Durante anos (décadas?) os Sportinguistas mostraram descontentamento com a crise de identidade, rumo e resultados que imperava no clube. Os adeptos tinham três grandes exigências:
1. Dirigentes competentes que defendessem o clube;
2. Jogadores esforçados que honrassem a camisola;
3. Adeptos unidos.
Hoje, volvido um ano de mudanças completas, começo a chegar à conclusão que talvez os Sportinguistas não estejam ainda preparados para ter dirigentes competentes que defendem o clube, jogadores esforçados que honram a camisola e adeptos unidos em torno de um ideal. Outros problemas se levantam:
1 – A notória competência na gestão do Sporting tarda em traduzir-se num número satisfatório de novos sócios. Bruno de Carvalho e a sua direção devolveram ao clube a sua identidade, fecharam a torneira que jorrava gastos irresponsáveis, arregaçaram as mangas e lideram, nesta altura, um clube credível e confiável.
Quem coloca, hoje, dinheiro no Sporting, sabe que com ele está a ajudar o clube e não a encher os bolsos a um trafulha. Sabe que está a contribuir para o Sporting atingir rapidamente um rumo bem traçado que tem uma meta que todos os adeptos desejam. Mas ainda poucos perceberam que não são apenas os outros que têm de contribuir. São todos. Não basta ter bons líderes, é preciso ter uma tropa inteira que seja capaz de cerrar fileiras e marchar pelo clube. E isso ainda não aconteceu.
2 – Uma equipa de miúdos da cantera, raça, ambição e vontade de ganhar. Hoje a equipa de Futebol do Sporting Clube de Portugal é feita destes ingredientes – exatamente os pedidos em anos anteriores. Com menos interferências extra-futebol estaríamos na liderança da Liga, isto no nosso ano zero. O que se pede mais?
Não sei. Mas sei o que eu pedia a menos: críticas. Assobios. Estupidez. Bipolaridade.
É frustrante estar em Alvalade a gastar a voz e a palma das mãos para apoiar os nossos miúdos, para vir um qualquer frustrado estragar tudo em segundos com apupos. Será de assobios que o Carrillo precisa para se manter 90 minutos concentrado no jogo e perder alguma displicência? Será de insultos que o Wilson Eduardo necessita para controlar a sua ansiedade e ter mais calma na hora da finalização? Há quem ache que sim.
3 – Croquetes e Brunetes, Curva Sul e Curva Norte. Estas eram as fações do Sporting, que tinham diversos problemas entre si. A nova direção sanou-os. Com competência, com credibilidade e com confiança, uniu os Sportinguistas, convenceu os mais céticos e juntou todos os ultras na mesma bancada, recriando a maior Curva de Portugal. Mas foi suficiente?
No sábado voltámos a ver divisão. Não numa Curva, mas numa claque. Divisão que levou ao esquecimento do nosso propósito em Alvalade. Como podemos unir vozes entre grupos, se mesmo dentro de um grupo os adeptos não se entendem? Como podemos correr milhares de kms atrás do Sporting, se há quem não o faça PELO SPORTING mas sim por política e ideais extremistas?
Digam-me: é isto que é ser diferente? É que durante anos (décadas?) tudo o que nos orgulhou fomos nós mesmos, os “adeptos diferentes”. Hoje são os dirigentes e os jogadores que nos mostram o que é ser Sporting. Então e agora, orgulhamo-nos de quê?
Há uma frase sobre o futebol de que sempre gostei: “o futebol é a coisa mais importante das coisas sem importância”. É uma ideia que faz sentido e exemplifica bem a relevância do futebol para este país. Portugal é uma nação que ama o futebol, ponto.
Individualizando a realidade, eu digo-o com vaidade: amo o Benfica!
Pois é precisamente sobre esse amor, que orgulhosamente partilho com a restante nação benfiquista, de que vou falar.
Não me vou prender com a ideia habitual de que “ninguém ama um clube como nós” ou que “somos diferentes dos outros”. Isso é uma patetice. É uma noção errada e uma sentença injusta. Tenho a certeza de que existem muitos sportinguistas e portistas que amam o seu clube tanto quanto eu ou qualquer um de vocês ama o Benfica. Para me defender está Jorge Amado, que inteligentemente disse que “o amor não se mede”.
Ora, não é possível medir mas é possível sentir. E é essa a perspetiva que me interessa. Desde quando é que vocês, caros leitores afetos ao Benfica, se sentem benfiquistas? Em que particular momento sentiram que o Benfica se tornou uma parte indissociável das vossas vidas? Pensem nisto: terá sido numa vitória ou numa derrota que o vosso coração sentiu “a chama ardente”?
Os adeptos do Benfica têm uma grande ligação sentimental ao clube Fonte: sport-lisboa-e-benfica.blogs.sapo.pt
A verdade é que os últimos anos têm sido um cocktail de vergonhas, humilhações e derrotas dolorosas, ao nível das melhores tragédias gregas. Estas batalhas catastróficas, de uma magnitude fora do normal, vitimaram milhares de benfiquistas, deixando feridas eternas no ego de cada papoila saltitante. Eu não fui exceção.
Mas, ao contrário do que seria esperado (e corrijam-me se estiver errado), o nosso laço sentimental para com o clube aumentou exponencialmente no meio desta tormenta. Porquê!? No fundo, não há resposta. Não se iludam, é inegável que as vitórias alimentam e os títulos alegram. Todavia, devo afirmar que, pessoalmente, nunca senti o benfiquismo tão presente como hoje. A falta de uma explicação em concreto não me faz confusão. Bem pelo contrário. É sinal de que é genuíno. É sinal de que, apesar das tais derrotas, a nossa paixão é inabalável. Isso é algo de que me orgulho, de que todos se devem orgulhar, independentemente do resto.
