico. Neste Mundial, Portugal voltava a defrontar a Argentina nas meias-finais. Portugal tinha chegado até aqui com grandes exibições. Ultrapassou a selecção da casa, Angola, Moçambique (4ºclassificado do último Mundial), Chile e África do Sul com resultados volumosos e boas exibições.
Portugal 2013 Hóquei Fonte: mundialhoqueiangola2013.com
Mas mais uma vez, Portugal falhou. Portugal voltou a não ter a estrelinha da sorte, a estrelinha que protege os campeões, tal como aconteceu no Europeu, onde perdeu o título para a Espanha a 4 segundos de fim. Desta vez, Portugal, no jogo contra a Argentina, voltou a ser infeliz. Desperdiçou um livre directo a 24 segundos do fim do jogo e sofreu o golo de ouro num lance igual.
Mas não só o azar fez com que Portugal fosse eliminado do Mundial. Tal como em 2011, Portugal foi prejudicado pela arbitragem. Viu um golo invalidado a poucos minutos do fim que daria uma vantagem preciosa a Portugal, com o árbitro a dizer que a bola bateu no corpo do jogador português quando as repetições mostram que bateu no stick. Além disso, o árbitro estava tapado por vários jogadores e não tinha visão clara para o lance.
E é nisto que o hóquei precisa de melhorar. Um árbitro espanhol que já tinha dado provas da sua não capacidade para arbitrar neste Mundial e curiosamente, o seleccionador espanhol tinha afirmado que queria defrontar a Argentina na final. Pela segunda vez consecutiva, calha o árbitro que não está à altura do desafio. Em 2011, calhou um arbitro brasileiro nas meia-final contra a Argentina. Se o hóquei quer melhorar, o Comité Internacional devia estar mais atento a quem coloca nos grandes jogos.
Como consolo, Portugal ficou em 3ºlugar, com o melhor ataque e uma das melhores defesas da prova. Índices bastante positivos para o futuro da selecção portuguesa de hóquei. Os holofotes estão apontados para os sub-20 no Mundial da categoria, disputado na Colômbia, de 6 a 12 de Outubro.
Ficar em estado de graça em Portugal é algo que não é muito difícil, talvez por sermos muitas vezes incompetentes, quando existe algo acima da média os elogios chovem como se de um prémio Nobel se tratasse.
Ora, isso no SL Benfica toma proporções muito maiores e muito mais destruidoras do que noutra instituição portuguesa, seja ela desportiva ou de outra área qualquer. E aqui falo-vos de forma mais específica da dupla Jorge Jesus (JJ) e Luís Filipe Vieira (LFV) que, apoiados na 1.ª época do treinador português na Luz, vivem ainda em Estado de Graça. Veremos por quanto tempo.
O jogo de ontem frente ao Paris Saint-Germain FC mostrou a antítese do que era o futebol do Benfica em épocas anteriores: falta de intensidade, falta de magia, falta de classe, falta de talento e, principalmente e cada vez mais, falta de união. E todos estes pergaminhos não deveriam faltar porque supostamente estará lá tudo: nenhum jogador saiu, a equipa técnica está lá, os adeptos são os mesmos e a equipa directiva também. Então o que se passa?
Serei provavelmente “lapaliciano” mas parece óbvio que mais de metade do plantel já não está com JJ e com o seu estado de graça. Pior do que isso, já não está com o Benfica, pelo menos enquanto a equipa continuar a ser orientada por ele. Causas? À cabeça, o final da época passada, o caso Cardozo fragilizou JJ e dividiu claramente o plantel, para além disso, raras não foram as vezes em que vimos jogadores como Enzo, Rodrigo, Gaitán, mal dispostos ou a discutir com o técnico.
Bem sei que são jogadores com feitios complicados, mas faz-me crer que as relações não seriam já as melhores, principalmente no caso dos argentinos, que são dois jogadores decisivos na equipa e influentes no balneário. Depois a falência táctica de JJ: o treinador encarnado não consegue ir mais longe e os jogadores sentem isso.
Sempre fui adepto de Jorge Jesus, sempre gostei da forma ofensiva como o Benfica foi jogando ao longo dos anos, mas a forma como a equipa se afunda contra equipas mais evoluídas a esse nível é inacreditável e a frustração do plantel parece também ser cada vez maior.
