Francesco Totti é um nome incontornável para todos os amantes de futebol. Para além do seu indiscutível talento, tem um carisma ao alcance de poucos. É uma figura de que é fácil gostar, mesmo tendo uma postura de bad boy, algo presunçosa, por vezes. E recordo uma afirmação do próprio: “só há um jogador a fazer coisas que eu nunca poderia fazer, que é Messi”. Tudo dito.
O mítico camisola 10 da AS Roma (é capitão desde os 21 anos) é um dos últimos one-club man. E, ao que parece, não está satisfeito com as 22 épocas que já leva ao serviço dos giallorossi. Apesar dos seus 38 anos, renovou pela “sua” Roma até 2016!
Lenda viva do Calcio – é o segundo melhor marcador de sempre, à frente de nomes como Del Piero, Inzaghi ou Batistuta -, Il Gladiatore, como é conhecido, é um dos melhores jogadores italianos da história e, aos 38 anos, vai mantendo as suas qualidades intactas.
Il Capitano / Fonte: forzaitalianfootball.com
Na última jornada da Série A, o avançado esteve em destaque na vitória por 3-0 sobre o Inter de Milão, em pleno Giuseppe Meazza. A excelente exibição que realizou, coroada com dois golos (um deles apontado de forma brilhante), permite ao emblema da capital manter-se invicto na liderança. Sem a capacidade física de outros tempos, Totti vale-se da experiência acumulada para fazer a diferença. A qualidade de passe e potência de remate que possui ainda fazem muitos estragos. Ainda assim, não é de esperar que o jogador de 38 anos consiga manter um rendimento regular ao longo de toda a temporada. É previsível que a estrela romana venha a ter quebras de forma. Mas há algo que importa não esquecer no futebol: a forma é temporária, a classe é permanente. E Totti até a andar tem classe.
PS – Olhando para a carreira de Totti, é evidente a falta de títulos. Venceu apenas uma Serie A. Quem sabe se a Roma não poderá causar uma surpresa. Por este início de campeonato, a equipa de Rudi Garcia promete. Mexeu-se muito bem no mercado, formou um conjunto muito competitivo – o trio de meio campo composto por De Rossi, Strootman e Pjanic é seguramente um dos melhores da Europa até ao momento –, tem uma defesa muito segura (apenas 1 golo sofrido) e jogadores capazes de decidir individualmente, como Gervinho e o jovem Ljajic. Contem com eles para lutar pelo título.
Antes de fazer um breve comentário à final do Ruhr Open, quinto evento da série Euro PTC realizado na Alemanha, não poderia deixar de começar este texto para o Bola na Rede com umas luzes sobre o estado do snooker em Portugal e algumas razões para admirar este desporto.
É incontestável a ideia de que em território lusitano todos querem ver o Pauleta e comer um bom Terra Nostra. Já se sabe que “tuga que é tuga” só quer é ver uma bola a passear pelos pés de 22 jogadores. A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) aposta totalmente no conforto dos seus jogadores, e mandá-los para hotéis cinco estrelas é uma premissa necessária e óbvia. Enquanto isto acontece, a Federação Portuguesa de Bilhar (FPB) não “precisa” de apostar em técnicos e na sua formação. Não há um único juiz de mesa de snooker em Portugal. Posso pô-lo deste modo: Benfica vs Porto sem árbitros. Isto leva-me a uma questão: como é que um desporto pode evoluir pós-fronteira sem haver as condições necessárias para um jogo “limpo”?
É um cenário bastante infeliz. O número de bons jogadores portugueses ronda “os muitos” e as oportunidades para se testarem face à elite, em Inglaterra, é mínima.
Não percebo o não investimento numa modalidade em que é requerida tanta técnica e concentração. O som de uma respiração mais profunda de um membro do público pode fazer a diferença entre uma ida à final e a possibilidade de ganhar 250 mil libras e a de ganhar 4,6 mil libras. O facto de a bola branca ter restos de giz da tacada anterior, feita pelo adversário, pode levar a que o efeito pretendido pelo outro jogador não serja conseguido, consequentemente levando a bola de cor a saltar para fora da mesa. São pequenos grandes pormenores como estes que me fazem levar para a frente da televisão uma taça de cereais e passar ali horas, a ver e a aprender; a perceber o que se passa na cabeça dos jogadores e a tentar adivinhar a próxima jogada.