É por esta razão que vou ao estádio sempre que posso. Porque preciso de proximidade com aquele ambiente, preciso do cheiro a bifanas e finos, dos cachecóis ao alto durante o hino, do abraço ao desconhecido do lado durante o festejo de um golo, dos sorrisos no final da partida. Preciso porque, para mim, tudo isso é amor, tudo isso é Benfica, tudo isso é futebol.
Muito se falou sobre Paulo Fonseca e a sua (in)coerência táctica. Mudar até mudava, mas mal. Sinceramente, via em Paulo Fonseca um autêntico “fantoche” nas mãos dos adeptos, via um homem solitário (nem as declarações dos jogadores disfarçavam o mal estar que existia no seio do clube) e com vontade de abandonar o barco antes de este ir ao fundo de vez. A direcção do Porto teimava em segurar com fios de ráfia aquilo que costuma amarrar com ferro. Felizmente já saiu, embora tarde. Fazendo um exercício de reflexão, podemos tentar perceber o porquê de tão tardia chicotada:
I) As alternativas realmente disponíveis no mercado não agradam a Pinto da Costa e à direcção;
II) O possível substituto não quer assumir já a equipa ou está contratualmente vinculado a outro clube.
Quais são, então, as possibilidades de sucessão ao agora treinador interino Luís Castro? Dentro do leque de nomes que saltam todos os dias de capa em capa de jornal e que aparecem constantemente em notícias de blogs ou comentários, eu aposto num destes três para suceder a Fonseca: Marco Silva (de imediato), Villas-Boas ou… Jorge Jesus (ambos no final da época).
Jorge Jesus e André Villas-Boas seriam as escolhas ideais para o FC Porto Fonte: TVI 24
Marco Silva seria a escolha lógica e seguiria a linha de critérios usados por parte da direcção azul-e-branca: é um jovem com talento comprovado e enorme margem de progressão que facilmente encaixaria no clube. Por outro lado, paira no ar a dúvida sobre se Marco Silva quererá, para já, abandonar o clube canarinho e perder assim a possibilidade de fazer mais um “brilharete” no campeonato, quiçá ficando à frente do… Porto.
As outras duas alternativas (André Villas-Boas e Jorge Jesus) seriam as que mais me agradariam, mas aí teríamos de hipotecar totalmente esta época (se não está já hipotecada…). Preferia um retorno do rei AVB ao trono que o lançou para o mundo, além de que seria desde logo uma aproximação aos adeptos, que cada vez mais estão de costas voltadas para o clube. As principais dificuldades prendem-se (claro está) com o salário do treinador e com os clubes interessados nele (com Barcelona assumidamente “à cabeça”). Não duvido que AVB volte para o Porto caso não surja nenhuma proposta de um “tubarão”, mesmo baixando muito o seu salário (às vezes um passo atrás significa dois em frente). Seria um retorno a uma casa que bem conhece, onde reencontraria alguns jogadores que com ele cresceram.
Por último, o técnico que inevitavelmente um dia virá para o Dragão: Jorge Jesus. Já há muito falado para ser timoneiro dos azuis-e-brancos, Jesus só não veio na época passada porque o Porto “obrigou” o Benfica a renovar com ele. Com os encarnados da 2ª Circular bem lançados na luta pelo título, duvido que Jesus seja despedido no final da época (infelizmente…). Seria um treinador que muito poderia fazer, a começar pela sua grande capacidade de “moldar” jogadores – acredito que finalmente teríamos um super Iturbe, um fenomenal Quintero a 10 e um Ricardo a render o dobro e que deixaríamos de sofrer golos de bola parada. A “solução JJ” parece-me, porém, muito difícil. Sobra-nos, por isso, Marco Silva.
Se a ideia é contratar já um treinador para a próxima época, Marco Silva é a melhor escolha Fonte: Futebolportugal.clix.pt
E, caso venha, que seja já na Segunda-Feira, por favor! Não aguento ver o meu Porto assim, estou habituado a ser de longe o melhor clube português e a ganhar em campo aquilo que outros nem cá fora nos conseguem tirar. Este Porto parece um clube da INATEL (com todo o respeito). Também não seria de estranhar que Pinto da Costa desse um “abanão” por completo na estrutura e contratasse um treinador estrangeiro (só espero que não seja Mano Menezes!), embora essa hipótese me pareça remota. Em último caso, e isso seria a surpresa total, o nosso presidente pode sempre “resgatar” a Mourinho o seu “n.º2”, Rui Faria (como já se falou). Mas isso é a mais pura especulação. Com tudo isto, só espero é ter um novo treinador (sim, um “treinador”!) e voltar a ver o meu Porto jogar com a alegria de outrora. Faça lá isso pelos adeptos, Pinto da Costa.
Se o Mundo é o lugar onde existem estádios de futebol com muitas casinhas em seu redor, então Guimarães será o paraíso… Aí, como em nenhum outro ponto deste país, persiste uma ligação umbilical entre a cidade e o clube – não o Vitória de Guimarães, mas o Vitória Sport Club, como aquelas gentes fazem questão de sublinhar, honrando o verdadeiro nome da sua paixão.
Uma paixão tão antiga – o Vitória foi fundado em 1922 – quanto fogosa, duradoura e única – a relação clube-cidade é vislumbrável a cada passeio pelo centro ou a cada contacto com os vimaranenses, os mesmos que seguem a equipa com uma força apenas equiparável à dos grandes. Assim, talvez não seja estranho perceber a explosão de alegria (desde sempre contida) ocorrida no Largo do Toural naquela noite de 26 de Maio de 2013, horas depois de o Vitória ter derrotado o Benfica na final da Taça de Portugal (2-1) e ter dado à sua cidade a maior conquista da história. E a noite mais longa e feliz.
