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Quaresma: o primeiro teste de egos para Lopetegui

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atodososdesportistas

Com a lesão (e o afastamento) de Helton e as saídas de Lucho, Mangala e Fernando, ficou um “vazio de liderança” em campo. Seguindo a lógica do futebol – a braçadeira é entregue ao jogador com mais anos de casa e mais influência no plantel – Ricardo Quaresma assumiu a braçadeira de capitão do Futebol Clube do Porto. Esta poderia também ter ido para o braço esquerdo de Maicon (um dos vice-capitães) ou de Danilo, mas parece que Jackson, por ter claramente uma maior influência no jogo azul-e-branco, até ultrapassou o lateral direito na hierarquia e se tornou um dos líderes do balneário. Até aqui nada de estranho: Lopetegui, mesmo com o camião de jogadores de qualidade que trouxe, respeitou os princípios do clube.

Teremos, portanto, uma equipa capitaneada por Ricardo Quaresma, Jackson Martinez e Maicon na época que se aproxima, sendo que Rúben Neves assumirá a braçadeira quando nenhum destes estiver em campo (como acontecia com Castro na Taça da Liga ou na Taça de Portugal num passado recente). É este o mote que dou para aquele que prevejo que venha a ser o primeiro problema de egos que o timoneiro azul-e-branco irá enfrentar: RQ7 – de titular nas alas até presença assídua no banco de suplentes (que título para um bom livro!). O Mustang é um jogador que sente o clube como poucos (“é este o meu clube, é este o clube que amo, e se tiver de morrer em campo por este clube, morrerei sem problema algum” – palavras dele no final de um jogo europeu no ano passado) e tem um “sangue de combate” que faz falta em qualquer equipa. Agora, o nosso bem-amado Quaresma já não tem a frescura dos 25 anos e todos sabemos que no plantel portista deste ano abunda qualidade para as zonas “exteriores” do terreno (digo exteriores porque certos jogadores podem ou vão jogar naquela posição não sendo extremos puros, graças à dinâmica que Lopetegui poderá querer imprimir no processo ofensivo dos Dragões), e jogadores como Brahimi, Tello, Oliver, Quintero ou até Adrián, mais tarde ou mais cedo, terão de se assumir como os “pulmões” da equipa, sabendo que uma das alas estará entregue a Tello (a priori, claro). Não duvido de que o “ciganito” comece a época a titular. Aliás, tenho certeza de que o fará. A minha dúvida é: durante quanto tempo, mister?

Helton e Ricardo Quaresma – a passagem do testemunho  Fonte: Windsorstar.com
Helton e Ricardo Quaresma – a passagem do testemunho
Fonte: Windsorstar.com

Acredito que será um processo gradual e que teremos, a meio da primeira volta do campeonato, Quaresma como um suplente de luxo, um “abre-latas” para os últimos 20/25 minutos de jogo, quando for preciso magia e deambulismo no ataque azul-e-branco. Acredito também que em jogos da Champions (vamos lá estar!) e clássicos, poderá ser titular pela experiência que imprime à equipa porque nesse tipo de jogos há pormenores que se transformam em “pormaiores”.

Resta agora saber: aceitará o jogador (que tem sangue quente, como é sabido) esta situação? Quero acreditar que sim, pois é um profissional e, embora ainda tenha certas atitudes rebeldes, sabe que o corpo já não consegue dar o mesmo rendimento ao longo de 90 minutos como antigamente. Mas, caso o Mustang não aceite esta situação de ânimo leve, teremos a primeira “guerra” de egos que Lopetegui terá de combater? O timoneiro portista conseguirá manter todos no mesmo barco ou veremos, à imagem do que aconteceu no primeiro ano de Vítor Pereira, “grupinhos” formados no balneário? É esse o meu único medo neste Porto que se vê recheado de soluções (sem dúvida a equipa com mais mais-valias e qualidade dos três grandes) mas que tem o perigo inerente de existirem azias que possam “minar” o grupo em certas alturas.

O Mustang em mais uma provaa de amor ao clube azul-e-branco  Fonte: fcpnacaoportista.wordpress.com
O Mustang em mais uma provaa de amor ao clube azul-e-branco
Fonte: fcpnacaoportista.wordpress.com

Perceba o leitor portista que não estou a agoirar, estou apenas a ser realista em relação a uma situação que acontece com frequência: jogadores com uma grande moral no seio de uma equipa e que se vêem, de repente, ultrapassados pela juventude e pela qualidade de recém-chegados. Assim como se diz que “é a lei da vida”, aqui posso dizer que “é a lei do futebol”, e que nunca poderemos agradar a gregos e a troianos. Resta ao nosso treinador ser caprichoso e cuidadoso com a forma como vai gerir esta situação. Até agora parece-me estar a fazê-lo bem: Quaresma tem sido sempre titular e capitão e será com certeza titular nos primeiros jogos oficiais. Mas, aos poucos, perderá o espaço “cativo” que até agora meritoriamente teve. Até porque acho que o ataque dos Dragões acabará por ser, inevitavelmente, entregue a Tello, Oliver e Brahimi/Adrián no suporte ao homem-golo Jackson Martinez (não esquecendo Quintero!).

É preciso cautela quando se retira um jogador que sempre se assumiu como imprescindível. E o nosso “ciganito” tem esse estatuto. Quero acreditar que continuará a ter, quer dentro de campo, quer fora. Esta é a primeira situação em que teremos de ter um treinador inteligente e mais “psicólogo” do que “mestre da táctica”. O futuro dirá que contornos esta anunciada novela terá… Como tem sido normal: eu acredito! E tu, caro portista?

Óscar Cardozo: o cântico que nunca morrerá

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paixaovermelha

Há cânticos que nunca morrem. Um desses, eternos, que a minha memória preservará fielmente, pertence a Óscar “Tacuara” Cardozo. Quantas vezes não ouvimos o eclodir do cântico “tenham cuidado… ele é perigoso…” no topo sul do Estádio da Luz?! Cachecóis ao alto, sorriso de este a oeste ou abraço ao desconhecido do lado, todos nós sabemos o que aquele cântico significa: golos. Muitos golos. No total, foram 172 golos em 295 jogos. Um puro goleador. Um verdadeiro ponta-de-lança. Um homem de sentido único: a baliza.

Há cerca de sete anos atrás, no verão de 2007, proveniente do Newell’s Old Boys, Cardozo era apresentado como jogador do Sport Lisboa e Benfica. No ainda curto verão, os benfiquistas estavam longe de imaginar que chegara à Luz um dos melhores avançados da história do clube encarnado. Sete anos passaram e as opiniões nunca foram unânimes: há quem endeuse, em Cardozo, a capacidade inata para marcar golos e há quem critique o estilo lento e preguiçoso do avançado.