Para terminar, a falta de recuperação anímica da equipa, depois de uma temporada desgastante em termos físicos, mas principalmente psicológicos. O caso Cardozo, os festejos na Madeira, o empate com o GD Estoril-Praia, as derrotas com FC Porto, Chelsea FC e Vitória SC são feridas que ainda estão abertas e que desde a pré-época se vão abrindo cada vez mais.
Soluções para tudo isto? Não será fácil! LFV terá em mãos provavelmente a decisão mais complicada dos seus mandatos. Pinto da Costa fez com que o presidente do Benfica tenha pavor em libertar Jesus e os oito Milhões que acordou com JJ farão com que pense muitas vezes antes de tomar uma decisão.
Fonte: SL Benfica
Na minha opinião, tudo continuará como está e o futebol do Benfica permanecerá sofrível, apenas abrilhantado pelas inúmeras estrelas que compõem o plantel encarnado mais forte dos últimos 25 anos.
Para finalizar duas notas. Não referi aqui a “armada sérvia” como um ponto de desagregação do plantel. Ainda não vi nenhuma razão para tal e até prova em contrário, penso que não será decisivo para o momento do Benfica.
A segunda nota passa por LFV, se porventura o presidente despedir Jorge Jesus. Poucos caminhos irão sobrar para além da demissão o que poderá aproximar o Benfica de uma crise financeira obrigatória por tudo aquilo que de forma pouco clara se vai passando nas contas do clube.
Poucos dias depois das comemorações dos 120 anos dos Dragões, o reduto do FC Porto vestiu-se de gala para a primeira grande noite europeia da temporada. O duelo com o Club Atlético de Madrid, adversário reconhecidamente difícil, antevia-se equilibrado.
Afinal, era o encontro entre os líderes dos campeonatos ibéricos e ambas as equipas conservavam um registo de invencibilidade até à data. Mais do que isso, este jogo representava o primeiro grande teste de Paulo Fonseca enquanto treinador do Porto, no Porto.
Os azuis e brancos entraram com uma postura dominadora e pressionante, chegaram ao golo e foram para o intervalo com uma justa vantagem no marcador. No segundo tempo, os colchoneros cresceram e chegaram ao empate; o FC Porto reagiu, procurando recuperar a liderança, mas acabaram por ser os espanhóis a chegar ao triunfo, na sequência de um livre “à Zanetti” perto do final.
Após o apito do árbitro, o placard registava 1-2 e os dragões tinham voltado a perder no Dragão para a Liga dos Campeões, o que já não acontecia desde os tempos de Jesualdo Ferreira.
A equipa apresentou alguns momentos de bom futebol e até subiu ligeiramente o rendimento face ao que já havia produzido. No entanto, mais do que a derrota, eventualmente fortuita, o que preocupa os portistas é o facto de esta ser o espelho de um novo FC Porto que ainda não conseguiu encontrar-se, que continua abaixo das expectativas e a quem se exige que melhore rapidamente o nível futebolístico. Depois do primeiro desaire, há que fazer um balanço e perceber quais são as areias na engrenagem.
Fonte: FC Porto
A grande mudança que o novo treinador operou na equipa foi a alteração da mecânica do meio-campo e isso teve repercussões em todos os sectores do terreno. Durante anos e anos, os dragões jogaram com um tampão à frente dos centrais (Costinha, Paulo Assunção, Fernando) e dois médios à sua frente. Paulo Fonseca decidiu inverter o triângulo do meio-campo e passar a jogar com o famoso “duplo pivot” e um “n.º10”.
No papel, a ideia até pode ser interessante: libertar os laterais para dar largura à equipa; libertar o médio mais adiantado para criar jogo na frente e permitir aos extremos procurar posições interiores, criando superioridade numérica junto à área adversária.
No entanto, esta estratégia não está a surtir os efeitos desejados: os laterais não têm conseguido desequilibrar como se previa (Alex Sandro ainda está à procura da melhor forma e Danilo, que tem melhorado, continua longe valer 18M€); há uma cratera entre Fernando/Defour e Jackson, onde aparece um Lucho demasiado sozinho e incapaz de ligar os dois sectores; Defour parece desenquadrado neste novo desenho e não se consegue soltar para missões ofensivas, uma vez que tem de compensar as constantes subidas de Fernando e Otamendi; Fernando é obrigado a transportar a bola com frequência e a assumir tarefas que não está habituado nem habilitado a desempenhar; e Jackson está constantemente desapoiado e sem margem para explorar a sua formidável capacidade de pivot ofensivo.
