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Sonhar mais um pouco

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Ponto prévio: não devo perceber nada de futebol. O André Gomes jogou 60 minutos pela equipa B no fim-de-semana para estar em condições para hoje. Ficou na bancada, apenas com Djuricic (para Jesus, é um Saviola…) como possível opção de banco para o meio-campo, já que André Almeida (há quanto tempo não faz um jogo a médio, mesmo?) entrou à última hora para o lugar de Sílvio. Sem sequer discutir esta opção pelo português em jogos decisivos para depois desaparecer durante um mês, qual é a lógica disto? O Anderlecht não é forte em casa, como o mestre Jesus quis fazer crer. Quem leva três do Olympiacos e cinco do PSG só tem de levar tratamento igual da nossa parte. Mais uma vez, parece que no Benfica não se medem as palavras e as suas consequências.

Fejsa é bom jogador, verdadeiro cão-de-caça, mas nunca em parceria com Matic, e retirar este e Enzo do meio é matar o pouco de bom que este Benfica tem. Mas já estamos habituados a esta instabilidade jesuíta, que à mínima contrariedade (lesões de Amorim e Cardozo) mete debaixo do tapete a evolução que a equipa vinha mostrando. Com mais um onze repleto de interrogações tácticas, foi um Benfica a medo que entrou em Bruxelas. Mais uma lição deste Benfica de como não defender. Mais uma vez, Artur com medo de sujar os calções e lá demos a honra do primeiro golo em casa para os belgas. O Benfica desorientou-se e entregava a iniciativa de jogo ao adversário. Valeu então Matic, à semelhança do passado sábado, a resgatar a equipa com um golo de bola parada – às vezes sabe bem que seja na outra baliza – e 1-1 ao intervalo.

Na segunda parte, a passagem do Enzo para o meio fez-nos lembrar de que, afinal, ainda sabemos fazer quatro passes seguidos, apesar de Markovic ter desaparecido de jogo, como sempre acontece quando joga na linha. Veio Nico e com ele mais um daqueles momentos que devemos guardar eternamente na gaveta da memória, logo por baixo do coração. Resultado favorável e jogo aparentemente controlado, mas este Benfica é masoquista. Gosta de sofrer, de ir aos limites, mas erros repetem-se e cansam-nos a alma e o sistema cardíaco. Este clube e este treinador são a prova chapada de que defender um 2-1 é meio caminho andado para sofrer o 2-2. Já nos custou um título no Jamor; o que mais tem de acontecer para esta tremideira acabar de uma vez? (Eu até sei a resposta…)

Mais uma jogada de passividade defensiva trouxe o 2-2, e, com ele, o afastamento da Liga dos Campeões, porque ao mesmo tempo o Olympiacos empatava em Paris. Ok, tudo normal: é preferível não sujar o nome do clube ao ser pontapeado nos oitavos-de-final e ir para uma competição onde pode ter legítimas aspirações a ganhar. Mas a história ainda não estava finalizada. Rodrigo reapareceu da terra dos mortos, deu a vitória aos 91 minutos (afinal também conseguimos) e deixa-nos com uma réstia de esperança em tons belgas para a derradeira jornada.

Porto B – O problema do Talento

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Há dois anos, quando se abordava o tema do regresso das equipas B, o argumento mais utilizado (ou o mais bonito, que fica efectivamente melhor na fotografia) foi o de que esta seria uma forma ideal de potenciar jovens jogadores da formação, num patamar mais competitivo. Com as B’s na 2ª Liga, estes mesmos jogadores jovens teriam uma maior visibilidade e, de alguma forma, ganhariam mais facilmente experiência e competitividade. Pois bem, no Porto B a realidade é algo diferente…
Antes de mais, quero dizer que o que os outros clubes fazem com as suas equipas B’s é da sua inteira responsabilidade, não me cabendo a mim opinar, até porque raramente as acompanho. O Porto B tem optado por uma via um pouco alternativa ao argumento que inicialmente apresentei, registando duas vertentes distintas: ou um armazém de jogadores, ou uma incubadora de talentos.

Para que fique claro para os mais desatentos, na 4ª Jornada da 2ª Liga, jogando contra o Penafiel (jogo que acabou empatado a zero), o Porto apresentou o seguinte onze:

Kadú (Formação), Fucile, Reyes, Tiago Ferreira (Formação), Rafa (Formação), Herrera, Carlos Eduardo, Kelvin, Tiago Rodrigues, Ricardo Pereira e Tozé (Formação).