Cardozo deixa um legado no Benfica: é o melhor marcador estrangeiro de sempre  Fonte: zimbio.com
Cardozo deixa um legado no Benfica: é o melhor marcador estrangeiro de sempre
Fonte: zimbio.com

Unânime é apenas o amor pelo cântico que tantas vezes nos fez saltar. Ao fim de sete temporadas, Tacuara deixa uma casa que lhe é sua por direito e parte para a Turquia. Leva consigo dois Campeonatos Nacionais, duas Taças de Portugal e cinco Taças da Liga. Pelo meio, conquistou ainda o prémio de melhor marcador da Liga Portuguesa em 2009/2010 e 2011/2012 e superou Mats Magnusson na liderança da tabela dos melhores marcadores estrangeiros da história do Benfica. O Tacuara fez história. A história retribuiu com glória.

Ontem, na hora da comovente despedida, Cardozo afirmou que estava “muito agradecido a este clube”. Não, Óscar. Nós é que te agradecemos. Tu luziste. Foste enorme e fizeste de nós gigantes. Tornaste-te numa lenda viva do Benfica e assinaste, com letras de ouro, o teu nome junto dos deuses do olimpo encarnado.

Há cânticos que nunca morrem. No meu onze, Óscar “Benfica” Cardozo, serás saudade, lenda, imortal.

O 9 do Chelsea… outra vez

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Pela primeira vez em muitos anos de carreira, José Mourinho completou uma temporada sem conquistar qualquer título. E logo ao serviço do seu clube do “coração” na sua vida de treinador, o Chelsea. Esteve na luta pelo ceptro da Liga Inglesa até ao final e chegou às meias-finais da Champions, mas pagou caro a factura de possuir um processo ofensivo que se arrastava com o passar do tempo (uma problemática que, aliás, já aqui explorei) e que redundou em resultados como o empate a zero com o Norwich ou a derrota contra o Sunderland, decisivos no desfecho do campeonato.

Os extremos eram capazes de romper área adentro e criar desequilíbrios, mas só o faziam sozinhos. Não havia grande envolvência (pelo menos, de forma esclarecida) da zona central no processo ofensivo e, sobretudo isso, não havia na área um 9 com a dimensão de um clube de craveira mundial. Um finalizador nato, um goleador por excelência. Eto’o estava demasiado velho, Demba Ba muito trapalhão e Torres continuava a ser… Torres, e não o El Niño da velocidade estonteante e da técnica apurada que os imperiais Vicente Calderón e Anfield Road conheceram. Tudo nomes sonantes no futebol mundial, daqueles que se quer contratar no FM, mas que não conseguiram passar da vulgaridade de um ponta-de-lança de equipa pequena.

A prová-lo estão os resultados. O trio de avançados-centro à disposição de José Mourinho somou, ao longo de toda a campanha da equipa na Premier League, 19 golos. Apenas mais 5 do que o melhor marcador da equipa na prova, Eden Hazard. Eto’o assinou nove e Demba Ba marcou cinco, os mesmos de Torres.

Juntos, Torres e Ba completaram uma dezena de golos  Fonte: thesportsquotient.com
Juntos, Torres e Ba completaram apenas uma dezena de golos
Fonte: thesportsquotient.com

Nesta pré-temporada ainda não se conseguiu perceber se a inoperância ofensiva do Chelsea transitou, ou não, de época. A equipa disputou seis encontros, até ao momento, nos quais assinou 14 golos. Um registo que vai contra aquilo que foi feito na temporada transacta, é certo, mas do qual não se podem tirar conclusões visto estarmos numa fase preparatória da temporada e de a equipa londrina apenas ter marcado frente a adversários que, com o devido respeito, ainda não são de Champions (Wycombe, AFC Wibledon, Pellets WAC, Olimpico de Ljubljana e Vitesse).

Anteontem, o Chelsea enfrentou o Werder Bremen, o adversário de maior valia competitiva que encontraram até ao momento, e o resultado foi claro: 3-0. Certo que houve dois penalties contra os blues, mas o que importa, para esta análise, não é o “3”, é o “0”. Diego Costa iniciou o encontro e jogou toda a primeira parte; Drogba entrou para a segunda. Nenhum conseguiu marcar.

É cedo para se tirar conclusões, mas até ao momento ainda não há mostras de que o Chelsea vai contrariar a tendência do ano passado. Diego Costa parece-me ter sido uma aposta certeira. É um jogador que procura o duelo físico e tem espontaneidade no remate e que, por isso, se adaptará com facilidade ao futebol inglês. Ao que tudo indica, Drogba será o principal rival do espanhol. Regressou porque a equipa precisava de um reforço para o ataque, depois da saída de Lukaku…

… algo que, pessoalmente, não entendo. Romelu Lukaku é um dos valores emergentes do futebol mundial e tem ganas para lutar por um lugar numa equipa de topo. Como Diego Costa, não se importa nada de ter marcação cerrada, porque normalmente ganha no duelo físico (1,90m e 94 kg), e tem, tal como o espanhol, a mira afinada, tendo assinado, só na Premier League do ano passado, 15 golos em 31 jogos.

Mourinho não garantiu a titularidade a Lukaku e preferiu contratar Drogba para fazer concorrência a Diego Costa  Fonte: ftbpro.com
Mourinho não garantiu a titularidade a Lukaku e o belga foi vendido ao Everton por 35M€
Fonte: ftbpro.com

Foi vendido ao Everton por 35 milhões. Gerou um interessantíssimo encaixe financeiro, mas como é de números que falamos, é interessante verificar que marcou apenas menos 4 golos, na Premier League, do que todos aqueles que os 3 avançados da turma londrina, juntos, conseguiram assinar. Tem 21 anos, menos 15 do que Drogba, e uma envergadura física 15 kg e 4 cm superior à de Diego Costa.

É certo que queria ter um lugar garantindo no onze do Chelsea e que Mourinho não se dá bem com este tipo de exigências. Mas o Happy One não lhe devia ter negado a possibilidade de lutar por ele, podia ter “negociado” a sua permanência no plantel, como tão bem sabe fazer. É que, muito provavelmente, mesmo como suplente de Diego Costa, ser-lhe-ia bastante útil durante a temporada.

Revelação que se reafirma a cada jogo – Entrevista a Rony Lopes

entrevistas bola na rede

Rony Lopes esteve no Europeu de Sub-19 que se realizou na Hungria, no qual Portugal terminou em 2º lugar depois de uma extraordinária campanha que acabou com uma derrota por 0-1 contra a Alemanha na final. São vários os jogadores lusitanos que se destacaram nesta competição; poderia começar pelo Ivo Rodrigues, o Gelson Martins, o André Silva, ou até mesmo o Tomás Podstawski, mas o escolhido para este destaque é o camisola 10 da equipa das Quinas, que foi uma das estrelas da competição, tendo marcado 2 golos.

