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Copa América’2015 – Chile 2-1 Perú: Bomba de Vargas torna sonho chileno mais real

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O Chile é o primeiro finalista da Copa América, depois de ter batido o Perú no Duelo do Pacífico, em Santiago. Vargas foi o homem-golo da noite e colocou o conjunto orientado por Jorge Sampaoli a um passo de vencer pela primeira vez a mais velha competição de seleções do mundo. Com um estádio composto quase na totalidade por chilenos em grande euforia, o jogo iniciou tal como se imaginava: com o Chile a assumir a posse da bola e a fazer um cerco à área dos peruanos. É esta a filosofia chilena, com uma intensidade máxima, grande mobilidade, muitos homens em zona de finalização e grande objetividade em todos os processos. Valdivia é o maestro e organiza todo o jogo ofensivo, ajudado pela estrela Alexis Sanchez. São eles que marcam o ritmo, definem os lances e muitas vezes também os terminam.

Foram eles os homens em foco nos primeiros minutos a tentar o assalto à área contrária, mas o Chile não conseguiu penetrar na defensiva do Perú. Os peruanos, como foi sua marca durante o torneio, defenderam muito bem, estiveram muito organizados e foram coesos e solidários, com um homem na frente a ser a referência. Guerrero segurava as bolas e fazia a contenção, esperando o apoio dos seus colegas. Carrillo, que foi titular pela primeira vez, era um deles, juntamente com Fárfan e Cueva. O extremo do Sporting foi uma das três alterações que Ricardo Gareca fez no onze em relação ao jogo com a Bolívia. No Chile, Sampaoli alterou dois homens na defensiva, um deles Jara, suspenso depois do lance polémico com Cavani.

Depois de uns primeiros minutos intensos com os Chilenos a dominar, o Perú cresceu e aproximou-se da área de Claudio Bravo. Lobatón, aos 16 minutos, avisou de muito longe, com um remate que tirou tinta ao poste direito do guarda-redes do Barcelona. O Perú subiu as linhas, teve mais posse e acalmou a euforia inicial chilena mas, aos 20 minutos, Zambrano deitou tudo a perder. O central peruano, depois de aliviar uma bola, deixou o seu pé levantado e atingiu Aranguíz nas costas. Uma agressão que o árbitro da partida, José Ramón Veja, viu e puniu com um cartão vermelho direto. Ficava o Perú em maus lençóis e galvaniza-se o Chile, que nesta fase do encontro parecia estar por baixo.

A seleção Roja, como é conhecida, não perdeu tempo e cercou mesmo a área adversária, com muitos homens em zona de finalização e dois laterais bem abertos nas linhas (Isla e Albornoz) em zona muito adiantada do terreno. Este assalto iria dar resultado muito por culpa de Alexis Sanchéz, o melhor em campo, que para além de finalizador, nesta partida mostrou-se um excelente criativo. Mostrou também muita inteligência na forma como baixou no terreno para ser, a par de Valdivia, o primeiro construtor de jogo.

Os dois primeiros lances de golo iminente pertenceram a Valdivia. Aos 25’e após um livre lateral, tentou um chapéu ao guarda-redes Gallese, que saiu um pouco por cima e 3 minutos depois finalizou, em arco, um lance inventado por Alexis, com a bola a rasar o poste direito. Pelo meio destes dois lances, o Perú reorganizou-se, colocando Ramos, um central, por troca com Cueva, uma das revelações do torneio que nesta partida não teve tempo para brilhar. Vale a pena estar atento a este jogador de 23 anos, que ainda alinha no Alianza Lima, do seu país.

Alexis foi o melhor em campo, apesar dos dois golos de Vargas; Fonte: Facebook Seleccion Chilena
Alexis foi o melhor em campo, apesar dos dois golos de Vargas;
Fonte: Facebook Seleccion Chilena

La Roja continou o seu festival ofensivo e aos 31’, Advíncula evitou o golo de Vargas. Alexis lançou Vidal na direita e o jogador da Juventus cruzou pelo chão para o segundo poste, onde Vargas iria encostar. O lateral do Vitória de Setúbal antecipou-se e evitou o pior, cedendo canto. Mas esta não seria a única vez que Advíncula iria estar no papel de salvador. Nem dois minutos tinham passado quando Valdivia arrancou na zona central do terreno, descobriu Alexis à entrada da área, descaído para o lado direito, que depois de um bom trabalho conseguiu em esforço colocar num colega na linha de fundo, que cruzou tenso para o interior da pequena-área, onde um peruano fez um primeiro corte. A bola sobrou para Vargas perto do segundo poste que rematou com selo de golo. Advíncula deu o corpo às balas e adiou o golo que Vargas viria a marcar pouco depois.

Antes desse lance que daria o tento inaugural aos 41’, o Perú criou perigo pela primeira vez, desde a expulsão de Zambrano. O guardião peruano bateu longo para Guerrero, que dominou no peito, faz uma rotação que deixou Rojas para trás e embalou na direção da área. Na entrada da mesma, ainda do lado esquerdo, colocou a bola na zona do penálti, para a entrada de Carrilo que por muito pouco não se antecipou a Bravo.

O Perú mostrava sinais de continuar motivado e nunca abdicou de atacar, jogando sempre com as suas limitações e desvantagem numérica, mas perto do intervalo o golo chileno foi um rude golpe. Alexis recebe do lado esquerdo, perto do bico da área, encara o adversário, ultrapassa-o e corta para dentro, desferindo um cruzamento-remate na direção do segundo poste. Aranguíz surge sozinho e em vez de desviar o esférico, abre, inteligentemente, as pernas deixando a bola passar, enganando por completo Gallese. Os chilenos já se levantavam em todo estádio para festejar, mas a bola embateu no poste. Sorte dos chilenos pois a “redondinha” foi ter com Vargas, que com alguma sorte à mistura e na segunda tentativa fez o golo e transformou o estádio num vulcão. Importa referir que Vargas beneficia de uma posição irregular, no momento do remate de Alexis.

No segundo tempo tudo mudou! Para surpresa geral, não foi o Perú a alterar mas sim o Chile com duas substituições, que em nada beneficiaram o conjunto. Duas trocas diretas que mais pareceram poupanças com o jogo muito longe de estar resolvido. E foi com esse espírito que La Roja entrou na segunda parte, exceção feita ao golo mal anulado a Vargas. Fora-de-jogo assinalado ao atacante, mas André Carrillo estava a colocar o chileno em posição legal. Ora isto foi no primeiro minuto após o reatamento e a partir daí quase só deu Perú. Os chilenos baixaram a intensidade e deixaram os peruanos galvanizarem-se e acreditarem que seria possível virar o jogo mesmo com menos uma unidade. Logo aos 53’, Advíncula fez um cruzamento perfeito para a cabeça de Farfán, que obrigou à atenção de Bravo.

Vargas apontou dois golos e gravou o seu nome na história do Chile; Fonte: Facebook Seleccion Chilena
Vargas apontou dois golos e gravou o seu nome na história do Chile;
Fonte: Facebook Seleccion Chilena

Os 10 homens de Richard Gareca estavam mais intensos em cada disputa de bola e empurravam o adversário para o seu reduto. Não criavam muito perigo, mas sentia-se que a qualquer altura o empate podia surgir e foi mesmo isso que aconteceu. Uma recuperação de bola dos peruanos, ainda no seu meio-campo, originou um contra-ataque rapidíssimo com Guerrero na direita a servir de pivot e a lançar Advíncula na linha de fundo. O lateral do Setúbal, em grande correria, chegou ao esférico mesmo perto desta sair e cruzou com conta peso e medida para Carrilo, o único homem do Perú no interior da área. O sportinguista ia desviar para o golo, mas Medel antecipou-se e fez ele um auto-golo, que trouxe justiça ao resultado, quando faltava meia hora para jogar.

Um castigo para os chilenos que adormeceram a pensar na final de sábado, quando o jogo estava longe de estar ganho. Com o golo do empate, o Perú ia voltar a fechar-se e tentar jogar com o relógio, só que Vargas nem deu tempo para que os peruanos se habituassem ao resultado. O jogador chileno recebeu a bola muito longe da baliza descaído para o lado direito, a uns 30 metros talvez, e rematou, fazendo um golaço, que será o principal favorito entre os candidatos a melhor golo da competição. Só tinham passado 4 minutos e o jogo estava de novo a pender para a seleção anfitriã.

