Isaac Makwala não esquece a “injustiça” de Londres
O atleta do Botswana é um caso singular no nosso desporto. Tem uma marca – 43.72 – que o situa como o 9º mais rápido da história, tem 33 anos e nunca ganhou uma medalha em eventos globais. 2017 poderia ter sido o ano dele. Correu as manchetes de todo o mundo quando em pouco mais de duas horas, em Madrid, correu em 43.92 nos 400 metros e depois em 19.77 (0.0) nos 200 metros (!), tornando-se o primeiro homem da história a correr abaixo dos 44 (nos 400) e dos 20 (nos 200) no mesmo dia. A marca na prova de 200 metros coloca Makwala também entre o top-20 mundial da história dessa distância.
Os Mundiais de Londres eram a grande aposta do atleta, que já tinha a fama de falhar constantemente em eventos globais. Apurou-se com facilidade para a final dos 400 metros, mas antes dessa final viria a sentir-se mal e ao ser examinado foi diagnosticado com a presença de um vírus alimentar que afetou cerca de 30 atletas. Makwala pretendia competir na final dos 400 metros, dizendo sentir-se bem, mas foi impedido pelas autoridades britânicas, que obrigam a um período de quarentena para casos semelhantes, de forma a evitar um possível contágio. O caso foi um dos mais polémicos dos Mundiais de Londres e Makwala não ajudou a serenar os ânimos com algumas polémicas declarações, onde dava a entender que era uma conspiração contra si, o que logo levantou ondas pelas redes sociais, com alguns dos seus fãs a atacarem até…Wayde van Niekerk. Diga-se que a juntar a tudo isso, declarações de ex-atletas com responsabilidades maiores, como Michael Johnson, Denise Lewis ou Paula Radcliffe, apenas ajudaram a atirar mais achas para a fogueira, acusando a IAAF e as entidades médicas de agirem de má-fé ou de irresponsabilidade. Passadas as 48 horas de quarentena, já havia decorrido a final dos 400 metros e as eliminatórias dos 200 metros, mas a IAAF, numa tentativa de conter os danos e as polémicas, autorizou o atleta a correr essas eliminatórias sozinho, contra os tempos já realizados. Makwala passou e mais tarde qualificou-se também para a final, onde seria apenas 6º classificado, em 20.44 (-0.1). Ainda nesse ano, nos 400 metros teria a sua pequena vingança pessoal ao vencer a final da Diamond League de 2017 em 43.95 segundos, embora van Niekerk não estivesse presente nessa prova.

Fonte: IAAF
2018 foi um ano de poucos resultados de relevo para Makwala nos 400 metros, com o destaque a ser a vitória na final dos Jogos da Commonwealth em 44.35. Chegará aos Mundiais de Doha com 34 anos acabados de fazer e poderá ser a sua última grande oportunidade de obter uma medalha em eventos globais.