Com isto, gostava de ver jogadores nacionais a representarem Portugal na Eurosport, mas, sem um sério investimento, veremos sempre o Ronnie O’Sullivan a mostrar como é que se faz para ser uma lenda.
Foi a primeira vez que a cidade de Mulheim, na Alemanha, viu um campeonato de snooker. Um PTC ganho por Mark Allen. Ding Junhui viu o seu adversário ganhar 4-1 à melhor de 7. O Ruhr Open teve como surpresa o número 75 do ranking, Robbie Williams, chegar às semifinais. O próximo evento é o Kay Suzanne Memorial Cup em Gloucester, Inglaterra, que ocorrerá em Novembro do dia 7 até ao dia 10 .
O campeonato nacional da 1ª divisão de voleibol português é um campeonato que nos últimos anos tem demonstrado a espectacularidade desta competição – e isto claro que tanto nas provas masculinas como nas femininas. Expresso-me desta maneira quanto à competição pois sei por experiência própria o conjunto de fatores que fazem deste desporto único, na medida em que, quando há uma decisão do árbitro e o som do apito ecoa pelos pavilhões, isto implica logo uma ponto para uma das equipas. O voleibol português tem tido o seu destaque, principalmente no campeonato europeu. Há, de facto, cada vez mais preocupação em formar as camadas mais jovens para um futuro que pode passar por uma seleção nacional ou por um dos “grandes”.
E é precisamente por aqui que seguimos, pois, no passado fim-de-semana (5 de Outubro), a competição nacional iniciou-se nos masculinos da I Divisão e, quase que se confirmando as antevisões feitas, a corrida ao título este ano será concorrida e disputada set a set, até aos limites máximos de parciais.
Do fim-de-semana passado, e tendo em conta o historial de títulos alcançados, coloco em destaque 3 resultados das provas que se realizaram:
A Associação de Jovens da Fonte Bastardo (AJFB) da ilha Terceira, que venceu num confronto entre insulares o Club Sport Maritimo (Madeira) por um seguro 3-0 com resultados de parciais que, para o treinador dos madeirenses – e apesar da derrota esperada-, foram resultados positivos.
O Benfica, num confronto em casa, contra a Associação Académica de Espinho, vence por 3-0 e com parciais com uma margem razoável, embora o técnico José Jardim considere que haja “mais trabalho a melhorar”.
José Jardim -Treinador do S.L. Benfica Fonte: SL Benfica.pt
Por último, e, a meu ver, numa outra formação que mostra resultados nos últimos anos – os quais exemplificam o seu valor e potencial-, o Sporting de Espinho, que neste fim-de-semana viu-se em confronto com um Esmoriz que deu luta e o levou à condição de derrotado pela margem mínima de sets (3-2).
O Espinho mostra um historial com alguns títulos na I Divisão (A1), e neste fim-de-semana destaca-se precisamente por este resultado menos favorável e que coloca mais um oponente pronto a “baralhar as contas” em competição.
Esta vai ser uma época de bons jogos, a meu ver. Num desporto que está legitimamente bem organizado e com uma competição que, independentemente do enquadramento que tenha – seja a nível nacional e em que divisão for – é sempre agradável de ver, procura-se cada vez mais dar espetáculo aos espetadores portugueses, e não só.
João José e a nova camisola da AJFB Fonte: facebook.com/ajfontebastardo
Com muitos jogos pela frente, alguns desta primeira jornada ainda por realizar, e muitos pontos para ser somados, as conclusões que se podem tirar ainda são poucas; no entanto, esta vai ser uma época em que, na minha opinião, temos um Benfica e uma Fonte do Bastardo na luta direta para o título. O Benfica, com a habitual formação que este ano conta, nomeadamente, com o distribuidor Ricardo Perini adicionado ao plantel, e que após vencer a Supertaça contra a AJFB há alguns dias atrás, num jogo suado até à margem mínima entre sets, mostra o seu potencial. Por outro lado, esta formação açoriana da AJFB que venceu a taça de Portugal na época passada e conseguiu um belíssimo título do campeonato em 2011 traz-nos uma formação reforçada, nomeadamente pelo capitão da seleção portuguesa João José, que militava uma formação alemã nos últimos anos e que está disposto a trazer mais um título aos Açores e ao público que acarinha tão bem esta equipa e modalidade na ilha Terceira.