O Perú teve que voltar a lançar-se para o ataque, Pizarro ainda entrou e criou perigo uma vez (74’), mas faltaram forças aos homens de Gareca, depois de estarem a jogar a menos um desde os 20 minutos. Bravo não foi obrigado a grandes defesas e foi mesmo o Chile a poder “matar” o jogo por duas vezes. Alexis (78’) recebeu de Valdivia e rodou para a baliza, mas a bola passou a rasar a barra e Vidal (91’) obrigou Gallese a mais uma defesa. Importa ainda referir que ficou um penálti por marcar sobre Paolo Guerrero, aos 82’, depois de Rojas o ter travado, acertando-lhe com o joelho numa perna. De nada valeram os seus protestos, num lance que poderia mudar toda a história.

Vitória da melhor equipa, do conjunto com mais qualidade, mas que adormeceu em determinados minutos do jogo e permitiu que este aguerrido Perú acreditasse que o sonho era possível. Nota muito positiva para esta seleção peruana, que surpreendeu tudo e todos e apresentou um futebol agradável de ver, tendo em Guerrero a sua figura de proa. Cueva é um nome a seguir e ainda um destaque para a excelente exibição (e torneio) de Advíncula. Quanto ao Chile, mantém vivo o seu sonho de vencer a sua primeira Copa América e logo em sua casa. Argentina ou Paraguai será o último obstáculo nesta caminhada de Alexis, Vidal e companhia.

A Figura:

Alexis Sánchez – Não marcou, mas foi determinante para que a sua equipa alcançasse a final. É um vagabundo, quase impossível de marcar e com uma técnica extraordinária. Neste jogo, foram várias as vezes que o jogador do Arsenal, de forma inteligente, recuou no terreno para ser o primeiro elemento de construção, dividindo com Valdivia essas tarefas. Foi dos seus pés que saiu o golo inaugural e a maior parte das jogadas de perigo dos chilenos. É a estrela maior desta seleção e está a justificar essa designação.

O Fora-de-Jogo:

Zambrano – O central levou amarelo logo aos 7’ e conseguiu ser expulso com apenas 20 minutos decorridos, após agressão a Aranguíz. Uma infantilidade que custou muito caro aos peruanos. Quase deitou por terra a esperança do Perú e obrigou os seus colegas a correrem o dobro para tentar chegar à final. Não conseguiram, mas ficou a ideia que com 11 homens podiam ter sido um osso ainda mais duro de roer e quem sabe causar uma surpresa.

 

Jogadores que Admiro #39 – Mantorras

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Como admirar um jogador que nunca foi aquilo que poderia ter sido? Bem, se esse jogador for Pedro Mantorras é algo fácil de explicar. Isto porque Mantorras foi, de facto, muito mais do que aquilo que o próprio alguma vez poderia sonhar. Como? Recordemo-nos do seu percurso.

Começou no Processo de Sambizanga e, com 17 anos apenas, chegou ao Alverca de Luís Filipe Vieira. Antes disso, chegou a fazer testes no Barcelona, onde não ficou por (diz-se) desacordo em termos de verbas.  Na época de estreia na Primeira Liga foi a grande revelação, apontando 9 golos, um deles ao Sporting, naquela que foi uma das suas melhores exibições.

Vieira eventualmente fez a transição para o Benfica e levou Mantorras consigo. “Deixem jogar o Mantorras”, frase que Vieira disse após o primeiro jogo de Mantorras pelo Benfica, no qual sofreu marcação muito apertada, tornou-se um símbolo daquela que viria a ser, apesar de tudo, uma esplendorosa carreira pelo Benfica.

Sim, Mantorras teve uma carreira de esplendor. Só não crê quem não quer crer. É verdade que foi sujeito a sucessivas intervenções ao joelho após lesão na sua segunda época de águia ao peito, pelo que só podemos especular quão bom teria sido dentro dos campos não tivesse sido alvo desse mau fado. O jogador angolano era rápido, forte tecnicamente e com um especial faro pelo golo. No entanto, Mantorras foi mais do que isto, mais do que um “simples” jogador. Mantorras foi e é um símbolo benfiquista.

Mantorras (na foto) despediu-se dos relvados em 2012, num jogo entre o Benfica e a Fundação Luís Figo, no qual apontou um golo. Fonte: Facebook Oficial Sport Lisboa e Benfica
Mantorras (na foto) despediu-se dos relvados em 2012, num jogo entre o Benfica e a Fundação Luís Figo, no qual apontou um golo.
Fonte: Facebook Oficial Sport Lisboa e Benfica

Costumo dizer, em jeito de brincadeira, que se Portugal teve o Sebastianismo, o Benfica teve o “Mantorrismo”. Ora, Pedro Mantorras esteve afastado dos relvados entre 2002 e 2005. Nessas duas épocas o Benfica nada ganhou. Mantorras voltou em Janeiro de 2005, quando foi convocado para uma partida contra o Boavista. Trapattoni lá o pôs em jogo e o angolano não perdoou. Nessa época foi considerado por muitos como o homem do título, visto que por três ocasiões salvou o Benfica de situações mais complicadas, nos instantes finais dos jogos.

Mantorras passou a ter uma aura especial: quando saía do banco para aquecer a Luz sorria, os adversários tremiam, e o Benfica ganhava alento, força e esperança. O angolano confessou mesmo que Trapattoni chegou a pedir que este se levantasse do banco só para acalmar os adeptos. Mantorras era isto.

Como é que explica que um jogador que esteve constantemente lesionado tivesse tal efeito nos adeptos? Bem, a meu ver, não se explica. A verdade é que ainda hoje dou por mim a pensar em algo como “Oxalá tivéssemos o Mantorras”, quando a situação aperta. Mantorras é um filho do Benfica, por todos nós amado. E é precisamente por isto que Mantorras é um dos, senão “O” jogador que mais admiro: por ter sido mais do que jogador, por ter sido Benfica.

Olheiro BnR – Sérgio Oliveira

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Nesta brilhante campanha da selecção nacional de sub-21 no Campeonato da Europa, um dos jogadores que mais elogios têm merecido da imprensa nacional e internacional tem sido o jovem médio-centro Sérgio Oliveira, futebolista que merecerá o regresso ao FC Porto na próxima temporada.

Afinal, presente num quarteto de meio-campo com os ilustresWilliam Carvalho (Sporting), João Mário Eduardo (Sporting) e Bernardo Silva (Mónaco), o box-to-box não tem deixado os seus créditos por mãos alheias, introduzindo claramente a sua marca pessoal no esquema de Rui Jorge e fazendo crer que retornará ao Dragão no momento certo.

Formado no FC Porto

Sérgio Miguel Relvas de Oliveira nasceu a 2 de Junho de 1992 em Paços de Brandão, Portugal, e começou precisamente no clube da sua terra natal, o Clube Desportivo Paços de Brandão, ainda que cedo tenha rumado ao FC Porto, precisamente na temporada 2002/03, quanto tinha apenas 10 anos de idade.

No Dragão haveria de fazer todo o restante percurso no futebol juvenil, estreando-se na equipa sénior do FC Porto em 2009/10, temporada em que participou em quatro jogos (um como titular).

De empréstimo em empréstimo

Sem espaço nos azuis-e-brancos, o internacional sub-21 português haveria de iniciar um périplo de cedências, tendo representado Beira-Mar (2010/11), Malines (2011) e Penafiel (2012), ainda que apenas tenha jogado com a desejada regularidade na passagem pelo emblema duriense.

Ora, talvez temendo estar a perder aquele que era visto como uma grande promessa da sua “cantera”, o FC Porto optou por fazer Sérgio Oliveira regressar ao Dragão em 2012/13, sendo que o médio-centro haveria de ser peça fundamental da equipa B azul-e-branca nessa campanha, somando 36 jogos (seis golos) na Segunda Liga.

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Sérgio Oliveira vai regressar ao FC Porto
Fonte: jogadoresaoraiox.blogspot.com

Encontrou o seu espaço na Mata Real

Essa excelente campanha pelo FC Porto B acabou por valer-lhe a entrada no principal escalão do futebol português, então pela porta do Paços de Ferreira, clube ao qual Sérgio Oliveira esteve cedido nas últimas duas temporadas.

Aí, o box-to-box haveria de encontrar o seu espaço, tendo-se assumido como peça fundamental do miolo pacense ao longo destes últimos dois anos, nos quais somou um total de 67 jogos (seis golos) em todas as competições oficiais.

Box-to-box de qualidade

Sérgio Oliveira tem actuado preferencialmente como “oito”, tanto no Paços de Ferreira como na selecção nacional de sub-21, destacando-se pela inteligência posicional pelo bom pulmão pelo e critério nas transições.

Muito dinâmico e raçudo, é fundamental nos equilíbrios do miolo, sendo relevante realçar a sua importância no processo defensivo, onde se mostra muito eficaz tanto na marcação como na contenção.