Dos 11 titulares e heróis do Jamor, saíram 5 (El Adoua, Ricardo, Soudani, Amido Baldé e Tiago Rodrigues, com este último a retornar a casa). Para 2013/2014, como em anos anteriores, mais uma missão espinhosa pela frente: montar uma equipa competitiva para responder às exigências internas e a uma inesperada presença na Europa, tudo dentro de um contexto de restrição orçamental. Ao seu leme, um dos homens mais competentes do futebol português: Rui Vitória.
Atacando o mercado dentro de evidentes limitações financeiras e fazendo uma utilização mais do que profícua da sua equipa B (a este nível, talvez só o Marítimo tenha uma taxa de aproveitamento superior), o Vitória reergueu-se, organizou-se e, hoje, é, mais uma vez, um caso de sucesso, estando a quatro pontos do objectivo inicial: a qualificação para a Liga Europa.
A maior força do Vitória é a sua vibrante massa adepta Fonte: ipressjournal.pt
Com um início de época repleto de indefinições e depois de uma pálida imagem dada na Supertaça (derrota diante do FC Porto, 3-0), o Vitória, tomando a espada do seu maior Conquistador e suportado pelos seus adeptos, acertou agulhas e foi à luta. Com uma aposta clara na formação e no jogador português, os principais reforços foram André Santos e Nii Plange (Sporting), Malonga (Monaco), Moussa Maazou (Étoile du Sahel) e Tiago Rodrigues e Abdoulaye (FC Porto), sendo que este último acabou por regressar, em Janeiro, ao clube de origem.
O Campeonato foi iniciado com resultados expectáveis, ao passo que, na Europa, as indicações eram positivas (vitória diante do Rijeka e empate em Lyon). Rui Vitória apostava nesta fase num claro 4-3-3, com um meio-campo rotativo e extremos bem abertos prontos a utilizar a sua velocidade (Malonga e Marco Matias) à procura de servir Maazou. O apuramento na Liga Europa acabou por fugir, consequência principal das duas derrotas às mãos do Bétis, ainda que em partidas em que o Vitória acabou, em termos de futebol jogado, por ser melhor. Ficam, no entanto, os resultados e os 5 pontos amealhados no Grupo I – de qualquer forma, o melhor desempenho das equipas portuguesas na competição.
O momento negativo da época haveria de chegar com o afastamento da Taça da Liga, numa eliminatória diante do Leixões. Com algumas peças mais estabilizadas (André Santos e Tomané) e perante uma fase de menor fulgor dos rápidos alas, Vitória experimentou um esquema próximo do 4-4-2 com Maazou e Tomané na frente atacante (foi, aliás, assim que venceu no Estoril).
Hoje a equipa parece ter voltado à base táctica incial (4-3-3), ainda que com alguns intérpretes diferentes, e, por isso, com uma dinâmica um pouco diversa. Com o regresso de Abdoulaye ao Dragão, o quarteto defensivo assenta em Pedro Correia, Moreno, Paulo Oliveira e David Addy, guardado por um seguro e competente Douglas. A este propósito, três notas – a defensiva vitoriana sofre, sobretudo, ao nível do jogo aéreo; Paulo Oliveira (central, 22 anos, produto da formação vitoriana) tem potencial para vir a ser um caso sério no futebol português; Addy continua a cometer os mesmos erros que cometia quando chegou a Portugal, nomeadamente ao nível do posicionamento e da (excessiva) impetuosidade que coloca em campo.
Paulo Oliveira. Aos 22 anos é o esteio da defesa do Vitória Fonte: A Bola
Para o trio do meio-campo, Rui Vitória tem apostado sobretudo em André Santos, André André e Crivellaro. Um tridente versátil e que não se atropela nas funções: André Santos é o vértice mais recuado e primeiro construtor de jogo; André André (ou Leonel Olimpio, como na Luz, onde caiu muito bem no espaço de Enzo Perez,) aparece como a ‘vassoura’ da equipa, possibilitando uma pressão sobre o adversário mais à frente (meio-campo menos expectante e mais pressionante) e tendo (ainda) pulmão e capacidade técnica para gerir a bola e dar apoio; o esquerdino Crivellaro é, por sua vez, a melhor noticia que este Vitória nos deu: pulando entre a equipa principal e a B, alto e elegante, assume-se hoje como o virtuoso do meio-campo vimaranense, com classe e qualidade de passe em doses consideráveis, faltando, quiçá, alguma intensidade e consistência ao seu jogo para chegar a outro patamar. Nesta equação, sobra ainda Tiago Rodrigues, elemento emprestado pelo FC Porto, com uma enorme qualidade de passe e visão de jogo, mas que, por ora, está tapado.
Finalmente, no atacante vimaranense, a acompanhar Marco Matias (rápido, incisivo e com bom poder de finalização, é um valor seguro) e Moussa Maazou (com um currículo interessante, o atacante do Níger destaca-se pela dimensão física e profundidade que oferece ao jogo da equipa, até mais do que pelos índices de concretização, item em que pode claramente melhorar), Rui Vitória tem optado por Barrientos. Actuando pela esquerda, o uruguaio tem permitido à equipa uma maior capacidade na manutenção e gestão da bola, assumindo-se como (mais) um médio e não tanto como um extremo/avançado, pensando antes em equilibrar do que em explodir pela ala; em suma, aproximando mais a equipa de um (falso) 4-4-2, dando-lhe critério e cérebro, mas menos velocidade e repentismo do que quando a preferência recai sobre Malonga ou Nii Plange. Resta ainda o menino Tomané – com o número 9 nas costas, cresceu muito desde a sua estreia na Supertaça; está hoje mais agressivo no ataque à bola e, consequentemente, mais preparado e dentro do jogo, tendo já contribuído com golos importantes na ausência de Maazou (mesmo quando o possante avançado regressou, não recuperou de imediato a titularidade, em função da boa resposta dada por Tomané).