Para o meu primeiro artigo, decidi escrever sobre a Liga que me faz realmente amar o futebol e tudo o que ele representa. Paixão, empenho, dedicação e magia.
O meu gosto especial pela Premier League (Liga Inglesa de Futebol) advém da qualidade de jogo que todas as equipas da Liga apresentam. O jogo é, geralmente, disputado a cada segundo, com jogos extremamente fervorosos, tanto dentro, como fora de campo. Assim sendo, começo por lhe chamar “a liga dos sonhos”, com uma alusão ao estádio do Manchester United (Old Trafford), conhecido no mundo do futebol como o “Teatro dos Sonhos”.
A Premier League é um verdadeiro exemplo a seguir. Não há uma equipa que jogue “com 2 camiões” à frente da baliza, como é fácil avistar em Portugal. O jogo é disputado “cara-a-cara”, e todas as equipas procuram a vitória, seja contra equipas do mesmo calibre, seja contra equipas de calibre superior. A qualidade do futebol inglês está mais que atestada, sendo as goleadas e as grandes exibições algo regular.
Contudo, são os adeptos e o Fair-Play presente dentro e fora de campo que elevam a Liga a um patamar superior. Quem não se lembra do ambiente vivido nos grandes derbys? Ou dos adeptos do Liverpool a cantarem o hino do clube You’ll never walk alone?
Adeptos do Liverpool, durante o hino do clube / Fonte: live4liverpool.com
Porém, os meus argumentos não se esgotam aqui. Na Premier League não existem apenas dois ou três candidatos ao título, como em Espanha, com o Real Madrid e o FC Barcelona; ou na Alemanha, com o Bayern Munich e o Borussia Dortmund; ou mesmo em França, com os multimilionários Paris-Saint Germain e AS Monaco. Na Liga Inglesa o número disparou e são, atualmente, seis os candidatos: Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham.
Aproveito o mote para dar início a uma breve análise da Premier League até à 7ª jornada.
Quanto aos três últimos campeões (Chelsea, Manchester City e Manchester United), trocaram de treinador e, por isso, estes têm sentido dificuldades em pôr a equipa a “carburar”, isto é, existe uma extrema falta de consistência e confiança no que toca aos jogadores e às novas ideias dos treinadores. Isto torna-se ainda mais notório no Manchester United, uma vez que David Moyes tem sentido claras dificuldades em substituir Sir Alex Ferguson. Contudo, Pellegrini e Mourinho não têm tido a vida facilitada nos seus respetivos clubes, onde as suas decisões são consecutivamente questionadas.
Ainda assim, existem surpresas, nomeadamente a consistência do Arsenal. Os Gunners garantiram 5 vitórias consecutivas, acabando essa série com um empate fora, frente ao West Bromwich Albion, o que não deixa de ser um resultado positivo, dado que é um terreno extremamente difícil para qualquer equipa.
Já o Liverpool está a ter o início de época que já não tinha faz uns bons anos. Rodgers conseguiu dar consistência defensiva à equipa e o ataque, composto, principalmente, por Sturridge e Coutinho, fez o suficiente até ao regresso de Suárez, que, mal regressou, demonstrou ser a peça mais importante do plantel dos Reds.
O Tottenham, considerado o outsider dos candidatos ao título, obteve o seu segundo melhor arranque de sempre na competição, o que atesta a Villas-Boas o bom trabalho ao leme dos Spurs. Veremos como reage ao desaire desta jornada (derrota por 0-3, frente ao West Ham).
André Villas-Boas / Fonte: escanteio.com.br
Finalmente, decidi ainda fazer uma menção ao Everton, que, com um bom plantel, com um treinador que tem provas dadas (Roberto Martinez), pode levá-los ao acesso à Liga dos Campeões. Fazem parte deste plantel jogadores como: Baines, Lukaku, Mirallas ou a jovem promessa Barkley (diria mesmo certeza). A perda de Fellaini para o Manchester United parece, portanto, bem colmatada.