Até poderá ser “seis”

Ao invés, o centrocampista torna-se menos influente no processo ofensivo, uma vez que, apesar de ser criterioso no passe, lhe falta uma maior qualidade técnica e imaginação para ser verdadeiramente desequilibrador em zonas mais adiantadas no terreno.

Aliás, perante essa situação, e valorizando-se toda a qualidade que Sérgio Oliveira apresenta nas funções mais defensivas, não será completamente descabido acreditar que, num contexto de um grande clube como o FC Porto, que exige naturalmente mais de um “oito” do que o Paços de Ferreira, o jovem de 23 anos poderá acabar por recuar no terreno para desempenhar as funções de trinco.

Foto de Capa: jn.pt

Mercado de transferências internacional: ponto da situação

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Como já é hábito, o mercado de transferências de verão está quente, agitado e polémico. O panorama internacional está incerto e cheio de indecisões, de “diz que disses” e de dezenas de jogadores apontados às mais diversas equipas. Vamos, então, tentar dissecar as movimentações futebolísticas pelo Velho Continente (e não só).

Premier League

Começando por nomes que bem conhecemos, o ex-sportinguista Cédric ruma ao Southampton, sétimo classificado da última edição da Premier League, posição com acesso às competições europeias. Já Orlando Sá vai sair do Légia de Varsóvia diretinho para o Reading, clube que actua no Championship, a segunda liga inglesa.

Juanmi, o talentoso avançado espanhol que jogava no Málaga, vai também para Southampton. Já Micah Richards, lateral-direito internacional pela Selecção Inglesa, trocou o Manchester City pelo Aston Villa. Richards esteve este ano a actuar na Fiorentina, sob empréstimo, clube onde pouco jogou e menos ainda mostrou. Muito polémica, também, é a transferência do brasileiro Roberto Firmino para o Liverpool, vindo do Hoffenheim. Os altos valores da contratação já foram criticados, inclusive, por antigos jogadores dos reds.

Por terras de Sua Majestade fala-se de duas transferências intra-liga: James Milner, ex-City, ruma ao Liverpool, e, segundo a comunicação social, Petr Cech está certo no Arsenal. A BBC afirma mesmo que o guarda-redes já realizou os exames médicos na passada sexta-feira. Assim sendo, o Chelsea perde uma das grandes figuras da sua história recente; Cech está há onze anos nos blues e realizou mais de 300 jogos pelo clube, tendo perdido este ano o lugar para o belga Courtois.

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Petr Cech está a caminho do Arsenal
Fonte: Facebook Oficial Petr Cech

O Manchester United assegurou a importante compra do médio holandês Depay, que militava no PSV. O internacional foi já comparado a Cristiano Ronaldo por…Ryan Giggs. Por Old Trafford correm também os rumores de que Sergio Ramos, jogador em quase litígio com o Real Madrid, pode vir a ser a mais sonante contratação da época.

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Sérgio Ramos pode rumar a Old Trafford
Fonte: Facebook Oficial Sérgio Ramos

La Liga

Em Espanha, salta à vista a saída de Mario Mandzukic do Atlético de Madrid, rumo à vice-campeã europeia Juventus. E se o croata sai, Jackson Martínez entra. O ex-portista já confirmou a saída para os colchoneros, seguindo os passos do compatriota Radamel Falcao. O experiente Van der Vaart vai representar o Bétis, e Khedira sai do Real Madrid para reforçar o meio-campo da Juventus.

Uma das transferências mais faladas é a de Danilo para o Real Madrid, vindo do FC Porto. O lateral vê assim recompensada a boa época que fez ao serviço do emblema azul e branco. E Xavi, mítico centro-campista da equipa blaugrana, histórico internacional espanhol, deixa o clube de sempre e ruma ao Al-Sadd, clube do Qatar.

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Jackson Martinez pode estar a caminho do Atlético Madrid
Fonte: Facebook Oficial Jackson Martinez

Por Barcelona, Joan Laporta, candidato à presidência do clube, admite Paul Pogba no emblema catalão e rejeita as contratações de Di María e Sergio Ramos, tão badaladas na comunicação social. Já no mercado de treinadores, Nuno Espírito Santo vai ter uma ajuda extra para empurrar o Valencia até aos lugares cimeiros da liga espanhola: Phil Neville, antigo internacional inglês, é o novo treinador-adjunto do português.

Serie A

Em Itália, o veterano Samuel Eto’o rendeu-se aos encantos dos turcos do Antalyaspor e deixou a Sampdoria. Já Pepe Reina, experiente guarda-redes espanhol, deixou o Bayern, onde foi sempre segunda opção, e procura agora um final de carreira mais simpático no Nápoles. Andra Bertolacci, talentosíssimo médio italiano, deixa o Génova e salta para voos mais altos na Roma, sua cidade natal.

Michael Essien, antiga trave mestra de Mourinho no Chelsea, deixa o Milan e busca afirmação no futebol grego, pela mão do Panathinaikos. Practicamente certa está a saída de Pogba da campeã Juventus; resta saber para onde. Já Tévez, avançado bianconero desta época, confirmou a sua saída para o Boca Juniors e o consequente regresso à Bombonera. Também muito falado é Arturo Vidal, jogador que está a fazer uma excelente Copa América e que irá, seguramente, agitar o mercado italiano.

Bundesliga

John Heitinga regressa ao Ajax, clube onde se afirmou, depois de uma passagem pelo Hertha. Fabian Frei, veterano avançado suíço, sai do Basileia para ir jogar no Mainz. Mircea Luscescu, treinador do Shakhtar, já dá o avançado Douglas Costa como perdido para o Bayern.

O mercado alemão permanece, ainda, sem grandes agitações.

Ligue 1

A liga francesa não sofreu, ainda, alterações de grande referência. Vamos ver o que o fabuloso Europeu Sub-21 que Bernardo Silva está a realizar vai provocar, no que ao assédio dos grandes clubes europeus diz respeito.

Por último, fugindo agora à Europa, de notar ainda os regressos de Lucho González (ex – FC Porto), Aimar e Saviola (ex – SL Benfica) aos argentinos do River Plate.

Olheiro BnR – Jannik Vestergaard

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Por norma, um defesa-central só atinge a plenitude das suas capacidades a partir dos 25 anos, uma idade em que a maturidade competitiva e mental já lhe permite conhecer as manhas e exigências do jogo. Mas quem olha para a seleção dinamarquesa de Sub-21 encontra uma exceção. Na forma de capitão de equipa, Jannik Vestergaard incorpora já quase todas as qualidades que podem levá-lo a destacar-se como uma das referências na sua posição, num futuro que se adivinha risonho.

Autoritário até dizer chega

À parte todas as suas qualidades, a presença física do jogador do Werder Bremen intimida o mais arrojado dos avançados. Dois metros de altura e mais de 90 quilos são suficientes para o identificar como patrão de qualquer defesa. É o líder da equipa que chegou às meias-finais do Europeu Sub-21 e fez 21 jogos na Bundesliga, entre Bremen e Hoffenheim, onde passou a primeira metade da temporada transacta.

Vestergaard (à direita) trocou o Hoffenheim pelo Werder Bremen e logo se impôs como titular Fonte: Facebook Oficial SV Werder Bremen
Vestergaard (à direita) trocou o Hoffenheim pelo Werder Bremen e logo se impôs como titular
Fonte: Facebook Oficial SV Werder Bremen

Decorrente do seu físico, denota alguma lentidão na abordagem aos lances, mas compensa essa fraqueza com uma excelente noção de posicionamento e uma boa dose de agressividade, quer a cair sobre o esférico, quer sobre o adversário. Não se inibe de recorrer à falta quando necessário e não são raras as vezes que o vemos berrar com os colegas para corrigir o posicionamento dos mesmos. Simplesmente intransponível no jogo aéreo, aproveita para disseminar o pânico na área adversária, pois as suas subidas nos lances de bola parada são já uma imagem de marca. Não inventa, o que o torna num modelo mais evoluído do típico “central à moda antiga”.

No sítio certo para crescer

Aos 22 anos e com três internacionalizações A, vai já para a sexta época nos quadros do principal campeonato alemão. Num futebol cada vez mais evoluído tecnicamente, o físico dos jogadores continua a ser uma das peças-chave nos relvados, e Vestergaard encaixa na perfeição no central-modelo de um clube alemão que aponte à Europa. Melhorando a capacidade de progredir no terreno com a bola controlada e no arranque, teremos um caso muito sério. Nunca será um prodígio, mas estaremos perante um atestado de segurança. O último “monstro nórdico” a sair da forja escandinava.