Rony Lopes foi uma das figuras da selecção no Europeu de sub-19 Foto: Facebook de Rony Lopes
Rony Lopes foi uma das figuras da selecção no Europeu de sub-19
Fonte: Facebook de Rony Lopes

Mais do que prever o futuro de um jogador de futebol de formação, é importante mostrar a forma como este constrói, a cada toque de bola, o presente. Foi com afinco e com uma grande dose de paixão, determinação e humildade que Marcos Paulo Mesquita Lopes, conhecido por Rony no mundo do futebol, se tornou um dos símbolos actuais do futebol de formação. Na época passada foi o capitão da equipa de juniores do Manchester City, tendo ainda feito 5 jogos ao serviço dos seniores. Esta época prepara-se para abraçar um novo desafio, após ter sido emprestado à equipa francesa do Lille.

Sempre amei o futebol”, confessa, e neste universo entrou em 2003 para a equipa da sua terra natal, AD Poiares, onde esteve até 2006, altura em que foi convidado a ir para o SL Benfica. Essa paixão pelo que faz foi a motivação para aguentar os primeiros dois anos de águia ao peito. “Tive uma boa adaptação no Benfica. Os primeiros dois anos foram mais difíceis, pois não estava a viver no Centro de Estágio (no Seixal) e só treinava uma vez por semana com jogo ao fim de semana, ou seja, tinha de ir de Coimbra para Lisboa duas ou três vezes por semana, o que se tornava bastante cansativo”, relembra, “mas valeu a pena”, remata. Os cinco anos no Benfica valeram muitas amizades e boas recordações. Foi durante esse percurso que foi chamado, pela primeira vez, à selecção sub-16 da AF Lisboa. Contudo, a primeira internacionalização foi a mais marcante – “ganhámos 1-0 e eu marquei o golo”, recorda.

A qualidade dentro das quatro linhas atraiu os olhares estrangeiros e em 2011 Rony recebeu propostas de diversos clubes. O feliz contemplado foi o Manchester City. “O City fez uma proposta muito boa, daí a ter aceite. E, claro, tratava-se de um clube da Liga Inglesa que é, na minha opinião, uma das melhores, senão a melhor do mundo”, justifica.

De malas feitas, com a cabeça erguida e já com saudades de Portugal, o miúdo de 15 anos partiu rumo a Manchester. “Foi muito difícil, com aquela idade, deixar tudo para trás e ir em busca do meu sonho. Quando cheguei a Inglaterra falava pouco inglês, mas sempre estive disposto a lutar e aprendi a língua no dia-a-dia, para além de que também tive aulas”.

Quando questionado acerca das diferenças culturais entre Portugal e Inglaterra, admitiu, entre risos, que a única coisa que estranhou foi a comida. “A maior diferença é na comida, que aqui não tem o mesmo tempero que em Portugal”, confessa. Comida portuguesa em Inglaterra sabe a saudades de casa…

Contudo, os contrastes entre ambos os países europeus extravasam as quatro linhas. “O futebol inglês é diferente do português; é muito mais puxado, mais físico, mais competitivo. No início foi um pouco complicado adaptar-me, mas hoje já não tenho qualquer problema”, afirma. Uma clara evidência desta adaptação foi a sua escolha para capitão da equipa de juniores, responsabilidade que assumiu sem percalços, tanto durante o campeonato como durante a competição da UEFA Youth League, na qual apontou 5 golos. A maior surpresa surgiu quando foi convocado para o jogo da equipa principal do City contra o Watford: “Foi uma grande oportunidade, foi fantástico”, diz com emoção. A boa exibição e o golo marcado fizeram com que as presenças na equipa sénior se tornassem mais assíduas, tendo entrado em 5 jogos e sido convocado em mais dois. Porém, o salto da formação para os seniores foi exigente. “Nos seniores, o ritmo é mais elevado e tem de se pensar mais rápido, mas é uma grande experiência. Tive a oportunidade de partilhar o relvado com jogadores de nível mundial”, salienta. De entre todo o plantel do Manchester City, aquele que mais admira é David Silva.

Rony Lopes estreou-se pela equipa principal do Manchester City com um golo Foto: Facebook de Roni Lopes
Rony Lopes estreou-se pela equipa principal do Manchester City com um golo
Fonte: Facebook de Roni Lopes

Em Inglaterra e noutros países, jogadores com 17/18 anos já competem nas equipas de reservas, queimando, assim, etapas da sua formação; contudo, em Portugal esta situação é rara. Rony é da opinião de que a formação portuguesa deveria adoptar uma filosofia semelhante, de forma a potenciar as prestações nacionais jovens. Porém, salienta que “em Portugal há a Segunda Liga, o que acaba já por ser também uma boa oportunidade para os jovens jogadores”. Admite, contudo, que se estivesse num clube português provavelmente ainda não se teria estreado nos seniores, tal como aconteceu no City. Rony tem sido apontado como um exemplo para os restantes atletas da formação, não só pelo que produz dentro de campo mas também pelo seu comportamento fora dele, encarando essa responsabilidade como algo positivo. “É muito bom para mim saber que pessoas mais jovens me admiram. Dá-me motivação para continuar a querer mais e para não os desapontar”, diz com convicção.

Há muito uma revelação, Rony confirma a cada jogo a sua qualidade. Com determinação, trabalho e espírito guerreiro, tem rumado a um futuro promissor e, quiçá, à realização de um dos seus sonhos: jogar ao lado de Cristiano Ronaldo. Como diz a letra da sua canção preferida, “Guerreiro não foge da luta, não pode correr / Ninguém vai poder atrasar quem nasceu pra vencer”. Esperamos, assim, acompanhar a tua “vitória”.

Derrota mais amarga: Eliminação do Europeu Sub-19 em 2013, contra a Sérvia, nos penalties

Vitória mais marcante: Conquista do título nacional de iniciados pelo Benfica, frente ao FC Porto, no Olival

Adjectivo que te define dentro de campo: Objectivo

Adjectivo que te define fora de campo: Calmo

A tua música: Grupo Revelação – Ta escrito

O que te move: A minha família; a vontade de ser melhor; a minha ambição

A tua cidade, a tua região: Vila Nova de Poiares, onde tudo começou

Os teus pontos cardeais: Honestidade, Determinação, Simplicidade, Amizade

Maior referência no futebol: Cristiano Ronaldo

Maior referência na vida pessoal: Pai e Mãe

Uma subida engraçada

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Começou a Volta a Portugal em bicicleta! Momento alto do calendário do ciclismo português e, para muitos, a única altura do ano em que vêem as bicicletas a rolar, seja na televisão, seja ao vivo. A Volta tem aquele efeito mágico que só se consegue com muitos anos de trabalho. Uma espécie de mística especial que faz pessoas que não sabem o nome de nenhum ciclista do pelotão irem para a rua bater palmas, gritar palavras de icentivo e até, porque não, oferecer um pouco de água àqueles que estão com pior cara. Tem um pouco o efeito que a seleção nacional de futebol tem para aqueles que durante dois anos não acompanham o desporto, mas que depois nas grandes provas gostam de pôr a bandeirinha no espelho do carro.