Naturalmente que este é apenas um exemplo, mas, ao analisar outros jogos, ainda que por exemplo Pedro Moreira (Formação) seja um dos elementos com maior presença na equipa, também Quiñonez, Kléber (sim, esse mesmo) e Vion registam muita assiduidade.

Kléber, Kelvin, Carlos Eduardo e Tozé festejando um golo do Porto B Fonte: http://www.dn.pt/
Kléber, Kelvin, Carlos Eduardo e Tozé festejando um golo do Porto B
Fonte: http://www.dn.pt/

Qual será então a importância da Equipa B para o Futebol Clube do Porto?

Ao olhar para alguns jogadores como Fucile e Kléber, vemos perfeitos exemplos de jogadores que foram para a B porque simplesmente já não existia mais sítio para os colocar. Já no caso dos jogadores da formação mais utilizados, como Kadú, Tiago Ferreira, Tozé e Pedro Moreira, parece-me evidente que, daqui a um ano ou dois (tendo em conta o passado), serão emprestados a equipas da 1ª Liga para mostrar o que valem num patamar superior, pois considero que não estão preparados para a equipa principal.

A maior problemática do Porto B insere-se nos casos de outros jogadores, nomeadamente Carlos Eduardo (um médio altamente criativo que, longe de ser Deco, mostra alguns detalhes mágicos do 10), Kelvin (provavelmente um dos jogadores mais amados pelos adeptos portistas, cuja velocidade e imprevisibilidade o puseram na ribalta em jogos contra Braga e Benfica e lhe deram um lugar no Museu do Porto) e Reyes (o defesa central mexicano que custou 7 milhões de euros), além de outros, que, ainda que tenham começado a jogar na equipa B, ou foram emprestados (Tiago Rodrigues) ou têm presença activa na equipa A (Ricardo e Herrera).

O mexicano Hector Herrera é o exemplo perfeito do que se pretende com a equipa B do Porto. O senhor oito milhões começou na B esta época e actualmente luta pela titularidade na equipa principal com Steven Defour. A equipa B serviu-lhe para se adaptar ao futebol europeu, para entender as dinâmicas do futebol português e a estrutura do Futebol Clube do Porto, mas não só. O facto de ter jogado pela B durante umas semanas permitiu-lhe jogar com regularidade em vez de simplesmente se sentar no banco ou na bancada. Existindo menor pressão em jogos da 2ª Liga, esta tornou-se uma excelente alavanca para o jogador.

Muitos poderiam questionar se faz algum sentido contratar bons jogadores e colocá-los na B de imediato. A verdade é que para o clube é mais benéfico ter Reyes na B do que enviá-lo desde logo para um Paços de Ferreira ou um Guimarães, ou até para outra Liga. Verdade seja dita, jogar na B não é apenas ser opção directa para Taça de Portugal e Taça da Liga; é aspirar a ser titular na Liga, é percepcionar uma ascensão gradual no clube, aceitando que jogar no Porto implica um percurso de aprendizagem e formação.

Jogadores muito ambiciosos, psicologicamente fracos e desmotivados não vivem bem na B; veja-se o caso de Iturbe, o mini Messi que de Messi só a estatura. Esta não é de todo uma equipa para fracos de cabeça, mas acredito que jogadores que entendam o objectivo de ganhar competitividade jogando com regularidade numa Liga que, ainda que secundária, aglomera já equipas de algum potencial, podem sair muito beneficiados.

Nunca fui da opinião que as equipas B’s devem ser exclusivas dos jovens portugueses da formação; esse argumento é (tal como referi no início) bonito e fica bem na fotografia, mas a sua eficácia tem sido baixa. Há poucos jogadores portugueses, mas mais escassos ainda são os grandes jogadores portugueses e só esses conseguem ter lugar num plantel principal do Porto. Se a nível desportivo e económico é preferível ter alguns jogadores estrangeiros na B, então acredito que deva continuar a ser essa a aposta do meu clube.

A equipa B deve ser a última equipa de formação de um clube, formando não só os jovens que estão há dez anos no clube, como todos aqueles que tenham chegado há uma semana, independentemente da sua idade ou nacionalidade…

Estoril-Praia: O segredo está em vencer fora

futebol nacional cabeçalho

O Estoril, comandado por Marco Silva, ascendeu ao quarto lugar na 10.ª jornada do campeonato. A equipa venceu por 0-2 na deslocação a Vila do Conde para defrontar o Rio Ave. Os estorilistas estão agora nos lugares cimeiros e aspiram novamente ao apuramento para a Liga Europa.