Foto de Capa: Página de Facebook ‘Landsholdet’

Portugal não é só futebol

Conquistar 10 medalhas nos primeiros Jogos Europeus é sem dúvida um bom resultado, melhor ainda quando nove destas medalhas foram em modalidades olímpicas. Este número de medalhas é igual às conquistadas por Portugal entre 1996 e 2012 nos Jogos Olímpicos, com as devidas diferenças destas competições, desde logo pelos países participantes.

As 10 medalhas, que valeram o 18º lugar no “medalheiro”, foram divididas em três de ouro, quatro de prata e três de bronze, e por oito modalidades: Canoagem, Futebol de Praia, Judo, Taekwondo, Ténis de Mesa, Tiro, Trampolim e Triatlo.

É precisamente com o Triatlo que vou começar por ter sido a primeira medalha, João Silva foi quem nos deu a primeira prata numa prova em cuja última secção – a de corrida – foi absolutamente brilhante, recuperando da 21ª posição para o segundo lugar final. Nesta prova destaco ainda os restantes dois portugueses, João Pereira foi oitavo e Pedro Palma ficou no 34º posto.

O Ténis de Mesa coletivo deu-nos o primeiro ouro com uma brilhante vitória na final contra a França. Marcos Freitas, Tiago Apolónia e João Geraldo a serem superiores. Sendo injusto destacar um dos três, quero dar uma referência especial a João Geraldo, que com apenas 19 anos mostrou que tem um futuro enorme pela frente e que existe qualidade no pós-Freitas, Apolónia e João Monteiro – que, por lesão, não esteve em Baku – quer por ele quer pelo Diogo Chen. Na competição individual as prestações já não foram tão boas, com Freitas e Apolónia a serem eliminados nos quartos de final. Apesar de terem perdido contra os dois finalistas esperava mais do Marcos Freitas nesta parte do torneio.

Rui Bragança é um nome desconhecido para a grande maioria dos portugueses Fonte: Facebook do atleta
Rui Bragança é um nome desconhecido para a grande maioria dos portugueses
Fonte: Facebook do atleta

Na Canoagem, duas pratas conquistadas por Fernando Pimenta em K1 1000M e 5000M. Pimenta nas duas provas ficou atrás de Max Hoff da Alemanha, mas começa a recuperar a diferença que existe entre os dois, pelo que no futuro é de se esperar mais medalhas por parte de Fernando Pimenta, e de um valor diferente. Nas restantes provas, o K2 1000M – Emanuel Silva e João Ribeiro – esteve abaixo das expectativas, ficando em último na final quando se esperava uma luta pelas medalhas da dupla campeã europeia e mundial na vertente de 500M. Na prova de K4 1000M também se esperava algo mais, apesar do quinto lugar alcançado; nesta prova, além dos três nomes já aqui falados, junta-se David Fernandes.

No Tiro, João Costa conquistou a prata na prova de 10M. Costa – que é um dos melhores nomes mundiais nesta categoria – esteve sempre em luta tendo a dois tiros do fim passado para primeiro, mas não conseguiu manter esta posição. Na prova de 50M não conseguiu a qualificação para a final, apesar de ter valor para tal. Em 2016 vai para os seus quintos Jogos Olímpicos e a ambição pelas medalhas tem que estar presente.

O Taekwondo deu duas medalhas, um ouro e um bronze. Rui Bragança trouxe o ouro em -58Kg enquanto Júlio Ferreira trouxe o bronze nos -80Kg. Mário Silva, outro dos bons nomes que Portugal tem nesta modalidade, perdeu nos quartos de final e não conseguiu na repescagem chegar ao bronze. Boas perspetivas para o futuro nesta modalidade olímpica mas com pouca expressão no nosso país.

A medalha que mais surpresa me causou foi a conquistada por Ana Rente e Beatriz Martins no trampolim sincronizado. As duas ginastas fizeram a sua primeira prova internacional juntas e, pelo resultado, é de manter a aposta. Também na vertente de trampolim Diogo Ganchinho esteve bem, apesar da falha na final, e mostrou mais uma vez a sua mais valia.

Além do título nos Jogos Europeus Telma Monteiro venceu ainda o seu 5º europeu Fonte: Facebook da atleta
Além do título nos Jogos Europeus Telma Monteiro venceu ainda o seu 5º europeu
Fonte: Facebook da atleta

O Judo é das modalidades mais afamadas de Portugal e voltamos de Baku com um ouro. Telma Monteiro, a jóia da coroa portuguesa quando se fala em Judo, venceu nos -57Kg, sendo que a final até pareceu ser fácil tal a forma como Telma Monteiro esteve no Tatami. É preciso destacar os quintos lugares de Sergiu Olenic, Ana Cachola e Jorge Fonseca, que ficaram a apenas uma vitória do bronze.

Para fechar a lista de modalidades vencedoras de medalhas temos o bronze do Futebol de Praia (modalidade que não é olímpica). Portugal bateu a Suíça por 6-5 no jogo para esta medalha, numa prova em que esteve muito bem e onde merecia mais. Contudo, nas meias finais, contra a Rússia, faltou a sorte que hoje protegeu Portugal em alguns momentos. Apesar de ser injusto destacar um jogador, vou ter de o fazer realçando Belchior que apareceu numa forma muito boa em Baku.

Como notas finais gostaria de destacar o nadador Gabriel Lopes, que esteve muito bem na prova de 200M estilos, apesar de muitas outras boas prestações de atletas de Portugal. Queria ainda destacar mais uma vez a falta de existência de jornais desportivos em Portugal, apenas a existência de três jornais que se dedicam ao futebol. Mas, como diz o título do artigo, Portugal não é só futebol. Até acrescento, Portugal é muito mais que futebol.

Foto de capa: Facebook Mário Freitas

Quique Setién – O Último Imperador da Cidade de Lugo

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“Me voy habiendo hecho grandes amigos” – foi assim que Quique Setién se despediu do Club Deportivo Lugo, equipa que representou e transformou por completo nos últimos seis anos.

Por detrás das muralhas romanas da cidade de Lugo, respira uma equipa que desde 2009 a esta parte conheceu as mais profundas mudanças pela mão de Quique Setién, um dos mais enigmáticos e talentosos treinadores do futebol espanhol na actualidade. Natural de Santander, na Cantábria, Quique viveu uma carreira recheada de altos e baixos, enquanto jogador profissional, mas ainda assim bastante prolífica. Foi ao serviço do histórico Racing de Santander, em duas ocasiões distintas, que o talentoso médio espanhol mostrou todos os seus atributos. A sua qualidade como organizador de jogo não só lhe valeu a alcunha de El Maestro entre os fervorosos adeptos Racinguistas, como também lhe valeu um bom contrato com o Atlético Madrid e uma presença no Mundial do México de 1986 ao serviço da selecção espanhola, ainda que não tenha jogado um único minuto.

A sua passagem pelos Colchoneros também não foi pacifica, dada a mais que previsível incompatibilidade com o presidente da equipa, o sempre polémico Jesús Gil y Gil. O histórico presidente madrileno acusou Quique de levar uma vida boémia fora do terreno de jogo e tratou de lhe fazer a vida difícil durante a estadia do talentoso médio no Vicente Calderón. Em 1988, Quique Setién abandonou, sem surpresa, o Atlético Madrid para primeiro se juntar ao Logroñés (onde conseguiu quatro épocas de bom nível) e para mais tarde voltar ao seu querido Racing de Santander. Esta segunda passagem de Quique pela Cantábria coincidiu com o momento de ouro da história dos racinguistas, durante a qual, ao lado de jogadores como Dmitri Radchenko, o seu amigo Dmitri Popov e Pablo Alfaro, derrotou de forma contundente o Barcelona (5-0) e o Real Madrid (3-1) no emblemático El Sardinero.
Depois de quase 600 jogos oficiais e de uma carreira repleta de histórias para contar, o eloquente Quique Setién decidiu pendurar as botas em 1996, após uma breve passagem pelo Levante UD.

Quique Setién – El Maestro da Cantábria  Fonte: Todo Colecion
Quique Setién – El Maestro da Cantábria
Fonte: Todo Colecion

Quique sentia a necessidade de continuar ligado ao futebol e começar uma carreira como treinador foi a melhor forma que encontrou para continuar com esta paixão. Em 2001, Quique estreou-se como treinador da sua equipa de sempre, o Racing de Santander, mas, durante oito anos consecutivos, este pensador do futebol nascido na Cantábria não encontrou em nenhuma das equipas que representou (e foram várias) a estabilidade necessária e o apoio, por parte das respectivas direções, às suas ideias e à sua forma de estar no futebol.