Na minha opinião, será a consistência das equipas que trará frutos, contudo é um campeonato surpreendente, pelo que resta ver o que fazem os reais candidatos ao título.
Estou seguro de que a generalidade dos rapazes da minha geração suspendia a sua vida, dia após dia, para devorar mais um episódio da série de animação japonesa “Dragon Ball”. Por entre várias singularidades brilhantes que a série abarcava, decerto estão recordados da questão da “fusão”. A “fusão” consistia no seguinte: duas personagens, por intermédio de uma dança e determinados “dizeres”, completavam uma união e convertiam-se numa só. Qual o objectivo deste ritual? Erguer um guerreiro implacável, reunindo as maiores qualidades de cada um dos dois elementos fundidos, e tendo como meta ultrapassar os adversários mais temíveis e vencer as batalhas mais árduas.
Pois bem… qualquer sportinguista, que, como eu, sofreu durante as duas últimas temporadas com a apatia, inércia e perdularismo de atletas como Valeri Bojinov, Seba Ribas e até Ricky Van Wolfswinkel, decerto suspirava por um regresso súbito de um Beto Acosta ou um Liedson, de outros tempos. Mas porquê suspirar por ver em Alvalade as qualidades de um desses heróis, quando podemos ter de volta as qualidades de ambos? Sabem de quem falo?
Nunca fui um craque a matemática, mas esta equação parece-me de resultado óbvio; porém, apenas o é depois de o conhecer. Por conseguinte, o mérito vai todo para quem resolveu esta equação antes de lhe conhecer o resultado; vai para quem ofereceu a todos os sportinguistas um executante por excelência como há muito não se via pelos lados de Alvalade; vai para quem teve o engenho de nos oferecer um ponta-de-lança em quem podemos confiar cegamente. O mérito vai para Bruno de Carvalho e Augusto Inácio.
Mas que grande contratação. Estes dois homens trouxeram-nos uma “fusão” de dois dos melhores pontas-de-lança que já vimos actuar no Sporting e na Liga Portuguesa. Um avançado que mostra ser capaz de ombrear com os números extraterrestres de Mário Jardel, e, praticamente, sem executar grandes penalidades. Senão, vejamos: na longínqua temporada de 2001/2002, nos seus primeiros sete jogos, “Super Mário” fez dez golos, quatro dos quais marcados através conversão de castigos máximos; já Fredy Montero, nos primeiros sete jogos de leão ao peito, marcou por nove vezes, sendo apenas um dos golos marcado por intermédio de grande penalidade. Já agora, e visto estarmos a conversar sobre estatística, note-se, de igual modo, que Montero, em apenas sete jogos, está a cinco golos de igualar o registo de Van Wolfswinkel durante as 30 jornadas da temporada transacta (14 golos).
Meus caros, parece-me que estamos perante factos e números importantes. Parece-me que a conversa do “ainda é cedo para avaliar” e do “tem tido sorte” já não faz qualquer sentido. Meus amigos, estamos perante uma contratação brilhante dos nossos timoneiros. Estamos perante um exímio finalizador que, a pouco e pouco, me obriga a largar as memórias de todos os avançados que vi jogar de verde-e-branco. Desejo e acredito piamente que esta “fusão”, desencantada pela dupla Bruno/Inácio, continue a dar frutos, e venham de lá mais “fusões” deste calibre. Talvez uma Ronaldo/Quaresma…
O futebol movimenta milhões de euros. O futebol prende milhões de espectadores ao ecrã da televisão. O futebol arrasta milhões de adeptos até aos estádios. O futebol é o desporto rei, é o motor dos sonhos de muitos jovens, é um misto de emoções.