Moussa Maazou. Uma ‘ave rara’ no futebol português Fonte: Vavel
Rui Vitória tem o enorme mérito de com (estes) parcos recursos ter montado uma equipa que, mais do que qualquer outra coisa, tem uma ideia de jogo. E – ainda mais relevante – os jogadores sabem dar-lhe corpo. O Vitória não é uma equipa exuberante mas é um conjunto que tendo vindo a evoluir desde o inicio da época, assoma agora mais sólido, estruturado e pragmático – a equipa apresenta-se organizada, raramente se desposiciona e tem a virtude de saber pressionar em bloco quando sente que o pode fazer (a este nível, foi melhor na Luz do que na 1ª parte diante do FC Porto, algo corrigido ao intervalo). Com bola, tenta sair a jogar apoiado mas não tem o constrangimento de, em situações de aperto, procurar o jogo aéreo e a perna longa do ‘farol’ Maazou e esticar o seu jogo.
É, actualmente, uma equipa de autor e que, percebendo as suas lacunas, tentou crescer em cima delas. A resposta que deu na 2ª parte diante do FC Porto é paradigmática: subindo a linha defensiva, ligando os seus sectores, pressionando de forma mais coordenada e compacta, com outros índices de atitude, apenas não venceu o tri-campeão por uma questão de centímetros. Na Luz, com outra capacidade de decisão de alguns dos seus jogadores, poderia também ter causado dissabores ao Benfica.
Confortável no 6º lugar, o Vitória vê o comboio da Europa perto. Sabe, no entanto, que as suas limitações estão também elas muito próximas: as segundas linhas do plantel não são mais do que o produto da (boa) formação e equipa B, estando ainda em fase de maturação. Luís Rocha, Josué, João Amorim e Hernâni são bons projectos de jogadores mas seria interessante para o (Rui) Vitória poder, por uma vez, evoluir em cima do consolidado e não, a cada novo Agosto, partir do zero. Na verdade, do zero nunca será – porque quem tem a cidade e as gentes de Guimarães por trás já parte em vantagem.
Ainda um pouco na ressaca do Euro 2014, que redundou mais uma vez numa eliminação demasiado precoce da competição, na ótica do adepto da Seleção Nacional que está sedento de grandes feitos e conquistas: conforme comentado na altura, o desaire diante da formação da Itália, nas meias-finais, foi decidido em “pequenos detalhes”. Ora bem, é nisto mesmo que eu me quero focar: falhamos sempre nas grandes competições devido a “pequenos detalhes”, em jogos muito equilibrados, que podem cair para qualquer lado, mas que, para infortúnio nosso, são vencidos pelos nossos rivais.
Não querendo encher o leitor de resultados e factos, aqui deixo alguns tópicos sobre aquilo que tem sido a prestação da equipa lusitana ao logo das 11 competições, respetivamente quatro campeonatos do Mundo e sete Europeus.
As prestações em campeonatos da Europa não têm sido historicamente brilhantes: apesar de termos alcançado a final em 2010, na Hungria, o saldo de todos os jogos realizados é negativo. Por outras palavras, ou, neste caso, números, em 27 jogos apenas contamos com nove vitórias, acrescidas de sete empates e 11 derrotas. Em sete participações, por três vezes não lográmos passar sequer a fase de grupos inicial, coincidentes com as três primeiras presenças (1999, 2003 e 2005). De resto, uma eliminação nos quartos de final em 2012, aos pés da nossa mais recente “besta negra”, a Itália (3-1 para os transalpinos). Em 2007, em solo português, e este ano, na Bélgica, quedámo-nos pela 4ª posição, cedendo nas meias-finais perante Espanha e (mais uma vez) Itália. De referir que, em ambas as ocasiões, não fomos felizes também no jogo de apuramento do 3º lugar, perdendo a medalha de bronze para Rússia e Espanha, outra equipa que não nos traz boas recordações. O ponto alto do futsal luso aconteceu em 2010, na cidade húngara de Debrecen.
Este caminho merece, por várias razões, ser comentado com mais algum detalhe. Uma fase de grupos inicial muito modesta da nossa parte, sem qualquer vitória registada. Um empate alcançado já no último minuto do jogo com a Bielorrússia (5-5) e uma derrota pesada frente à Espanha (1-6) não deixavam antever nada de bom para o nosso lado. Valeu-nos a preciosa ajuda de “nuestros hermanos”, que, no primeiro jogo do grupo, cilindraram a formação de Leste, por pesados 9-1. Passado este cabo das tormentas, encontrámos a Sérvia, nos quartos de final. Apesar de ter surpreendido a Rússia na fase preliminar (venceu 4-3), foi incapaz de travar uma turma portuguesa competente e aguerrida, que venceu tranquilamente (5-1). Seguiu-se o Azerbaijão, uma seleção imprevisível, que nos levou à marca de grandes penalidades, após um 3-3 registado no final do prolongamento. Conseguimos passar e encontrámos o nosso pior pesadelo no que diz respeito a este tipo de competições. Posso ter induzido o leitor em erro, ao destacar a Itália no início do artigo, mas, neste caso, falo da Espanha. Equilibrámos mais os parciais (2-4), mas não foi dessa que Portugal conseguiu levar o título para casa. Foi, então, a nossa oportunidade mais flagrante de conquistar um troféu, até aos dias de hoje.