Em 2009, no entanto, tudo mudou para Quique Setién. Após uma breve passagem pelo Logroñés, Quique assumiu o comando do CD Lugo e mudou a história deste clube galego para sempre. No seu terceiro ano ao serviço dos Albivermellos, Quique conseguiu trazer a equipa de volta aos campeonatos profissionais (Liga Adelante) e aí a manteve até ao momento da sua partida no início deste mês.

“El Flaco”, como era também conhecido nos seus tempos de jogador, criou um novo paradigma futebolístico no Anxo Carro, o pequeno estádio onde o CD Lugo joga em casa. Quique Setién abriu as portas ao futebol romântico (aquele que, por vezes, achamos só existir nos grandes clubes onde coabitam as super estrelas da modalidade) num clube modesto, mas com as contas em dia, mostrando assim a uma nação inteira que é possível jogar bom futebol com parcos recursos. Quique é um adepto confesso do futebol de passe curto, da posse de bola efectiva e, acima de tudo é um apologista do jogar bem, jogar sempre bem e nunca do ganhar a qualquer custo. Com Quique, não existe o pontapé para o ar, o jogar à toa aguardando que um alívio da defesa se converta numa jogada perigosa de contra-ataque. Para Quique Setíen, o futebol não é isso, como ele próprio já fez questão de mencionar em diversas entrevistas: “Tenemos un compromiso real con eso que todo el mundo entiende como fútbol vistoso y capacidad para someter al rival en su campo. Siempre jugaré así. No estoy de acuerdo con que el entrenador se tenga que adaptar a los jugadores. Hubo una época en que lo pensaba, pero porque no entendía el fútbol. Me gusta el orden, es fundamental. Desde niño juego al ajedrez y la conexión es similar, las piezas se protegen y se conectan para atacar y defender. Y es vital dominar el centro del tablero.”

Quique “El Flaco” Setién – O homem que mudou o CD Lugo para sempre Fonte: Página Lugo
Quique “El Flaco” Setién – O homem que mudou o CD Lugo para sempre
Fonte: Página Lugo

O CD Lugo foi a equipa que mais passes completou durante esta temporada na Liga Adelante. 21017 passes em 42 jogos é um número absolutamente impressionante e é, ao mesmo tempo, a prova de em como quer o técnico, quer a sua equipa não abandonaram, em momento algum, a sua forma de abordar os jogos, fosse qual fosse o adversário. Os médios do CD Lugo, Fernando Seoane e Carlos Pita, foram os jogadores que mais passes completeram na Liga Adelante esta temporada, tendo cada um deles uma média de 65 passes por jogo.

De acordo com aqueles que com ele trabalham de forma mais directa, Quique Setíen é muito mais que um mero treinador. “El Flaco” é um líder, um ombro amigo para os jogadores e um verdadeiro ídolo entre os adeptos, que chegaram, não poucas vezes, a compará-lo a Sir Alex Ferguson. Quique tem uma filosofia de vida onde não há muito espaço para o superficial e supérfluo (…”Ya tengo un coche que me trae y me lleva y una casa donde vivir…”) e encontra no futebol a forma de desfrutar da vida de uma forma cada vez menos usual nos dias de hoje (“…Aspiro a estar a gusto. Para eso necesito sentirme muy amigo de mis futbolistas y del club que defiendo, percibir el cariño y ofrecerlo. Soy muy emocional y de convicciones y por eso estoy tan bien en Lugo. ¿Que me critican? Porque digo lo que no se espera de un entrenador o de un rival…”).

É justo dizer-se que Quique Setién não inventou nada que Victor Maslov, Konstantin Beskov, Rinus Michels e até mesmo Pep Guardiola não tivessem já posto em prática no passado mais ou menos recente, mas não podemos deixar  de salientar a coragem de um homem que ama e acredita naquilo que faz e, com uma intensidade tal, que fez do Anxo Carro o teatro dos sonhos da Liga Adelante.

Copa América’2015 – Brasil 1-1 Paraguai (3-4, g.p): Quo vadis, Brasil?

internacional cabeçalho

Depois de Chile, Perú e Argentina, havia ainda uma vaga nas meias-finais da Copa América’2015. Para ocupá-la, Brasil ou Paraguai. Em Concépcion, ainda antes de tudo ficar decidido nas grandes penalidades, assistiu-se a um jogo de muito maior empenho e abnegação do que a um espectáculo de técnica ou magia. Isto porque este Brasil está tão longe de encantar que nem parece aquele país que nos habituamos a ver sambar com uma bola; e também porque este Paraguai, apesar da imensa alma e crença que coloca em cada disputa de bola, está distante de ser uma equipa que apresente grande qualidade no seu jogo.

O escrete voltou a alinhar no seu esquema habitual – 4-2-3-1 com Robinho a fazer de Neymar; de todo o modo, muita mobilidade, com os 4 homens da frente sempre irrequietos, e com a dupla Elias-Fernandinho a guardar as costas. Do lado paraguaio, o 4-4-2 clássico foi o esquema táctico-base da equipa de Rámon Díaz, com duas formigas de trabalho no miolo do terreno (Cáceres e Aranda), com as alas a surgirem como espaços de imprevisibilidade, por Benítez e Derlis, e na frente Valdes e Roque Santa Cruz a jogarem de perfil, ainda que o primeiro tenha e ofereça muito mais mobilidade ao jogo do Paraguai.

O jogo arrancou com dois momentos dignos de registo: logo ao primeiro minuto, enorme remate de longa distância por Coutinho para defesa brilhante de Justo Villar; do outro lado, Benítez entrou a todo o gás – fantástico na mudança de velocidade, foi um calafrio constante para Daniel Alves. Sem ter feito muito por isso, o Brasil haveria de chegar ao golo à passagem do quarto de hora. Fruto de uma  bela jogada colectiva (utilização perfeita dos três corredores), com um excelente último passe de Daniel Alves, Robinho só teve de encostar e, com isso, fazendo esquecer que era até o ‘Para’ que estava por cima do jogo, com mais bola e criando relativo perigo.

Como é hábito no Brasil de Dunga, o ‘escrete’ recuou e foi tentando especular com o jogo. Demonstrando imensas dificuldades em construir jogadas desde trás, a gestão do jogo raramente foi efectuada com uma posse de bola pausada, serena e/ou em zonas subidas. Os pequenos flashes de perigo que o Brasil ia, aqui e ali, criando resultavam sobretudo de recuperações de bola em terrenos mais avançados – aí sim, são capazes de imprimir velocidade e criar desequilíbrios, ainda que haja um assinalável défice de qualidade na definição das jogadas. Por sua vez, o jogo do Paraguai não é propriamente elaborado – nem voltou a sê-lo nesta partida. Vive sobretudo daquilo que é a criatividade dos seus alas (mais Benítez na 1ª parte, mais Derlis na 2ª) ou então procura o passe directo em busca dos dois avançados, apelando à combatividade no jogo aéreo. Destaque: perante um adversário pouco inteligente e capaz, a grande alma paraguaia foi sempre conseguindo compensar os défices de qualidade técnica. Porém, o jogo em si não era o mais entusiasmante: muitos passes errados e poucas oportunidades (tão-só 5 remates em toda a 1ª metade), sendo de assinalar apenas um remate rasteiro de Santa Cruz ao lado da baliza de Jefferson.

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Jefferson impediu o Paraguai de chegar à vitória no tempo regulamentar
Fonte: ca2015.com

A 2ª parte trouxe um jogo mais aberto e mais próximo de ambas as balizas. Mais partido, portanto. De todo o modo, foi sempre o Paraguai que esteve mais próximo do empate do que o Brasil de chegar ao segundo tento. Num curto período de tempo, em dois cantos cobrados por Derlis, Nelson Valdez e Paulo da Silva estiveram perto de assinar o 1-1. Por esta altura, era o Paraguai quem assumia definitivamente as despesas da partida, colocando mais gente no processo ofensivo, mas denotando óbvias limitações em alguns momentos do jogo – a título de exemplo, o Paraguai privilegia o futebol pelos corredores laterais mas tem um baixo índice de aproveitamento dos cruzamentos que efectua para a área. Do lado canarinho, em dez minutos, Dunga fez sair Willian e Firmino, entrando Douglas Costas (deu outra vivacidade ao jogo do Brasil) e Tardelli (perfeita nulidade), vendo logo de seguida Thiago Silva cometer um penalty tão ridículo quanto estúpido (não há outras palavras), dando oportunidade a Derlis de colocar alguma justiça no marcado – aquilo pelo qual o ‘Para’ sempre tentou, ainda que frequentemente não pela melhor via. 1-1 aos 70′. 