O número de jovens que luta por um futuro ligado ao futebol aumenta de dia para dia: muitos querem ser o próximo Cristiano Ronaldo, muitos se inspiram nos golos de Zlatan, muitos querem atingir a técnica de Messi. Mas não basta dar uns toques na bola e fazer umas fintas parecidas com as do Ronaldinho para ser jogador de futebol profissional; é preciso formação. É preciso acordar cedo, meter as caneleiras, calçar as chuteiras e ter vontade de correr. Correr atrás da bola, atrás do sonho.
http://www.oribatejo.pt/
Falo de futebol formação masculino; neste espaço, mais precisamente, falo das equipas de Iniciados até Juniores. Falo, por isso, de jovens que têm entre 13 e 20 anos. De jovens que conciliam a vida académica com os treinos. De jovens que abdicam das saídas de sexta à noite porque há jogo no sábado, das saídas de sábado à noite porque há jogo no domingo. Falo de rapazes que, em muitos casos, para lutarem por um sonho que não dão por garantido, estão longe da família, dos amigos. No futebol, tal como na vida, há vitórias e há derrotas. No futebol, há golos e há lesões. E é por este reverso da medalha que muitos se batem todos os dias, mas já dizia António Gedeão que “o sonho comanda a vida”.
Por toda esta luta diária, por todos os grandes jogos e pela grande qualidade do futebol formação masculino português, esta modalidade merece ocupar aqui um pouco de espaço, ao Domingo à noite. Por isso, todas as semanas irei dar a minha opinião acerca de um jogo em concreto de um destes escalões. Quem sabe se não venho a falar do futuro melhor jogador do mundo.
Quantos fãs de Breaking Bad temos por aí? Calma, a pergunta não é assim tão descontextualizada como parece. Para os que acompanham a famosa série, a frase Better Call Saul não será, de todo, desconhecida. Para os que não acompanham, trata-se de um slogan publicitário de um advogado que promete simplificar a vida a todos os seus clientes.
Embora sem a especialização na área do Direito, Carrillo apresenta – quando quer- especialidades inequívocas que lhe conferem o direito a reclamar o aparecimento de cartazes do mesmo género: Better Call Carrillo, por exemplo. Na época actual, o extremo peruano já foi titular por cinco vezes e suplente utilizado nas outras duas partidas, tendo já marcado dois golos e contribuindo com várias assistências.
Contudo, nem tudo são rosas no que ao rendimento de Carrillo diz respeito. Verdinho demais – até para quem de verde se veste –, o ainda jovem internacional apresenta na inconsistência das suas performances o seu pior defeito. Como dizia o comentador da Antena 1 durante o encontro com o Setúbal, Carrillo parece dependente de um qualquer interruptor que ora o eleva a um nível acima dos restantes, ora o torna incompreensivelmente transparente para as ambições do futebol leonino.
André Carrillo / Fonte: Sporting.pt
Saul Goodman, o tal advogado, tinha artimanhas e um vasto leque de contactos de que dispunha e que colocava ao dispor dos seus clientes de forma a simplificar-lhes a vida. Andre Carrillo, o tal extremo, tem também artimanhas, mas o leque de que dispõe é de recursos técnicos que usa e dos quais, por vezes, abusa de forma a simplificar a vida dos seus companheiros. Dono e senhor de uma capacidade técnica capaz de corar o segundo melhor extremo do plantel do Sporting, capaz dos arranques mais explosivos da Liga, o 18 do Sporting alia ainda duas qualidades raras nos extremos de hoje em dia: bom jogo de cabeça e sentido pelo golo, que o faz aparecer bem na área a finalizar.
Pelo contrário, a má capacidade de decisão faz de Carrillo vítima das suas próprias virtudes. Passar a ler o jogo melhor tem de ser uma das suas prioridades, se quer dar o salto qualitativo pelo qual tanto dirigentes como adeptos anseiam. Quando assim for, o Sporting contará com um desbloqueador de jogo como poucos teve no seu passado recente. Carrillo representará o patamar mais simples de se ganhar um jogo: tocar ali a bola e ele que tire um ou dois do caminho e nos abra espaços para sonhar. Como fazem os grandes jogadores.
Para a equipa da casa, este jogo representava um marco na história do clube, já que foi a primeira recepção a um grande em jogos a contar para a Liga Portuguesa – facto esse que imprimiu motivação extra para os jogadores comandados por Pedro Emanuel. Para além deste argumento – que pouco ou nada valeu -, o meu avô relembrou-me a época 2011/2012: o Arouca podia surgir ao FC Porto como um Feirense, num jogo em que o conjunto de Quim Machado bloqueou João Moutinho e companhia, atrasando os dragões na luta pelo título.