São várias as formas que o público encontra para ajudar a refrescar os ciclistas Fonte: ionline.pt
São várias as formas que o público encontra para ajudar a refrescar os ciclistas
Fonte: ionline.pt

Outra coisa que também é bastante comum nesta prova é a existência do duelo Portugal vs Espanha. Os portugueses, por motivos óbvios, programam o seu treino anual para poderem brilhar nesta prova, e os espanhóis, que estão aqui tão perto, gostam de vir competir – e muitos, preparar o corpo para a Vuelta que está aí ao virar da esquina. Dessa forma, é difícil ver nos lugares principais um “intruso” neste binómio ibérico. Este ano, parece-me, também não será excepção. Neste momento, temos de descer até ao lugar nº23 da classificação geral para encontrar alguém que fuja a esta lógica: encontramos o colômbiano Heiner Parra, da Caja Rural, que ainda faz parte do circuito sub23. Nos “elites”, só no lugar 39 encontramos alguém que não pertence à Península Ibérica, o alemão Stefan Shumacher, da Christina Watches. O mais provável é que, também este ano, o top10 seja preenchido apenas por ciclistas destas duas nacionalidades e, para já, o confronto ibérico está empatado 5-5.

O alto da Senhora da Graça, lugar mítico para o ciclismo português Fonte: pedestrianismo.blogspot.pt/
O alto da Senhora da Graça, lugar mítico para o ciclismo português
Fonte: pedestrianismo.blogspot.pt/

Não é novidade para ninguém que a Volta a Portugal tem duas etapas míticas: a subida à Torre e ao alto da Senhora da Graça. São elas que normalmente mostram quem está em condições de vencer a prova e que servem de afirmação entre os ciclistas. O que vimos ontem, em Mondim de Basto, foi uma prova muito defensiva até ao último quilómetro em que todos os ciclistas que ainda se aguentavam no grupo principal estavam mais preocupados com fazer marcação ao adversário do que com tentar fazer a diferença. Neste cenário só dois ciclistas acabaram por se destacar, já a poucos metros da meta: Edgar Pinto e Gustavo Veloso. O português porque foi o único com coragem/pernas para atacar a vitória na etapa e o espanhol, com a camisola amarela vestida, porque foi o único que seguiu na sua roda. Foi apenas mais um Portugal vs Espanha, dos muitos que se vêem nestes onze dias; um espelho do que é a prova. Desta vez, Portugal levou a melhor. Tirando isso, não houve muito mais a salientar. O ataque foi tão perto da meta que não houve espaço para fazer grandes diferenças na geral, e fica a sensação que os ciclistas se limitam agora a olhar para uma das etapas mais importantes da prova com este pensamento: “passou-se”. O camisola amarela, Gustavo Veloso, ficou em segundo lugar no ano passado apenas por 4s, por isso ele sabe bem o que é perder no photo finish; desta forma, não se adivinham grandes ataques da sua parte: vai limitar-se a responder àqueles que tentarem deixá-lo para trás, pois não quer gastar nem uma gota de energia desnecessariamente. Ele, mais que ninguém, sabe que basta uma gota para perder a prova, e não quer largar a camisola que já tem vestida. Não podemos contar com ele para grandes mexidas, mas temos de acreditar que os seus perseguidores não vão repetir a mesma estratégia na Serra da Estrela. Para o adepto, foi uma pena. Fica o sentimento de “oportunidade perdida”. Felizmente ainda há a subida à Torre para esperançar os amantes do espetáculo ofensivo. Desta vez, não foi uma verdadeira subida ao alto da senhora da Graça; foi apenas uma subida engraçada.

Everton 1-1 FC Porto: “Só” falta juntar 1+1 para dar 2

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eternamocidade

O FC Porto somou o segundo empate consecutivo na pré-temporada esta tarde no Goodison Park, em Liverpool. Frente à equipa do Everton, quinta classificada da Premier League na última temporada, a formação de Julen Lopetegui deixou, no entanto, bons pormenores, apesar do empate a uma bola.

No onze inicial, o técnico espanhol optou por cinco caras novas comparativamente à última época. Na defesa, destaque para a estreia de Bruno Martins Indi no onze titular, dando assim lugar à dupla que, muito provavelmente, será a escolhida para atacar o início do campeonato: Maicon e Martins Indi. No meio-campo, o jovem Rúben Neves manteve-se como o trinco da equipa, tendo Evandro e Herrera como companheiros de sector. No ataque, Lopetegui optou por colocar três homens com mobilidade: Óliver Torres, que partiu da faixa direita mas passou grande parte dos primeiros 45 minutos na zona central, Ricardo Quaresma e Ádrian López, que raramente criou perigo junto aos centrais ingleses no primeiro tempo. Aliás, a primeira parte teve poucos momentos de destaque junto a ambas as balizas. A equipa do Everton apenas ia criando perigo a espaços, com as subidas dos laterais Baines e Hibbert, enquanto o FC Porto ia controlando a bola mas não conseguia aproximar-se da baliza inglesa. Por isso, a coesão do meio-campo portista foi o grande motivo de destaque no primeiro tempo, com Rúben Neves a jogar de forma simples e prática, colocando de lado qualquer pressão por vestir a camisola azul e branca apenas com 17 anos. Ainda assim, e quando o intervalo já se aproximava, Fabiano decidiu entregar o “ouro ao bandido” e permitir a McGeady servir Naismith para o primeiro golo da partida, aos 42 minutos. Ao intervalo, os portistas perdiam sem que nada o justificasse, apesar do futebol demasiado lento apresentado na primeira parte.