O jogo abriu ainda mais, porque agora também o Brasil precisava de chegar à baliza paraguaia – e isso é algo aparentemente tão complicado para os pupilos de Dunga. De facto, o Brasil, em determinados momentos, parece quase duas equipas numa só. Os quatro homens da frente pouco participam no processo defensivo, da mesma forma que os dois médios centrais brasileiros (naquilo que lhes é pedido estiveram em bom plano) raramente se chegam à frente, sendo que o processo ofensivo pede sempre mais a colaboração das duas locomotivas laterais (Daniel Alves e Filipe Luís fizeram imensas piscinas nesta partida). Enquanto o Brasil tentava e não conseguia, Ramon Díaz foi refrescando a equipa, com destaque para a saída de Benítez (um perigo à solta enquanto as pilhas duraram) e para a entrada de Bobadilla, possante avançado que veio dar outro tipo de possibilidades ofensivas à equipa paraguaia. Apesar de algumas chegadas a ambas as áreas com perigo qb, nunca pareceu que o golo do desempate estivesse para chegar – quem mais próximo esteve de o lograr foi Derlis na conclusão de um belo contra-ataque aos 79′. O jogo arrastou-se, assim, para o final sem grande chama. No fundo, sem grande Brasil.

Em caso de empate no final dos 90′, a Copa América não contempla prolongamento, pelo que o jogo seguiu de imediato para o lote de 5 castigos máximos. Nesse quadrante, por entre penalties marcados com grande violência ou com enorme categoria (Bobadilla e Miranda, por exemplo), os vilões haveriam de ser Everton Ribeiro (entrou para o lugar de Robinho) e Douglas Costa, já depois de também Roque Santa Cruz ter colocado uma das bolas em órbita do Sistema Solar. Tudo somado, depois de ter rematado quase o dobro do seu adversário no total dos 90 minutos (10-6), o Paraguai concretizou quatro grandes penalidades contra três do Brasil, garantindo a presença na meia-final da próxima terça-feira. Depois de abater o escrete, os paraguaios voltarão a defrontar a Argentina, equipa a quem arrancaram um empate (2-2) na fase de grupos. Por sua vez, a cada grande competição, o Brasil vai passeando uma camisola que já foi tremendamente grande em tempos idos mas que hoje, por entre infantilidades negligentes e erros grosseiros, é apenas uma sombra de si mesma.

A Figura
Edgar Benítez/Derlis González – Nenhum dos dois fez um jogo estrondoso mas foi esta dupla, no geral, que permitiu sempre aos paraguaios acalentar o sonho da passagem. Benítez esteve intratável na 1ª parte, colocando a cabeça em água a Daniel Alves; por sua vez, Derlis apareceu em grande nível nos segundos quarenta e cinco minutos, sendo capaz de esticar o jogo da equipa em profundidade ou trazendo a bola para zonas mais interiores. Ainda mais: foi o jogador do Basileia que marcou as duas grandes penalidades decisivas, primeiro aos 71′, depois no derradeiro lance do jogo.

O Fora-de-Jogo
Thiago Silva – Havia outros candidatos, como Roberto Firmino ou o próprio Dunga. Porém, há erros individuais que destroem toda a ideia de um colectivo – por mais que essa ideia até seja fraca. Hoje foi isso que sucedeu. A exibição do Brasil estava a ser frouxa mas foi o central do PSG quem tornou o jogo ainda mais complicado com uma abordagem completamente estapafúrdia a uma bola dentro da sua área que não parecia, sequer, digna de criar perigo – o árbitro só podia assinalar penalty.

Foto de capa: ca2015.com

Euro Sub-21’2015 – Portugal 5-0 Alemanha: Só mais um!

internacional cabeçalho

O cântico do momento bem podia ser o título deste texto: depois de vencer a Alemanha por conclusivas cinco bolas a zero, Portugal está na final do Campeonato da Europa de Sub-21 e fica a faltar um jogo para atingir o sonho de levantar o troféu da categoria. A Seleção Nacional voltou a fazer um jogo extremamente consistente e, mesmo sem grandes momentos de brilhantismo, manteve o registo 100% vitorioso sobre os germânicos em fases finais de Europeus.

Rui Jorge manteve o 4-4-2 losango que tem sido a matriz da equipa das quinas. Face à indisponibilidade de Tiago Ilori, avançou Tobias Figueiredo para o eixo da defesa, sendo essa a única alteração no onze em relação àquele que iniciou o jogo com a Suécia. A Alemanha optou por se acautelar defensivamente, montando uma linha de médios mais batalhadores à frente da defesa: Johannes Geis, Emre Can e Kimmich, relegando o criativo Max Meyer para o banco de suplentes.

Os primeiros dez minutos mostraram um grande equilíbrio, com ambas as equipas a encaixarem perfeitamente uma na outra. No entanto, o primeiro lance de perigo do jogo seria o prenúncio de uma exibição histórica das “esperanças” lusas: William Carvalho executou um passe em profundidade para Ricardo Pereira, que “sentou” um defesa da Alemanha e serviu na perfeição Sérgio Oliveira. O capitão português, à entrada da área, rematou ao poste da baliza defendida por Ter Stegen.

A partir daí, a pressão sobre a defensiva alemã intensificou-se e o primeiro golo acabou por surgir à passagem do minuto 25. Depois de uma boa jogada de entendimento, Ivan Cavaleiro assistiu Bernardo Silva (quem mais?), que, descaído para a esquerda, fuzilou autenticamente Ter Stegen. Pouco tempo depois, foi Ricardo Pereira a fazer o gosto ao pé, curiosamente, num lance de bola parada. Pontapé de canto cobrado por Bernardo, desvio de cabeça de Paulo Oliveira e o jogador do FC Porto a empurrar para dentro da baliza. 2-0, no espaço de oito minutos.

Bernardo Silva voltou a fazer uma excelente exibição, coroada com um golo Fonte: Página do Facebook do ‘UEFA Under-21 Championship’
Bernardo Silva voltou a fazer uma excelente exibição, coroada com um golo
Fonte: Página do Facebook do ‘UEFA Under-21 Championship’

Antes do intervalo, José Sá ainda teve tempo para brilhar, com duas excelentes defesas, a colocar travão às raras iniciativas alemãs. O guarda-redes do Marítimo mostrou o porquê de ser um dos atletas mais em foco na competição. Na compensação, Portugal alargou a vantagem, numa excelente jogada do ataque português, concluída por Ivan Cavaleiro. João Mário recebeu um cruzamento de Ricardo Pereira e ofereceu a bola ao avançado, que a colocou no canto superior da baliza à guarda de Ter Stegen, com um remate potentíssimo.

À saída para os balneários, a supremacia portuguesa era bem clara. Os comandados de Rui Jorge demonstraram uma maturidade acima da média e foram eficazes no momento de finalizar. Muito critério na posse de bola e na pressão sobre a saída para o ataque dos alemães. A ‘mannschaft’ esteve sempre muito distante do seu ADN, com os jogadores perdidos no sistema tático que Horst Hrubesch desenhou para a partida. O meio-campo português carburou na perfeição, e Ricardo Pereira foi muito ativo na frente de ataque, sem dar descanso aos defesas germânicos.

A etapa complementar não podia ter começado de melhor forma para Portugal: a Alemanha perde a bola a meio-campo e Bernardo Silva leva-a até à grande área, deixando para Ricardo Pereira, que assiste João Mário para um remate desviado por Heintz para lá de Ter Stegen e da linha de golo.

Ter Stegen protagonizou uma tarde de pesadelo, ao sofrer cinco golos Fonte: Página do Facebook ‘DFB–Junioren’
Ter Stegen protagonizou uma tarde de pesadelo, ao sofrer cinco golos
Fonte: Página do Facebook ‘DFB–Junioren’

Com um resultado tão avolumado e a presença na final garantida, a Seleção passou a gerir a posse de bola e a condição física dos jogadores. Ricardo Horta já havia entrado para o lugar de Ivan Cavaleiro (debilitado após um toque ainda na primeira parte), e pouco depois chegou a vez de Rafa e João Cancelo (em estreia) substituírem Bernardo Silva e Raphaël Guerreiro. E foi precisamente por intermédio de dois recém-entrados que Portugal chegou ao quinto e último tento da partida: Cancelo cruzou com conta, peso e medida para a cabeça de Ricardo Horta, que, surgindo de rompante entre a defesa alemã e Ter Stegen, marcou o primeiro golo da conta pessoal.