No entanto, é anormal para o FC Porto não arrancar pontos depois de uma derrota (num jogo que fica atravessado na garganta de qualquer adepto) e – mais importante ainda – antes de um clássico. Longe de ser um embate de tudo ou nada, tratava-se de uma situação relativamente desconfortável para Paulo Fonseca (PF), cujo aparelho digestivo ainda se encarrega de digerir a primeira derrota, enquanto azul-e-branco. Era, por isso, a oportunidade ideal para continuar a conquistar a confiança dos adeptos: as palavras do treinador apontavam para uma equipa ainda em fase de construção. Para a maior parte da opinião pública, a expressão «ainda» foi trabalhada num cenário quase caótico para o FC Porto, quando, na verdade – e olhando para a evolução natural da equipa –, estamos perante um momento de afinação, no qual a confiança dos adeptos e, por sua vez, o espírito da equipa são elementos nucleares para a orgânica do pantel.
Arouca ou nada: é aqui que este jogo adquiria o rótulo de nocivo, tendo em conta que ganhar não chegava. A filosofia pragmática de PF é apenas meio copo para os adeptos do FC Porto e, antes do jogo, o adepto portista exigia rendimento máximo, não só no placard mas também na qualidade de futebol praticada – e, já agora, durante 90 minutos. Caso contrário, Arouca é como água gelada na digestão de PF, entrando definitivamente numa situação indesejável.
Esta era a história que se lia antes da partida, e lá ia o meu avô irritando-me com o Feirense de 2011/2012. O Porto acabaria por ganhar, mas sem brilho.
O Jogo jogado
Paulo Fonseca decidiu recuperar o 4x3x3, ainda que de forma subliminar. Isto porque pedia-se a Herrera aquilo que Defour não sabe fazer, isto é, capacidade para construir jogo em velocidade e dar uma perninha ao Polvo, na transição ataque-defesa. E já que estamos com a tortilla no prato: o que acrescentou Herrera?
O mexicano é, de facto, um jogador a ter em conta. É o médio de apoio à criatividade do meio-campo, ou seja, aquele elemento que equilibra a equipa nos momentos sem bola, tanto nas movimentações defensivas como nos lances de ataque, permitindo que Lucho defina no último terço. Herrera apareceu logo nos primeiros minutos, procurando a bola dos pés de Fernando e dos dois laterais, encarregando-se de entregá-la redonda tanto a Lucho como a Varela/Josué. Ao contrário do Defour, Herrera constrói em sentido vertical: bom controlo de bola e inteligente a injectar velocidade no jogo; aliás, foi dos elementos que mais vezes rasgaram as marcações da equipa do Arouca, criando em profundidade momentos de passe/desmarcações. Primeira nota positiva para um médio energético – que fez lembrar Guarín – e que pode ter agora porta aberta no onze.
Héctor Herrera / Fonte: record.pt/
Voltando ao jogo no seu todo, o FC Porto começa a controlar o jogo, e chega ao golo depois de uma jogada individual de Alex Sandro. Jackson para finalizar na cara de Cássio. Até então, o FC Porto fazia circular a bola, sobretudo pela ala esquerda, onde se encontrava Alex Sandro, que viria a combinar várias vezes com Herrera. Danilo continua amarrado e, a meu ver, o prodígio está mesmo do outro lado da asa, uma vez que o Sr.18 M€ é lento a chegar à linha de fundo, independentemente da qualidade técnica já provada.
Josué joga, mas joga mais e melhor no miolo do terreno. É importante tê-lo na ala, mas só temporariamente. Exigir ao pequeno rebelde desequilíbrio no um-para-um, ir à linha e cruzar é um crime contra a sua natureza: Josué corta bem para dentro e procura sempre o pé esquerdo, mas isso não significa que seja um extremo. Como não é jogador para romper em velocidade, torna-se um alvo fácil na defesa do Arouca.