Jovem, ambicioso, vencedor! Assim se pode descrever o técnico do Estoril-Praia que, ao cumprir a sua terceira época como treinador de futebol, tem mostrado que tem valor para estar numa equipa nacional de topo. No primeiro ano como treinador foi campeão da Segunda Liga; no ano seguinte, na Primeira Liga, obteve o 5º posto, o que lhe valeu a presença na Liga Europa deste ano. Atualmente, continua a dar nas vistas e, com um terço do campeonato já disputado, vê a sua equipa no 4º lugar da Liga Zon Sagres. Até onde pode chegar este Estoril e até onde pode ir Marco Silva? Veremos pelo andar da carruagem. Certo é que com apenas 36 anos já tornou o Estoril numa equipa muito respeitável no panorama nacional.

 

Marco Silva, treinador do Estoril.   futebolportugal.clix.pt
Marco Silva, treinador do Estoril.
futebolportugal.clix.pt

Mas foquemo-nos no Estoril. 17 pontos em dez jogos. Cinco vitórias, dois empates e três derrotas. 18 golos marcados e 14 sofridos.

Números interessantes para os estorilistas, mas o fator chave da época tem sido os jogos fora. 12 dos 17 pontos da equipa de Marco Silva são conquistados fora. O poderio da equipa da linha nos jogos fora é evidente, com as quatro vitórias em cinco jogos, tendo apenas perdido com o Braga, por 2-3. É também fora de casa que a equipa mais golos marca: 11 dos 18 golos marcados são fora de portas. Estes números são muito diferentes dos da época passada, em que o Estádio António Coimbra da Mota era um talismã onde os adversários tinham muita dificuldade para vencer.

Bancada Central do Estádio António Coimbra da Mota (casa do Estoril). ultimaroulote.blospot.com
Bancada Central do Estádio António Coimbra da Mota (casa do Estoril).
ultimaroulote.blospot.com

Setúbal, Benfica e Braga são as únicas equipas que conseguiram bater o Estoril. Porto e Académica conseguiram sacar um empate. Quanto aos derrotados frente aos pupilos de Marco Silva, a lista é mais extensa: Nacional, Arouca, Olhanense, Marítimo e Rio Ave.

O Estoril é uma equipa maioritariamente formada por portugueses (16 dos 27 jogadores), mas é do ‘’estrangeiro’’ que têm surgido os golos da equipa. Luís Leal e Evandro são os máximos goleadores: juntos somam dez dos 18 golos da equipa. João Pedro Galvão, Balboa e Sebá (também não portugueses) contribuíram com dois golos cada. Os restantes dois golos da equipa foram obtidos pelos portugueses Carlitos e Rúben Fernandes.

Na Taça de Portugal, para além do campeonato, o Estoril está nos oitavos-de-final e vai defrontar o Covilhã ou o Leixões, logo é favorito à passagem aos quartos-de-final. Na Taça da Liga, os estorilistas estão integrados num grupo em que são a equipa mais bem classificada no campeonato, o que também deixa boas perspetivas de passagem à fase seguinte.

Na Liga Europa o Estoril está quase eliminado; joga a cartada decisiva na quinta-feira contra o Sevilha e, mesmo em caso de vitória, depende de terceiros para se apurar para a fase seguinte.

Apesar de a participação na Liga Europa ser fraca, temos de ver que o Estoril participa em provas europeias pela primeira vez na história do clube e o seu plantel não é talhado de jogadores experientes, que são tão importantes para estas competições.

Contudo, nas provas nacionais o fôlego da equipa de Marco Silva é completamente diferente, está em todas as frentes bem posicionado e com aspirações a melhorar. Veremos se o técnico consegue levar a equipa a mais tempos de felicidade. Os próximos confrontos para o campeonato são contra o Guimarães e contra o Paços e podem servir para cimentar o lugar estorilista.

A meta do Estoril é fazer um campeonato tranquilo, mas veremos se não faz uma gracinha como o ano passado e se a Taça de Portugal não se torna um objetivo.

Para já, algumas coisas a reter: Marco Silva é excelente, Luís Leal e Evandro são matadores e este Estoril tem qualidade para chegar longe. O tempo dirá se pode ser outra época marcada pelo brilhante desempenho da equipa do Estoril-Praia.

O artista e a bola

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Para os ávidos consumidores de conteúdos – artísticos, informativos ou outros – é sempre difícil perceber até que ponto a realização humana que experienciam pode, ou não, ser considerada uma obra-prima. A dúvida persiste sempre. É um bom exercício que nos persegue até ao fim da nossa (curta) vida. Então, simplesmente, para alguma realização ser considerada arte, basta que esteja assinada. Seja ela de que tipo for. “Claro que isso é algo idiota!”, pensaremos nós. Bom, mas o que é certo é que algo assinado é algo obrado. Ponto final. E fazemos um parágrafo.