Jackson está de volta Fonte: Zerozero/ Catarina Morais
Jackson está de volta
Fonte: ZeroZero/ Catarina Morais

Ao intervalo, Lopetegui retirou Óliver e Quaresma do onze, colocando nos seus lugares Brahimi e Jackson Martinez. E, apesar de o espanhol e o português até terem feito uma boa primeira parte, certo é que o argelino e o colombiano vieram revolucionar o jogo ofensivo portista, permitindo aos azuis e brancos um maior pragmatismo na hora de chegar com perigo à baliza de Robles. O futebol portista passou a ser mais rápido e incisivo, e as entradas Tello, Casemiro e Quintero acabaram por dar um outro perfume ao futebol azul e branco. Por isso, não foi de estranhar o golo do empate alcançado por Jackson Martinez aos 57 minutos, depois de uma assistência primorosa de Herrera. Na melhor fase da equipa portuguesa na partida, Jackson e Brahimi tiveram aos 69 minutos a reviravolta nos pés mas acabaram por não ser eficazes. Até ao final do encontro, as entradas de Carlos Eduardo, José Ángel, Diego Reyes e Opare serviram apenas para dar minutos de jogo a quase todos os elementos do plantel e permitir algumas experiências. Apesar de ter sido o segundo empate consecutivo, este foi um FC Porto completamente distinto daquele que se tinha visto no último domingo no Dragão. Depois de uma exibição desgarrada e sem brilho, hoje viu-se uma equipa coesa defensivamente na primeira parte e com qualidade e pragmatismo ofensivo no segundo tempo. Há ainda trabalho para fazer e processos para serem assimilados, mas, pelo que se viu esta tarde, Lopetegui tem muito e bom material para conseguir os objetivos pretendidos. Ainda que pareçam faltar um número seis, um central e um ponta de lança para disputar o lugar com Jackson, os dragões saem da cidade dos Beatles com uma orquestra bem afinada, tendo em conta a fase da pré-época.

A Figura

Brahimi – O argelino entrou ao intervalo e rapidamente mostrou o porquê de ter sido uma das figuras da sua seleção no Mundial. Transporte de bola acima da média, qualidade técnica inegável e uma capacidade para criar desequilíbrios no último terço do terreno que podem ser fundamentais ao longo da temporada.

O Fora-de-Jogo

Ádrian López – O espanhol voltou a ter muitos problemas para criar perigo na defesa contrária. Parece claramente um corpo estranho enquanto número “nove”, e por isso é cada vez mais nítido que Jackson precisa de um substituto à altura no plantel. Jiménez parece ser o homem certo.

Atribulações defensivas numa equipa que ganha forma

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O Sexto Violino

O Troféu Cinco Violinos marcou o quinto jogo particular da nova época do Sporting. Embora marcando cedo e dominando a maior parte do jogo, os leões sofreram dois golos da Lazio (um deles em fora-de-jogo) e apenas venceram nos penáltis (4-2, após o 2-2 nos 90 minutos). Numa altura em que a equipa de Marco Silva está a um dia de concluir o primeiro mês de trabalho, aqui ficam as principais conclusões até agora:

1: Defesa pouco segura

Quando todos pensavam que o central mais perto da saída era Marcos Rojo, eis que sai Eric Dier. O inglês mostrou a sua ingratidão ao virar as costas ao Sporting à primeira oportunidade, valendo-se da última armadilha (esperamos…) que Godinho Lopes deixou no clube para rumar ao Tottenham por 5M€. Futre, Simão, Quaresma e Moutinho são, até hoje, os únicos exemplos de jogadores que traíram o emblema que fez deles jogadores e que conseguiram ter sucesso. Todos os outros têm trilhado um rápido caminho rumo ao esquecimento – o preço a pagar por não terem sabido esperar.

A saída de Dier torna imprescindível a permanência de Rojo. Paulo Oliveira é um central que aprecio, mas temo que a passagem do Vitória para o Sporting seja demasiado abrupta. Além disso, o clube de Alvalade beneficiaria, com Rojo e Maurício, da continuidade de um eixo defensivo que cresceu muito no último ano e que podia agora, em ano de Champions, consolidar ainda mais o seu estatuto. O Sporting não pode dar-se ao luxo de vender 2 dos seus 3 centrais com mais minutos e rotinas na última época, especialmente porque os jogadores em questão mostravam entender-se muito bem. Nas laterais, Cédric tem estado a bom nível mas Jéfferson precisa claramente de concorrência. Ontem, o seu corredor ficou várias vezes desprotegido.

Não é novidade para ninguém que, para já, a solidez defensiva do último ano ainda tem andado longe de Alvalade. O futebol de Leonardo Jardim era mais calculista e menos espectacular do que o de Marco Silva, mas tinha a vantagem de ser sustentado numa retaguarda forte. Para Jardim, cada jogo era um campeonato que começava a ser ganho lá atrás, para depois desferir um golpe no adversário; com Marco Silva, a equipa tem exibido um futebol de qualidade e com um pendor mais ofensivo, ainda que por vezes desguarnecendo o sector mais recuado na ânsia de procurar o golo. O jogo de ontem, com a Lazio, foi o último exemplo disso mesmo: os italianos foram duas vezes à baliza de Patrício e fizeram dois golos. Urge melhorar neste aspecto, gerindo melhor os momentos de jogo.

2: Meio-campo dá garantias

O sector intermediário é, para já, o ponto forte do Sporting. Não só a nível de opções – bastante mais do que no ano passado, em que o plantel era curto – mas também na qualidade e eficácia demonstradas. Numa altura em que William Carvalho ainda está longe da melhor forma (ontem voltou a mostrar-se um pouco preso, lento e com tendência para complicar lances fáceis), Adrien assume cada vez mais o papel de líder do meio-campo tanto a defender como a organizar jogo, prometendo consagrar-se definitivamente enquanto um dos melhores médios nacionais.

André Martins tem sido, talvez, a surpresa mais agradável: mesmo continuando a não jogar na sua posição natural (pisa os terrenos de Adrien com maior à-vontade), o médio parece ter perdido a vergonha e estar a assimilar bem aquilo que o novo treinador quer dele. Com Jardim, André Martins parecia muitas vezes perdido entre linhas, sem se atrever a entrar na área mas também sem se assumir como o criativo capaz de rasgar defesas e desmontar “autocarros”. Este ano, Marco Silva parece ter-lhe pedido que seja mais ousado e apareça de forma incisiva em zonas de finalização, de modo a baralhar os defesas e a conferir mais soluções atacantes. Não sendo o típico 10, André Martins está a soltar-se e a mexer com o jogo colectivo.

Os restantes centrocampistas também parecem vir acrescentar valor. Rosell tem critério no passe  curto e longo, faltando apenas testar de forma mais constante a sua capacidade defensiva; João Mário fez uma grande segunda metade de campeonato em Setúbal e a sua permanência no plantel é mais do que justificada, podendo actuar quer a médio-centro quer um pouco mais adiantado, onde a sua criatividade e meia-distância serão mais vezes solicitadas; por último, Slavchev veio de lesão e pouco tem jogado, mas parece ser um jogador esclarecido, que conhece várias posições e que ainda vai evoluir; por último, Gauld tem sido mais resguardado, o que se percebe dadas as enormes mudanças recentes na vida de um ainda teenager. Contudo, a sua fantasia poderá ser útil numa fase mais adiantada da época.

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André Martins tem sido a principal revelação da pré-época e continua a mostrar a sua veia goleadora
Fonte: Zerozero

3: Extremos q.b.