O mesmo aconteceu com Varela: o drogba da caparica está apático e raramente ganha um lance a Dias ou a Balliu. Na verdade, há que evidenciar o esforço destes dois homens de manter tapados os caminhos para a baliza de Cássio e, de vez em quando, entrar timidamente no meio-campo do FC Porto.
E isto foi acontecendo com maior frequência assim que Jackson fez o primeiro golo. O Arouca começou a fazer circular a bola e o Porto ficou a ver. Bruno Amaro, na pressão sobre o homem da bola, ia resultando, mas, quando falhava, toda a equipa sentia e lá iam Herrera e companhia; porém, sem perigo. O Arouca conseguia, inclusive, colocar a bola em Ceballos e, com alguma magia, fazia Luis Freitas Lobos entupir os meus ouvidos com o seu percurso pelas camadas jovens do Barcelona; sempre com David Simão no passe bem definido, diga-se. O espanhol arrancou faltas e permitiu que Bruno Amaro tentasse a sua sorte através do seu pontapé-canhão. Hoje, sem pólvora.
A história foi a mesma até ao segundo golo do Porto. Otamendi fez aquilo que Varela e Josúe não conseguiram: o argentino surge na quina da área depois de um pontapé de canto; recebe a bola – depois de um passe rápido de Herrera, parte para cima do adversário e cruza de pé esquerdo para o colombiano bisar.
O Arouca estava melhor em campo e o meu avô não parava de dizer: «Estás aqui estás a levar o empate». Lá o calei com Jackson. Depois veio o Pintassilgo: livre bem colocado e o FC Porto voltou a sofrer de bola parada, sempre com a sensação de que a defesa e Hélton poderiam ter feito mais. O golo agitou o Porto e os dragões lá assumiram a chama, por intermédio de Quintero. Numa das primeiras vezes que toca na bola (senão mesmo a primeira), partiu a loiça toda, puxou da vassoura e pôs o Arouca no lugar, mostrando ao Pintassilgo que também ele tem direito a voar- e que voos altos o esperam.
Esta foi a história de um jogo cuja vitória não bastava ao FC Porto, mas acho que, por enquanto, dá para disfarçar. Vem aí o clássico no Dragão e creio que os portistas vão esperar por esse jogo para perceber se água gelada faz assim tão mal durante a digestão. Caso não houvesse um Porto x Sporting – e a Selecção pelo meio -, a imprensa e as preocupações dos adeptos portistas mais cépticos iriam desencadear nova onda em torno de PF. Verdade seja dita: o Porto precisa de recuperar a robustez defensiva e ultrapassar o problema das bolas paradas, antes do clássico.
Com toda a certeza, irei ver o jogo com o meu avô. «Montero» será a palavra que mais vezes irei ouvir da boca dele, sempre com o objectivo de me irritar.
Tudo aquilo que é observado tem tendência para agir de forma diferente. Aprendi esta bela frase numa aula de sociologia, há uns anos. É bem provável que seja das poucas coisas de que ainda me lembro, mas, por algum motivo, ficou. Sempre achei que fazia sentido, que era uma verdade simples e passível de ser comprovada de milhentas formas diferentes.
Mas isto não é o Sociologia na Rede, nem eu teria estaleca para escrever num site dessa envergadura. Assim sendo, vou directo ao assunto.
Futebol feminino vs. Futebol masculino. Ora bem, é certo e sabido que há bastantes diferenças entre um e o outro; e não, não estou só a falar do sexo dos respectivos praticantes. No futebol feminino não há arrancadas à Ronaldo, nem fintas à Messi. O ritmo de jogo é consideravelmente mais lento, o posicionamento táctico deixa bastante a desejar, e a capacidade técnica de algumas jogadoras parece, em certos casos, estar desaparecida em combate. Noutras palavras – o nível de jogo é inferior.