O mesmo se passa com a posição do base, no basquetebol. Ele assina as jogadas mais magistrais e mirabolantes, algumas nem sequer presentes no espetro do imaginário de uma única alma. Claro que ninguém joga sozinho. É um desporto coletivo. Precisa dos seus colegas. De alas. De um poste. Mas ele é um artista com a bolinha na mão e pelotas nos pés. O jogo de pés é importante. Tal como um bom boxeur. Sem ver isso, o jogador adversário perde a noção do espaço. E perde de vista o rival.

O número mágico, geralmente, a que se associa este tipo de jogadores é o cinco. Diferentemente do futebol, por exemplo, em que é o 10. Talvez por o número representar o total de jogadores com que se joga este ludo. É impossível ouvir expressões do tipo “nesta equipa és tu e mais dez!”. No máximo, seria: “és tu e mais quatro, porque se formos meia dúzia jogamos com um a mais.”. E continuaria.

Base, o jogador mais tecnicista da equipa lucia desporto.blogspot.com
Base, o jogador mais tecnicista da equipa lucia
desporto.blogspot.com

Mágicos estonteantes, assim são estes autênticos artífices. Resolvem jogos. Levantam pavilhões. Mas sobretudo são os grandes artesãos na construção do ponto. Jogar com a bola na mão parece fácil. Mas os bases talentosos parecem autênticos símios no que toca ao manejar do objeto esférico, tal a facilidade com que driblam.
Quando li a saga O Silmarilion, O Hobbit e O Senhor dos Anéis, para além de ter a felicidade de degustar uma aventura estonteante, pude aprender uma coisa: quando a coisa fica feia, a ajuda vem sempre daqueles de que menos estamos à espera. Os mais fracos, no fundo. Fracos em termos de físico, não em termos de coração. Como Spartacus disse um dia: “os combates não se ganham pela força, mas pela vontade”. É isso que os bases têm a seu favor. A discrição. A baixa estatura (na maioria dos casos). O fator surpresa. Enfim, o grande armador de jogo. Como se fosse um estratega militar. Fim do momento cromo.

E agora deixemos os bases deste mundo descansar. Na sua base, quem sabe. Longe de os querer incomodar, mas já incomodando, pois, com a assinatura, mal ou bem, esta peça transformar-se-á também numa obra. Fraca. Mas arte. Tal como os seus passes, dribles e cestos.

FC Porto 1-1 Austria de Viena: Dragão das Tormentas, parte II

eternamocidade

E ao terceiro dia, nada mudou. Talvez não haja melhor descrição para analisar mais um empate do FC Porto em casa, desta vez frente ao Áustria de Viena. Olhando para trás na história, facilmente verificamos que este jogo teve muitas semelhanças com a última partida, no último sábado, frente ao Nacional. O resultado foi o mesmo e o marcador de serviço também: Jackson Martinez.

Mas vamos por partes: à entrada para esta 5ª jornada do Grupo F da Liga dos Campeões, o FC Porto entrava com um sorriso nos lábios. Afinal de contas, o Zenit tinha acabado de empatar 1-1 em casa frente ao Atlético de Madrid. Não era preciso, portanto, ser um grande entendido em matemática para perceber que, a partir daquele momento, o FC Porto dependia apenas de si para rumar aos oitavos-de-final. Olhando para o panorama que se colocava aos dragões, aquilo que os 25.000 que se deslocaram ao Dragão esperavam era um FC Porto mandão, autoritário, que dominasse e sufocasse os austríacos, que pareciam um adversário demasiado frágil. Contudo, e como o resultado documenta, quem foi à espera de ver isso no Dragão, ficou com os planos completamente trocados.

Danilo vs Áustria de Viena
Desapontamento de Danilo / Fonte: Record

Escrevi no passado domingo que este FC Porto está completo de falhas que têm impedido o futebol de posse, de domínio e sobretudo de vitória a que o tri campeão nacional nos habituou. A primeira parte do jogo de hoje foi o espelho mais concreto daquilo que atualmente vale esta equipa: sem ideias, sem imaginação, sem magia. Uma equipa à deriva, a afundar-se no decorrer dos primeiros 45′.