Talvez o sector menos forte, porque falta alguém claramente acima da concorrência que se assuma como a grande figura atacante que a equipa não tem. Ainda assim, do pouco que vi de Shikabala, pareceu-me ter capacidade para ganhar o lugar à direita: apesar de poder vir acompanhado de alguns vícios de um futebol menos competitivo (individualismo, eventuais dificuldades a defender, possível estatuto de “estrela”, etc.), o 7 tem boa qualidade técnica e, sendo canhoto, flecte muitas vezes para o meio, não só dotando a equipa de mais uma opção finalizadora como também variando a manobra colectiva, jogando em espaços mais interiores e possibilitando a que do outro lado jogue um extremo mais vertical.

A boa surpresa tem sido Carrillo que, apesar de não estar a fazer exibições de encher o olho, parece ter voltado um jogador mais maduro, criterioso e com maior disponibilidade a defender. Se a equipa evolui, espera-se que o peruano também o faça. Por fim, Capel estará mais perto de ficar e, apesar de ser um jogador pouco inovador nos seus recursos, tem uma entrega notável e é um extremo bastante útil. À espreita estarão Mané (adivinha-se uma temporada com menos tempo de jogo para o jovem português, porque a qualidade, a exigência e o número de opções subiram) e Héldon, de quem se tem dito poder estar de saída por empréstimo. Apesar de também ver no cabo-verdiano o ala com menos possibilidades de tempo de jogo, penso que a extensão da época exige a existência de 5 atletas para esta posição.

4: Quem será o ponta-de-lança?

Montero e Slimani são jogadores diferentes para estilos de jogo diferentes. Com o argelino ainda a poder sair, Marco Silva parece apostar no colombiano para primeira opção. Ainda que continue sem marcar, Montero joga para a equipa e é a opção mais viável para o futebol apoiado que o ex-treinador do Estoril está a querer implementar. Não o vejo como um verdadeiro ponta-de-lança, ainda que os seus primeiros meses em Portugal parecessem indicar o contrário. Nem acho que seja incompatível com Slimani, devido ao facto de os seus recursos técnicos e de leitura de jogo lhe permitirem recuar para a posição de André Martins e jogar no apoio ao argelino, sem que disso resulte um 4-4-2 declarado. No entanto, com o 8 do Sporting a exibir-se a bom nível, essa solução deverá ter de esperar. À semelhança do que aconteceu no ano passado, Slimani talvez comece o campeonato no banco. E há ainda Tanaka, que no jogo com a Lazio deixou boas indicações com um soberbo passe de rotura e um remate com o pé esquerdo que quase deu golo.

5: Qualidade de jogo

Se comecei por alertar para as fragilidades defensivas que ainda subsistem, termino a dizer que já se notam diferenças para melhor no jogo jogado. A equipa tem dado indicações de querer assumir mais o jogo, dando sequência em campo às ambições assumidas pelos responsáveis relativamente à luta pelo título. Ao longo da pré-época tem-se visto (ainda a espaços, é certo) um futebol fluido, com combinações rápidas a meio-campo – algumas vezes ao primeiro toque – e com transições velozes, tendo como objectivo criar perigo apanhando a defesa adversária ainda em contrapé. A nível posicional, parece haver uma tendência para os jogadores baralharem marcações e aparecerem soltos em áreas que normalmente não são as deles, o que também constitui uma novidade. No jogo de ontem já se viu isso, nomeadamente com o já falado caso de André Martins e também as trocas de extremos. O próprio meio-campo parece mais dinâmico nesse aspecto.

 

Depois da primeira derrota da pré-época (2-0 com o Twente), o Sporting voltou a não conseguir ganhar e a sofrer 2 golos. Ainda que todos os empates e derrotas constituam sempre desilusões, é preferível que elas aconteçam nesta altura. Com bola o Sporting tem-se revelado um conjunto capaz e pratica um futebol agradável mas, na hora de defender, os erros e hesitações sucedem-se. Há ainda muito trabalho por fazer, pelo que até é bom que a equipa experimente todos os resultados e contrariedades possíveis antes de os jogos a sério começarem. Até lá, vão-se coleccionando troféus: primeiro o Troféu Pauleta e a Taça de Honra (competição oficial), agora o Troféu Cinco Violinos, naquela que foi uma merecida homenagem ao melhor quinteto de sempre do futebol português e cujos nomes nunca é demais recordar: Jesus Correia, Travassos, Peyroteo, Vasques e Albano.

Euro Sub-19: Só podia ser para a Alemanha

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Não se podia pedir mais. Portugal apurou-se para o Mundial Sub-20 do próximo ano e só perdeu na final, para uma Alemanha que foi claramente a melhor equipa da prova. A geração liderada por Hélio Sousa apresentou uma qualidade de jogo interessante e mostrou que, mesmo sem uma aposta séria por parte dos clubes, há talento para ser aproveitado pela selecção principal. Com Rony menos decisivo do que se esperava (apesar de ser notório que é um jogador acima da média), foram os jovens do Porto – que não vão ter espaço no plantel principal – que se assumiram como as principais figuras da equipa. Rafa, lateral-esquerdo muito ofensivo, Podstawski, médio com uma excelente leitura de jogo, Ivo Rodrigues, extremo desequilibrador e o rei das assistências no conjunto português, e André Silva, avançado dotado tecnicamente e bom finalizador, estiveram em grande destaque ao longo da prova. João Nunes e Domingos Duarte, dois centrais com características semelhantes (velozes, competentes no desarme e na saída de bola), também estiveram num nível alto durante grande parte do torneio. Gelson Martins, irreverente mas com lacunas ao nível da decisão, Francisco Ramos, médio capaz de recuperar e sair a jogar, e Guzzo, jogador com uma capacidade técnica notável, foram outros elementos que mostraram margem de progressão. Globalmente, ficou a ideia de que há qualidade de sobra, faltando apenas que os jogadores tenham oportunidades de provar o seu valor. Rafa e Podstawski, por exemplo, tinham todas as condições para integrar desde já o plantel do Porto.

Num Euro sem Espanha, França e Holanda, os germânicos passearam frente a quase todos os adversários (a Sérvia foi a excepção) e conquistaram um título que lhes fugia desde 2008. Apesar de nomes como Goretzka, Meyer ou Gnabry não terem sido convocados, os alemães fizeram valer a força do colectivo e não tiveram dificuldades em confirmar a sua superioridade. Uma equipa com um modelo de jogo idêntico ao da selecção AA (até no facto de o guarda-redes jogar como líbero), muito adulta e com jogadores muito interessantes a nível individual. Julian Brandt, promissor extremo do Leverkusen, partia como o elemento mais experiente – já se estreou na Champions – da equipa, mas neste Europeu ficou um pouco aquém das expectativas. Por outro lado, Stendera – médio ofensivo com uma grande visão de jogo – confirmou as boas indicações deixadas no Euro Sub-17 de há dois anos, consagrando-se como o jogador com mais assistências do torneio. Selke, um ponta-de-lança de último toque (participa pouco na criação mas é letal na finalização), foi o melhor marcador. Mukhtar, um dos mais evoluídos tecnicamente, Kimmich, médio defensivo com grande qualidade de passe, e Öztunali (algumas semelhanças com Khedira) foram outros jogadores que mostraram potencial, bem como a dupla de centrais constituída por Kempf e Stark.