No fundo, a equipa está menos coesa: defensivamente, porque surge demasiadas vezes descompensada; e ofensivamente, porque o meio-campo parece sistematicamente desligado do ataque.
Quando chegou ao clube, Paulo Fonseca disse que pretendia explorar o jogo interior e deixou claro durante a pré-época que era o 4-2-3-1 que pretendia implementar. Até ver, parece não ter sido a escolha mais sensata.
Como a maior parte dos opositores do FC Porto joga com as linhas muito recuadas e próximas entre si, povoando maioritariamente o centro do terreno, as diagonais e os movimentos interiores dos extremos não estão a ser suficientes para auxiliar Lucho no apoio ao ponta-de-lança e estão a retirar largura à equipa, incapacitando-a de esticar o jogo pelas faixas.
Parece-me que a chave para desbloquear este emaranhado táctico em que se tornou o FC Porto passa por subir Defour para junto de Lucho. Esta pequena variação no miolo beneficiaria substancialmente as prestações de Fernando (joga melhor sozinho atrás do que com o belga a seu lado), do próprio Defour (que se sente demasiado amarrado neste seu novo papel e pode passar a desequilibrar, em vez de se limitar a equilibrar se passar a actuar mais adiantado), de Lucho (que precisa de alguém a seu lado para render o máximo; não consegue, sozinho, ocupar uma zona tão grande do campo), de Jackson (que passaria a ter os apoios necessários para voltar às suas performances de excelência) e de toda a defesa (habituada a jogar com Fernando à sua frente). Não acredito, porém, que Paulo Fonseca abdique das suas ideias e regresse à fórmula antiga.
Fonte: FC Porto
É imperioso que, de uma maneira ou de outra, se reconquiste a solidez defensiva, a capacidade de gerir a posse de bola e os ritmos do jogo, a largura no ataque e a proximidade entre os médios e os avançados. Tudo isto tem faltado aos dragões e tudo isto tem redundado em exibições com laivos de mediocridade. Resta à equipa técnica perceber o que está a correr menos bem e corrigir os erros; resta aos portistas esperar que a equipa assimile rapidamente esta nova identidade e eleve a qualidade do seu jogo o quanto antes.
P.S.: Não posso terminar sem fazer referência à inauguração do Museu do FC Porto, a última grande obra que Pinto da Costa sonhava deixar concluída no seu “reinado”. Ao projectar um museu carregado de interactividade e altamente inovador no panorama internacional, os dragões deram, uma vez mais, provas do seu vanguardismo, da sua singularidade e da sua competência. Estou ansioso por visitar este espaço de memórias que será, de hoje em diante, um ponto turístico de referência na cidade do Porto.
Não passei muito tempo a jogar à bola. Talvez seja por isso que passo tanto tempo a falar sobre ela: mágoas de quem tem 2 pés esquerdos. 2 pés esquerdos como o pé direito do Capel, claro.
Mas nos poucos anos que joguei tive a oportunidade de viver algumas situações curiosas. Umas típicas de balneário e de espírito de equipa, outras nem tanto. Lembro-me com especial prazer de alguns jogos no Atlético da Malveira, em que entrávamos para dominar e asfixiar o adversário. Por diversas vezes marcámos cedo no jogo. Nessa altura, quando a bola estava a ser reposta no meio-campo, o capitão de equipa virava-se para trás, de forma a ver todos os jogadores, e dizia: está 0-0, malta!
Não estava. Afinal, tínhamos acabado de marcar. Podíamos respirar um pouco, parar, descansar os músculos e circular a bola tentando controlar o jogo. Mas a mensagem era a contrária. O que o capitão nos pedia era para esquecer a vantagem e jogarmos como se estivéssemos empatados. E não o pedia estupidamente, numa anarquia tática de miúdos que só querem jogar ao ataque. Não. Pedia-o porque nós éramos melhores e não se contentava com um golo de vantagem. Nem nós.