Equipa presente na final do Euro 2010 Fonte: Artedofutsal.blogspot.com
Falando agora da competição mais importante a nível mundial, o campeonato do Mundo, Portugal apresenta um saldo bem mais positivo no que diz respeito à diferença entre vitórias e derrotas. Ao cabo de 23 jogos, distribuídos por quatro presenças, vencemos 13, empatámos dois e perdemos oito.
A grande diferença em relação ao Europeu é que nunca na nossa história atingimos a final. No entanto, é também seguro dizer que apenas por uma ocasião nos ficámos pela fase inicial. A melhor prestação de sempre ocorreu, curiosamente, na estreia. Em 2000, na Guatemala, os jogadores portugueses arrecadaram uma medalha de bronze, que é, até então, o maior motivo de destaque nesta competição. Nesta edição, a equipa das quinas encontrou um adversário temível por duas ocasiões, que não deu motivos nenhuns aos jogadores nacionais para sorrirem. Logo na primeira fase de grupos, uma derrota por 4-0, que, no entanto, não impediu o apuramento português. Quando os jogos assumiram um carácter decisivo, isto é, nas meias-finais, o Brasil tornou a aparecer no caminho. Apesar das excelentes relações existentes entre os dois países, a “canarinha” não teve dó nem piedade, aplicando “chapa 8” aos guerreiros lusitanos, que ainda foram a tempo de resgatar uma medalha. No encontro de atribuição do 3º lugar, Portugal venceu por 4-2 a Rússia.
Nas três presenças que se seguiram (2004, 2008 e 2012), Portugal não passou dos quartos de final. Em 2004, em Taiwan, a equipa nacional não passou da segunda fase de grupos, sendo afastada por (como não poderia deixar de ser) Itália e Espanha. Em 2008, num grupo de cinco equipas em que apenas os dois líderes se apuravam, Portugal ficou na 3ª posição, atrás de Paraguai e Itália, vendo-se desde logo afastada da discussão do título. Na última competição mundial, em 2012, na Tailândia, não foi possível passar dos quartos de final, cedendo mais uma vez diante da Itália, após prolongamento (4-3, tendo a equipa portuguesa estado a vencer por 3-0 no tempo regulamentar).
Equipa presente no Mundial de 2012, na Tailândia Fonte: Visão de Mercado
Todo este cenário prova que Portugal está entre a elite do futsal mundial, disso não há a mínima dúvida (o 5º lugar no ranking da FIFA assim o prova). No entanto, além das quatro formações que se encontram à frente da formação lusa (Brasil, Espanha, Itália e Rússia), falta um título de renome mundial para confirmar esse estatuto adquirido ao longo do tempo. Resta-nos agora esperar mais dois anos, desta feita pelo Mundial 2016 (Colômbia), para ver se é nessa altura que o tão esperado e ansiado título surge, já que o futsal português bem merece e exige.
Portugal é um país periférico. Sempre o foi ao longo da História, muito por causa de uma situação geográfica que, ao longo dos séculos, impossibilitou que tanto as mercadorias como as ideias chegassem cá com a mesma rapidez com que circulavam nos reinos do coração da Europa. Foi, aliás, em parte devido a isso que Portugal se interessou pelo mar e deu início à sua expansão marítima. No entanto, tirando um ou outro pequeníssimo período histórico de maior prosperidade, conseguida à custa das colónias, a realidade do nosso país foi quase sempre de crise, escassez de recursos e dependência face às grandes potências.
Em 2014, como sabemos, esta realidade mantém-se. No futebol, as coisas não são diferentes: tal como o país foi, em tempos, uma porta de entrada na Europa dos mais variados produtos que depois seguiam para outros locais, também o nosso campeonato não é um ponto de chegada mas sim um mero entreposto onde fazem escala alguns bons jogadores sul-americanos (e outros não tão bons…) que vêm tentar a sua sorte na Europa. Da mesma forma, de cada vez que um futebolista nacional se destaca por cá, rapidamente se transfere para um clube futebolística e/ou financeiramente muito mais poderoso.
Não tenho por hábito embandeirar em arco com os jogadores do Sporting ou de outros clubes portugueses, por muito que se destaquem no nosso campeonato. Expressões como “o jogador X é dos melhores do mundo” ou “não há melhor do que o médio Y na sua posição” sempre me custaram ouvir quando dizem respeito a jogadores do campeonato português, pura e simplesmente porque não é o mesmo jogar contra um Paços de Ferreira, um Olhanense, um Belenenses e um Arouca ou contra um Chelsea, um Man. City, um Man. United ou um Arsenal.
Desde que vejo futebol, poucos foram os jogadores da nossa liga que me fizeram exclamar: “este gajo é de top mundial!”. Que me lembre, apenas Lucho e Falcao foram capazes de arrancar essas palavras da minha boca. Nem Jardel, nem Hulk nem Aimar o conseguiram – o primeiro porque foi dos melhores finalizadores que vi, mas tinha falhas básicas que tornavam inviável a sua transferência para um “colosso”; o segundo porque o considero um bom jogador a nível europeu, não um fora-de-série; e o terceiro porque, apesar de ter tido grandes momentos em Portugal, já chegou cá numa fase menos exuberante da carreira.
No que diz respeito aos jovens o caso muda ligeiramente de figura. Ainda que isto seja tudo menos um método exacto e objectivo, há duas categorias onde insiro os melhores “miúdos” que temos por cá: a dos acima da média (isto é, que poderão vir a estabelecer-se numa boa equipa europeia) e uma outra, muito mais restrita, que diz respeito aos atletas que poderão vir a atingir o nível de classe mundial. Nesta última categoria apenas vi cinco jovens, todos eles do Sporting: Quaresma, Cristiano Ronaldo, Miguel Veloso, Nani e Bruma. Hoje em dia, posso dizer que apenas Ronaldo e Nani confirmaram o que deles esperava (veremos o que acontece com Bruma). Quaresma foi vítima da sua personalidade atribulada e Veloso foi o único jogador por quem “perdi a cabeça” erradamente, e que me fez dizer aquelas frases que comecei por criticar. Mas quem se lembra daquela sua época de 06/07 facilmente me percebe. Daí para cá, confirmou o seu estatuto não como estrela, mas como um jogador acima da média.