Houve mais um erro individual a dar golo ao adversário: desta vez, depois de Mangala e Otamendi, foi Danilo. Golo de Kienast aos 11′, 0-1 para os austríacos. O Dragão tinha, mais uma vez, levado com um balde água gelada e, mais uma vez, via a sua equipa a desmoronar-se entre ideias que parecem já ter solução. Com Defour e Fernando de novo a desempenharem o papel de duplo pivô que apenas Paulo Fonseca parece perceber, com Maicon e Licá nos lugares de Otamendi e Varela, o FC Porto chegou ao intervalo mergulhado num mar de assobios.

Jackson Martínez vs Áustria de Viena
Jackson Martínez / Fonte: Reuters

No segundo tempo, Silvestre Varela rendeu Defour e a equipa voltou transfigurada. Com velocidade e outro dinamismo, Jackson fez o golo que parecia relançar os dragões para uma vitória fundamental rumo aos oitavos. Outra vez, puro engano: voltou o fantasma do último sábado, com oportunidades consecutivas a serem desperdiças e o guarda-redes adversário Lindner a colher os tributos da noite.

Feitas as contas, só uma vitória em Madrid e um resultado que não a vitória do Zenit em Viena podem dar a este FC Porto os oitavos-de-final da Champions. Mas, caro leitor, permita-me esta inconfidência: cá para nós, que ninguém nos ouve, não creio que uma equipa que faça 1 ponto em 9 possíveis em casa mereça lá estar. Hoje, o Dragão das Tormentas voltou, numa segunda parte para jamais recordar.

Não deixemos que o filme de 2011/2012 se repita

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O Sexto Violino

Novembro de 2011. O Sporting vence a União de Leiria em casa e termina o primeiro terço do campeonato com 23 pontos, a um dos líderes Porto e Benfica. O golo de Wolfswinkel e o bis de Matías Fernández davam ao clube a sétima vitória consecutiva para o campeonato e colocavam os adeptos em festa, ainda que esta fosse refreada pela grave lesão contraída por Rinaudo dias antes. Mas apesar de todos os contratempos e não obstante ter sido gravemente prejudicado pela arbitragem em duas das três primeiras jornadas – nunca é demais lembrar que este é, muito provavelmente, o único clube do mundo que já foi alvo de dois boicotes por parte dos árbitros, o último dos quais em Agosto desse ano –, a verdade é que o Sporting estava, por essa altura, colado aos rivais, e não lhes dava descanso.

O clube tinha ido a votos escassos meses antes. Godinho Lopes havia ganho a presidência de forma polémica, mas tinha investido na equipa de modo a muni-la de jogadores com qualidade suficiente para conseguir, pelo menos, a qualificação para a Liga dos Campeões. As exibições dos homens de Domingos Paciência entusiasmavam os adeptos como há muito não se via e quase tudo parecia estar a correr bem, ao ponto de haver até quem já falasse no título. Mas a lesão de Rinaudo tinha sido um prenúncio do que aí vinha. No dia 26 desse mês de Novembro (curiosamente cumprem-se hoje dois anos sobre essa data) o Sporting foi jogar à Luz, sabendo que uma vitória significava ficar dois pontos à frente do Benfica. Porém, os falhanços de Elias, um penalti não assinalado sobre Onyewu e uma falha de marcação numa bola parada ditaram a derrota por 1-0. A partir daí, as exibições do Sporting, que já tinham vindo a perder gás, tornaram-se cada vez mais cinzentas. Um mês depois, a equipa já estava a 6 pontos do líder, e, em Fevereiro, uma sequência de três vitórias em 13 jogos motivou a saída de Domingos e a entrada do novato Sá Pinto. O Sporting acabou o campeonato em quarto lugar, a 16 pontos do Porto e sem direito a participar na Liga Milionária.

Serve esta viagem no tempo para recordar os sportinguistas mais eufóricos de que a fase que vivemos hoje está longe de ser irreversível, como nos provam os acontecimentos de há dois anos. É certo que muita coisa mudou entretanto no Sporting e que há várias diferenças entre estes dois casos: Bruno de Carvalho não é Godinho Lopes (com tudo o que isso implica); a época e os gastos que lhe são adjacentes foram planeados com muito mais rigor e contenção do que em 2011; e ninguém da actual estrutura ou equipa técnica falou na conquista do título como um objectivo a atingir. Mas as semelhanças também são evidentes, sobretudo no que diz respeito às expectativas que as boas exibições foram criando nos adeptos, e não me sentiria bem se não alertasse para os perigos que, a meu ver, essa realidade acarreta.