É isto que se pede no próximo Sábado ao Sporting. Ninguém exige goleadas como as obtidas contra o Arouca e a Académica. Mas o que aconteceu contra o Rio Ave não se pode repetir. Nas bancadas há o desejo que tenha sido um abre-olhos para uma equipa que considerou que os problemas se resolveriam sozinhos, sem dificuldade. Não se resolvem.
E por isso pedimos atitude. A nossa exigência é de que os jogadores saibam a camisola que vestem e que não se contentem com o suficiente. Que entrem em cima deles, que não os deixem respirar, não cedam tempo para descansar nem dizer ai! ou ui!. É entrar para ganhar, ponto final. Porque em nossa casa mandamos nós e perante os nossos adeptos uma vitória vale sempre mais que 3 pontos.
Sábado temos de entrar com o pensamento no 1º golo, bem cedo. E depois disso, está 0-0, malta.
A maioria das pessoas nunca pensa realmente porque é que apoia um certo clube. Muitas vezes dizem uma frase do género: “Sou do Benfica/Sporting desde pequenino. Mas o que entendem os miúdos “pequeninos” de futebol? Situações como estas surgem, quase sempre, por se identificarem com os pensamentos do seio da família. Como o pai, tio, avô é de um clube existe a predisposição de ser adepto desse clube.
A idade não é um factor no que toca a gostar de futebol. Porém, é um factor no que toca a entender futebol. Durante muitos anos fui apelidado de Benfiquista pelo meu pai. Cheguei, até, a ver um jogo do Benfica no antigo Estádio da Luz. Até ao Euro 2004 eu não sabia ver futebol. Não sabia o que era futebol.
O Euro 2004 foi um ponto de viragem no futebol português. Com Scolari ao comando da equipa nacional, e a jogar em casa, Portugal fez um campeonato europeu espetacular chegando mesmo à final. Portugal jogava bem, coeso e com uma equipa que transpirava confiança. A Grécia, tenha sido pela táctica defensiva que utilizou ou pela ajuda de Zeus e dos restantes deuses gregos, acabaria por ganhar. No entanto, a grande vitória portuguesa não foi nos relvados, mas sim nas ruas. Mesmo perdendo uma final para a Grécia, Portugal ganhou espirito. A partir do Euro, e durante a estadia de Scolari como seleccionador, Portugal tinha um dos melhores apoios no mundo. As varandas de todas as regiões de Portugal encheram-se de bandeiras. O vermelho e verde português estavam por todo o lado.
A relação entre a minha paixão azul e branca e o Euro 2004 foi simples. Foi nessa altura que comecei a perceber as razões que, por vezes, o meu avô gritava para o televisor o que o faziam dizer palavras menos próprias para o ar, cada vez que o Benfica não ganhava. Foi nessa altura que eu comecei a ter paixão pelo futebol, paixão pela seleção nacional. Eu admirava a forma como Portugal jogava. Os processos intermitentes entre complexidade e simplicidade que resultavam num futebol bonito, rendilhado e que dava resultados.
A minha admiração rapidamente passou para os jogadores. A maioria do F.C Porto de 2003/04 de José Mourinho. Comecei a prestar mais atenção aos jogos do Porto. A cada jogo que passava mais me identificava com o estilo de jogo que os azuis e brancos mostravam. Vi, naquele Porto, a forma de jogar pela qual me tinha apaixonado com a seleção nacional.
Desde 2004 que me considero portista. Agora, nove anos depois, é com unhas e garras que defendo o clube que conseguiu conquistar o meu coração através do futebol. O Porto, como qualquer outro clube desportivo profissional do mundo, evoluiu. A equipa do Porto mudou, já não são os mesmos jogadores que vestem a camisola mas a equipa não mexe. O Porto é continuidade. Manter os mesmos objectivos, os mesmos princípios, os mesmos adeptos, a mesma alma que eu apenas descobri em 2004.
O lema do Porto, que está na parte de trás de todas as camisolas, é claro: “ A vencer desde 1893”. Uma frase que assenta ao Porto como uma luva e que de 2004 até ao dia que eu deixe de respirar irá estar presente na minha mente cada vez que for referido o nome Futebol Clube do Porto.
Marguerite Crayencour, mais conhecida pelo pseudónimo de Marguerite Yourcenar, escreveu a obra que por ora dá o título a este artigo. A história do livro em si pouco terá a ver com a ideia que vamos explanar. Atentemos, sim, no nome da narrativa.