Pelas meias-finais ficaram a Sérvia e a Áustria. A selecção balcânica, para não variar, apresentou um conjunto com jogadores muito promissores, apesar de Andrija Zivkovic, o mais jovem de sempre a actuar pela selecção principal da Sérvia, não ter disputado o jogo com Portugal. O esquerdino pode jogar nas alas ou no corredor central e destaca-se pela sua técnica, velocidade na condução de bola e capacidade de decisão muito acima da média. Para além do craque do Partizan, o guarda-redes Rajkovic (bastante seguro entre os postes e no jogo aéreo), o lateral-esquerdo Antonov, extremamente competente a defender, e os centrais Jovanovic e Babic, ambos fortes no desarme e com excelente sentido posicional, são nomes a ter em conta para o futuro. A Áustria também mostrou uma geração promissora, apesar de Horvath, um dos craques, não ter confirmado as boas indicações deixadas na UEFA Youth League. Bytiqi e Grillitsch formaram uma dupla muito perigosa no ataque, com Michorl (esquerdino forte na recuperação, no passe e na marcação de bolas paradas) a destacar-se no meio campo. O guarda-redes Lulic foi um dos melhores da prova.

O momento que levou Portugal à final do Euro'2014 de Sub-19 Fonte: FPF
O momento que levou Portugal à final do Euro’2014 de Sub-19
Fonte: FPF

Nas restantes selecções houve poucos jogadores em destaque. Esperava-se que a Hungria apresentasse uma equipa capaz de lutar pelo apuramento para as meias-finais, mas a verdade é que apenas Kalmar (médio que já é internacional AA) e Varga (extremo forte no 1×1) conseguiram mostrar alguma qualidade. Tamas, um dos melhores laterais-esquerdos da UEFA Youth League, desiludiu bastante. Ainda no Grupo A, Israel não foi feliz na estreia, saindo da prova sem qualquer ponto. O médio criativo Ohana foi a grande figura da equipa, apesar de ter exagerado nas acções individuais. No grupo B, a Bulgária não teve argumentos para contrariar a superioridade dos adversários. Sem poder contar com alguns dos melhores jogadores, que estão ao serviço dos clubes nas eliminatórias das competições europeias, os búlgaros tiveram em Kolev, médio com boa qualidade de passe, um dos poucos elementos que tiveram uma participação positiva. Na Ucrânia, que esteve perto do apuramento para as meias-finais, Kharatin, médio defensivo competente na recuperação e criterioso no passe, e Kovalenko, médio ofensivo forte no transporte de bola, aproveitaram a competição para ganhar alguma projecção internacional. Tal como Tamas, o lateral-esquerdo Sobol foi outro dos que não deram sequência às boas indicações deixadas na UEFA Youth League.

11 ideal (4231): GR – Rajkovic (Ser), LD – Akpoguma (Ale), DC – João Nunes (Por), DC – Kampf (Ale), LE – Rafa (Por); MC – Podstawski (Por), MC – Kimmich (Ale), ME – Ivo Rodrigues (Por), MO – Stendera (Ale), MD – Mukhtar (Ale); PL – André Silva (Por)

Melhor jogador: Marc Stendera – Não houve um jogador que se tenha destacado de forma clara, mas o médio ofensivo alemão terá sido o mais regular. Foi o melhor assistente da prova, formando uma parceria de sucesso com o ponta-de-lança Selke. Um jovem com muito potencial, com uma grande visão de jogo, qualidade de passe e facilidade de remate.

Jogadores que Admiro #22 – Rui Costa

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O futebol, quando visto apenas como uma bola que “saltita” entre 22 jogadores, ultrapassa a barreira clubística que às vezes nos faz cegar e deixar de sentir a poesia deste jogo. Pois bem, talvez o leitor ache estranho eu, um portista aficionado que respira azul-e-branco, vir escrever sobre uma pessoa que foi enquanto jogador e é enquanto dirigente uma das lendas vivas do Benfica: falo, como já entendeu, de Rui Costa.

Nascido na Amadora a 29 de Março de 1972, cedo se percebeu que Rui Costa tinha a arte de tratar bem uma bola de futebol, e com apenas cinco anos de idade (!) já jogava com os meninos mais velhos da equipa do Damaia Ginásio Clube. Aos nove anos, e a ser alimentado pelo sonho de qualquer menino benfiquista daquela idade, tentou a sua sorte num treino de captação do SL Benfica, e é aqui que a história fica interessante: Eusébio, já na altura uma referência no mundo benfiquista, estava presente nesse treino e dez minutos bastaram para que ficasse impressionado com as capacidades coordenativas do pequeno Rui (a facilidade com que se movia e a forma como tratava a “bolinha”). Chegou, viu e… ficou. Todo o seu processo de formação foi feito no clube da Luz, até que no ano de 1990 foi emprestado ao Fafe, clube que serviu para ganhar minutos e “calo” para o futebol sénior. Uma época volvida e retornou ao Benfica, onde nas três seguintes épocas realizou 111 jogos, nos quais marcou 19 golos e fez um sem número incrível de assistências.

Como era de esperar, o menino bonito da “cantera” das águias começou a despertar o interesse de grandes clubes europeus, e foi a Fiorentina, na época de 94/95, que garantiu o concurso do jovem médio ofensivo, por uma quantia de cerca de 6 milhões de euros (1,6 milhões de contos, na época). Até no momento da sua saída Rui Costa foi grande: “abandonou” o clube (também) para poder ajudar a desafogar os cofres do clube, que viviam tempos controversos, e deixou no museu da Luz uma taça de Portugal e um campeonato. A sua passagem por Itália foi mais duradoura do que o próprio imaginara, e no total foram 12 anos a viver no país da “Squadra Azzurra”, dividos por sete épocas em Florença e cinco em Milão, ao serviço do AC local. Durante a sua estadia fez um total de 468 jogos e 61 golos (querem falar sobre o absurdo número de golos que deu a marcar?!) e ganhou alguns prémios de relevo, como o de melhor nº10 de Itália, batendo, na altura, um senhor chamado… Zidane, uma das estrelas maiores da Juventus. Ao serviço da Fiorentina ganhou duas taças de Itália e uma Supertaça, mas o apogeu da sua carreira foi vivido ao serviço do AC Milan, onde ganhou cinco troféus, todos eles distintos: Campeonato, Taça de Itália, Supertaça de Itália, Liga dos Campeões e Supertaça europeia. 