Há duas épocas, o optimismo excessivo deu lugar à desilusão. É isso que devemos evitar este ano / Fonte: ojornalismoeodesporto.blogspot.pt/
Há duas épocas, o optimismo excessivo deu lugar à desilusão. É isso que devemos evitar este ano / Fonte: ojornalismoeodesporto.blogspot.pt/

Hoje, como há dois anos, estamos com os mesmos 23 pontos ao cabo das mesmas 10 jornadas, e de novo a um ponto do topo. Leonardo Jardim tem feito mais do que eu julgaria possível, e o triunfo em Guimarães, conseguido com ajuda da famosa “estrelinha” que há tanto tempo nos fugia, fez vários adeptos admitirem pela primeira vez que consideram o Sporting candidato ao título. É óbvio que nada me faria mais feliz do que olhar para a classificação no fim de Maio e ver o Sporting em primeiro lugar, mas até lá há ainda um longo caminho a percorrer. Não nos podemos esquecer de que a maior parte dos jogos está ainda por disputar e, sobretudo, de que há escassos seis meses estávamos a concluir a nossa pior época de sempre. Há uma razão simples para o presidente e o treinador se recusarem a assumir a candidatura: um punhado de vitórias não apaga quatro anos desastrosos, e ambos sabem que o Porto e o Benfica continuam alguns degraus acima de nós. Talvez neste momento essa realidade esteja um pouco mais esbatida – até porque temos jogado tão bem ou melhor do que eles –, mas, pelo menos a nível de experiência e consolidação de estruturas (para não falar na parte financeira), o Sporting está ainda num patamar inferior. É, portanto, mais do que natural que não sejamos campeões.

Assim sendo, a última coisa que quero, enquanto sportinguista, é que o meu clube seja atingido por aquilo a que chamo o “síndrome benfiquista”, ou seja, milhares de adeptos de peito inchado a falar antes do tempo e a celebrar desde antes do Natal conquistas que acabam por não se concretizar. Foi esse desfasamento da realidade de que muitos benfiquistas padecem que, mesmo depois de uma época terrível do Sporting, me deu motivos e alento para entrar nas picardias da praxe quando chegou a hora. Mas é também esse desfasamento da realidade que não podemos deixar que tome conta dos nossos adeptos. O Sporting não está habituado a ganhar, pelo que uma série de resultados menos positivos pode fazer com que os mesmos adeptos que hoje nos colocam no grupo dos candidatos entrem numa depressão exagerada e com consequências nefastas para a equipa. Em parte foi isso que aconteceu há dois anos. Nem somos a melhor equipa do mundo em Novembro, nem seremos com certeza um clube de coitadinhos em Maio. Temos, isso sim, de percorrer o nosso caminho com realismo e com a mesma humildade de sempre, pois só assim poderemos voltar a encarar os bons resultados com a naturalidade característica dos adeptos de grandes equipas.

Com uma Lima destas não se faz caipirinhas

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Glóbulos Vermelhos

Além de ser do Benfica, gosto bastante de beber uns copos. Duas qualidades essenciais na formação de qualquer homem. Ah, e convém saber apreciar um belo prato de favas. Posto isto, o crescimento vai sendo natural. O bigode ganha forma, a barba adensa-se e o passo seguinte é natural: estar de balde de caipirinha na mão encostado a uma qualquer parede do Bairro Alto ou Cais do Sodré.

E as caipirinhas têm muita ciência. Primeiro, há que picar bem o gelo. Depois é cortar a lima em quartos e colocar no fundo do copo, para que esta, suculenta e com bastante sumo, dê sinais do seu sabor único à cachaça que ainda está para vir. É um bocado isso. Uma lima pode ser madura mas não pode ser velha. Pode estar suja, mas não pode estar azeda. Se isso acontece não há gelo que sirva nem cachaça que faça uma boa caipirinha. E fazer uma caipirinha má é fácil. Pelos vistos, basta largá-la sozinha no meio de quatro limões num qualquer pomar de Braga e esta sente-se sozinha, insuficiente, foge com tudo o que pode para as extremidades do quintal, sem entender que se precisa dela é no centro, isto quando não tem uma outra a acompanhá-la, claro.

Lima pede ajuda aos Deuses / Fonte: benficaeternoscampeoes.blogspot.com
Lima pede ajuda aos Deuses
Fonte: benficaeternoscampeoes.blogspot.com

Resumindo, Lima é um ponta-de-lança que respeito, que luta sempre, que não baixa os braços, que, diga-se, tem muita qualidade. Não deixa de ser uma peça importante no plantel do Benfica – pense-se na sua influência no jogo com o Gil Vicente, por exemplo – e que é apreciado nas bancadas. Podemos pensar nisto como uma má fase do brasileiro, que todos os jogadores têm, mas também não podemos deixar de pensar que vem em péssima altura, quando este devia assumir os golos quando Cardozo não está. Esperemos que seja tudo passageiro. Que esta Lima fique com o paladar no ponto. E que seja já em Bruxelas.