É claramente visível a presença de negros ou mestiços na sociedade francesa. Tal como no nosso país, ou em outros países europeus com passados coloniais, tais como a Holanda ou Inglaterra. E se o domínio “negro” na NBA e no atletismo, principalmente, já é sobejamente conhecido a nível mundial, mas também noutros desportos, como futebol ou voleibol, por exemplo, a pouco e pouco os euro negros vão ganhando espaço nas comunidades da Europa. É preciso consciencializar populações e cidadãos para que a maioria dos nossos irmãos africanos já não são de África, por assim dizer. Têm-na no sangue, claro, e consigo a carregam.
Mas estão mais que integrados no nosso seio. E não devem apenas ser projetados como baluartes do desporto. Mas como pessoas com direitos e deveres, como as outras. Mais do que uma mensagem de apelo ao antirracismo e sua denúncia, devemos pensar que o mundo é como a tela de um pintor: fica mais alegre quanto mais cor tem. No ano em que o célebre discurso de Martin Luther King, em Washington, completou 50 anos, nada melhor que refletirmos um pouco sobre o tema. Certamente que já houve grandes avanços. Mas ainda falta.
Para os mais esotéricos foi Adão. Para os mais céticos e práticos foi de África que nasceu a vida humana. Talvez um pouco de um, um pouco de outro. Quantos seres humanos já se digladiaram por essas questões… As cores não passam disso mesmo; cores do nosso leque cromático. O que interessa são as pessoas. Contudo, o mundo fica mais bonito se abranger todas as cores do arco-íris.
Toda a minha vida tentei perceber onde nasciam e como fluíam estes rios de paixões que carrego comigo desde novo. Hoje, mais do que nunca, e a cada dia que passa, preocupo-me é em navegá-los. Isso basta-me. Em 22 anos, de perder a conta foram as vezes em que não neguei a mim mesmo gritos, festejos, choros e desesperos em público ou na solidão de quatro paredes brancas. Chamo-me Tiago Martins e tenho uma doença grave: sou Benfiquista.
Não sei dizer como cheguei até aqui. O que falhou. O que bateu certo. Quem ou o que falou mais alto. Talvez tudo. Talvez nada. Sei é que não há volta a dar. Que é demasiado forte a falta de força que tenho dentro de mim para tentar remeter a um qualquer canto escuro esta paixão desmesurada e que tantos problemas traz. Hoje a minha namorada já não me suporta. Os vizinhos batem-me nas paredes. Os meus amigos vão desistindo de mim. Os meus pais já não fazem jantar nem aos fins-de-semana nem às terças. E até a minha própria gata já padece de um distúrbio psico-nervoso sempre que me vê em frente à televisão. Chamo-me Tiago Martins e tenho uma doença grave: sou Benfiquista.
Desde pequeno que isto me afecta. Porque nunca quis desiludir ninguém. A verdade é que sou filho de lagarto e neto de águia. E também neto de pasteleiro, se contar com a muito discreta paixão do meu avô paterno ao Belenenses. Durante meio ano, que me lembre, ainda fui inconsequente e ingénuo o suficiente para acreditar que seria possível conjugar vermelho e verde no mesmo coração. Nas mesmas veias. Ridículo. Vergonhoso. Mas o coração tem razões que a própria razão desconhece. Já dizia Pascal. E Jesus. A tentar agradar a todo o mundo familiar acabei por me deixar influenciar e encantar pelos sempre saudáveis mas entusiásticos festejos encarnados do meu avô materno. Não era de mais. Nem de menos. Era o suficiente. Belo o suficiente. Apaixonado o suficiente. Dedicado o suficiente. Leal o suficiente. Memorável o suficiente. E assim cresci. E assim me apaixonei e dediquei. Me tornei leal e nunca mais esqueci nem esqueço. Chamo-me Tiago Martins e tenho uma doença grave: sou Benfiquista.