Com esta descrição, parece não haver razões para acompanhar ou sequer assistir a Futebol Feminino, certo? Errado, errado, errado.
http://www.tvi24.iol.pt/
Se é certo que, em termos de qualidade de jogo, as raparigas se encontram a anos-luz dos melhores profissionais masculinos, há outros pontos em que as raparigas nos dão uma descomunal e verdadeira coça. Quais? Simples. O espírito da coisa. Parece descabido, mas garanto que não o é. Passo a explicar:
No futebol feminino é raro haver fífias ou fingimentos. Não há milhões envolvidos em transferências galácticas, não há especulações descabidas e inúteis por parte dos media. Não há escândalos de arbitragem ou de resultados combinados, não há escrutínio da vida pessoal de jogadora x ou y. Não há guerras entre claques, birras de jogadoras que querem contratos melhorados ou controvérsias ridículas que enchem páginas nos jornais desportivos. No futebol feminino, pelo menos por cá, aquilo que interessa é o jogo em si mesmo, e pouco mais.
Com isto não quero dizer que esta modalidade seja um oásis isento de corrupção, mediatização e má conduta desportiva. Mas verdade seja dita: já vi jogos da Primeira Liga Portuguesa masculina em que havia mais “meninas” em campo do que em jogos de futebol feminino. Trata-se de desporto no seu sentido mais puro, mais natural, mais … desportivo. Estou ciente da redundância, mas não há melhor adjectivo para o descrever. O grande negócio em que o futebol profissional se transformou faz-nos por vezes esquecer o motivo pelo qual todos nós, homens ou mulheres, começámos a jogar ou a acompanhar futebol. O amor pelo jogo, a paixão pela competição. Aquele sentimento de felicidade instantânea quando a redondinha nos passa pelos pés, o prazer de ver a bola entrar nas redes adversárias, a verdadeira “festa do futebol”.
É com grande pesar que vejo esta “mística amadora”, que acaba por ser a essência de qualquer desporto, a desvanecer-se no futebol profissional masculino. O futebol moderno é mais rápido, mais técnico, mais táctico, mais tecnológico, mais observado e mais discutido. Como tal, manda a regra sociológica que se transforme, que comece a agir de forma diferente da original. No futebol feminino ainda não se deu este salto para a modernidade, o que o torna uma verdadeira lufada de ar fresco para todos aqueles que apreciam o futebol no seu estado mais puro.
Futebol feminino não é melhor nem é pior. É diferente. E, sinceramente, ainda bem.
– Independentes! Independentes! Independentes até à morte!
Era o grito que ecoava no balneário antes de cada jogo; era rotina, mas eu esperava a semana toda para ouvir esse grito – não por me sentir motivado ou próximo dos meus companheiros, mas sim porque tinha oportunidade de ver a cabeça do meu treinador da cor da camisola principal do Benfica (depois de Paris quase que me custa falar no Benfica, mas o que tem de ser tem muita força).
Fonte: sines.pt
Era uma papoila saltitante o mestre da táctica Sineense, conhecido no mundo do futsal de formação como “Tomané”… Minto, ele não era propriamente uma papoila saltitante; porém, aquando desse grito, a cabeça dele bem que me enganava. Eu admirava de perto as veias salientes na testa do “mister” e os olhos, esbugalhados enquanto nos brindava com perdigotos e gritava “Independentes”. Era um momento único que me há-de ficar marcado para o resto da vida, até porque com tanto banho de perdigotos quase aposto que ainda encontram ADN Tomanense no meu cabelo.
Embora tenha tido um passado brilhante no futsal de formação (deixo ao critério do leitor a existência desse mesmo passado brilhante), vinha-vos mesmo falar do jogo do campeonato nacional de futsal entre o Sporting, campeão em título, e o Rio Ave, inteligentemente denominado assim porque em Vila do Conde passa um Rio… que se chama Ave.
Foi um jogo impróprio para cardíacos no reduto do Sporting (6-6) e fez com que me lembrasse dos “jogaços” na minha escola primária, em que eram uns 30 em cada equipa e acabava 22-23 porque alguém gritava “Quem marcar ganha!”, ou 22-22 porque o dono da bola amuava e levava a bola com ele quando lhe faziam uma falta e não a assinalavam (isto já era o Pinto da Costa com a mão nos árbitros).
Desta vez, quem amuou foi mesmo o Nuno Dias, treinador do Sporting, que depois de estar a ganhar por 6-3 vê a vitória a escapar a 30 segundos do fim, com um golo meio atabalhoado de um jogador chamado “Formiga”. Se isto não faz lembrar a primária e os jogos épicos no recreio, então não sei o que faz.