Uma dupla em ponto de rebuçado

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Para quem está atento ao futebol internacional, os nomes de Andriy Yarmolenko e Yevhen Konoplyanka certamente não serão estranhos. Os dois jogadores, ambos de 24 anos, são as principais figuras da nova geração ucraniana e estão numa fase da carreira em que a liga interna já começa a ser pouco competitiva para tanto talento. E há tantas equipas dos principais campeonatos europeus a precisar de alas desequilibradores…

Para tentar contrariar a hegemonia do Shakhtar Donetsk, o Dínamo de Kiev investiu bastante no último defeso. Chegaram à capital ucraniana nomes como Mbokani, Belhanda ou Dragovic, mas a principal referência da equipa continua a ser um jogador da casa: Andriy Yarmolenko, que tem demonstrado uma eficácia tremenda na finalização e já leva 11 golos marcados nesta temporada. Está a justificar uma mudança para uma liga como a inglesa, por exemplo, onde as suas características encaixariam na perfeição. O esquerdino impressiona pela forma como conjuga capacidade física com qualidade técnica. É fortíssimo no 1×1 e protege a bola como poucos. Pode actuar em qualquer um dos flancos, embora, a meu ver, renda mais do lado direito – um dos seus pontos fortes são as diagonais para o corredor central.

Yarmolenko tem sido o melhor jogador do D.Kiev / Fonte: www.soccertransfers.net
Yarmolenko tem sido o melhor jogador do D.Kiev / Fonte: www.soccertransfers.net

O Dnipro é um emblema que, nos últimos anos, tem evoluído imenso no panorama ucraniano. A equipa orientada por Juande Ramos tem vários jogadores de qualidade, mas a grande estrela é, indiscutivelmente, Yevhen Konoplyanka. Tal como Yarmolenko, o extremo actua no flanco oposto ao seu pé preferencial – o direito -, o que permite potenciar as suas principais qualidades: a velocidade na condução de bola e a facilidade de remate. O Paços de Ferreira é uma das vítimas do craque, que tem, até ao momento, 7 golos marcados (2 deles à equipa portuguesa). Percebe-se, portanto, que está a ser uma época em que Konoplyanka está a mostrar, mais uma vez, que tem um talento muito acima da média.

Konoplyanka marcou 2 grandes golos ao Paços / Fonte: uk.eurosport.yahoo
Konoplyanka marcou 2 grandes golos ao Paços / Fonte: uk.eurosport.yahoo

Rivais no campeonato ucraniano, colegas na selecção nacional. Apesar de serem ainda bastante jovens, Yarmolenko e Konoplyanka são internacionais AA há vários anos. A dupla era a grande esperança da Ucrânia em apurar-se para o Mundial 2014, no entanto, a vitória por 2-0 na primeira mão não chegou para ultrapassar a congénere francesa. É verdade que seria uma pena não ter Ribéry, Nasri, Pogba ou Benzema no Mundial do Brasil, mas não tenham dúvidas de que Yarmolenko e Konoplyanka também deixam a competição mais pobre. Já para não falar de que seria uma oportunidade excelente para, de uma vez por todas, convencerem um clube que dispute regularmente a Champions League a contratá-los. Estou em crer que está para breve. Poderá obrigar a um investimento considerável, mas são apostas seguras. Na verdade, até há um emblema português (lá mais para o Norte) que necessita urgentemente de um extremo de topo…

A Fonte arrisca, mais uma vez, na Challenge Cup

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cab Volei

A Associação de Jovens da Fonte do Bastardo (AJFB) – referindo-me à equipa de seniores masculinos da ilha Terceira, nos Açores – conta, com esta época, três participações consecutivas na Challenge Cup, uma prova que se realiza com um “elenco” constituído por vários clubes europeus e cuja estreia foi em 1980/1981 (então denominada CEV Cup).

Diria “arriscar”, pois apenas em 2012 a Fonte conseguiu um apuramento para os dezasseis-avos de final e este ano já conta com uma derrota em casa, perante o Euphony Asse-Lennik da Bélgica. A AJFB defronta Quarta-feira, no Sportcomplex Molenbos, na Bélgica, o Euphony Asse-Lennik, em jogo da segunda mão da 2.ª Ronda da Fase de Qualificação da Challenge Cup.