Gravo na memória e espelho num sorriso meio infantil os pontapés que aprendi a dar com ele. Fui uma criança feliz com ele e graças a ele. E o Benfica acompanhou-nos sempre, nessas aventuras meio aparvalhadas que nós homens tanto gostamos de arrastar e levar connosco vida afora. Golo aqui, golo acolá. Frango ali, frango na mesa para ver o jogo. Nunca vimos muitos, mas vimos os suficientes. E esse amor que partilhamos e partilhámos sempre, uniu-nos de formas incompreensíveis para muitos descrentes. Porque a crença é o que fizermos dela e o que ela fizer de nós. Sei que a primeira vez que gritei “Campeões!” o meu avô tinha ido para o hospital, depois de um acidente caseiro em tudo dispensável e evitável. Lembro-me que não fui com ele porque o jogo contra o Boavista era dali a umas horas e eu até já tinha comprado um cachecol para festejar mais logo.
“O” cachecol que ainda hoje uso com orgulho e ao qual já limpei algumas incompreensíveis e irracionais lágrimas. O mesmo que uso num ritual ainda menos compreensível e ajustado emocionalmente sempre que vou ao Inferno. Lembro-me que bastou o empate – muito sofrido – e que festejei na Rinchoa, com os pezinhos de criança pré-adolescente equilibrados em cima de um pequeno muro e aos saltos sempre que passava um carro a apitar. Fui feliz nessa noite, mesmo tendo o coração nas mãos por não saber como estava ou como ficaria o meu avô. Ficou bem. E festejou também. Anos mais tarde, e há relativamente pouco tempo, levei-o ao tal Inferno. De forma meio paradoxal tive medo que ateísticamente conhecesse o céu sem nunca passarmos por aquelas portas juntos. Vimos seis golos contra o Desportivo das Aves. E eu vi um sorriso pacífico na sua face. Para que serve mais o futebol?
Chamo-me Tiago Martins e tenho uma doença grave: sou Benfiquista. E sou feliz.
Vivemos num país com uma cultura futebolística extremamente vincada. Um país pequeno e sem grande expressão mundial que se consegue afirmar pelos grandes jogadores e pelas grandes equipas de futebol que tem, mas o desporto português não é só isto.
Todos os dias são descobertos novos campeões de tantas outras modalidades desportivas que já levaram o nosso pequeno país ao estrelato. Por cá, tantas vezes se esquecem que mesmo os três grandes clubes portugueses têm tantas outras modalidades que defendem com unhas e dentes.
O deporto e os meios de comunicação influenciam-se mutuamente e posso mesmo afirmar que existe uma espécie de relação de interdependência entre os dois, mas também é verdade que quando se fala em desporto a primeira coisa que surge é o futebol. Não, não temos só futebol. Temos campeões olímpicos em atletismo, como o Carlos Lopes e Nelson Évora; temos o melhor jogador do mundo de 2010 de Futsal, como o Ricardinho; temos o título de vencedor do campeonato do mundo de seniores em hóquei em 2003. E estes são apenas alguns exemplos.
Portugal passou a Fase Preliminar em segundo e na estreia na Ronda Principal venceu a vice-campeã europeia, Suécia Fonte: EHF EURO
Sabemos que o desporto é importante na cultura portuguesa e nem todos nascem com jeito para jogar à bola. Então o que é que se faz? Descobrem outros desportos onde podem ser bons, onde se podem distinguir. Com o tempo já se vê uma maior abertura para as outras modalidades, havendo mais informação sobre as mesmas, mas ainda assim, incompleta. O mesmo se passa com os géneros masculino e feminino que praticam desporto: os media ainda passam para fora (apesar de existirem melhorias significativas) a ideia de que o desporto é uma área essencialmente masculina. A participação do sexo feminino no desporto tem vindo a aumentar mas a cobertura dada por parte dos média ainda é relativamente pequena.
É preciso ajudar a contrariar estas tendências. Dar destaque, maior cobertura e mais informação sobre as outras modalidades. Vamos fazer por isso.
Carlos Daniel, um dos meus jornalistas predilectos, disse há pouco tempo que, no contexto em que vivem os adeptos do Sporting CP, os Benfiquistas e Portistas provavelmente já não apoiariam as suas equipas como fazem os adeptos leoninos.
A razão, que os entendidos teimam em recusar, é simples: os adeptos são diferentes. De clubes diferentes e, por consequência, com mentalidades diferentes. Os valores pelos quais se regem são, também, distintos. Sem nos afirmarmos melhores ou piores, creio cegamente que a cor clubística influência um sem número de características que nos fazem mais parecidos com os nossos e mais diferentes dos outros.