Apesar de ainda jogar em Portugal, William Carvalho já é uma certeza. A sua ascensão tem sido meteórica – aqui, o momento da sua estreia pela Selecção, contra a Suécia Fonte: A Bola
De resto, e ainda que correndo o risco de me esquecer de um ou outro, a minha lista de jovens que avaliei como “acima da média” quando estavam nos três grandes foi: Moutinho, Vukcevic (mais uma vítima da sua própria maneira de ser, porque aquela primeira época não enganava) e agora Carlos Mané e, possivelmente, João Mário pelo Sporting; do lado do Benfica, Ramires, Javi Garcia, David Luiz, Fábio Coentrão, di María, Salvio, Gaitán e Matic (alguns já deixaram de ser promessas, mas continuam a ter condições para “dar o salto”); no Porto, Carlos Alberto, Diego (se bem que este já fosse uma certeza), James, Danilo, Alex Sandro, Mangala, Otamendi, Iturbe e Quintero.
Talvez por conhecer vários benfiquistas, e pela onda que se gera quando estão na mó de cima, os casos dos jogadores desse clube são os que melhor mostram que não é por um jogador se evidenciar em Portugal que tem como garantido o estatuto de estrela. Em 2010, não havia benfiquista que não dissesse que Coentrão, por exemplo, era “o melhor lateral-esquerdo do mundo”. Em Madrid já lhe chamaram “o suplente mais caro do mundo”, e nunca conseguiu impor-se a Marcelo. É esta noção de perspectiva que por vezes nos falta: é diferente jogar em Portugal e em Espanha, por todas as razões e mais algumas. Coentrão é um lateral de boa valia, sim. Por outras palavras, um exemplo do tal jogador acima da média (e no caso dele bastante, até). Mas nunca na vida o melhor do mundo.
Tudo isto para chegar a um jogador: William Carvalho. Vou abdicar das minhas precauções habituais e dizer com toda a convicção que a minha lista de atletas com potencial estratosférico já ganhou mais um nome. A sua grande capacidade de passe e a facilidade com que constrói jogadas, não se limitando ao seu papel defensivo, já está a um nível notável; a forma como desarma os adversários é genial; o sentido táctico que apresenta, e que o tempo encarregará de aprimorar ainda mais, é surpreendentemente elevado – leitura e visão de jogo são algumas das suas qualidades inequívocas. Pouco me interessa se William já é “dos melhores médios do mundo” ou não. Por uma questão de coerência e por saber que há muitos centrocampistas de enorme qualidade e com muito mais rodagem do que o luso-angolano, diria que não. Mas, se continuar assim, sê-lo-á muito em breve. E, infelizmente para nós, Sportinguistas, provavelmente já noutro país qualquer. É a tal desvantagem de termos um país e um campeonato periféricos…
Os mineiros tiveram o azar de defrontar as duas melhores equipas do mundo na mesma semana. O score foi muito negativo (dois golos marcados, 11 golos sofridos), mas também enganador perante a qualidade da equipa mineira.
Semana negra para os homens de Gelsenkirchen. Apesar disso, não creio que o resultado de 1-6 frente ao Real Madrid, para a primeira mão dos oitavos de final da UEFA Champions League, e a derrota por 5-1 no reduto do Bayern München sejam o espelho da qualidade da equipa.
O Schalke ocupa a 4ª posição (dá acesso aos play-offs da Champions) e está a apenas dois pontos do Bayer Leverkusen e a quatro dos seus eternos rivais, o Borussia Dortmund.
A verdade é que, com o 1º lugar já decidido há muito tempo, a guerra pelos primeiros nove lugares está ao rubro, já que a diferença entre o Borussia Dortmund, actual 2º classificado, e do FC Augsburg, actual 9º, é de apenas 10 pontos, faltando 11 jornadas para o fim da Bundesliga.
Aos 20 anos, Draxler é já uma das principais figuras do Schalke 04 e uma das maiores promessas a nível mundial Fonte: Dailymail
Falar do Schalke e não falar de Julian Draxler é quase impossível. A verdade é que o jovem alemão não está sozinho na lista de promessas: Papadopoulos (22 anos), Meyer (18) e Matip (22) constam também na lista de um clube possuidor de verdadeiros diamantes. Jens Keller, técnico dos azuis reais, alia esta juventude a uma experiência fundamental de jogadores como Höwedes e Felipe Santana, na defesa, Neustädter e Kevin-Prince Boateng, no meio campo, e ainda com Farfán e Kuntelaar, no ataque.
Aos 30 anos, Huntelaar vive um dos seus melhores momentos da carreira, depois de ter desiludido no Real Madrid e no AC Milan Fonte: Talksport.com
Convém recordar que há ainda jogares gravemente lesionados, que, quando em forma, são fundamentais para a qualidade desta equipa. Falo de Uchida, que ainda não tem data de retorno, de Aogo, que volta à competição apenas em Maio, e ainda de Höger, que, com uma rotura de ligamentos em Outubro, voltará a pisar os relvados em Abril.
As próximas jornadas vão ser fundamentais para a sua posição final, já que depois de jogar com o Hoffenheim, Augsburg e Eintracht Braunschweig, jogos teoricamente fáceis, o Schalke tem a importantíssima deslocação ao Signal Iduna Park, para defrontar um Borussia Dortmund que continua fustigado por lesões; a mais recente foi a de Sokratis, neste sábado.