AJFB x Euphony Asse-Lennik, jogo disputado até aos limites ("negra")  http://ajfontebastardo.blogspot.pt
AJFB x Euphony Asse-Lennik, jogo disputado até aos limites (“negra”)
Fonte: ajfontebastardo.blogspot.pt

A situação desejada agora (bem como o consequente apuramento para os tão desejados dezasseis-avos de final) é a de vencer o próximo jogo por 3-0 ou 3-1; se derrotarem os belgas pela margem mínima, terão de disputar um set de desempate (Golden Set).

A Fonte do Bastardo mostrou um certo “impasse” este ano, com uma derrota por 3-2 na Supertaça com o Benfica e uma vitória que os isolou na primeira posição do campeonato, por 3-0, também com o Benfica. Se a vantagem para o marcador voltasse no próximo confronto, sem a necessidade de chegar à margem mínima entre sets, era meio caminho andado para uma participação mais tranquila (e bem preparada) nos dezasseis-avos.
São sempre bons estes balanços no marcador favoráveis à Fonte, especialmente como forte representante dos terceirenses, e daqueles que gostam de voleibol nas nove ilhas dos Açores.

Para o capitão da seleção portuguesa, João José, uma boa prestação nesta primeira época na equipa insular e na participação na Challenge traria ainda mais pontos a favor no seu currículo desportivo. Na fase dos primeiros treinos realizados na Terceira, João José destacou este facto e considerou que esta seria uma boa época. No contexto nacional já se pôde confirmar isso; resta agora esperar por uma boa prestação de novo, tanto do capitão da seleção portuguesa como dos atuais detentores das forças de ataque e bloco da Fonte, como por exemplo Lucas Gregoret ou Gilson França.

Não só como açoriano, mas principalmente como apoiante do único representante português na prova, espero, por agora, pelos dezasseis-avos – o resto logo se vê. O voleibol por vezes tem destas inconstantes que se resolvem ou acima dos 2,40m da rede ou nos jogos em que a defesa sobressai com chão a ser “varrido” – é isto que traz espetacularidade ao jogo!

É mais fácil receber uma carta para Hogwarts

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cab Snooker

“Tentativa falhada de ir ao Mundial de Snooker II” teria sentido ser o título, se realmente já tivesse escrito a tentativa I. A verdade é que ambas aconteceram e tenho expressar esta qualquer-coisa como raiva. Preciso de alguma ajuda, principalmente psicológica. Também teria mais sentido publicar hoje um texto sobre a vitória de Ronnie O’Sullivan ou a derrota de Stuart Bingham, dependendo da perspectiva, no 888Casino Champion of Champions, ou as cinquenta entradas superiores a 100 pts de Neil Robertson esta temporada. Mais uma vez, esta situação afectou-me tanto que tenho de diluir estes ataques nervosos de alguma maneira.

Dia 19 de Dezembro de 2012 de manhã, o meu telemóvel toca e, como sempre, assusto-me. É um toque um pouco agressivo, mas que me impede certamente de falhar uma chamada tão importante como esta. A minha tia estava do outro lado da chamada com a notícia de que o meu tio tinha adorado a ideia de irmos os dois a Sheffield ver a final do World Championship, em Maio de 2013. «Trata dos bilhetes para o Crucible Theatre, que o tio trata do resto». Isto faz o dia de qualquer pessoa! Um pouco de ansiedade ao ligar o computador, visto que este dinossauro não é dos mais rápidos do mercado, e fui logo ao site, já com tudo pronto para fazer uma reserva, quando vi que os bilhetes não estavam disponíveis. Não será preciso dizer o que aconteceu depois.
«Tenho de tratar disto com mais antecedência».

24 de Novembro de 2013 foi a tentativa falhada II. Começámos a planear esta viagem em Setembro. Troca de mails, muitas páginas de hotéis visitadas, até que os bilhetes para a final voltam a estar indisponíveis. O meu tio pôs os seus contactos a funcionar e mesmo assim não lhe garantiram bilhetes. «Podemos reservar já os quartos de hotel e os bilhetes de avião e fazer uma pré-reserva da última sessão, mas nada é garantido».

Será que é uma vontade assim tão megalómana? Está na minha lista de desejos e garanto que, se não tiver um lugar reservado no campeonato de 2015, haverá revolução. Começa a ser minha convicção de que é mais provável receber a minha carta de Hogwarts (que há tanto tempo espero) do que conseguir ver arte numa mesa de snooker em Inglaterra. Fica aqui o meu apelo à International Billiards and Snooker Federation.