Até ao final, assistiu-se a muita tranquilidade portuguesa e alguma desorientação alemã. Bittencourt foi expulso por agredir João Cancelo, e o apito final surgiu com um clarividente 5-0 no marcador. Um jogo de proporções históricas para os Sub-21 lusos. A maior derrota de sempre para a Alemanha no escalão, e Portugal a carimbar a passagem à final do Europeu pela segunda vez na História (a primeira foi em 1994). A qualidade da turma de Rui Jorge não engana e é superior à de todas as outras seleções presentes na prova. Mesmo sabendo que falta um obstáculo para chegar ao título (Suécia ou Dinamarca), parece consensual que a “obrigação” de ganhar está bem presente no grupo. De vitórias morais já estamos todos fartos. Chegou a hora, rapazes!

A Figura:
Equipa portuguesa – Numa exibição a roçar o sublime, marcada pela maturidade e competência dos jovens das quinas, seria injusto destacar um jogador apenas. Portugal foi uma equipa na verdadeira acepção da palavra. De José Sá a Ricardo Pereira, passando pelos nervos de aço de Paulo Oliveira, serenidade de William e João Mário e magia de Bernardo Silva, esta é uma nova geração dourada. O título europeu está ao nosso alcance, e quem vulgariza esta Alemanha pode assumir-se como favorito natural. A lógica diz que será nosso.

O Fora-de-jogo:
Horst Hrubesch – Ao mudar o sistema tático para este jogo, acabou por condicionar todo o processo de jogo da seleção da Alemanha. Os jogadores pareceram confusos desde o início e só mudou as peças quando o jogo já estava perdido. A equipa nunca se encontrou, e o selecionador não foi capaz de inverter o rumo das coisas. A culpa não é exclusivamente sua, mas grande parte da mesma pertence-lhe.

Foto de capa: Página do Facebook do ‘UEFA Under-21 Championship’

Aperta-se o cerco ao Sporting

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sexto violino

O Sporting não ganha o campeonato há 13 anos. Pior: nos últimos 40 anos, o Sporting foi campeão 4 vezes. Qualquer pré-adolescente adepto do FC Porto já viu a sua equipa ganhar mais ligas (7 nas últimas 10 edições) do que um “quarentão” adepto do clube leonino. Independentemente de, nos dias de hoje, nenhuma pessoa séria poder fechar os olhos à forma fraudulenta como os azuis-e-brancos foram ganhando a hegemonia do futebol nacional, a verdade é que essa subida de forma foi conseguida sobretudo à custa do Sporting. Quanto mais o FC Porto se ia consolidando como força principal do desporto-rei português, mais os leões se iam habituando a uma posição subalterna.

40 anos é muito tempo. É um período suficientemente grande para que se produzam mudanças profundas nas pessoas, nos países, nas instituições. E o Sporting é um exemplo de uma instituição que se moldou, neste caso para pior. Passou a ser hábito olhar-se para o emblema leonino como um clube que ganhava “quando o rei faz anos”, gerando inclusive algumas pseudo-simpatias hipócritas vindas dos rivais, desconfortáveis para quem sentia e sente o clube. Mas, ao longo desta reconversão de quatro décadas, houve algo ainda pior do que isso: os próprios sportinguistas habituaram-se a não ganhar, conformaram-se com a falta de vitórias.

roquete
José Roquette entrou no Sporting em 1995 e foi o primeiro rosto de um projecto ruinoso

Em 1995, numa tentativa de reverter a tendência desanimadora em que o clube já se encontrava, os sócios escolheram José Roquette para Presidente. O seu plano era, dizia-se, modernizar o clube para a entrada no novo milénio. Criou-se a SAD (transformando o Sporting oficialmente numa empresa), prometeu-se o aumento e modernização do património (novo estádio e Academia), disse-se que o Sporting deixaria de depender da bola no poste e passaria a ganhar 2 em cada 3 campeonatos.

Mas o projecto falhou. Apesar de o Sporting ainda ter ganho dois campeonatos, a diferença para os rivais era cada vez maior. Além disso, o clube, longe de prosperar, definhava: um passivo gigantesco, venda de património imobiliário, negócios ruinosos na compra de futebolistas, fecho de modalidades, etc. Em 2011, um semi-desconhecido de nome Bruno de Carvalho capitalizou enormemente com as suas aparições públicas, denunciando tudo isto e prometendo um novo rumo. Ganhou as eleições nesse ano mas não o deixaram assumir o cargo; voltou a ganhá-las em 2013 e deparou-se com Sporting praticamente falido e que, no futebol, estava a terminar aquela que viria a ser a pior época da sua História centenária.

De então para cá, o clube tem tentado reerguer-se. O triunfo na última edição da Taça de Portugal foi a maior prova física de uma mudança drástica de rumo, em busca de um Sporting ganhador. Pensar-se-ia que os adeptos, uma vez tomada a consciência de que o clube estava a definhar, se unissem em torno do novo Sporting. Mas isso não tem acontecido, pelo menos de forma plena. E há vários factores, uns internos e outros externos ao clube, que fazem com que assim seja.

Factor interno: os croquettes fora de prazo que não querem sair da travessa

A auditoria feita aos últimos mandatos presidenciais do clube lançou o pânico na chamada “dinastia croquette”. Aqueles que afundaram o Sporting vêm agora, na pessoa de António Dias da Cunha, proferir insultos rasteiros (“o Presidente devia ir para o manicómio”) e pedir a criação de movimentos contra Bruno de Carvalho. Ao contrário de FC Porto e Benfica, que falam a uma só voz, o Sporting habituou-se a dar tempo de antena a muitos “notáveis” cheios de opiniões. Curiosamente, nenhum deles pareceu importar-se muito quando, há apenas dois anos, o Sporting estava falido e ficou em 7º lugar, mais perto da descida de divisão do que do campeão.

Costuma dizer-se que “quem não deve não teme”. Ora, o comportamento recente de vários ex-Presidentes do clube parece indicar um enorme desconforto. Tais atitudes até teriam graça, não fosse o caso de estes soundbytes confundirem sempre alguns incautos que, por vezes, até têm direito a votos… Ainda assim, arrasada que está, para a maioria dos sportinguistas, a credibilidade de Roquettes, Dias da Cunha, Francos, Bettencourts e Godinhos Lopes, a estratégia passa agora por gerar a discórdia e criar divisões no clube, de preferência desejando que as coisas corram mal nos planos desportivo e financeiro, até que se lance um candidato presidencial que possa ameaçar o actual detentor do cargo. A oposição bafienta não vai desistir, e tem dois anos para tentar maquilhar o seu rosto e apresentar-se a eleições. Vergonha já sabemos há muito que não lhes assiste.

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Godinho Lopes foi o último presidente antes de Bruno de Carvalho e pode ser expulso de sócio
Fonte: sporting.pt

Factor externo: media mansos com uns e implacáveis com outros

Relato um episódio de que me recordo: há dois anos, o Sporting apresentou Leonardo Jardim como novo treinador. Foi permitida a entrada de adeptos no auditório e houve algum atraso no início da conferência. Vários jornalistas ameaçaram deixar a sala. No Facebook, um jornalista fez um post público a apoiar os colegas e a arrasar a direcção do Sporting, post esse que recebeu aprovação de muitos dos seus pares. Alexandre Santos, da RTP, foi o único que recomendou aos colegas que não fossem “fortes com os fracos e fracos com os fortes”. Esta frase ficou-me. E, de facto, será que as reacções seriam as mesmas caso o episódio tivesse ocorrido no Dragão ou na Luz…?

Este é apenas um exemplo das diferenças de tratamento a FC Porto/Benfica e Sporting. Se muitas vezes parecem ser no mínimo de intenções duvidosas, outras acredito que surjam de forma inocente. Aqui, isso sucede porque o Sporting não tem, de todo, o mesmo peso dos rivais. De igual modo, o caso que opõe os leões à Doyen praticamente não tem produzido feedback positivo para o lado verde-e-branco nem merecido qualquer investigação, passando-se uma ideia de que o confronto foi gerado pelo capricho e pelas desculpas de mau pagador do Sporting. Até pode ter sido, em breve saberemos. Mas um fundo tudo menos transparente como este mereceria pelo menos ser alvo de um maior escrutínio. O triste é que foi preciso um jornalista italiano fazê-lo (texto brilhante, diga-se).

Será que os media portugueses, nomeadamente os desportivos, não pegam nestes temas por medo de represálias, por servilismo aos dois clubes instalados…? A este respeito, há que lembrar um despique entre José Diogo Quintela (JDQ) e Alexandre Pais, então director do Record, em que este último justifica assim o facto de o seu jornal não investigar os bastidores do futebol português: “JDQ disse, nestas colunas, que gostaria de ler amanhã no Record “uma notícia qualquer sobre escutas e corrupção que não seja primeiro dada nos jornais generalistas”. Trata-se de um desejo difícil de concretizar, pois quando o futebol perder de todo a credibilidade – traído por aqueles a quem dá de comer – aos generalistas não faltarão outros temas para exibir barba rija. Mas, morto o futebol, o Record perderá a razão de existir”.