A passagem aos quartos de final será practicamente impossível Fonte: Media.bundesliga.com
Practicamente arredados da Champions League, os alemães irão apontar todas as suas forças para uma boa classificação na Bundesliga – o 3º ou até mesmo o 2º lugar seriam o ideal, já que estas duas posições garantem o apuramento para a fase de grupos da principal competição clubística europeia, o que por si só lhes garante uma boa maquia financeira.
O que também vai ser practicamente impossível é segurar as suas maiores promessas, como Papadapoulos ou Meyer, mas ainda mais difícil será manter Julian Draxler perante o assédio de clubes como o Bayern München, Arsenal e Manchester United.
Contudo, e perante a provável saída destes jogadores, o grande desafio será colmatar essas supostas ausências e ainda tentar melhorar a defesa, já que a diferença de golos entre todas as competições é de apenas +5, o que é muito curto para uma equipa que ambiciona altos voos, tanto a nível interno, como europeu.
O caro leitor até pode não saber as regras do jogo, pode confundir o snooker com o bilhar, pode não saber a ordem das bolas, pode até nem gostar, mas tenho a certeza de que o nome O’Sullivan não lhe é indiferente. Porquê? Porque este Senhor tem uma maneira transcendente de fazer magia por onde quer que passe.
No domingo vimos Ronnie levantar a taça do Welsh Open. Uma final que levou Ding Junhui a ganhar apenas 3 frames dos 17 possíveis. Foi uma vitória claramente desequilibrada, o que desiludiu, mas justa. Ronnie mostrou-se superior durante toda a partida. Admito que estava à espera de uma final um pouco mais contrabalançada; Junhui estava a fazer um percurso na época 13/14 fenomenal, relembrando sempre, a cada partida, que o snooker não corre apenas nas veias do Reino Unido.
Até ao 11º frame não posso admitir que tenha sido a final mais empolgante a que assisti. Já presenteei, pelas emissões da Eurosport, partidas com grandes reviravoltas! Quando digo grandes reviravoltas refiro-me, por exemplo, à final do UK Champiosnhip em 2010, entre John Higgins e Mark Williams. O galês Mark Williams liderava por 7 – 2, e depois por 9 – 5, a um frame da vitória. Quando o marcador apresentava o resultado de 9 – 7, o escocês presenteou o público com mais 3 frames, levando assim para casa o troféu. Mas no domingo, apesar de saber que havia a hipótese de Ding ter um grande “come back”, já estava rendida ao sublime jogo de Rocket. Não só ganhou o Welsh Open, como em sete minutos e onze segundos conseguiu fazer uma tacada máxima (147 pontos) e, assim, bater o record de Stephen Hendry, que tinha 11 entradas máximas.
Ronnie O’Sullivan na final do Welsh Open 2014 (com o que eu considero a sua “imagem de marca”: a língua de fora) Fonte: The Guardian
Se viu este encontro, tenho a certeza de que não deixou escapar o momento em que as bancadas foram abaixo. No instante em que Ronnie embolsa a última bola vermelha e começa a sequência de cores, os berros entusiasmados dos bancos fizeram-se ouvir nos arredores do Newport Centre. Aposto que também não se conseguiu conter em casa. Percebo, também foi complicado para mim.
Se Ronnie O’Sullivan é humano ou não, ainda está para ser provado. Talvez um dia bata à porta do snooker outro jogador que consiga embolsar com as duas mãos, que faça 147 pontos em cinco minutos e vinte segundos e que, o mais entusiasmante de tudo, leve os fãs ao rubro.
Por favor, levem-me a ver o Rocket jogar enquanto ainda é vivo! Aos 38 anos Ronnie está fenomenal e eu imploro ao bom senso que me deixe vibrar com o dom deste homem.
Começo a notar que caso o Porto não tivesse Quaresma estava ainda pior. O extremo português tem feito boas exibições e aparenta ser o jogador em melhor forma no plantel azul e branco. Na verdade, é Quaresma que faz algo para agitar o ataque do Porto.
Quando a notícia oficial do regresso de Quaresma foi anunciada fiquei com sentimentos mistos. Por um lado, o plantel portista necessitava de um extremo puro, bom no um-para-um com capacidades de mexer com um jogo a partir das alas. Por outro, Quaresma vinha de uma liga sem grande prestigio, vinha de um lesão no joelho, que é sempre complicada num jogador, e, por fim, chegava ao Dragão já com uma idade avançada (30 anos), o que para um extremo implica, na grande maioria, final de carreira com decréscimo das habilidades.
Porém, Quaresma surpreendeu e fez por merecer o estatuto de que agora dispõe de titular incontestável. Após os primeiros jogos de dragão ao peito, que serviram para recuperar a forma, está a apresentar um grande nível de futebol. Grandes golos, assistências, dedicação e, claro, as trivelas que se tornaram a sua imagem de marca. No entanto, no meio da desorganização ofensiva e defensiva do Porto, se for apenas o Mustang a remar, o barquito não anda.
A história de Quaresma demonstra que há jogadores que estão destinados a apenas jogar bem no Porto. Não quero insinuar que Quaresma jogou mal nos outros mas, para mim, é na cidade do Porto que Quaresma dá seu melhor.
Quaresma tem sido o timoneiro do ataque do Porto Fonte: Mais Futebol
Embora tenha começado na formação do Sporting, onde deu os primeiros toques numa bola à sério, não foi lá que se tornou num bom jogador. Mesmo assim, recebeu um contrato do colosso Barcelona para jogar na Liga Espanhola. Um ano depois fez as malas e rumou àquela que seria a sua casa: o Estádio do Dragão. Após quatro anos de glória com o dragão ao peito saiu pela porta da frente para mais uma aventura por terras estrangeiras. Passou por Inter de Milão, com um empréstimo ao Chelsea pelo meio, foi recebido em êxtase pelos turcos do Besiktas e a última paragem antes de regressar a casa foi o Al-Ahli, onde, para muitos, iria morrer o talento inato de Ricardo Quaresma.