Rui Costa nas “nuvens” de San Siro, onde passou os melhores momentos da sua longa carreira Fonte: thedaisycutter.co.uk
Rui Costa nas “nuvens” de San Siro, onde passou os melhores momentos da sua longa carreira
Fonte: thedaisycutter.co.uk

Contada pelo próprio Rui Costa (e uma das coisas que mais me faz admirar este homem enquanto jogador), remonta à época de 94/95, quando a Fiorentina é convidada para o jogo inaugural do Benfica e a equipa local perde por uma bola, com o novo nº10 da equipa italiana a fazer o único golo da partida. As lágrimas escorreram-lhe e o próprio no final admitiu ter sido o “golo mais difícil da sua carreira”, coisa que ainda hoje mantém. O terminus de sua carreira deu-se na época de 07/08, num jogo frente ao Vitória de Setúbal em que Rui Costa já vestia novamente a camisola encarnada e saiu aos 86 minutos para ovação do público em geral, numa bonita e merecida “homenagem” do momento.

Voltando atrás e depois de “esmiuçar” os pontos altos da carreira de Rui Costa, vou agora pegar na minha primeira frase (“…uma bola que “saltita” entre 22 jogadores…”) e dizer o seguinte: o criativo português foi um dos atletas que conseguia fazer o que poucos fazem: recebê-la a saltitar e entregá-la cheia de perfume, direitinha. E sempre foi isso que me fez ver em Rui Costa uma referência intemporal e uma figura enorme no futebol português. Um nº10 que era muito mais do que isso… O seu futebol fez dele um jogador que dava mais nas vistas quando não jogava; a equipa deixava de jogar um futebol “lentamente rápido” e passava a jogar sem grande conexão no último terço do terreno (na última época na Luz, então, isso era por demais evidente, ao passo que no AC Milan era possível “disfarçar”, dado que jogava com jogadores como Pirlo, Ambrosini, Gattuso ou Seedorf). Rui Costa deliciava qualquer amante de futebol, e foi um dos jogadores que me deram mais pena ao ver abandonar a titularidade da selecção em detrimento de… Deco. Como portista e português, era mais um a ver que Deco estava melhor, claramente melhor, do que Rui Costa no euro’04, mas isso não me fez deixar de sentir aquele aperto de ver um 11 da selecção das quinas sem o “mágico” da Luz.

Rui Costa em lágrimas na hora do adeus aos relvados Fonte: Sapo
Rui Costa em lágrimas na hora do adeus aos relvados
Fonte: Sapo

Não sei o que se pode dizer de um jogador que foi apelidado de “líder de Florença, príncipe de Milão e Rei da Luz”, apenas posso expressar a minha enorme satisfação em poder escrever algo sobre uma pessoa que, enquanto jogador, ganhou o respeito e admiração de todos os fanáticos, como eu, por futebol que são de outros clubes. Alguém é capaz de dizer algo mau de Rui Costa, enquanto jogador? (sim, permitam-me vincar e reforçar estas duas últimas palavras antes da interrogação).

E para finalizar, um desabafo: tenho medo. Tenho medo de, enquanto amante do futebol e vendo a evolução que o mesmo leva, o espaço para jogadores como Rui Costa se esteja a perder… Nº10 puro, de classe, de alto retoque, e que jogam de “smoking”, do nível de Aimar, Riquelme, Deco, Pirlo ou Zidane… Jogadores destes até a central poderiam jogar, quero acreditar, mas cada vez mais se veem menos jogadores assim…

Obrigado Rui Costa, tornaste a minha infância mais rica.

IFK Göteborg 0-1 Rio Ave: Nem parecia que se estavam a estrear

liga europa

O dia 31 de Julho de 2014 vai ficar na história do Rio Ave. O sonho de poder jogar nas provas europeias concretizava-se para a equipa de Vila do Conde. O adversário era o IFK Göteborg. À partida este era um adversário acessível mas que podia dificultar a vida aos portugueses. Os suecos já têm história na Liga Europa, ao vencê-la por duas vezes nos anos 80, quando ainda era conhecida por Taça UEFA, e estão a meio do seu campeonato. Este era um dado a seu favor, pois o Rio Ave fazia agora o seu primeiro jogo oficial, tem um novo treinador e ainda procura a melhor forma.

Mas mesmo perante estas adversidades, o Rio Ave nunca se intimidou. O nervosismo de uma estreia europeia ficou no balneário, e a equipa apresentou-se em campo já com uma ideia de jogo. Durante a primeira parte foi dona e senhora do jogo; o Göteborg, que já tinha mais experiência nestas andanças, nunca foi capaz de assustar realmente o conjunto treinado por Pedro Martins. Só há a destacar uma defesa de Cassio num lance de perigo por parte dos suecos, logo nos minutos iniciais. Durante o resto da partida, o Rio Ave foi mais forte, principalmente depois do golo, quando o Göteborg desapareceu do jogo. Golo esse que veio aos 22 minutos. Momento para entrar na história. Hassan aproveitou da melhor maneira um cruzamento e escreveu uma página dourada no historial do Rio Ave, sendo o autor do primeiro golo em provas europeias.

Hassan fez história e foi o melhor jogador em campo Fonte: Facebook do Rio Ave
Hassan fez história e foi o melhor jogador em campo
Fonte: Facebook do Rio Ave

Ao intervalo, ninguém diria que o Rio Ave era um estreante, tal era a calma com que jogava. Sem medo e sem acusar a pressão, o Rio Ave construía uma vantagem justa.

A segunda parte foi diferente. Algo já esperado. O Göteborg tinha mais jogos nas pernas, enquanto o Rio Ave fazia o primeiro jogo, onde o esforço era maior. O treinador sueco arriscou tudo, e o Rio Ave teve de fechar os caminhos à baliza. Mas estava lá Cássio, que esteve seguríssimo quando foi chamado. E mesmo tendo mais preocupações defensivas, o Rio Ave nunca desistiu de procurar o ataque e por várias vezes poderia ter chegado ao 2-0. No final, um resultado justo, que poderia ter sido maior, e que deixa abertas as portas do play-off.

Pedro Martins está a construir uma equipa e só pode estar agradado com o resultado de hoje. Pegando no núcleo duro da época passada, o treinador viu a sua equipa ter uma exibição personalizada. Parecia que já estavam habituados a estas andanças.  O técnico deve ter gostado de ver Filipe Augusto, que foi o motor desta equipa. Ocupou o campo todo e procurou sempre levar a equipa para o ataque. Do outro lado, Del Valle esteve abaixo daquilo a que já habituou nestas épocas em Portugal. O treinador também lançou o jovem Boateng. O ganês, de 18 anos, teve o seu primeiro jogo oficial pelo Rio Ave logo num confronto europeu e cumpriu com o que foi pedido. Veremos se bem trabalhado pode ser uma mais-valia para o Rio Ave.