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Bom exemplo: Alexandre Santos não alinhou no discurso crítico contra o novo Sporting
Fonte: Facebook de Alexandre Santos

É grave que se assuma que os jornais desportivos não vão enveredar por esse caminho porque isso seria trair aqueles que lhe dão de comer, e isto talvez explique a passividade dos desportivos face, por exemplo, ao Apito Dourado. Contudo, o mesmo Alexandre Pais escreveu, há semanas, um artigo em que crucifica os chamados croquetes do Sporting e se mostra compreensivo face à actual direcção. Afinal nem tudo é mau, pena é textos destes serem a excepção e não a regra.

Falando apenas dos últimos tempos, uma diferença de tratamentos salta logo à vista: Marco Silva, a quem o Sporting acusa, entre outras coisas, de “soprar” informações do clube para os media e de conluiar com o seu empresário e a Doyen no caso Rojo, desautorizando o Presidente e poupando o atleta num jogo de pré-época, continua a ter, ao contrário de Bruno de Carvalho, a chamada “boa imprensa”. Quando se confirmou a intenção de o Sporting rescindir com o treinador com justa causa, praticamente todos os órgãos de comunicação social destacaram nos seus títulos que Marco Silva ia embora unicamente por não ter vestido um fato, desprezando as cerca de 400 páginas da nota de culpa. Isto atira, como é óbvio, areia para os olhos dos sportinguistas menos atentos. Fica a dúvida sobre se o objectivo era esse…

Por último, a roda-viva da vinda de Jorge Jesus, em que ao princípio ninguém acreditava, transformou-se numa mistura explosiva de incredulidade, desespero e da chamada “azia”, com suposições acerca da origem do dinheiro e considerações sobre o futuro do clube poder ter sido hipotecado. Os 5M/ano – ou o que seja – oferecidos a Jesus só foram objecto de debate por se tratar de um treinador e do Sporting. Fosse a quantia gasta num jogador e não num técnico, ou fosse o destino de Jesus outro rival, e não haveria problema. Mais um sintoma de como pouca gente está preparada e/ou na disposição de ver o Sporting reerguer-se ao ponto de roubar o treinador a um adversário directo…

Que tudo isto aconteça numa discussão de café, é normal; que se passe nos nossos jornais, rádios e televisões, mostra bem as cores clubísticas da maioria dos intervenientes que estão em posição de influenciar a opinião desportiva no nosso país. Sim, a questão de Marco Silva não foi gerida da melhor forma. Mas ouvir comentadores falar em “ética” como argumento para censurar a vinda de Jesus para o Sporting é anedótico. Apetece perguntar: onde estavam essas pessoas quando rebentou o Apito Dourado, quando o Benfica supostamente lucrou com Roberto, quando vendeu André Gomes pela segunda vez ou Cancelo por um preço muito superior ao de mercado (curiosamente sempre para o mesmo clube “amigo”)?

É triste constatar que o jornalismo, área de estudo que resolvi seguir, se presta a estes comportamentos. Não peço imparcialidade, porque acho que todos têm o direito às suas preferências, mas sim seriedade. É possível ser adepto fervoroso de outro clube e admitir que Bruno de Carvalho está a fazer um óptimo trabalho. Muitos sabem-no, e é talvez por isso que entram em campanhas de desinformação. Preocupa-me que os lugares de comentário desportivo estejam praticamente vedados a sportinguistas, à excepção daqueles que não criam ondas e se inserem na categoria dos chamados “bons rapazes”, muitas vezes continuando até a dar credibilidade e voz à casta dirigente que afundou o clube nas duas últimas décadas.

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Marco Silva tem beneficiado de boa imprensa. A união do clube ressente-se
Fonte: sporting.pt

Factor externo: papagaios diversos

Primeiro foi um ministro da Economia co-responsável por um país com quase um milhão de desempregados que tem a lata de vir opinar sobre o Sporting, depois foi um tal José Pereira, presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol e, por último, a eurodeputada Ana Gomes.

Sobre o primeiro não há muito mais a dizer, a não ser lamentar o cinismo de quem apenas se preocupa com o desempregado Marco Silva e não com os milhares de empregos e vidas que destrói; sobre o segundo, líder de uma associação que, de tão activa que tem sido no desporto português, parece ter sido criada agora unicamente com o propósito de se juntar ao cortejo que manda bicadas no Sporting, importa perguntar onde estava quando Jorge Jesus foi impedido de entrar no centro de estágio do Benfica, no Seixal, ou quando Sérgio Conceição foi despedido do Braga com justa causa. “Habilidade parola” parece ser a forma ardilosa como esta personagem escolhe as temáticas sobre as quais se pronuncia…; por último, Ana Gomes. Em primeiro lugar, esclareço que não tenho quaisquer ilusões com o futebol, nem acho que um presidente seja idóneo só porque representa as nossas cores. O facto de reconhecer que Bruno de Carvalho tem feito um enorme trabalho nunca me fará defendê-lo cegamente – a ele ou a qualquer outro dirigente desportivo – porque sei como funcionam estas coisas do futebol. O dinheiro para mim não é todo igual, e incomodar-me-á se o meu clube aceitar receber fundos da Guiné Equatorial. Mas pergunto onde andava Ana Gomes quando saiu esta notícia. A eurodeputada, ex-maoísta, tem infinitamente mais experiência política do que eu, é certo. Mas eu, ao contrário dela, posso dizer que nunca me deixei enganar nem pelo estalinismo asiático que um dia a seduziu, e que subverteu o ideal igualitário em que ela dizia acreditar, nem pelas boas intenções do MPLA angolano, partido pseudo-socialista que não é mais do que a ponta-de-lança da cleptocracia local e que – curioso – Ana Gomes ajudou a legitimar internacionalmente, contribuindo para a sua integração na Internacional Socialista. Em boa verdade, a ditadura da Guiné Equatorial e a democracia de fachada angolana não têm assim tantas diferenças. Ana Gomes chegou a defender uma delas. Acredito que a eurodeputada tenha sido bem-intencionada neste alerta que fez à CMVM, mas admitamos que o seu percurso político não tem sido propriamente pautado pelas melhores decisões. Este foi apenas mais um episódio.

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Ana Gomes foi a última voz de um coro de críticas que só parecem importar-se quando se trata do Sporting
Fonte: europarl.europa.eu

O Sporting, provavelmente o único clube do mundo que já foi alvo de dois boicotes por parte da arbitragem (em 1998 e em 2011, o que mostra bem a “boa-fé” com que o clube tem sido encarado em Portugal), tenta agora reerguer-se. Os “croquettes”, que antes eram acríticos, e os rivais, que outrora davam palmadinhas nas costas aos sportinguistas, tentam agora, cada um à sua maneira, dividir o clube e tentar travar o seu ressurgimento. No que diz respeito aos primeiros, é pertinente dizer-se que o Sporting é o único clube que não precisa de rivais, porque tem um grupo ainda mais nocivo dentro das suas hostes. Independentemente disso, contudo, FC Porto e Benfica não quererão facilitar a vida aos leões, como é exemplo a escolha de Luís Duque para a Liga ou a oposição desta ao fim dos fundos. Está bom de ver que dividir a hegemonia por dois é bem melhor do que fazê-lo por três… A presença marcada nos media de analistas que têm tido tolerância zero com o Sporting entristece-me enquanto jornalista, revolta-me enquanto Sportinguista e dá bem conta, em certos casos, da distância a que FC Porto e Benfica conseguem estender os seus tentáculos. Também isto é consequência das tais quatro décadas em que o Sporting foi adormecendo

Aproximam-se, portanto, tempos decisivos. Que os Sportinguistas saibam unir-se e identificar quem quer o mal do clube – há-os dentro e fora do Sporting. A nível institucional, desejo que o clube saiba lidar com as adversidades com determinação e eficácia, rumo a um futuro cada vez mais risonho. A Assembleia-Geral de amanhã, dia 28, poderá significar um novo passo nesse sentido.

P.S.: Dias da Cunha foi criticado neste texto, em virtude do seu legado e da sua recente postura lamentável, e sê-lo-á sempre que necessário. Porém, independentemente da credibilidade da personagem em questão, importa ver este vídeo, em especial a partir do minuto 3:26. Em 1999, Dias da Cunha denunciava uma tentativa de José Sócrates calar a revolva do Sporting com as arbitragens, evocando “interesses nacionais”. Mais um exemplo do que se falou neste texto, e que nos deveria preocupar a todos. Aqui fica o vídeo:

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Foto de capa: site oficial do Sporting CP