O Mustang está de volta na máxima força. Infelizmente este ano é capaz de não ser feliz. Mas Quaresma tem contrato até 2016. De certeza que, até lá, vai provar novamente o doce néctar que é vencer com o dragão ao peito.
Não podemos esquecer-nos de que o Mundial do Brasil está à porta. Portugal possui um grande leque de opções no que toca a extremos. Entre Ronaldo, Nani e Varela – o núcleo duro de extremos da era Paulo Bento – há espaço para, talvez, mais dois. Paulo Bento é um homem ponderado e inteligente. De certeza que até ao início do Brasil’2014 vai ver e rever a sua convocatória real e final. Talvez, e sublinho o talvez, visto que depende de muitos factores e da manutenção da excelente forma de Quaresma, o nome de Ricardo Quaresma possa estar na convocatória.
Até lá, Ricardo Quaresma está em grande forma e, se não houvesse Quaresma, a série de maus resultados do Porto podia até ser bem pior. E reparem numa coisa : quando o melhor jogador é aquele que entrou há menos de um ano, após uma lesão no joelho e que esteve sem jogar durante seis meses, é porque o caso está realmente mal parado…
Somos a melhor equipa em Portugal. Já o ano passado o éramos. E no ano anterior também. Vítor Pereira não era nem treinador, nem adversário para este Benfica. Nem para este, nem para o de então. E os jogadores do Porto não tinham o poderio necessário para sair por cima no final do Campeonato. Mas saíram. Por duas vezes. Seguidas. Sem espinhas. A não ser aquelas que entaladas ficaram na garganta de todos nós, benfiquistas, quando vimos o hoje-em-dia-muito-triste-e-calimero Kelvin facturar o golo mais desnorteante na história do Benfica.
Bom, e se o passado se converter em futuro? É que há um motivo para o melhor treinador em Portugal não ser campeão em catadupa: o inconseguimento – como diria Assunção Esteves. Ponha-se os olhos no Benfica dos últimos quase cinco anos: uma equipa concretizadora. Com atitude. Inteligente. Forte na defesa. Malandra no ataque. Capaz de dar cartas aqui e lá fora. Mas a quem falta sempre qualquer coisa. E o problema é que não falamos de um bom central, ou de um fantástico ponta-de-lança, ou mesmo de um rigoroso esquema táctico. Não. É mais complexo do que isso. E simultaneamente mais simples. Falta atitude! Força de vontade! Benfica à Benfica! Ah! E um treinador com mais cabeça…já para não falar numa direcção com cojones, claro.
Mais disto em campo, no banco e nos escritórios e temos Benfica campeão Fonte: ontemvi-tenoestadiodaluz.blogspot.com
Acreditar, portanto, que o Benfica é campeão só porque leva nove pontos de avanço para o Porto a nove jornadas do final é ser – à falta de melhor expressão – “fofinho”. Triste, mas verdade. Este é o melhor período das últimas duas ou três décadas e não há títulos. Nada. Zero! Não é por acaso. Aliás, nada no futebol é por acaso. A não ser, claro, os golos anulados ao sportinguistas que, lá está, por simples acaso os vão afastando dos títulos.
Excepto talvez este ano. Pessoalmente não acredito em milagres. Futebolisticamente acredito em tudo. E dou mérito – muito, muito mérito – a um treinador que tem feito o melhor trabalho que o futebol português viu esta época: Leonardo Jardim. O madeirense é bom que se farta, mas não tem ainda a maturidade para levar de vencido este conjunto encarnado. Não vira, no entanto, a cara à luta e, passo a passo, lá vai conquistando os muito preciosos pontos de que o Sporting precisa. E o clube de Alvalade vai-se aguentando. Acredito que tal estado de felicidade seja precário, mas esta é uma resiliência que assusta e não saber admiti-lo é não saber ver futebol. Esse foi, na minha humilde opinião, um dos grandes problemas do ano passado (e do anterior a esse)…não tínhamos competição. Era “peaners”. Qual campeonato a feijões. Tanto que, no final, acabámos a fazer as contas aos feijões a que o segundo lugar tinha direito em três diferentes competições.
Mostra quem manda, Messias. Prova que o motivo pelo qual estás no Benfica mais um ano não é pelo medo de te ver sair para o Porto. Estás numa equipa de deuses, Jesus. E ao teu nome é hora de fazer jus. Precisamos de mais. Queremos mais. Merecemos mais! Não o conseguir é mergulhar num profundo mar de desilusão do qual ninguém será capaz de nos salvar. A responsabilidade, hoje mais do que nunca, é tua. E como dizia Lincoln, numa nação de Homens inspiradores só há duas opções: “viver para sempre ou morrer por suicídio”.
Pois vamos para o Olimpo juntos. Sem medos. O futuro é nosso. Mas há que lutar por isso. Mete-los a correr. A suar a camisola. A sofrer traumaticamente como nós nas bancadas sofremos. A chorar. A rir. A morrer de amores. A precisar disto como nós. Só assim não haverá desculpas. Porque, venha de lá o que vier, veio depois de meses e meses de paixão deixada em campo. Já vos vimos assim. E não pode ter sido fogo de vista.
A vida nem sempre nos dá destas oportunidades. Regozijemos. Este ano fomos ao Inferno e voltámos. Com o mesmo coração com que o fizemos respondamos, no final, à pergunta: “o que nos falta?”. Nada.