Eu, João Almeida Rosa, de 21 anos, e coordenador da secção Sporting CP no novo formato do Bola na Rede, pretendo, ao longo das semanas, evidenciar essas diferenças através deste espaço.
Sempre com a noção de que só quem é frontal e vertical conseguirá destacar-se na área do jornalismo, cá estarei à espera da primeira crítica, da primeira sugestão, da primeira dica que serão essenciais à (nossa) evolução.
De mim poderão esperar olhos abertos e coração cheio. Sem temas tabú, sem pretensiosismos e, sobretudo, sem facciosismos. Com a cor bem carregada mas sem que a mesma transborde para os lados da cegueira
Afinal, somos Sportinguistas. E, se a nós cabe a vontade de nos intitularmos diferentes, a nós caberá a responsabilidade de o justificar todos os dias.
Sportinguistas, Benfiquistas ou Portistas, todos já ouvimos que do Futebol não advém qualquer importância. A nossa missão, enquanto jovens e jornalistas, é fazer pensar sobre se algo que transforma, por si só, um dia bom num dia mau, ou um dia mau num dia bom, merece ou não ser tratado como relevante nas nossas vidas.
Aos meus fiéis companheiros de clube posso admitir: hoje estava a ter um dia francamente mau. Mas o Sporting CP foi ganhar ao SC Braga.
“Nós queremos seguir um sonho, isso é verdade, mas uma coisa é seguir um sonho e outra é seguir uma obsessão. Um sonho é mais puro do que uma obsessão. Um sonho tem a ver com o orgulho.” (José Mourinho em “Doutoramento Honoris Causa”).
A frase inicial deste site pertence a José Mourinho, mas é facilmente aplicável ao sentimento de toda a equipa do “Bola na Rede”. O projeto iniciado há cerca de 3 anos emancipou-se e é, a partir de hoje, mais do que um programa de rádio. A boa recetividade que o programa teve acabou por justificar a aposta para que pudéssemos dar o próximo passo: incorporar o programa de rádio num Web Site tentando, desta forma, conjugar as aptidões radiofónicas com a escrita desportiva.
Se é a primeira vez que ouvem falar deste projeto (espero também que não seja a última), convém então fazer as apresentações: o “Bola na Rede” começou por ser apenas um programa de rádio universitário dedicado ao debate semanal sobre a jornada desportiva. Inserido na grelha da ESCS FM, a rádio oficial da Escola Superior de Comunicação Social, em Benfica, o programa é habitualmente composto por três comentadores representantes dos conhecidos “três grandes” portugueses (Benfica, Sporting CP e FC Porto) e por um moderador, que era eu.
Com a evolução gradual do projeto, senti que o programa necessitava de abrir portas a convidados de renome do desporto nacional. Nomes como Bruno de Carvalho, Toni, Ricardo ou João Benedito foram alguns dos convidados especiais, que permitiram a dinamização do programa e a consequente maior visibilidade no panorama universitário português. Posto isto, e depois de 60 episódios unicamente radiofónicos, entendi que era chegada a hora de passar à segunda fase. E eis que o “Bola na Rede” passou finalmente para a plataforma digital, numa inovadora conexão entre a rádio e a escrita. Esta obra criada e estruturada pelo atual Gestor do projeto Web do “Bola na Rede”, Daniel Cachola, e pelo Estratega Digital, João Martins, é o princípio de uma nova etapa com várias metas e objetivos.
Para além da óbvia continuação do programa de rádio, que entrará agora na sua 7ª temporada, este site agora criado irá procurar responder a todas as necessidades de um leitor de desporto. Aqui não encontrarão um site informativo. No “Bola na Rede” apenas se apresentará opinião. Sem falsas isenções e livre de preconceitos. Aqui qualquer escritor dará a cara por cada frase que escreva. Estamos sempre à espera do contraditório e vamos querer sempre saber a vossa opinião nos mais variados temas.
No “Bola na Rede” terão à vossa disposição uma série de departamentos onde poderão procurar o tema que mais vos interessar e encontrar diversos artigos de opinião sobre ele. “Benfica”, “Sporting”, “Porto”, “Nacional”, “Internacional” e “Modalidades”, tudo estará à vossa disposição à simples distância de um clique. Da minha parte, espero apenas que gostem e que nos continuem a visitar. Posso garantir, como responsável pelo projeto, que vai valer a pena.